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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI AVALIAÇÃO FÍSICA E TREINAMENTO DESPORTIVO GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2 INTRODUÇÃO A AVALIAÇÃO FÍSICA .................................................................. 5 2.1 Por que avaliar? ................................................................................................. 5 2.2 Objetivos das medidas e avaliações em educação física .................................. 6 2.3 Tipos de avaliação ............................................................................................. 7 2.4 Medida, avaliação e teste ................................................................................... 9 2.5 Princípios da avaliação física ........................................................................... 12 2.6 Organização e administração dos testes ......................................................... 14 2.7 Precisão de medidas ........................................................................................ 15 3 MEDIDAS E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ............................................. 17 3.1 Composição corporal ....................................................................................... 17 3.2 Classificações e medidas da composição corporal .......................................... 18 3.3 Classificações da composição corporal ........................................................... 18 3.4 Peso ................................................................................................................. 19 3.5 Estatura ............................................................................................................ 20 3.6 Perímetro .......................................................................................................... 20 3.7 Diâmetros ósseos ............................................................................................. 20 3.8 Dobras cutâneas .............................................................................................. 20 3.9 Métodos de avaliação da composição corporal ................................................ 21 3.10 Métodos indiretos de avaliação da composição corporal ................................. 21 3.11 Métodos duplamente indiretos de avaliação da composição corporal ............. 24 4 PLANEJAMENTO DE AVALIAÇÕES ................................................................... 41 4.1 Rotina de preparação e aplicação dos testes de avaliação física .................... 41 4.2 Cuidados para a aplicação de testes de avaliação física ................................. 42 2 4.3 Anamnese ........................................................................................................ 43 4.4 Questionário de prontidão para a prática de atividade física (PAR-Q) ............. 45 4.5 Avaliação do risco cardíaco .............................................................................. 46 4.6 Programa de avaliação física com foco no desempenho ................................. 48 4.7 Programa de avaliação física com foco na saúde ............................................ 51 5 TREINAMENTO DESPORTIVO ........................................................................... 56 5.1 Anteprojeto, diagnóstico e planejamento do treinamento desportivo ............... 56 5.2 As fases do treinamento desportivo ................................................................. 56 5.3 A importância das fases de anteprojeto, diagnóstico e planejamento na periodização ............................................................................................................. 61 5.4 Período pré-preparatório na prática ................................................................. 64 6 PLANOS DE TREINAMENTO E DE PLANILHAS ................................................ 68 6.1 Ciclos de treinamento ....................................................................................... 68 6.2 Planificação do treinamento desportivo ............................................................ 76 7 PERIODIZAÇÃO COMPLETA DE TREINAMENTO ............................................. 82 7.1 Modelos de periodização de treinamento ......................................................... 82 7.2 Especificidades da periodização completa de treinamento .............................. 85 8 HETEROCRONISMO NOS CICLOS DE TREINAMENTO ................................... 89 9 QUALIDADES FÍSICAS, PERFORMANCE E SAÚDE ......................................... 93 9.1 Qualidades físicas relacionadas a saúde e performance ................................. 94 9.2 Métodos de treinamento para saúde e performance ...................................... 103 9.3 Programas de treinamento aplicados à saúde e à performance .................... 106 9.4 Treinamento de não atletas ............................................................................ 111 10 MÉTODOS DE TREINAMENTO DA COORDENAÇÃO E DO EQUILÍBRIO ...... 112 10.1 Coordenação e equilíbrio ............................................................................... 112 10.2 Métodos de treinamento ................................................................................. 113 3 10.3 Programa de treinamento para coordenação e equilíbrio .............................. 118 11 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 122 12 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................................... 122 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 INTRODUÇÃO A AVALIAÇÃO FÍSICA Em suas práticas, é muito comum que os profissionais de educação física se utilizem de métodos quantitativos para avaliar a composição corporal, as capacidades físicas e os padrões de movimento. Isso pode ocorrer por inúmeros motivos: seja apenas para coletar dados para um estudo epidemiológico, seja para direcionar treinamentos ou traçar diagnósticos sobre os sujeitos que se avalia. Este conjunto de técnicas que buscam obter dados quantitativos e qualitativos sobre as condições físicas de alguém denominamos avaliação física. Existem muitas formas de avaliar a condição física dos sujeitos e, por isso, é importante que o profissional de educação física, antes de aprender os aspectos procedimentais da avaliação, consiga compreender os principais conceitos e princípios que orientam essa prática. Neste capítulo, você compreenderá a relevância da avaliação física para a sua prática, as diferenças entre medida, teste e avaliação e, ainda, os princípios que regem a avaliação física. 2.1Por que avaliar? A avaliação é o ato de determinar, estabelecer, examinar ou julgar o valor de algo ou alguma coisa (FUNDAÇÃO VALE, 2013). Recorrentemente, a avaliação é utilizada como forma de classifi car os indivíduos entre bons ou aceitáveis e ruins ou inaceitáveis. Essa perspectiva reducionista da avaliação vem sendo deixada de lado para que seja assumida uma compreensão mais ampla. No âmbito da educação física, a avaliação exerce uma função primordial e é o principal meio para compreender o estado físico dos sujeitos e traçar ou readequar os caminhos para que sua condição de saúde ou desempenho seja aperfeiçoada. A avaliação física envolve o uso de procedimentos precisos e confiáveis para determinar com exatidão as condições de determinada pessoa. Cada tipo de medida possui uma forma procedimental específica e que envolve diferentes níveis de complexidade, colocando aquele que avalia diante de inúmeros problemas, que vão desde a forma como medir até a interpretação dos resultados obtidos. Em geral, quando identificamos o resultado, fazemos a comparação com uma escala de valores populacionais para que possamos emitir um juízo e um parecer 6 sobre o resultado. Por vezes, a avaliação física resulta apenas na emissão de julgamentos. No entanto, ao se tratar do movimento humano, ela é muito mais que isso, sendo, também, a síntese dos elementos quantitativos, subjetivos e das outras evidências que podem oferecer os dados e informações para diferentes propósitos. 2.2 Objetivos das medidas e avaliações em educação física A avaliação física pode ser utilizada para muitas possibilidades. Atualmente, é comum observarmos o uso de testes e medidas em diversas ocasiões. Você já deve ter participado de algum deles em algum momento de sua vida, como, por exemplo, em academias, com equipes profissionais, escolares ou até mesmo em concursos públicos. Ainda que nessas ocasiões mencionadas o uso dos testes possa ter ocorrido da mesma forma, é provável que em cada uma delas o objetivo da avaliação tenha sido específico e se diferenciado dos demais. Charro et al. (2010) apontam os principais objetivos da avaliação física, que você confere a seguir. https://www.enfoquems.com.br Determinar o nível de aptidão física geral: determinada a condição física do indivíduo em cada uma das qualidades testadas, a avaliação física proporciona ao profissional de educação física subsídios para melhor prescrever os programas de treinamento e preparação, observada a condição da aptidão física do aluno. 