Buscar

A verdadeira história de Jesus E P Sanders

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 170 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 170 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 170 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CAPA 
A Verdadeira História de Jesus 
E. P. Sanders 
 
Tudo o que se pode, corrigir histórico, saber sobre Jesus 
Noticias editorial 
 
PAGINAÇÃO: Rodapé e nº de páginas 366 
 Esta obra foi digitalizada e corrigida pelo Serviço de Leitura Especial da Biblioteca 
Municipal de Viana do Castelo. Destina-se unicamente a pessoas com necessidades especiais e 
não tem fins comerciais. 
Contactos do Serviço de Leitura Especial: 
Tel.: 258 840 010 
e-mail: leituraespecial@cm-viana-castelo.pt 
 
BADANA DA CAPA 
JESUS CRISTO. Está na base da maior religião mundial: dois mil milhões de seres humanos 
reclama-se hoje da fé nele e dizem-se cristãos. A sua figura foi de tal modo determinante que a 
Historia se divide em antes e depois de Cristo. Durante dois mil anos, em seu nome ergueu-se o 
que se chama a Igreja, construíram-se catedrais e hospícios, proclamou-se a dignidade infinita 
de ser Homem e também se instruiu a Inquisição, veio ao mundo amor e sofrimento. Ninguém 
tem dúvidas de que sem ele a Historia seria diferente. 
No entanto, viveu num canto remoto do Imperio Romano, a sua intervenção pública pode não 
ter chegado aos dois anos, foi condenado à cruz – a execução própria dos escravos -, como 
blasfemo religioso e subversivo social e politico. Aparentemente, deveria ter sido o fim. O que 
se passou para que, precisamente após a sua morte, tivesse começado um movimento que 
transformou o mundo? 
O seu enigma para nós é o da passagem do Jesus da história ao Cristo da fé, de tal modo que o 
seu nome agora é Jesus Cristo. Assim, a pergunta decisiva é esta: o que se pode saber hoje com 
rigor histórico sobre Jesus, o Cristo, independentemente da fé? Precisamente a esta pergunta 
responde esta obra modelar, saudada entusiasticamente pela crítica especializada, que sublinha 
dois aspetos essenciais: justamente o rigor e a acessibilidade. 
Anselmo Borges 
CONTRA CAPA 
Para crentes e não crentes (numa época que discute o “Código da Vinci”, o sentido da violência 
e da paz e a responsabilidade das confissões religiosas nestes domínios) é fundamental entender 
as convicções dos que “fizeram grupo” com jesus Cristo, o significado de milagres e 
exorcismos, o âmbito de projetos de mudança da história pessoal e coletiva e o alcance de um 
“Reino de Deus”. 
Que parentesco há entre o sentido e a salvação? 
A complacência, a tolerância, a predileção pelos marginais, os conflitos e os equívocos do 
tempo, a Paixão e a Ressureição são marcos de uma trajetória. O saber (prefigurado por 
abundantes hipóteses de leitura) convoca à sensibilidade e à alteração de critérios de viver. 
Com minucia de interprete e transparência de Mestre, o Prof. E. P. Saunders tenta reconstituir a 
fisionomia histórica de Jesus através da fidelidade às fontes, à releitura das comunidades 
nascentes e aos contextos de uma Pessoa. É uma delícia cultural a travessia de muitas das suas 
páginas! 
D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança 
«Um feito memorável.» 
mailto:leituraespecial@cm-viana-castelo.pt
Professor Jaroslov Pelikan, Universidade de Yale 
« é, hoje, o maior especialista americano na investigação sobre a vida de Jesus… Espero que 
esta obra (…) constitua um antidoto saudável contra algumas teses extravagantes sobre o jesus 
histórico que tem aparecido recentemente.» 
Professor John B. Meier, Universidade Católica 
«Soberbo… A Verdadeira Historia de Jesus destaca-se pela sua clareza e equilíbrio, o seu senso 
comum e, acima de tudo, pela sua honestidade.» 
Professor Wayne A. Meeks, Universidade de Yale 
«Um estudo não dogmático e não religioso sobre a verdade acerca da vida e percurso de Jesus, 
desenvolvido por um dos maiores especialistas.» 
Professor Paul Johnson, “Sunday Times” 
BADANA DA CONTRA CAPA 
Depois de dois bacharelatos no Texas, o seu estado natal, E. P. Sanders prosseguiu os estudos 
universitários em Gottingen, Jerusalém, Oxford e Nova Iorque, que culminaram num 
doutoramento em Teologia pelo Union Theological Seminary. Em 1984, tornou-se professor de 
Exegese na Universidade de Oxford. Seis anos mais tarde mudou-se para a Universidade de 
Ciências da Religião. Foi professor no Trinity College, de Dublin, e na Universidade de 
Cambridge. 
O seu campo de estudo centra-se no judaísmo e cristianismo no mundo greco-romano. Paul and 
Palestinian Judaism (1977) ganhou vários prémios nacionais. Jesus and Judaism (1985) recebeu 
o Premio Grawemeeyer de Religião e foi escolhida pelo Dunday Correspondent como uma das 
obras de referência da historia religiosa publicada nos anos 80. Escreveu igualmente The 
Tendencies of the Synoptic (1969), Paul, the Law and the Jewish People (1983), Studyng the 
Synoptic Gospels, com Margarete Davies (1989), Jewish from Jesus to the Mishnah (1990), 
Paul: Past Master (1991) e Judaism: Pratice and Belief 63 BDE – 66 CE (1992). 
Recentemente, E. P. Sanders recebeu novos Títulos: coutor em Letras pela Universidade de 
Oxford e doutor honoris causa em Teologia pela Universidade de Helsínquia. É membro da 
Academia Britânica. 
 A chave hermeutica de Jesus do Prof. E. P. Sanders reside no tema da «restauração 
escatológica». Como ninguém, Sanders conhece profundamente a cultura teológico-literária 
judaica da escatologia e conclui que o Deus da Aliança com o seu povo de Israel consuma em 
Jesus essa mesma aliança da restauração escatológica. 
Pe. Carreira das Neves Professor da Universidade Católica Portuguesa 
 
ISBN 972-46-1529-4 
(Edição original: ISBN 0-14-014499-4) 
© E. P. Sanders, 1993 
Direitos reservados 
EDITORIAL NOTICIAS 
Rua Bento de Jesus Caraça, 17 
1495-686 Cruz Quebrada 
E-mail: geral@editorial.noticias.pt 
Internet:www.editorialnoticias.pt 
JRPENTRETENIMENTO 
Título original: The Historical Figure of Jesus 
Tradução: Teresa Martinho Toldy 
Marian Toldy 
Revisão: Domingas Cruz 
Capa: Maria Manuel Seixas 
Edição: OI 04 0057 
I .ª edição: Setembro de 2004 
Depósito legal n.º 216622/04 
Pré-impressão, impressão e acabamento: 
Multitipo - Artes Gráficas, Lda. 
 
BIOGRAFIAS 
 
A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JESUS 
 
Nesta coleção: 
JOÃO PAULO Il - A VIDA DE KAROL WOJTYLA Tad Szule 
YITZHAK RABIN - MISSÃO INACABADA 
The Jerusalém Report 
EMÍDIO GUERREIRO - UMA VIDA PELA LIBERDADE 
A. Encarnação Viegas 
ALINA - MEMÓRIAS DA FILHA DE FIDEL CASTRO 
Alina Fernández 
POR TIMOR - BIOGRAFIA DE D. XIMENES BELO 
Arnold S. Kohen 
LULA - DO AGRESTE AO PLANALTO 
João Nascimento 
A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JESUS 
E. P. Sanders 
 
A VERDADEIRA HISTORIA DE JESUS 
Tradução 
Teresa Martinho Toldy 
Marian Toldy 
notícias editorial 
 
