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2Módulo Políticas Públicas de Assistência Social Políticas Públicas Setorias Enap, 2021 Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional Conteudista Mariana de Sousa Machado Neris (Conteudista, 2021). 1. Unidade 1 – Objetivos da assistência social ..................................................... 5 2. Unidade 2 – Estrutura de governança do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) ...................................................................................................................... 13 3. Unidade 3 – Pacto federativo: o papel dos municípios, dos estados, do DF e da União na implementação ................................................................................ 22 4. Referências ......................................................................................................... 24 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5 Módulo Noções básicas sobre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)2 1. Unidade 1 – Objetivos da assistência social Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você será capaz de caracterizar os objetivos da Política Nacional de Assistência Social. Afinal, para que serve a assistência social? O que ela busca superar? Quais são os seus objetivos? A integralidade do sistema de proteção social delineado pela Constituição Federal confere à assistência social o papel de enfrentar desigualdades socioterritoriais e garantir mínimos sociais a famílias e indivíduos. O núcleo familiar é o principal elemento na base da organização do SUAS, também conhecido como “matricialidade sociofamiliar”. Esse termo remete à garantia do direito à convivência familiar e comunitária, fazendo referência à importância da atuação ampla em torno da preservação dos laços familiares, reconhecendo a família como núcleo básico de sustentação afetiva e de proteção. Assim, as ações socioassistenciais buscam, em larga medida, atuar na prevenção da ruptura desses vínculos, na reconstrução de vínculos rompidos ou fragilizados, ou, ainda, quando não houver a possibilidade, desenvolve ações para apoiar a construção de novos laços afetivos e familiares, a exemplo do acolhimento institucional ou da família acolhedora. Resgatando a dimensão protetiva da seguridade social, a lei estabelece que a assistência social tem a finalidade de garantir: Proteção social A proteção à família e aos indivíduos em situação de vulnerabilidade ou risco social, a proteção do convívio familiar e comunitário, a prevenção ou redução de vulnerabilidades e riscos sociais e o apoio a processos de inclusão social. 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Vigilância socioassistencial É um dos instrumentos das proteções da assistência social que identifica e previne as situações de risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território, como também identifica as potencialidades. Defesa de direitos Promove acesso a direitos e redução de desigualdades. Proteção social O primeiro objetivo a ser atingido pela Assistência Social é a proteção social para a garantia da vida, prevenção de danos e redução de incidência de riscos. Segundo a Política Nacional de Assistência Social, proteção social é a oferta pública de serviços, programas, projetos e benefícios voltados a indivíduos e famílias em situação de insegurança social (BRASIL, 2004). Assume as funções de: proteger as famílias, potencializar os territórios, fortalecer os vínculos familiares e sociais, prevenir as situações de risco social. Portanto, todas as ações socioassistenciais devem estar voltadas à preservação da vida, bem como da diminuição dos fatores sociais que influenciam sua qualidade. A proteção social é organizada em dois tipos: Proteção social básica Caracterizada por “conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (art. 6º-B da LOAS, inciso I). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7 A proteção social básica tem atuação no atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade e risco social, decorrentes da pobreza, privação ou falta de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos e/ou fragilização de vínculos familiares e comunitários, tais como as formas de discriminação ou existência de deficiência (BRASIL, 2004). Proteção social especial Definida pelo “conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos” (art. 6º-B da LOAS, inciso II). A proteção social especial é dividida por níveis de complexidade, a saber: média e alta complexidades, cuja diferenciação é determinada pelo conjunto de provisões especializadas para assegurar a proteção social em situações específicas de violações de direitos ou ocorrência de violência. Faz parte da proteção social básica o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é um direito assegurado pela Constituição Federal a pessoas com deficiência, de qualquer idade ou tipo de deficiência, e a pessoas idosas com idade acima de 65 anos. Foi regulamentado em 1993, por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), como o dever do estado em garantir 1 (um) salário mínimo por mês, de forma continuada, a pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Embora exista uma classificação e diferenciação para fins de organização de serviços entre proteção social básica e especial, é importante ressaltar que a violência é um dos principais fatores que agrava a vulnerabilidade de famílias e indivíduos, e deve ser enfrentada de forma integral, intersetorial e multidimensional, por todas as ações do SUAS e das demais políticas setoriais. Assim, podemos