7 Determinar o progresso: quando utilizada como forma de reavaliação, é possível comparar índices e níveis obtidos entre avaliações realizadas em períodos diferentes, o que possibilita a identificação de melhoras ou informações para readequar os programas de treinamento. Determinar o estado de saúde: geralmente efetuadas junto ao momento de anamneses, as avaliações físicas permitem identificar a presença de sinais, sintomas, características ou comportamentos habituais dos indivíduos que possam apresentar-se como riscos de problemas de saúde. Classificar os indivíduos: quando existe a necessidade de dividir os avaliados em grupos, a avaliação permite que sejam identificadas características em comum entre os participantes. Motivar: o avaliado pode ser motivado a melhorar sua condição física com base nas informações obtidas sobre o seu estado atual. O mesmo vale para a adesão aos programas de atividades físicas, em que os resultados identificados podem produzir a motivação no avaliado para continuar o programa. Diretriz para pesquisa: os dados obtidos para a pesquisa devem ser avaliados pela sua significância e, com isso, levar os conhecimentos sobre determinado caso ou situação para outras pessoas, disseminando as informações obtidas. 2.3 Tipos de avaliação Conforme o objetivo determinado pelo avaliador, as avaliações podem ser classificadas em três diferentes tipos: a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa e as avaliações somativas (CHARRO et al., 2010). A avaliação diagnóstica auxilia o avaliador ou o profissional que irá realizar a prescrição do exercício físico. Auxilia, também, na elaboração da programação de treinamentos e na seleção de grupos, que podem ser homogêneos ou heterogêneos. Por exemplo, em treinamentos voltados ao emagrecimento, a medida de dobras cutâneas para determinar o percentual de gordura corporal serve para identificar o estado geral do avaliado antes do início do referido programa. A avaliação formativa determina o progresso dos avaliados na realização de um programa de treinamento, fornecendo informações tanto para o avaliador quanto 8 para o avaliado que sejam possíveis de identificar se os resultados traçados em certo período condizem com o esperado. Serve, também, como forma de identificar os pontos fortes e fracos de determinado tipo de treinamento, fornecendo possibilidades de reformulações para que o objetivo proposto seja alcançado. Utilizando o exemplo anterior, as medidas de dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento podem ser realizadas semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, identificando o progresso do avaliado. A avaliação somativa representa o resultado de todas as avaliações realizadas, identificando as evoluções do avaliado. Essas avaliações representam os ganhos gerais de um indivíduo e/ou nas unidades de treinamento (MARINS; GIANNICHI, 2007). Ainda no exemplo acerca das dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento, o somatório de todas as avaliações torna possível avaliar o progresso geral do avaliado e identificar em quais momentos e por quais motivos algumas semanas, quinzenas ou meses de treinamento não foram tão efetivos. Para compreender melhor as diferenças entre os diferentes tipos de avaliação, observe o Quadro 1, que apresenta alguns exemplos quanto aos objetivos e momentos de avaliação. Quadro 1. Tipos de avaliação Tipo de avaliação Diagnóstica Formativa Somativa Propósito Fornecer informações sobre o avaliado e determinar o melhor programa de treinamento com base em suas características Fornecer um feedback para o avaliado e para o avaliador. Certificar o avanço e a eficácia do programa de treinamentos, identificando pontos fortes e fracos na sua realização Período Anterior ao programa de treinamento. Durante o programa de treinamento. Ao final do programa de treinamento. Como você deve ter compreendido até aqui, a avaliação física é o principal meio pelo qual o profissional que lida com o movimento humano identifica, organiza e avalia a sua prática, fornecendo informações que fazem a mediação entre os programas de treinamento tanto para o avaliador quanto para o avaliado. As avaliações ocorrem, muitas vezes, por meio de protocolos específicos que buscam 9 atender a um objetivo. A forma como tais dados são obtidos envolve as medidas, os testes e as avaliações, conceitos que você conhecerá no próximo tópico. 2.4 Medida, avaliação e teste Embora sejam recorrentemente utilizados como sinônimos, os termos medida, teste e avaliação não se referem ao mesmo processo quando os utilizamos dentro do campo da educação física. Por mais que seja comum a utilização desses termos como sinônimos, devemos estar atentos quanto à sua utilização, já que se referem a modos de interpretação distintos. Por exemplo, ao medirmos a estatura de um indivíduo e constatarmos que o mesmo tem 180 cm, a utilização apenas da medida desse número não nos diz muito. É preciso conseguir analisar e interpretar o que tal medida representa dentro de um contexto específico, passando, então, por um processo de avaliação. Assim, os conceitos de medida, teste e avaliação devem ser utilizados para representar o processo pelo qual as informações obtidas do avaliado foram analisadas.Você conhecerá um pouco mais das peculiaridades desses termos a seguir. Teste Os testes compreendem um processo de obtenção de dados. Guedes e Guedes (2006, p. 2) indicam que testar “[...] consiste em verificar o desempenho de alguém mediante situações previamente organizadas e padronizadas, denominadas testes”. Os testes são uma das principais formas de obter dados dentro do campo da educação física, visto que são práticos em sua aplicação e objetivos em suas informações. Embora geralmente utilizem protocolos específicos, os testes podem ser de campo ou de laboratório. Os testes de campo em geral são baratos, muito fáceis de serem administrados e geralmente estão relacionados às capacidades físicas dos avaliados, como no caso do futebol, em que os atletas são submetidos a testes no gramado, com o uso da vestimenta do uniforme de sua modalidade esportiva. Alguns exemplos muito conhecidos são o teste de Cooper, o teste de flexões de braço, de impulsão horizontal, entre outros (MARINS; GIANNICHI, 2007). 10 Os testes de referência, ao contrário, são protocolos que geralmente possuem um investimento financeiro maior, pois são realizados em maquinários específicos e em ambiente controlado, o que os torna mais confiáveis e reprodutíveis. Também podem ser utilizados para aferir a capacidade física dos avaliados, assim como também podem aferir a composição corporal. Alguns dos testes comuns são a ergoespirometria, os dinamômetros isocinéticos e as plataformas de força. Medida O termo medir significa a obtenção dos dados quantitativos, procedimento basilar da avaliação física. Para Guedes e Guedes (2006, p. 1), “[...] medir significa determinar a quantidade, a extensão ou o grau de determinado atributo com baste em um sistema convencional de unidades”. O resultado da medida é sempre numérico e refere-se ao quantitativo do atributo a ser descrito. Exemplos de medida são a estatura e o peso, cujos sistemas convencionais são, respectivamente, o metro e o quilograma. A medida se encontra em todos os processos de avaliação física, sejam eles voltados para a compreensão de qualquer capacidade ou habilidade física. As medidas podem ser obtidas de forma direta ou indireta (MARINS; GIANNICHI, 2007). As medidas diretas são aquelas que, como o nome sugere, são obtidas diretamente do avaliado. Por exemplo, para medir o consumo de oxigênio de um indivíduo de forma direta, o teste de ergoespirometria é recorrentemente utilizado. As medidas indiretas são aquelas que são obtidas por modo distinto ao que se pretende avaliar, mas, com a relação dos resultados, é possível estabelecer algumas estimativas. Utilizando o exemplo anterior, para indiretamente estimar o consumo de oxigênio de um indivíduo, o teste de Cooper é recorrentemente utilizado. Com os resultados da distância percorrida em determinado período pelo avaliado, é possível estimar o seu consumo de oxigênio. Avaliação A avaliação se refere às compreensões que são possíveis por determinado teste e medida. De acordo com Guedes e Guedes (2006, p. 1), a avaliação é definida como “[...] um processo interpretativo, pois consiste em julgar com base em referenciais selecionados especificamente para essa finalidade”. Por demandar o 11 processo interpretativo, a avaliação é o meio mais abrangente, pois, enquanto as medidas e os testes se detêm à utilização de dados e instrumentos quantitativos, a avaliação também solicita a utilização de dados e instrumentos qualitativos. O papel do profissional de educação física em uma avaliação é considerar todas as variáveis envolvidas em um teste pelo qual se obtém uma medida. Ou seja, a avaliação consiste em conseguir identificar o que, por quê e quem está sendo avaliado. Isso significa que apenas a medida obtida em um teste não representa um padrão universal a todos os sujeitos. Imagine um mesmo teste aplicado em homens de meia idade, em mulheres, em crianças ou idosos: é possível que as medidas obtidas por determinado protocolo signifiquem a mesma coisa? Certamente não, pois, para cada uma dessas individualidades, são produzidos padrões diferentes. Não é possível exigir que populações idosas possuam a mesma resistência cardiorrespiratória que jovens de vinte anos de idade, já que o primeiro grupo apresenta sinais e sintomas do processo de envelhecimento e, em decorrência disso, sua exigência é menor. O mesmo também podemos afirmar em populações fisicamente ativas, sedentárias, atletas, com quadros patológicos e também inúmeras outras variáveis. O papel do profissional de educação física, então, é considerar todas as variáveis presentes em relação ao avaliado e determinar quais medidas a esse sujeito ou grupo são consideradas dentro do esperado (GONÇALVES, 2019). Ou seja, a avaliação consiste em um processo que visa dar significado aos resultados colhidos em um teste ou medida, fazendo com que os números expressos passem a apontar informações consistentes que possam mediar a prática do avaliado e do avaliador. Em síntese, a Figura 1, a seguir, apresenta as diferenças entre os três conceitos. 