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NEOPLASIA PULMONAR Autor: Pedro V.F. Medrado - É a neoplasia com maior índice de óbito entre os homens - Em 2008, no Brasil – de acordo com o MS foi de 27.270 casos, com 17.810 entre os homens e 9.460 em mulheres. - A taxa de sobrevida média em 5 anos é de 13% - diagnóstico tardio, idade avançada no momento de diagnóstico e a baixa taxa de resposta ao tratamento sistêmico com quimioterápicos e antineoplásicos. - É etiopatologicamente multifatorial – tabagismo, ocupacional, ambiental e sociodemográfico - 85% dos portadores de CA tem relação direta com exposição ao cigarro – nitrosaminas induzem mutação do oncogene K-ras (40% dos adenomas de pulmão). · Indivíduos expostos passivamente? mensurável pela dosagem de cotinina plasmática e urinária ou o monóxido de carbono no ar exalado PATOLOGIA - Biologia molecular · A carcinogênese pulmonar é caracterizada pelo acúmulo de sucessivas anormalidades genéticas e epigenéticas, resultando na seleção de clones celulares com capacidade de crescimento descontrolado no tecido respiratório. · Proto-oncogenes · A proliferação celular – depende da interação entre diversos genes, além de fatores de crescimento celular – família ras (K-ras, N-ras, H-ras), myc (C-myc, N-myc e L-myc) e erb-B2 · Genes supressores – p53, Rb e o p21 · Proteínas tirosina-cinases (TK) – transdução e fatores de crescimento celular · EGFR (HER1 ou erbB1), erbB2 (HER-2/neu), erbB3 (HER30) e erbB4 (HER4). · Angiogênese – balanço determina o tumor – VEGF (fator pró-angiogênico) · VEGFR de 4 isoformas · Aumenta a permeabilidade vascular o que não apenas facilita invasão vascular, mas também facilita a disseminação metastática hematogênica. · Indução da expressão do BCL2 – inibição do apoptose de células endoteliais e aumento do aporte de nutrientes ao tumor (por neogênese) - O carcinoma pulmonar é dividido em carcinoma de células pequenas (CPCP) e o de células não-pequenas (CPCNP). - CPCP – é um tumor de alto grau com tempo de duplicação média de 30 dias · Tumor primário é pequeno com grande componente linfonodal · Cerca de 80% dos pacientes à necropsia apresentam metástase em SNC · Costuma apresentar síndrome paraneoplásica – ADH, Cushing e cerebelar - CPCNP – representa cerca de 75% dos carcinomas pulmonares · Adenocarcinoma – é um tumor de localização periférica, com tendência à disseminação linfonodal mediastinal e derrame pleural – formação glandular · Carcinoma epidermóide ou espinocelular – bastante relacionado ao tabagismo, com atelectasia e tumor cavitado (quando periférico) · Carcinoma de células grandes – localização periférica de grande massa com necrose central AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE COM NEOPLASIA PULMONAR - Apenas cerca de 10% dos doentes são assintomáticos no momento do diagnóstico da neoplasia pulmonar. - Os sinais e sintomas inespecíficos são comuns e incluem anorexia, fadiga e perda de peso - Os sinais específicos estão relacionados à lesão primária e a extensão da doença. - Lesão primária · Tosse – raramente é a queixa que motiva o paciente a procurar o médico · Persistente após o tratamento de uma exacerbação pulmonar, OU · Mudança das características da tosse e da expectoração · Dispneia – ocorre em mais da metade dos casos, consequente à obstrução da via aérea, ou pelo envolvimento linfático ou um derrame pleural volumoso. · Hemoptise – é o sintoma que costumeiramente faz o paciente buscar o médico · Somente cerca de 25% dos casos de hemoptise são por CA, porém sua presença não deve ser menosprezada · Dor torácica – sua pesquisa requer investigação sobre acometimento pleural ou de parede torácica · Tumor de Pancoast (CA de ápice pulmonar) – dor no ombro de forte intensidade · Síndrome de Claude Bernard-Horner – comprometimento por contiguidade do glânglio estrelado · Tríade: ptose palpebral, enoftalmia e miose do lado acometido - Extensão intratorácica da doença · Rouquidão – acometimento do nervo laríngeo recorrente (à esquerda por contiguidade linfonodal) · Paralisia frênica – acometimento do nervo frênico · Dor torácica – pleural ou torácica · Síndrome de Horner – acometimento da cadeia simpática e do gânglio estrelado · Derrame pleural – por extensão direta, obstrução linfática ou atelectasia · Derrame pericárdico - por extensão direta, derrame pleural ou obstrução linfática · Síndrome da veia cava superior – compressão da VCS por linfonodomegalia ou massa. - Metástases – manifestações presentes em cerca de 1/3 dos pacientes com CA de pulmão · Ossos, fígado, supra-renais, linfonodos, cutâneas e pulmonares · SNC – manifestação índex em 10% dos carcinomas pulmonares · Variam em diferentes intensidades · Cefaleia, crises convulsivas, transtornos cognitivos e comportamentais, náuseas, vômitos e déficits focais · Pacientes sintomáticos evoluem significativamente pior em temos de sobrevida quando comparados com ou assintomáticos ou com sintomas atribuíveis apenas ou tumor primário. - Síndromes paraneoplásicas – ocorrem em pelo menos 10% dos portadores de CA de pulmão · Envolve a produção de substâncias biologicamente ativas pelo tumor ou em resposta a ele – pode preceder o diagnóstico de tumor primário, ou mesmo representar o primeiro sinal de recorrência da doença. · Hipercalcemia – metástases ósseas frequentemente por produção de peptídeo liberador de paratormônio (PTHrP) – carcinoma de células escamosas · Hiponatremia – elevação do peptídeo natriurético atrial e hormônio antidiurético (síndrome da secreção inapropriada de ADH). · Síndrome de Cushing – níveis elevados de hormônios adrenocorticoides · Baqueteamento digital – encontrado em quase 1/3 dos doentes e guarda relação com os tipos histológicos de adenocarcinoma e carcinomas de células escamosas. · Osteoartropatia hipertrófica pulmonar – menos frequente e consiste em uma Artropatia simétrica dolorosa com neoformação óssea periosteal nas extremidades distais de ossos longos dos membros. · Síndromes neurológicas – carcinomas pulmonares de células pequenas, e parece envolver anticorpos, e é preciso excluir outras causas de alterações neurológicas. DIAGNÓSTICO E RASTREAMENTO - Tomografia de tórax é mais precisa para localização anatômica e a adequado estadiamento linfonodal - Normalmente a suspeita de neoplasia vem dos achados de exames de imagens por investigação de sintomas respiratórios e constitucionais suspeitos. - A TC não confirma diagnóstico, isso requer complementação da investigação por estudo patológico - Citologia de escarro · Método não invasivo com no mínimo 3 coletas · Útil em pacientes com lesões centrais e hemoptise – sensibilidade de 75% · Tumores periféricos a sensibilidade é de 50% - Biópsias endobrônquicas e transbrônquicas · São úteis em doentes selecionados, com boa sensibilidade para lesões centrais – acometimento submucoso ou compressão extrínseca de vias aéreas · o VPN não é suficiente para excluir neoplasia em caso de biópsia negativa - Biópsia transtorácica guiada por tomografia · Melhor acurácia, mas um resultado negativo não exclui diagnóstico · Lesões periféricas – boa sensibilidade e menor riscos de complicações - Toracocentese c/ estudo citopatológico do líquido · Investigar derrame pleural – sensibilidade de 80% · Biópsia pleural percutânea – agulha de Cope · Videotoracoscopia – seguro e de melhor acurácia que a toracocentese associada à punção-biópsia de pleura - Punção aspirativa transcarinal à broncoscopia - Punção aspirativa guiada por USG endoscopia - PET – tomografia por emissão de pósitrons – usado em casos inconclusivos Rastreamento - TC de tórax permite o achado de cânceres em estágios mais precoces quando comparado com radiografia. · Limitações metodológicas e viés dos estudos – não permite concluir uma redução da mortalidade geral da população. · Ele aumenta sobrevida dos casos detectados - Critérios de indicação NLST: · Idade entre 55 a 74 anos, E · Ser fumante ou não ter fumando nos últimos 15 anos · Ter pelo menos histórico de tabagismo de 30 maços/anos Estadiamento e Prognóstico - CPCNP · Utiliza-se o estadiamento TNM – tumor primário (T), extensão linfonodal (N)e