afirmar que: 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública [...] o enfrentamento da violência é um encargo da proteção social como política pública, não sendo, por isso, pauta exclusiva de um nível de proteção e nem somente do SUAS, pois a violência permeia a vida social e repercute em muitos setores da sociedade (ASSIS et. al., 2018, p. 83). Infelizmente, não é incomum situações de abandono e maus-tratos de familiares de pessoas com deficiência. A ausência de renda, de suporte de familiares, de autonomia, de informações sobre direitos básicos agrava a vulnerabilidade de famílias que vivem em contexto de pobreza e desproteção. Isso leva a outros tipos de violência doméstica, como o caso registrado na matéria, no qual uma criança de 8 anos com deficiência era submetida a negligência, abandono e maus-tratos. A notícia não cita que tipos de proteção social da assistência social a família dispunha, se acesso a serviços ou a benefícios. Fato é que o caso em tela nos revela a necessidade de ampliarmos o olhar sobre as necessidades e potencialidades da família e também do território, ou seja, de buscarmos por meio da vigilância socioassistencial a promoção do acesso a direitos socioassistenciais de forma imediata e continuada. A vigilância socioassistencial e sua relação com o território A concepção de vigilância deriva do verbo “vigiar”, que significa estar atento, observar atentamente. Essa observância geralmente está associada a procedimentos ou comportamentos que visam a garantir alguma segurança. Vemos com clareza esse termo no contexto da saúde (vigilância sanitária), com as medidas preventivasde vacinação, por exemplo, ou da segurança pública ou privada, com o policiamento nas ruas, ou mesmo por meio de circuitos internos de monitoramento de empreendimentos, condomínios, residências, etc. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9 Na assistência social não é diferente: é por meio da vigilância que são identificadas situações de risco, vulnerabilidade sociais e outros fatores determinantes de desproteção social. Além de ser um dos objetivos da assistência social, previstos em lei (artigo 2º, inciso II, da LOAS), a vigilância socioassistencial se estruturou como uma área de gestão que tem como finalidades a produção, a sistematização, a análise e a disseminação de informações. Tais informações são obtidas a partir do território e abrangem: a) as situações de vulnerabilidade e risco que incidem sobre famílias e indivíduos; b) os eventos de violação de direitos; c) o tipo, o volume e os padrões de qualidade dos serviços ofertados pela rede socioassistencial. Atenção! A vigilância não está dissociada dos demais objetivos da assistência social. Ela existe para assegurar proteção social e garantir que os direitos de famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade ou risco sejam alcançados. E essa observância dos fenômenos sociais, dos fatores de risco e desproteção social, precisa ser organizada em informações e em ações planejadas de gestão com vistas à promoção de melhorias de qualidade de vida para as pessoas. A vigilância socioassistencial se alimenta de informações fornecidas por gestores municipais, estaduais, do Distrito Federal, e de outras informações que são geradas em base de dados federais. A consolidação desses dados de forma organizada proporciona a realização de atividades de planejamento, de supervisão e de execução dos serviços socioassistenciais de forma mais precisa e qualificada, de acordo com a realidade local, refletindo não somente as necessidades imediatas. Por ter caráter continuado, a vigilância disponibiliza importantes ferramentas de gestão em planejamento de ações que ainda não aconteceram. Isso porque é possível identificar situações estruturantes, comportamentos cíclicos e recorrentes que podem sinalizar aos gestores as tomadas de decisão que possam 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública influenciar a interrupção de situações violadoras de direitos. Para conhecer as principais ferramentas de vigilância socioassistencial, acesse: Vigilância Socioassistencial — Português (Brasil) Veja abaixo o vídeo tutorial de acesso aos sistemas de informação da Rede SUAS: https://cdn.evg.gov.br/cursos/490_EVG/videos/modulo02_video01.mp4 O olhar da integralidade das necessidades básicas à disponibilização de acesso da população aos serviços básicos é muito importante. E essa é uma agenda puramente de vigilância. Compatibilizar a demanda com a oferta de serviços, sempre buscando o ajuste necessário para combater as desproteções, é missão da vigilância socioassistencial. Isso impõe a você, gestora ou gestor, grande responsabilidade em planejar adequadamente suas ações, incluindo a estruturação dessa área de gestão dentro de seus gabinetes executivos. A defesa de direitos socioassistenciais Você sabia que a assistência social também é garantidora de direitos? Conheça a seguir o decálogo dos direitos socioassistenciais: 1) Todos os direitos de proteção social de assistência social consagrados em Lei para todos: Direito, de todos e todas, de usufruírem dos direitos assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro à proteção social não contributiva de assistência social efetiva com dignidade e respeito. 2) Direito de equidade rural-urbana na proteção social não contributiva: Direito, do cidadão e cidadã, de acesso às proteções básica e especial da política de assistência social, operadas de modo articulado para garantir completude de atenção, nos meios rural e urbano. 