Abreviaturas 
Antig. Josefo, Antiguidades Judaicas, citado de acordo com a edição inglesa: Jewish 
Antiquities, in Work, ed. e trad. H. St. J. Thackeray, Ralph Marcus, Allen Wikgren e Louis 
Feldman, Loeb Classical Library, 10 vols., Londres e Cambridge MA 1926-1965 
a.e.c. antes da época cristã (= a. C.) 
e.c. época cristã (= d. C.) 
HJP Emil Schürer, History of the Jewish People in the Age qf Jesus Christ, revisto e editado por 
Geza Vermes, Fergus Millar e Martin Goodman, oS vols. em 4 partes, Edimburgo, 1973--1987 
J&J E. P. Sanders, Jesus and Judaism, Londres e Filadélfia, 1985 
JLJM E. P. Sanders, Jewish Law from Jesus to the Mishnah: Five Studies, Londres e Filadélfia, 
1990 
7 
NRSV New Revised Standard Version ofthe Bible 
P&B E. P. Sanders, Judaism: Practice and Belief 63 BCE - 66 CE, Londres e Filadélfia, 1992 
RSV Revised Standard Version of the Bible 
SSG E. P. Sanders e Margaret Davies, Studying the Synoptic Gospels, Londres e Filadélfia, 
1989 
Guerra Josefo, A Guerra Judaica, citado de acordo com a edição inglesa: The Jewish War, in 
Works (edição já mencionada) 
/ / paralelo a (Mt 9, 14-17 / / Mc 2, 18-22 significa que as passagens são paralelas uma à outra) 
 
Tabela cronológica 
597 a.e.c. - Nabucodonosor da Babilónia conquista Jerusalém;os líderes judaicos são levados 
para o exílio na Babilónia 
559-332 - Palestina sob o domínio persa 
538 - início do regresso a Jerusalém 
520-515 - reconstrução do Templo 
333-332 - Alexandre Magno conquista a Palestina 
cerca de 300-198 - Palestina sob Ptolomeu do Egipto 
198-142 - Palestina sob Selêucidas da Síria 
175-164 - Antíoco IV (Epífanes), rei da Síria 
167 - profanação do Templo; início da revolta dos Asmoneus (Macabeus) 
166-142 - os Asmoneus lutam pela autonomia total 
142-137 - período dos Asmoneus 
63 - Pompeu conquista a Judeia 
63-40 - Hircano II, sumo sacerdote e etnarca 
40-37 - Antígono, sumo sacerdote e rei 
37-4 - Herodes Magno, rei 
9 
31 - batalha de Actium: Octaviano (mais tarde, intitulado Augusto) torna-se imperador romano 
4 a.e.c. - 6 e.c. - Arquelau etnarca, administrador da Judeia 
4 a.e.c. - 39 e.c. - Antipas tetrarca, administrador da Galileia e da Pereia 
cerca de 4 a.e.c. - nascimento de Jesus de Nazaré 
6-41 e.c. - Judeia governada por prefeitos romanos 
14 - Tibério sucede a Augusto como imperador 
cerca de 18-36 - José Caifás, sumo sacerdote dos judeus 
26-36 - Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia 
cerca de 30 - morte de Jesus 
37 - Gaio (Calígula) sucede a Tibério como imperador 
41 - Cláudio sucede a Gaio 
41-44 - Agripa I, rei, governa sobre o anterior reino de Herodes 
44-66 - Judeia, Samaria e uma parte da Galileia governada por procuradores romanos 
48-66 - Agripa II recebe uma parte do reino do seu pai revolta dos judeus contra Roma 
66-74 – revolta doa judeus contra Roma 
70 - queda de Jerusalém, destruição do Templo 
10 
 
Prefácio 
A maioria dos investigadores que escrevem sobre o mundo da Antiguidade sente-se obrigada a 
avisar os seus leitores de que o nosso conhecimento do objeto, na melhor das hipóteses, é 
incompleto e de que raramente se chega a uma certeza. Um livro sobre um judeu do século I, 
que viveu numa parte bastante insignificante do Império Romano, deve ser prefaciado por este 
aviso. O que sabemos acerca de Jesus provém de livros que foram escritos algumas décadas 
após a sua morte, provavelmente, por pessoas que não faziam parte do círculo daqueles que o 
seguiram em vida. Estes citam-no na língua grega, que não era a sua primeira língua, e, de 
qualquer modo, as disparidades existentes entre as nossas fontes demonstram que o estado de 
conservação das suas palavras e dos seus atos não é perfeito. Possuímos poucas informações 
sobre ele, para além das obras escritas com intenção laudatória. Atualmente, não estamos bem 
documentados sobre regiões tão longínquas como a Palestina e os autores das nossas fontes 
também não o estavam. Não possuíam arquivos ou registos oficiais de qualquer espécie. Nem 
sequer tinham acesso a mapas. Estas limitações, normais na Antiguidade, resultam num elevado 
nível de insegurança. 
11 
Reconhecendo estas e muitas outras dificuldades, os exegetas do Novo Testamento passaram 
várias décadas - entre 1910 e 1970 - a afirmar que não sabemos nada, ou praticamente nada, 
sobre o Jesus histórico. O exagero provoca reação e, nas últimas décadas, a nossa confiança em 
nós mesmos aumentou, aliás, a tal ponto que a literatura exegética recente inclui aquilo que eu 
considero serem afirmações precipitadas e infundadas sobre Jesus - hipóteses sem provas que as 
sustentem. 
Considero o estudo dos Evangelhos um trabalho extremamente difícil. Compreendo os exegetas 
que desistiram de recolher muitos dados empíricos úteis sobre Jesus. Penso, contudo, também 
que o trabalho compensa tanto quanto é de esperar quando se trata de investigação da história da 
Antiguidade. 
Este livro apresenta as dificuldades e os resultados bastante modestos, que considero 
simultaneamente fundamentais e relativamente seguros - bastante seguros, tendo em conta os 
nossos restantes conhecimentos da Palestina antiga, em geral, e das figuras religiosas do 
judaísmo, em particular. Sabemos muito sobre Jesus, muito mais do que sobre João Baptista, 
sobre Teudas, sobre Judas, o Galileu, ou sobre qualquer outra das figuras cujos nomes 
conhecemos e que são, mais ou menos, da mesma época e região. 
Enquanto escrevia, apercebi-me de que as páginas com o material de introdução se estavam a 
amontoar. Apesar da minha intenção de as reduzir, elas aumentavam continuamente de rascunho 
para rascunho. Continuo a pensar que seria desejável que o leitor pudesse chegar mais 
rapidamente ao cerne da questão, mas julgo que os capítulos introdutórios são necessários. Os 
conhecimentos dos Evangelhos continuam a estar muito difundidos, mesmo nos nossos tempos 
secularizados, mas a compreensão dos problemas críticos que estes colocam é mais rara. 
Detesto dizer que existe uma dificuldade sem explicar de que dificuldade se trata: é a isto que se 
deve uma grande parte do material. Também descrevi mais pormenorizadamente do que é 
habitual o cenário político e religioso no qual decorreu a vida de Jesus, porque é muito 
frequente estes aspetos serem mal apresentados nos livros sobre Jesus, quer sejam da autoria de 
amadores, quer sejam de profissionais. 
Fiz, no entanto, algumas economias, sobretudo nas indicações bibliográficas. Evito tanto 
debates com outros especialistas como notas bibliográficas, remetendo para as minhas obras 
anteriores, nas quais discuti mais pormenorizadamente tanto as fontes primárias como a 
12 
literatura secundária. Esforcei-me igualmente por limitar ao mínimo a discussão de termos e 
expressões estrangeiras. 
As citações bíblicas, regra geral, seguem a Revised Standard Version, que eu continuo a 
considerar a tradução inglesa mais satisfatória, embora tenha usado ocasionalmente a Neto 
Revised Standard Version. Por vezes, modifiquei a tradução, em ordem a ser mais fiel ao 
fraseado do texto grego. 
Rebecca Gray leu e comentou dois rascunhos do livro, pelo que lhe estou muito grato. Agradeço 
igualmente a Frank Crouch, que elaborou um índice das passagens bíblicas, e a Marlena Dare, 
que o datilografou. Gostaria de agradecer também a Peter Carson e Miranda McAllister, da 
Penguin Books, pelos conselhos muitíssimo úteis e pela grande paciência, assim como a Donna 
Poppy, pelo seu trabalho minucioso sobre o texto dactilografado. 
13 
 
