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APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza Objetivos 1. Revisar a anatomia, a histologia e a fisiologia do intestino. 2. Identificar a etiologia e os fatores de risco das DII. 3. Compreender a fisiopatologia, as manifestações clínicas e as complicações das DII. 4. Relatar o diagnostico e condutas terapêuticas das DII. Anatomia Intestino delgado © É dividido em 3 porções 1ª porção: © Bulbo / ampola: não possui pregas e esta presa ao fígado (ligamento hepatoduodenal); neutraliza o quimo. Presa a faca visceral do fígado e é a única porção intraperitoneal. © descendente – maior porção. Possui pregas circulares. 1 ou 2 papilas. Papila maior do duodeno- união do ducto colédoco com o pancreático principal formando a ampola de vater- esfíncter de Oddi (controle muscular). Papila menor (variação) ducto de santorinni. Bile e suco pancreático são liberados. Retroperitoneal. OBS: hormônios- colecistocinina (contração do fundo e corpo da vesícula biliar) e secretina (secreção de suco pancreático). © Transversa – entre os vasos posterior (AA e VCI) e artéria mesentérica superior e veia mesentérica superior. Pode ocorrer o pinçamento devido a tantos vasos passando. Retroperitoneal. © Ascendente – transição entre duodeno e jejuno. Flexura duodenojejunal. Retroperitoneal. - Ângulo de Treitz (ligamento suspensor do duodeno), pilar do diafragma - Transição do sistema digestivo alto e baixo. Inervação: - Intrínseca (simpática)- plexos submucoso e mioentérico - Extrínseca (parassimpática)- nervo vago Vascularização: - 1º e 2° porção – artéria supraduodenal (ramo da hepática própria) - 2°, 3° e 4° porções – ramos duodenais - Veia pancreática duodenal inferior (mesentérica superior) e superior (vai para a veia porta) 2° e 3º porções – jejuno e íleo © Flexura duodenojejunal © Não há marco anatômico entre jejuno e íleo © Jejuno- mais superior © Íleo – mais inferior que faz transcrição com o ceco Intestino grosso Porções: © Ceco- inicio, unido ao íleo. Possui o apêndice cecal (que pode inflamar) © Colon ascendente © Flexura cólica direita (hepática) © Cólon transverso © Flexura cólica esquerda (esplênica) © Cólon descendente Doenças Inflamatórias Intestinais APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza © Cólon sigmóide (formato de S) © Reto © Canal anal Histologia Intestino delgado © Mucosa se divide em região formada em vilosidades – vilos – e pelas criptas. © Composto por células absortivas, células caliciformes, células de Paneth, células endócrinas. - Células absortivas: colunares com borda em escova. - Células em Paneth: citoplasma avermelhado com grânulos de lisozima, que possui atividade bactericidas no intestino delgado, com núcleo basal e citoplasma apical. - Células endócrinas: citoplasma avermelhado com grânulos, com núcleo apical e citoplasma basal. (diferenciam-se das células de Paneth pela posição do núcleo) © Componente inflamatório normal da mucosa: linfócitos e plasmócitos principalmente. Duodeno © Mais células mononucleares inflamatórias. © Glândulas submucosas de Brunner - Glandulas produtoras de muco, com citoplasma claro. © Vilos mais curtos Jejuno © Vilos mais alto © Sem glândulas de Brunner e placas de Peyer Íleo © Mais células caliciformes nas vilosidades © Placas de Peyer - Agregado linfoide, podendo formar folículo linfoide. - Na mucosa e submucosa do íleo. © Submucosa pode ter tecido adiposo proeminente Intestino grosso © Criptas APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza - Em corte longitudinal: criptas são paralelas e grande quantidade de células caliciformes. - Em cortes transversais: criptas possuem tamanhos próximos e distancia semelhante entre si. © Componente inflamatório normal da mucosa: linfócitos e plasmócitos principalmente Cólon © Sem vilos: mucosa plana © Possui criptas © Possui células absortivas, célula caliciforme © Possui células de Paneth no