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A Palavra Final sobre o Médio Oriente pdf

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DEREK PRINCE 
A PALAVRA FINAL SOBRE 
O MÉDIO ORIENTE 
O Futuro de Israel Revelado em Profecia 
DEREK PRINCE PORTUGAL 
 
 
DEREK PRINCE 
 
 
 
A PALAVRA FINAL SOBRE 
O MÉDIO ORIENTE 
 
 
O Futuro de Israel Revelado em Profecia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEREK PRINCE PORTUGAL 
 
 
 
 
Copyricht © 2018 Derek Prince Portugal 
Tradução portuguesa: a Palavra Final sobre o Médio Oriente 
Copyright © 1982 por Derek Prince: The Last Word on the Middle East 
Copyright © 2005 por Derek Prince Ministries–International: Promised Land, 
 
Copyright © 2013 por Derek Prince Ministries–International: The Key to the Middle East 
 
A atualização para a nova edição foi aprovada por Derek Prince, com exceção de atualizações 
cronológicas, a partir de junho de 2002, estas foram feitas pela equipe editorial de Derek 
Prince Ministries, P.O.Box 19501, Charlotte, NC 2819-9501. 
Autor: Derek Prince 
Tradução: Conceicão Cabral 
Redação: Christina van Hamersveld 
Desenho da capa: Derek Prince Portugal 
Publicado: pela Editora Um Êxodo Unipessoal Lda. 
Em nomo do: Derek Prince Portugal 
 
ISBN: 978-989-8501-30-1 
 
Endereço para contato: 
 
Derek Prince Portugal 
Caminho Novo Lote X 
9700-360 Feteira AGH 
 
Tel.: (+351) 295 663738 
Telm.: (+351) 927992157 
 
E-mail: derekprinceportugal@gmail.com 
 
Blog: www.derekprinceportugal.blogspot.pt 
 
A versão bíblica usada neste livro é: Almeida Corrigida Revisada Fiel, sempre que não seja 
mencionada informação contrária. 
 
 
 
 
 
mailto:derekprinceportugal@gmail.com
http://www.derekprinceportugal.blogspot.pt/
 
 
Índice 
 
Prefácio por Derek Prince ………………………………………………………………………. 5 
Parte I Perspetiva Histórica 
1. Onde a História e a Profecia se Encontram ………………………………………… 7 
2. O Sonho que se Realizou ………………………………………………………………….. 17 
3. Dores de Parto de Uma Nação …………………………………………………………. 28 
Parte II Cumprimento Profético 
4. Plano Predeterminado de Deus ……………………………………………………….. 35 
5. O Processo de Reajuntamento …………………………………………………………. 46 
6. Os Tempos dos Gentios ……………………………………………………………………. 56 
7. De Quem é a Terra? …………………………………………………………………………. 63 
8. Como devemos Responder?.................................................................. 69 
9. O Julgamento das Nações …………………………………………………………………. 84 
Parte III Anexo: 
Pesquisa Cronológica dos Acontecimentos Relativos ao 
Estado de Israel 1947 – 2012 ……………………………………………………………….. 95 
Sobre o Autor …………………………………………………………………………………….. 123 
Sobre Derek Prince Portugal ………………………………………………………………. 124 
Outros Livros por Derek Prince em português ……………………………………. 125 
 
 
 
 
Prefácio 
 
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o foco da política mundial mudou da Europa e América 
do Norte para o Médio Oriente. Os noticiários da atualidade dedicam mais atenção ao Médio 
Oriente do que a qualquer outra região da terra. Nesta região estão centralizados os assuntos e 
conflitos que podem, da noite para o dia, fomentar a próxima conflagração mundial, que poderá 
vir a ser conhecida como Terceira Guerra Mundial. 
Dois fatores principais contribuíram para este aumento dramático na importância do Médio 
Oriente: petróleo e Israel. Quase todas as nações desenvolvidas do mundo atualmente estão 
dependentes, em graus variados, do contínuo suprimento de petróleo das fontes dos estados 
árabes do Médio Oriente. Dessa forma o petróleo tornou-se uma arma política. Através do seu 
uso, as nações árabes impõem, mundialmente, uma medida de influência que nunca poderiam 
ter alcançado de outra maneira. 
Ainda mais significativo, é o surgimento de Israel como estado judeu soberano. Incessantemente 
com oposição e sendo atacado desde o seu nascimento até agora, este minúsculo estado tem, 
sistematicamente, confundido os especialistas e mudado radicalmente o equilíbrio político e 
militar do Médio Oriente. Qualquer avaliação válida da situação geral, ali, deve primeiramente 
compreender o papel único que Israel tem desempenhado e continua a desempenhar. 
Neste livro, ofereço o que acredito ser a chave para a interpretação do papel de Israel e, desse 
modo, a chave para a projeção realista de futuros eventos no Médio Oriente. Esta chave foi 
colocada na minha mão através de circunstâncias não escolhidas por mim próprio: cinco anos 
de serviço durante a segunda Guerra Mundial com o Exército Britânico no Egito, Líbia, Sudão e 
finalmente Palestina. Seguiram-se mais dois anos de residência na Palestina como civil. Durante 
esses anos, testemunhei e participei nos eventos tumultuosos dos quais a presente situação no 
Médio Oriente, emergiu. 
Desde então, tenho mantido contato contínuo com pessoas e eventos em Israel e países 
circunvizinhos. 
 
 
 
 
 
Derek Prince 
Jerusalém 
 
 
 
5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parte I 
 
 
 
 
Perspetiva Histórica 
 
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1. 
Onde a História e a Profecia se Encontram 
 
Numa noite de abril de 1946, eu estava numa faixa de terra que unia o Monte Scopus ao norte, 
com o Monte das Oliveiras ao sul. Diante de mim, a oeste, o topo dourado da rocha e a cúpula 
prateada da Mesquita de AL Aksa cintilavam à luz da lua. Em volta e por trás deles, a Cidade 
Antiga de Jerusalém, com os seus muros serrilhados, as suas torres e os seus telhados matizados, 
parecia dormir em paz, aguardando o chamado da madrugada vindo de um muezzim 
muçulmano da mesquita. 
Mesmo assim eu sabia que a aparência pacífica era enganosa. Debaixo da superfície jaziam 
forças já em ação que, inevitavelmente, explodiriam em violência e derramamento de sangue. 
Por trás de mim estavam densos prédios de pedra e a torre quadrangular da Casa de Repouso 
Augusta Vitória. Construída originalmente como casa de repouso para peregrinos oriundos da 
Europa, tinha sido tomada pelas autoridades britânicas na Segunda Guerra Mundial para ser 
usada como hospital militar. Dentro dos seus muros eu tinha completado o meu serviço como 
assistente hospitalar e estava então pronto para ser dispensado pelo Exército. 
Estava num ponto de viragem na minha vida. Eu acabara de me casar com Lydia Christensen, 
uma professora primária dinamarquesa que tinha conhecido em Jerusalém. Lydia era “mãe” 
num pequeno abrigo de crianças localizado em Ramallah, uma cidade árabe a dez milhas ao 
norte de Jerusalém. Ao casar-me com ela, tornei-me “pai” de oito meninas naquela casa, cujas 
idades variavam entre os 4 e os 18 anos. Dessas oito meninas, seis eram judias, uma era árabe 
e a mais nova era inglesa. 
Como Lydia e eu tínhamos planeado continuar a residir em Ramallah, eu conseguira a minha 
dispensa do exército em Jerusalém. 
“O que Nos Reserva o Futuro?” 
Enquanto eu me detinha na montanha, deliciando-me com a beleza de Jerusalém, vi-me 
perguntando a mim próprio, “O que nos espera adiante?”, eu estava pensando não apenas em 
Lydia, em mim e nas nossas meninas, mas também em todo o povo daquela terra, com a sua 
mistura peculiar de raças, culturas e religiões. 
O futuro de toda área estava naquela fase de indefinição. Diferentes grupos raciais e políticos 
lançavam as suas reivindicações tanto em relação ao território quanto à soberania e estas não 
podiam ser reconciliadas entre si. O governo britânico tinha-se colocado à disposição com uma 
série de “soluções” propostas para o aparente impasse. Invariavelmente, contudo, as soluções 
aceitáveis para um grupo eram, de pronto, rejeitadas pelos outros. Havia outra fonte onde obter 
uma solução? Cheguei a crer que sim. 
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No decorrer de quase seis anos no Exército, eu tornara-meum estudioso da Bíblia. Durante os 
três anos desgastantes nas terras arenosas da África do Norte, a minha Bíblia tinha sido a minha 
constante companheira, a minha fonte infalível de força e conforto. Certa vez, eu tinha sido 
hospitalizado durante um ano inteiro com um problema de pele que não cedia a nenhum 
tratamento disponível naquela situação. 
Só recuperei a minha saúde quando ousei renunciar a todos os medicamentos e confiei 
simplesmente nas claras promessas de cura física da Bíblia. Deste modo e de muitos outros, eu 
tinha recebido prova, para minha própria satisfação, que os ensinamentos bíblicos, quando em 
atitude de fé, ainda são tão válidos e vitais como quando foram escritos pela primeira vez. 
Em 1944, no entanto, quando o Exército me transferiu para a Palestina, vi-me confrontado com 
a verdade da Bíblia numa dimensão totalmente nova. Até àquele momento, eu lia a Bíblia como 
que escrita no vácuo. Abracei, incondicionalmente, as verdades espirituais nela contida, mas 
isoladas de qualquer contexto em tempo ou espaço. 
Agora comecei a compreender a Bíblia num cenário geográfico específico. Eu percebi que os 
eventos ali registados aconteceram dentro de uma área que tinha o seu eixo lateral no 
Mediterrâneo, com a Itália como seu limite ocidental e a Pérsia como seu limite oriental. De 
longe, a maior parte deles aconteceu dentro de uma área muito menor, mais ou menos do 
tamanho de Nova Jersey, conhecida como a terra de Canaã, a terra de Israel, a Palestina ou a 
Terra Santa. 
No tempo dos patriarcas, conforme aprendi, esta área era conhecida como Canaã. Após a sua 
conquista pelos Israelitas sob a direção de Moisés e Josué, tornou-se a terra de Israel. Este nome 
ainda é usado no Novo Testamento (ler Mateus 2: 20), embora a área fosse naquele tempo uma 
província do Império Romano. 
O nome Palestina significa “terra de filisteus”. Foi primeiramente usado pelos gregos, depois 
pelos romanos e outros governantes gentios seguintes, incluindo os britânicos. O título “a Terra 
Santa” tem sido usado pelos cristãos desde o século V. Após o término do Mandato Britânico 
em 1948 e o subsequente conflito árabe-israelita, a terra foi dividida entre os dois estados de 
Israel e Jordânia (Subsequente ao Acordo de Paz de Oslo de 1993, a área foi gradativamente 
redefinida como territórios israelitas e palestinos). 
Quando li os eventos descritos na Bíblia neste contexto geográfico, eles tornaram-se reais e 
vívidos para mim de modo totalmente novo. Zacarias, por exemplo, tinha descrito o exato local 
onde eu estivera na sua profecia gráfica do retorno do Senhor à terra: 
“E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém 
para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, 
e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade 
dele para o sul. … Naquele dia também acontecerá que sairão de Jerusalém águas vivas, metade 
delas para o mar oriental, e metade delas para o mar ocidental; no verão e no inverno sucederá 
isto.” (Zacarias 14: 4,8) 
À minha frente, quase conseguia visualizar os eventos que ele descrevia. O edifício do nosso 
hospital – o Hospício Augusta Vitória – situava-se exatamente onde era suposto acontecer o 
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terramoto. Cerca de vinte anos antes a sua torre quadrada tinha sido quebrada por um abalo de 
terra, que a tornou definitivamente insegura para subir. A história confirmou que esta área 
estava sujeita a terramotos. 
Ao ocidente, do outro lado do Vale de Cedron, várias pesquisas geológicas tinham descoberto 
indicações de reservatórios de água no subsolo da cidade de Jerusalém. Geologicamente, o 
palco estava montado para os eventos preditos por Zacarias. Tão exatamente se encaixavam as 
palavras do profeta na cena diante de mim que eu conseguia ver a água liberada pelo terramoto 
brotando da área do Templo, e fluindo em minha direção através do vale que seria criado, de 
leste a oeste, exatamente onde os meus pés se encontravam naquele momento. 
Lembrei-me de uma passagem paralela em Ezequiel, que da mesma forma retrata água fluindo 
de Jerusalém, da parte leste, em direção ao Mar Morto: 
 “O homem levou-me de volta à entrada do templo, e vi água saindo de debaixo da soleira do 
templo e indo para o leste, pois o templo estava voltado para o oriente. A água descia de debaixo 
do lado sul do templo, ao sul do altar. Ele então me levou para fora, pela porta norte, e conduziu-
me pelo lado de fora até a porta externa que dá para o leste, e a água fluía do lado sul. O homem 
foi para o lado leste com uma linha de medir na mão, e, enquanto ia, mediu quinhentos metros 
e levou-me pela água, que batia no tornozelo. Ele mediu mais quinhentos e levou-me pela água, 
que batia na cintura. Mediu mais quinhentos e levou-me pela água, que chegava ao joelho. 
Mediu mais quinhentos, mas agora era um rio que eu não conseguia atravessar, porque a água 
havia aumentado e era tão profunda que só se podia atravessar a nado; era um rio que não se 
podia atravessar andando.”... 
“Ele me disse: "Esta água flui na direção da região situada a leste e desce até a Arabá, onde 
entra no Mar. Quando deságua no Mar, a água ali será saneada. Por onde passar o rio haverá 
todo tipo de animais e de peixes. Porque essa água flui para lá e saneia a água salgada; de modo 
que onde o rio fluir tudo viverá.” ... 
“Árvores frutíferas de toda espécie crescerão em ambas as margens do rio. Suas folhas não 
murcharão e os seus frutos não cairão. Todo mês produzirão, porque a água vinda do santuário 
chega a elas. Seus frutos servirão de comida, e suas folhas de remédio” (Ezequiel 47:1-5, 8-9, 12, 
NVI) 
 