1. Introdução 
Numa manhã primaveril, por volta do ano 30 da era cristã, as autoridades romanas executaram 
três homens na Judeia. Dois eram salteadores - homens que deviam ter sido ladrões ou 
bandidos, cujo único interesse era o seu próprio proveito, mas que também podiam ter sido 
insurretos cujo banditismo tinha um objetivo político. O terceiro foi executado como um outro 
tipo de criminoso político. Não tinha roubado, pilhado, assassinado, nem sequer acumulado 
armas. Foi condenado, no entanto, com base na acusação de ter afirmado que era «rei dos 
judeus» - um título político. Aqueles que assistiam - entre os quais se encontravam algumas das 
mulheres que tinham seguido o terceiro homem - pensavam, certamente, que as suas esperanças 
de uma «insurreição» bem sucedida tinham sido destruídas e que o mundo quase não daria pelo 
que tinha acontecido naquela manhã de Primavera. De facto, durante algum tempo - tal como 
demonstram os vestígios literários da elite do Império Romano -, o mundo quase não registou 
este acontecimento. É evidente que o terceiro homem, Jesus de Nazaré, acabou por se tornar 
uma das figuras mais importantes da história da Humanidade. A nossa tarefa consiste em 
compreender quem foi e o que fez este homem. 
15 
Não vou tentar explicar por que razão este homem tem sido tão importante ao longo dos séculos 
subsequentes à sua morte. Isto é uma outra questão que exige o estudo da evolução da teologia 
cristã nos séculos posteriores à execução de Jesus, sobretudo nos quatro séculos que se lhe 
seguiram. Jesus tornou-se o centro de uma nova religião e transformou-se numa figura 
teológica: não só o fundador histórico de ummovimento religioso, mas alguém cuja 
personalidade e obra constituíram tema do pensamento filosófico e teológico. Durante quase 
dois mil anos, a maioria dos cristãos considerou os ensinamentos de Jesus e as suas outras 
atividades na Palestina como algo menos importante do que a sua relação com Deus Pai e do 
que o significado que Deus atribuiu à sua vida e, sobretudo, à sua morte: a sua morte constituiu 
um sacrifício pelos pecados do mundo inteiro. 
Direi um pouco mais sobre o Cristo dos credos cristãos no capítulo x: aqui, gostaria apenas de 
explicar que este livro constitui uma teologia. Não discutirei aqui nem o que Deus realizou 
através da vida e morte de Jesus, nem a forma como Jesus participa ou não na Divindade. 
Abordarei Jesus como um ser humano, que viveu numa determinada época e num determinado 
local, e procurarei provas e apresentarei explicações - tal como qualquer historiador que escreve 
sobre uma figura histórica. 
É óbvio que a teologia desempenhará um papel importante nesta obra num outro sentido. Tanto 
Jesus como os seus seguidores tinham ideias teológicas. Aqueles que transmitiram e 
desenvolveram as tradições sobre Jesus, assim como os autores dos Evangelhos, atribuíram-lhe 
um papel importante na sua compreensão da ação divina no mundo. Mencionarei, por vezes, a 
teologia dos primeiros cristãos, porque é importante fazê-lo para analisar o que eles escreveram 
sobre Jesus, e abordarei mais pormenorizadamente a teologia do próprio Jesus, porque isto 
constitui uma parte essencial da pessoa que ele foi. No entanto, não tentarei harmonizar estas 
doutrinas teológicas com os dogmas cristãos posteriores. Creio que existe uma continuidade 
entre aquilo que o próprio Jesus pensava e aquilo que os seus discípulos pensaram depois da sua 
morte, assim como entre aquilo que estes pensavam e aquilo em que os cristãos dos séculos 
posteriores acreditavam. Mas também houve alterações e evoluções. Não seguiremos esta 
história interessante para além da data do último Evangelho, isto é, cerca do ano 80. 
A teologia do próprio Jesus e as teologias dos seus primeiros seguidores constituem questões 
históricas, que devem ser exploradas da 
16 
mesma maneira como se investiga o que Jefferson pensava sobre a liberdade, o que Churchill 
pensava sobre o movimento operário e sobre as greves de 1910 e de 1911 ou o que Alexandre 
Magno pensava sobre a reunião dos Gregos e dos Persas num só Império, bem como o que 
pensavam os seus contemporâneos sobre estes grandes homens. 
Visto que alguns leitores não estarão habituados a explorar historicamente a vida e o 
pensamento de Jesus, gostaria de perspetivar o presente trabalho dizendo algumas palavras 
sobre os outros temas históricos que acabei de mencionar. Eles envolvem graus de dificuldade 
distintos e requerem a utilização de vários tipos de material. O pensamento de Jefferson sobre a 
liberdade e o governo representa um tema vasto, que exige um estudo minucioso, mas cujas 
fontes são excelentes, devido, em parte, à vasta correspondência de Jefferson, a qual foi 
conservada cuidadosamente.' As medidas que Churchill tomou a respeito da greve dos mineiros, 
em 1910, e de uma greve dos caminhos de ferro, em 1911, e, sobretudo, as ordens que deu à 
polícia e ao exército quanto à utilização da força foram bastante discutidas na imprensa da 
época; além disso, desenvolveram-se opiniões populares que perduraram até aos dias de hoje, 
embora sejam, frequentemente, incorretas. O historiador tem de examinar cuidadosamente os 
vários relatos, incluindo os boatos e as bisbilhotices, para determinar com precisão aquilo que 
Churchill fez e pensou sobre questões que excitaram tão fortemente os ânimos. Segundo parece, 
uma investigação exaustiva de todos os documentos; tanto públicos quanto privados, ilibam-no, 
em grande parte, das acusações que lhe são feitas." A questão de saber o que Alexandre Magno 
pensava sobre as suas conquistas sem precedentes é uma questão por esclarecer, à qual não se 
pode responder inequivocamente com base nas provas existentes. Sabemos que conquistou o 
Império persa, que casou com uma princesa persa e que 
17 
ordenou a alguns dos seus oficiais que casassem com mulheres da nobreza persa. Mas não 
podemos saber o que ele pensava exatamente. Podemos concluir, genericamente, que o seu 
objetivo era estabelecer uma espécie de união ou harmonia entre os seus oficiais macedónios e a 
nobreza persa, mas não podemos dizer com precisão o que ele pretendia. 
Estas questões assemelham-se todas às questões sobre Jesus num aspeto fundamental: as 
personagens principais são figuras lendárias. As pessoas falavam sobre elas, transmitiam 
histórias sobre elas durante o tempo da sua própria vida e, com o passar dos anos, alguns aspec- 
tos da vida destas figuras foram salientados, enquanto outros foram esquecidos. Quem faz 
investigação sobre Jefferson ou Churchill dispõe de fontes excelentes que lhe permitem ir para 
além das lendas e dos boatos. O biógrafo de Jefferson pode apoiar-se numa quantidade imensa 
de fontes, enquanto o biógrafo de Churchill fica quase imerso em documentação. Descobrir 
aquilo que Jesus pensava assemelha-se muito mais à investigação sobre o Alexandre histórico. 
Não se conservou nada que tenha sido escrito pelo próprio Jesus. Os documentos mais ou 
menos contemporâneos a ele, abstraindo os do Novo Testamento, não esclarecem realmente 
nada sobre a vida e a morte de Jesus, apesar de revelarem muito sobre o ambiente social e 
político. As fontes principais do nosso conhecimento do homem Jesus, os Evangelhos no Novo 
Testamento, têm, para o historiador, o defeito de terem sido escritas por pessoas cujo objetivo 
era exaltar o seu herói. Contudo, as fontes para Jesus são melhores do que aquelas que se 
