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Aluno: Davi de Aguiar Portela (0001418) Medicina – 4º Período APG IV – S11 P02 Colecistite Crônica e Pancreatite Aguda Coledocolitíase A coledocolitíase é definida como a obstrução por cálculos biliares do ducto colédoco/ biliar comum. A presença de cálculos apenas nas vesículas é chamada de colelitíase. Figura 1- Anatomia da Vesícula biliar e de seus ductos, em que a Ampola de Vater é o orifício de saída do ducto colédoco e do ducto pancreático. ETIOLOGIA A coledocolitíase pode ser classificada etiologicamente em: o Primária: quando o cálculo se forma no próprio colédoco; o Secundária: quando o cálculo se formou na vesícula biliar (colelitíase) e migrou para o ducto colédoco. FISIOPATOLOGIA A maior parte dos cálculos, inicialmente, se formam na vesícula biliar e migram do ducto cístico para o ducto colédoco. Os cálculos, geralmente, podem ser de dois tipos distintos: Cálculos de colesterol: Aspecto amarelo-esverdeado formados de colesterol cristalizado Cálculos Pigmentares: Aspecto endurecido, sendo pequenos e formados por cálcio ou bilirrubina. o Pretos: são formados na vesícula biliar, se desenvolvendo em pessoas com doença hepática alcoolica, mais velhas ou que tenham anemia hemolítica; o Marrons: são formados nos ductos biliares, quando estão inflamados, infectados ou etsreitados. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico de coledocolitíase quando causa colangite aguda, é caracterizado pela tríade do Sinal de Charcot: o Febre; o Icterícia; o Dor abdominal no quadrante superior direito. Além disso, pode também estar associados náuseas e vômitos., assim complicar para colangite aguda Colecistite A colecistite aguda é caracterizada pela inflamação aguda da parede vesicular, podendo se instalar cronicamente e ter uma evolução imprevisível. A colecistite está muito relacionada com: o Litíase Vesicular sintomática (20-25%); o Coledocolitiase – obstrução litiásica do canal cístico (90-95%); Fatores de Risco Seus fatores de riscos associados são: o Sexo feminino; o Idade acima de 60 anos; o Obesidade; o Gestações; o Dieta rica em gordura e colesterol; o Diabetes e perda rápida de peso. ETIOLOGIA Colecistite Aguda Calculosa (CAC) A CAC é uma complicação da litíase biliar e depende da obstrução do canal cístico por um ou mais cálculos biliares. Colecistite Aguda Acalculosa (CAA) A obstrução do canal cístico também pode ocorrer por meio de: o Neoplasias; o Estenose fibrosa; o Ascaris lumbricoides; o Compressão por linfonodos aumentados; o Artérias císticas ou hepáticas anômalas; o Aderências; o Volvo da vesícula com angulação acentuada do canal cístico. Colecistite Enfisematosa Ela caracteriza-se por infiltração gasosa na parede vesicular, nos seus ductos e nos tecidos perivesiculares. Suspeita-se que ela seja desencadeada por obstrução da artéria cística e consequente isquemia, em que os principais agentes causadores são o Clostridium welchii, a Escherichia coli e outras bactérias anaeróbicas. O quadro clínico é semelhante ao que se descreveu para as outras formas de colecistite aguda, mas a dor é mais pronuncia da e o paciente mostra um aspecto mais grave e tóxico. FISIOPATOLOGIA A obstrução do ducto cístico ou do ducto colédoco, por causa da migração de cálculos da vesícula, aumenta a pressão intraluminal e distende a vesícula biliar. A inflamação resulta de três fatores: o Mecânico: a lesão da mucosa libera enzimas intracelulares que ativam mediadores de inflamação, aumentando a produção de prostaglandinas e diminuindo a produção de muco, o que leva ao espessamento da parede da mucosa, aumento da pressão intraluminal e compressão dos vasos sanguíneos linfáticos; o Químico: a bile torna-se hiperconcentrada em sais biliares e colesterol, por causa da obstrução, causando irritação química e edema de mucosa; o Infeccioso: inicialmente o processo é estéril, mas a persistência da obstrução causa invasão bacteriana. Na colecistite aguda calculosa, a inflamação seria desencadeada por estase da bile hiperconcentrada em consequência de jejum prolongado, anestesias, opiáceos, desidratação e imobilização, além de infecções por germes. EXAME HISTOPATOLÓGICO Esse exame evidencia quatro fases evolutivas: o Fase aguda: na 1ª semana, caracterizada por edema maciço