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Atualizado em ago-21 CADERNO TEMÁTICO Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 08 DIREITO PENAL MILITAR Objetivos Qualificar, capacitar e orientar o Aluno-Sargento para sua atuação como na área penal militar (através da teoria e da prática) com abordagens a temas de extrema relevância, desenvolvendo a competência necessária para o exercício de suas atribuições. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 1. CÓDIGO PENAL MILITAR – PARTE GERAL Conceitos de Direito Penal e Direito Penal Militar O Direito Penal é ramo do Direito voltado a limitar o poder punitivo do Estado, de modo a instituir infrações penais e sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação. Já o Direito Penal Militar é um ramo especializado, com o mesmo prisma, voltado às infrações penais militares, com enfoque na garantia de princípios basilares das Forças Armadas, constituídos principalmente pela hierarquia e disciplina 1 . Cumpre mencionar que nos termos do art. 2º. da Lei Complementar nº. 10.990/97, no qual dispões sobre o Estatuto dos Militares Estaduais do Estado do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar é organizada com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Governador do Estado. 1.1 Aplicação da Lei Penal Militar Princípios gerais do Direito Penal Militar 1.1.1 Princípio da legalidade e da anterioridade Este princípio diz respeito às regras positivadas da legislação castrense, de modo que “está indissoluvelmente ligado ao conceito de Estado de Direito, a ponto de se poder dizer que não há Estado de Direito sem que o referido princípio não seja reconhecido.” 2 Significa dizer que ao policial militar não há critérios para verificar situações de oportunidade ou conveniência para aplicação da lei penal militar. Nesse sentido, agirá de ofício após tomar ciência do delito militar praticado, por dever de ofício e em virtude da ação penal nos crimes militares ser pública incondicionada. Constitui a limitação básica do poder estatal, consagrado pelo brocardo (axioma jurídico) “nullum crimem, nulla poena sine praevia lege” (não há crime sem lei anterior que o defina,nem pena sem previa cominação legal – arts 1º do CPM e 5º, Inc. XXXIX da CF/88). Reserva legal: somente a lei em sentido formal pode taxativamente estabelecer o que é crime e cominar as respectivas sanções, de modo a observar o devido processo legislativo estatuído no artigo 59 e seguintes da CF/88. Além disso, ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime (abolitio criminis), cessando, em virtude dela, a própria vigência de 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. 2. ed. rev. atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 19. 2 ALVES-MARREIROS, Adriano, Guilherme Rocha, Ricardo Freitas. Direito Penal Militar. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015, p. 79. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil (art. 2º do CPM). 1.1.2 Princípio da hierarquia e da disciplina: A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. Assim, disciplina e hierarquia, como princípios básicos que regem a vida militar, traduzem valores dignos de serem preservados em nome da eficiência das Forças Armadas devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados 3 . 1.1.3 Irretroatividade A lei penal militar, como regra, não pode ser aplicada aos fatos ocorridos antes de sua vigência ou após sua revogação. No entanto, a lei posterior que, de qualquer modo, favorece o agente (lex mitior) aplica-se retroativamente, ainda que já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível (retroatividade benigna – art. 2º, § 1º do CPM), inclusive em relação aos benefícios prescritos em lei nova, e não existentes na lei anterior. 1.2 Tempo e lugar do crime militar Definidos nos artigos 5º e 6º do CPM. O tempo do crime é definido pelo Art. 5º do CPM, no qual adotada a teoria da atividade nos ilícitos penais militares, assim, considera-se praticado o delito no momento da conduta, não importando o momento do seu resultado 4 . Com relação ao lugar do crime, existem três teorias: a da atividade, a do resultado e a mista ou da ubiqüidade. A primeira considera o local da infração penal onde foram praticados os atos 3 ALVES-MARREIROS, Adriano, Guilherme Rocha, Ricardo Freitas. Direito Penal Militar. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015, p. 79. 4 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. 2. ed. rev. atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 34. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 executórios da conduta, a segunda cita como local do crime onde ocorreu a consumação do delito, já por fim, a teoria mista ou da ubiqüidade cita como local tanto o lugar do crime, tanto quanto onde se deu o resultado do crime 5 . “Assim, em um sentido amplo, podemos afirmar que, relativamente ao lugar do crime, o CPM adotou um sistema misto que engloba a teoria da atividade e a teoria da ubiqüidade” 6 . Observando-se que os crimes omissivos seguem a lógica do lugar em que deveria ter se realizado a ação omissiva, sem considerar onde se deu o resultado. 1.3 Conceito de Militar Definição do art. 22 do CPM. O diploma legal conceitua quem é considerado militar para efeitos de aplicação do CPM, embora tal definição esteja incompleta. Conforme disposto nos art. 42 e 144 § 5º da CF, os membros das Policiais Militares e Corpo de Bombeiros Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (se houver), são disciplinados pelo CPM 7 . Nos termos do § 4º do art. 125 da CF, compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os Militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. 1.4 Crime militar Extravagante O conceito de crimes militares por extensão, última classificação, surgiu com o advento da Lei nº 13.491/17. Com o aparecimento da Lei mencionada houve a alteração da competência da Justiça Militar, o que, consequentemente, também alterou o conceito de crime militar. Isso porque, a referida Lei inovou ao trazer que, também são considerados crimes militares aqueles dispostos na legislação penal comum, quando praticados nas hipóteses previstas no artigo 9º do Código Penal Militar. 