Com este quadro ainda na minha mente, virei-me e andei algumas centenas de jardas para a 
subida a leste da montanha. À distância, o Mar Morto brilhava com a luz da lua como uma joia 
colocada nas dobras da colina. O alto conteúdo químico das suas águas deu-lhes um esplendor 
único. Em primeiro plano, uma cordilheira árida e macilenta de colinas da Judeia descendo a 
área chamada por Ezequiel de “Arabá”. Sem dúvida, esta área precisava de uma transformação 
milagrosa fornecida por águas vivificadoras que Ezequiel teve na sua visão! 
Enquanto morava lá no Monte das Oliveiras, eu aprendera que Arabá é o nome hebraico para o 
Vale do Jordão, pois este se estende de um lugar onde o Rio Jordão entra no Mar Morto ao sul 
do Golfo de Aqaba. Da Montanha do templo ao ocidente para o Mar Morto e Arabá no oriente, 
cada detalhe na descrição tanto de Zacarias quanto de Ezequiel foi exato e nítido. 
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Eles encaixavam perfeitamente em toda esta área. Retirado do contexto geográfico, porém, não 
faziam sentido. 
Percebi que o mesmo princípio se aplicaria a incontáveis outras passagens bíblicas, tanto 
históricas quanto proféticas. 
Um Povo e a sua História 
Mais tarde naquela noite, enquanto deitado na cama, a minha mente ainda estava ocupada com 
as impressões dos dois últimos anos. Ao mesmo tempo em que tinha sido apresentado à terra 
da Bíblia, também fora apresentado àquele povo cuja história é o tema central da Bíblia. Acabei 
por entender que a geografia e a história estavam de facto entrelaçadas. 
Geograficamente, a Bíblia está definida na terra de Israel; historicamente, o seu tema é o povo 
de Israel. Surpreendi-me com a constatação de que, em toda a minha leitura da Bíblia, eu tinha 
ignorado um facto tão simples e tão óbvio. A compreensão deste facto deu-me clareza e 
coerência nova no entendimento de toda a Bíblia. 
Os primeiros onze capítulos da Bíblia, percebi, servem de introdução. Eles preenchem a base e 
aprontam o palco para tudo o que se vai seguir. A partir daí, a Bíblia é então a história de Abraão 
e da nação descendente dele, através de Isaque e Jacó, ou seja, Israel. 
Descobri que havia uma distinção a ser feita entre as palavrasIsrael e Israelita, e as palavras 
Judeu e judaísmo. Linguisticamente, Judeu é derivado diretamente de Judá, o nome de uma das 
doze tribos de Israel. Da época do cativeiro da Babilónia, no entanto, todo o israelita que 
retornou à terra de Israel era chamado de judeu, independente de que tribo fosse. Este uso é 
levado para o Novo testamento. Paulo, por exemplo, era da tribo de Benjamim; ainda assim era 
chamado judeu (ver Atos 21: 39). 
No uso contemporâneo, essas quatro palavras não são completamente intercambiáveis. Israel 
e israelita focam-se primeiramente na origem nacional e na ascendência. Judeu e judaísmo têm 
o seu foco mais na religião, cultura e posterior história. Desde o nascimento do estado de Israel 
em 1948, a palavra israelense foi acrescentada, referindo-se a qualquer cidadão do Estado, 
sendo este descendente judeu, árabe ou drusa. 
Uma característica única da história de Israel, como relatada na Bíblia, é que uma parte foi 
escrita após os eventos, como se dá na história normal, enquanto o restante foi escrito antes 
dos eventos se concretizarem, como profecia. As partes históricas e proféticas da Bíblia, 
reunidas, constituem a história do povo de Israel. 
Embora grandes partes desta história sejam dadas somente em esboço, outras partes contêm 
descrições vívidas e detalhadas. Os escritos proféticos são mais interessantes, já que em muitos 
casos foram escritos séculos antes dos eventos que descrevem. E mesmo assim eles combinam 
um grau de precisão e realidade que não poderia ter sido superado por nenhuma testemunha 
ocular. 
A minha avaliação da Bíblia como sendo essencialmente a história de Israel, abrangendo tanto 
o passado como o futuro, de modo algum me surpreendeu, quando apenas a aplicava ao Antigo 
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Testamento. Mas como cristão, cheguei ao Novo Testamento a partir de uma perspetiva 
inconsciente de séculos de tradição cristã. Foi difícil avaliar os factos objetivamente. 
Parecia lógico começar com a identidade do próprio Jesus. Sem dúvida alguma, Ele é a tal pessoa 
supremamente importante no Novo testamento. Sem Ele, na verdade, o Novo Testamento 
nunca teria sido escrito. E, sem dúvida alguma, durante a Sua vida terrena, Jesus foi, de acordo 
com todos os padrões possíveis, um israelita. 
O Novo Testamento deixa claro, no entanto, que a identidade de Jesus como israelita não 
terminou com o fim da Sua vida terrena. Em Apocalipse 5:5—a passagem escrita mais de 
cinquenta anos após a Sua morte e ressurreição — Jesus é ainda descrito no céu como “o Leão 
da tribo de Judá, a Raiz de Davi”. 
Isto não se refere a um traço temporário dos Seus breves 33 anos de vida na terra. Isto é a Sua 
identidade após a Sua morte e ressurreição, por toda a eternidade. Ele é para sempre “o Leão 
da tribo de Judá, a Raiz de Davi”. Ele é para sempre identificado com a família de Davi, a tribo 
de Judá, o povo de Israel. Ele é, para sempre, um israelita. 
A seguir, voltei a minha atenção para o caráter e o conteúdo dos quatro evangelhos. Estes 
constituem a base histórica de todas as doutrinas fundamentais da fé cristã (como são 
professadas, por exemplo, nos grandes credos da Igreja). Mais uma vez, os factos falaram por si. 
Exceto por uma breve visita ao Egito por José e Maria e o bebé Jesus, todos os eventos descritos 
em todos os evangelhos ocorreram dentro das fronteiras da terra de Israel. 
Além disso, bem mais de 90 por cento das pessoas retratadas nos evangelhos são israelitas. As 
únicas exceções são uma pequeníssima porção de pessoas não judias, tais como os Magos do 
Oriente, a mulher Samaritana no Poço de Jacó, assim como um pequeno número de oficiais 
romanos e pessoal militar. Essencialmente, os evangelhos são um registo de israelitas, 
estabelecidos na terra de Israel. 
A seguir, considerei a autoria do Novo Testamento. O quadro que emergiu não foi diferente. 
Cada um dos seus 27 livros é de autoria de um israelita. Uma questão pode ser levantada com 
relação a Lucas, o autor do evangelho que leva o seu nome e também do livro de Atos, já que é 
aceite de forma geral de que Lucas era gentio de origem. Mas porque ele era prosélito ao 
judaísmo, ele também é identificado com Israel. 
É verdade, claro, que depois do Dia de Pentecostes a mensagem do evangelho foi rapidamente 
divulgada por todo o mundo civilizado. Multidões de gentios reconheceram Jesus como seu 
Salvador e foram acrescentados à Igreja. 
Quando comecei a perguntar, no entanto, quem eram os principais instrumentos humanos 
registados como responsáveis em difundir o evangelho e estabelecer igrejas no Novo 
Testamento, tive de reconhecer que, quase sem exceção, eles eram judeus. Todos os doze 
apóstolos eram judeus. Paulo, que se tornou o grande apóstolo para os gentios, era igualmente 
judeu. A maioria dos cooperadores de Paulo, como Barnabé e Silas, eram judeus. Mesmo 
Timóteo, pela virtude de sua mãe judia, era considerado legalmente judeu e, por isso, precisou 
ser circuncidado (ver Atos 16:1-3). 
11
 