12 Em grande parte das vezes, a medida e os testes se encontram dentro de protocolos específicos e que são avaliados a partir de percentis populacionais. Em muitos casos, o uso de softwares auxilia a compreensão de variações apresentadas pelo avaliado na realização de um teste. Seja qual for a dimensão avaliada, o objetivo pelo qual se propõe avaliar o avaliador deve seguir alguns critérios essenciais, os quais você vai conhecer na próxima seção. 2.5 Princípios da avaliação física Embora no que se refere ao corpo humano e ao movimento muitos aspectos possam ser avaliados e diversos testes se proponham a isso, isso não significa que qualquer teste pode ser utilizado para qualquer medida. É preciso, para tanto, que o profissional consiga utilizar o método que melhor corresponda a seus objetivos avaliativos, estabelecendo, para isso, alguns critérios. Nesta seção, você vai conhecer os princípios da avaliação física. Critério de seleção de testes Ao se determinar o que será testado e por qual objetivo a avaliação será feita, o profissional deve procurar na literatura o melhor teste para a situação envolvida. A escolha desses testes deve ser feita com base em três princípios: a validade, a fidedignidade ou confiabilidade e a objetividade ou reprodutibilidade. A validade de um teste consiste em ele conseguir medir o que se propõe a medir (CHARRO et al., 2010). Para determinar que um teste realmente mede o que se propõe a medir, existem quatro formas principais: a validade de conteúdo, a validade de critério, a validade de predição e a validade de construção. A validade de conteúdo representa que um teste é adequado com base na lógica quando os números obtidos representam a variável morfológica ou fisiológica analisada sendo baseada pelo testemunho de um especialista ou em sua larga utilização (GUEDES; GUEDES, 2006). Por exemplo, ao avaliar a capacidade cardiorrespiratória, o teste de Cooper é um protocolo amplamente utilizado em importantes pesquisas; podemos dizer, então, que este teste possui validade de conteúdo. 13 A validade de critério consiste na relação por meios estatísticos quando se compara o resultado de um teste em questão com outros testes já validados. Um exemplo de validade de critério é quando comparamos, por exemplo, os resultados de um teste de consumo máximo de oxigênio a partir de dois protocolos diferentes, como o teste de Cooper e a ergoespirometria. Para ter a validade de critério, espera- se que ambos os testes apresentem medidas semelhantes. A validade de predição está relacionada à capacidade de prever, em linhas gerais, o resultado obtido considerando o avaliado. Utilizando o exemplo do teste de Cooper, a validade de predição consisteem confirmar que o resultado do teste, quando realizado por homens, por exemplo, apresenta-se de maneira diferente quando desenvolvido por mulheres de mesma idade (GONÇALVES, 2019). A validade de construção representa a consistência teórica que sustenta o teste, também delimitando se ele é capaz de medir o que pretende. Ou seja, para avaliar o consumo máximo de oxigênio, o teste elegido deve contemplar a capacidade cardiorrespiratória e sustentar o que a literatura afirma. No teste de Cooper, pode-se dizer que a validade de construção ocorre à medida que a variável, o consumo máximo de oxigênio, é maior quando a intensidade da corrida do avaliado também for maior. A fidedignidade ou confiabilidade diz respeito aos resultados encontrados sob as mesmas condições. Quer dizer, se a aplicação do teste for replicada sob as mesmas condições do avaliado e os mesmos resultados forem encontrados, então se pode dizer que o teste é confiável. Por exemplo, quando subimos em uma balança, identificamos o nosso peso corporal. Ao descer e subir novamente nessa balança, espera-se que o peso seja o mesmo ou que apresente pequenas variações não significativas. Se isso ocorrer, então o teste é considerado fidedigno ou confiável. A objetividade ou reprodutibilidade diz respeito à consistência dos resultados independentemente do avaliador. Quando o teste é aplicado sobre os mesmos indivíduos, por avaliadores diferentes, e, ainda assim, apresenta os mesmos resultados, diz-se que possui objetividade. Por exemplo, suponha que você efetuou as medidas de dobras cutâneas de alguém. Minutos depois, um colega seu efetuou o mesmo procedimento. Se ambos chegarem aos mesmos resultados, o que é esperado nesse teste, pode-se afirmar que é objetivo ou reprodutível. Além desses fatores, também deve ser levada em consideração a padronização de instruções para o teste em questão. Essas informações seguem protocolos específicos, que orientam as condições de realização dos testes, os locais 14 em que pode ser aplicada, a vestimenta dos avaliados, as formas de motivação, os cuidados a serem tomados e os erros comuns que devem ser evitados (GUEDES; GUEDES, 2006). 2.6 Organização e administração dos testes Uma boa avaliação requer que o avaliador esteja atento às peculiaridades de alguns fatores que interferem na realização de um teste ou na obtenção dos seus resultados. Veja, a seguir, alguns desses fatores apontados por Charro et al. (2010). Procedimento do avaliador: o avaliador deve possuir conhecimento sobre os propósitos dos testes e de seus detalhes técnicos para aplicação, assumindo as padronizações. Além de conhecer o teste em questão, é necessário que possua conhecimentos sobre o que será avaliado, como, por exemplo, no caso da avaliação antropométrica, os conhecimentos de anatomia. Informação do avaliado: o sujeito avaliado deve conhecer previamente o processo de medida e apresentar motivação e disposição para realizá-lo, sendo possível obter os melhores resultados. O avaliado deve ser informado sobre o intervalo entre a última refeição e o teste, o uso das vestimentas adequadas para realizá-lo, além de ficar ao menos 72 horas sem realizar esforço físico quando submetido a avaliações de esforço máximo ou submáximo. Local: o local deve possuir condições adequadas de espaços, luz, som, temperatura, vento, condições de solo, segurança e trânsito de pessoal. Alguns protocolos exigem, além desses fatores, paredes sem cores, que ofereçam estímulos que retirem a concentração dos avaliados durante a realização do teste. Horário: o teste e o reteste devem ser realizados no mesmo período do dia e, preferencialmente, no mesmo horário, para que sejam evitadas as interferências por alterações posturais ou de cansaço e ocorridas pela ação de hormônios. É preciso considerar os ritmos de secreção circadiano (relativo ao ritmo biológico no período de 24 horas e que está relacionado a fatores como luz solar e temperatura) e ultradiano (relativo a mudanças repetitivas que ocorrem em período de até 20 horas, com a mudança na frequência de batimentos cardíacos). 15 Vestimenta: a vestimenta deve ser condizente com o teste a ser realizado. O ideal é o uso de calção, camiseta, meias e tênis com solado adequado, além de biquínis e sungas, quando for o caso. Instrumental: os instrumentos de medida que serão utilizados no teste devem ser escolhidos cuidadosamente, optando-se por aquele que apresenta melhor precisão. Eles devem ser utilizados com cuidado e armazenados nos locais adequados. O mau uso pode afetar a precisão ou comprometer a sua utilização por tempo prolongado (MARINS; GIANNICHI, 2007). Calibração: ainda que todo cuidado seja considerado, é comum que, com o passar do tempo, os equipamentos percam a sua calibração. Por isso, é aconselhável que sua aferição seja realizada periodicamente ou, no caso de ser impossível este procedimento, deve ser efetuada a troca do equipamento. Geralmente, os próprios fabricantes indicam o período de aferição ou troca, o que deve ocorrer entre 6 meses e um ano. Mecanismos de aplicação: existem muitos fatores que influenciam a aplicação do teste, como, por exemplo, o número de avaliados, o número necessário de avaliadores, a demonstração, a ordem dos testes, a duração da avaliação e a coleta de dados. Quanto a essas variáveis, o avaliador deve se precaver para que o procedimento não seja interrompido durante a sua realização. 2.7 Precisão de medidas A precisão das medidas é de fundamental importância para a avaliação. Uma imprecisão nas informações obtidas compromete o resultado e os objetivos que o teste propõe. Em primeiro lugar, a precisão depende da exatidão de instrumentos e, em seguida, da aplicação por parte dos avaliadores. Os erros podem ser classificados em erros de medida ou erros sistemáticos (MARINS; GIANNICHI, 2007). Os erros de medida dizem respeito ao equipamento, ao medidor ou à administração do teste. Veja seus tipos a seguir. 