cólon proximal (ceco e cólon ascendente) Figura 1. Cólon Figura 2. Mucosa Figura 3. epitélio Fisiologia A motilidade intestinal é o processo pelo qual o alimento percorre o tubo digestório, propiciando sua digestão, absorção dos nutrientes e a formação da massa fecal. Intestino delgado O intestino delgado é uma parte do tubo digestório médio, situado entre o estômago e o intestino grosso, e divide-se em duodeno, jejuno e íleo e está envolvido na digestão e absorção de nutrientes. A motilidade intestinal conta com movimentos de segmentação (ou mistura) que auxiliam a misturar o quimo com as secreções no intestino durante todo o tempo. São movimentos constritivos concêntricos e localizados que duram apenas alguns segundos. Também contribuem para a motilidade os movimentos propulsivos, que empurram o alimento através do tubo alimentar permitindo a sua digestão e absorção adequada. Um anel contrátil é formado na parede muscular do intestino e percorre o tubo, impulsionando o conteúdo à sua frente. Segmentação © Entrada do alimento: © Distensão da parede intestinal; © Contrações muito próximas da camada muscular circular; © Contrações dividem o intestino delgado em pequenos segmentos vizinhos. Responsáveis pela mistura do quimo Peristaltismo: © Ondas propulsoras, contração progressiva de segmentos sucessivos do músculo liso circular; © Ondas peristálticas envolvem pequenas extensões do intestino; © Um dos principais estímulos que podem deflagrar os movimentos peristálticos é a distensão do órgão, que gera uma resposta do sistema nervoso entérico. As ondas lentas das células musculares lisa (CML) determinam o momento das contrações intestinais. As CMLS apresentam contrações espontâneas, mas também são moduladas por sinais nervosos e hormonais. Esses sinais são desencadeados por presença de quimo no duodeno, por reflexo gastroentérico (fomentado pela distensão do estômago e conduzido pelo plexo mioentérico a partir do estômago até a parede do intestino delgado) e por hormônios que aumentam (gastrina, CCK, insulina e o neurotransmissor serotonina) ou inibem (secretina, glucagon e somatostatina) a motilidade. O esfíncter ileocecal está permanentemente contraído e se abre para a transferência do que restou do quimo para o intestino grossa. Seu relaxamento, resultado da ação do plexo nervoso entérico, ocorre quando uma APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza onda peristáltica invade o íleo terminal e a abertura se dá por ativação de inervação intrínseca inibitória. Intestino grosso O intestino grosso faz parte do sistema digestório e é onde ocorre a última etapa do processo digestivo, a absorção da água e a formação da massa fecal, dividindo-se em ceco, cólon, reto e canal anal. As principais funções do cólon incluem absorção de água e eletrólitos na zona proximal e armazenamento de material fecal na zona distal. O intestino grosso apresenta movimentos lentos de mistura e propulsão. Os movimentos de mistura (ou haustrais) são contrações combinadas do músculo liso circular e longitudinal formando protrusões saculares, denominadas haustrações. Quando iniciadas atingem o seu máximo de contração em 30 segundos e desaparecem em mais 60 segundos como consequência o material fecal é lentamente empurrado e exposto a superfície do intestino grosso. Os movimentos propulsivos (ou de massa) é um tipo modificado de peristaltismo e se inicia com a formação de um anel constritivo em um ponto distendido ou irritado do cólon havendo a propagação da contração por uns 20 cm ou mais e dura por cerca de 30 segundos e há um relaxamento por 2-3 min, até surgir a próxima. Caso não haja defecação um novo grupo de movimentos de massa ocorrerá apenas 12h ou 24h depois. Os movimentos de massa são desencadeados por reflexos gastrocólicos e duodenocólicos, irritações do colón, estimulação intensa do sistema nervoso parassimpáticoe distensão exacerbada do cólon. A propulsão no ceco e