 
Tentei pensar num cristão gentio que tivesse tido um papel importante no registo do Novo 
Testamento. Ao princípio nenhum nome me ocorreu. Eventualmente decidi que Tito, podia ter 
tido mais direito a isto. Ele era um colega de trabalho de confiança de Paulo e pelo menos um 
livro do Novo Testamento, traz o seu nome. Ninguém podia afirmar, contudo, que Tito fosse 
uma figura de destaque no Novo Testamento. 
Restou-me ponderar sobre as secções proféticas do Novo Testamento. Seria de algum modo a 
sua ênfase diferente da usada nas secções históricas? Que tipo de quadro do futuro elas 
pintaram? Tanto quanto pude observar, a sua ênfase no papel único de Israel não diminuiu de 
forma alguma. 
O escritor dos Hebreus conta-nos que o último objetivo de todos os verdadeiros crentes é “... 
a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus.” (Hebreus 11: 10). Em 
Apocalipse 21, esta cidade é-nos descrita. Nos seus portões são inscritos os nomes das doze 
tribos de Israel. Nas suas fundações, estão os nomes dos doze apóstolos de Jesus. Cada nome 
inscrito na nova Jerusalém é um nome israelita. 
Em resumo, podemos afirmar o seguinte: 
• Todos os 39 livros do Antigo Testamento foram escritos por autores judeus. 
• Jesus nasceu judeu, morreu judeu e retornará como um judeu. 
• Todos os eventos dos evangelhos (exceto a fuga para o Egito) ocorreram em Israel 
• Cerca de 90 por cento das pessoas retratadas nos evangelhos são israelitas 
• Cada um dos 27 livros do Novo Testamento tem autoria judaica (Lucas deve ser 
considerado como possível exceção, mas era prosélito ao judaísmo). 
• Os instrumentos principais para o estabelecimento de igrejas e divulgação do evangelho 
eram judeus. 
• Todos os doze apóstolos eram judeus. 
• A futura cidade em Apocalipse está inscrita com os nomes das doze tribos de Israel. 
• As fundações da cidade carregam os nomes dos doze apóstolos de Jesus. 
Certamente, pensei eu, nenhum antissemita poderia sentir-se confortável ali! Combinando a 
minha pesquisa do Novo Testamento com a do Antigo, cheguei a uma conclusão clara e simples: 
a Bíblia é essencialmente um registo de Israel escrito por israelitas, parcialmente na forma de 
história e parcialmente na de profecia. 
Exílio e Retorno 
Por que, então, pareceu estranho - na verdade, quase impensável - associar o povo judeu ao 
Novo Testamento? Enquanto eu ponderava sobre a pergunta, vi que ao chegar o final do 
primeiro século, tinha havido uma interrupção muito significativa na linha contínua da história. 
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Aliás, foi transmitido em silêncio quase total (quase em branco), nas versões da história que eu 
tinha estudado na Grã-Bretanha. 
Havia dois aspetos nesta interrupção: primeiro, o povo de Israel tinha sido separado da sua terra. 
Segundo, quase que ao mesmo tempo, eles tinham sido separados do seu papel como lideres 
na divulgação do Evangelho e na construção da Igreja. 
Estadupla separação determinou o seu papel na história para os próximos dezoito séculos. Eles 
tinham-se tornado uma nação de exilados. Do ponto de vista físico, eles foram exilados da única 
terra onde já tinham conhecido nacionalidade. Do ponto de vista espiritual, foram exilados da 
própria religião, da qual eles próprios foram os fundadores. 
Nos dois últimos anos, eu tinha testemunhado parte do processo de cura da primeira dessas 
duas separações - a de entre o povo de Israel e a sua terra. A lógica da história indicava que isto 
seria um prelúdio para a cura da segunda separação - esta entre o povo de Israel e a Igreja Cristã? 
Muitas pessoas, eu sabia, iriam rejeitar esta sugestão por lhes parecer inconcebível. E, no 
entanto, um século antes, as mesmas pessoas teriam considerado como inconcebível a sugestão 
de que o povo de Israel seria restaurado à sua terra. Eu estava a morar no meio duma terra e 
dum povo cuja história inteira estava cheia de eventos que teriam sido rejeitados pela maioria 
das pessoas como sendo inconcebíveis. 
Enquanto eu procurava uma maneira de expressar o significado dos eventos que tinha 
testemunhado, formei um quadro mental de um grande relógio antigo. Durante muitos anos, 
imaginei eu, ele tinha estado no canto de uma loja de antiguidades. Os ponteiros nunca se 
moviam; nenhum som vinha dele. Todos presumiram que o mecanismo estava quebrado. Aí, um 
dia, sem que nenhum humano o tocasse, o relógio começou a funcionar, e os seus ponteiros a 
mover. O relógio já não era uma relíquia interessante do passado. Estava a dar horas novamente. 
Israel era o relógio profético de Deus. Ao restaurar o povo à terra, Deus tinha colocado o relógio 
novamente a funcionar. Após longos séculos de silêncio, ele estava novamente a dar as horas. 
Se eu fosse interpretar a mensagem dos seus ponteiros corretamente, eles estavam marcando 
as horas do encerramento de uma era da história que tinha durado, praticamente, dezanove 
séculos. 
Sobreviventes do Holocausto 
A minha introdução ao povo de Israel coincidiu com um dos mais trágicos e críticos períodos na 
sua longa e frequentemente dramática história. O horror inexprimível do Holocausto estava 
somente começando a ter o seu impacto completo sobre a comunidade judaica pelo mundo, 
mas em lugar nenhum a um grau maior do que na terra de Israel. 
Apesar do bloqueio imposto pelo Exército e Marinha Britânicos, uma pequena parcela dos 
sobreviventes judeus da Europa estava a fazer o seu caminho por várias rotas até à Palestina. 
Encontrei-me quase contra minha vontade, a ouvir os relatos de sofrimento e crueldade que eu 
jamais crera ser possível. De tempos a tempos, testemunhei a reunião de membros de famílias 
que tinham sido separados na Europa, mas de alguma maneira sobreviveram e escaparam, para 
de novo, se encontrarem em Israel. 
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A minha exposição à geografia de Israel já tinha dado uma nova direção ao meu estudo da Bíblia. 
Agora, a minha exposição em primeira mão a este aspeto da história de Israel foi ainda mais 
revolucionária no seu impacto sobre mim. Comecei a descobrir passagens incontáveis em quase 
todos os profetas do Antigo Testamento predizendo que, antes que a era presente chegue ao 
seu fim, haverá um grande congregar do povo judeu de todas as partes do mundo na terra de 
Israel. Nem essas predições estavam limitadas ao Antigo Testamento. Descobri passagens 
correspondentes nos ensinamentos de Jesus, no Novo Testamento, que indicam que o 
encerramento da presente era será decretado na terra de Israel. 
Até este momento, eu tinha visto tais passagens como vagas (pouco claras); quadros quase 
utópicos que, de alguma forma, inspiraram esperança de uma era melhor por vir. Neste 
momento, no entanto, vi que, eram predições específicas e exatas que estavam sendo 
cumpridas diante dos meus olhos. Em muitas dessas predições, certas características 
ressaltaram e foram apontadas tão especificamente, como se o autor tivesse, ele mesmo, sido 
uma testemunha ocular. 
Achei muitos exemplos desses no profeta Jeremias. Uma passagem tornou-se particularmente 
viva para mim: 
 “Voltai, filhos apóstatas, diz Jeová; porque eu sou vosso esposo. Eu vos tomarei um de cada 
cidade, e dois de cada família e vos levarei a Sião.” 
“ ... Naqueles dias a casa de Judá andará com a casa de Israel, e virão juntamente da terra do 
norte para a terra que dei em herança a vossos pais.” (Jeremias 3 : 14,18 SBB) 
 