debruçam sobre Alexandre. As biografias de Alexandre originais perderam-se todas e só as 
conhecemos porque foram utilizadas por autores mais recentes - muito mais recentes." As fontes 
primárias sobre Jesus foram redigidas numa fase mais próxima da época em que ele viveu e as 
pessoas que o tinham conhecido ainda estavam vivas. Este é um dos motivos para se dizer que 
sabemos mais sobre Jesus do que sobre Alexandre. Por um lado, Alexandre alterou tanto a 
situação política numa grande parte do mundo que os traços fundamentais da sua vida pública 
são, de facto, bastante conhecidos. Jesus não alterou a situação social, política e 
18 
económica da Palestina. Mesmo assim - como veremos aprofundadamente mais adiante -, 
possuímos uma ideia bastante correta sobre o percurso da sua vida exterior e, sobretudo, sobre a 
sua vida pública. A superioridade das provas existentes sobre Jesus, em comparação com 
Alexandre, torna-se patente, quando perguntamos o que ele pensava. Os seus discípulos 
iniciaram um movimento que se baseava, em parte, naquilo que o próprio Jesus tinha pensado e 
feito. Se conseguirmos descobrir quais são as ideias que eles assumiram de Jesus, saberemos 
muito sobre o seu pensamento. O estudo minucioso dos Evangelhos permite distinguir 
frequentemente entre aquilo que se preservou das ideias do próprio Jesus e as opiniões dos seus 
discípulos, como veremos mais pormenorizadamente adiante. O facto de algumas das nossas 
fontes serem independentes entre si aumenta a nossa segurança. Em Paulo encontram-se 
indicações importantes sobre algumas das perspetivas e expectativas de Jesus e as cartas de 
Paulo foram escritas antes dos Evangelhos. Por outro lado, as suas cartas foram coligidas e 
publicadas depois de os Evangelhos terem sido redigidos; por conseguinte, Paulo não conhecia 
os Evangelhos e os autores dos Evangelhos não conheciam as epístolas de Paulo. 
Mesmo assim, as nossas fontes deixam muito a desejar. Os Evangelhos transmitem palavras e 
atos de Jesus numa língua que não era a sua (ele ensinou em aramaico e os Evangelhos estão 
escritos em grego) e colocam cada peça de informação num cenárioimaginado pelos seus 
discípulos, sendo que se trata habitualmente de discípulos que se encontravam a uma certa 
distância temporal em relação a ele. Mesmo que soubéssemos que estamos perante as suas 
próprias palavras, teríamos sempre de recear que ele tivesse sido citado fora de contexto. 
O historiador que investiga a vida de um grande homem e faz um relato completo das suas 
descobertas escreverá, quase com certeza, algumas coisas que os admiradores da pessoa em 
causa prefeririam não ler. As pessoas, cuja imagem de Jefferson foi criada imaginando o 
carácter do autor da Declaração da Independência, podem ficar chocadas com um estudo sobre a 
sua vida amorosa e o seu consumo de álcool. Quem pensa em Churchill como o homem que 
«mobilizou a língua inglesa e a mandou para a guerra» (como se lhe referiu John 
19 
F. Kennedy), achará menos interessante a descrição de Churchill como representante da política 
interna. Isto não constitui um aviso de que eu vá revelar algo verdadeiramente chocante sobre 
Jesus, como uma promiscuidade sexual, por exemplo. Limitar-me-ei ao material empírico que 
não diz absolutamente nada sobre temas deste género. Se Jesus teve alguma falta séria, não 
temos possibilidade de a conhecer. Mas também não me limitarei a escrever como ele era 
simpático, nem ignorarei os aspetos da sua vida e do seu pensamento que os seus admiradores 
mais fervorosos gostariam de ver desaparecer. Temos de compreender por que motivo provocou 
controvérsias e porque tinha inimigos. A visão cristã tradicional, segundo a qual os judeus o 
odiavam porque ele era um homem bom e porque defendia o amor, ao qual eles se opunham, 
não serve. Esforçar-me-ei por lidar com ele e com os seus contemporâneos de uma forma mais 
realista. 
A pesquisa sobre o Jesus da História já tem mais de 200 anos. Nos finais do século XVIII, 
alguns europeus corajosos começaram a aplicar os métodos da crítica literária e histórica aos 
livros do Novo Testamento que, até ali, tinham estado fora do seu alcance - eram demasiado 
sagrados para a investigação laica da Renascença e do Iluminismo. A leitura das descrições de 
Jesus, escritas neste período de dois séculos por investigadores sérios e empenhados, revela que 
as conclusões foram extraordinariamente díspares, o que levou muitos a pensar que não 
sabemos realmente nada. Esta reação é exagerada; sabemos bastante. O problema está em 
conciliar o nosso conhecimento com as nossas esperanças e aspirações. A importância que Jesus 
e o movimento que ele iniciou alcançaram posteriormente leva a que queiramos saber tudo 
sobre ele, especialmente, sobre os seus pensamentos mais íntimos, como, por exemplo, o que 
pensou de si mesmo. Como já disse, penso que temos bons indícios sobre algumas das ideias de 
Jesus. No entanto, é, normalmente, ilusório pensar que se tem acesso aos pensamentos íntimos, 
mesmo que seja de pessoas cuja vida pública está bem documentada. O que pensava Lincoln de 
facto, no fundo do seu coração, sobre a libertação dos escravos? É uma pergunta difícil, apesar 
de dispormos de muito material sobre Lincoln, e embora saibamos o que ele 
20 
fez e com que consequências. Com Jesus, a situação é semelhante, embora a nossa 
documentação não seja tão completa: conhecemos algumas das coisas que ele fez, uma 
quantidade razoável sobre o que ensinou e bastante sobre as suas consequências. A partir daí, 
temos de inferir quais eram os seus pensamentos mais profundos. Não deveríamos ter receio de 
fazer essas inferências, mas deveríamos reconhecer que elas são menos seguras do que as suas 
palavras e os seus atos - sobre os quais já é bastante difícil chegar a provas seguras. 
O objetivo do livro é apresentar, tão claramente quanto possível, aquilo que podemos descobrir 
recorrendo aos métodos de investigação histórica habituais, assim como fazer uma distinção 
entre isto e as inferências, classificando-as inequivocamente como tal. A discussão geral dos 
milagres e da doutrina de Jesus incluirá algumas passagens de cuja fiabilidade duvido (como 
esclarecerei no lugar devido), mas as provas que eu considero certas controlarão os temas, as 
categorias e as conclusões. 
Este objetivo é modesto, mas difícil de cumprir. É frequente os autores gostarem de descrever as 
dificuldades do seu objeto para despertarem a compaixão dos leitores. Claro que espero ter 
leitores benévolos, mas também penso que é, realmente, mais difícil escrever livros sobre Jesus 
do que sobre outras pessoas acerca das quais dispomos de documentação comparável. Já chamei 
a atenção para o facto de pessoas que se contentam com uma informação geral sobre outras 
figuras da Antiguidade quererem saber muito mais no caso de Jesus. Põem-se outros problemas 
específicos. Um deles consiste no facto de as fontes principais, os Evangelhos do Novo 
Testamento, constituírem uma leitura amplamente divulgada e serem de acesso direto para o 
público que lê. Isto exige que o autor esclareça com algum detalhe a forma como utiliza as 
fontes - tarefa que os biógrafos de outras figuras da Antiguidade podem realizar rapidamente ou 
mesmo omitir. Todos os historiadores têm opiniões sobre as suas fontes, mas, habitualmente, só 
têm de as explicar a outros investigadores. A discussão dos problemas postos pelas fontes da 
