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@nopulodoguyton Dividida em forma crônica e aguda Iniciada por lesões que levam à autodigestão do pâncreas por suas próprias enzimas Mecanismos que protegem o pâncreas da autodigestão pelas suas enzimas: • A maioria das enzimas digestivas são sintetizadas como proenzimas inativas (zimogênios), que são contidas dentro do granulo de secreção • A maioria das proenzimas são ativadas pela tripsina, que é ativada por enteropeptidase duodenal (enterocinase) no intestino delgado; assim, a ativação de proenzimas intrapancreáticas é normalmente mínima • Células acinares e ductais secretam inibidores de tripsina, incluindo inibidor de serina protease tipo 1 de Kazal, o que limita ainda mais a atividade intrapancreática A pancreatite ocorre quando esses mecanismos de proteção são desordenados ou sobrecarregados Caracterizada por lesão reversível do parênquima pancreático associada à inflamação Tem diversas etiologias, incluindo agressões toxicas (ex. álcool), obstrução do ducto pancreático (ex. cálculos biliares), defeitos genéticos herdados, lesão vascular e infecções Doença do trato biliar e o alcoolismo são responsáveis por cerca de 80% dos casos de pancreatite aguda nos países ocidentais Resulta na liberação e ativação inadequadas de enzimas pancreáticas, que destroem o tecido pancreático e estimulam reação inflamatória aguda A ativação intrapancreatica inapropriada de tripsina pode, por sua vez, provocar ativação de outras proenzimas, tais como pró-fosfolipase e a pró-elastase que, em seguida, degradam as células adiposas e danificam as fibras elásticas dos vasos sanguíneos respectivamente. A consequente inflamação e trombose dos pequenos vasos (que podem levar à congestão e ruptura de vasos já enfraquecidos) danificam as células acinares, ampliando ainda mais a ativação intrapancreática das enzimas digestivas @nopulodoguyton Obstrução mais comum é causada por cálculos biliares e lama biliar Qualquer que seja a causa, a obstrução ductal intrapancreática aumenta a pressão e leva ao acumulo de liquido rico em enzimas no interstício Embora a maioria das enzimas pancreáticas seja secretada na forma de zimogênios inativos, a lipase é produzida numa forma ativa e tem potencial de causar necrose da gordura local A morte de adipócitos produz alertas que ativam miofibroblastos periacinares e leucócitos a liberarem citocinas pró-inflamatórias e outros mediadores que iniciam a inflamação local e promovem o desenvolvimento de edema intersticial através do extravasamento da microvasculatura. O edema pode comprometer o fluxo sanguíneo local, causando insuficiência vascular e lesão isquêmica às células acinares Levando à liberação de enzimas digestivas, inflamação e autodigestão de tecidos pancreáticos O estresse oxidativo pode gerar radicais livres nas células acinares, levando à oxidação lipídica da membrana e à ativação de fatores de transcrição (incluindo AP1 e NF-kB) que induzem expressão de quimiocinas que atraem células mononucleares O cálcio também tem papel para ativação inapropriada da enzima. Ao elevar a concentração a autoinibição da tripsina é revogada e a ativação de tripsinogênio pela tripsina é favorecida As enzimas pancreáticas são indevidamente liberadas no compartimento intracelular contendo hidrolases lisossômicas As proenzimas são ativadas, lisossomos rompidos e as enzimas ativas liberadas O consumo de álcool pode causar pancreatite através de todos esses mecanismos: • Aumenta transitoriamente a contração do esfíncter de Oddi • Ingestão crônica resulta na secreção de fluido pancreático que leva à deposição de condensações proteicas e acinares • Pode gerar radicais livres nas células acinares A maioria dos alcoólicos só desenvolvem pancreatite após anos de abuso da bebida Outros mecanismos que provocam casos esporádicos de pancreatite aguda: • Distúrbios metabólicos, com hipertrigliceridemia e