metástases (M) · Tx, Tis, T1-T4 · Nx, N0-N3 · Mx, M0-M1 · Estádios – IA, IB, IIA, IIB, IIIA, IIIB e IV · Fatores de prognóstico: idade, gênero, performance status, concentração sérica de albumina e contagem de eritrócitos. - CPCP · Estadiamento em limitado e extenso · Limitado – doença enquadrada em um campo de radioterapia, localizada em um hemitórax podendo ter comprometimento linfonodal mediastinal, sem derrame pleural neoplásico. · Sobrevida em 2 anos – 20 a 40% · Sobrevida em 5 anos – 10 a 30% · Extenso – doença que se estende além do plano limitado · No momento do diagnóstico, cerca de 2/3 dos doentes já estão com uma doença extensa · Sobrevida em 2 anos – 5% · Sobrevida em 5 anos – 1 a 2% · Fatores de prognóstico: estádio inicial, performance status, presença e intensidade dos sintomas e existência ou não de síndromes paraneoplásicas - Achados clínicos indicam estádios mais avançados da doença · Presença de síndrome paraneoplásica não está necessariamente associada à extensão metastática da doença - Estadiamento clínico · Hemograma, marcadores da função renal (ureia e creatinina), eletrólitos séricos (Na+, K+, Ca total e iônico, aminotransferases hepatocitárias, fosfatase alcalina, gamaglutamil transpeptidase, bilirrubinas e albumina. · A pesquisa de marcadores tumorais séricos não é rotineiramente feito · Radiografia simples – tem valor limitado para o estadiamento · Tomografia computadorizada de tórax – é o primeiro exame de imagem após RX para avaliação do tamanho da lesão, localização, contato, comprometimento, metástases, espessamento ou derrame pleural. · Os achados precisam ser confirmados com biópsia · Tomografia computadorizada de crânio – qualquer sintoma neurológico demanda TC com contraste ou RNM de encéfalo. · Tomografia de abdome – suprarrenais são sítios frequentes de metástases de carcinomas pulmonares, outro local comum é o fígado, e as enzimas hepáticas estão alteradas quando há lesão extensa. · Cintilografia óssea – os ossos são sítios frequentes de disseminação metatástica, e a dor é queixa indicativa de pesquisa da lesão óssea, a dosagem de cálcio sérico e/ou fosfatase alcalina indicam metástase. · Tomografia por emissão de pósitrons (PET) – avalia a atividade metabólica dos tecidos tendo como base a intensidade de captação de glicose radiomarcada. · Diagnóstico, estadiamento (linfonodal e metastático) e acompanhamento de tratamento dos carcinomas em geral. · Ressonância magnética – utilizada para identificação de lesões neurológicas, centrais ou periféricas em pacientes alérgicos ao contraste iodado. · Não é superior a TC ou à PET, mas é superior a TC de crânio para identificado de lesões encefálicas. - Estadiamento anatomopatológico · Envolve biópsia das lesões clínicas e/ou radiologicamente suspeitas de indicarem doença com extensão intra ou extratorácica · Linfonodos acometidos >1cm sem densidade de cálcio ou gordura no interior · Aspirado transbrônquico por broncoscopia · Aspirado transesofágico guiado por ecoendoscopia · Mediastinoscopia ou toracoscopia · Derrames pleurais – puncionados para análise citológica do líquido que vier a mudar terapêutica TRATAMENTO - Antes de definir o tratamento, é necessário fazer uma avaliação criteriosa do paciente, o seu estadiamento clínico e desempenho funcional (performance status). - A performance status é definida com a pontuação de 0 a 4 pelo ECOG (Eastern Cooperative Oncology Group) ou pelo escore de Karnofsky de 100 a 10. · ECOG 4 – desempenho precário – sem benefício de tratamento antineoplásico · ECOG 3 – pacientes limítrofes – risco x benefício (individualizado) do tratamento antineoplásico · ECOG 0 a 2 – boas condições clínicas – tem boa tolerância ao tratamento - Com isso, temos uma ideia de forma simples, objetiva e reprodutível de quantificar a condição clínica do paciente do qual se planejamos o tratamento oncológico. - Tratamento de carcinoma pulmonar de células pequenas · Quimioradioterapia – doença limitada · Quimioterapia – doenças extensas · Dueto de análogo platínico associado ao etoposídeo ou irinotecano · Radioterapia de crânio mandatória – metástases encefálicas - Tratamento do carcinoma pulmonar de células não pequenas · Cirurgia · É reservado apenas em pacientes em estágios iniciais sem metástases – é o TTO mais efetivo (maior sobrevida) com maior potencial de cura · Como os pacientes a maioria já tem doença localmente avançada ou disseminada, além de ter comorbidades – DPOC, doença cardíaca isquêmica – a cirurgia é reservada · Mesmo os pacientes com benefício potencial da cirurgia e sem contraindicações clínicas devem ser avaliados quanto as complicações advindas da ressecção cirúrgica · Radioterapia · Radioterapia adjuvante ao tto cirúrgico · O tratamento complementar das ressecções incompletas – margens cirúrgicas positivas ou exíguas · Profilaxia das recidivas locais e a distância pela irradiação de cadeia linfonodais mediastinais positivas. · Radioterapia exclusiva – é uma opção, mas é menos eficaz que a cirurgia · Indicado: recusa ou contraindicado cirurgia, ou aqueles com doença avançada (IIIB e IV) sem condições clínicas para quimioterapia. · Radioterapia associada à quimioterapia – pacientes de estádio IIIA e IIIB (sem derrame pleural neoplásico) · Citorredução de tumor de Pancoast – sulco superior · Radioterapia paliativa sintomática – pacientes com doença metastáticas e inelegíveis a outras modalidades terapêuticas, indica-se radioterapia para: · Analgesia por invasão ou compressão dos tumores · Estabilização de fraturas patológicas e alívio de sintomas dolorosos e deficitários secundário às metástases ósseas. · Tratamento de atelectasia secundárias · Hemostasia de tumores endobronquicos sangrantes – hemoptise maciça · Tratamento de metástases encefálicas · Quimioterapia · Neoadjuvante – aquela administrada antes do tratamento definitivo para melhorar a ressecabilidade e diminuir o estádio inicial por esterilização linfonodal · Pacientes operados no estádio IIIA · Adjuvante – usado em pacientes com estádio IIB e IIIA no pós-operatório com linfonodo mediastinal ipsilateral positivo. · Paliativa – aumento de sobrevida geral em pacientes com CPCNP em estádios IIIB e IV virgens de tratamento de primeira linha · Análogo plátinico – cisplatina ou carboplatina · Segunda droga? paclitaxel, docetaxel, vinorelbina ou gencitabina · O benefício é maior em pacientes com ECOG 0 a 2 · IIIB sem derrame pleural – quimiorradioterapia · Segunda linha – aumento estatisticamente significativo na sobrevida de pacientes com pelo menos um esquema de quimioterapia prévio, além do melhor controle da doença · Docetaxel, pemetrexel e erlotibib · Terapia de alvo molecular – fármacos especificamente direcionados para vias associadas a apoptose, proliferação celular e angiogênese · Via EGFR-dependente – o EGFR é um receptor transmembrana da família HER expresso em tecidos normais e neoplásicos, principalmente de linhagens epiteliais. · Ligação do EGF desencadeia dimerização do EGFR – modulação positiva do domínio tirosina-cinase – mensageiros intracelulares e transcrição gênica e tradução proteica. · Anticorpos monoclonais anti-EGFR · Cetuximabe – alta afinidade pelo sítio de ligação do EGFR, usado em CPCNP avançado com falência a esquemas de primeira e segunda linha (docetaxel, erlotinibe e pemetrexede). · Panitumumabe e matuzumabe – podem ser usados em combinação com esquemas de carboplatina e paclitaxel seguro e bem tolerado. · Inibidores da tirosina-cinase (TKIs) – · Gefitinibe – inibidor reversível do domínio TK do EGFR, sem licenciamento no Brasil. · Erlotinibe – inibidor reversível do complexo EGFR/HER1-TK, dose de 150mg/dia, indicações em protocolos clínicos. · Modificadores da angiogênese VEGF-dependente – a neovascularização, angiogênese é fundamental ao desenvolvimento do tumor, assim como seu comportamento invasivo e metastático. · Bevacizumabe – é um anticorpo monoclonal humano anti-VEGF usado para tratamento de primeira linha dos CPCNP estádios IIIB-IV em esquema quimioterápico baseado em platina. FLUXOGRAMA– CPCP FLUXOGRAMA – CPCNP
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