Antiguidade é quase necessariamente técnica, o que impõe um fardo suplementar aos leitores. 
Problema mais importante ainda é o de praticamente toda a gente ter a sua própria opinião sobre 
Jesus e, portanto, ter uma ideia preconcebida sobre aquilo que um livro sobre ele deveria dizer. 
Salvo raras exceções, estas opiniões são extremamente favoráveis. As pessoas querem estar de 
acordo com Jesus e isto significa, frequentemente, que o veem concordando com elas. 
21 
Os ensinamentos éticos de Jesus, em particular, são aplaudidos em quase todos os campos. Os 
ensinamentos recolhidos no sermão da montanha (Mt 5-7), sobretudo, o mandamento do amor 
aos seus inimigos e a oferta da outra face, a par das parábolas em Lucas, como, por exemplo, a 
história do bom samaritano, serviram, muitas vezes, como súmula da verdadeira religião no 
pensamento dos grandes e famosos, incluindo daqueles que não tinham simpatia por nenhuma 
ou quase nenhuma religião organizada. Thomas Jefferson rejeitava a ideia de uma igreja 
estabelecida (quer dizer, de uma religião oficial de Estado); e esta perspetiva foi incluída na 
Constituição dos Estados Unidos da América. Mas Jefferson foi ainda mais longe: escreveu que 
tinha «jurado sobre o altar de Deus uma inimizade eterna por qualquer forma de tirania sobre o 
espírito humano», incluindo, em particular, as doutrinas de muitas confissões cristãs. No 
entanto, considerava Jesus um «mestre obreiro», cujo «sistema moral foi, provavelmente, o 
mais benéfico e sublime alguma vez ensinado». Segundo Jefferson, Jesus era «sensível à 
incorreção das opiniões dos seus antecessores sobre a Divindade e a moral» e «fez tudo para os 
conduzir aos princípios de um deísmo puro e a noções mais corretas dos atributos de Deus, a 
fim de reformar as suas doutrinas morais de acordo com as normas da razão, da justiça e da 
filantropia e para inculcar a fé num estado futuro». Por outras palavras, Jesus era muito parecido 
com Jefferson. 
Charles Dickens era mordaz em relação à Igreja vitoriana. Assim, escreveu que, num dia de 
Outono em Coketown (a cidade fictícia de Disckens, na qual era suposto todos os desastres 
sociais e económicos da revolução industrial tornarem-se patentes), «as cotovias cantavam, 
apesar de ser um domingo».'? Dickens debruça-se pormenorizadamente sobre os horrores do 
domingo numa extensa passagem na sua obra intitulada Little Dorrit. Clennam, uma das 
personagens do romance, recorda uma legião de domingos passados, «todos eles dias de uma 
amargura e angústia absurdas». No entanto, o autor estabelece um contraste entre os 
desconsoladores dias de descanso vitorianos e a «históriabenévola do Novo Testamento», 
acerca da qual Clennam 
22 
nunca ouviu falar durante as muitas horas que tinha passado na igreja. u Perto do fim do livro, a 
heroína insta a dura senhora Clennam a não se agarrar à sua religião vingativa, mas sim a 
deixar-se apenas guiar por aquele «que curava os doentes, ressuscitava os mortos, o amigo de 
todos os que sofriam e estavam sobrecarregados, o bom Mestre que derramou lágrimas de 
compaixão pelas nossas fraquezas». O desagrado de Dickens em relação aos domingos não se 
estendia a Jesus. Os domingos em Coketown poderiam ser sombrios, mas o verdadeiro 
problema era que os homens que mandavam, como, por exemplo, o senhor Gradgrind, 
pensavam que o «bom samaritano» era um «mau economista.» 
Winston Churchill, embora não tivesse nada contra o cristianismo oficial, tinha a mesma 
opinião sobre Jesus. Segundo um cronista, numa longa conversa com Harry Hopkins e outros, 
em 1941, Churchil ventilou a questão da tarefa de reconstrução do mundo quando a Guerra 
acabasse, finalmente. «Não podíamos encontrar um fundamento melhor do que a ética cristã e 
quanto mais seguirmos o sermão da montanha, tanto mais probabilidade teremos de ser bem 
sucedidos nos nossos esforços.» Onze anos mais tarde, Churchill continuava a ver no sermão da 
montanha «a última palavra em matéria de ética.» 
O facto de Jesus gozar de uma aprovação tão generalizada prova que os autores dos Evangelhos 
cumpriram bem a sua tarefa. Eles pretendiam que as pessoas se convertessem a ele, que o 
admirassem e acreditassem que ele tinha sido enviado por Deus e que segui-lo levaria à vida 
eterna. Raramente as expectativas foram cumpridas de forma tão total. Na perspetiva dos 
autores, a admiração por Jesus e a fé nele iam a par. Mateus e Lucas (aos quais devemos o 
sermão da montanha e a parábola do bom samaritano) não teriam gostado que os ensinamentos 
de Jesus fossem separados da própria convicção teológica, que eles próprios possuíam de que 
Deus o tinha enviado para salvar o mundo. Apesar disso, a forma como construíram os seus 
livros permite ao leitor escolher aquilo que lhe agrada e foi isso que muitos leitores 
23 
fizeram, admirando Jesus, mas discordando da teologia cristã. Nestes casos, alguns dos 
objetivos dos evangelistas foram alcançados. 
É destino do historiador ser a pessoa que submete os Evangelhos a um tratamento severo. Ele 
pode aderir ou não à teologia dos Evangelhos, isto é, à ideia de que Deus atuou através de Jesus. 
Seja como for, tem de ter consciência de que os autores tinham convicções teológicas e de que é 
provável que tenham revisto os seus relatos para que estes apoiassem as suas convicções. O 
historiador também tem de suspeitar que a doutrina ética que impressionou tanto o mundo tenha 
sido acrescentada através da sua utilização homilética e dos aperfeiçoamentos redaccionais 
ocorridos entre o tempo de Jesus e o surgimento dos Evangelhos. Independentemente destas 
suspeitas, o historiador tem a obrigação profissional de submeter as fontes a um interrogatório 
cruzado rigoroso: «Tu afirmas que "todos os habitantes de Jerusalém" foram ouvir João Baptista 
(Mc 1,5) e que Jesus curou "todas as doenças e todos os males" (Mt 4,2.3). Eu digo-te que estás 
a exagerar muitíssimo.» É óbvio que, nestas duas passagens, o historiador não observa senão 
exageros de retórica. Mas é necessário colocar outras questões: «Tu afirmas que os seus 
inimigos eram astuciosos e cheios de maldade. Eu digo-te que alguns eram sinceros, honestos e 
piedosos e que, por isso, o conflito não se reduzia a um esquema a preto e branco, como se fosse 
um western:» E o exame continua ao longo de todo o relato. Portanto, ao contrário dos políticos, 
romancistas ou moralistas, o historiador não pode limitar-se a escolher aquelas partes do 
Evangelho que testemunham nobreza e que podem servir de inspiração a outros. O historiador 
escolhe, mas com base em critérios diferentes: o que pode ser provado, o que não pode, o que 
está entre uma coisa e outra? 
O livro tem a seguinte estrutura: nos próximos cinco capítulos apresento mais material 
introdutório. O capítulo 2 constitui um esboço preliminar da vida e da época de Jesus; o capítulo 
.3 consiste numa breve apresentação da situação política que se vivia na Palestina no século I; o 
capítulo 4 consta de algumas questões fundamentais sobre o Judaísmo como religião; nos 
capítulos 5 e 6 são debatidos alguns dos problemas inerentes às nossas fontes. O cerne do livro é 
constituído pelos capítulos nos quais se procura proceder a uma reconstrução histórica daquilo 
que Jesus fez e ensinou, dos seus conflitos com outros e da sua morte. No epílogo, faço uma 
reflexão sobre as narrativas da sua ressurreição. 
24 
 