Esta passagem enfatiza o retorno dos israelitas da “terra do norte” para a terra que Deus tinha 
dado aos seus antepassados. Sem dúvida, a última é a terra de Israel. “Da terra do norte” 
incluiria Rússia, Polónia, Alemanha e outros países na Europa Oriental e os Balcãs. Em 1946, foi 
precisamente a área da qual a maioria dos refugiados judeus veio para Israel. 
O que particularmente me impressionou foi o detalhe “um de cada cidade, e dois de cada 
família” Isto correspondia exatamente com o que eu estava ouvindo das pessoas judaicas à 
minha volta. Muitas vezes a história dos sobreviventes seria assim: “Sou o único da nossa família 
de Berlim que sobreviveu. Mas acabei de encontrar outro membro da família que também 
sobreviveu – o meu tio de Hannover”. 
Em cada história o nome da cidade pode diferir. O país pode ser Polónia ou Áustria em vez da 
Alemanha. Em vez de um tio, poderia ser uma irmã casada, uma prima, primo ou um sobrinho. 
Mas o traço essencial da profecia de Jeremias permaneceu o mesmo: “um de cada cidade, e dois 
de cada família”. 
Na maioria dos casos, tinha a certeza de que, esses judeus não tinham ideia alguma de que 
estavam citando as palavras de um dos seus próprios profetas, que predisseram - 2500 anos 
antes - os exatos eventos que eles tinham vivido. 
Deus Vela Sobre a Sua Palavra 
Eu comecei a ver a história sob uma nova luz—não como uma interação aleatória das forças 
imprevisíveis, política, militar ou económica, mas como o desempenho dos divinos propósitos 
14
 
 
revelados antecipadamente pela Palavra profética de Deus. Em nenhum lugar foi este princípio 
ilustrado mais claramente do que no chamado de Jeremias ao ministério profético, como ele 
mesmo narrou: 
“Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que te formasse no ventre te conheci, 
e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta. Então disse eu: Ah, 
Senhor DEUS! Eis que não sei falar; porque ainda sou um menino. Mas o SENHOR me disse: Não 
digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, 
falarás. Não temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o SENHOR. 
E estendeu o SENHOR a sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o SENHOR: Eis que ponho as 
minhas palavras na tua boca; Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para 
arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e 
para plantares.” (Jeremias 1 : 4-10) 
Há um notável paradoxo implícito neste relato. Por um lado, uma posição de tremenda 
autoridade é prometida a Jeremias, “… sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e 
para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para 
plantares.”. 
E por outro lado, Jeremias considerou a si mesmo “somente um menino”. Além disso, havia 
pouca evidência externa na sua subsequente carreira desta autoridade que Deus lhe tinha 
prometido. Ele foi rejeitado consistentemente pela maioria do seu povo; frequentemente mal 
interpretado e mal tratado; confinado por um determinado período numa masmorra; quase 
deixado morrer num poço. Em que, então, consiste a autoridade de Jeremias e como foi 
exercida? Concluí que a resposta seria encontrada no ato pelo qual Deus colocou Jeremias no 
seu ministério profético: “E estendeu o SENHOR a sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o 
SENHOR: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca”. 
A autoridade não estavaem Jeremias como pessoa; estava nas palavras que Deus colocou na 
sua boca. Estas palavras, conforme as falava, determinaram o destino de todas as nações e 
reinos sobre os quais profetizou. Governantes e povos rejeitariam Jeremias como pessoa, mas 
eles não poderiam anular as palavras proféticas que ele proferiu em relação a eles. Quando 
Jeremias morreu, as palavras proféticas que dissera continuaram vivas, dando forma ao destino 
em curso, dessas pessoas. 
Embora as gerações posteriores tenham esquecido ou ignorado as palavras de Jeremias, Deus 
não fez uma coisa, nem outra. Pois Ele tinha assegurado a Jeremias: “… Eu velo sobre a minha 
palavra para cumpri-la.” (versículo 12). As palavras de Deus através de Jeremias estavam 
centralizadas, primeiramente no seu próprio povo, Israel; mas também se estenderam a um 
círculo muito mais amplo. Jeremias, como um “profeta às nações”, predisse o destino de muitos 
outros países, além de Israel, incluindo todas as nações que compõem a área que conhecemos 
como o Médio Oriente. 
Além disso, Deus não somente assegurou a Jeremias que velaria sobre as suas palavras para que 
se cumprissem; mas também arranjou provisão específica para que as palavras de Jeremias 
fossem preservadas até que o tempo chegasse para o seu desenrolar final: 
15
 
 
“Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que te tenho falado. 
Porque eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que farei voltar do cativeiro o meu povo Israel, e de 
Judá, diz o SENHOR; e tornarei a trazê-los à terra que dei a seus pais, e a possuirão.” 
(Jeremias 30:2-3) 
Claramente Deus estava olhando para o futuro através dos séculos até o tempo em que Ele 
reuniria Israel na terra que tinha designado para eles. Ele anteviu que, naquele tempo, o Seu 
povo entraria numa compreensão maior de tudo o que tinha sido previsto para eles nas palavras 
de Jeremias. 
 
Com um sentimento de admiração e emoção, eu percebi que tinha tido o privilégio de me tornar 
um testemunho ocular dos eventos que Jeremias tinha predito. 
 
Esta era, então, a resposta à pergunta que eu mesmo me fizera mais cedo naquela noite: O que 
é que o futuro nos reserva? A Palavra de Deus, falada muitos séculos antes através dos profetas 
ainda estava moldando os destinos em curso, não somente o de Israel, mas também de outras 
nações em redor. A Sua Palavra forneceu a única chave confiável para a interpretação da 
situação que estava em desenvolvimento no Médio Oriente. 
 
Antes que eu finalmente adormecesse, contudo, concluí que ainda não estava pronto para 
aplicar esta chave ao presente e ao futuro. Primeiro, eu precisava de compreensão mais clara 
do passado. Com isto, teria mais capacidade para interpretar os novos fatores na história 
mundial que tinham precipitado as mudanças radicais que estavam a ocorrer no Médio Oriente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 
 
2. 
O Sonho que se Realizou 
 
As minhas experiências na Palestina tinham-me dado uma nova perspetiva dos dezanove 
séculos anteriores. Percebi que fui colocado frente - a - frente com uma corrente principal da 
história que, até àquele momento, me tinha sido completamente desconhecida. O meu campo 
de estudo tinha sido os clássicos, cobrindo a história grega e a civilização romana da época de 
Homero, ao término do Império Romano. 
Foi-me também pedido que me familiarizasse com o curso geral da história europeia, com 
ênfase particular em meu próprio país, a Grã-Bretanha. O meu conhecimento da história judaica 
tinha terminado mais ou menos onde o Novo Testamento encerrara. A partir desta perspetiva, 
a guerra entre os judeus e Roma, terminando com a destruição de Jerusalém em 70 d.C., foi 
apresentada como um incidente menor da história romana. Daí em diante, era como se o povo 
judeu tivesse deixado de ter qualquer história significativa. 
Agora comecei a entender que a história judaica era algo como um rio cujo curso tinha sido 
afetado por um terramoto. A maior parte das águas tinha descido para um abismo criado pelo 
terramoto, onde continuava a fluir. Porque o seu novo curso era principalmente subterrâneo, 
muitas pessoas assumiram que o rio tinha parado de fluir totalmente. Mesmo aqueles que 
sabiam que esse rio ainda estava fluindo não estavam cientes do exato curso que ele seguia. 
Chegando ao final do século dezanove, contudo, o rio da história dos judeus surgiu de novo na 
paisagem aberta da história mundial, produzindo um impacto poderoso na cultura, na ciência e 
na política. Embora o rio primeiro tenha ressurgido como um aparente insignificante gotejar, 
ganhou volume de forma gradual, até que o seu impacto voltasse a ser sentido por todo o Médio 
Oriente. A mais distinta e por último, mais significativa forma em que a história judaica 
encontrou nova expressão, foi o sionismo: a crença no restabelecimento de um estado 
independente judeu na pátria histórica dos judeus. 
Como é que uma nação esmagada sobreviveu durante todos esses séculos? Que eventos 
poderiam possivelmente impulsionar os objetivos do sionismo para a vanguarda dos assuntos 
mundiais? 
Desde a destruição de Jerusalém em 70 d.C., o povo judeu tinha mantido o sonho de retornar a 
“ Sião”. Para a maioria, era pouco mais do que um sonho. Dispersos por todo o mundo 
civilizado, vendidos como escravos, empobrecidos, perseguidos, eles ainda se prendiam à sua 
identidade como povo, ao seu livro da Lei (a Torá), aos escritos dos rabinos, às observâncias do 
sábado e às suas tradições. Ano após ano, na cerimónia da Páscoa, eles fielmente recitaram, 
“Ano que vem, em Jerusalém!”. Mas poucos acreditavam realmente nisso. 
Vítimas da Teologia 
Através de longos séculos de dispersão, os piores sofrimentos do povo judeu foram infligidos 
17
 
 
sobre eles, pelos cristãos. O antissemitismo cristão foi baseado em e alimentado por uma 
combinação de teologia e lendas populares. 
Uma sucessão de teólogos cristãos proeminentes ensinou que os judeus eram os únicos 
responsáveis pela morte de Cristo e eram, por isso, culpados pelo mais terrível de todos os 
crimes: “deicídio”, o assassinato de Deus. Estando, portanto, debaixo da perpétua e irrevogável 
maldição de Deus eles mereciam, neste ponto de vista, execração e perseguição. 
Lendas populares que persistiram no século vinte acusaram os judeus repetidamente do ritual 
de assassinato de crianças cristãs, para usar o seu sangue em cerimónias secretas relacionadas 
com a Páscoa. Tais acusações tenderam a produzir dois resultados: o total massacre das 
comunidades de judeus; e a canonização pela Igreja das crianças que supostamente teriam sido 
assassinadas. 
O teólogo cristão Lovsky lista maneiras pelas quais o antissemitismo cristão habitualmente se 
expressou: desdém, calúnia, animosidade, segregação, batismos forçados, apropriação de 
crianças, julgamentos injustos, ataques em massa, exílios, perseguições sistemáticas, roubos, 
ganhos ilegais, ódio (aberto ou velado) e degradação social. 
Mesmo na melhor literatura ocidental, os judeus eram representados, de um modo geral, como 
gananciosos, traiçoeiros, pessoas invejosas cuja profissão era usura. Shylock, no Mercador de 
Veneza, de Shakespeare, projeta tal estereótipo. É significativo que judeus tenham sido banidos 
da Inglaterra por cerca de trezentos anos antes dos dias de Shakespeare. Dessa forma, o retrato 
deles, por Shylock foi inteiramente construído a partir da sua imaginação e da lenda popular. É 
fora do objetivo deste livro analisar em detalhe as razões para e os resultados do cristianismo 
antissemita. Para os que desejam uma apresentação equilibrada e estudiosa deste tema, 
recomendo o livro A angústia dos judeus, de Edward H.Flannery. O autor é honesto e imparcial 
na sua exposição da culpa cristã, embora ele não seja anticristão. Na verdade, ele é um padre 
católico, comprometido tanto com o Cristianismo quanto com a Igreja. 
Sonhos e Sonhadores 
Nestaatmosfera de desprezo e perseguição, os judeus viveram como estranhos e párias da 
sociedade, um povo oprimido sem um país. Na sua escuridão, havia somente um raio de luz: 
Sião. Mesmo assim isto evocava mais frequentemente as memórias de um passado, do que a 
esperança para o futuro. De tempos em tempos, no entanto, um líder se levantaria para dar-
lhes um vislumbre de esperança de que iriam novamente ser uma nação na sua própria pátria. 
Um desses líderes foi David Reubeni, judeu e figura carismática do Oriente que apareceu na 
Europa de Leste no ano de 1525. Ousadamente, ele procurou levantar um exército para 
reconquistar a Palestina para o seu povo. Anunciando que o seu irmão era o governante de um 
reino judeu próximo à Arábia, Reubeni apresentou-se primeiro ao Papa. 
Ele lembrou ao Papa que muitos patriarcas da Igreja no passado tinham crido que Jerusalém 
seria reconstruída antes da era milenar. Surpreendentemente, o Papa recebeu-o, apoiando-o e 
enviando-o com cartas de recomendação ao rei de Portugal. 
O povo judeu juntou-se a David Reubeni, já que ele era o primeiro líder judeu, em muitos 
18
 