3) Direito de equidade social e de manifestação pública: Direito, do cidadão e da cidadã, de manifestar-se, exercer protagonismo e controle social na política de assistência social, sem sofrer discriminações, restrições ou atitudes vexatórias derivadas do nível pessoal de instrução formal, etnia, raça, cultura, credo, idade, gênero, limitações pessoais. 4) Direito à igualdade do cidadão e cidadã de acesso à rede socioassistencial: Direito à igualdade e completude de acesso nas atenções da rede socioassistencial, direta e conveniada, sem discriminação ou tutela, com oportunidades para a construção da autonomia pessoal dentro das possibilidades e limites de cada um. https://cdn.evg.gov.br/cursos/490_EVG/videos/modulo02_video01.mp4 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11 5) Direito do usuário à acessibilidade, qualidade e continuidade: Direito, do usuário e usuária, da rede socioassistencial, à escuta, ao acolhimento e de ser protagonista na construção de respostas dignas, claras e elucidativas, ofertadas por serviços de ação continuada, localizados próximos à sua moradia, operados por profissionais qualificados, capacitados e permanentes, em espaços com infraestrutura adequada e acessibilidade, que garantam atendimento privativo, inclusive, para os usuários com deficiência e idosos. 6) Direito em ter garantida a convivência familiar, comunitária e social: Direito, do usuário e usuária, em todas as etapas do ciclo da vida a ter valorizada a possibilidade de se manter sob convívio familiar, quer seja na família biológica ou construída, e à precedência do convívio social e comunitário às soluções institucionalizadas. 7) Direito à Proteção Social por meio da intersetorialidade das políticas públicas: Direito, do cidadão e cidadã, à melhor qualidade de vida garantida pela articulação, intersetorial da política de assistência social com outras políticas públicas, para que alcancem moradia digna trabalho, cuidados de saúde, acesso à educação, à cultura, ao esporte e lazer, à segurança alimentar, à segurança pública, à preservação do meio ambiente, à infraestrutura urbana e rural, ao crédito bancário, à documentação civil e ao desenvolvimento sustentável. 8) Direito à renda: Direito, do cidadão e cidadã e do povo indígena, à renda individual e familiar, assegurada através de programas e projetos intersetoriais de inclusão produtiva, associativismo e cooperativismo, que assegurem a inserção ou reinserção no mercado de trabalho, nos meios urbano e rural. 9) Direito ao cofinanciamento da proteção social não contributiva: Direito, do usuário e usuária, da rede socioassistencial a ter garantido o cofinanciamento estatal – federal, estadual, municipal e Distrito Federal – para operação integral, profissional, contínua e sistêmica da rede socioassistencial nos meios urbano e rural. 10) Direito ao controle social e defesa dos direitos socioassistenciais: Direito, do cidadão e cidadã, a ser informado de forma pública, individual e coletiva sobre as ofertas da rede socioassistencial, seu modo de gestão e financiamento; e sobre os direitos socioassistenciais, os modos e instâncias para defendê-los e exercer o controle social, respeitados os aspectos da individualidade humana, como a intimidade e a privacidade. Enquanto direito, a assistência social conquista um espaço particular no ordenamento jurídico, atribuindo deveres ao Estado e à sociedade fundamentados numa perspectiva de justiça social. Afinal, Prefeito e Prefeita, essa política passou a não aceitar mais a existência de privilégios para uns, e não para outros, como alguns receberem benefícios e outras pessoas com as mesmas necessidades ou até mais graves ficarem sem acesso. Além disso, esses favorecimentos não apenas 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública geravam desigualdades entre grupos e classes, como também acirravam ainda mais a pobreza e outros ciclos de violências. Durante longos anos, discutiu-se a abrangência das “necessidades básicas ou mínimos sociais” previstos nalei. Por conveniência ou interesse político – pouco ou muito –, o alcance do que viria a ser básico ou mínimo poderia ser relativizado. Por outro lado, a ausência de definição de um objeto próprio para a fiscalização do estado e até mesmo de parâmetros para o exercício do controle social pela sociedade, na perspectiva de avaliar se o Estado estaria promovendo as garantias exigidas pela Constituição, foi ganhando relevância e importância. Foi daí então que surgiu o Decálogo dos Direitos Socioassistenciais. Esse documento, construído a partir de discussões da V Conferência Nacional de Assistência Social, foi publicizado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) em 2005, o qual dispõe sobre a natureza dos direitos concretizados pelos serviços, programas, projetos e benefícios realizados por essa política pública diretamente ao cidadão. Não se esqueça! O direito à renda é um dos direitos socioassistenciais previstos no Decálogo dos Direitos, descrito como: “Direito, do cidadão e cidadã e do povo indígena, à renda individual e familiar, assegurada através de programas e projetos intersetoriais de inclusão produtiva, associativismo e cooperativismo, que assegurem a inserção ou reinserção no mercado de trabalho, nos meios urbano e rural”. Além do acesso a programas e projetos, umas das formas de acesso à renda é por meio de benefícios, sendo o principal benefício de proteção social existente no Brasil o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Até antes da Constituição, era muito comum que a assistência social fosse confundida como o “não direito”, ou seja, como aquela política que absorvia o que não estivesse previsto nas políticas setoriais já consolidadas, desde que houvesse qualquer relação com a pobreza. Por exemplo, a assistência social já foi responsável por creches, quando a educação infantil ainda não tinha sido reconhecida pela Lei como uma oferta educacional. Hoje, não é mais assim: cada política no seu lugar! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13 As creches eram consideradas serviços de assistência social, compreendendo que esses espaços serviriam para ocupar as crianças enquanto mães e familiares ficassem liberados para o trabalho ou as tarefas domésticas instrumentais. No entanto, em 2013, a Lei nº 12.796 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) (Lei nº 9.394/1996), incorporando a educação infantil entre as ofertas da política de educação. Com a finalidade de promover o desenvolvimento integral das crianças de até 5 anos, a educação infantil elevou-se ao status de direito educacional, sendo ofertada por meio de creches e pré-escolas. Além disso, era a assistência social quem assegurava a distribuição de órteses e próteses (cadeiras de rodas, dentaduras, etc.) para pessoas com deficiência ou idosos. Gradativamente, a política de saúde regulamentou as concessões de órteses e próteses no próprio Sistema Único de Saúde (SUS). Mas a assistência social também avançou em sua formação e estruturação, enquanto política pública, não apenas nas previsões normativas. Houve um esforço de reorganização enquanto sistema de proteção estruturado em bases de gestão participativa e democrática, nas três esferas de governo, com arranjos de governança para assegurar os deveres previstos. 2. Unidade 2 – Estrutura de governança do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer os arranjos de gestão, os fluxos de decisão, as estruturas de monitoramento e de controle social da política de assistência social. Você conhece o arranjo de governança que estrutura o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)? Há ritos e regras que estruturam essa política no atendimento à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, no atendimento territorial. Esse binômio família-território sempre aparecerá nos arranjos de gestão do SUAS, pois é a partir dessa relação que são estabelecidas as provisões para atendimento das necessidades básicas, os chamados “mínimos sociais”. O caráter descentralizado dessa política desloca importantes funções de gestão até 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública então assumidas pelo governo federal, aos municípios, Distrito Federal e estados. Isso porque, com o SUAS, o território passa a ter uma maior relevância na organização da gestão, baseado na autonomia político-administrativa dos entes. A Norma Operacional Básica – NOB-SUAS/2005 trabalha o conceito de territorialização como base de organização do SUAS. O termo remete à proximidade das ofertas da assistência social ao cotidiano de vida do cidadão, pela proximidade, localização e acesso a serviços. Para a assistência social, território é mais do que somente o espaço geográfico, é a base de organização de gestão. Esse termo não se restringe aos limites políticos de uma cidade, um estado ou mesmo um país. Em um município, por exemplo, pode haver mais de um território, caracterizado por aspectos regionais distintos, pela natureza urbana ou rural, pela presença de fatores de vulnerabilidade ou riscos sociais, entre outros fatores que revelam desigualdades. Sob essa perspectiva, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/1993, alterada pela Lei nº 12.435/2011, estabeleceu em seu artigo 6º que a gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS), com os seguintes objetivos: I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva; II - integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, na forma do art. 6º-C; III - estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; IV - definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais; V - implementar a gestão do trabalho e a educação permanente Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15 na assistência social; VI - estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e VII - afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos. Modelo de governança Gestor ou gestora, você sabia que o SUAS também é sua responsabilidade? A gestão do SUAS é compartilhada entre os governos federal, estadual, distrital e municipal, os quais operam uma rede protetiva de forma organizada e articulada. Há integração entre poder público e sociedade por meio de colaboração com a rede privada sem fins lucrativos e organizações de usuários da política socioassistencial. Cada ator no sistema possui papéis bem definidos e regulados de forma a impulsionar o funcionamento de toda a estrutura dessa engrenagem. 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O modelo de governança do SUAS, ou seja, sua capacidade financeira e administrativa de promover a política de assistência social, está ancorado em quatro principais estruturas: os órgãos gestores da política; as unidades gestoras do orçamento e das finanças; as instâncias de negociação e pactuação; e as instâncias de deliberação e controle social. Para que o sistema funcione, todas as partes devem estar coordenadas sob um comando único e de forma integral, de modo que estruturas paralelas não atuem de forma isolada ou sobreposta, disputando o mesmo espaço ou recursos. Além disso, a integralidade também é importante para que não haja um vazio de proteção social para atendimento das necessidades básicas de cada pessoa no território. Fluxo de decisão sobre os rumos da assistência social no Brasil Vamos conhecer como são tomadas as decisões de gestão na Assistência Social? Em âmbito nacional, as decisões que impactam em aprimoramentos da políticade assistência social devem seguir o fluxo abaixo. Fluxo Nacional de decisões de gestão no SUAS: Secretaria Nacional de Assistência Social - Propõe Comissão Intergestores - Tripartite - CIT - Aprecia. - Avalia. - Reformula. - Pactua. Conselho Nacional de Assistência Social - Aprecia. - Normatiza. - Propõe. - Aprova. A mesma regra geral se aplica a estados e municípios em decisões de abrangência estadual ou regional, sob as quais o papel da CIB é de grande relevância. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17 Fluxo Estadual de decisões de gestão no SUAS: Secretaria Estatudal de Assistência Social - Propõe Conselho Estadual de Assistência Social - Aprecia. - Normatiza. - Propõe. - Aprova. Comissão Intergestores - Bipartite - CIB - Aprecia. - Avalia. - Reformula. - Pactua Não existe acesso à proteção social se os pontos da rede não estiverem integrados e não souberem suas funções e fluxos. Os órgãos gestores da Assistência Social são as unidades do poder executivo da respectiva unidade da federação responsável pela coordenação da política de assistência social. Em geral, são as Secretarias de Assistência Social, ou afins, que possuem como principal atribuição prover os serviços, programas, projetos e benefícios a quem precisa. Para tanto, cabe à Secretaria dispor de um planejamento adequado às necessidades locais, dispor de estruturas de financiamento e de um fundo criado exclusivamente para a política de assistência social, além de criar e prestar apoio para o funcionamento dos conselhos de assistência social, no seu respectivo âmbito de atuação. Também deve estar vinculada ao órgão gestor da assistência social a unidade responsável pela gestão orçamentária e financeira: os fundos de assistência social, destinados a gerir os recursos – próprios ou não –, cumprindo os critérios da administração pública na execução, na prestação de contas, no controle social e na transparência pública da política de assistência social. As instâncias de negociação e pactuação da assistência social já haviam sido criadas antes mesmo da existência do SUAS, mas em um formato ainda consultivo, em 1998. A Comissão 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Intergestores Tripartite (CIT) é formada por representantes do governo federal, por representantes eleitos entre os secretários estaduais que compõem o Fórum Nacional de Secretários de Assistência Social (Fonseas) e, ainda, pelos secretários municipais escolhidos entre os membros que compõem o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas). Com o SUAS, passaram a ter caráter também propositivo, estratégico e político, ampliando, assim, a capacidade de incidência dos entes subnacionais sob os aspectos relacionados à gestão do SUAS. A Norma Operacional Básica da Assistência Social de 1998 ampliou a regulação da Política Nacional de 1998 e seu projeto de reforma do âmbito da assistência social, de acordo com as concepções norteadoras que definiram as diretrizes básicas para sua consecução. Também conceituou e definiu estratégias, princípios e diretrizes para operacionalizar a Política Nacional de Assistência Social de 1998. A CIT está prevista no Decreto nº 10.009, de 5 de setembro de 2019, como instância de pactuação interfederativa dos aspectos operacionais da gestão do referido sistema. É formada por 15 (quinze) membros titulares e 15 (quinze) suplentes, sendo 5 (cinco) representantes da União, 5 (cinco) dos estados e 5 (cinco) dos municípios. Repare, gestora e gestor, é essencial construir a participação do seu município, por meio do Secretário de Assistência Social designado a compor o Colegiado de Gestores de Assistência Social do seu Estado (Coegemas) e no Nacional (Congemas). É lá onde se pactuam regras de gestão que impactam o aprimoramento da assistência social de abrangência regional ou nacional, uma oportunidade de se apresentar as especificidades do seu município na fundamentação de decisões de gestão que podem impactar em recursos e em atribuições a serem desenvolvidas localmente. As Comissões Intergestores Bipartites (CIBs) são espaços de interlocução de gestores e de participação de representantes do poder executivo estadual e municipais daquele estado, de forma representativa dos diferentes portes e regiões. Em cada estado, a CIB tem a seguinte composição: 3 (três) representantes dos estados indicados pelo gestor estadual de assistência social e 6 (seis) gestores municipais indicados pelo Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência (Coegemas). https://cbf8ff3e-418a-41f5-b3eb-f4b2f2f44394.filesusr.com/ugd/7f9ee6_874c022e71264786ac86454d91c7c923.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10009.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%2010.009%2C%20DE%205,que%20lhe%20confere%20o%20art. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19 O papel dos Conselhos e das Conferências de Assistência Social O exercício da participação e do controle social por parte dos conselhos promove a valorização do caráter coletivo na construção das prioridades de gestão das diferentes políticas sociais públicas. Nos Conselhos, a representação do governo ocorre por indicação dos representantes do poder executivo correspondente, e a participação da sociedade civil ocorre por eleição dos seguintes segmentos: 1. trabalhadores; 2. organizações não governamentais; 3. usuários. De forma geral, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) atua como instância de recurso dos Conselhos de Assistência Social, delibera sobre regulamentações do SUAS, atua como instância de recurso da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e delibera sobre matéria pactuada na CIT (NOB SUAS, 2005, p. 45). O CNAS é composto por 18 membros titulares e 18 membros suplentes, sendo a configuração governamental formada por 7 conselheiros governamentais do poder executivo federal (da Secretaria Nacional de Assistência Social e de demais áreas do governo federal), 1 conselheiro representante do Congemas e 1 do Fonseas. Já a configuração da sociedade civil do CNAS é composta por 9 conselheiros, sendo 3 representantes do segmento de usuários, 3 (três) do segmento de trabalhadores e 3 representantes de organizações da sociedade civil que compõem o SUAS. Compete ao CNAS (art. 18 da LOAS): I - aprovar a Política Nacional de Assistência Social; II - normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da assistência social; III - acompanhar e fiscalizar o processo de certificação das entidades e organizações de assistência social no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; IV - apreciar relatório anual que conterá a relação de entidades e 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública organizações de assistência social certificadas como beneficentes e encaminhá-lo para conhecimento dos Conselhos de Assistência Social dos Estados, Municípios e do Distrito Federal; V - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social; VI - a partir da realização da II Conferência Nacional de Assistência Social em 1997, convocar ordinariamente a cada quatro anos a Conferência Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição de avaliar a situação da assistência social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do sistema; VII - (Vetado) VIII - apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social; IX - aprovar critérios de transferência de recursos para os Estados, Municípios e Distrito Federal, considerando, para tanto, indicadores que informem sua regionalização mais equitativa, tais como: população, renda per capita, mortalidade infantil e concentração de renda, além de disciplinar os procedimentos de repasse de recursos para as entidades e organizações de assistênciasocial, sem prejuízo das disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias; X - acompanhar e avaliar a gestão dos recursos, bem como os ganhos sociais e o desempenho dos programas e projetos aprovados; XI - estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os programas anuais e plurianuais do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS); XII - indicar o representante do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) junto ao Conselho Nacional da Seguridade Social; XIII - elaborar e aprovar seu regimento interno; XIV - divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21 Para saber mais informações sobre o CNAS, acesse https://www. blogcnas.com/. No âmbito estadual, cabe aos Conselhos: • aprovar o Plano Estadual de Assistência Social; • aprovar o Plano Integrado de recursos humanos; • aprovar a proposta orçamentária dos recursos alocados no Fundo Estadual de Assistência Social; • acompanhar a execução orçamentária e financeira anual dos recursos; • aprovar critérios de partilha de recursos estaduais destinados a cofinanciar serviços municipais ou estaduais; • assessorar os conselhos municipais de assistência social; • zelar pela efetivação do SUAS; • regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo socioassistencial em seu âmbito de abrangência, respeitadas as normas nacionais; • aprovar o relatório do pacto de gestão; dentre outras competências. Os Conselhos de Assistência Social dos Municípios e do Distrito Federal possuem atribuições semelhantes aos estados, porém com abrangência restrita ao seu campo de competência. Para ampliar o processo participativo dos usuários, além do reforço na articulação com movimentos sociais e populares, é recomendável a organização de espaços de coletividade de usuários junto aos serviços, programas e projetos socioassistenciais, a promoção de comissões de bairros, formação de fóruns, entre outros. Monitoramento e avaliação na assistência social Você sabia que o sucesso da sua gestão passa pelo monitoramento e avaliação? É muito importante que tenha em vista essas duas funções. Até porque, durante a implementação de políticas públicas, é comum haver ajustes de procedimentos de forma a se atingir as metas propostas. Esse comportamento decorre de um processo de amadurecimento de gestão, que passa pela implantação de mecanismos de monitoramento e avaliação, ainda que de forma pontual ou eventual. https://www.blogcnas.com/ https://www.blogcnas.com/ 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Desde os anos 1990, a profissionalização da gestão pública, a inauguração de uma cultura de transparência do gasto público e de responsabilização de gestores com sanções administrativas por desempenho de função impulsionaram o desenvolvimento de mecanismos capazes de promover eficiência, eficácia e efetividade às políticas públicas. Assim, a partir da Política Nacional de Assistência Social – PNAS de 2004, o monitoramento e a avaliação foram previstos de forma estruturante no exercício diário da gestão da política de assistência social. No contexto socioassistencial, o monitoramento é caracterizado como o acompanhamento contínuo, cotidiano, por parte de gestores e gerentes, no desenvolvimento dos programas e políticas em relação a seus objetivos e