2. Esboço da vida de Jesus 
Tal como acabei de mencionar, temos de estudar muito material introdutório, antes de podermos 
iniciar uma exploração pormenorizada da atividade e da mensagem de Jesus. Teremos de 
descrever o mundo político e religioso no qual Jesus nasceu, assim como a natureza dos 
problemas e das nossas fontes. No entanto, pode ser útil começar com um breve resumo da vida 
de Jesus, o qual pode servir, em parte, como um enquadramento, e por outra parte, como um 
ponto de partida para uma apresentação mais completa. Acrescentarei um parágrafo sobre a 
forma como os discípulos encararam retrospetivamente a vida de Jesus; apesar de tal não 
constituir o tema do livro, é necessário têrmo-lo em conta. 
Não existem dúvidas substanciais sobre o curso geral da vida de Jesus: quando e onde viveu, 
quando e onde morreu, aproximadamente, e o que fez durante a sua atividade pública. Quando 
começamos a investigar mais a fundo, surgem dificuldades e incertezas, mas, por agora, 
ficaremos à superfície. Começarei por apresentar uma lista de afirmações sobre Jesus que 
cumprem dois critérios: são praticamente indiscutíveis e dizem respeito ao enquadramento da 
sua vida, especialmente à sua vida pública. (Se fizéssemos uma lista de todas as informações 
sobre Jesus que possuímos, ela seria consideravelmente mais longa.) 
25 
Jesus nasceu aproximadamente no ano 4 a.e.c., por volta da data da morte de Herodes Magno; 
passou a sua infância e os seus primeiros anos de adulto em Nazaré, uma aldeia na Galileia; 
foi batizado por João Baptista; 
reuniu discípulos à sua volta; 
ensinou em pequenas cidades, aldeias e na região rural da Galileia (ao que parece, não nas 
grandes cidades); 
anunciou o «Reino de Deus»; 
por volta do ano 30, foi a Jerusalém, para a festa da Páscoa; 
causou distúrbios no recinto do Templo; 
tomou uma última refeição com os seus discípulos; 
foi preso e interrogado pelas autoridades judaicas, mais precisamente, pelo sumo sacerdote; 
foi executado por ordem do prefeito romano, Pôncio Pilatos. 
Podemos acrescentar aqui uma pequena lista de factos igualmente seguros sobre os 
acontecimentos que se seguiram à sua morte: 
Os seus discípulos começaram por fugir; 
viram-no (não se sabe, em que sentido, ao certo) após a sua morte; 
por consequência, acreditaram que ele voltaria para instaurar o Reino; 
criaram uma comunidade para aguardar o seu regresso e procuraram persuadir os outros a 
acreditar nele como Messias enviado por Deus. 
A maior parte dos pontos nesta lista será discutida ao pormenor mais adiante. Gostaria agora de 
completar o esboço com um breve resumo sob a forma de narrativa. 
Não se sabe exatamente qual o ano do nascimento de Jesus. Voltaremos mais tarde às narrativas 
do nascimento em Mateus e Lucas, no entanto, gostaria de fazer aqui algumas observações 
sobre a data. A maioria dos investigadores - entre os quais também eu me encontro - considera 
decisivo o facto de Mateus concatenar a data do nascimento de Jesus com a morte de Herodes 
Magno. Herodes morreu no ano 4 a.e.c.; portanto, Jesus nasceu nesse ano ou pouco tempo 
antes; alguns investigadores preferem o ano 5, 6 ou, até, 7 a.e.c.O facto de Jesus ter nascido alguns anos antes do início da era que começa com o seu 
nascimento constitui uma das pequenas curiosidades 
26 
da história. Nesta obra, utilizo as letras a.e.c. para significarem «antes da era comum» e e.c. para 
significar «era comum». («Comum» que dizer aceite por todos, incluindo os não-cristãos.) As 
abreviaturas tradicionais, contudo, são a. C. («antes de Cristo») e d. C. (depois de Cristo»). 
Estas letras dividem a história entre os anos antes e depois de Jesus ter nascido. Mas, então, 
como é que ele poderia ter nascido no ano 4 a. C. (ou a.e.c.)? No século VI, um monge cítico, 
que vivia em Roma, chamado Dionísio Exíguo, introduziu um calendário litúrgico que contava 
os anos «a partir da encarnação» (nascimento de Jesus) e não de acordo com o sistema 
estabelecido pelo imperador romano Diacleciano, um pagão. No entanto, os conhecimentos de 
que Dionísio dispunha eram limitados. Não conseguiu fixar com exatidão nem a data da morte 
de Herodes (Mt 2), nem a do censo de Quirino (Lc 2), parecendo ter feito um cálculo baseado 
numa outra informação dada por Lucas: João Baptista, o precursor de Jesus, começou a pregar 
no décimo quinto ano do império de Tibério (Lc 3,1); Jesus tinha cerca de trinta anos quando 
começou a ensinar (Lc 3,23). O décimo quinto ano do império de Tibério foi (segundo o 
calendário atual) o ano 29 e.c.; ao atribuir o espaço de um ano à missão de João Baptista, 
Dionísio Exíguo concluiu que Jesus tinha iniciado o seu ministério no ano 30 e.c. Se Jesus tinha 
precisamente trinta anos naquela altura, então é porque nasceu no ano 1. Este deve ter sido o 
raciocínio que levou ao nosso calendário atual. 1 Os investigadores da atualidade consideram 
que a idade de Jesus, indicada em Lucas 3,23, constitui um número redondo e que tanto Lucas 
como Mateus, colocam o início da história no «tempo do reinado de Herodes» (Lc 1,5). Tal 
como já referi, esta parece ser a prova mais segura no que diz respeito à data de nascimento de 
Jesus. No entanto, o calendário baseado nos cálculos de Dionísio, nos quais o ano de morte de 
Herodes não desempenha qualquer papel, ganhou o apoio geral no século VI e nos séculos 
seguintes, pelo que, atualmente, os investigadores colocam o nascimento de Jesus alguns anos 
«antes de Cristo». 
Jesus viveu com os seus pais, em Nazaré, uma aldeia da Galileia. O governador da Galileia 
durante praticamente todo o tempo da vida 
27 
de Jesus (exceto nos primeiros anos, quando Herodes Magno ainda era vivo) era um dos 
herdeiros de Herodes Magno, Antipas. É muitíssimo provável que a atividade de ensinamento 
de Jesus, à exceção das últimas duas ou três semanas, tenha decorrido praticamente toda na 
Galileia de Antipas." Jesus não era um citadino. As grandes cidades na Galileia - Séforis, 
Tiberíades e Citopólis (Beth-Shean, em hebraico) - não aparecem nos relatos sobre a sua vida 
pública:" Ele conhecia, seguramente, a cidade de Séforis, que ficava apenas a alguns 
quilómetros de Nazaré; apesar disso, parece ter considerado que a sua missão se adequava mais 
aos judeus nas aldeias e nas pequenas cidades da Galileia. A própria Nazaré era uma aldeia 
bastante pequena. Situava-se numa região montanhosa, longe do mar da Galileia, mas Jesus 
ensinava principalmente nas aldeias e nas pequenas cidades junto ao mar. Alguns dos seus 
seguidores eram pescadores. Nos ensinamentos que lhe são atribuídos encontram-se, com 
bastante frequência, imagens da vida rural. 
Jesus era ainda um jovem, provavelmente, perto dos trinta anos, quando João Baptista começou 
a pregar na Galileia ou nos arredores. Este anunciava a necessidade urgente de arrependimento 
face ao juízo que se aproximava. Jesus ouviu João e sentiu-se chamado a aceitar o seu batismo. 
Os quatros Evangelhos apontam todos estes acontecimentos como algo que mudou a vida de 
Jesus. Segundo a descrição de Marcos, Jesus «viu os céus abrirem-se e o Espírito descer sobre 
ele, como uma pomba; ele ouviu também uma voz que disse: «Tu és o meu Filho amado» (Mc 
1,9-11). 
Antipas prendeu João porque este (segundo os Evangelhos) criticava o seu matrimónio com 
Herodíade ou porque (segundo Josefo) receava que a pregação do Baptista levasse à insurreição 
- ou por causa de ambas as coisas. Jesus começou a sua vida pública mais ou menos por essa 
altura. Enquanto João tinha pregado fora das povoações, Jesus andava de cidade em cidade e de 
aldeia em aldeia, pregando, 
28 
na maior parte das vezes, nas sinagogas, ao sábado. Reuniu à sua volta um pequeno número de 
pessoas para serem seus discípulos e eles acompanhavam-no nas suas viagens. Ao contrário de 
João, Jesus não só pregava como também curava os doentes. Ganhou fama e as pessoas 
insistiam em vê-lo. Depressa teve, também ele, de pregar ao ar livre, por causa das multidões. 
Não sabemos quanto tempo durou este ministério itinerante, mas, ao que parece, deve ter sido 
apenas um ou talvez dois anos. Depois de pregar e curar na Galileia durante esse período de 
tempo, Jesus foi passar a Páscoa a Jerusalém com os seus discípulos e outros seguidores. 
Jerusalém era na Judeia, que, ao contrário da Galileia, era uma província romana. Jerusalém, em 
si, era governada pelo sumo sacerdote dos judeus, que estava subordinado a um prefeito 
romano. Jesus entrou de burro na cidade e algumas pessoas aclamaram-no como «filho de 
David»." Quando foi ao Templo, agrediu os cambistas e os vendedores de pombas. O sumo 
sacerdote e os seus conselheiros decidiram que Jesus era perigoso e que tinha de morrer. Depois 
da ceia pascal com os seus discípulos, Jesus afastou-se para rezar. Um dos seus discípulos traiu-
o e os guardas do sumo sacerdote prenderam-no. Foi julgado num simulacro de processo e 
entregue ao prefeito romano com a recomendação de ser executado. Após um breve 
interrogatório, o prefeito ordenou a sua execução. Foi crucificado como agitador juntamente 
com outros dois. 
Jesus morreu depois de um período de sofrimento relativamente curto. Alguns dos seus 
seguidores colocaram-no num túmulo. Segundo alguns relatos, quando voltaram, dois dias 
depois, para ungir o seu corpo, encontraram o túmulo vazio. Depois, os seus seguidores viram- -
no. Estas experiências da ressurreição convenceram-nos de que Jesus regressaria e que Deus 
tinha agido na vida e morte de Jesus para salvar a humanidade. Os discípulos começaram à. 
persuadir outras pessoas a acreditar em Jesus. Atribuíram-lhe vários títulos, incluindo «Ungido» 
(«Messias, em hebraico, e «Cristo», em grego, «Senhor» e «Filho de Deus»). Estes títulos 
revelam que, à medida que o tempo foi passando, os discípulos de Jesus e os que estes 
converteram desenvolveram várias perspetivas acerca da relação de Jesus com Deus, bem 
29 
como do seu significado no plano de Deus para Israel e para o mundo. O movimento deles 
acabou por se separar do judaísmo e tornou-se a Igreja cristã. No entanto, quando os Evangelhos 
foram escritos, a cristologia (explicação teológica da pessoa e da obra de Jesus) ainda estava 
numa fase embrionária e a separação entre o cristianismo e o judaísmo ainda não era completa. 
Volto a dizer: cada frase deste esboço exige uma explicação e nós iremos investigar mais 
detalhadamente a maior parte destes pontos. Agora, temos de fazer um enquadramento, 
descrevendo a situação política e religiosa na Palestina daquela época e, depois, examinando as 
fontes das nossas informações sobre Jesus. 
30 
 