 
séculos, de estatura suficiente para falar ao Papa e a reis em nome deles. Quando Reubeni 
finalmente chegou junto de Carlos V, que era o imperador do Santo Império Romano, contudo, 
ele foi rejeitado, preso e provavelmente executado. 
As suas esperanças acabaram com essa derrota, os judeus voltaram a acomodar-se na sua 
resignação. Em finais do século XV, a Inquisição na Espanha e Portugal parecia selar o seu 
destino. Os judeus foram forçados a converterem-se ou a morrerem. Em muitos casos, se a 
Igreja não se convencesse de que a conversão era genuína, eles morreriam de qualquer maneira. 
Em cada nova onda de perseguição, alguns judeus conseguiam voltar aos poucos para a 
Palestina. Alguns com trabalho árduo para conseguir uma existência parca naquele solo. Outros 
dependendo de esmolas enviadas por irmãos mais abastados na Europa e Ásia. As Cruzadas dos 
séculos onze e doze tinham deixado a terra desolada e os seus poucos habitantes fracos e 
abatidos. Há muito, as glórias de Jerusalém tinham sido esquecidas. 
Em finais do século XV, de acordo com um peregrino, somente quatro mil famílias viviam em 
Jerusalém. Dessas, somente setenta famílias eram judias e eram da classe “mais pobre, faltando-
lhes, até, os mais comuns dos bens necessários”. Tal descrição não fazia crescer esperança pela 
pátria restaurada nos corações dos judeus da Europa. Como Grayzel diz mais adiante: “O estado 
atual da Palestina, de alguma forma vinha a representar o estado miserável do povo judeu. 
Ambos estavam desolados; ambos estavam em mãos hostis; ambos esperavam redenção de 
Deus.” 
Mais tarde, no século XVI, os judeus novamente experimentaram um breve momento de 
esperança. Joseph Nasi, um rico judeu português que tinha fugido para a Turquia, destacou-se 
perante o sultão. Este poderoso governante deu a Nasi o título de Duque de Naxos, uma ilha no 
Mar Egeu, e concedeu-lhe todos os direitos da Palestina, da parte do Tiberíades. Nasi planeava 
usar a sua riqueza e influência para estabelecer um grande número de irmãos judeus nesta área 
e para obter a cultura de bichos - da - seda como meio de sobrevivência para a colónia. 
Antes que o plano pudesse ser concretizado, contudo, a guerra entre a Turquia e Veneza 
estourou. Neste tumulto, Joseph Nasi perdeu o favor do sultão e o poder advindo deste favor. 
Novamente, as esperanças dos judeus foram aniquiladas. 
Ajuda de Uma Fonte Inesperada 
Nesse ponto, quando a fé e a força dos judeus estavam no mais baixo nível, a esperança e a 
ajuda vieram de uma fonte inesperada: cristãos da Inglaterra. A Igreja Cristã de lá tinha sido tão 
culpada quanto à conduta com relação aos judeus, assim como o restante da Igreja. Desde 1290, 
quando a Inglaterra deportou todos os judeus que lá viviam, a nação tinha ficado sem 
comunidade judaica. 
A tradução da Bíblia para o Inglês em 1500, contudo, anunciou uma renovada confiança na 
autoridade das Escrituras e a sua relevância para a vida do povo de Deus. Veio juntamente um 
despertar espiritual, tanto entre os estudiosos cristãos quanto entre os leigos, o que incluiu uma 
nova compreensão do propósito de Deus para o povo judeu e para a sua pátria histórica. 
O primeiro esforço cristão para explicar a teoria de um Israel reunido custou, ao seu autor, a 
19
 
 
vida. Francis Kett foi queimado como herege em 1589, um companheiro da faculdade Corpus 
Christi em minha própria alma mater*, Cambridge (*a universidade que me formou 
intelectualmente). 
Porém, a ideia não morreu com ele, já que outros clérigos Elisabetanos, incluindo os Puritanos, 
começaram a falar e a escrever sobre “o chamado dos judeus”. Quase sem exceção, os que 
apoiaram esta nova interpretação da profecia da Bíblia assumiram que uma conversão 
voluntária em massa ao cristianismo precederia o retorno dos judeus à sua terra. 
O livro de Sir Henry Finch, A Restauração dos Judeus, publicado em 1621, descreveu uma 
teocracia perfeita na terra restaurada de Israel. A sua predição - de que “todos os gentios trariam 
a sua glória àquele império” - provocou imediata e violenta oposição tanto da Igreja quanto do 
estado. O rei Tiago I considerou o livro como difamatório e prendeu o idoso Sir Henry e os seus 
editores. Eles ficaram detidos apenas algumas semanas, mas a experiência fez com que outros 
usassem mais discrição em suas afirmações e escritos. Mas apesar da oposição e perseguição, a 
ideia se enraizara e continuaria a crescer entre os Puritanos e outros. 
O sonho cristão de um estado judeu restaurado floresceu na Inglaterra de 1640 a 1666. 
Acreditava-se, como David Reubeni proclamara anteriormente, que este estado conduziria à era 
Messiânica e ao Milénio. Havia um borbulhar de ideias, movimentos e livros entre os homens 
de considerada estatura. Oliver Cromwell, Samuel Pepys, Henry Oldenburg, Baruch Spinoza e 
outros- todos abraçaram a doutrina da “Restauração”. 
Na verdade, a própria palavra, quando usada com letra maiúscula, veio a ter aquele único 
significado: a restauração de Israel. A atenção estava voltada para o povo judeu. Alguns 
acreditavam que os índios do Novo Mundo eram as “Dez Tribos Perdidas”. Outros acreditavam 
que eles mesmos eram membros das Dez Tribos Perdidas - pessoas como Thomas Tany, um 
ourives inglês que queria trazer a Restauração à existência. Aqueles que acreditavam na 
doutrina do “Israel Britânico” foram mais tarde chamados de “hebreus invisíveis”. Porém, 
mesmo quando o apoio britânico crescia, a perseguição aos judeus começava novamente na 
Europa de Leste, desta vez pelos Cossacos. 
Não é de surpreender que Sabbatai Zevi, o filho de um comerciante judeu em Esmirna, tenha 
ganhado grande atenção na Inglaterra quando ele mesmo se proclamou o messias do povo 
judeu. Zevi anunciou que, no ano de 1666, ele lideraria o seu povo de volta à sua pátria. Relatos 
fictícios de que carregamentos de judeus estavam sendo enviados para a Palestina provocaram 
tanta agitação entre não judeus em Londres quanto entre a grande população de judeus noutras 
cidades da Europa. Os milenistas estavam predizendo que 1666 seria “o ano maravilhoso”. 
Sabbatai Zevi chegou a Constantinopla em 1666. Mas em vez de tomar a coroa do sultão, ele 
tornou-se seu prisioneiro - e converteu-se ao Islamismo. Desta vez não foram somente as 
esperanças dos judeus que foram aniquiladas. Os cristãos que acreditavam na Restauração 
sentiram um desespero quase igual. 
Escritos Sobre o Tema 
Dois escritos significativos deste período saíram de vista e não reapareceram até à seguinte 
grande onda de Sionismo no final do século dezanove. Ambos os livros foram escritos por 
20
 
 
cristãos que estudaram as profecias bíblicas, e, a partir daí, com os olhos da fé viram Israel como 
nação restaurada séculos adiante. 
O primeiro livro, Nova Solyma (ACidade ideal: Jerusalém Reconquistada), foi um romance de 
ficção, publicado originalmente por autor anónimo, em 1648, em Latim. Veio a reaparecer em 
1902, o mesmo ano em que Theodor Herzl publicou o seu romance sobre o mesmo tema, 
Altneuland (A Velha Nova Terra). 
Nova Solyma foi o trabalho de Samuel Gott, influenciado por John Milton. Este livro, diferente 
de outras obras de ficção, é notável porque o seu referencial não é nem “lugar nenhum” nem 
“um determinado lugar”, mas é especificamente a terra de Israel. O sucesso da sociedade que 
ele retrata estava baseado na religião que sintetizava o judaísmo e o cristianismo. 
Um exemplo surpreendente do entendimento profético neste livro é a declaração posta na boca 
de um dos personagens principais: 
“Faz parte da responsabilidade de uma república verdadeira cuidar do jovem e nisto a 
providência de Deus não tornou os nossos esforços ineficazes, pois é bem conhecido que uma 
descendência mais talentosa e bonita cresceu entre nós desde a nossa restauração”. 
A descrição poderia ser aplicada, sem modificação, ao Israel contemporâneo. 
O outro livro, The way of Light (O caminho da luz), de Johann Amos Comenius (Komensky), 
anteviu uma era Messiânica que seria precedida pela restauração dos judeus na sua terra. O 
tcheco Comenius, um pioneiro educador que morava na Inglaterra, tinha escrito o seu livro em 
1642, mas este não fora publicado até 1667, e o foi somente em latim. Quando o livro foi 
finalmente traduzido para o inglês e impresso em 1938, ficou óbvio que o pensamento de 
Comenius era de três séculos à frente de seu tempo. 
Intercâmbio Cristão-Judaico 
O líder judeu mais significativo dos anos de 1600 foi Manasseh Ben Israel, Rabino de Amsterdão. 
O seu livro, A Esperança de Israel, ligou o messianismo dos Puritanos Britânicos com o 
messianismo judeu. Ele também acreditava que a restauração de Israel deveria incluir as “Dez 
Tribos Perdidas” e, rapidamente, aceitou a noção puritana de que os índios do Novo Mundo 
eram esses parentes perdidos. 
Os seus estudos no livro de Daniel juntamente com a profecia sobre a dispersão “de uma até a 
outra extremidade da terra” (Deuteronômio 28: 64), convenceram-no de que a Inglaterra 
deveria admitir os judeus dentro das suas fronteiras. Ele trabalhou juntamente com os Cristãos 
Britânicos Restauradores para fazer com que isto acontecesse, mas não viveu o suficiente para 
presenciar este facto ocorrido em meados dos anos 1650. Todavia, o seu trabalho encorajou 
esses cristãos britânicos que procuravam por líderes judeus, a implementar a sua visão. 
Um dos paradoxos dos séculos XVII e XVIII foi que muitos judeus influentes não acreditavam que 
eles seriam restaurados à sua pátria, enquanto muitos cristãos influentes acreditavam. Um 
debate animado foi desencadeado em 1787 quando Joseph Priestley, um renomado naturalista, 
filósofo e teólogo propôs que os judeus reconhecessem Jesus como Messias, pois assim, os seus 
21
 