metas. Não pode ser uma ação que acontece de forma aleatória. É uma atividade do campo da gestão que proporciona aos gestores a adoção de medidas corretivas para melhorar sua operacionalização. O monitoramento é realizado por meio de indicadores, produzidos regularmente com base em diferentes fontes de dados, que dão aos gestores informações sobre o desempenho de programas, permitindo medir se objetivos e metas estão sendo alcançados (VAITSMAN; RODRIGUES; PAES-SOUSA, 2006). Por sua vez, a avaliação tem a finalidade de subsidiar o planejamento, a programação e a tomada de decisões de gestão por meio da disponibilização de resultados de estudos específicos que abordam a relevância, a eficiência, a efetividade e os resultados esperados, definidos pelos programas ou serviços. É por meio da avaliação que se conhecem os impactos das políticas, como também a sua viabilidade e sustentabilidade. Essas características são fundamentais para que você, gestor, seja capaz de planejar as entregas que deseja implementar durante a sua gestão, como também permite saber que tipos de recursos, ferramentas, insumos serão necessários incorporar para atingir as metas desejadas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23 A fim de acompanhar o desempenho dos serviços e programas da Assistência Social, foi instituído em 2006 um Sistema de Avaliação e Monitoramento, desenvolvido pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação - SAGI, do então Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS (atualmente denominado de Ministério da Cidadania). Esse sistema é subdividido em dois subsistemas, o de monitoramento e o de avaliação. Por meio de instrumentos e procedimentos distintos, esses subsistemas apoiam decisões de gestão dedicadas ao cumprimento adequado de seus programas ou ainda do seu melhoramento. São consideradas ferramentas que apoiam a função de vigilância socioassistencial em todo o país e promovem contínuos aperfeiçoamentos na tomada de decisão para a garantia de direitos e para a proteção social. Por meio de indicadores regulados e um processo contínuo de acompanhamento e desempenho dos programas e serviços, é possível medir o alcance de ações e os vazios de oferta, sinalizando para o gestor prioridades de intervenção para um planejamento ordenado. Para isso, o governo federal disponibiliza, por meio da SAGI, suportes de gestão para o aprimoramento das funções de monitoramento e avaliação de estados, Distrito Federal e Municípios. A SAGI elabora pesquisas, sistemas, programas de capacitação e publicações técnicas que apoiam profissionais das três esferas de governo na gestão de políticas sociais. O Bolsa Família, o Programa Criança Feliz, o Cadastro Único, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) são alguns dos principais usuários dos produtos da SAGI. Estados e municípios também utilizam os serviços da SAGI na gestão das políticas sociais federais. Para conhecer as possibilidades de apoio da Sagi ao seu município, acesse: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/ docs/Folder_SAGI_online.pdf A Norma Operacional Básica do SUAS – NOB SUAS 2012 define o modelo de monitoramento adequado para a gestão e controle social da política socioassistencial. Esse modelo é composto de indicadores que visam a mensurar: • estrutura ou insumos; • processos ou atividades; • produtos ou resultados. As principais fontes de informação são o Censo SUAS, o Registro Mensal de https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/Folder_SAGI_online.pdf https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/Folder_SAGI_online.pdf 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Atendimento (RMA) e o Prontuário Eletrônico da Assistência Social. Em âmbito estadual, o monitoramento do SUAS deve conjugar a captura e a verificação de informações in loco junto aos municípios e a utilização de dados secundários, fornecidos pelos indicadores do sistema nacional de monitoramento do SUAS ou provenientes dos próprios sistemas de informação estaduais. Em âmbito municipal e do Distrito Federal, o monitoramento do SUAS deve capturar e verificar informações in loco, junto aos serviços prestados pela rede socioassistencial, sem prejuízo da utilização de fontes de dados secundárias utilizadas pelo monitoramento em nível nacional e estadual. Lembre-se: não há política pública de qualidade sem monitoramento e avaliação! 3. Unidade 3 – Pacto federativo: o papel dos municípios,dos estados, do DF e da União na implementação Objetivo de aprendizagem: Ao final desta unidade, você será capaz de identificar o papel e os desafios dos entes federados na execução da Política Nacional de Assistência Social. Para garantir o funcionamento e a efetividade desse sistema protetivo, é necessário que toda a engrenagem funcione bem, como um motor. Cada componente sozinho não o faria funcionar, assim como cada ente federado também não promoveria a proteção social de forma independente no seu âmbito de atuação. É necessária a existência de uma cooperação entre os atores, que passa pela adequada definição de papéis (limite e potencialidades) de cada ente, num grande pacto federativo. Então, convido você a conhecer melhor essa grande locomotiva que promove o acesso a direitos tão essenciais para quem mais precisa. Vamos lá? Vídeo 2 - Pacto Federativo https://cdn.evg.gov.br/cursos/490_EVG/videos/modulo02_video03.mp4 https://cdn.evg.gov.br/cursos/490_EVG/videos/modulo02_video03.mp4 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25 Viu quanta responsabilidade há na gestão municipal? Mas lembre-se de que você não está sozinho