cólon ascendente resultam das contrações austrais lentas, porém persistentes (8- 15h da válvula ao cólon transverso). Do início do transverso até o sigmóide, a função propulsora é devido aos movimentos de massa 1-3 vezes ao dia e mais abundantes até 15 min após as primeiras refeições. Doencas Inflamatorias intestinais O termo Doença Inflamatória Intestinal (DII) refere-se a 2 entidades clínicas distintas: a Doença de Crohn (DC) e a colite ou Retocolite Ulcerativa (RCU). São doenças crônicas de caráter inflamatório do aparelho digestivo causadas por alterações na imunorregulação intestinal, relacionadas a fatores ambienteis em indivíduos geneticamente suscetíveis. Sua diferenciação é muito importante, pois são diversas nos aspectos de evolução, tratamento e História Natural da Doença. A diferenciação entre RCU e DC é feita por meio de critérios clínicos, endoscópicos e histológicos, embora, em poucos casos, a evolução do processo nos surpreenda com um diagnóstico equivocado. Quando o diagnóstico é mudado, costuma ser de RCU para DC, o oposto quase nunca ocorre. É importante ressaltar que, em até 20% dos casos de DII, não é possível a classificação em DC ou RCU; utiliza-se, então, colite indeterminada. Etiologia APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza A DII é considera uma resposta imune inapropriada à microbiota comensal endógena no intestino, com ou sem componente de autoimunidade. Nos indivíduos com predisposição genética, os fatores endógenos (composição da microbiota) e exógenos (função de barreira das células epiteliais, função imune inata e adaptativa) se interagem. A interação desses fatores endógenos e exógenos, por sua vez, causam um estado crônico de função imune desregulada da mucosa -> os fatores ambientes específicos como tabagismo, enteropatógenos dentre outros, também são responsáveis por essa alteração. O intestino normal contem grandes quantidades de células imunes em um estado crônico denominado de “inflamação fisiológica” -> nesse estado, o intestino é impedido de elaborar respostas imunes completas à microbiota comensal e antígenos da dieta por vias regulatórias potentes. (na DII esse processo pode estar desregulado) Regulação imune defeituosa A tolerância oral é responsável pela ausência de responsividade imune à antígenos dietéticos e a microbiota intestinal, que causa supressão da inflamação. Na DII a supressão da inflamação é alterada, o que ocasiona uma inflamação descontrolada. Tanto na RCU quanto na DC, existe uma predisposição genética que causa uma via inflamatória devido ao reconhecimento e reatividade inapropriada do sistema imune inato à microbiota e também existe uma via reguladora inadequada. Essa via reguladora inadequada causa a ativação das células TCD4+ na lâmina própria, causando uma secreção de quantidades excessivas de citocinas inflamatórias que superam a quantidade de citocinas anti-inflamatórias que são produzidas. Algumas das citocinas ativadas atuam ativando macrófagos e linfócitos B, enquanto outras atuam indiretamente recrutando linfócitos, leucócitos inflamatórios e células mononucleares da corrente para o intestino por meio de interações com receptores dos leucócitos (receptores de guiamento - homing) e do endotélio vascular (adressina). Os linfócitos T auxiliares (Thelper) CD4+ que promovem a inflamação , e estão associados a colite são de três tipos: 1. Células Th1 - Secretam interferon (IFN) 2. Células Th2 - Secretam IL-4, IL-5, IL-13 3. Células Th17 - Secretam IL-17, IL-21 O uso de anticorpos para bloquear as citocinas pró- inflamatórias, ou bloqueio de moléculas que recrutam os leucócitos ou uso citocinas que inibem a inflamação e promovem células T reguladores podem ser benéficos para os seres humanos com DIl. Fatores exógenos - Nos pacientes com DII a própria microbiota intestinal tende a ser percebida como um patógeno e uma resposta inflamatória é gerada - A DII também pode ter uma