 
sofrimentos teriam um fim e eles seriam congregados à Terra Santa. David Levi, o primeiro judeu 
a traduzir o Pentateuco para o Inglês, respondeu com repulsa à tese de Priestley, especialmente 
à ideia de que o Messias já havia vindo. Os seus escritos demonstraram que os mais devotos 
judeus dos seus dias não estavam nem antecipando a vinda do Messias nem o retorno à sua 
terra. 
O mais surpreendente paradoxo, que perdurou até o século dezanove, foi que muitos eminentes 
pensadores Britânicos, escritores e poetas acreditavam fortemente no movimento de 
Restauração, enquanto este permaneceu virtualmente desconhecido para os líderes políticos. 
Em 1799, por exemplo, quando as forças de Napoleão Bonaparte invadiram a Palestina, líderes 
do movimento de Restauração Britânico pediram-lhe oficialmente que concedesse uma pátria 
aos judeus. Esses líderes acreditavam que a queda do império otomano era inevitável, mas, 
mesmo assim o governo britânico trabalhou incansavelmente para preservar a Turquia e os seus 
domínios. A vitória de Napoleão teve vida curta, contudo, e a sua retirada após apenas um mês 
acabou com a esperança dos Restauradores. 
O plano de Deus para os judeus e sua terra ganhou nova importância neste momento. Em 1800, 
James Bicheno, no seu livro, The Restoration of the Jews—Crisis for All Nations (A restauração 
dos judeus - crise para todas as nações), concluiu que a restauração não estava condicionada à 
conversão ao Cristianismo. Vinte anos mais tarde, um escritor anónimo inglês vocalizou o 
primeiro chamado aos cristãos e judeus com o fim de cooperarem pacificamente para a 
formação do estado judeu. 
Os nomes dos cristãos do século dezanove que abraçaram o conceito de um estado judeu 
restaurado podem ser lidos como uma secção de “Quem é Quem”: Charles Darwin, o Conde de 
Shaftesbury, Lorde Palmerstone, Benjamin Disraeli, Robert Browning, George Eliot, John Adams 
e outros. 
Um dos mais interessantes foi Sir Laurence Oliphant - soldado, diplomata, escritor, estudioso da 
língua e da cultura russa, jornalista e membro do Parlamento Britânico. Por volta de 1878, 
Oliphant tomou conhecimento do dilema da Comunidade Judaica Europeia e expôs-se com zelo 
característico para lhes assegurar “a terra de Gileade”, a leste do Rio Jordão. 
Ele obteve o apoio de Lorde Salsbury e também de Bejamim Disraeli (Lorde Beaconsfield), que 
era judeu por nascimento, e cristão por fé. (Disraeli é considerado um dos maiores estadistas 
que o povo judeu já criou e subiu ao mais alto pináculo da política ocidental dos seus dias: 
primeiro ministro do Império Britânico). Mesmo o príncipe de Gales - o futuro Eduardo VII- 
encorajou Oliphant, que, então, cruzou o Canal para Paris para assegurar o apoio adicional do 
Ministro dos negócios estrangeiros francês. 
Preparado com documentos do governo da Inglaterra e da França, Oliphant rumou para 
Constantinopla a fim de ver o sultão. Em 1880, quando parecia ser o momento mais propício 
para o sucesso de seu plano, Disraeli caiu do poder e a política externa da Grã-Bretanha foi 
revertida. Ela deixaria de ser a protetora do sultão. Novamente as esperanças dos Restauradores 
Britânicos, bem como as dos judeus europeus foram frustradas. 
Entretanto, os intelectuais judeus na Rússia iniciaram a sua própria forma de Sionismo: Hovevei 
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Zion (“Amantes de Sião”). Eles perceberam que a assimilação não os salvaria dos pogroms 
(massacres organizados) que eram a expressão do anti-semitismo, naquela altura, varrendo a 
Europa. A organização espalhou-se rapidamente pelas comunidades judaicas no continente e na 
Grã- Bretanha. 
Laurence Oliphant juntou forças com os Amantes de Sião, e trabalhou o resto da sua vida para 
ajudá-los. À medida que os judeus russos, em número pequeno, começaram a fazer o seu 
caminho para a Palestina, Oliphant e a sua esposa deixaram o seu conforto na Inglaterra, 
estabelecendo-se em Haifa, a fim de ajudarem os recém-chegados. Ele morreu em 1888, tendo 
vivido para ver novos colonatos agrícolas iniciados por estes refugiados da perseguição. 
Theodor Herzl – e o Seu Amigo 
O nome Theodor Herzl está para sempre inscrito na história como pai do Sionismo moderno. 
Quando ele entrou em cena, os eventos começaram a ocorrer com grande velocidade. Após o 
primeiro Congresso Sionista Mundial em Basel, Suíça, em 1887, ele disse: “Em Basel eu fundei 
o estado Judeu! Se eu dissesse isto em voz alta hoje, eu seria saudado com uma sonora 
gargalhada. Em cinco anos, talvez, e certamente em cinquenta anos, todos irão percebê-lo. 
Sete anos depois, Theodor Herzl estava morto; mas exatamente cinquenta anos depois, em 29 
de novembro de 1947, as Nações Unidas votaram a favor de estabelecer o estado judeu na 
Palestina. 
Por trás dessas cenas históricas estava um desconhecido, mas notável ministro cristão: o capelão 
da Embaixada Britânica, em Viena. William Hechler, clérigo anglicano, filho de um estudioso 
hebreu, convenceu-se por seuestudo da profecia bíblica de que 1897 era o ano decisivo para a 
restauração do estado judeu. Por isso, quando ele leu o livro de Herzl, Der Judenstaat (O Estado 
Judeu), três semanas após a sua publicação em 1896, foi diretamente ao encontro do seu autor 
e colocou-se à sua disposição para ajudar a realizar esta visão. 
Embora Hechler fosse um homem desinteressante, tinha conhecimentos admiráveis. No início 
de sua carreira, ele foi tutor dos filhos de Frederic, Grão-duque de Baden, que era tio do kaiser 
Wilhelm. Além disso, ele tinha persuadido o grão-duque e outros membros da família real da 
Alemanha de que o Estado judeu seria restaurado, e tinha-lhes mostrado as suas cartas bíblicas 
e diagramas. Ele, então, ofereceu-se para abrir as portas a Herzl. 
Herzl não era um homem religioso e sabia pouco sobre os profetas, mas era pragmático. Ele 
reconhecia que necessitava de apoio e suporte dos governantes seculares se quisesse ganhar o 
respeito e apoio da irmandade judaica. Além disso, Hechler era britânico e Herzl sabia que os 
Restauradores Cristãos Britânicos eram provavelmente os mais fortes aliados que ele poderia 
encontrar para a sua causa. Então ele aceitou a oferta de Hechler. Menos de um mês após 
aquele primeiro encontro, Hechler conseguira uma audiência de duas horas para Herzl com o 
Grão-duque Frederic e tinha falado diretamente com kaiser Wilhelm em nome de Herzl. 
Frederic apoiou o plano de Herzl e usou a sua influência para agendar as reuniões com o kaiser, 
que finalmente aconteceram em Constantinopla e Jerusalém, em outubro de 1898. 
Foi a audiência com Frederic Baden, no entanto, que tornou o nome de Herzl conhecido nas 
cortes reais da Europa e foram os esforços incansáveis de Hechler - e orações - que também lhe 
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abriram outras portas. Os primeiros seguidores judeus de Herzl eram pobres e não tinham 
influência, mas ele cresceu em importância por ser recebido por ministros e mesmo por algumas 
cabeças coroadas, e, assim, o mundo judeu começou a ser encorajado. Finalmente um dos seus 
falava em favor deles, reivindicando o direito à independência e à sua pátria histórica. 
Com William Hechler e os Restauradores Britânicos de um lado, e Theodor Herzl e o Congresso 
Sionista Mundial de outro lado, a confluência das duas correntes sionistas começou. Em 1900, 
o Congresso Sionista Mundial reuniu-se em Londres e “Palestina para os judeus” tornou-se o 
lema. 
Em 1902 uma nova onda de pogroms na Rússia lançou pânico no movimento Sionista que 
brotava. Os Congressos Sionistas em 1902 e 1903 estavam dispostos a aceitar qualquer pedaço 
de terra, em qualquer lugar, para salvar as vidas daqueles que eram massacrados sem 
misericórdia. Os britânicos ofereceram a terra no Sinai em 1902. Quando esse plano entrou em 
colapso, o Congresso de 1903 considerou o Uganda. 
O Gabinete Britânico dos Negócios Estrangeiros oficialmente reconheceu o movimento Sionista 
como uma entidade diplomática em 1903 por sua carta oferecendo o Uganda como lugar de 
refúgio para os judeus. Herzl e muitos outros desejavam aceitar esta terra no leste da África 
onde lhes foi prometida autonomia e governo próprio, mas o congresso não conseguiu chegar 
a um acordo. Hechler, um participante não-oficial, foi um dos que argumentaram que aceitar 
Uganda salvaria algumas vidas, mas que poderia impedir para sempre o reassentamento na sua 
própria e verdadeira pátria. 
Em agosto de 1904 Herzl, entretanto morreu. Quando o Congresso se reuniu novamente, 
abandonou o plano de Uganda. 
Palestina - O Cadinho 
Entretanto, os judeus continuavam a afluir em direção à Palestina como pássaros durante o voo 
de migração. Retornar a Sião foi o sonho cujo tempo tinha chegado. Não havia mais necessidade 
de encorajamento por parte dos cristãos: eles vinham da Rússia e do leste europeu, de 
Marrocos, Iraque, Turquia e Iêmen. Entre 1904 e 1915, 40.000 imigrantes chegaram, quase 
dobrando o número da população de judeus - ainda somente doze por cento do total. Isto foi o 
começo do movimento de kibutz do assentamento coletivo, da indústria de cítricos, das novas 
cidades (como Tel-Aviv, em 1909) dos programas sociais e da indústria judaica. 
Desde 1880, quando a atitude britânica com relação ao Império Otomano tinha mudado, a 
Alemanha tinha sido a protetora do sultão. A derrota alemã na I Guerra Mundial, no entanto, 
mudou aquela situação. Quando as forças britânicas sob o comando do General Allenby 
capturaram Jerusalém aos turcos em 1917, o governo Otomano terminou e o governo 
mandatório britânico começou. O General Allenby, um cristão, desceu do seu cavalo e entrou 
em Jerusalém a pé porque “ninguém além do Messias deveria entrar nesta cidade montado”. 
Um mês antes, em 2 de novembro de 1917, Lorde Balfour, o secretário britânico dos negócios 
estrangeiros, tinha emitido uma declaração, afirmando: “O governo de Sua Majestade vê com 
favor o estabelecimento de uma casa nacional para o povo judeu na Palestina”. A Declaração de 
Balfour não criou um estado judeu, mas preparou o caminho. Lorde Balfour era um cristão que 
24
 