e de que as responsabilidades são compartilhadas entre municípios, estados, Distrito Federal e a União. Esse foi um grande avanço da Constituição Federal de 1988, por meio da descentralização político-administrativa, que não apenas inaugurou uma mudança de paradigma para reconhecer o papel dos entes federados nas escolhas e decisões no campo de sua abrangência, como também trouxe novas formas de compartilhamento de funções, até então exclusivas do governo federal. Com a criação do SUAS em 2004 e com a aprovação da Norma Operacional Básica do SUAS – NOB SUAS 2005, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) deliberou que o regime de gestão desse sistema deveria ser compartilhado entre os entes federados. Essa decisão foi consolidada em um pacto federativo que assegura a unidade de concepção do alcance dessa política pública enquanto dever do estado e direito do cidadão, e a distribuição de responsabilidades e competências aos seus respectivos entes federados. De acordo com a NOB SUAS 2012, há responsabilidades comuns a União, estados, Distrito Federal e municípios e há responsabilidades específicas. Entre as competências comuns, destacamos: • a organização e coordenação do SUAS; • o papel de normatização e regulação; • a provisão de infraestrutura e recursos humanos necessários ao funcionamento do órgão gestor e dos conselhos; • o planejamento, o monitoramento e a avaliação; • a garantia de recursos orçamentários e financeiros próprios para o financiamento de serviços e benefícios em seu âmbito de atuação; • a implantação da vigilância socioassistencial; • a definição de fluxos de atendimento; • o atendimento de situações de emergência, entre outros. Conheça todas as responsabilidades dos entes federativos entre as páginas 20 e 25 da NOB - Suas 2012. Desafios da gestão e do controle social na assistência social https://www.mds.gov.br/webarquivos/public/NOBSUAS_2012.pdf 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública E, então, você já consegue vislumbrar quais são os principais desafios da gestão e do controle social no SUAS? A ruptura com o seu passado assistencialista, a necessidade de cumprir e dar respostas imediatas à questão social, o equilíbrio entre as ofertas e demandas, o olhar sobre as necessidades dos usuários, as limitações de recursos e de estruturas, a preocupação em acertar na definição de equipe para atender às especificidades técnicas, tudo isso acompanha o gestor em toda a sua jornada. Não há dúvidas, Prefeito, são inúmeros os desafios da gestão socioassistencial. Em primeiro lugar, porque a própria existência dessa política pública por si só é bastante complexa e dinâmica e exige respostas rápidas e efetivas para problemas estruturantes. Pobreza, desigualdade, discriminação, abandono, violações de direitos, desemprego, ausência de cuidados, desproteção expressam efeitos que decorrem de um modo de produção social e histórico desenvolvido no Brasil, cujas respostas extrapolam a assistência social. No entanto, esta tem uma importância central entre as políticas de proteção social, porque é exatamente pela assistência social que o cidadão desprovido de acesso a mínimos sociais atinge patamares básicos de exercício de direitos de cidadania, para então alcançar outros níveis de autonomia e protagonismo. Outro desafio que deve ser considerado é a necessidade de sua profissionalização enquanto política pública, com a ruptura de práticas conservadoras ligadas à caridade, rechaçando o apoio da gestão a práticas clientelistas, pontuais e pulverizadas. Outros pontos: a estruturação da unidade gestora, ou seja, da Secretaria de Assistência Social é fundamental para que se estabeleça a qualidade da gestão do SUAS em seu município, estado ou Distrito Federal. Espaço físico, equipes multidisciplinares em quantidade e em formação adequadas para o atendimento das necessidades específicas, capacitação continuada, recursos próprios para sua manutenção e capacidade de articulação interinstitucional são essenciais. Dispor de cofinanciamento federal e estadual para a oferta dos serviços, programas, projetos e benefícios de sua abrangência pode ampliar sua capacidade de resposta e assegurar a sustentabilidade de estratégias locais. E, finalmente, o controle social. Ele é uma das diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e uma oportunidade de se promover a inclusão social de segmentos muitas vezes invisíveis. Por intermédio da participação social, usuários de serviços, programas, projetos e benefícios, os trabalhadores e os gestores integram os conselhos de assistência social em cada esfera da federação. Fomentar a participação social de usuários, trabalhadores, representantes de movimentos sociais, fóruns, conselhos, conferências é importante para assegurar a ampliação do acesso a direitos socioassistenciais básicos e deve ser apoiado em cada município, estado, no Distrito Federal e na União. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27 4. Referências ASSIS, S. G.; FONSECA, T. M. A.; FERRO, V. S. (orgs.). Proteção social no SUAS a indivíduos e famílias em situação de violência e outras violações de direitos: fortalecimento da rede socioassistencial. Brasília: Fundação Oswaldo Cruz; Ministério do Desenvolvimento Social, 2018. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/ wp-content/uploads/2019/03/2.-Caderno_Curso-de-Prote%C3%A7%C3%A3o-social- no-SUAS-a-indiv%C3%ADduos-e-fam%C3%ADlias-emsitua%C3%A7%C3%A3o-de- viol%C3%AAncia-e-outras-viola%C3%A7%C3%B5es-de-direitos.pdf. Acesso em: 5 out. 2021. BRASIL. 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