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1 Fundamentos de Direito Noções Gerais de Direito: moral, princípios e sistemas commow law e civil law Unidade I SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 1. O DIREITO, A NORMA E A MORAL ................................................................................ 4 1.1 PRINCÍPIO E NORMA ................................................................................................... 14 1.2 DIREITO POSITIVO ....................................................................................................... 18 2 SISTEMAS CIVIL LAW E COMMON LAW .................................................................... 21 3 O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO .................................................................... 25 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 30 3 INTRODUÇÃO A disciplina Fundamentos de Direito, no curso de pós-graduação, objetiva estimular o estudante a refletir e conhecer na perspectiva contemporânea os principais aspectos e teorias atinentes à Teoria Geral do Direito, e sua interpretação frente ao moderno entendimento emanado pelas Cortes de Justiça, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF). Constituindo parte das Disciplinas Básicas das pós-graduações do Curso de Direito, o curso de Fundamentos de Direito terá início com as noções elementares do que compõem o Direito; o direito positivado e sua inter-relação com os princípios; e, por fim, a convergência em relação à moral estabelecida pela sociedade. Por conseguinte, será dada atenção ao sistema judicial civil law adotado no Brasil e seu paralelo com o sistema commow law, tipicamente adotado pela Grã-Bretanha e pelo Estados Unidos da América. Este assunto exsurge fundamentalmente pela atuação ativa do Poder Judiciário na interpretação das leis, o que desperta sensível discussão sobre a harmonização entre os Poderes Constituídos. Na Unidade II, serão estudados os regimes jurídicos e respectivos institutos que compõem o Direito Público e o Direito Privado, e a instrumentalização do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, denominada Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, outrora conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC). Por fim, será dada atenção à Teoria Tridimensional do Direito, tecida pelo jurista Miguel Reale, repertório amplamente referendado pelos cursos jurídicos. 4 1. O DIREITO, A NORMA E A MORAL Como ponto de partida para análise do Direito, precisamos discorrer e buscar orientação com base na filosofia, principalmente no campo da ética e no diálogo com a moral e a cultura, referendados pela sociedade em um determinado momento histórico. Pode-se, inclusive, recorrer aos aspectos evolutivos da teoria darwiniana da evolução das espécies, como um meio de frear os institutos animalescos do homem individualmente considerado para que uma coletividade humana possa sobreviver e ter segurança nas relações estabelecidas um com os outros. A partir da concepção do senso comum social, Direito é lei a ser cumprida para evitar prejuízos ou a instituição de meios punitivos para contenção de práticas danosas – isolada ou coletivamente consideradas - ou para estímulo de determinados comportamentos. Vê-se, nesse sentido, que de maneira geral considera-se o Direito num aspecto utilitarista. O saudoso e renomado jurista Miguel Reale1 estipulara o conceito de Direito nos seguintes termos: (...) o Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois nenhuma sociedade poderia substituir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade. (...) (2012, p. 01). Outrora rudimentar, sempre se fez presente uma forma de instituição ou autoridade que delimitasse as normas comportamentais de cada agrupamento humano. Hoje, com o paradigma gestado principalmente pela Revolução Francesa, foi-se criando e moldando aspectos institucionais de forma a fazer valer as normas – regras a serem cumpridas socialmente e condutas a serem proibidas. Contextualmente, há outras regras que não são comportadas necessariamente pelas leis e suas instituições, como as normas essencialmente culturais e tradicionais, a exemplo de filas públicas. Não existe lei delimitando como se deve organizar uma fila – isoladamente considerada, haja vista haver consumidores e cidadãos sujeito à prioridade de atendimento; porém, os sujeitos alinhados em uma fila tem referendado a advertência àquele que entra e ocupa uma posição que não a última. Temos também a não 1 REALE, Miguel. 1910. Lições preliminares de Direito. 27ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 5 delimitação ampla sobre como se deve cuidar e educar filhos e crianças, tendo orientações modernas com base em estudos comportamentais, mas que não se fazem regras institucionais impostas. Porém, há norma penal delimitando que uma criança não pode ser abandonada ou negligenciada no que houver respeito a seus cuidados, como se vê no Art. 246 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de setembro de 1940, o Código Penal, que tipifica como abandono intelectual a conduta que consiste em deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar. Tal disposto também é referendado posteriormente pela lei nº 8.069/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, estipulando em Art. 5º que: “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” Assim, falar a uma criança que “Deus castiga se você mentir” ou “não haverá presente se você se comportar indevidamente” a uma criança não carrega conteúdo do interesse jurídico a ser tutelado. Essas alegações podem comportar uma estrutura maior de indícios de haver maus-tratos ou não, conforme a robustez de provas colhidas em processo, mas isoladamente consideradas não possuem relevância da tutela judicial. Tutelando essa tênue separação entre os costumes de ordem privada e a necessidade de tutela pública de bens jurídicos indisponíveis, há determinados expedientes judiciais e legais para o devido amparo, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003). Essas normas estruturam um todo institucional com o fim de dar amparo à proteção contra condutas prejudiciais, interferindo no seio privado do cidadão. Contudo, aspectos de ordem privada e familiar são amplamente constituídos com base em tradições e na cultura; sendo estas matrizes da construção de novas leis. Pode-se ver, portanto, a explicação do amparo de medida judicial na seguinte ementa: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. REQUISITOS. VERIFICAÇÃO. CONTRACAUTELA. 