 
acreditava na restauração de Israel. A sua Declaração fez com que os Restauradores Cristãos e 
os Sionistas Judeus se regozijassem juntos. 
No entanto, este regozijo foi de curta duração, já que nenhuma grande mudança ocorreu 
imediatamente. Até 1920, a Palestina foi administrada pelo governo militar britânico, que 
ignorou a Declaração de Balfour. Quando o governo Britânico finalmente indicou o seu primeiro 
alto comissário, eles escolheram Heber Samuel, um judeu que trabalhava para melhorar as 
condições dos novos assentados. Ele também estabeleceu o hebraico como a terceira língua do 
país. 
Quase desde o início, houve problemas entre árabes e judeus. Vários fatores contribuíram para 
a tensão. A política e os métodos do governo britânico diferiam em muito dos métodos dos 
turcos que haviam governado a área por quatrocentos anos. Havia uma grande afluência de 
imigrantes judeus de ascendência, cultura e língua heterogéneas. O caráter integral do país 
estava passando por uma transformação radical. Os árabes ressentiram fortemente tudo isto e 
começaram a organizar motins antissemitas. 
Em 1919, os sionistas tinham atingido um acordo amigável com Emir Faisal, o líder do 
movimento árabe e acreditavam que eles poderiam viver pacificamente lado a lado. Quando o 
irmão de Faisal, Abdullah invadiu o oriente da Palestina com um bando de guerrilheiros em 1921, 
no entanto, a situação mudou. 
Winston Churchill, secretário britânico das colónias, reconheceu Abdullah como emir e com um 
traço da sua caneta, dividiu a Palestina, criando um novo território mandatório da Transjordânia. 
Ele esperava aplacar, dessa forma, os árabes dando-lhes quatro quintos do território total. Em 
1922, os britânicos levaram a questão da Palestina perante a Liga das Nações, que confirmaram 
essas fronteiras. 
É digno de nota que o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, um cristão e estudioso 
da Bíblia, enviou o seu protesto contra este ato arbitrário de partição: 
A causa sionista está ligada à garantia das fronteiras bíblicas e tem em vista o 
desenvolvimento económico do país. Isto significa que o norte da Palestina deveria atingir 
o Rio Litani e a fonte das correntes do Monte Hermon; no leste deve incluir as planícies de 
Jaulon e Haran. De outra forma nós teríamos um caso de mutilação. Gostaria de relembrar 
que nem Washington nem Paris manifestaram oposição ao plano Sionista nem ao garantir 
limites bíblicos indispensáveis.... 
As concessões de Winston Churchill aos árabes não puseram fim às oposições, que foram 
manifestadas nos seus contínuos motins e atos de terrorismo. Às vezes as Forças Armadas 
britânicas suprimiam esses motins árabes; outras vezes, eles eram reprimidos pela organização 
de autodefesa dos judeus, a Haganá. 
Em 1929, os árabes provocaram distúrbios sobre a questão dos judeus orarem diantedo Muro 
das Lamentações e, então, massacraram setenta Judeus indefesos em Hebron durante o 
Sabbath. Depois disso, a Haganá passou a treinar um corpo de voluntários a fim de proteger 
colónias pequenas e isoladas. Em anos posteriores, os britânicos armaram os “Bandos de Paz” 
dos árabes moderados para ajudar a proteger o país de bandos de terroristas Árabes nómades. 
25
 
 
Lutas, Conflitos, Progresso. 
Apesar de todas as dificuldades, o desenvolvimento dos judeus continuou a florescer. Sionistas 
judeus, jovens da Europa de Leste, imigraram em grandes números imediatamente após a 
Declaração de Balfour. 
Nos meados de 1920, artesãos da classe média e comerciantes chegaram para se estabelecerem 
em cidades e vilarejos e para construir fábricas, lojas, hotéis e restaurantes. A construção geral 
e a de estradas tornaram-se as maiores indústrias. O Fundo Nacional Judeu, utilizando recursos 
fornecidos por organizações Sionistas noutros países, compraram grandes pedaços de terra para 
as colónias. A Federação Geral do Trabalho Judaica, a Histadrut foi fundada em 1922. Dentro da 
Histadrut, surgiu a liderança que estava destinada a formar o primeiro governo de Israel em 
1948. 
A partir da divisão em 1922, nenhuma imigração de judeus foi permitida para o leste da 
Palestina, i.e. Transjordânia. Nenhuma restrição como esta, contudo, foi colocada à imigração 
árabe à pátria dos judeus. Árabes entraram livremente para aproveitarem os melhores salários 
e condições de vida, resultantes do desenvolvimento judaico. Na verdade, enquanto a 
população de judeus aumentava em 375.000 entre a I e a II Guerra mundial, a população não 
judia aumentou em 380.000. É interessante notar que o crescimento árabe foi maior em áreas 
de desenvolvimento judeu intensivo (e.g., 216 por cento de aumento em Haifa) e insignificante 
onde havia pouca afluência judaica. 
A ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, causou uma grande imigração dos judeus. 
Por volta de 1936, mais de 164.000 novos colonos tinham chegado à Palestina. Alguns deles 
trouxeram capital substancial para investimento. Latifundiários árabes ausentes tiraram 
proveito da situação e venderam solos pantanosos, rochosos ou arenosos por preços 
exorbitantes. Os judeus pagaram mais de 20 milhões a latifundiários árabes entre 1933 e 1935. 
Eles, então, drenaram os pântanos, irrigaram os desertos e plantaram árvores e outras culturas. 
Embora a maioria do povo judeu tenha estado fora da agricultura por séculos, quando eles 
retornaram à sua terra desenvolveram com habilidade impar a terra estéril fazendo-a produzir 
colheitas abundantes. 
A tensão acumulada entre judeus e árabes na década de trinta, criou tensão adicional entre os 
novos imigrantes judeus e o governo mandatário britânico. Embora houvesse um elemento 
fortemente pró Sionista na opinião pública britânica, o governo britânico, por conveniência, 
muitas vezes tentava acalmar os árabes. 
Quando a Segunda Guerra Mundial estourou em 1939, quase a população inteira de judeus 
entre a idade de 18 e 50 anos - 136.000 pessoas no total - voluntariou-se para as forças armadas 
britânicas. Os britânicos selecionaram apenas algumas centenas de especialistas naquela 
ocasião, mas pelo final da guerra mais de 26.000 judeus da Palestina estavam a servir na Brigada 
Judia. Lutar contra um inimigo comum fortaleceu os laços britânico - judaicos, especialmente 
quando a maioria árabe na Palestina era indiferente ou pró-nazista. O Árabe Mufti de Jerusalém, 
em particular, era abertamente pró-nazista e visitou a Alemanha em 1941 para oferecer 
assistência árabe aos nazistas “na solução final do problema judaico”. 
26
 
 
A grande força militar no Médio Oriente durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial 
ajudou a economia judaica na Palestina. A produtividade na agricultura aumentou, 
especialmente à medida que novas colónias de judeus se desenvolveram nas partes mais férteis 
do país. A indústria e a tecnologia de material bélico floresceram. Tanto para judeus quanto para 
árabes, era tempo de calma, como a do olho no centro de um furacão. Quando a Segunda Guerra 
Mundial terminou, levantaram-se novamente turbulências as quais ainda não cessaram. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27
 
 
3. 
Dores de Parto de uma Nação 
 
O destino da comunidade judaica na Palestina, e praticamente de todo o povo judeu espalhado 
pelo mundo, estava em jogo entre 1946 a 1948. Até à altura da minha saída do Exército 
Britânico, em abril de 1946, eu era um espetador interessado, mas passivo, da situação que se 
desenrolava na Palestina. Embora profundamente sensibilizado pelo modo como via os vários 
aspectos da profecia bíblica sendo cumprida diante dos meus olhos, não era minha intenção 
envolver-me. Deus, em Sua providência, contudo, decidira o contrário. 
Durante algum tempo depois de minha saída, Lydia e eu continuamos a viver com as nossas 
meninas em Ramalá. Rapidamente, porém, os nossos vizinhos árabes deixaram claro que não 
iriam mais tolerar meninas judias entre eles. Não tivemos alternativa senão a de nos mudarmos 
para Jerusalém, antes que o ódio que ardia nos seus olhos explodisse em atos de violência contra 
elas. 
Em Jerusalém, a tensão estava aumentando cada vez mais. A sabotagem por parte das 
organizações de resistência judias provocaram retaliação e repressão das forças militares 
britânicas. Os conflitos armados romperam a tão instável paz. Atiradores árabes armados com 
rifles, em tocaia nos telhados ou noutros pontos de vantagem, atiravam indiscriminadamente 
em quem passasse. Na noite escura e com as ruas desertas, ninguém ousava sair. 
Apesar das tensões existentes, consegui inscrever-me como aluno de pós-graduação na 
Universidade Hebraica, então localizada em Monte Scopus, perto do local onde eu tinha 
concluído o meu serviço militar. Com interrupções esporádicas, consegui continuar os meus 
estudos lá, durante os dezoito meses seguintes. 
Efeitos da Divisão 
No dia 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas votaram pela divisão da Palestina em dois 
estados, um judeu e um árabe. Deste ponto em diante, a situação de Jerusalém degenerou-se, 
rapidamente, num estado de guerra não declarada. Judeus e árabes já não queriam viver lado a 
lado. A cidade foi dividida em vários campos armados, alguns controlados por judeus e outros 
por árabes. 
Oficialmente, os britânicos ainda eram responsáveis pela manutenção da lei e da ordem. As 
forças militares à sua disposição eram mais do que suficientes para que realizassem as suas 
tarefas com eficiência. 
Para minha consternação, eles escolheram não fazê-lo. Em vez disso, toleraram abertamente—
e, às vezes, até apoiaram—os saques e os assassinatos realizados pelos bandos árabes armados 
contra os judeus. Eles também usaram a sua superioridade militar para evitar que os judeus 
adquirissem o material bélico necessário para a sua defesa. Com o meu conhecimento de 
primeira mão dos métodos do Exército britânico, poderia chegar a apenas uma única conclusão: 
28
 