etiologia infecciosa que ainda não foi definida › Espécias de Salmonella, Shigella, Campylobacter e Clostridium difficile podem desencadear a resposta inflamatória que o sistema imune é incapaz de conter - São encontradas alterações na microbiota tanto na D quanto na RCU > Agentes que alteram microbiota podem causar melhora da DC - Os eventos psicossociais e o estresse diário agudo também podem aumentar os sintomas da DIl como dor, disfunção intestinal e sangramento Retocolite Ulcerativa Fisiopatologia É caracterizada por processo inflamatório crônico do cólon e reto recidivamente e remitente que atinge a mucosa e a submucosa. Ocorre processo inflamatório limitado à mucosa e, no máximo, à submucosa. Raramente acomete toda a parede colônica. O processo inflamatório crônico determina atrofia da mucosa e seu espessamento muscular. A lesão característica ao exame anatomopatológico é o microabscesso de cripta, e a confluência dos abscessos acaba por formar úlceras, as quais delimitam áreas de mucosa normal, denominadas pseudopólipos. O acometimento da mucosa colônica inicia-se a partir APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza do reto continua em extensão variável, porém, restrito ao cólon. Raramente o íleo terminal é acometido pela retocolite, lesão do tipo back wash. Em aproximadamente 20% dos casos de DII restrita aos cólons, não se consegue distinguir RCU e DC, portanto o diagnóstico é de colite indeterminada. Existem 3 padrões de classificação para a doença, relacionados ao comprometimento intestinal: (1)Pancolite: doença de todo o cólon; 10% desenvolvem colite ulcerativa de todo o cólon; (2) Colite ulcerativa esquerda: colite localizada predominantemente do lado esquerdo e (3) Colite ulcerativa distal: doença que envolve o cólon sigmoide e o reto. Características macroscópicas © Nas variações na atividade macroscópica podem surgir áreas preservadas, mas as biopsias da mucosa de aspecto normal se encontram na verdade anormais -> É importante que se obtenha múltiplas biopsias da mucosa que aparentemente não está acometida, tanto proximal quanto distal, durante a endoscopia © O tratamento clinico efetivo pode modificar o aspecto da mucosa, de modo que áreas preservadas ou até mesmo o colo em sua totalidade apresentem aspecto microscópio normal © INFLAMAÇÃO LEVE: Mucosa fica eritematosa, possuindo uma superfície delicadamente granulosa que se assemelha a uma lixa. © INFLAMAÇÃO GRAVE: A mucosa apresenta-se hemorrágica, edemaciada e ulcerada © DOENÇA DE LONGA DURAÇÃO: Podem existir pólipos inflamatórios (PSEUDOPOLIPOS) como resultado da regeneração epitelial Características microscópicas © Os achados histológicos se correlacionam com aspecto endoscópico e evolução clinica da doença © O processo se limita a MUCOSA e SUBMUCOSA SUPERFICIAL, sem acometer as camadas mais profundas) EXCETO NA DOENÇA FULMINANTE © Aumento do infiltrado inflamatório mononuclear. © Distorção arquitetural - Cripta bifurcou e virou duas (seta azul). © Atrofia glandular - Criptas normalmente são paralelas e estão uma seguida da outra, - Há um espaço sem criptas na imagem 1, cujo espaço foi substituído por fibrose. © Metaplasia de células de Paneth - Células de paneth no reto ou sigmoide. © Atividade inflamatória: neutrófilo. - Na lâmina própria, dentro do epitélio grandular, dentro da luz da glândula. - Criptite: neutrófilo no epitélio glandular. - Microabscesso de cripta: neutrófilo na luz da glândula. APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza Manifestacoes clinicas O quadro clínico depende da extensão da doença. Caracteristicamente, a doença tem caráter contínuo, de distal para proximal ininterrupto; assim, o reto é sempre comprometido. © As crises também costumam vir com pródromos (sinais ou grupo de sintomas que pode indicar o início de uma doença antes quesintomas específicos surjam) Doença mais distal manifesta-se por: © Sangramento retal – sangue e muco © Tenesmo © Diarreia de longa duração – geralmente noturna e/ou pós-brandial © Pode apresentar sangue e dor abdominal sem grande alteração no exame físico. Na RCU do cólon esquerdo e na pancolite, geralmente, ocorre diarreia com sangue, e a presença de muco e pus é mais pronunciada. Pode haver febre, anorexia, perda de peso, taquicardia e hipotensão. Nas formas crônicas, encontramos na patologia, além de ser visto no edema opaco, encurtamento do cólon, perda das haustrações, aumento do espaço pré-sacral. Megacólon tóxico A forma fulminante de RCU, chamada megacólon tóxico, pode estar presente na DC. O megacólon tóxico manifesta-se com sintomas de taquicardia, distensão abdominal, febre e sinais de peritonite. Esse processo inflamatório muito intenso acaba comprometendo a parede colônica, o que pode levar a perfuração, principalmente no cólon transverso. Complicacoes © Câncer colo-retal © Hemorragia digestiva alta – Crohn de esôfago/estômago. Classificacao A doença é classificada de várias formas, segundo a localização e a intensidade da inflamação; a classificação de Montreal é uma delas. Além da classificação clínica, tem-se dado valor o conceito de completa histologia, com base na biópsia endoscópica, como fator preditor de remissão sustentada e de menor número de complicações. Diagnostico Associação de dados clínicos, laboratoriais e anatomopatológicos Os principais diagnósticos diferenciais de RCU são DC, colite isquêmica, colite colagenosa, colite infecciosa e outras doenças, como diverticulite, colite eosinofílica, amiloidose e processos neoplásicos de cólon. O risco de aparecimento de adenocarcinoma entre portadores de RCU está diretamente relacionado à extensão da colite – pancolite –, e é necessária a colonoscopia a cada 1 ou 2 anos com biópsias seriadas, a partir de 8 anos do início dos sintomas. O câncer associado à RCU tem comportamento geralmente mais agressivo; pode ocorrer em jovens, e, com frequência, seu desenvolvimento surge a partir do epitélio colônico com displasia grave. Assim, o achado colonoscópico de displasia grave e/ou displasia associada a massas tumorais é indicativo de tratamento cirúrgico com princípios oncológicos – margens adequadas e linfadenectomia. Tratamento Medidas gerais © Devem ser empregadas as mesmas medidas de suporte para o DC: reposição hidroeletrolítica, correção da anemia e suporte nutricional, dieta hiperproteica e hipercalórica APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza © Nutrição parenteral e enteral em casos graves e no preparo pré-operatório © A hidratação é muito importante, devido a diarreia que causa desidratação e hipocalemia Fase aguda © Administração de antibioticoterapia, principalmente em casos graves e fulminantes: Aminoglicosídeo + metronidazol + ciprofloxacino ou ampicilina © Corticoides são indicados na fase AGUDA para induzir a remissão da doença, e a dose depende gravidade recomendam-se de 40 a 60 mg/d VO de prednisona, para remissão retirada gradual -, ou hidrocortisona 100 mg IV, 3x/d, em casos muito graves -substituição por prednisona após 7 a 10 dias. © Aqueles que se mostram corticodependentes são candidatos a tratamento cirúrgico © O uso prolongado de corticoides não ajuda na evolução da doença e ocasiona efeitos colaterais, como osteoporose, úlcera péptica e síndrome de Cushing. Doença de Crohn Fisiopatologia A DC caracteriza-se por uma inflamação transmural com padrão descontínuo ou salteado dos intestinos. Pode atingir todo o tubo digestivo, mas acomete geralmente o íleo terminal e o cólon. Na fase inicial, ocorre espessamento mucoso, edematoso e hiperêmico da mucosa intestinal, resultando em minúsculas ulcerações. Quando a doença se cronifica, ocorrem úlceras, fissuras, fístulas e até abscessos intracavitários. A alça intestinal fica edemaciada, com edema também no mesentério, que costuma crescer sobre a alça em projeções digitiformes. São também comuns as aderências decorrentes