3. Situação política 
Quando Jesus nasceu, o Mediterrâneo oriental estava dominado por Roma. A sua execução foi 
ordenada por um administrador romano. No entanto, durante a maior parte da sua vida não 
esteve sujeito ao poder direto das autoridades romanas. Vamos examinar o ambiente político, no 
qual ele viveu e trabalhou, visto que temos de saber quem tinha poder sobre vários aspetos da 
vida nas diversas regiões da Palestina. No final dos anos vinte e no início dos anos trinta,havia 
uma tripartição do poder. Herodes Antipas era o tetrarca da Galileia e de Pereia, Pôncio Pilatos 
era o prefeito da Judeia e da Idumeia (que, naquela época, englobava três zonas geográficas 
(Samaria, Judeia e Idumeia) e José Caifás era o sumo sacerdote em Jerusalém. Esta divisão é 
mais fácil de compreender se começarmos com um breve resumo da história política que esteve 
na sua origem. Mas, primeiro, vou apresentar o homem a cujos escritos devemos a maior parte 
dos nossos conhecimentos sobre a Palestina na época de Jesus. 
Josefo, filho de Matatias, nasceu no ano 37 e.c., pouco tempo depois da execução de Jesus, 
numa família aristocrática de sacerdotes. Josefo era um grande conhecedor da lei e da história 
bíblicas, tendo estudado, também pormenorizadamente, os partidos religiosos mais importantes 
31 
da sua época (os essénios, os saduceus e os fariseus). Era promissor e ainda um jovem quando 
foi mandado a Roma para persuadir Nero a libertar alguns reféns judeus. Quando a revolta 
contra Roma eclodiu, em 66 e.c., foi-lhe entregue o comando da Galileia, apesar de ter apenas 
vinte e nove anos de idade. As suas tropas foram derrotadas, mas ele sobreviveu à derrota, 
graças à sorte e à habilidade. Teceu elogios ao general romano vitorioso, Vespasiano, 
vaticinando que ele haveria de se tornar imperador. Quando isso aconteceu, em 69, Josefo subiu 
na vida. O filho de Vespasiano, Tito, que ganhou a guerra contra os judeus, utilizou Josefo 
como intérprete e porta-voz para os judeus que defendiam Jerusalém. Depois da guerra, Tito 
levou Josefo consigo para Roma, onde lhe ofereceu casa e uma pensão. Josefo escreveu a 
história da guerra (Guerra judaica). Esta foi publicada nos anos setenta. Mais tarde, escreveu 
uma grande história dos judeus (Antiguidades Judaicas) que publicou nos anos noventa. 
Escreveu também uma defesa do Judaísmo contra os seus críticos (Contra Apion) e uma Vida 
apologética. Era um bom historiador, para os critérios da época, e dispunha de fontes exce- 
lentes para algumas partes das suas narrativas históricas. As exposições históricas que se 
seguem baseiam-se, em grande medida, em Josefo, visto que ele constitui a nossa única fonte 
para grande parte delas. 
Roma constituía o sucedâneo dos impérios anteriores: o persa, o de Alexandre Magno, e os 
vários impérios helenísticos que se seguiram a este." Apesar de os impérios terem surgido e 
desaparecido, os seus sistemas não se alteraram muito. Os povos subjugados pagavam tributo ao 
imperador; em contrapartida, eram protegidos das invasões e era-lhes permitido viver em paz - 
se estivessem dispostos a fazê-lo. Por vezes, os estados subjugados eram governados por 
autoridades locais «independentes», outras vezes, por um governador do império, que recorria 
às autoridades locais para a administração do dia-a-dia. Existem várias 
32 
situações análogas na história moderna. Nos impérios coloniais do século XVIII e XIX, as 
potências colonizadoras nomeavam um governador e estacionavam tropas no país, mas 
utilizavam, em certa medida, nativos na administração e na polícia; estes serviam, por vezes, 
como intermediários entre o governo e a população." A União Soviética recorreu a uma forma 
alternativa de governo imperial depois da Segunda Guerra Mundial. Estabelecia governos 
«independentes» nos países da Europa Oriental e só intervinha com as suas próprias tropas 
quando havia uma insurreição grave ou uma ameaça efetiva ao seu poder hegemónico. 
Entre o século VI e meados do século II a.e.c, os judeus da Palestina constituíam uma nação 
muito pequena no interior de um dos grandes impérios, um povo cujo território se limitava às 
montanhas da Judeia, sem qualquer acesso ao mar e fora das grandes rotas de comércio. Era 
governado pelo sumo sacerdote e o seu conselho, que deviam prestar contas ao governador do 
Império ou diretamente à capital do mesmo. Neste período de cerca de 400 anos, não existiram 
quaisquer conflitos substanciais entre a Judeia e o poder imperial. Os judeus viviam pacifi- 
camente sob o governo dos monarcas persas e helenistas. 
A partir do ano 175 a.e.c., com a subida de Antíoco IV Epifânio ao trono do império selêucida, 
a situação começou a alterar-se. Alguns dos sacerdotes aristocráticos em Jerusalém queriam 
adoptar um estilo de vida mais helenista, incluindo a introdução de um gymnasion, uma das 
principais instituições da civilização grega. O gymnasion educava rapazinhos e jovens e uma 
parte da educação consistia em exercícios físicos a nu. Isto tornou patente uma diferença 
fundamental entre a cultura helenista e a judaica: os judeus do sexo masculino eram 
circuncidados, em sinal da aliança feita entre Deus e Abraão (Gn 17), enquanto os 
33 
gregos, que acreditavam numa mente sã em corpo são, abominavam a circuncisão como 
mutilação. Alguns judeus submeteram-se a uma operação para disfarçar a sua circuncisão (1 
Mac, 1, 14 e segs.). 
Estes passos extremos provocaram uma reação. Os judeus não se opunham a todas as formas de 
influência estrangeira. Assumiram numerosos aspetos da religião e da cultura persa durante o 
período deste império e, em 175, também já tinham aceite alguns aspetos do helenismo. Mas o 
gymnasion ia longe de mais, porque levava à remoção da circuncisão, o símbolo da aliança. 
Prescindimos de uma descrição pormenorizada dos acontecimentos que se seguiram. A 
resistência judaica levou à tomada de medidas coercivas por parte de Antíoco, para impor a 
helenização dos judeus. O Templo em Jerusalém foi profanado por sacrifícios pagãos, os judeus 
foram obrigados a fazer sacrifícios aos deuses pagãos e alguns judeus foram obrigados a comer 
carne de porco, assim como a transgredir a Lei de outras maneiras. Isto levou, por sua vez, a 
uma revolta liderada pelos Asmoneus, uma família de sacerdotes, também conhecidos pelo 
nome de «Macabeus», por causa de uma alcunha dada a um dos irmãos que liderou a 
insurreição. O movimento dos Asmoneus acabou por ser bem sucedido, tendo contado, para 
tanto, com a grande ajuda das guerras de sucessão no império selêucida, após a morte de 
Antíoco IV. 
Os Asmoneus fundaram uma nova dinastia. Governavam a Palestina judaica como sumos 
sacerdotes e acabaram por assumir o título real. O Estado judaico totalmente independente 
durou cerca de 100 anos, tempo durante o qual os reis sacerdotais Asmoneus aumentaram 
consideravelmente o seu território, até este acabar por ter aproximadamente a mesma dimensão 
do reino de David. Os conflitos internos entre dois irmãos da família dos Asmoneus, Hircano II 
e Aristóbulo II, puseram fim à independência judaica. Durante a sua luta pelo poder, ambos 
apelaram à ajuda do general romano Pompeu. Ele respondeu, conquistando Jerusalém e 
separando uma parte do território recém-conquistado (63 a.e.c.). Nomeou Hircano II sumo 
sacerdote e «etnarca» («regente da nação», um grau inferior ao de rei); além disso, empossou 