6 - O direito à saúde está fundamentado na ética, decorrente de uma moral básica e universal, no sentido de que todos têm direito à saúde assegurada pelo Estado. No Brasil, este direito foi expressamente reconhecido pelo Poder Constituinte Originário, consoante artigos 6º e 196 da Carta Magna, sendo legítimo direito social fundamental do cidadão. - Cabe ao Judiciário viabilizar a promoção do mínimo existencial, em face do qual não se admite qualquer alegação de irresponsabilidade por impossibilidade (reserva do possível). Não há infundado ativismo judicial (ou intervenção do Poder Judiciárioem tema de apreciação restrita do Poder Executivo), mas sim respeito ao formalismo processual e aos direitos fundamentais individuais e sociais. - Hipótese na qual os elementos de prova que instruem a ação são suficientes a evidenciar que o direito à saúde da autora está sendo malferido pelas rés. - Fixada contracautela de juntada semestral de prescrição médica atualizada. (TRF4 - Agravo de Instrumento nº 5028918-81.2017.4.04.0000. 3ª Turma. Des. Relator: Rogerio Favreto. Data de julgamento: 17 out. 2017. Publicação em: 17 out. 2017) Temos o Direito, assim, como um fenômeno ou fato social, conforme amparado pela Sociologia, e ele orbita em torno dos avanços e mudanças oriundos na cultura e no comportamento da sociedade, considerando estes parâmetros para sua aplicação ao caso concreto. Nesse entendimento, as fundamentações para a acórdãos e sentenças prolatados pelos órgãos do Poder Judiciário buscam nos valores sociais e na cultura vigente o baluarte da norma aplicável para resolução de conflitos: EMENTA: (...) 1. "A apreciação unipessoal do mérito do recurso não viola o princípio da colegialidade, desde que sejam observados, por analogia, os requisitos de admissibilidade do art. 557, caput, do CPC, bem como o Regimento Interno e a jurisprudência desta Corte". (AgRg nos EAREsp 552.911/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, DJe 13/4/2015). 2. O advogado foi afastado em virtude de se ter considerado que os fatos delituosos estariam entrelaçados, visto que, em tese, o crime de homicídio consumado, praticado em 1º/8/2005 por Alexandre Carlos Gomes, foi cometido por motivo de vingança em relação ao primeiro delito de tentativa de homicídio praticado contra si, em tese, por Nilói Luiz Borsa, cinco dias antes, em 26/7/2005. Maristela Realce 7 3. Diante da análise aprofundada dos elementos constantes dos presentes autos, realizada pelo então Relator, tem-se que a decisão proferida pela Magistrada de origem mostra-se consentânea com a ética, a moral e a boa- fé. 4. O advogado é indispensável à administração da justiça, conforme ressalta o art. 133 da Constituição Federal. Dessa forma, mesmo que o causídico, em um olhar subjetivo, não veja óbice à sua atuação, a intervenção do Juízo a quo primou pela isenção de tão cara atividade exercida pelo recorrente, visando antes à preservação da ética. Assim, nos moldes do que já manifestado na decisão recorrida, não há ilegalidade a ser combatida nos autos, porquanto ausente direito líquido e certo. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - Acórdão AgRg no Rec. MS nº 37852 / RS. 5ª Turma. Min. Relator: Leopoldo de Arruda Raposo. Data de julgamento: 16 abr. 2015. Publicação em: 08 mai. 2015) A palavra direito foi adquirindo uma denotação com base numa consagração do significado de Justiça, vinculado ao aparato institucional que diz o direito ao conflito. Esta instituição – o órgão judicial – não está hermeticamente isolado e recluso aos anseios e reações promovidos pela sociedade; como visto nas decisões acima mencionadas, há de se fazer uma ponderação mais ou menos lúcida acerca do contexto de valores, buscados pela Ética, e o equilíbrio entre princípios básicos ou nucleares ao Direito, para que se possa determinar o fim de um demanda judicial, estabelecendo os efeitos jurídicos em decisão. Assim, o sistema de normas se alimenta e metaboliza os componentes da coletividade, conforme progridem ou sofrem miscigenação de culturas e povos. Na Antiguidade, no esplendor do direito romano, foram construídas sólidas teorias para os contratos; posteriormente, na Era Medieval, com o maior prestígio da Igreja Católica e sua influência nos costumes europeus, o processo judicial tornou-se mais formalizado, individual e severo, haja vista que o advento do cristianismo, como o conhecemos hoje, suscitou como princípio que o homem é portador de uma alma ofertada por Deus e este o fez à sua imagem e semelhança. Assim, não poderia a criatura sofrer indiscriminadamente como meio de alcançar a pacificação social, porquanto possuir um valor perante o criador. Após a Era das Revoluções, e o princípio de laicidade do Estado e da separação entre os Poderes, acrescidos do desenvolvimento dos mercados Maristela Realce Maristela Realce 8 capitalistas, foi-se criando sistemáticas para as sociedades, impondo deveres ao Estado de ofertar o bem-estar social aos seus cidadãos. A partir dessa perspectiva, a sociedade deveria desenvolver seus jurisdicionados para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho. Com o passar dos Séculos, o Direito institucional foi perdendo o aspecto sagrado e tradicional, e foi maturando uma essência tecnicista, principalmente com o advento marcante, no Séc. XIX, do pensamento de matriz positivista, inspirado pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), além do nascedouro de novas metodologias científicas, como a sociologia positivista de Émile Durkheim (1858- 1917). Pode-se, assim, admitir que o ordenamento jurídico distintos possui aspectos teleológicos comuns, sendo a pacificação dos conflitos sociais (demandas cíveis e administrativas) ou reparações de lesões aos bens jurídicos valorados por essa sociedade (Direito Penal); porém, são contextual e paralelamente distintos, como vemos em países soberanos que possuem aplicação de pena de morte enquanto outros não, além da construção jurídica com base em sistema de direito positivo, como é o caso do Brasil, e o direito costumeiro. Não bastando, os mais diversos autores do ramo do Direito, e relevantemente referendados, como Miguel Reale, Tercio Sampaio Ferraz Júnior e Rizzato Nunes, salientam que a sistemática e aplicação do Direito são substancialmente afetadas pelas limitações da linguagem do recorte social, inclusive no que tange à análise epistemológica do que possa ser plasmado como ciência ou não (pseudociência), sob o escopo proposto pelo filósofo austríaco Karl Popper (1902-1994). Sob o paradigma proposto por Popper, a ciência é construída e fortalecida em suas teorias quando as proposições contrárias (adversas, contraditórias e variáveis alheias) não se sustentarem perante a alegação inicial, tornando o conhecimento solidificado e duradouro. As demais metodologias que tentam se tornar ciência acabam não se sustentando perante esses fatores alheios, como o caso da psicanálise e da astrologia, haja vista que toda contradição se amolda passivamente a uma explicação pré-concebida. Em suma, a pretensa ciência acaba sendo teoricamente respaldada independentemente de variáveis opostas, possuindo respostas construídas logicamente inconcebíveis de erro. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 9 Para emoldurar as nuances sociais sob o escopo da metodologia do Direito, faz nascer a análise e compreensão de outras ciências, especialmente do campo do comportamento humano e do fenômeno social, para robustecer a construção de novas normas, modificações das regras já existentes e propiciar a atividade legiferante mais eficaz. Tornam-se acessórias às instituições do Poder Judiciário, o respaldo da ciência estatística, da psicologia e sociologia forense, dentre outras, necessitadas no campo da perícia e da elaboração de provas processuais. Quanto ao aspecto da linguagem, vemos que a tipificação de crimes sujeita-se aos parâmetros culturais e sociais vigentes. É característico da linguagem a transformação de seus significados ao longo das eras, nesse sentido o clamor popular, refletido na conduta do legislador penal readapta o significado de condutas deletérias da sociedade, criando ou extinguindo tipos penais, como o transtorno de preferência sexual denominado pedofilia, conforme a Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão, emitia pela Organização Mundial de Saúde (CID-10 F65.4). Sendouma conduta que, no Séc. XXI, é severamente punida e reprovada pelas instituições criminais, resta por esclarecer como denominar a figura da relação sexual precoce de adolescentes, considerando o maior discernimento do mundo que as pessoas jovens têm adquirido, além do acesso aos meios de comunicação de informação e redes virtuais, onde todos estão sujeitos a vasta quantidade de informação. Nesse sentido, com a Lei nº 12.015/2009, foi acrescido ao Código Penal, Decreto-lei nº 2.848/1940, o crime denominado estupro de vulnerável, que consiste na conjunção carnal ou prática de outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. A consumação do fato independe do consentimento ou discernimento da então vítima2. Todavia, em julgado recente, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entendeu de forma distinta, e isolada, acerca do tema, considerando diversos elementos contextuais, como amizade antiga entre o agente a vítima, pouca diferença de idade, e proximidade na vizinhança.3 2 STF - HC nº 122.945 – BA. 1ª Turma. Min. Relator: Marco Aurélio. Data de julgamento: 21 mar. 2017. Publicação em: 04 maio 2017. 3 TJRJ – Apelação nº 0049157-56.2013.8.19.0203. 1ª Câmara Criminal. Des. Relatora: Maria Sandra Rocha Kayat Direito. Data de julgamento: 11 set. 2018. Publicação em: 11 set. 2018. 10 Considerando a possibilidade de um casal de adolescentes manterem entre si relações sexuais consentidas, poder-se-ia conjecturar o estupro consensual ou recíproco, mas não sujeitos à disciplina estipulada pelo Código Penal, e sim do Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei nº 8.069/1990, consumando ato infracional entre ambos. Findando a querela técnica, fica sedimentada pela Suprema Corte Brasileira o entendimento perscrutado no sentido deste julgado: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. OFENSA AO ART. 217-A DO CP. OCORRÊNCIA. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE VIOLÊNCIA. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA Nº 1.480.881/PI. SÚMULA 593/STJ. VÍTIMAS MENORES DE 14 ANOS. CONSENTIMENTO. IRRELEVÂNCIA. 1. Nos termos do entendimento pacífico deste Superior Tribunal de Justiça, consolidado no enunciado sumular 593, "o crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente". 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp nº 1.710.101 – SP. 6ª Turma. Min. Relatora: Maria Thereza de Assis Moura. Data de julgamento: 05 abr. 2018. Publicação em: 16 abr. 2018) O tema em si desperta mal-estar pelo dano ao bem jurídico tutelado – discernimento ou liberdade sexual plena, além de haver essa confusão de campo linguístico, contextual e moral, frente ao fato de ser notável a precocidade de pré- adolescentes e adolescentes. Resta, portanto, ao operador do Direito estar atento e atuante frente aos fatos e às discussões atinentes, sobretudo à interpretação constitucional aplicável ao tipo penal. No mais, observa-se que meramente estar diagnosticado na classificação F65.4 da CID-10 não enseja a concretude de uma conduta delituosa, necessita haver a conjunção carnal ou a realização de atos libidinosos contra menores de catorze anos, considerados os elementos do inter criminis para tal fim – tentativa. 11 Vê-se, pois, que o Direito é um sistema e aparato institucional que atua após o fenômeno jurídico ocorrer (lesão e querela negocial, por exemplo), buscando adequar o resultado da demanda levada à instituição com as leis outrora deliberadas e publicadas. Outrossim, jamais permanece estático, amoldando-se conforme o andar da coletividade que normatiza, não se esgotando e isolando-se hermeticamente. O saudoso Miguel Reale denominou a Ciência do Direito como experiência jurídica, valendo-se de aspectos indutivos ou dedutivos, sendo per si uma experiência jurídica4. Anteriormente, as disposições sobre a pretensa ciência jurídica repercutia como dogmática jurídica. Partem do pressuposto da constituição de proposições básicas, que compõem as normas com base nos valores, e atuam em prol da manutenção dessas mesmas proposições quando normatizadas, “positivadas”. O núcleo básico do sistema normativo consiste no fenômeno da norma jurídica, que compõe o núcleo do Direito. Nesse sentido, temos como base de conhecimento os postulados do juristas Hans Kelsen (1881-1973), tecendo o conceito de norma hipotética fundamental, que consubstanciando-se posteriormente em direito positivado. A norma insculpida como lei ou diploma constitucional tem sua natureza em proposições correlacionadas entre si, compondo um dever ser, conforme Kelsen. Voltando ao postulado de Miguel Reale, este estabelece que: “É certo que a Constituição declara que o Brasil é uma República Federativa, mas é evidente que a República não é algo que esteja aí, diante de nós, como uma árvore ou uma placa de bronze: aquela norma que enuncia ‘o Brasil deve ser organizado e compreendido como uma República Federativa’. Esta, por sua vez, só tem sentido enquanto se ordena e se atualiza através de um sistema de disposições que traçam os âmbitos de ação e de competência que devem ser respeitados pelos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. A República Federativa é, pois, uma realidade de dever ser, uma construção cultural de tipo finalístico, ou, por outras palavras, é uma realidade normativa, na qual fatos e valores se integram. As considerações todas que fizemos sobre a natureza das realidades culturais, que são enquanto devem ser, dispensam maiores explicações sobre a forma 4 REALE, Miguel. 1910. Lições preliminares de Direito. 27. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 76 e 77. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 12 pela qual os entes e atos jurídicos são ou se desenvolvem.” (destaque no original)5 Ademais, tais análises referendam o imperativo moral categórico enunciado por Immanuel Kant (1724-1804). Para Kelsen, conforme descrito por sua Teoria Pura do Direito, os comportamentos humanos estariam conhecidos pelos operadores do Direito quando houverem sido regulamentados por normas, porquanto serem fenômenos de natureza empírica, havendo por consequência a necessidade de distinção entre subjetividade e objetividade de uma conduta humana.6 Para tal efeito, faz-se jus, portanto, à normatização da conduta ou fenômeno humano, v. g., o homicídio ser uma conduta criminal sujeita à sanção penal, de acordo com o Código Penal. Separa-se, nesse contexto, o elemento da subjetividade para um alcance de ordem concreta para o mundo jurídico, repercutindo os efeitos do direito criminal. Essa objetificação necessário para a delimitação da conduta humana tem maior fundamentação na Escola Exegeta do Direito. Aquela corrente jurídica nasceu em virtude do Código Napoleônico, em 1804, sendo atribuída à interpretação jurídica dos textos legais o pilar de seu sistema7. Nesse escopo, todas as regras de intepretação da norma deveriam estar consubstanciadas na lei determinada. Com este marco, a função do Direito permaneceria restrita à função da lei, dando maior contorno à atividade legislativa, aplicada ao caso concreto por meio de lógica dedutiva. Embora em muito superada, essa perspectiva exegética também está presente contemporaneamente na vigência do ordenamento jurídico brasileiro, pós-1988, haja vista a midiática atuação do Poder Judiciário, encabeçada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com o intuito de definir qual foi a intenção do legislador ao elaborar determinada lei que possa gerar litígio.5 REALE, Miguel. 1910. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 88. 6 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação. 4. ed. rev. amp. São Paulo: Atlas, 2003. p. 98. 7 NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao estudo do direito. 14. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 54. 13 Conquanto a LINDB (Decreto-lei nº 4.657/1942) elenque as ferramentas de integralização do Direito, para preencher lacunas da norma no curso da atuação do Poder Judiciário, tem sido frequente o uso da interpretação constitucional como instrumento de adequar a lei em conformidade com a norma constitucional, prevalecendo, ao fim, o discernimento do julgador, o STF. O nome dado ao fenômeno é ativismo judicial, também conhecido como judicialização da política e, até mesmo, politização judiciária. Essa Escola teve maior influência em países cujo sistema judicial foi construído com base no direito romano, embora tenha chegado às culturas anglo-saxã e germânicas. Em oposição, os países que constituíram o direito consuetudinário, tinham como fonte a Escola Histórica, priorizando o entendimento que a cultura e as tradições deveriam ser investigadas para entender qual a intenção da norma a ser aplicada ao caso concreto, frente a um litígio. Consubstanciando os diversos instrumentos de investigação do comportamento humano que é a norma jurídica e sua interpretação, fruto do legado das constantes experiências em sociedade, e suas transformações, no curso do Séc. XX funda-se a Escola Dogmática do Direito, perspectiva ora vigente. O fundamento da razão científica do Direito encontra respaldo no ferramental metodológico empregado para escrutinar o comportamento humano, respaldado por outras ciências e pela matemática estatística, consubstanciada o contexto ético da sociedade. Amalgamou-se, pois, as diversas experiências e correntes filosóficas construídas até então. Ademais, pode o Direito ser também classificado como uma tecnologia, já que comporta o emprego de conhecimento científico para determinado fim (solução de conflitos e reparação de danos). A construção do Direito, enquanto ciência dogmática, precisará basear-se, portanto, em fundamentos sólidos para sua construção legislativa e aplicação por parte do Judiciário quando do conflito. Nesse sentido surgem os denominados princípios, hodiernamente tido como valores ou máximas constante da sociedade (conquistados por revoltas civis ou estabelecidas pela evolução das leis diante da complexidade de demandas sociais). Maristela Realce 14 1.1 Princípio e norma Considerando o elemento dogmático que compõe a ciência do Direito, devemos então considerar quais os valores e princípios são o fim a ser alcançado ou mensurado quando da consideração dos mencionados dogmas. Nos dizeres de Rizzato Nunes: Os princípios situam-se no ponto mais alto de qualquer sistema jurídico, de forma genérica e abstrata, mas essa abstração não significa inincidência no plano da realidade. É que, como as normas jurídicas incidem no real e como elas devem respeitar os princípios, acabam por levá-los à concretude. (2017, p. 204) A manutenção e sustância do ordenamento jurídico se dá pelo princípio que é homenageado e resguardado quando da publicação de uma decisão judicial; porém, parcialmente, alguns desses princípios são instrumentos para preencher a ausência de norma, que frente ao conflito levado ao órgão judicial, não poderia ficar desamparado por ausência de norma (Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal). Nesse sentido, a LINDB estatui em seu Art. 4º que a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito serão parâmetros para a decisão do juiz na ocorrência de omissão legal. Ocorre que os princípios jurídicos comportam uma amplitude de funções. A defesa da vida e da dignidade da pessoa humana é de maior estatura, respaldado constitucionalmente. Já outros princípios, como o da informalidade no cumprimento de determinadas requisições perante um órgão da repartição pública, têm espaço instrumental e de menor prioridade normativa, não necessitando estar previsto pela Carta Magna. Pode, nesse contexto, ser disciplinado por lei ordinária ou até norma infralegal, conforme a necessidade e rotina dos expedientes em repartições públicas. Podemos também alegar que o princípio está presente na norma, e nem sempre o oposto será também válido explicitamente, porquanto a lei positivada – escrita – pormenorizar determinado conteúdo, sendo meio de se tutelar bem jurídico ou garantia de direitos fundamentais. Normas acerca de prazos processuais não dizem respeito diretamente aos princípios constitucionalmente previstos, como o do contraditório ou ampla defesa, mas fornecem meios de subsidiar de dar concretude a essas garantias; quando da Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 15 violação desses axiomas podem ocasionar até mesmo nulidade de decisões judiciais (TJ-RJ Apelação nº 0253653-81.2007.8.19.0001. 