5 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. 2. ed. rev. atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 35. 6 ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina e jusrisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6.– Curitiba: Juruá, 2008, p. 32 7 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. 2.ed. rev. atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 58. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Com o crescimento dos crimes comuns com novas figuras penais na legislação penal (por exemplo: abuso sexual, crimes cibernéticos, crime organizado, crimes do estatuto do desarmamento, crimes contra crianças, adolescentes e idosos etc.), de forma atualizada e com penas mais proporcionais à realidade, o CPM, que é o diploma legal dos crimes militares, foi corrigido com a novel Lei 13.491/17. Com a alteração da redação do art. 9º do Código Penal Militar (CPM) aumentou-se o rol de crimes militares e igualmente ampliou-se a competência da Justiça Militar trazendo uma nova categoria de crimes militares. Ao lado da tradicional classificação dos crimes propriamente militares (aqueles previstos exclusivamente no CPM), contemplada na CF (art. 5º, LXI, in fine) e no CP (art. 64, II), e dos crimes impropriamente militares (aqueles que possuem igual definição no Código Penal Comum), a referida Lei agora instituiu os crimes militares por extensão (aqueles previstos exclusivamente na legislação penal comum, isto é, no Código Penal (CP) e na legislação extravagante) O desvio de conduta criminal do militar – seja ele federal (integrante das Forças Armadas) ou estadual (integrante da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar) – quando abusando de suas atribuições, quando praticando crimes no exercício de suas funções, quando praticando crimes no interior do quartel, responderá por crime militar, que aqui denominamos como crimes militares por extensão, de forma que os superiores hierárquicos terão maior controle e melhores meios para apuração de responsabilidade de seus subordinados, com o rigor e a celeridade próprias das atividades militares, contando ainda com a eficiência das Justiças Militares, sem perder a qualidade. 1.5 Crime militar em tempo de paz A doutrina mais moderna dividia os crimes militares em apenas dois grupos: própria e impropriamente militares. O crime é propriamente militar quando o bem jurídico tutelado é exclusivo do meio militar, sendo previsto exclusivamente no Código Penal Militar e tendo como sujeito ativo somente o militar da ativa. Já o crime impropriamente militar, por afetar bens jurídicos comuns às esferas militar e civil, tem previsão legal tanto no Código Penal Militar quanto na legislação comum e pode ser praticado por militar da ativa ou da reserva ou reformado ou por civil. Percebe-se que essa abordagem não fazia distinção entre os crimes impropriamente e os acidentalmente militares. A previsão de crime militar está contida no art.9º do CPM. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. § 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) § 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) Importante destacar que a Lei Federal nº. 13.491/2017 trouxe um novo conceito de crime militar e situações excepcionais nos julgamentos de crimes dolosos contra a vida de civis, principalmente na Justiça Militar da União. Pela inovação legislativa, crime militar é o delito praticado por militar, nas hipóteses do art. 9º do CPM, com previsão no CPM ou http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9299.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9299.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7565.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp97.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 na legislação penal comum. Dessa forma, a justiça castrense teve ampliada a sua competência nos julgamentos de crimes militares 8 . 1.6 Crime militar em tempo de guerra Definido no art.10º do CPM. Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra; II - os crimes militares previstos para o tempo de paz; III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente: a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo; IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado 1.7 Fontes do Direito Penal Militar: As fontes, como o próprio nome sugere, são o nascedouro, os instrumentos que dão início ao Direito Penal Militar. a. Fontes materiais: de plano, podemos definir como fonte material, a fonte de criação. De acordo com nossa Carta Magna, compete privativamente à União legislar sobre a as leis penais, e isso engloba o direito penal militar. b. Fontes formais: são aquelas que permitem o conhecimento do direito. É a fonte de revelação, pela qual se dá conhecimento ao povo sobre a criação de uma norma. Subdivide-se em imediata e mediata. 8 Apelação (criminal) - 1000566-56.2018.9.21.0001 Relator: Juíza Civil Maria Emília Moura da Silva Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TORTURA. LEI 9455/97. PRELIMINARES. NULIDADES. INTIMAÇÃO. ATOS PROCESSUAIS. EMAIL. APLICATIVO WHATSAPP. POSSIBILIDADE. VALIDADE. PACIFICAÇÃO JURISPRUDENCIAL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COMPETÊNCIA REGULATÓRIA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ARTIGO 196, CPC. CERCEAMENTO DE DEFESA. REABERTURA DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. PROVA. JUNTADA EXTEMPORÂNEA. FALTA DE ARGUIÇÃO. PRECLUSÃO. PREJUÍZO. AUSÊNCIA. DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. LEI 13.491/17. RATIFICAÇÃO DE ATOS. ARTIGO 64, §4º, CPC. EFICÁCIA. MÉRITO. TIPO PENAL. TORTURA. SUBSUNÇÃO FÁTICA. INOCORRÊNCIA. PROVIMENTO AOS APELOS DEFENSIVOS. ABSOLVIÇÕES. ARTIGO 439, C E E, CPPM. DECISÃO MAJORITÁRIA DO COLEGIADO. 1. É entendimento já pacificado nas Cortes Superiores e no Conselho Nacional de Justiça sobre a possibilidade e a favorabilidade do uso dos meios eletrônicos e das plataformas de comunicação, no âmbito do Poder Judiciário, como meio de intimação dos atos processuais às partes. 2. A juntada de prova extemporânea à fase instrutória não traz a nulidade pelo cerceamento de defesa, se as partes, contra o ato, não se insurgiram no tempo e modo devidos. 