16 Erro de equipamento: quando a utilização do equipamento não é adequada ao que se propõe aferir ou o equipamento não está calibrado corretamente. Erro do medidor: quando o avaliador erra ou não consegue efetuar uma leitura. Erro de administração: quando o procedimento para a aplicação e realização do teste está equivocado. Os erros sistemáticos são aqueles relacionados às diferenças biológicas e ambientais, como aquelas relacionadas à estatura, à força, à flexibilidade ou à postura — variáveis essas que se modificam conforme o horário do dia. O Quadro 2, a seguir, apresenta algumas das variáveis e as implicações que podem ser provocadas em relação à dimensão testada. Quadro 2. Variáveis de desempenho que podem provocar erros sistemáticos Variável Implicação Psíquica Ansiedade Motivação Inteligência Personalidade Metabólica Sistema aeróbico Sistema anaeróbico Neuromuscular Força Resistência Velocidade Flexibilidade Coordenação Cineantropométrica Composição corporal Somatótipo Proporcionalidade Crescimento e desenvolvimento Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006) Como você pode identificar, os erros sistemáticos estão relacionados a fatores referentes ao avaliado e ao ambiente em que o teste será realizado. Por exemplo, é possível que um trabalhador que executa atividades exaustivas durante a sua jornada de trabalho obtenha resultados superiores pela manhã, quando ainda não começou a 17 sua jornada laboral, do que pela noite, após o período exaustivo. O mesmo ocorre com sujeitos que possuem variação de humor, que utilizam medicamentos que alterem os sistemas ou pelos fatos ocorridos em sua vida particular. Por esse motivo, a preparação do avaliado pelo avaliador deve sempre ocorrer em conjunto, de modo que seja possível identificar omelhor momento para a realização do teste e reduzir, assim, a possibilidade de erros sistemáticos (GONÇALVES, 2019). Dessa forma, é possível compreender que a avaliação física é um processo complexo, que exige do profissional de educação física saberes técnicos que vão desde a compreensão de conceitos até os aspectos procedimentais que envolvem a aplicação de um teste. Seja qual for o ambiente em que desenvolve o seu trabalho, o profissional de educação física deve estar pronto para realizar a avaliação física, apontando caminhos para que os sujeitos com quem trabalha alcancem seus objetivos. 3 MEDIDAS E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA 3.1 Composição corporal A avaliação da composição corporal consiste em conseguir identificar, como o próprio nome sugere, como o corpo humano é composto em termos de tecidos e substâncias. A composição corporal é um indicador que está relacionado com a aptidão física e o estado de saúde dos indivíduos, já que, para ter força condizente com qualquer tarefa, é necessário que haja a quantidade necessária de massa muscular. O mesmo se aplica ao considerarmos fatores que podem apresentar riscos à saúde, como no caso da obesidade, que se caracteriza pelo excessivo acúmulo de tecido adiposo. Nesse sentido, é necessário que o profissional de educação física, ao considerar os elementos da aptidão física, sejam eles voltados à saúde ou ao desempenho, também consiga subsídios para a avaliar a composição corporal (GONÇALVES, 2019). Por isso, neste capítulo, você conhecerá as principais formas de realizar uma avaliação da composição corporal, analisando métodos aplicados nessa avaliação, considerando as classificações e medidas da composição corporal e aprendendo a realizar uma avaliação cineantropométrica. 18 3.2 Classificações e medidas da composição corporal Existem, na atualidade, diversas formas de realizar a avaliação da composição corporal, e cada uma delas se utiliza de formas específicas para estimar a composição corporal de um indivíduo. Essas formas podem ser classificadas de acordo com o método de obtenção e diferentes variáveis podem ser aplicadas. Ao longo dos anos, diversos modelos foram propostos e a avaliação da composição corporal esteve relacionada a alguns compartimentos específicos do corpo humano. Inicialmente, a composição corporal levava em consideração apenas o quantitativo de massa corporal magra e gorda. Posteriormente, o quantitativo de água corporal também foi considerado. Em seguida, abordando quatro compartimentos, passou-se a considerar os quantitativos de gordura, massa muscular, massa óssea e massa residual (órgãos, pele, sangue, e outros tecidos). Atualmente, o modelo multicompartimental, como o nome indica, considera a existência de múltiplos compartimentos, dividindo o corpo em gordura e componente não gorduroso, que se refere ao peso corporal que permanece após a gordura ser removida e, portanto, é composto pelos tecidos muscular e esquelético, pela pele, pelos órgãos e demais tecidos não gordurosos (GUEDES; GUEDES, 2006). Assim, existem diferentes propostas de avaliação da composição corporal, que pode receber diferentes classificações, e que envolvem os mais diversos componentes. Nesta seção, você conhecerá as classificações da composição corporal e as variáveis que são mais utilizadas para esse tipo de avaliação. 3.3 Classificações da composição corporal Quando se realiza alguma avaliação, seja ela voltada à aptidão física ou à composição corporal, ao se obter a medida por meios que meçam o componente que se pretende avaliar, os dados são obtidos de forma direta. Quando os elementos não são medidos diretamente, a avaliação é apenas estimada e resulta em métodos indiretos. No que se refere à composição corporal, a única forma de medir diretamente os compartimentos corporais é através da dissecação de cadáveres, o que, você deve presumir, é inviável para os fins pelos quais os profissionais de educação física buscam estimar a composição corporal. Outros meios, portanto, devem ser 19 considerados, e são feitas as classificações que você confere a seguir (BAUMGARTNER; JACKSON, 1995). Método direto: forma de medir que envolve a separação de cada um dos diversos componentes estruturais do corpo humano para pesá-los e estabelecer relações entre eles e o peso corporal total. Como dito, a única forma considerada um método direto é a dissecação de cadáveres. Método indireto: meios pelos quais não há a manipulação de forma separada dos componentes que compõem o corpo humano, mas que são validados a partir do método direto e que envolvem reações químicas ou físicas. Entre os métodos indiretos, os mais comuns são a hidrodensitometria e a plestimografia, que você conhecerá na próxima seção. Métodos duplamente indiretos: são aqueles validados a partir de métodos indiretos e que envolvem, geralmente, formas mais acessíveis para avaliação. Neste caso, podemos citar como exemplo as proporções peso-estatura, as circunferências corporais e as medidas de dobras cutâneas. Como se pode identificar, os métodos duplamente indiretos são a principal forma de realizar a avaliação corporal, já que são meios mais fáceis de serem realizados e envolvem equipamentos mais acessíveis. Os métodos duplamente indiretos, para estimar a composição corporal, envolvem as medidas de peso, estatura, perímetros corporais, diâmetros ósseos e espessura de dobras cutâneas. 3.4 Peso O peso consiste na dimensão da massa e do volume corporal a partir do somatório de todas as células e dos tecidos corporais e é expresso em quilograma, geralmente, utilizando-se duas casas decimais. Essa é a medida mais comum do dia a dia de muitas pessoas, calculada em balanças, que são comuns em residências ou drogarias. O peso é uma medida que varia constantemente, inclusive quando considerado um intervalo de horas ou minutos; sofre alterações devido a inúmeros fatores, como ingestão de alimentos, sudorese, excreção, entre outros fatores que representam o ganho ou a perda de peso corporal (GUEDES; GUEDES, 1998). 20 3.5 Estatura A estatura representa a altura do ser humano, em posição ortostática, e é expressa em centímetros. Apesar de ser uma medida simples, necessita de um estadiômetro para que seja mensurada corretamente, um equipamento que não é muito usual no cotidiano, embora algumas balanças voltadas à obtenção dos índices de massa corporal o contenham (GUEDES; GUEDES, 1998). 3.6 Perímetro Os perímetros compreendem as medidas da circunferência de um segmento corporal, como o abdômen, o tórax, a coxa e o braço, sendo perpendiculares ao eixo longitudinal do mesmo segmento. São feitos com fita métrica, de preferência metálica, com precisão de 0,1 cm (GUEDES; GUEDES, 1998). 3.7 Diâmetros ósseos Consistem nas medidas que são obtidas a partir de dois pontos ósseos, simétricos ou não, geralmente situados em planos perpendiculares ao eixo longitudinal do corpo. Essas medidas são obtidas a partir de paquímetros e são comuns nas extremidades ósseas que compõem articulações, como aquelas situadas no joelho, nos punhos e nos cotovelos (GUEDES; GUEDES, 1998). 3.8 Dobras cutâneas As sobras cutâneas são formadas por uma camada dupla de pele e gordura subcutânea medida com um adipômetro. Uma vez que a pele humana tem somente 0,5 a 2 mm de espessura, a medida equivale basicamente à quantidade de gordura subcutânea, sendo usada como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. Essa é uma medida usual para quantificar a gordura corporal total, já que cerca da metade da gordura corporal se encontra na região subcutânea (GUEDES; GUEDES, 1998). Ao analisarmos a composição corporal, as medidas utilizadas geralmente têm como objetivo estimar o peso ou a proporção entre os diferentes tecidos que compõem o corpo humano. Como vimos,são diversos os 21 métodos para realizar as estimativas da composição corporal. Na seção seguinte, você conhecerá algumas delas. 