estados hipercalcêmicos, como hiperparatireoidismo • Lesões genéticas • Medicamentos • Lesão traumática de células acinares (seja por trauma abdominal fechado ou por lesão iatrogênica durante cirurgia) • Lesão isquêmica das células acinares, causada por choque, trombose vascular, embolia e vasculites. • Infecções, incluindo caxumba @nopulodoguyton Varia de triviais inflamações e edema a uma grave extensa necrose com hemorragia As alterações básicas são: • Extravasamento microvasculares e edema • Necrose gordurosa • Inflamação aguda • Destruição dos vasos sanguíneos • Hemorragia intersticial A extensão de cada uma das alterações depende da duração e severidade do processo Na forma mais branda, pancreatite aguda intersticial, as alterações histológicas estão limitadas a uma leve inflamação, edema intersticial e áreas focais de necrose gordurosa (resultado da atividade enzimática da lipase) no pâncreas e no tecido adiposo peripancreático. Os ácidos graxos liberados combinam cálcio para formar sais insolúveis que conferem aparência microscópica granular azul às células adiposas Figura 1 região de necrose de gordura à direita, e necrose focal do parênquima pancreático (centro) Na forma mais grave, há necrose dos tecidos acinares e ductais, assim como das ilhotas de Langerhans Lesões vasculares podem provocar hemorragia no parênquima pancreático Macroscopicamente, o tecido pancreático é hemorrágico, vermelho-enegrecido, com focos branco-amarelados de necrose gordurosa calcificada. Podem ser encontrados focos de necrose gordurosa também podem ser encontradas em áreas adiposas extrapancraticas, como no omento, mesentério intestinal e até fora da cavidade abdominal, como no tecido adiposo subcutâneo. Na sua forma mais grave, a pancreatite hemorrágica, uma extensa necrose parenquimatosa é acompanhada por uma hemorragia abundante dentro da glândula pancreática Figura 2 Observe as áreas escuras de hemorragia na cabeça e área focal pálida, de necrose gordurosa peripancreática (superior, à esquerda) Dor abdominal é a manifestação principal Dor é constante e intensa e se localiza na parte superior das costas e ocasionalmente no ombro esquerdo Sua gravidade pode variar de leve e desconfortável a severa e incapacitante. @nopulodoguyton A dor pode ter alívio parcial quando o paciente se senta e inclina o corpo para frente. Anorexia, náuseas e vômitos frequentemente acompanham a dor. Níveis elevados de amilase e lipase favorece o diagnóstico de pancreatite Emergência médica: calamitoso aparecimento súbito de “abdome agudo” Liberação de enzimas toxicas resultam em leucocitose, coagulação intravascular disseminada, edema, síndrome da angustia respiratória e necrose gordurosa difusa. Podem ser encontrados sinais de hemorragia retroperitoneal, como os de Grey Turner (equimoses nos flancos), de Cullen (equimose periumbilical) e de Frey (equimose no ligamento inguinal), além do sinal de Fox (equimose na base do pênis) A principal abordagem para a pancreatite aguda é o “descanso” do pâncreas através da restrição total da ingestão oral e pelo suporte terapêutico com analgésicos e fluidos intravenosos. Figura 3 áreas de necrose na cabeça e cauda do pâncreas O exame de Tomografia Computadorizada (TC) deve ser solicitado preferencialmente após 48 a 72 horas, em todos os indivíduos com pancreatite aguda grave A ressonância parece ter maior sensibilidade para o diagnóstico de pancreatite aguda precoce quando comparada à TC, e possibilita melhor caracterização dos ductos biliares e pancreáticos e identificação das complicações da pancreatite; no entanto, seu custo é maior, bem como sua disponibilidade é menor, especialmente em serviços de urgência. Para confirmação diagnóstica, é preciso haver 2 dos 3 seguintes: clínica compatível, alteração de enzimas e achados tomográficos. Definida como inflamação prolongadado pâncreas associada com uma destruição irreversível do parênquima