14ª Câmara Cível. Des. Relator: José Carlos Paes. Data de julgamento: 29 ago. 2018. Publicação em: 29 ago. 2018). Ao voltarmos ao Art. 4º da LINDB podemos ter, de antemão, a interpretação de que princípios gerais de direito estejam alheios à norma, porquanto serem estes necessários para sanar a lacuna do Direito. Vemos especificidade nos parâmetros principiológicos em determinadas normas. Constata-se no teor da Lei Geral de Licitações, a Lei nº 8.666/1993, princípios próprios para a contratação de bens e serviços por parte da Administração Pública (Art. 3º); porém, a norma mantém comunicação com os princípios gerais do direito cível, especialmente aqueles naturalmente empregados na relações contratuais (Art. 54). Alguns princípios são pressupostos, no Direito Civil, para o negócio jurídico válido e lícito (Art. 113, caput, do Código Civil, Lei nº 10.406/2002). Também, dentro do sistema do Direito, há princípios que são instrumentais ou metodológicos, específicos para o emprego da interpretação da norma jurídica. Exemplarmente, destaca-se a mutação constitucional, que é o controle de constitucionalidade exercido pelo STF sem fazer alteração formal no texto constitucional, utilizando-se de princípios exegéticos para empregar com esmero esse instituto. Para o salutar exercício da hermenêutica constitucional, é considerado que um princípio ou garantia constitucional não se exaure perante o conflito com o outro, são balanceados em prol de um, sem extinção do conflitante (princípio da concordância prática). Similarmente, o exercício da interpretação conforme a Constituição deve considerar que que o instituto discutido deve ser analisado perante a máxima eficácia da norma constitucional (princípio da máxima eficácia e efetividade). Com o fenômeno do ativismo judicial e inovação normativa em razão da atuação do Poder Judiciário, vemos novas fronteiras do sopesamento de princípios. Ilustrando essa hipótese, ocorre em situações urgentes onde cidadãos pleiteiam acesso à rede pública e saúde e não encontram leito. Como consequência, o Judiciário constrange a Administração Pública Indireta a reorganizar sua logística para proteger princípios fundamentais (TJ-MG – Remessa Necessária nº 1.0000.18.016419-6/001. 7ª Câmara Cível. Des. Relatora: Alice Birchal. Data de julgamento: 26 jun. 2018. Publicação em: 29 jun. 2018). Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 16 Além dessas considerações, uma vez constituído em Estado Democrático de Direito, até mesmo as instituições e Poderes constituídos estão sujeitos ao império da lei, tendo como princípio democrático ser o povo é o detentor soberano do Poder, que o exerce indiretamente por meio de seus representantes eleitos. Nesse sentido, até mesmo a atividade desempenhada pela Administração Pública está sujeita ao cumprimentode princípios e de leis. Temos, portanto, o seguinte julgado expondo essa questão: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - PRÊMIO- INCENTIVO - NATUREZA JURÍDICA - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. É dever da Administração Pública perseguir a satisfação da finalidade legal. O pleno cumprimento da norma jurídica constitui o núcleo do ato administrativo. A Administração Pública submete-se, nos atos praticados, e pouco importando a natureza destes, ao princípio da legalidade, pelo que inexiste a possibilidade de incorporação da parcela prêmio de incentivo ao salário e a produção de reflexos, diante da expressa vedação legal. Agravo de instrumento desprovido. (TST - Acórdão AIRR nº 2102-52.2013.5.02.0068. 7ª Turma. Min. Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. Data de julgamento: 21 out. 2015. Publicação em: 23 out. 2015) Os princípios dão coesão e sustentação para todo o sistema de direito positivado. Consideremos, portanto, que os mais amplos valores constitucionais dão direção até mesmo para a interpretação e aplicação de outros direitos constitucionais: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Nesse sentido, as cláusulas pétreas dão sustentáculos para a efetivação desses fundamentos maiores, inclusive pela regulamentação de direitos e deveres oriundos da norma infraconstitucional. Maristela Realce 17 Cumpre mencionar que há muitos princípios implícitos, construídos pela doutrina inclusive, que exsurgem como meios de manutenção dos direitos e garantias fundamentais. Como constructo ou abstração, o princípio da vedação ao retrocesso não possui qualquer traço explícito no texto constitucional vigente; porém, nasce de consectário lógico do sistema: advoga que uma nova ordem constitucional e reforma constitucional não podem ser limitadora ou repressora de direitos ou garantias fundamentais em razão da ordem constitucional ora vigente. Nesse sentido, uma mudança estrutural via revolução no país não poderia conceber uma nova Constituição com previsão de pena de morte para casos mais amplos. No campo da isonomia, torna inadmissível distinção de regimes jurídicos em sede do Direito de Família (STJ – REsp nº 1.332.773 – MS. 3ª Turma. Min. Relator: Ricardo Villas Bôas Cueva. Data de julgamento: 27 jun. 2017. Publicação em: 01 ago. 2017). Conquanto haja um rol taxativo de cláusulas pétreas na Carta Constitucional, considera que a reforma constitucional ali restrita diz respeito no sentido de abolir quaisquer dos conteúdos elencados pelos Incisos I ao IV, do §4º, do Art. 60. Admite- se, todavia, que sejam modificados ou substituídos por outros mais amplos ou similares em essência. Assim, havendo uma Emenda Constitucional que determine expressamente que o voto seja facultativo, permanecendo intactas suas características conforme Inciso II (direto, secreto, universal e periódico), não encontrará óbice constitucional. Outros aspectos dos princípios constitucionais dizem respeito aos princípios que servem de orientação para a manutenção da tutela dos direitos e garantias fundamentais, principalmente por parte do Poder Executivo, que presta serviços intermediados pela Administração Pública Indireta. Temos, portanto, os princípios denominados reserva do possível e mínimo existencial. Embora sejam dois, ambos são antagônicos e reconhecem a limitação material de riquezas que há numa sociedade, não sendo possível, portanto, que todos os direitos serão garantidos para todos os cidadãos brasileiros. São, por oportuno, medidas e parâmetros de racionalização orçamentária para o fornecimento de serviços públicos e defesa dos direitos constitucionais assegurados ao cidadão. A reserva do possível estipula que deverá haver responsabilidade fiscal no planejamento e fornecimento de serviços públicos; o mínimo existencial diz respeito a Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 18 uma garantia ao administrado, de haver uma ponderação em prol da dignidade da pessoa humana. Na jurisprudência, são abundantes as manifestações principalmente quanto ao fornecimento de medicamentos de alto custo por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS (TJRJ Apelação nº 0009720-20.2014.8.19.006. 