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MIOCARDITE Pontos-chave · Com a pandemia da COVID19, a miocardite entrou em evidência já que alguns pacientes com o vírus desenvolvem quadros de miocardite na fase aguda ou tardia · Inflamação do miocárdio que pode ser focal ou difusa. Geram manifestações clínicas diferentes, na forma difusa causa um quadro de IC aguda e nas focais causam manifestações arrítmicas (como extrassístole ventricular e fibrilação atrial paroxística) · A maioria dos agentes infecciosos que causam miocardite são os vírus: coxsackie B mais frequente na forma aguda · O vírus coxsakie B é mais frequente em crianças, já nos adultos a prevalência é maior para herpes vírus 6 e parvovírus B19 · Está relacionada a 10% das miocardiopatias dilatadas · A RM e a cintilografia miocárdica apresentam boa sensibilidade e especificidade na avaliação e diagnóstico da miocardite Definição: é definida pela OMS como uma doença inflamatória do miocárdio com disfunção ventricular, por processo inflamatório e lesão miocárdica na ausência de isquemia. PATOGÊNESE A patogênese da miocardite aguda é relacionada a 2 mecanismos principais: 1. Agressão direta do vírus ao miócito – o vírus possui um tropismo pela célula muscular cardíaca e faz uma agressão direta a ela 2. Forma indireta – ocorre através do potencial inflamatório em nível muscular, fazendo uma quimiotaxia de citocinas inflamatórias (como IL1, IL6, TNF alfa), determinando uma tempestade de citocinas no miocárdio e causando um processo de regeneração desordenada, levando à IC Já na miocardite subaguda e crônica, não tem mais a agressão direta do vírus na célula miocárdica, tem mais uma sinalização com produção de anticorpos que fazem sinalização com o miocárdio e determinam a agressão ao miocárdio. HISTOPATOLÓGICO Alguns achados iniciais ajudam a chegar em um diagnóstico definitivo. A causa sempre deve ser procurada, e muitas das vezes ela se encontra na biópsia miocárdica. Na biópsia, pode-se encontrar: · Infiltrado linfocítico na miocardite viral · Depósito eosinofílico nas reações a medicamentos e hipersensibilidade · Células gigantes mononucleares no lúpus, chron, retocolite ulcerativa, artrite reumatoide, sífilis e tireoidite Ou seja, não somente doenças infecciosas causam miopericardite, doenças com potencial inflamatório no geral podem causar!!! Então o diagnóstico histopatológico pode direcionar para o diagnóstico final e etiológico da miocardite. QUADRO CLÍNICO 1. Quadro de IC ou arritmia de forma repentina em paciente previamente hígido 2. Manifestação depende da extensão. O paciente pode ficar assintomático ou até mesmo abrir um quadro de choque cardiogênico 3. Associar o início do quadro a pródromos. Perguntar sobre infecções prévias, quadros febris, quedas no estado geral que antecederam esse quadro cardíaco 4. Os pacientes assintomáticos ou oligossintomáticos apresentam fibrose do miocárdio e depois de 10 anos começam a apresentam arritmia ventricular DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR · Achados eletrocardiográficos · Achados ao RX de tórax · Eco transtorácico – avaliação da função · Exames laboratoriais: ck e ck-mb (pouco específicos), troponina T e I · Cintilografia miocárdica com gálio-67 · RM cardíaca · Biópsia endomiocárdica – realizada por um cateterismo por acesso venoso. Muito útil em acometimentos difusos. É o padrão ouro, mas não é necessário para todos os pacientes ECG Às vezes o paciente chega com um ECG de BAV total, que quer dizer que o impulso elétrico está surgindo no átrio e não consegue passar para o ventrículo, então as duas câmaras se contraem de forma dissociada. O complexo QRS fica dissociado das ondas P. Outro ponto é que a frequência atrial fica maior que a frequência ventricular. Para calcular a frequência, contamos a distância (quadradinhos pequenos) de um complexo qrs para outro e dividimos 1500 pelo valor achado (ou 300 pelo número de quadradões). No ECG acima temos: FA = 90 e FV = 30. O paciente também pode surgir com uma fibrilação atrial, taquicardia ventricular... As arritmias ventriculares sempre devem ser investigadas por poderem ser causadas por miocardites. TRATAMENTO · Pacientes que evoluem com IC → tratamento convencional da IC (IECA + BB + espironolactona) · Imunossupressores e corticoides têm uso controverso na literatura → só pode ser usado se você tiver certeza absoluta de que o paciente não está na fase ativa da infecção. É mais usado em pacientes com miocardite causada por doença reumatológica · Imunoglobulinas e interferon alfa e beta · Suporte hemodinâmico → é mandatório em pacientes com déficit cronotrópico grave DOENÇA DE CHAGAS É uma