da parede, com hemorragia e necrose da mucosa; o Fase subaguda: na 2ª semana, notam-se infiltrações leucocitárias pronunciadas, regressão do edema e maior proliferação de fibroblastos, além de necrose e abcessos intramurais; o Fase subcrônica: na 3ª a 4ª semana: marcada pela substituição de leucócitos polimorfonucleares por linfócitos e células plasmáticas, aparecendo eosinófilos e lesões granulomatosas na parede vesicular; o Fase crônica: se inicia na 5ª semana, a mucosa se torna fina e sem vilosidades, com acentuada fibrose de todas as túnicas. Figura 2- Lâmina de colecistite crônica, demostrado os seios de Rokitasky-Aschoff, infiltrado inflamatório mononuclear e fibrose (Fonte: autoral). Em sua última fase, a colecistite se caracteriza como um processo inflamatório crônico, encontrando: o Infiltrado inflamatório mononuclear (linfócitos TCD4, plasmócitos, macrófagos etc); o Fibrose tecidual; o Evoluir para: calcificações. Além disso, também aparecem os seios de Rokitansky-Aschoff, que são prolongamentos do epitélio de revestimento que penetram entre os feixes de firas musculares. Pancreatite Aguda A pancreatite aguda pode ser caracterizada como uma condição inflamatória do pâncreas que atinge os tecidos peripancreáticos e órgãos a distância. O processo patológico pode variar: o Pancreatite aguda edematosa/ intersticial; o Pancreatite aguda necrosante. ETIOLOGIA As etiologias da pancreatite aguda são muito variadas, podendo ocorrer por meio de: o Obstrução do ducto colédoco – colelitíase, obstrução ampular, alcoolismo crônico, concreções ductais; o Lesão de células acinares – álcool, fármacos, trauma, isquemia, infecções virais, hipercalemia; o Transporte intracelular deficiente – lesão metabólica, álcool, obstrução ductal. A colelitíase é uma das causas mais frequentes, em que o calculo na papila interfere no mecanismo esfincterico que previne o refluxo duodenopancreático., em que essa alteração pode permanecer mesmo após a passagem do calculo para o intestino. O álcool está relacionado a crises de agudização sobre pancreatite crônica calcificante ou a hiperlipidemia induzida pelo álcool. Uma ampla variedade de agentes infecciosos tem sido associada a pancreatite aguda, tais como: Vírus: Caxumba; Coxsackie B; Herpes simples; Hepatite B; Citomegalovírus em pacientes com AIDS. Bactérias: Legionella; Brucella; Hamydia trachomatis; Mycobacterium tuberculosis Parasitos: Ascaris ductal. Há também a pancreatite aguda induzida por drogas, em que os medicamentos que inquestionavelmente podem ser citados como causadores são: Medicamentos que inquestionavelmente o Ácido valproico; o Asparaginase; o Azatioprina; o Didanosina; o Estrógenos; o Furosemida; o Mercaptopurina; o Pentamidina; o Sulfonamidas; o Sulindac; o Tetraciclinas o Tiazídicos. FISIOPATOLOGIA O passo inicial é a ativação do tripsinogênio (pró enzima inativa) para tripsina. Com isso, a célula acinar procura se defender da ativação do tripsinogênio e tenta eliminar a tripsina. Entretanto, o tripsinogênio, assim como outros zimogênios, é armazenado em grânulos que colaboram na proteção contra a ativação enzimática antes de chegar no duodeno. Com isso, ocorre a liberação e ativação inadequada de enzimas pancreáticas dentro do pâncreas, destruindo o seu tecido e estimulando uma reação inflamatória aguda. A ativação inapropriada de tripsina pode provocar a ativação de outras proenzimas, como o Pró-fosfolipase:degradam as células adiposas; o Pró-elastase: danificam as fibras elásticas dos vasos sanguíneos; o Pré-calicreína: estimula o sistema de cininas, ativando o fator de coagulação XII e o sistema complemento. A morte dos adipócitos produz sinais locais, estimulando miofibroblastos periacinares e leucócitos a liberarem citocinas pró inflamatórias, promovendo o extravasamento da microvasculatura edema intersticial. Na pancreatite aguda, enzimas pancreáticas, substâncias vasoativas e tóxicas são liberadas pelo pâncreas e extravasam para os espaços retroperitoneais e cavidade peritoneal. Isso causa irritação química e contribui para as perdas de líquido rico em proteínas para o terceiro espaço, hipovolemia e hipotensão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico de pancreatite aguda é caracterizado por: o Dor intensa, continua, persistente, em faixa, no