3. Não há nulidade na ratificação de atos e decisões processuais praticados na Justiça Comum, cuja declinação para o foro castrense se deu com a edição da Lei 13.491/17. 4. Conjunto probatório, oral e pericial, inapto à subsunção das condutas denunciadas ao crime de tortura-castigo, descrito no artigo 1º, inciso II da Lei 9.455/97, como “submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. 5. Decisão majoritária do Colegiado para dar provimento aos apelos defensivos, com escopo no artigo 439, letra "c" e "e", do CPPM. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 - Fontes imediatas: a fonte imediata de direito penal militar é a lei, em sentido estrito. - Fontes mediatas: são os costumes, princípios gerais de direito, analogias e inclusa também, a jurisprudência. 1.8 Critério Específico de aplicação do crime militar por meio do Art. 9º do CPM 1.8.1Definição Diferente do que ocorre no Direito Penal Comum, em que diante de uma conduta típica, ilícita e culpável teremos crime, o Direito Penal Militar necessita, além disto, que a conduta se adeque ao que dispõe o Art. 9º do CPM, para que o crime seja considerado militar. Destarte, o artigo 9º traz as hipóteses de crimes militares em tempo de paz. Cabe ressaltar que as mesmas disposições aplicáveis ao tempo de paz são aplicáveis ao tempo de guerra, contudo o Art. 10 do CPM dispõe sobre os crimes militares em tempo de guerra. Para conceituar o crime militar a doutrina estabeleceu também outros critérios: rationemateriae, ratione personae, ratione temporis e ratione loci. O critério ratione materiae exigeque se verifique a dupla qualidade militar – no ato e no agente. Por outro lado, são delitos ratione personae aqueles cujo sujeito ativo é militar atendendo exclusivamente à qualidade demilitar do agente (militares envolvidos). Por exemplo, desafio para duelo (art. 224, do CPM). Já o critério ratione loci leva em conta o lugar do crime, bastando, portanto, que o delito ocorra em lugar sob administração militar. Por fim, delitos militares ratione temporis praticados em determinada época, como, por exemplo, os ocorridos em tempo de guerra ou durante o período de manobras ou exercício. Reforça-se que a classificação do crime militar se faz pelo critério ratione legis, ou seja, é crime militar aquele que o Código Penal Militar diz que é, ou melhor, enumera em seu art. 9.º. Já as alíneas do inciso II do aludido artigo colocam outros critérios, quais sejam, em razão da matéria, da pessoa, do lugar e do tempo. 1.8.2Competências A base legal para a competência da Justiça Militar está inserida na Constituição Federal de 1988 (Art. 125, §§ 3º e 4º), Constituição Estadual do Rio Grande do Sul de 1989 ( arts. 104, 105 e 106) e no Código de Organização Judiciária do RS (Lei nº 7.356/80 - COJE) – arts. 230 a 302) A Justiça Militar Estadual de 1º Grau existe em todos os Estados da Federação, e os Tribunais Militares existem como órgãos de 2ª instância nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Gerais, com a competência para julgar os militares estaduais (ativos e inativos) que cometem crimes militares, exceto homicídios dolosos contra civis, que são julgados pela Justiça Comum, em Júri Popular. Além disso, a Emenda Constitucional nº 45 passou a designar os Juízes-Auditores de Juízes de Direito do Juízo Militar, estabelecendo a sua competência para processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de Juiz de Direito, processar e julgar os demais crimes militares. Trata-se de Justiça especializada que possui como jurisdicionados os policiais e bombeiros militares, ativos e inativos, e uma organização judiciária especializada (justiça castrense) segmento do Poder Judiciário, com base na Constituição Federal de 1988, disponha, em seu artigo 125, §3º, que pode haver tribunais de justiça militar em estados cujo efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes, na maioria dos estados brasileiros, a Justiça Militar limita-se ao primeiro grau de jurisdição (Conselhos de Justiça), correspondendo à segunda instância o próprio Tribunal de Justiça Estadual, sendoque no Rio Grande do Sul, existe o Tribunal de Justiça Militar é estruturado em duas instâncias: a Primeira constituída pelos Juízes de Direito do Juízo Militar e os Conselhos de Justiça, os quais atuam nas auditorias militares; e a Segunda, pelo Tribunal de Justiça Militar, composta por juízes que integram esses órgãos. No tocante a atividade de polícia judiciária no âmbito das polícias militares, destaca-se que sua competência está prevista no artigo 129, caput, da Constituição Estadual de 1989. No âmbito da Brigada Militar, a análise dos crimes militares cometidos obedece a determinadas regras e procedimentos de exercício de polícia judiciária militar no âmbito de sua jurisdição. A NI Temática Administrativa n. º 028.1, de 29 de novembro de 2006, determina a adoção de procedimentos de polícia judiciária militar, quando da ocorrência de crime militar, no âmbito da Brigada Militar. Tomando-se por base as Constituições Federal e Estadual, o CPM (Lei n. º 1.001, de 21.10.69), o CPPM (Lei n.º 1.002, de 21.10.69), diretrizes e determinações de ordem interna, bem como a aplicação subsidiária do CP, CPP e leis especiais federais e estaduais, a autoridade militar a quem compete a apuração e que constatar a ocorrência de crime militar definido em lei, tem por dever de tomar providências em relação à prática do ilícito e à prisão do respectivo autor, de imediato. Não podemos dizer que o crime militar é somente aquele cometido por militar, uma vez que o crime pode ser cometido por um civil como por exemplo, contra a administração militar, ensejando este numa das espécies de crime militar. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 1.8.3Competência jurisdicional para processo e julgamento Importante se ter em mente a competência estadual para apuração de crimes militares. Em matéria de competência jurisdicional, a JME sofreu importantes alterações com a Emenda Constitucional n. º 45/2004, que modificou substancialmente o artigo 125, em seus parágrafos 4º e 5º da Constituição Federal de 1988: §4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. §5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. Assim, a JME, além dos Conselhos de Justiça possui a competência para o processo e julgamento dos crimes militares em geral, conferiu-se ao juiz de Direito, singularmente, a competência para processar e julgar crimes militares cometidos contra civis e, ainda, para o conhecimento e julgamento das ações cíveis que versem sobre atos disciplinares militares. Até então tais ações pertenciam às Varas da Fazenda Pública, na Capital. Salienta-se, que em relação à Justiça Militar Federal esse acréscimo de competência não ocorreu, remanescendo sua competência tão somente, às ações penais. Logo, diferentemente da Justiça Militar Federal, jamais a Justiça Militar Estadual poderá submeter a processo e julgamento cidadãos civis pelo cometimento de crime militar, porquanto sua competência se restringe a crimes militares cometidos por policiais militares e bombeiros militares (RS), incluindo os da reserva e reformados (por força do artigo 13 do CPM – “o militar da reserva ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas do posto ou graduação, para efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica ou contra ele é praticado crime militar”), conforme o artigo 125, parágrafo 4º (supra). 1.9 Competência de julgamento de crimes dolosos cometidos por militares contra a vida de civil Cabe ressaltar a alteração legislativa trazida pela Lei nº 13.491, de 2017, no que diz respeito ao antigo parágrafo único do art. 9º, o qual foi dividido em parágrafos primeiro e segundo. §1 o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 §2 o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº13.491, de 2017) a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de2017) c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) d) Lei n o 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491,de 2017). No primeiro parágrafo manteve-se a competência do Tribunal do Júri para o processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a vida, cometidos por militares estaduais e federais, contra civis. Com relação ao segundo parágrafo, houve uma ampliação dos casos de exceção à competência do Tribunal do Júri, quanto aos crimes dolosos contra a vida, praticados por militares das Forças Armadas, contra civis, nas hipóteses elencadas nos incisos I, II e III e alíneas. Assim, em todas as hipóteses referidas, havendo o emprego das Forças Armadas e ocorrendo situações de crimes dolosos contra a vida de civis, a competência passa a ser da Justiça Militar da União. Os crimes dolosos contra a vida estão nos artigos 205 (homicídio), 207 (instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio) e 208 (genocídio) do Código Penal Militar - a competência para a apuração é da Brigada Militar, eis que a Lei Federal n.º 9.299, de 07 de agosto de 1996, somente deslocou a competência para a justiça comum, para o processo e julgamento. Disso decorre que os crimes continuam sendo militares apuráveis de acordo com o estabelecido na legislação processual penal militar. 1.10 Teoria geral do crime militar Partindo do pressuposto de que o Brasil adota a teoria analítica tripartida para definição do que é crime, cabe diferenciar os três elementos formadores do crime e diferenciá-los: 1.10.1 Tipicidade A tipicidade nada mais é do que adequação da conduta ao tipo penal. Sendo assim, não há crime quando a conduta é atípica, não http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7565.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp97.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp97.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13491.htm#art1 Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 prevista em lei. Condutas como jogar um cigarro no chão, embora sejam desprezíveis do ponto de vista ambiental, não têm previsão normativa como responsabilização criminal, desta forma, não sendo criminalizadas. A tipicidade se divide em conduta, que pode ser uma ação ou omissão, um nexo de causalidade, resultado e tipicidade. A conduta ativa também conhecida como comissiva se caracteriza quando o agente pratica algo de forma ativa. Já a conduta omissiva se caracteriza quando o agente deixa de praticar algo. O nexo de causalidade é o elo entre a conduta e o resultado. O resultado é aquilo que foi produzido pela conduta, podendo ser jurídico ou normativo. Por fim, a tipicidade, divide-se em formal e material. A tipicidade formal é a adequação do fato à norma penal, enquanto que a tipicidade material é a efetiva lesão à bem jurídico tutelado. Ressalta-se que o Direito Penal Comum adota a teoria finalista da ação que situa o dolo e a culpa na conduta, ou seja, na tipicidade; o Direito Penal Militar, por sua vez, insere o dolo e a culpa na culpabilidade, adotando assim, a teoria causalista da ação. Essas alterações teóricas trazem inúmeras implicações e mudanças na prática, como por exemplo, a questão da coação física irresistível. No direito Penal Comum, não haverá dolo ou culpa do agente quando ele praticar fato sob coação física irresistível. Sendo assim, não há tipicidade e a análise do caso se resume ao primeiro elemento do crime. Já no Direito Penal Militar, pelo fato de que o dolo e a culpa estão alocados na culpabilidade, se caso o agente praticar algo em razão de ser coagido de forma física e essa coação for impossível de oferecer resistência, temos ainda assim um fato típico e ilícito que será analisado, e a não responsabilização do agente será verificada apenas na culpabilidade, para verificar se dele não era exigível conduta diversa. 1.10.2 Ilicitude A ilicitude ou antijuridicidade nada mais é do que o fato que foi praticado e é previsto em lei, ou seja, típico, que é contrário ao direito. Destarte, quando uma conduta prevista em lei, como, por exemplo, o roubo, for contrária ao direito, estaremos diante de uma situação típica e ilícita. 