forma muito presente da miocardite no Brasil. A manifestação é diferente em cada região do Brasil O número de infectados tem se reduzido com o passar dos anos na América Latina. O paciente pode ter sintomas muito inespecíficos nas fases iniciais, que geralmente duram 1-2 semanas. Depois disso, inicia-se a fase aguda, que dura 4-8 semanas e a maioria dos pacientes não apresenta sintomas (diagnóstico difícil). Por último, começa a fase crônica com acometimentos intestinais, miocárdicos, pode ocorrer 10-30 depois da primeira infecção. Manuseio inicial de pacientes com suspeita de DC: A manifestação no ECG mais frequente na DC é bloqueio de ramo direito com hemibloqueio anterior esquerdo. Então se vamos essas alterações em pacientes com suspeita de miocardite e história de residência em locais endêmico, devamos suspeitar fortemente de DC. O paciente com miocardiopatia chagásica pode apresentar a seguinte tríade: arritmia + IC + tromboembolismo. Os pacientes podem se apresentar, dependendo do estágio da infecção: assintomáticos, dispneia e fadiga, dor torácica, palpitações, morte súbita. PERICARDITE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS · Representa 5% das dores torácicas nos serviços de emergência · 15% se associam a miocardites · A minoria complica · 80-90% são idiopáticas Ele falou de anatomia, mas não vou colocar aqui por motivos óbvios rsrsrsssss FATORES CAUSAIS · Idiopática: 80-90% · Infecciosas: viral (coxsackie, adenovírus, parvovírus b19, adenovírus, influenza), bacteriana (mycobacterium, haemophilus, neisseria), fúngica (paracoco, aspergilose), parasitas (toxoplasma) · Autoimune: lúpus, hipersensibilidade a drogas, doença reumática. Pacientes com doenças autoimunes também podem apresentar serosites, derrame pericárdico · Outras: IAM, invasão pericárdica, radiação, neoplasias, insuficiência renal e hipotireoidismo (causa frequente de derrame pericárdico em mulheres de 50-60 anos) DIAGNÓSTICO · Anamnese · ECG · Imagem · Laboratório CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Quando suspeitar de pericardite? Quando tivermos 2 dos 4 achados a seguir: · Dor torácica – documentar as características da dor. Geralmente não relação com esforço (dói mesmo parado), a dor piora quando o paciente deita (a pressão nos órgãos faz com que o coração fique mais pressionado contra a coluna) · Atrito pericárdico · Alterações eletrocardiográficas · Derrame pericárdico ao eco PRINCIPAIS ACHADOS AO EXAME CLÍNICO · História clínica compatível com pericardite · Início súbito, em pontadas ou fisgada · Localização variável – retroesternal e epigástrica · Pode piorar com exercício, melhora com anteriorização do tórax e piora ao deitar · Pode ter característica pleurítica · Pode irradiar para trapézio, mais comum o esquerdo ACHADOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Quando há derrame pericárdico grande, o qrs fica de baixa amplitude, supra “sorrindo” = infra do pr difuso. EXAMES LABORATORIAIS · Troponina pode ser positiva · Proteína C reativa: indica atividade do processo inflamatório, e está relacionada ao prognóstico · Sorologias virais (não há necessidade de screening evolutivo) · Bk (lembrar da tuberculose, faz um derrame pericárdico muito volumoso), imunossupressão · Marcadores reumatológicos · Função renal · Hormônios tireoidianos EXAMES DE IMAGEM · RX de tórax – coração em moringa, sem congestão pulmonar, área cardíaca aumentada. Na pericardite crônica, é possível observar calcificações no pericárdio · ECO · TC de tórax · Ressonância cardíaca · Cintilografia miocárdica· Pericardiocentese · Biópsia pericárdica MANUSEIO CLÍNICO · Identificar os pacientes de alto risco · Alívio da dor · Tratamento da inflamação · Tratamento do derrame pericárdico · Tratamento do fator causal · Redução das recidivas CONDUTA TERAPÊUTICA · AINEs: ibuprofeno 600-800mg 3x ao dia OU AAS 2-4g ao dia por 2 a 3 semanas com retirada gradual · Colchicina: 0,5mg 12/12 se peso maior que 70kg e 1x ao dia se peso menor que 70kg por 3 meses. Potencial anti-inflamatório na fase aguda e única droga capaz de reduz a recorrência da pericardite E os corticoides? São a primeira linha somente nas doenças autoimunes! Se necessário utilizar, deve ser feita a dose imunossupressora (prednisona: 1mg/kg). COMPLICAÇÕES · Recorrência: 15-30% em 18 meses · Tamponamento cardíaco: 3%. O diagnóstico é clínico, não precisa de exame de imagem! Ver a imagem ao lado · Constrição cardíaca: 1,5% · Miocardite: 30% ECG no tamponamento: redução da amplitude do qrs Se o paciente tiver tamponamento, deve-se fazer pericardiocentese para tratar (punção pericárdica).
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