3.9 Métodos de avaliação da composição corporal Entre os métodos diretos e indiretos de avaliação da composição corporal, alguns são realizados em laboratórios, como é o caso da hidrodensitometria e da plestimografia, por necessitarem de equipamentos sofisticados e caros, e outros podem ser realizados em diversos ambientes, não necessitando de maquinário específico para a obtenção das medidas. Entre as diferentes possibilidades, o profissional de educação física deve eleger o que melhor atende as suas necessidades, identificando os limites e possibilidades de cada um dos métodos. A seguir, você conhecerá alguns dos principais métodos de avaliação da composição corporal. https://cienciadotreinamento.com.br 3.10 Métodos indiretos de avaliação da composição corporal Hidrodensitometria A hidrodensitometria, também chamada de pesagem hidrostática ou subaquática, é um método indireto recorrentemente utilizado e considerado o padrão- 22 ouro na determinação da composição corporal em laboratórios de fisiologia do exercício. Seu princípio consiste no cálculo do percentual de gordura a partir da densidade corporal, considerando que o corpo humano é formado por dois componentes: massa de gordura e massa livre de gordura (GOING et al., 2003). Baseia-se no princípio do matemático grego Arquimedes, segundo o qual um objeto parcialmente ou totalmente submerso experimenta uma força de empuxo ascendente igual ao peso ou volume de fluído deslocado pelo objeto. Com base nesse princípio, a densidade de qualquer objeto, incluindo o corpo humano, ao ser submerso e verificada a quantidade de água que se desloca por empuxo, pode ser calculada. Para o cálculo da densidade corporal pela técnica de pesagem histrostática, o indivíduo deve ser pesado fora da água e, em seguida, dentro da água. Na pesagem submersa, o avaliado deve realizar uma expiração máxima tentando eliminar o máximo de ar possível dos pulmões. Isso é necessário porque o ar no interior do corpo pode alterar a densidade corporal real. Sabendo o valor da densidade corporal, é possível estimar o percentual de gordura corporal, que é o principal objetivo da avaliação da composição corporal. Utiliza-se o valor obtido pela pesagem hidrostática por meio de fórmulas matemáticas propostas por Siri (1961) e Brozek et al. (1963). Essas equações consideram, para estimar a densidade corporal, a massa corporal do indivíduo, a massa do indivíduo, enquanto submerso, a densidade da água na temperatura em que o protocolo é aplicado, o volume residual e o volume gastrointestinal. O quantitativo de gordura corporal é obtido por meio de outra fórmula, na qual se considera a densidade corporal. Plestimografia A plestimografia é um método indireto que estima o volume corporal a partir do deslocamento de ar com base na relação inversa entre pressão e volume (lei de Boyle). Após calcular o volume, é possível aplicar os princípios da densitometria tal qual a pesagem subaquática para determinar a composição corporal por meio da densidade corporal (BAUMGARTNER; JACKSON, 2012). O equipamento da plestimografia é feito de fibra de vidro e é ligado a um computador que possui um sotfware capaz de determinar as variações no volume de ar e na pressão no interior da câmara. Para a execução da técnica, em um primeiro 23 momento, é calculado o volume de ar dentro da câmara vazia. Em seguida, o indivíduo entra na câmara e desloca um volume de ar igual ao volume do seu corpo. Segundo a lei de Boyle, o volume é inversamente proporcional à pressão. Assim, como o volume de ar na câmara diminui com a entrada do sujeito, a pressão no interior da câmara aumenta. A pressão do ar é registrada pelo software do aparelho e o volume corporal é calculado indiretamente, subtraindo-se o volume de ar restante dentro da câmara quando o sujeito está dentro do volume de ar na câmara vazia. É importante que, durante a avaliação, o indivíduo esteja descalço e usando o mínimo possível de roupa para não alterar o resultado (ELLIS, 2000; VIEIRA, 2004). Absorciometria de raios X de energia dupla (DEXA) A absorcimetria de raios X de energia dupla (DEXA) é um método indireto que foi inicialmente desenvolvido para avaliar o conteúdo mineral ósseo em doenças como a osteoporose. Seu princípio é o uso de raios X de energia dupla e atualmente é considerado uma técnica precisa e reprodutível para avaliar a composição corporal. Esse método fornece informações não apenas sobre o percentual de gordura, mas também sobre as medidas parciais e totais do corpo, sobre a densidade mineral óssea, o teor de gordura e a quantidade de tecido magro do organismo. O DEXA é uma técnica de “escaneamento” que mede as diferentes atenuações de dois raios X que passam pelo corpo. O princípio básico da absorciometria é a utilização de uma fonte de raio X com um filtro que converte um feixe de raio X em picos fotoelétricos de baixa e alta energia que atravessam o corpo do indivíduo. Conforme atingem as partes do corpo, os raios X sofrerão diferentes atenuações de acordo com a densidade do componente avaliado (por exemplo, ossos e músculos). A medida das diferentes atenuações dos picos fotoelétricos pelo aparelho é usada para estimar a composição dos diferentes compartimentos corporais, como o conteúdo mineral ósseo e os tecidos moles (LEITE, 2004). Para a execução da técnica, o indivíduo avaliado deve deitar em posição supina sobre a mesa. Os raios X são emitidos por uma fonte que passa por baixo do sujeito e atravessa todo o seu corpo. Os raios X atenuados são medidos por um detector 24 localizado na parte superior do braço de varredura. Os dados são transferidos para o software do computador, que consegue digitalizar a imagem gerada, diferenciar os picos de energia e convertê-los para estimar a composição corporal (LEITE, 2004). O DEXA é considerado um método não invasivo e seguro para medir três componentes corporais: massa óssea, massa gorda e massa livre de gordura. Além disso, vem sendo reconhecido como um método de referência na análise da composição corporal. As desvantagens da metodologia consistem no custo elevado do equipamento, na necessidade de profissionais aptos a interpretar os resultados e na exposição do avaliado à radiação, o que pode ser um fator limitante para crianças e gestantes, por exemplo. 3.11 Métodos duplamente indiretos de avaliação da composição corporal Índice de massa corporal (IMC) O IMC é um método duplamente indireto que consiste em utilizar a estatura e o peso para estimar valores críticos de gordura nos quais aumentam os riscos de doenças. Para calculá-lo, divide-se o peso corporal pelo quadrado da estatura. Embora esse método não especifique o quantitativo de gordura ou massa magra, sendo essa sua grande fragilidade, é um importante instrumento para avaliação em saúde pública, já que é um meio de fácil identificação da obesidade ou dos índices de subnutrição em grandes populações. Em saúde pública, o IMC é utilizado para identificar casos de subnutrição e para avaliar a efetividade de programas de intervenção nutricional. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que valores de IMC acima do limite superior de aceitabilidade estão relacionados ao aumento da morbidade (maior chance de desenvolver doenças, principalmente doenças cardiovasculares) e também da mortalidade. Há um aumento no excesso de mortalidade (ou seja, há um número maior de mortes do que o esperado para a população) conforme aumenta o valor do IMC. O aumento significativo no risco de morte começa com um IMC de 27,3 para mulheres e 27,8 para homens, níveis definidos, em 1985, pelo Instituto Nacional de Saúde, como de obesidade(GONÇALVES; 2019). 25 Apesar de o IMC apresentar bons resultados para avaliações populacionais, esse método não é o mais recomendado para a avaliação clínica individual de monitoramento de peso, por exemplo. Isso acontece porque é importante diferenciar se o peso corporal é formado por músculos ou gordura. Como o IMC não leva em consideração as quantidades proporcionais dos diferentes componentes corporais, não é possível identificar se as mudanças observadas estão na gordura ou na massa corporal magra. Atletas com uma grande quantidade de massa muscular podem facilmente entrar nas categorias de risco se só o IMC for levado em consideração. Outra falha importante desse método é que o IMC não é capaz de identificar onde está localizada a gordura corporal, o que é importante devido à sua associação com doenças cardiovasculares. No Quadro 3, a seguir, você pode identificar as classificações conforme o IMC. Quadro 3. Classificação do IMC para indivíduos adultos IMC Classificação Risco de doença < 18,5 Magro ou abaixo do peso Normal ou elevado 18,5–24,9 Normal ou eutrófico Normal 25–29,9 Sobrepeso ou pré-obeso Pouco elevado 30–34,9 Obesidade Elevado Para melhor compreender como ocorre o cálculo do IMC, considere o exemplo de 26 35–39,9 Obesidade Muito elevado > 40,0 Obesidade grave Muitíssimo elevado Fonte: Adaptado de ABESO (2016). Relação cintura-quadril Hoje em dia, sabe-se que, além da quantidade total de gordura corporal, o modo como as pessoas armazenam essa gordura influencia o risco de doenças crônicas. Por isso, como a localização da gordura é um fator importante, as pessoas são divididas em dois grupos de acordo com a distribuição da sua gordura corporal. Indivíduos androides são aqueles que armazenam gordura principalmente no tronco e na região abdominal e são conhecidos por sua forma de maçã. Já indivíduos genoides armazenam gordura ao redor do quadril e das coxas, o que