3ª Câmara Cível. Des. Relator: Peterson Barroso Simão. Data de julgamento: 09 dez. 2015. Publicação em: 09 dez. 2015); outrossim, considerando o conflito entre limite orçamentário e a garantia da dignidade humana e da qualidade de vida, ambos os pressupostos podem ser ponderados em conflito, ocasionando a prevalência do mínimo existencial (STJ – REsp nº 1.366.331 – RS. 2ª Turma. Min. Relator: Humberto Martins. Data de julgamento: 16 dez. 2014. Publicação em: 19 dez. 2014). De fundamental importância, que tais princípios ficam em evidência em razão de crises fiscais que assolam alguns dos estados do Brasil, 1.2 Direito positivo Entende-se por Direito Positivo o conjunto de normas escritas ou não escritas que compõem o ordenamento jurídico, muitas vezes denominado simplesmente como a própria lei. Quando é mencionado o direito positivado é comum ser atribuído como a lei escrita, no caso do Direito brasileiro – civil law. A abordagem dado ao conceito de Direito Positivo inclui também a noção de direito objetivo e direito subjetivo. O direito objetivo constitui-se pelas normas do ordenamento jurídico. No caso da República Federativa do Brasil, refere-se ao direito escrito, o texto legal. Posto essa observação, é comum haver sinonímia entre direito positivo e direito objetivo (TJ-SP Embargos de Decl. Nº 2113590-91.2018.8.26.0000. 4ª Câmara de Direito Público. Des. Relator: Ferreira Rodrigues. Data de julgamento: 25 nov. 2018. Publicação em: 05 dez. 2018; e TJDFT Processo nº 0000211-81.2016.8.07.0009. 4ª Turma Cível. Des. Relator: Fernando Habibe. Data de julgamento: 23 mai. 2018. Publicação em: 29 mai. 2018). Quanto ao direito subjetivo, refere-se à prerrogativa ou à disponibilidade do exercício de direitos e deveres; assim, não basta haver o direito escrito, deve ser necessária a pretensão judicial para o devido exercício. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 19 A similitude com o direito escrito decorre, em essência, pela natureza escrita do Direito de origem romana, com prevalência da norma escrita: APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. LAVRA DE AREIA SEM COMPROVAÇÃO DE REGULARIDADE DA ATIVIDADE NOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS. ATO ILÍCITO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Se há vedação explícita, no direito positivo, em relação ao pleito contido na demanda, é o caso de impossibilidade jurídica do pedido. (TJ-MG - Apelação Cível nº 1.0521.16.000364-1/002. 9ª Câmara Cível. Des. Relator: Pedro Bernardes. Data de julgamento: 13 dez. 2016. Publicação em: 06 fev. 2017) (destaque) Como o Direito Positivo consubstancia a norma jurídica em si, resta, portanto, estabelecer suas divisões ou classificações, para os efeitos didáticos. Urge alegar que o ordenamento jurídico é unificado, monolítico em sua estrutura, não havendo Direitos e sim Direito. Ocorre que por razões funções ou institucionais, tornou-se pertinente realizar distinções em certos ramos de atuações, inclusive em virtude de regimes jurídicos distintos aos agentes envolvidos. Há, portanto, o Direito Tributário, que disciplina a cobrança de tributos por parte dos Entes Federativos, exercendo as prerrogativas de Poder Público, e admite garantias de defesa e contestação por parte do sujeito passivo, o contribuinte ou responsável. Portanto,não é uma relação jurídica entre iguais. Em outra esfera, os negócios jurídicos estão sob predomínio da tutela cível ou privada, onde, como regra geral, as pessoas possuiriam igualdade hierárquica na determinação de suas condições de negócio. Há, portanto, regimes de Direito Público e o do Direito Privado. A máxima que prospera o Direito Público diz respeito ao exercício das prerrogativas do poder de império, haja vista ser o ente constituído representante da vontade do povo, titular soberano do poder conferido. O gestor público ou executor de atos e negócios jurídicos, age em interesse da coletividade a que representa, não podendo eivar suas ações com intenções particularizadas. Porém, tanto poder de um lado não exime o cidadão condicionado à obediência abdicar de seus direitos e garantias fundamentais, podendo realizar e Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 20 defender-se em situações descabidas com meios de defesas administrativos e judiciais. Amolda-se, que no Brasil não existe jurisdição de cunho administrativa, com o fito de conceber coisa julgada material no campo administrativo. Há jurisdição única, exercida primordialmente pelo Poder Judiciário, e com amparo do princípio da inafastabilidade da jurisdição, garantia constitucionalmente prevista – Art. 5º, XXXV, o cidadão que se sentir prejudicado poderá provocar o Poder Judiciário contra o Poder Público, que atuará como parte contestada. No campo privado, admite-se maior atuação em pé de igualdade entre as partes voluntariadas a negociarem. A lei infraconstitucional prescreve noções básicas de um negócio tido como lícito e elenca princípios a serem observados, deixando maiores liberdades às partes para alcançar seus objetivos. Maristela Realce 21 2 SISTEMAS CIVIL LAW E COMMON LAW Perante a Teoria Geral do Direito, construção literária adequando a existência de duas matrizes de construção do sistema judicial pela tradição ocidental. Tais sistemas dizem respeito também às fontes de onde surgem as normas jurídicas consideradas pelo sistema institucional. Assim, são dois os sistemas considerados: o sistema de direito escrito, com base na lei (civil law) e o costumeiro (common law), sedimentado com base nas tradições locais. O sistema civil law dá maior ênfase ao processo legislativo, deixando as outras formas de fontes jurídicas como de menor importância, e deu-se em sociedades oriundas do idioma latino, especialmente em razão do direito escrito romano, embora tenha surtido influência em nações de origem germânica, sendo, portanto, comum em países latino-americanos e países europeus, com exceção da Inglaterra e o país de Gales, partes das ilhas britânicas. Em contrapartida, o direito consuetudinário (commow law), baseia-se nas tradições e, contemporaneamente, nos precedentes judiciais; assim, não havendo por necessário a edição de muitas e tantas leis. Como sociedades adotantes deste modelo, há a Inglaterra e o país de Gales (partes da Grã-Bretanha) e a maioria dos estados que compõem os Estados Unidos da América - EUA. É conflituoso delimitar se um é melhor que outro, haja vista países com níveis de desenvolvimento distintos adotarem um e outro, como exemplo os países europeus. Ocorre que, o direito escrito surtiu maior ramificação por meio das colônias espanholas e portuguesas, e parece mais genérico e comum que o sistema do direito costumeiro. Não obstante, tornou-se o direito de origem escrita um paradigma fundamental para a cultura ocidental em virtude das transformações sofridas pela Revolução Industrial, rompendo violentamente com o modelo absolutista, onde predominava o poder constituído em torno da figura do rei ou monarca. Assim, surge a soberania popular, representada por meio do Poder Legislativo, exercido por representantes do cidadão. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 22 Ademais, em virtude de tantas mudanças e transformações, é plausível haver flexibilidade entre um modelo e outro. Nesse sentido, os EUA não aboliram a lei escrita e possui um Poder Legislativo bicameral tal qual o Congresso Nacional da República Federativa do Brasil, que adota o modelo oposto. O Brasil admite a influência de outras fontes do Direito, inclusive em sede de normas integradoras do Direito, como instrumentos para sanar eventuais vícios na execução da tutela jurisdicional. Temos, nos termos da LINDB, os seguintes dispositivos: Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Conforme se observa, os costumes exercem uma função secundária dentro do Direito aplicado. A lei escrita costuma ter maior rigor e concretude no sentido de sua interpretação, ela é a literalidade do conteúdo editado, possuindo eficácia com efeitos erga omnes, ou não o sendo, especificando as peculiaridades. O costume é subjetivo e coletivista, presume-se ser, no entanto, concebido e reiterado voluntariamente pela coletividade. Nesse sentido, os considerados métodos de integração do Direito servem de instrumento para que o julgador possa exercer seu livre convencimento e dar desfecho à querela trazida ao seu julgo: Execução Fiscal. Prescrição. Município do Rio de Janeiro. Multa prevista no art. 1º do Decreto 8427/89. Prazo prescricional quinquenal. Quando a lei for omissa, o artigo 4º da LINDB preceitua que o Juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Aplicação do disposto no artigo 1º do Decreto 20.910/1932, por analogia, corolário do princípio da simetria. Entendimento consagrado pelo STJ no julgamento do REsp. 1.105.442, submetido ao regime dos recursos repetitivos. Súmula 218 do TJRJ. Sentença mantida. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ – Apelação nº 0226244-38.2004.8.19.0001. 4ª Câmara Cível. Des. Relatora: Myriam Medeiros da Fonseca Costa. Data de julgamento: 29 jun. 2016. Publicação em: 29 jun. 2016) Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 23 Para fins de respaldo de garantias fundamentais, o juiz não pode abdicar do dever de decidir, na ocorrência de lacuna legal: EMENTA: (...) 4. Nos termos do art. 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, o juiz não pode abster-se de decidir ao argumento de lacuna legal, devendo, nesta hipótese, decidir com aplicação da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. 5. (...) 6. Recurso conhecido e provido. (TJDFT – Acórdão nº 0045099-65.2016.8.07.0000. Câmara Criminal. Des. Relatora: Maria Ivatônia. Data de julgamento: 21 mai. 2018. Publicação em: 04 jun. 2018) (destaque) Todavia, deve-se dar rigoroso cuidado à consideração do costume, no caso do direito escrito, acerca da colheita de provas, haja vista a colisão com direitos e garantias processuais inegociáveis: CRIME CONTRA OS COSTUMES – VÍTIMA – PALAVRA. A palavra da vítima ganha importância em se tratando de crime contra os costumes, especialmente quando harmônica com outros dados coligidos no processo. (STF – HC nº 110.591 – DF. 1ª Turma. Min. Relator: Marco Aurélio. Data de julgamento: 03 abr. 2018. Publicação em: 17 abr. 2018) No entanto, não há transferência para mãos do juiz de poderes legislativos ou liberdade absoluta de decisão. Hipoteticamente, os crimes com difíceis meios de dilação probatória, como os que envolvem violação da liberdade sexual, nos termos do Código Penal, terão o depoimento da vítima considerado de maior estatura probatória. Mas para que seja um institutorazoável e proporcional, urge o amparo de prescrições processuais conforme o Direito positivo, sob pena de comportar maiores questionamentos e interposição de recursos, com alegações de perseguição ou contaminação do convencimento dos julgadores. 24 A segurança coligida pelo depoimento da vítima deve coadunar-se com outros elementos probatórios colhidos, além da atuação na fase inquisitória exercida pela Autoridade de Polícia. Tal fenômeno abarca um tema polêmica pelo qual o Brasil passa, em virtude justamente da atividade legislativa ineficiente, embora tenhamos um considerável número de leis, frente às constantes e abundantes transformações nos hábitos e costumes pelos quais passa a sociedade globalizada. Posto isso, o Poder Judiciário brasileiro tem sido consideravelmente bastante atuante, frente às querelas trazidas pelos descompassos sociais. Surgiu então o denominado ativismo judicial, e consequentemente, a necessidade de exercer o jurisdictio impôs uma transformação no controle constitucional exercido pelo Supremo Tribunal Federal. 25 3 O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO Inicialmente, devemos considerar que o Poder Judiciário tem papel excepcional e fundamental na limitação de efeitos das lesões a que os cidadãos brasileiros possam sofrer, haja vista a Carta Política estipular o princípio que obrigue sua atuação perante a lesão ou ameaça de lesão a determinado direito (Art. 5º, XXXV). Posto isso, repercute no país haver muitas e constantes lesões ou ameaças de lesões a direito, alegadas de boa-fé ou má-fé, fazendo com que a máquina judicial adquirisse maior importância e estivesse atuando ininterruptamente. O desrespeito ou descumprimento de normas de cunho processual sofreu, inclusive, um maior escrutínio por parte do Pretório Excelso frente à consideração de ferida ao princípio em voga: Agravo regimental. Tributário. Pena de perdimento. Duplo grau de jurisdição. Inexistência de assento constitucional. Inafastabilidade da jurisdição. Devido processo legal. Ofensa reflexa. 1. Segundo a jurisprudência da Corte, não há no ordenamento jurídico brasileiro a garantia constitucional do duplo grau de jurisdição. A afronta aos princípios do devido processo legal e da inafastabilidade da jurisdição, em termos processuais, configura, via de regra, apenas ofensa indireta ou reflexa à Constituição. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido. A título de honorários recursais, a verba honorária já fixada deve ser acrescida do valor equivalente a 10% (dez por cento) de seu total, nos termos do art. 85, § 11, do novo Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do citado artigo e a eventual concessão de justiça gratuita. (STF – RE nº 976.178 AGr – PR. 2ª Turma. Min. Relator: Dias Toffoli. Data de julgamento: 09 dez. 2016. Publicação em: 15 fev. 2017) Ocorre que o princípio do duplo grau de jurisdição mencionado na ementa supra refere-se a ocorrido em seara administrativa, razão que sustenta a menção à ofensa indireta ou reflexa à Carta Magna. Desta feita, outras contraposições acerca de descumprimento de normas e garantias processuais precisariam ser questionadas em razão de norma infraconstitucional, fugindo da competência jurisdicional extraordinária da Corte Maristela Realce 26 Suprema (STF – Emb. Dcl. ARe nº 748.214 – SP. 1ª Turma. Min. Relatora: Rosa Weber. Data de julgamento: 06 nov. 2018. Publicação em: 16 nov. 2018). É possível constatar que a Suprema Corte está adotando filtragem de maior rigor para priorizar casos de maior importância e impacto sob sua competência. Supõe-se que seriam exames de matérias que ocorreriam com pouca frequência, porém, não tem sido o caso. Nota-se que o Supremo Tribunal Federal tem adquirido destaque midiático crescente, justamente porque os conflitos sociais e institucionais estão sob sua análise, o que possibilita debater o fenômeno de hipertrofia do Poder Judiciário, enquanto os demais Poderes constituídos não estão cumprindo com suas funções de maneira satisfatória. Com isto, é possível conjecturar que o Estado brasileiro passa por uma fase constitucional em que tudo é voltado para o movimentar das engrenagens da Constituição Federal, não como um ponto de partida para atividade legislativa e defesa judicial, mas sim como fim. Pode-se conjecturar até mesmo que o Poder Judiciário, considerado na figura do STF estaria legislando de maneira indireta, ou usurpando a função precípua do Poder Legiferante. Considerando essa alegação verdadeira, torna-se premente questionar a segurança jurídica perante a mudança de posicionamentos jurisprudenciais. Frente a questão ao enfrentamento desse questionamento, o Superior Tribunal de Justiça manifestou-se nos seguintes termos: AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. ALTERAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. DESCABIMENTO. SÚMULA 343/STF. TEMA 136/STF. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. No julgamento do RE 590.809, sob a sistemática da repercussão geral, o STF reiterou entendimento de que a alteração de jurisprudência não autoriza o manejo de ação rescisória (Tema 136/STF). 2. "Não há repercussão geral quando a controvérsia refere-se à alegação de ofensa ao princípio da inafastabilidade de jurisdição, nas hipóteses em que se verificaram óbices intransponíveis à entrega da prestação jurisdicional de mérito" (RE-RG 956.302, Rel. Min. EDSON FACHIN, julgado em 19/5/2016, publicado em 16/6/2016 (Tema 895/STF). 27 Agravo interno improvido. (STJ - Acórdão AgInt. RE Edcl AR nº 4564 – DF. Corte Especial. Min. Relator): Humberto Martins. Data de julgamento: 29 jun. 2018. Publicação em: 03 ago. 2018) A Corte Superior tem o condão de harmonizar as interpretações da aplicação da lei federal pelo território brasileiro, servindo de parâmetro para a aplicação de norma federal pelas unidades federativas. Em decisão recente, do ano de 2019, manteve posicionamento reiterado sobre o tema: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. LEI N. 7.787/1989. INTERPRETAÇÃO CONTROVERTIDA NO ÂMBITO DOS TRIBUNAIS. SÚMULA 343 DO STF. APLICAÇÃO. 1. A admissão de ação rescisória ajuizada com base no art. 485, V, do CPC/1973 pressupõe a demonstração clara e inequívoca de que a decisão de mérito impugnada tenha contrariado a literalidade do dispositivo legal suscitado, atribuindo-lhe interpretação jurídica absolutamente insustentável. 2. "Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais" (Súmula 343 do STF). 3. Hipótese em que a ação rescisória não é cabível, pois o acórdão rescindendo, cuja conclusão é no sentido de que a contribuição ao INCRA teria sido extinta pela Lei n. 7.787/1989, apoia-se em interpretação razoável, orientada, à época, por diversos julgados deste Tribunal Superior. 3. Ação rescisória não conhecida. (STJ. AR nº 4.443 – RS. 1ª Seção. Min. Relator: Gurgel de Faria. Data de julgamento: 08 mai. 2019. Publicação em: 14 jun. 2019) Quanto à Suprema Corte, abarca suas decisões considerando o teor do Recurso Extraordinário nº 590.809, em sede Repercussão Geral, como por exemplo, o julgado a seguir considerado: Ação rescisória. Decisão fundada em jurisprudência do STF posteriormente alterada. Art. 557, §1º, do CPC. Suposta violação literal de lei. Inocorrência. Não cabe ação rescisória de decisões proferidas em harmonia com a Maristela Realce 28 jurisprudência do STF, ainda que ocorra alteração posterior do entendimento do Tribunal sobre a matéria. Ação não conhecida. Precedente: RE 590.809. (STF - AR nº 2.199 – SC. Tribunal Pleno. Min. Relator: Marco Aurélio. Data de julgamento: 23 abr. 2015. Publicação em: 29 jun.2015) O Recurso Extraordinário mencionado sedimentou orientação na esfera federal, conforme os exemplos proferidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Ação Rescisória nº 0007569-83.2012.4.04.0000. 1ª Seção. Des. Relator: Roger Raupp Rios. Data de julgamento: 06 set. 2018. Publicação em: 06 set. 2018; e Ação Rescisória nº 0009028-23.2012.4.04.0000. 1ª Seção. Des. Relator: Roger Raupp Rios. Data de julgamento: 04 out. 2018. Publicação em: 04 out. 2018). Ainda, sob competência do Supremo Tribunal Federal, julgado semelhante ocorreu nos autos da AR nº 2.157 – AgR – SC, Tribunal Pleno, Min. Relator: Gilmar Mendes, data de julgamento: 19 nov. 2014, publicação em: 02 fev. 2015. Desta feita, permanece valorada a Súmula nº 343 do STF, que estatui não caber ação rescisória por ofensa literal a disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseada em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais. O ajuizamento de numerosas ações rescisórias questionando a mudança de orientação jurisprudencial rende discussões ricas acerca da segurança jurídica, e acerca dos princípios de tutela penal, como in dubio pro reo e a retroatividade benéfica da lei penal, mas, constantemente, é um obstáculo pelo qual as instituições terão que lidar, inclusive sob a constante de provocar maiores instabilidades no âmbito político nacional.8 Cumpre mencionar, também, que nasce uma nova perspectiva acerca da condição do Estado, uma forma de Estado Constitucional de Direito, constructo que tem como finalidade ratificar e reestruturar a atuação das instituições públicas e serviços ofertados aos cidadãos de modo a convalidar as normas constitucionais. Nesse sentido, convalida-se com a atuação proeminente da Suprema Corte Brasileiro, aplicando o instituto da interpretação conforme a Constituição Federal, uma forma de controle constitucional sem alteração da norma constitucional (STF – Recl. 8 STF volta a proibir prisão em 2ª instância; placar foi 6 a 5. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI314723,21048- STF+volta+a+proibir+prisao+em+2+instancia+placar+foi+6+a+5. Acesso em: 24 jan. 2020. Maristela Realce Maristela Realce Maristela Realce 29 nº 14.872 – DF. 2ª Turma. Min. Relator: Gilmar Mendes. Data de julgamento: 31 mai. 2016. Publicação em: 29 jun. 2016). Ficando determinadas questões a priori necessitando de soluções de origem legislativa, pode-se tecer ainda críticas e comentários acerca do metabolismo do ordenamento jurídico brasileiro, que pode ou não caminhar rumo a um modelo misto entre o direito escrito e o direito baseado em costumes, para demandas que repercutem sobre lacunas ou decorram da inaptidão da atuação dos Poderes (STF – MI nº 708-0 – DF. Min. Relator: Gilmar Mendes. Data de julgamento: 25 out. 2007. Publicação em: 31 out. 2008). 30 REFERÊNCIAS FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação. 4. ed. rev. amp. São Paulo: Atlas, 2003. p. 98. NUCCI, Guilherme de Souza. Instituições de direito público e privado. Rio de Janeiro: FORENSE, 2019. NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do Direito. 14. ed. ver. e ampl. – São Paulo: SARAIVA, 2017. REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: SARAIVA, 1999. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: SARAIVA, 2002. SOARES, Ricardo Murício Freire. Teoria Geral do Direito. 5. ed. São Paulo: SARAIVAJUR, 2019.
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