exócrino, fibrose e, nos estágios mais avançados, destruição do parênquima endócrino. Pacientes mais afetados são homens de meia- idade Causa mais comum é o abuso de álcool em longo prazo Além do álcool, a doença está associada a: • Obstrução prolongada do ducto pancreático por cálculos e neoplasias • Lesão autoimune da glândula • Pancreatite hereditária (até 25% dos pacientes tem base genética) Na maioria das vezes, segue-se episódios repetidos de pancreatite aguda. Sugere-se que a aguda inicie uma sequência de fibrose perilobular, distorção ductal e alterações nas secreções pancreáticas. @nopulodoguyton Ao longo do tempo, esses episódios múltiplos podem levar à perda de parênquima pancreático e à fibrose. A lesão crônica leva à produção local de mediadores inflamatórios que causam fibrose e perda de células acinares. Predomínio de fatores fibrogênicos do que citocinas (que predominam na aguda) Figura 4 Na pancreatite aguda acinar, a lesão resulta na liberação de enzimas proteolíticas, levando a uma cascata de eventos, incluindo a ativação da cascata de coagulação, inflamação aguda e crônica, lesão vascular e edema. Na maioria dos pacientes, a resolução completa da lesão aguda ocorre com a restauração da massa de células acinares. Na pancreatite crônica, episódios repetidos de lesões de células acinares levam à produção de citocinas pró-fibrogênicas, como fator transformante do crescimento-β (TGF-β) e o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), o que resulta na proliferação dos miofibroblastos, secreção de colágeno e remodelação da matriz extracelular (MEC). Lesões repetidas produzem perda irreversível da massa de células acinares, fibrose e insuficiência pancreática. A pancreatite autoimune é a forma patogenicamente distinta de pancreatite crônica que está associada a presença de plasmócitos secretores de IgG4 no pâncreas É uma manifestação de doenças relacionadas à IgG, que pode envolver vários tecidos Pode imitar sinais e sintomas de carcinoma pancreático. Importante reconhecê-lo, porque a mesma responde à terapia esteroidal Figura 5 Fibrose e atrofia extensas deixaram apenas ilhotas residuais (à esquerda) e ductos (à direita) com esparsas células inflamatórias crônicas e alguns focos do tecido acinar Caracterizada por fibrose, atrofia e destruição dos ácinos e dilatação variável de ductos pancreáticos Macroscopicamente, a glândula é rígida, por vezes com ductos extremamente calcificados e visíveis contendo concreções calcificadas. As alterações são acompanhadas por um filtrado inflamatório crônico em torno dos lóbulos e ductos O epitélio ductal pode ser atrofiado ou hiperplásico, ou pode mostrar hiperplasia escamosa A causada por abuso de álcool é caracterizada pela dilatação ductal e por concentrações proteicas intraluminais e calcificações A pancreatite autoimune é caracterizada por um infiltrado inflamatório celular misto ductal, venulite, e numerosos plasmócitos secretores de IgG4 @nopulodoguyton Figura 6 Demonstração de um ducto dilatado com concentração luminal eosinofílica densa em um paciente com pancreatite crônica alcóolica A tétrade clínica de dor abdominal, perda de peso, diabetes mellitus e esteatorreia representa as expressões das insuficiências exócrina e endócrina do órgão Pode estar associada a repetidas crises de pancreatite aguda ou ataques repetidos de dor abdominal moderada a grave, ou a persistentes dores abdominais e nas costas. Ataques podem ser desencadeados por abuso do álcool, excessos alimentares (por aumentar a demanda do pâncreas), pelo uso de opiáceos e outros fármacos que aumentem o tônus do esfíncter de Oddi. Obstruções provocadas por cálculos podem ser evidentes pela icterícia ou elevações séricas de fosfatase alcalina Pode-se observar calcificações no pâncreas através de TC e USG Figura 7 Radiografia com calcificações em projeção pancreática
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