cria um formato de pera (GONÇALVES, 2019). Indivíduos obesos com gordura abdominal (androides) têm maior risco de desenvolver doença cardíaca, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tipo II do que indivíduos obesos com quantidades similares de gordura armazenada no quadril e nas coxas (genoides). Além disso, indivíduos com muita gordura abdominal localizada ao redor dos órgãos internos (gordura visceral abdominal ou intra-abdominal) estão em ainda maior risco do que aqueles com gordura localizada embaixo da pele (gordura subcutânea). Isso acontece porque a gordura localizada no abdômen pode comprometer o funcionamento dos órgãos, como o fígado, o pâncreas, os rins e o intestino (AVERY, 1991; LEAN; HAN, 1995). Um trabalho de Kaplan (1989) mostrou que essa gordura contribui para o aumento dos níveis de LDL e triglicerídeos no sangue, o que pode aumentar a pressão arterial e os riscos de diabetes, infarto e AVC. As mulheres com esse tipo de gordura corporal também têm propensão a desenvolver câncer de mama, cólon e útero (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998). Por muito tempo, a relação das medidas entre cintura e quadril foi utilizada como forma de estimar o risco para a saúde com base no padrão individual de distribuição de gordura, que permite identificar indivíduos em maior risco distinguindo uma obesidade androide de uma obesidade genoide. Para isso, o avaliador deve 27 medir com fita métrica o perímetro do quadril e dividir o valor encontrado em centímetros pelo perímetro da cintura. Na Figura 2, a seguir, você poderá observar os valores de referência para a relação cintura-quadril e sua relação com o risco do desenvolvimento de doenças associadas ao padrão de disposição de gordura de acordo com a idade e o gênero. Bioimpedância A bioimpedância é uma técnica bastante utilizada por permitir a avaliação não apenas da massa magra (ossos, músculos e órgãos) e da massa adiposa (gordura), mas também da quantidade total de água corporal. Além disso, apresenta a vantagem de ser um método não invasivo, indolor, preciso, seguro, que fornece resultados imediatos e que não requer profissionais altamente especializados. O princípio do método de bioimpedância consiste na passagem de uma corrente elétrica de baixa intensidade pelo corpo e na medida da resistência ao impulso elétrico (ou impedância). Com essa técnica, é possível diferenciar a massa magra da massa gorda, pois, enquanto músculos, sangue e vísceras são bons condutores de energia devido à grande quantidade de água e eletrólitos, a gordura é 28 um mal condutor. Assim, a impedância (ou resistência à corrente elétrica) será diretamente proporcional ao percentual de gordura corporal (WAGNER; HEYWARD, 1999). Dessa forma, indivíduos com muita musculatura terão uma impedância menor do que indivíduos com uma grande quantidade de tecido adiposo. Apesar de possuir diversas vantagens, a técnica de bioimpedância apresenta algumas limitações. A principal delas é que o resultado da análise pode ser influenciado por diversos fatores, como o tipo do instrumento, a colocação adequada do eletrodo e a temperatura ambiente. O ciclo menstrual e algumas patologias, como alterações no rim e no fígado, também podem comprometer a análise. Indivíduos portadores de marca-passo, por exemplo, não podem ser submetidos ao teste. Além disso, o sucesso da bioimpedância depende muito da colaboração do avaliado, que não pode apresentar alterações de hidratação antes do teste. Por isso, a quantidade de líquidos e alimentos ingeridos, bem como a atividade física, são fatores que devem ser observados no dia da avaliação (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000). Medida das dobras cutâneas Uma das avaliações antropométricas mais utilizadas para a determinação da composição corporal envolve a medida de dobras cutâneas em locais previamente selecionados (PLOWMAN; SMITH, 2011). As dobras cutâneas são formadas pela pele mais o tecido adiposo entre as camadas paralelas da pele. A avaliação da composição por meio dessa medida baseia-se no princípio de que a quantidade de gordura subcutânea é proporcional à gordura corporal total; assim, essas medidas são utilizadas para estimar a adiposidade corporal (LOHMAN, 1981; MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998). Devido a oscilações do volume de gordura corporal de acordo com a região do corpo, é necessária mensuração das dobras de várias regiões do corpo para um cálculo apropriado (GUEDES; GUEDES, 2006). Para a mensuração das dobras cutâneas, existem vários protocolos de medidas que podem ser utilizados (GUEDES; GUEDES, 2006, PETROSKI, 2009, LOHMAN, 1986). No entanto, uma limitação da utilização de diferentes protocolos é que a comparação entre diferentes grupos acaba não podendo ser realizada. Nesse contexto, buscando a padronização de medidas antropométricas, a ISAK (International Society for the Advancement of Kineantropometry — Sociedade Internacional para o Avanço da Antropometria) vem buscando estabelecer referências 29 de medidas. Para a mensuração da espessura das dobras cutâneas, utiliza-se um equipamento específico, denominado compasso de dobras, espessímetro, adipômetro ou plicômetro (Figura 3) (BENEDETTI; PINHO; RAMOS, 2009). Como você pode ver, existem diferentes formas de realizar a avaliação da composição corporal. Algumas delas apresentam maiores limitações quanto à generalização e quanto à classificação; outras, quanto aos compartimentos corporais aos quais se restringem. Assim, o profissional deve conseguir escolher o melhor método para realizar a avaliação antropométrica. A seguir, você conhecerá como se realiza, na prática, uma avaliação cineantropométrica. Avaliação cineantropométrica Considerando que os protocolos da ISAK vêm sendo amplamente utilizados, você conhecerá, neste tópico, como são realizadas as medidasde dobras cutâneas por meio desse método. Antes de proceder à avaliação propriamente dita, você deve ao conhecimento anatômico, que é fundamental para a realização da medida das dobras cutâneas. Além disso, conforme apontado por Benedetti, Pinho e Ramos (2009) e pelas recomendações da ISAK, é importante seguir algumas recomendações antes de iniciar a avaliação, como as seguintes: 30 calibrar o equipamento; efetuar a marcação exata do ponto de referência anatômico; medir sempre no lado direito do avaliado; separar o tecido adiposo ou subcutâneo do tecido muscular por meio dos dedos polegar e indicador; ajustar as extremidades do equipamento sobre o ponto anatômico. aguardar o instrumento exercer a pressão (~2 segundos) na dobra e depois efetuar a leitura do resultado obtido; realizar três medidas não consecutivas. Isso deve ser respeitado, pois a pele demora cerca de 45 segundos para voltar ao normal após a compressão; caso existam diferenças entre as três medidas (de 5 a 10%), deve-se realizar uma quarta mensuração. Além disso, deve-se obter a média para que os valores extremos sejam eliminados. A medida das dobras cutâneas pode ser realizada em mais de 20 lugares diferentes. No entanto, as mais utilizadas e já validadas para predição do percentual de gordura são as dobras cutâneas do tríceps, a subescapular, do bíceps, da crista ilíaca, dobra supraespinal, dobra abdominal, da coxa e dos gastrocnêmios. Tríceps Referência anatômica: exatamente no meio do processo acromial da escápula e o processo olécrano da ulna (Figura 4). 31 Essa medida deve ser realizada com a mão do avaliado na posição supinada. A medida é realizada na posição vertical. Posição do avaliado: o sujeito deve permanecer em uma postura relaxada, com o braço esquerdo relaxado ao lado do corpo. O braço direito, em que a medida é realizada, deve estar relaxado, com a articulação do ombro levemente rotacionada externamente e o cotovelo estendido ao lado do corpo (GONÇALVES, 2019). Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se em pé, atrás do sujeito. Subescapular Referência anatômica: a referência anatômica deve ser medida 1 cm abaixo do ângulo inferior da escápula, em ângulo de 45º em relação ao eixo longitudinal do corpo (Figura 5). A medida é realizada na posição oblíqua. Posição do avaliado: o avaliado deve permanecer em uma posição em pé com os dois braços relaxados ao longo do corpo. Em casos de dificuldade para 32 localização do ponto de referência, como no caso de avaliados obesos, pode-se solicitar que o avaliado execute uma hiperextensão do ombro, posicionando a mão logo abaixo das escápulas, já que esse movimento obrigatoriamente elevará a escápula (GUEDES; GUEDES, 2006; BENEDETTI; PINHO; RAMOS, 2009). Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se em pé, atrás do sujeito. Bíceps Referência anatômica: essa medida é realizada no mesmo nível horizontal da medida do tríceps, ou seja, na mesma linha da medida do tríceps (Figura 6). A medida é realizada na posição vertical. Posição do avaliado: o avaliado deve permanecer em uma postura relaxada, com o braço esquerdo relaxado ao lado do corpo. O braço direito, no qual a medida é realizada, deve estar relaxado, com a articulação do ombro levemente rotacionada externamente e o cotovelo estendido ao lado do corpo (GONÇALVES; 2019). Dobra cutânea — bíceps. 