 
os representantes oficiais do meu país na Palestina, naquele momento, estavam a fazer tudo o 
que estava ao seu alcance, menos a guerra aberta, para evitar a o aparecimento do estado de 
Israel. 
Um elemento principal nas “forças de segurança” sob a direção dos britânicos foi a Legião Árabe. 
Esta era a força militar oficial da Transjordânia (mais tarde chamada de Jordânia)—treinada, 
equipada, financiada, e comandada pelos britânicos. Mas, enquanto aos judeus a Legião Árabe 
não lhes ofereceu segurança alguma, ao contrário, esta foi a mais poderosa das várias forças 
Árabes alinhadas contra os judeus. 
Na noite de 12 de dezembro de 1947, através de uma conversa providencialmente ouvida por 
uma das nossas meninas, percebemos que um caminhão cheio de soldados armados da Legião 
Árabe estava fazendo preparativos para atacar a nossa casa. Sem proteção contraeste tipo de 
“segurança”, toda a nossa família simplesmente fugiu, em fila, para a escuridão das ruas 
desertas de Jerusalém. 
Caminhámos por duas horas até encontrarmos refúgio para a noite, numa Missão Cristã 
Americana. Pela manhã, os árabes muçulmanos das redondezas da missão enviaram uma 
mensagem ao missionário responsável avisando que, caso continuasse a dar abrigo às nossas 
garotas judias, eles queimariam o prédio. Vinte e quatro horas mais tarde, estávamos 
novamente como refugiados nas ruas de Jerusalém. 
Nos dois meses que se seguiram, vivemos como refugiados até que, finalmente, fomos 
convidados a ocupar um prédio de uma grande missão, na área judaica principal, de Jerusalém. 
Os missionários que lá tinham estado, iam deixar o país e desejavam que tomássemos conta do 
prédio na sua ausência. Lá permanecemos durante os meses que se seguiram e assistimos, 
assim, ao nascimento do estado de Israel. 
Jerusalém Cercada 
Àquela época, a área judaica de Jerusalém tinha-se tornado uma cidade sitiada. Toda a 
comunicação com as comunidades árabes ao norte, a leste e ao sul havia cessado. Para oeste, 
vagueando, bandos de militares árabes tinham cortado a ligação para Tel Aviv e a área da costa. 
Os britânicos nada fizeram para restringir esses bandos árabes. Em vez disso, eles usaram as 
suas forças para evitar que os judeus dessem qualquer passo efetivo para reabrir a estrada entre 
Tel Aviv e Jerusalém. Consequentemente, a área onde morávamos foi desprovida de quase 
todos os abastecimentos alimentares e, os que ali estavam, viviam à míngua, beirando a fome. 
Em 14 de maio de 1948, as forças britânicas finalmente retiraram-se da Palestina, e o estado de 
Israel foi oficialmente proclamado. No dia seguinte, todas as nações árabes vizinhas declararam 
guerra a Israel e deram início às operações militares em larga escala contra ela, com a intenção 
declarada de destruir o novo estado. Um total de mais de 40 milhões de pessoas, com 
armamentos modernos, e exércitos bem equipados, entraram, desta forma, em guerra contra a 
nação minúscula e recém-nascida, de menos de 640.000 pessoas, cujo exército voluntário tinha-
se reunido com 48 horas de aviso, com nenhum equipamento, exceto uma variedade aleatória 
de armas ligeiras. 
29
 
 
Em 17 de maio, a Legião Árabe começou a bombardear a parte judaica de Jerusalém com 
artilharia pesada. O primeiro bombardeio explodiu somente a algumas jardas de onde vivíamos. 
Um fragmento pontiagudo entrou janela dentro, passando diretamente entre duas das nossas 
garotas, abrindo uma brecha de duas polegadas na parede oposta. As duas meninas foram 
derrubadas pela explosão. Quando o fragmento do explosivo já estava frio o bastante para ser 
manuseado, pude examiná-lo. Consistia de quase metade da base de um explosivo. Muito bem 
impressas nele estavam as palavras “fabricado na Grã-Bretanha”. 
A Legião Árabe continuou o seu bombardeio em Jerusalém por quase um mês, as baixas 
aumentavam entre a população civil. Os árabes não fizeram qualquer esforço para restringir o 
bombardeio aos que deveriam ser considerados alvos militares. Eles lançavam explosivos 
aleatoriamente em hospitais, igrejas e sedes diplomáticas, mesmo estando esses edifícios 
claramente marcados com a insígnia apropriada. 
No inicio de junho, as Nações Unidas conseguiram impor cessar- fogo temporário na Palestina. 
Durante quatro semanas isto fez cessar o combate em grande escala, embora emboscadas e 
pequenos confrontos esporádicos continuassem. Aproveitei o cessar-fogo para escrever uma 
carta ao vice-chanceler da Universidade de Cambridge (que acontece ser meu amigo), em que 
eu descrevia eventos na Palestina tal como os tinha testemunhado nos últimos seis meses. 
Pedia-lhe que usasse os seus bons ofícios para realçar a situação, tanto ao governo quanto à 
imprensa. 
Encerrei a minha carta com este resumo: 
O que escrevi, foi com a profunda convicção de que merece ser plenamente declarada e 
amplamente conhecida... Posso resumir as minhas conclusões em quatro frases: 
1) Desde novembro de 1947, o Governo Britânico tem sistematicamente resistido à 
implementação das decisões das Nações Unidas com relação à Palestina e, ao estabelecimento 
do estado judeu. 
2) Dentro da Palestina, a atual política do Governo Britânico é calculada para aumentar a 
possibilidade de prolongar o tiroteio pesado. 
3)Fora da Palestina, o efeito da política britânica é minar a Organização das Nações Unidas 
4) O bombardeio indiscriminado a Jerusalém continuou por vinte sete dias e noites , e é - em 
tudo menos no nome - uma operação militar Britânica. 
Finalizando, quero dar expressão a duas perguntas que agora se têm formado diariamente na 
minha mente: será que os britânicos sabem o que está sendo feito em seu nome na Palestina? 
Se o sabem, estão satisfeitos com isso? 
Nesta fase, contudo, todo o serviço postal para o exterior já tinha sido interrompido e, quando 
a minha carta chegou ao vice-chanceler, já era tarde demais para que algum uso efetivo pudesse 
ser feito a partir daquela informação. 
 
30
 
 
Uma Nação Nascida Num Dia 
Quando o cessar fogo de quatro semanas acabou, foram imediatamente retomados combates 
em larga escala. No período de intervenção, tanto Judeus quanto Árabes consolidaram as suas 
posições e trouxeram suprimentos adicionais. Houve também outro tipo de mudança nesta 
situação, contudo – uma mudança que não podia ser explicada apenas em termos de 
suprimento militar ou estratégico. 
Foi um desses intangíveis e indefiníveis fatores das questões humanas, que não estão registados 
na história oficial. Ainda assim, o seu efeito foi decisivo. Da nova perspetiva que percebera desde 
que chegara a Israel, vi isso como o desenrolar da mais poderosa força nos assuntos humanos 
- a Palavra profética de Deus. Por todos os padrões aceites, as probabilidades contra Israel 
ainda eram esmagadoras (Israel não parecia ter saída). No entanto, eu assistia com admiração 
como a maré da guerra se virou contra os exércitos árabes, lentamente no início, mas 
inequivocamente. Ao final de 1948, praticamente, todos os exércitos invasores árabes tinham 
sido forçados à retirada, e o estado de Israel estava estabelecido dentro das fronteiras, de algum 
modo, maiores do que as que foram originalmente propostas pelas Nações Unidas (ver na 
cronologia de eventos de 1947 a 2012 no fim do livro). 
Sem dúvida, mais conflitos e enormes sacrifícios ainda estão por vir; mas um facto de suprema 
importância ofuscou tudo mais: O estado de Israel tinha nascido e tinha sobrevivido. 
Mais uma vez, achei nas palavras de um dos profetas de Israel um resumo dos eventos que eu 
tinha testemunhado. O relato, escrito milhares de anos antes, não poderia ser superado na 
clareza ou em ênfase precisa, das características que eram únicas: 
“Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra 
num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus 
filhos.” (Isaías 66:8) 
Era exatamente o que me fora permitido ver com os meus próprios olhos! Num dia, 14 de maio 
de 1948, Israel nasceu como nação completa, com governo próprio, força armada e toda a 
função administrativa necessária. É verdade que tudo fora improvisado, rapidamente e em 
pequena escala. Ainda assim todos os ingredientes necessários estavam lá para fazer de Israel 
uma nação soberana dentro das suas próprias fronteiras. Até aqui, pelo que eu sabia, tal evento 
não tinha paralelo na história da humanidade. 
O nosso último ano em Jerusalém, 1948, foi repleto de muita dificuldade e perigo, mas 
sobrevivemos sem feridas pessoais. Próximo do fim do ano, Lydia e eu mudamos com a família 
para a Grã-Bretanha. Em retrospetiva, reconhecemos que tudo pelo que passámos foi um preço 
pequeno a ser pago pelo privilégio de testemunhar, talvez o mais importante cumprimento da 
profecia

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