1.10.2.1 Excludentes de ilicitude Os artigos que tratam das excludentes de ilicitude estabelecem norma semelhante ao contido no Código Penal Brasileiro. Segundo o estabelecido na norma penal, o agente não praticará crime quando agir ou se encontrar tutelado pelo estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito, circunstâncias que afastam a responsabilidade penal do Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 agente. As situações estabelecidas neste dispositivo alcançam tanto os militares federais como os militares estaduais. Ressalta-se que no caso das excludentes de ilicitude, a sua ocorrência é um ônus que não pertence ao Ministério público, mas exclusivamente ao agente que alega a sua ocorrência (ônus da prova). De acordo com o Art. 42, do CPM, não há crime quando o agente pratica o fato: a. Em estado de necessidade justificante: O militar estadual pode alegar o estado de necessidade, a não ser que se encontre no exercício de suas funções constitucionais em razão do “tributo de sangue”. Nesse sentido, não pode o PM ou o bombeiro militar alegar esta excludente para deixar de cumprir com suas funções, dentre elas a preservação da ordem pública e a segurança da comunidade. Não se admite, por exemplo, o PM alegar que deixou de participar de ocorrência de tiroteio em razão da opção que fez entre a sua vida ou a vida da vítima. Também, não pode o bombeiro militar deixar de atender ocorrência de incêndio, alegando não salvar vítima, pois coloca sua vida em perigo. Entendemos que o cão que ataca o PM em ocorrência e este desfere tiros para salvar sua integridade física, matando o animal, age em estado de necessidade. São requisitos do estado de necessidade justificante 9 : a) Perigo de lesão que o agente não provocou e nem podia de outro modo evitar (resultante de caso fortuito ou força maior); b) Inevitabilidade da lesão ao bem próprio ou de outrem (perigo certo e atual); c) Conflito entre bens protegidos pela ordem jurídica; d) Balanceamento dos bens e deveres em conflito. Nesse aspecto assinala Francisco de Assis Toledo (1994: 184), que se afasta, pois, nesta área, qualquer possibilidade de justificação do sacrifício dobem maior para salvação do menor, transferindo-se, nesta ultima hipóteses, a solução para o juízo da culpabilidade (é o caso do art. 39); e) Elemento subjetivo do agente, ou seja, 0 seu agir visando a salvar 0o bem ameaçado; .I) Inexigibilidade de dever do agente em enfrentar o perigo; militares,policiais e bombeiros terno dever de enfrentar perigo – Dever Jurídico de Agir. b. Em legítima defesa: 9 ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina e jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6 ed.– Curitiba: Juruá, 2008 Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 A legítima defesa não significa necessariamente o emprego da força, mas a utilização dos meios necessários para repelir uma injusta agressão. Na maioria das vezes, a legítima defesa é representada pelo emprego da força, e no caso dos policiais militares pelo emprego das armas, principalmente arma de fogo. Requisitos da legitima defesa: agressão atual ou iminente); direitos do agredido ou de terceiros, atacado ou ameaçado de dano pela agressão; repulsa com os meios necessários; uso moderado de tais meios; conhecimento da agressão e da necessidade de defesa (vontade de defender-se). A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legitima defesa 1011 . c. Em estrito cumprimento do dever legal: O militar em serviço poderá utilizar do exercício de suas funções constitucionais em razão de previsão legal, desde que observe o uso moderado dos meios. Tal excludente possibilita ao profissional, em razão da função, fazer cumprir a lei quando estiver diante de um caso concreto. Exemplo temos quando o PM intervém em uma ocorrência de roubo a pedestre ou a estabelecimento comercial 12 . 10 ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina e jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6 ed.– Curitiba: Juruá, 2008 11 EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MPM. LESÃO CORPORAL. ART. 209 DO CPM. LEGÍTIMA DEFESA. EXCLUDENTE DE ILICITUDE. COMMODUS DISCESSUS. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO A QUO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNANIMIDADE. 1. O Código Penal não exige que a agressão causadora da legítima defesa seja inevitável, de modo que o agentenão está obrigado a retirar-se ileso, evitando o ataque. Assim, estará albergado pela excludente, caso opte por permanecer no cenário de confronto e reprimir a injusta agressão, atual ou iminente, desde que o faça moderadamente com os meios necessários. 2. Afigura-se desarrazoada a conduta do militar que inflige agressões verbais e físicas em colega de farda sob o pretexto de repreendê-lo, ignorando a solução de conflito por intermédio da cadeia de comando. 3. In casu, a insistência do Ofendido em afrontar o Indiciado, de forma agressiva, por mais de uma vez, revelou-se suficiente para justificar a conduta moderada do Indiciado que objetivou, unicamente, fazer cessar a injusta agressão sofrida. 4. Age em legítima defesa aquele que, a fim de repelir injusta agressão, utiliza-se dos meios proporcionais e moderados unicamente para extirpar o injusto, sendo descabida, por falta de justa causa, a submissão do indiciado a um processo penal quando cristalina a sua atuação pautada na excludente. 5. Decisão a quo que reconheceu a inexistência do crime pela excludente da legitima defesa mantida in totum. 6. Recurso Ministerial conhecido e não provido. Decisão unânime. (STM ʹ RSE 7000079- 37.2018.7.00.0000, Relator Ministro CARLOS AUGUSTO DE SOUSA. Publicação em 12/04/2018.) 12 APELAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. LESÃO CORPORAL CULPOSA DECORRENTE DE INGRESSO CLANDESTINO EM ÁREA MILITAR. ALEGAÇÃO DE IMPRUDÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. OBSERVÂNCIA Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 d. Em exercício regular de direito. Excludente que possibilita ao policial militar em atividade realizar ações próprias de sua função, tais como a condução coercitiva à busca pessoal. Assim, por intermédio de seu agente, o Estado estará exercendo seu poder de fiscalizador e aplicador da lei, proporcionado ao cidadão o exercício de seus direitos e as garantias fundamentais constitucionais. Essa excludente exige do PM preparo técnico-profissional, a fim de evitar abusos ou excessos de poder. 