33 Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se em pé, atrás do sujeito. Suprailíaca Referência anatômica: imediatamente acima da marcação que corresponde à crista ilíaca, na linha ilioaxilar. Para realizar a marcação, o avaliado deve colocar a mão direita no ombro esquerdo. A linha da dobra cutânea geralmente é ligeiramente descendente posterior-anterior, conforme determinado pelas dobras naturais da pele. Posição do avaliado: o sujeito deve abduzir o braço direito ou apoiá-lo no tronco, descansando-o com a mão direita no ombro esquerdo. O braço esquerdo deve permanecer relaxado ao lado do corpo. Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se do lado direito do avaliado. Abdominal 34 Referência anatômica: a medida é feita a 5 cm da linha média da cicatriz umbilical (à direita da cicatriz umbilical) (Figura 8). A dobra cutânea é mensurada na posição vertical (GONÇALVES; 2019). Posição do avaliado: o sujeito deve permanecer em uma posição em pé com os dois braços relaxados ao lado do corpo. Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se à frente do avaliado. Para a realização dessa medida, é particularmente importante que você tenha certeza de que a compreensão inicial é firme, pois, muitas vezes, a musculatura subjacente é pouco desenvolvida. Se esse cuidado não for observado, pode resultar em uma subestimação da espessura da camada subcutânea de tecido (GONÇALVES, 2019). Coxa média Referência anatômica: a medida é feita no ponto correspondente à meia distância entre a dobra inguinal e o ponto patelar. O ponto patelar é medido como o Figura 8. 35 ponto médio na região posterior do bordo superior da patela. A dobra cutânea é mensurada na posição vertical (Figura 9). Posição do avaliado: o avaliado deve permanecer sentado na ponta de um banco, com a perna estendida e relaxada e as mãos sustentando os isquiotibiais, ou seja, apoiando a parte posterior da coxa. Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se ao lado direito do aliado (GONÇALVES, 2019). Considerando que, às vezes, essa medida é difícil de ser realizada, pode ser feita com a ajuda de outro avaliador. Perna medial (panturrilha) Referência anatômica: a medida é feita no ponto mais medial ao nível do perímetro máximo da panturrilha e na vertical (Figura 10). O local marcado deve ser visualizado de frente para garantir que o ponto mais medial tenha sido corretamente identificado Dobra cutânea — coxa média. 36 Posição do avaliado: o avaliado deve permanecer sentado ou com o pé sobre uma caixa de forma que o joelho forme um ângulo de 90º. Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se à frente e do lado direito do avaliado (GONÇALVES, 2019). No protocolo de medidas de dobras cutâneas da ISAK, a medida da axilar média não é realizada. No entanto, considerando que essa medida é utilizada em algumas fórmulas de predição, vamos apresentar o protocolo dessa medida sugerido pelos autores Benedetti, Pinho e Ramos (2009). Axilar média Referência anatômica: a medida é realizada no ponto que corresponde à intersecção entre a linha axilar média e uma linha imaginária transversal na altura da junção xifoesternal (Figura 11). A medida é realizada de forma levemente oblíqua ao eixo longitudinal. 37 Posição do avaliado: o avaliado deve permanecer em uma posição relaxada, com o braço direito ligeiramente abduzido e deslocado para trás. Posição do avaliador: o avaliador deve posicionar-se à frente e do lado direito do avaliado (GONÇALVES, 2019). Calculando o percentual de gordura As medidas das dobras cutâneas, por si só, não são suficientes para que possamos identificar a densidade ou a quantidade de gordura corporal. É preciso, portanto, utilizar seus valores absolutos ou por equações de regressão para o cálculo de densidade corporal e para calcular o percentual de gordura corporal. A soma das dobras cutâneas, juntamente com gênero e idade (que são conhecidos como preditores significativos de gordura corporal), é usada em uma análise de regressão,que calcula uma equação de predição para estimar a densidade corporal e a porcentagem de gordura corporal (MILLER, 2012). Assim, o primeiro passo após a mensuração das dobras cutâneas é eleger qual equação de regressão será utilizada para calcular a densidade corporal. Dentre as inúmeras equações, as propostas por Durnin e Womerstey (1974), Faulkner (1968) e Petroski (2009) apresentam-se como bem aceitas e bastante utilizadas. É importante destacar que a 38 medida de dobras cutâneas é mais precisa quando são utilizadas equações de predição que se aproximam da população que está sendo testada. Ou seja, se a equação foi desenvolvida com um grupo de crianças americanas do sexo feminino, deve ser utilizada com o mesmo grupo. Isso deve ser pensado para minimizar os erros de predição e garantir resultados mais próximos da realidade (GONÇALVES, 2019). Outro aspecto que deve ser observado quando você for avaliar a composição corporal é o número de locais em que a medida de dobra cutânea será realizada. Isso ocorre porque, como veremos a seguir, existem modelos de predição que precisam de 3, 4 ou 7 dobras cutâneas para calcular o percentual de gordura. O Quadro 4, a seguir, aponta algumas das principais fórmulas utilizadas para calcular a densidade corporal. Quadro 4. Fórmulas para o cálculo de densidade corporal Dobras cutâneas utilizadas População Fórmula Autor Tríceps, crista, ilíaca, coxa Geral; mulheres Dc = 1,099421 – 0,0009929 (∑3 DC) + 0.0000023 (∑3)2 – 0.0001392 (idade Jackson et al. (1980) Bíceps, tríceps, subescapular, crista ilíaca Homens e mulheres de 20 a 29 anos Dc = 1,1631 – 0,0632 (Log da ∑4 DC) Durnin; Womersley (1974) Bíceps, tríceps, sub escapular, crista ilíaca Homens e mulheres de 30 a 39 anos Dc = 1,1422 – 0,0544 Log da ∑4 DC) Durnin; Womersley (1974) Coxa, subescapular, crista ilíaca, tríceps, peitoral, abdominal, axilar Mulheres Dc = 1,0970 – 0,00046971 (∑7 DC) + 0,00000056 (∑7 DC)2 – 0.00012828 (idade) Jackson et al. (1980) Coxa, subescapular, crista ilíaca, tríceps, peitoral, abdominal, axilar Homens Dc = 1,112 – 0.00043499 (∑7 DC) + 0,00000055 (∑7 DC)2 – 0.00028826 (idade Jackson; Pollock (1978) Tríceps, subescapular, crista ilíaca, panturrilha media Homens de 18 a 66 anos Dc = 1,10726863 – 0,00081501 (∑4DC) + 0,00000212 (∑4DC)2 – 0,00041761 (idade) Guedes; Guedes (2006) 39 Tríceps, subescapular, crista ilíaca, panturrilha medial Mulheres de 18 a 51 anos Dc = 1,02902361 – 0,00067159 (∑4DC) + 0,00000242 (∑4DC)2 – 0,00026073 (idade) – 0,00056009 (MC) + 0,00054649 (estatura) Guedes; Guedes (2006) Dc = Densidade corporal. ∑ = Somatória. Log = Logaritmo. DC = Dobra cutânea. MC = Massa corporal. Fonte: Adaptado de Heyward e Stolarczk (2000). Uma vez que a densidade corporal tenha sido determinada, o percentual de gordura corporal pode ser calculado por meio das fórmulas de conversão, propostas por Siri (1956) e Brozek et al. (1963), para estimar o percentual de gordura, onde Dc = densidade corporal. Equação de Siri = (4,95 / Dc – 4,50) × 100 Equação de Brozek = (4,57 / Dc – 4,142) × 100 Exemplo Para melhor compreender como calcular a gordura corporal a partir das dobras cutâneas, utilizaremos como exemplo uma mulher de 50 anos, de 69 kg e 176 cm de estatura, e a fórmula elaborada por Guedes e Guedes (2006), que considera as medidas das dobras do tríceps, subescapular, crista ilíaca, e da panturrilha. Dobra cutânea — tríceps: 11,1 mm; Dobra cutânea — subescapular: 8,1 mm; Dobra cutânea — crista ilíaca: 9,3 mm; Dobra cutânea — panturrilha: 7,9 mm. Fórmula a ser empregada: Dc = 1,02902361 – 0,00067159 (∑4DC) + 0,00000242 (∑4DC)2 – 0,00026073 (idade) – 0,00056009 (MC) + 0,00054649 (estatura) Dc = 1,02902361 – 0,00067159 (11,1+8,1+9,3+7,9)+ 0,00000242 (11,1+8,1+9,3+7,9)2 – 0,00026073 (30) – 0,00056009 (69) + 0,00054649 (176) Dc = 1,02902361 – 0,00067159 (36,4) + 0,00000242 (36,4)2 – 0,00026073 (30) – 0,00056009 (69) + 0,00054649 (176) Dc = 1,02902361 – 0,024445876 + 0,0032064032 – 0,0078219 – 0,03864621 + 0,09618224 Dc = 1,0574982672 40 Agora, utilizamos a equação de Siri para chegar ao percentual de gordura corporal. % Gordura corporal = (4,95/Dc – 4,50) × 100 % Gordura corporal = (4,95/1,0574982672 – 4,50) × 100 % Gordura corporal = (4,680858733798595 – 4,50) × 100 % Gordura corporal = 0,180858733798595 × 100 % Gordura corporal = 18,0858733798595 Agora que você já entendeu como o percentual de gordura é calculado, é importante classificar o resultado para saber em qual estado de saúde o indivíduo avaliado se encontra. Para isso, existem tabelas de referência disponíveis na literatura que podem ser utilizadas para esse fim. Assim como acontece com as fórmulas, também existem diferentes tabelas de classificação, umas mais simples e outras mais completas (GONÇALVES, 2019). Nesse contexto, observe as duas tabelas de referência: Quadro 5. Classificação da gordura corporal Homens Mulheres Muito baixo ≤ 5% < 8% Abaixo da média 6–14% 9–22% Média 15% 23% Acima da média 16–24% 24–31% Muito alto ≥ 25% > 32% Fonte: Adaptado de Nieman (2009). Outra forma de classificação é a proposta pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte e apresenta-se como uma das mais utilizadas tanto no meio científico quanto em avaliações em academias e clubes, estando relacionada às diferentes faixas etárias (GONÇALVES, 2019). Quadro 6. Classificação da gordura corporal Homens 20–29 30–39 40–49 50–59 60+ Gordura essencial 2–5 2–5 2–5 2–5 2–5 41 Excelente 7.1–9.3 11.3–13.8 13.6–16.2 1 15.3–17.8 15.3–18.3 Bom 9.4–14 13.9–17.4 1 16.3–19.5 1 17.9–21.2 18.4–21.9 Média 14.1–17.5 17.5–20.4 1 19.6–22.4 21.3–24 22–25 Acima da média 17.4–22.5 20.5–24.1 22.5–26 24.1–27.4 25–28.4 Ruim > 22.4 > 24.2 > 26.1 > 27.5 > 28.5 Fonte: Adaptado de ACSM (2006) A partir da classificação obtida, é possível identificar o estado geral do avaliado quanto à sua quantidade de gordura corporal. Utilizando o exemplo anterior e considerando a classificação da ACSM, podemos constatar que a mulher avaliada se encontra classificada como “bom”. Com isso, fica mais fácil prescrever exercícios baseados nos resultados e nos objetivos do seu indivíduo, acompanhando os efeitos do treinamento por meio da repetição das medidas. Nesse sentido, é imprescindível a correta realização dos métodos de avaliação da composição corporal pelos profissionais de educação física, identificando aquele que melhor se adapte aos seus objetivos (GONÇALVES, 2019). 