de serosite. Histologicamente, na DC são observados granulomas não caseosos, acometimento transmural e reação inflamatória crônica inespecífica. Postula-se que um evento inespecífico possa funcionar como gatilho em indivíduos previamente suscetíveis, ativando uma resposta imune desregulada. Pesquisas sugerem um papel importante do fator de necrose tumoral alfa (TNF- alfa) na doença ativa. Características macroscópicas © FORMA LEVE: Apresenta ulcerações aftosas ou pequenas e superficiais ao exame endoscópico © DOENÇA MAIS ATIVA: Ulcerações estreladas que se fundem longitudinalmente transversalmente, demarcando ilhas mucosa (normais histologicamente) -> Aspecto de ESPESSAMENTO que é característico da DC no endoscópico e na radiografia © Pseudopolipos podem ser formados assim como na RCU © A DC ativa se caracteriza por inflamação focal e formação de trajetos fistulosos que desaparecem graças a fibrose e estreitamento do intestino © A parede intestinal sofre espessamento e se torna estreita e fibrótica, resultando em obstruções intestinais crônicas e recorrentes © Projeções do mesentério espessado circunda o intestino (GORDURA RASTEJANTE), e a inflamação da serosa e mesentérica facilita o surgimento de aderência e formação de fistulas Características microscópicas © Lesões precoces apresentam ulcerações aftoides e abcessos das criptas FOCAIS com agregados indefinidos de macrófagos © Formação de granulomas sem caseacão em toda parede intestinal devido ao agregado de macrófagos © Os granulomas podem ser visualizados nos linfonodos, mesentério, fígado e pâncreas © Os granulomas são elementos patognomônico da DC). Porém são encontrados raramente na biopsia da mucosa. © Ressecção cirúrgica revela granulomas em metade dos casos © Outras características histológicas: Agregados linfoides submucosos ou subserosos, longe das áreas de ulceração, áreas poupadas macroscopicamente e microscopicamente e também inflamação transmural com fissuras que penetram na parede intestinal e que podem formar trajetos fistulosos ou abcessos locais APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza Figura 4. inflamação transmural Figura 5. granuloma epitelioide Figura 6. fissuras Figura 7. pseudopólipo inflamatório Manifestacoes clinicas São bastante variáveis e caracterizam-se por inflamação transmural em qualquer parte do aparelho digestivo. O intestino delgado é o mais acometido. O quadro clínico é dependente da extensão e do segmento intestinal envolvido. A doença se caracteriza por períodos de crises entremeados por períodos de remissão. © De todos, o mais comum é a enterite, com dor abdominal, diarreia, febre e emagrecimento. © Pode cursar com manifestações extraintestinais oftalmológicas, como irite e episclerite Também podem estar presentes: acometimentos de pele, como eritema nodoso e pioderma gangrenoso; das articulações, como artrite de grandes articulações, manifestação extraintestinal mais comum da DC, e espondilite anquilosante; e acometimento das vias biliares, como colelitíase e colangite esclerosante primária; renal, como amiloidose secundária; e vascular, como tromboses venosa e arterial. As fístulas perianais complexas são características, mas a DC pode manifestar-se inicialmente com fissuras, abscessos perianais simples e fístulas simples. Divisão dos Sintomas da DC Os sintomas inflamatórios podem ser sistêmicos, como a febre baixa e a astenia, ou locais, com manifestações de enterites ou colites. Os fibroestenóticos são decorrentes da cicatrização de uma inflamação transmural, que leva à diminuição do calibre intestinal, com obstrução ou suboclusão intestinal. APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza Os fistulizantes ou perfurativos podem ser fístulas enterocutâneas,perianais ou abscessos intracavitários decorrentes da perfuração da parede intestinal. Complicacoes Dentre as complicações da DC, destacam-se: © Obstrução do intestino delgado (25 – 30%) © Fistulas em alças intestinais, Bexiga, vagina, pele e região perianal (10 – 15%) © Abcessos e peritonite. Manifestacoes extraintestinais Envolvem: © Artrite: artrite enteropática (forma periférica) e sacroleíte (com ou sem espondilite, uma forma axial da manifestação) © Hepáticas: esteatose, pericolangite, cirrose e hepatite crônica aguda, complicações no trato biliar. Diagnostico Nos exames laboratoriais, o hemograma pode demonstrar anemia e leucocitose, a velocidade de hemossedimentação e a proteína C reativa podem estar aumentadas, a albumina pode estar diminuída devido à desnutrição crônica, e os eletrólitos podem estar alterados, todos devido à atividade inflamatória exacerbada e à diarreia. Pode ser solicitada, também, coprologia, que pode evidenciar esteatorreia e leucócitos fecais presentes. A ausência de patógenos específicos reforça o diagnóstico. © Na Rx simples, podem ser vistas perfurações e dilatações de alça. Quando realizado exame contrastado, é possível ver, também, fístulas e estenoses caracteristicamente com áreas sãs entremeadas por áreas doentes – aspecto salteado. O edema opaco é útil na colite de Crohn. A tomografia computadorizada e outros métodos radiológicos de imagem seccional, como a ressonância nuclear magnética e, em menor grau, a ultrassonografia, podem ser úteis na identificação de abscessos intracavitários e espessamento de alça. Para a avaliação do intestino delgado, cada vez mais vêm sendo solicitadas a enterotomografia e a enterorressonância, modalidades que, aos poucos, têm substituído o trânsito intestinal. Pelo fato de a doença poder atingir qualquer porção do tubo digestivo, devem-se realizar endoscopia digestiva alta e colonoscopia em todos os casos. A enteroscopia em qualquer uma de suas formas também pode ser útil. O aspecto mucoso endoscópico característico é a lesão inicial com úlceras aftoides, posteriormente passando a lineares e, tardiamente, assumindo o aspecto “em paralelepípedo” ou cobblestone, que é altamente sugestivo da doença. A biópsia é útil para o diagnóstico e deve ser realizada durante o exame endoscópico. Infelizmente, apenas em 20% das vezes o exame anatomopatológico mostra o granuloma não caseoso, que define o diagnóstico. Contudo, é também de suma importância para exclusão de outra afecção Figura 8. Exame contrastado: áreas de estenose intestinal em pacientes com DC Devem ser lembrados os diagnósticos diferenciais: a RCU, a gastrenterite, os tumores intestinais e a tuberculose intestinal. A diferenciação entre doença em atividade e em remissão pode ser feita por meio do Índice de Atividade da Doença de Crohn (CDAI), do inglês Crohn’s Disease Activity Index. Tratamento Clinico: O tratamento deve induzir e manter a sua remissão com o mínimo possível de complicações e efeitos colaterais. © O tratamento consiste em medidas de suporte e tratamento medicamentoso APG S3P2 4º Período Kamilla Galiza © Repouso no leito, suporte nutricional com terapia enteral e/ou parenteral, suplementação vitamínica e suporte emocional. Farmacológico © Corticoides © Sulfassalazina © Metronidazol © Ciprofloxacino © Imunossupressores © Imunobiologicos Referencias: 1. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2015. 2. LONG, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 3. Imperiale AR, Hora JAB, Barcellos LCP. Clínica Cirurgica: Gastroenterologia: Medcel; 2019. 4. PEPPERCORN, Mark A.; KANE, Sunanda V. Clinical manifestations, diagnosis and prognosis of Crohn disease in adults. UpToDate.[citado Outubro 2012]. Disponível em: http://www. uptodate. com, 2014. 5. PEPPERCORN, Mark A.; KANE, Sunanda V. Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of ulcerative colitis in adults. UpToDate (Accessed on December 2014), 2020. 6. CUNHA, Vanessa Oliveira da. Caracterização fisiopatológica da doença inflamatória intestinal, retocolite ulcerativa. 2019.
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