1.10.3 Culpabilidade A culpabilidade é o juízo de reprovação social sobre o fato típico e ilícito. Desta forma, o fato pode ser previsto em lei e contrário ao Direito, que ainda assim em determinadas situações não teremos crime. A culpabilidade se divide em imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. 1.9.3.1 Estado de necessidade exculpante – art. 39 CPM 13 Esta hipótese, descrita no art. 39 do CódigoPenal Militar, não possui similar no Código Penal comum. Entretanto, a doutrina apregoa, como causa supralegal de exclusão da culpabilidade, o estado de necessidade exculpante, constituído dos elementos constantes deste artigo. Nesse ponto, o Código Militar encontra-se mais avançado do que o comum. Estipula, expressamente, a ausência de culpabilidade nesse caso, permitindo a absolvição do agente. Requisitos do estado de necessidade exculpante: a) existência de uma situação de perigo certo e atual (risco de dano determinado e presente); b) perigo gerado involuntariamente(nem dolo, nem culpa) pelo agente do fato necessário; c) perigo inevitável (há o dever de fuga no estado de necessidade, de modo a não prejudicar, gratuitamente, bem alheio); d) proteção a bem próprio ou de terceiro, a quem se liga por relação de afeto ou parentesco (cuidando-se de DA NORMA INTERNA DA ORGANIZAÇÃO MILITAR. NEGADO PROVIMENTO AO APELO. UNANIMIDADE. Para a caracterização do delito descrito no artigo 210 do Código Penal Militar, é necessária a presença de todos os elementos do fato típico culposo, entre os quais a imprudência, que consiste na prática de um ato sem os cuidados que o caso requer. Não é reprovável a conduta do agente que atua no intuito de defender a segurança da Organização Militar, cumprindo todos os procedimentos estabelecidos pela Norma Interna da Unidade. Embora típica, a atitude não é ilícita, porquanto a lei impõe esse comportamento àquele que se encontra em serviço, agindo amparado pela excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal. A condenação do militar que age em estrito cumprimento do dever legal resultaria no esvaziamento dos serviços armados das Unidades Militares, fomentando o desrespeito às forças de defesa do país, sendo a absolvição medida que se impõe. Apelo a que se nega provimento. Unanimidade. (STM; 0000110- 41.2012.7.01.0201; Relator: CLEONILSON NICÁCIO SILVA; DJ:25/03/2015) 13 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. 2. ed. rev. atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 58. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 situação exculpante, demanda-se ligação afetiva entre o agente do fato necessário e a pessoa em perigo); e)sacrifício de direito alheio de valor superior ao bem protegido (se o sacrifício fosse de bem de igual valor ou de valor inferior, estaria figurado o autêntico estado de necessidade, como excludente de ilicitude); f) existência de situação de inexigibilidade de conduta diversa (a situação é dramática o suficiente para não permitir que o agente do fato necessário tenha condições de discernir, com clareza, qual bem merece ser salvo, optando, então, pelo que lhe parece mais importante). Ex.: num naufrágio, havendo possibilidade de salvar uma pessoa estranha ou um cão-guia, o deficiente visual, provavelmente, concentra-se neste último, pois não lhe seria exigível comportamento diverso em momento trágico e gerador de intensa emoção. 1.10 Excludente de culpabilidade É a capacidade que o agente tem ou não de ser responsabilizado penalmente em razão da prática de um ilícito penal, responsabilização esta que poderá ou não ocorrer em razão da idade, desenvolvimento mental incompleto e da embriaguez (Art. 48 ao 52 do CPM). 1.12 Punibilidade Art. 123 ao 135 do CPM. 1.13 Causas Extintivas de Punibilidade: Estão inseridas nos artigos do CPM (art. 123) e de plano, direciona-se a anistia, indulto, e a abolitio criminis, uma vez que as restantes são auto afirmativas. a. Anistia: É de competência da União (Congresso Nacional). Afeta ao fato, e não o autor. Afasta os efeitos penais da sentença condenatória, mas não os civis. Pode ser concedida a qualquer tempo. Destina-se precipuamente, a crimes políticos. (Art. 123, II, CPM) b. Indulto: É concedido mediante decreto presidencial, geralmente a pessoa certa. Pode-se diferentemente ser concedido em caráter coletivo, cujo é mais conhecido. A novel carta constitucional, não se refere mais a graça, mas indulto individual. Não extingue a punibilidade. Somente se aplica após o trânsito e julgado da decisão condenatória. c. Abolitio Criminis: Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Em especial, de amplo conhecimento no meio jurídico, especificamos o abolitio criminis, que é a abolição do crime, em tradução livre. Este termo latino refere-se no instante em que uma lei posterior revoga uma lei anterior. Assim, uma lei penal que estava vigendo, já com a aplicação da condenação, se fosse o caso, e vigora a partir de então, lei posterior que revoga o determinado dispositivo legal penal, configura-se a abolitio criminis, inclusive em sua condenação. Alusão ao art. 2º do CPM. 1.14 Concurso de pessoas e concurso de crimes 1.14.1 Concurso de pessoas Ocorre o concurso de pessoas, quando o ilícito penal é praticado por mais de uma pessoa. Cabe salientar que cada agente será responsabilizado, tanto na ação como na omissão, em razão de sua participação no crime praticado. (Art. 53 e 54 do CPM) a) Requisitos doconcurso de pessoas de acordo com a teoria monista 14 a) Pluralidade de pessoas e de condutas. Deve haver uma pluralidade de agentes praticando diversas condutas. b) Relevância causal de cada conduta. Exige-se um nexo causal eficaz de cada conduta para a produção do resultado. c) Liame subjetivo ou psicológico entre as pessoas. Deve haver um vínculo psicológico entre os concorrentes, que se traduz na comum resolução para o fato. A convergência subjetiva corresponde à consciência e à vontade que devem ser comuns, ou seja, na unidade de desígnios para todos os concorrentes a contribuir para uma obra coletiva. Não há necessidade de ajuste prévio entre os concorrentes. d) Identidade do ilícito penal. O delito deve ser idêntico ou uma unidade jurídica para todos. Os agentes, unidos pelo liame subjetivo, concorrem para a realização da mesma infração penal. 