epigástrio e com irradiação para a região dorsal ou flancos; o Sudorese e cianose; o Icterícia – obstrução do colédoco por compressão; o Abdome flácido e hipersensível; o Temperatura e pressão arterial variáveis. Quando a hemorragia está intensa, há o acumulo de material hemorrágico intracavitário que se infiltra nos folhetos parietais. o Sinal de Grey-Turner – manchas esverdeadas ou purpuras nos flancos; o Sinal de Cullen – manchas esverdeadas ou purpuras na região periumbilical. Em muitos pacientes, a hipotensão arterial pode chegar ao estado de choque, em consequência da perda de líquidos para a cavidade, hemorragias e liberação de substâncias vasoativas. DIAGNÓSTICO Exames de Imagem Ultrassom Para pancreatite aguda, o ultrassom não é sensível, pois na sua fase inicial não há alterações vistas significantemente pelo US, podendo alterar o resultado do exame. Entretanto, as alterações vista no US de uma pancreatite em fase intermediária é: o Textura heterogênea (áreas hiperecoicas e normais); o Bordas do pâncreas borradas; o Textura hipoecoica em áreas de necrose; Figura 3- Bordas borradas e textura heterogênea (Fonte: Radiopaedia). Tomografia computadorizada A TC é o exame padrão ouro para pancreatite aguda, os principais achados são: As descobertas típicas são: o Alargamento do parênquima focal ou difuso; o Mudanças na densidade por causa do edema; o Margens pancreáticas indistintas devido à inflamação; o Filamento de gordura retroperitoneal circundante. Figura 4- Pancreatite aguda típica, com todos os sinais (Fonte: Radiopaedia). Na pancreatite Aguda Necrosante, ocorre a necrose liquefativa do parênquima pancreático, podendo ser observado: o Falta de realce do parênquima, frequentemente multifocal. Idealmente deve aparecer 1 semana após o início dos sintomas, para diferenciar do hipo-realce pancreático secundário apenas ao edema. Figura 5- Pancreatite aguda necrosante, demonstrando a necrose liquefativa (Fonte: Radiopaedia). Além disso, a TC tem uma ótima acurácia para avaliar melhor as complicações da pancreatite aguda: o Abcessos; o Pneumoperitôneo. Figura 6- Evolução para abcessos pancreáticos (Fonte: Radiopaedia). Figura 7- Evolução para abcessos pancreáticos (Fonte: Radiopaedia). Exames Laboratoriais O diagnóstico pode ser feito de forma clínica, mas há achados laboratoriais que são importantes: o Amilase: os níveis séricos aumentam nas primeiras 24 horas o Lipase: os níveis séricos aumentam no 3º e 4º dia, permanecendo mais tempo aumentada; o Hipocalcemia: consequente da capitação do cálcio pelas áreas de necrose gordurosa; o Hipoalbuminúria: em respota a hipocalcemia; o Leucocitose: sinal de complicação infecciosa. Exames Anatomopatológicos Os principais achados anatomopatológicos da pancreatite aguda são: o Variação desde inflamação e edema, até necrose maciça; o Necrose de gordura por lipases (esteatonecrose “pingo de vela”); o Reação inflamatória aguda: Infiltrado inflamatório neutrofílico – produção de fibrina; Edemas intersticiais – causador de inchaço; Vasocongestão – causadora de rubor, calor e hiperemia; Evolução: hemorragias e necrose. o Necrose do parênquima pancreático; o Hemorragia pela destruição dos vasos. Figura 8- Lâmina de pancreatite aguda, demonstrando infiltrados de neutrófilos, manchas escuras características de edemas intersticiais, necrose liquefativa (Fonte: autoral). Caso Clínico O paciente tinha história de colecistite aguda e colelitíase. Há necrose hemorrágica marrom- escura do parênquima pancreático e gordura peripancreática.. Figura 9- Pancreatite aguda necrosante, evoluida de uma colecistite (Fonte: Radiopaedia). Diagnóstico: Pancreatite biliar necrosante aguda. Referências: 1. ARAIN, Mustafa A. et al. Choledocholithiasis: clinical manifestations, diagnosis, and management. UpToDate: Aug, v. 10, 2017. 2. DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo Friche. Gastroenterologia essencial. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 1006 p. 3. NIEHUES, Gabriela Danielski et al. Avaliação clínico-laboratorial e o prognóstico da pancreatite aguda biliar. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 46, n. 2, p. 02-14, 2017. 4. ZAKKO, S.F. Overview of gallstone disease in adults. Uptodate, 2020.
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