4 PLANEJAMENTO DE AVALIAÇÕES A avaliação física não corresponde apenas ao momento do teste em si, quando as capacidades físicas ou a composição corporal são mensuradas, resultando em dados numéricos: antes da aplicação do teste, alguns cuidados devem ser tomados e registrados para que o avaliado não seja exposto a riscos desnecessários ou que possam comprometer a sua saúde. Neste capítulo, você conhecerá alguns elementos que devem preceder as avaliações físicas e os elementos que constituem programas de avaliações voltados ao desempenho e à saúde. 4.1 Rotina de preparação e aplicação dos testes de avaliação física A aplicação de testes envolve os momentos que precedem as atividades que o compõem. Muitos profissionais desavisados, ao realizarem uma avaliação física, 42 buscam identificar rapidamente os resultados, direcionando os avaliados sem nenhuma atitude prévia aos testes. No entanto, antes da aplicação de um teste, é importante que o profissional de educação física esteja atento a alguns cuidados. 4.2 Cuidados para a aplicação de testes de avaliação física Os testes de avaliação física, em sua maioria, requerem que o avaliado seja submetidoa esforços físicos, seja na realização de tarefas que envolvem as capacidades cardiorrespiratórias, a agilidade ou até mesmo o impacto causado em trotes e corridas. Por esse motivo, antes da avaliação propriamente dita, é importante que seja realizado um levantamento acerca de informações preliminares sobre o avaliado. Além disso, é importante que o profissional de educação física consiga orientar o avaliado em todas as suas tarefas, desde aquelas que realiza em períodos anteriores ao teste como quando o teste propriamente dito é realizado (GUEDES; GUEDES, 2007). Os avaliadores, ao considerarem algum sujeito para que seja realizada determinada avaliação física, devem seguir alguns preceitos, entre os quais se destacam os listados a seguir (UNESCO, 2013). Explicação e demonstração: o teste em questão deve sempre ser cuidadosamente explicado e o avaliador deve ter certeza de que os procedimentos a serem realizados foram compreendidos pelo avaliado. Além disso, se possível, deve- se demonstrar como o teste é realizado antes da primeira tentativa do avaliado. Deve- se orientar, também, sobre a vestimenta que o avaliado deve utilizar e o procedimento de todo o teste, para que momentos de constrangimento não ocorram. Atenção ao período de avaliação: os testes e retestes devem ser desenvolvidos nos mesmos horários. Por isso, é importante que o avaliador estabeleça, em conjunto com o avaliado, o cronograma de avaliações que serão realizadas em determinado período ou programa de treinamento. Atenção às atividades anteriores ao teste: é importante que o avaliado não realize atividades físicas extenuantes nos momentos e dias anteriores à aplicação do teste. Nesse sentido, é papel do avaliador comunicar ao avaliado quando serão realizadas as avaliações, para que o resultado seja o mais fidedigno ao estado do avaliado. 43 Não realizar o teste em jejum ou em estado de desidratação: muitos testes de aptidão física são realizados em conjunto com a avaliação antropométrica. Por esse motivo, é comum que os avaliados se submetam às atividades em jejum ou desidratação, de modo que os resultados, principalmente quando relacionados à busca da perda de peso corporal, sejam mais evidentes. O profissional deve certificar- se, portanto, de que o avaliado tenha realizado refeições adequadas no período anterior à aplicação do teste. Também deve evitar submeter o avaliado aos testes físicos quando ele se encontrar em estado de enfermidade, como no caso de gripes, febres ou resfriados. Utilização do mesmo avaliador: sempre que possível, um mesmo teste deve ser desempenhado pelo mesmo avaliador. A presença do avaliador que recorrentemente realiza a testagem permite a maior confiança do avaliado e o conhecimento acerca das particularidades envolvidas. Além disso, sempre que possível, os testes devem ser realizados por mais de um avaliador, pois, em testes que se deve mensurar e anotar, o trabalho fica mais prático na presença de dois avaliadores. Avaliação em mulheres: em mulheres, deve-se procurar realizar os testes e retestes nas mesmas fases dos diferentes períodos menstruais. Além disso, deve-se evitar a realização nos períodos de 7 a 11 dias após o início da menstruação. 4.3 Anamnese A anamnese consiste em uma entrevista do avaliador realizada com o avaliado. Nessa entrevista, são rememorados os principais eventos relacionados à saúde de cada um dos sujeitos. É importante que o avaliador considere uma anamnese sempre que for aplicar o teste em alguém, lendo atentamente os dados mencionados. Uma boa anamnese consiste em três partes. A primeira parte está relacionada aos aspectos gerais do avaliado, como o nome, o peso, a estatura, os hábitos de vida e os históricos de doenças familiares. A segunda parte refere-se aos aspectos nutricionais, como aqueles relacionados ao quantitativo de refeições, a ingestão ou não de bebidas alcóolicas, a ingestão calórica diária, entre outros. A terceira parte diz respeito aos aspectos relacionados à atividade física, como a prática de algum esporte específico, a frequência semanal, a duração das seções e as preferências. Veja, a seguir, um exemplo de ficha de anamnese. 44 Exemplo Anamnese Nome: __________________________________________ Nasc.: ____ /____ /____ Naturalidade: _________________________ Nacionalidade: ________________ Endereço: _________________________________________________________ Fone: _____________ (Res.) _____________ (Cel) E-mail: ___________________ Peso: ________ kg. Estatura: ________ m. Qual é o seu objetivo? Pratica atividade física? □ Sim □ Não Qual(is) e há quanto tempo? Quantas vezes por semana? Se não pratica, já praticou? □ Sim □ Não Qual(is) e por quanto tempo? E a quanto tempo deixou de praticar? Faz quantas refeições por dia? □ 1 □ 2 □ 3 □ 4 □ 5 □ Mais de 5 Faz dieta ou suplementação alimentar? □ Sim □ Não Dorme quantas horas por noite? __________________________________________ É fumante? □ Sim □ Não Quantos cigarros por dia? __________________________________________ Se parou, há quanto tempo? __________________________________________ Consome bebida alcoólica? Quais? __________________________________________ Com que frequência semanal? _______________________________________ Tem ou teve recentemente uma ou mais das patologias abaixo: □ Problemas cardíacos □ Problemas pulmonares □ Tonturas □ Hipertensão □ Bronquite □ Asma □ Colesterol elevado □ Glicose elevada □ Diabetes □ Convulsões □ Fratura óssea □ Cirurgia □ Dor de cabeça frequente A anamnese busca, portanto, coletar informações acerca do avaliado, sendo um guia para os testes físicos. Além disso, consiste também em uma importante ferramenta para o início dos programas de treinamento. Não existe uma anamnese correta ou errada e, por isso, o profissional de educação física deve conseguir elaborar um questionário que consiga coletar informações suficientes de acordo com os objetivos que busca com o sujeito que o responde. 45 4.4 Questionário de prontidão para a prática de atividade física (PAR-Q) Os questionários de prontidão para a prática de atividades físicas são instrumentos que buscam identificar possíveis problemas de saúde que se apresentam como riscos à prática de exercícios físicos. Embora existam muitos desses instrumentos, o mais comum deles e recorrentemente aplicado é o questionário de prontidão para a atividade física PAR-Q (sigla, em inglês, para Physical Activity Readiness Questionnaire) (SHEPARD; COX; SIMPER, 1981). Esse instrumento é elaborado para identificar a necessidade de avaliação clínica e médica antes do início de qualquer atividade física. Ele é estruturado com base em sete perguntas objetivas, e o avaliado deverá responder sim ou não, conforme apresentado no Quadro 7, a seguir. Quadro 7. Questionário PAR-Q Sim Não Pergunta Alguma vez seu médico disse que você possui algum problema cardíaco e recomendou que só praticasse atividade física sob prescrição médica? Você sente dor no tórax quando pratica alguma atividade física? No último mês, você sentiu dor torácica quando não estava praticando atividade física? Você perdeu o equilíbrio em virtude de tonturas ou perdeu a consciência quando estava praticando atividade física? Você tem algum problema ósseo ou articular que poderia ser agravado com a prática de atividades físicas? Seu médico já recomendou o uso de medicamentos para controle da sua pressão arterial ou condição cardiovascular? Você tem conhecimento de alguma outra razão física que o impeça de participar de atividades físicas? Fonte: Adaptado de Shepard, Cox e Simper (1981).
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