1.14.2 Concurso de Crimes Ocorre o concurso de crimes quando o agente pratica, por uma ou mais ação ou omissão, mais de um ilícito penal. (Art. 79 e 80 do CPM) 1.15 Espécies de penas 1.15.1 Penas principais: 14 FARIA, Marcelo Uzeda de. Direito Penal Militar. 5 ed. São Paulo: Editora Jus Podivm, 2019 Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 O policial militar está sujeito a várias espécies de pena. Cabe salientar que a pena aplicada será proporcional à gravidade do delito cometido, indo desde a uma pena de morte (crimes em tempo de guerra) até uma pena de impedimento ou suspensão de um direito. (Art. 55 a 68 do CPM) 1.15.2Penas acessórias - Art. 98 a 108 do CPM 15 . a) Perda do posto e da patente- A perda de posto e de patente resulta da condenação à pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos, e importa a perda das condecorações*. b) Indignidade e incompatibilidade para com o oficialato O legislador penal militar elegeu alguns crimes que entendeu indigno, ou incompatível, com a condição de oficial, determinando que, caso o oficial seja condenado por um deles (qualquer montante de pena), seja submetido ao julgamento pelo Conselho de Justificação. c) Exclusão das Forças Armadas Exige-se para a decretação da perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, procedimento específico perante Tribunal competente, estando derrogado o art. 102, CPM, salvo se a condenação for por crime comum. d) Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela Nos casos de condenação à pena privativa de liberdade superior a dois anos, durante o cumprimento da pena, em decorrência da impossibilidade de o titular exercer o poder familiar. 1.16 Suspensão condicional da pena e livramento condicional 1.15.1Suspensão condicional da pena - Art. 84 a 88 do CPM 16 . a) Conceito - A suspensão condicional da pena, também conhecida por sursis, é um instituto pelo qual a execução da pena privativa de liberdade é suspensa sob certas condições e durante determinado período de tempo, findo o qual, não havendo causa de revogação, é extinta a pena. É direito subjetivo do condenado. Uma 15 Prestes, Fabiano Caetano; Nascimento, Mariana Lucena; Giuliani Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar Parte Geral E Especial. 6º Ed. Ed. Juspodivm. 2021. 16 Prestes, Fabiano Caetano; Nascimento, Mariana Lucena; Giuliani Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar Parte Geral E Especial. 6º Ed. Ed. Juspodivm. 2021. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 vez presentes os seus requisitos, deve ser concedida, não podendo o juiz negar sua concessão ao acusado. Nos termos do art. 157 da Lei de Execução Penal e art. 85, CPM, o juiz ou tribunal deverá se pronunciar, motivadamente, sobre o sursis na sentença que aplicar pena privativa de liberdade, devendo especificar as condições a que fica subordinada a suspensão. b) Requisitos – - Condenado a pena de reclusão ou detenção por tempo igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que tenha cumprido a metade da pena, se primário; e dois terços, se reincidente; - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime; - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes à sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitam supor que não voltará a delinquir. c) Causas de revogação - Obrigatórias - a condenação por sentença irrecorrível por crime ou contravenção penal se condenado a pena privativa da liberdade; - Facultativas - deixar de cumprir quaisquer das obrigações constantes da sentença; for irrecorrivelmente condenado, por motivo de contravenção penal, embora a pena não seja privativa da liberdade; sofrer, se militar, punição por transgressão disciplinar considerada grave d) Extinção da pena - O juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, do Ministério Público ou do Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa da liberdade, se expirar o prazo do livramento sem revogação ou se for o liberado absolvido por sentença irrecorrível. 1.16.2Livramento condicional: Art. 89 a 97 do CPM. 1.17 Medidas de segurança - Art. 110 ao 120 do CPM 17 . 17 Prestes, Fabiano Caetano; Nascimento, Mariana Lucena; Giuliani Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar Parte Geral E Especial. 6º Ed. Ed. Juspodivm. 2021. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 a) Conceito É a restrição à liberdade, para fim de tratamento, àqueles indivíduos inimputáveis ou semi-imputáveis que cometem um delito penal e que apresentam periculosidade que o justifique. b) Detentivas Internação em manicômio judiciário e a internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal. c) Requisitos para aplicação - A prática de fato descrito como crime, - a inimputabilidade do agente e a existência de perigo à incolumidade alheia, tendo como base as condições pessoais e o fato praticado. - O fato precisa ser típico, antijurídico e culpável. 1.18 Ação penal nos casos de crime militar Consoante o Artigo 29 do CPM e 121 do CPPM, a ação penal militar é pública incondicionada. A Ação penal somente pode ser promovida pela denúncia do Ministério Público (é o titular da ação penal). Importante salientar que as regras da Lei n 9.099/95 não são aplicadas à legislação militar. Imaginemos a hipótese do promotor de Justiça junto à Auditoria Militar, propondo a aplicação de pena de multa (inexistente no Direito Penal Militar), ou restritiva de direitos (igualmente inexistente), para o soldado que comparecesse a uma formatura uniformizado de oficial, cometendo assim o crime do art. 172, do CPM – uso indevido de uniforme – cuja pena é de detenção até seis meses; ou para militar que abandona o posto ou serviço que está designado (art. 195, do CPM), cuja pena é de três meses de detenção a um ano; ou militar que desafiasse outro para duelo (art. 224, do CPM), que tem pena prevista de detenção até três meses. Em sede de Direito Penal Militar, inexiste infração de menor potencial ofensivo 18 . 18 Habeas corpus - 1000649/2014 Relator: Juiz Civil Fernando Guerreiro de Lemos Ementa: HÁBEAS-CÓRPUS. LEI Nº 9099/95. INAPLICABILIDADE NA JUSTIÇA MILITAR. UNÂNIME. In casu, o paciente, ao ofertar resposta à acusação por escrito, postulou a aplicabilidade da Lei nº 9.099/95 aos crimes militares, pedido que foi indeferido pelo juízo a quo. Ocorre que o legislador infraconstitucional, através da Lei 9.839/99, vetou a aplicação da Lei nº 9099/95 no âmbito da Justiça Militar, inserindo o art. 90-A na referida lei. Ademais, o Plenáriodo Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do art. 90-A da Lei nº 9.099/95. Portanto, estreme Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Ressalta-se que por expressa disposição constitucional, a ação penal privada subsidiária da pública, ou seja, aquela existente em face da inércia do Ministério Público que não se manifesta no prazo legal, é admitida no Direito Penal Militar. 1.19 Aspectos contemporâneos da legislação penal militar Atualizações doutrinárias e jurisprudenciais – súmulas: a. Supremo Tribunal Federal: Súmula nº 297 - Oficiais e praças das milícias dos Estados, no exercício de função policial civil, não são considerados militares para efeitos penais, sendo competente a Justiça Comum para julgar os crimes cometidos por ou contra eles. Súmula nº 298 - O legislador ordinário só pode sujeitar civis à Justiça Militar, em tempo de paz, nos crimes contra a segurança externa do país ou as instituições militares. Súmula nº 385 - Oficial das Forças Armadas só pode ser reformado, em tempo de paz, por decisão de Tribunal Militar permanente, ressalvada a situação especial dos atingidos pelo art. 177 da Constituição de 1937. Súmula nº 555 - É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre Juiz de Direito do Estado e a Justiça Militar local. (Obs.: sobre conflito de competência: art. 102, I, "o"; art. 105, I, "d"; art. 108, I, "e", todos da CF/88). Em caso de ocorrência de crimes de lesões corporais leves (Art. 209, caput, do CPM), levíssimas (Art. 209, § 6º, do CPM) ou culposas (Art. 210, caput, do CPM), deve-se considerar que o Art. 88 da Lei Federal n. º 9.099/95 não tem incidência, como já vislumbramos anteriormente. Súmula nº 694 - Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública. b. Superior Tribunal Militar Súmula nº 3 - Não constituem excludentes de culpabilidade, nos crimes de deserção e insubmissão, alegações de ordem particular ou familiar desacompanhadas de provas. de dúvidas, inaplicável a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Militar. Habeas-Corpus denegado. Unanimidade. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Súmula nº 7 - O crime de insubmissão, capitulado no art. 183 do CPM, caracteriza-se quando provado de maneira inconteste o conhecimento pelo conscrito da data e local de sua apresentação para incorporação, através de documento hábil constante dos autos. A confissão do indigitado insubmisso deverá ser considerada no quadro do conjunto probatório. Súmula nº 8 - O desertor sem estabilidade e o insubmisso que, por apresentação voluntária ou em razão de captura, forem julgados em inspeção de saúde, para fins de reinclusão ou incorporação, incapazes para o Serviço Militar, podem ser isentos do processo, após o pronunciamento do representante do Ministério Público. Súmula nº 9 - A Lei nº 9.099, de 26.09.95, que dispõe sobre os Juízos Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, não se aplica à Justiça Militar da União. Art. 90-A da Lei 9.839/99 – As disposições da lei 9.099/95 não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. Súmula nº 10 - Não se concede liberdade provisória a preso por deserção antes de decorrido o prazo previsto no art. 453 do CPPM. Súmula nº 11 - O recolhimento à prisão, como condição para apelar (art. 527, do CPPM), aplica-se ao Réu foragido e, tratando- se de revel, só é aplicável se a sentença houver negado o direito de apelar em liberdade. Súmula nº 12 - A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por deserção sem ter readquirido o status de militar, condição de procedibilidade para a persecutio criminis, através da reinclusão. Para a praça estável, a condição de procedibilidade é a reversão ao serviço ativo. Súmula nº 13 - A declaração de extinção de punibilidade em IPI, IPD e IPM deve ser objeto de decisão, que, também, determinará o arquivamento dos autos. c. Superior Tribunal de Justiça Súmula nº 47 - Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço. (Obs.: esta súmula não foi cancelada, mas não é mais aplicável. Ela surgiu com base no art. 9º, II, "f" do CPM, que foi revogado pela Lei nº 9.299/96). Súmula nº 53 - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais. Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 Súmula nº 78 - Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa. Súmula nº 192 - Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto-Lei nº 1.101, de 21 de outubro de 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del1001.htm. Acesso em 27 Jan 2019. ________. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituição/emendas/emc/emc45.htm. Acesso em 27 Jan 2019. Rio GRANDE DO SUL. Brigada Militar – Nota de Instrução n. º 7.2, de 01 Ago18. NEVES, Coimbra, C. R. Manual de direito penal militar, 4ª edição. São Paulo; Saraiva, 2014. Edição digital. VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do direito: primeiras linhas. 2ª edição; São Paulo. Atlas. 2006. SOUZA, Luiz Antônio de. Direito Penal 4. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. – (Coleção OAB Nacional. Primeira fase) NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar. 2.ed.rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense, 2014. ALVES-MARREIROS, Adriano, Guilherme Rocha, Ricardo Freitas. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1001.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1001.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Curso Técnico em Segurança Pública CTSP – 2021 NOTAS DE AULA Atualizado em ago-21 ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina e jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6 ed.– Curitiba: Juruá, 2008. Prestes, Fabiano Caetano; Nascimento, Mariana Lucena; Giuliani Ricardo Henrique Alves. 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