um idumeu, chamado Antipatro, como uma espécie de governador militar. Em seguida, 
Antipatro nomeou dois dos seus 
34 
filhos, Fasael e Herodes (que seria conhecido, mais tarde, por Herodes Magno) para 
governadores da Judeia e da Galileia, respetivamente. 
A invasão de Pompeu alterou a posição do governo judaico. Este deixou de ser completamente 
independente para passar a ser semi-independente. Hircano II tornou-se soberano vassalo. 
Pagava tributo a Roma e era obrigado a apoiar a política e as ações militares dos romanos no 
Mediterrâneo oriental. Em contrapartida, gozava de autonomia no seu território; Roma assumiu 
a obrigação tácita de o proteger e de o manter na sua posição. Aristóbulo II não estava satisfeito 
com este regime. Ele e o seu filho Antígono revoltaram-se. Aristóbulo foi assassinado por 
amigos de Pompeu, mas o seu filho prosseguiu a luta, aliando-se aos Partos, a principal ameaça 
militar contra Roma naquela época. No ano 40 a.e.c., os Partos esmagaram o Médio Oriente,prenderam Hircano II e Fasael e empossaram Antígono como rei e sumo sacerdote. Herodes 
fugiu e conseguiu chegar a Roma. Foi nomeado rei da Judeia pelo Senado romano, com o apoio 
de Marco António e de Octaviano (que viria a ser chamado Augusto); além disso, recebeu o 
apoio das tropas romanas para reclamar o seu direito ao trono. 
Herodes foi escolhido porque era forte, um soldado excelente e leal a Roma; no entanto, a sua 
nomeação também estava em consonância com a política do Império Romano. Herodes tinha 
sido um apoiante de Hircano lI, a primeira escolha de Roma. Ao nomearem Herodes e ao 
apoiarem-no militarmente, os romanos apoiavam o seu protegido, opondo-se ao partido de 
Aristóbulo II e Antígono, que se aliou, ele próprio, ao adversário de Roma. Herodes venceu a 
guerra civil com a ajuda das tropas romanas. O rei vitorioso mandou Antígono a Marco 
António, que o mandou executar. No ano 37, Herodes restabeleceu a Palestina judaica como 
«estado independente» - melhor, como um reino vassalo semi-independente. 
A ênfase que coloquei na relativa independência da Palestina judaica deve-se ao facto de os 
investigadores do Novo Testamento, em particular, pensarem que Roma «dominava» ou 
«ocupava» a Palestina no tempo de Jesus, com soldados romanos em cada esquina. A situação 
variou de época para época e de local para local (como veremos), mas, em geral, Roma 
governava à distância, contentando-se com a cobrança do tributo e com a preservação de 
fronteiras estáveis, 
35 
a maior parte das vezes, mesmo a execução destas tarefas era deixada aos governadores e líderes 
locais leais a Roma. 
Herodes e a sua família eram idumeus, originários de uma região no sul da Judeia, que tinha 
sido conquistada pelos judeus com a força das armas durante o tempo dos Asmoneus. Muitos 
judeus consideravam-no só meio-judeu e tinham uma atitude de ressentimento em relação ao 
seu governo. Além disso, ele tinha suplantado a família dos Asmoneus, que, embora estivesse 
parcialmente desacreditada devido a conflitos internos, continuava a contar com a fidelidade de 
uma grande parte da população. Herodes casou com Mariamne, uma princesa Asmoneia, mas 
sabia que isto não era suficiente para ser amado pelo povo. Receava uma revolta e, ao longo dos 
anos, foi eliminando os membros que restavam da família dos Asmoneus, incluindo Mariamne e 
os dois filhos que teve dela. 
Depois de ter conquistado a Palestina, dominou-a com mão forte, até à sua morte, 33 anos 
depois. As tropas romanas, que o tinham ajudado na conquista, retiraram-se para outras regiões 
e Herodes era senhor absoluto na sua própria casa. É claro que não podia agir contra os inte- 
resses romanos: Augusto tinha a última palavra nas questões decisivas; mas, nas restantes, 
Herodes governava o seu reino como lhe apetecia. Lançou-se em grandes projetos de construção 
que empregaram dezenas de milhares de trabalhadores, promoveu o negócio e aumentou a 
prosperidade das terras reais. Esmagou impiedosamente qualquer oposição, nem que fossem 
protestos mínimos. No fim da sua vida mandou executar três dos seus filhos por ter suspeitado 
que eles eram traidores. Augusto, que aprovou o julgamento dos primeiros dois filhos, 
comentou que preferia ser o porco de Herodes do que o seu filho", Herodes seguia a Lei judaica 
com bastante rigor e não comia carne de porco. 
Tudo somado, Herodes era um bom rei. Não quero com isto dizer que lhe devêssemos conceder 
a nossa aprovação moral, mas que as suas fraquezas, para os critérios daquele tempo, não eram 
demasiado graves, sendo, em parte, compensadas por qualidades mais positivas. 
36 
Os ideais que motivam as democracias modernas ainda não tinham surgido. Em comparação 
com Augusto, um dos seus patronos, Herodes era desnecessariamente cruel e de visões curtas. 
No entanto, se o compararmos com os quatro imperadores romanos que se seguiram a Augusto 
(Tibério, Calígula, Cláudio e Nero), ele parece quase benévolo e misericordioso e era mais 
eficaz como governador. O que o distingue como um bom rei é o facto de ter aumentado a 
importância da Palestina no mundo, de ter prosseguido a política do seu pai no sentido da 
obtenção de benefícios para os judeus fora da Palestina, de não ter permitido que estalasse a 
guerra civil, que tinha deteriorado a situação no tempo dos Asmoneus e que haveria de se 
reacender na insurreição contra Roma e de, mais importante ainda, ter mantido os cidadãos 
judeus à distância dos soldados romanos. Enquanto a Palestina judaica fosse estável e forte, 
Roma deixava-a em paz. 
Quando Herodes morreu, no ano 4 a.e.c., Augusto analisou os testamentos que ele tinha deixado 
(eram dois) e decidiu dividir o reino entre três filhos. Arquelau recebeu o título de «etnarca» e 
foi nomeado governador da Judeia, Samaria e Idumeia. Antipas e Filipe foram nomeados 
«tetrarcas», «governadores de um quarto»; Antipas herdou a Galileia e a Pereia, enquanto Filipe 
recebeu as regiões mais remotas do reino de Herodes. Antipas revelou-se um vassalo fiel e 
governou a Galileia durante quarenta e três anos, até 39 e.c. Arquelau teve menos sorte; os seus 
súbditos protestaram contra algumas das suas medidas e Roma deu-lhes razão, destituindo-o e 
exilando-o (6 e.c.). Augusto nomeou, então, um funcionário romano para governar a Judeia, a 
Samaria e a Idumeia. 
Herodes fundou uma pequena dinastia e, ao que parece, os seus sucessores assumiram - ou, 
melhor, foi-lhes atribuído - o seu próprio nome. Tal como os sucessores de Júlio César se 
chamaram «César», os sucessores de Herodes receberam o nome de «Herodes». Em 
consequência disto, no Novo Testamento, há várias pessoas chamadas Herodes. A nota 
identifica os vários «Herodes» do Novo Testamento. Designarei sempre os filhos e os netos de 
Herodes pelos seus nomes próprios. 
37 
 
O governo da Galileia no tempo de Jesus 
Na Galileia do tempo de Jesus (entre 4 a.e.c. e 30 e.c., aproximadamente), a situação política era 
a mesma que tinha existido antes da morte de Herodes. Antipas governava a Galileia como o 
seu pai tinha governado um estado muito maior e governava-a nos mesmos termos e condições: 
pagava tributo, colaborava com Roma e mantinha a ordem pública. Em contrapartida, Roma 
protegia-o de invasões, não através do estacionamento de tropas no país ou nas fronteiras, mas 
pela ameaça implícita de retaliação contra os invasores. Antipas podia fazer o que quisesse no 
seu território, desde que os requisitos básicos fossem cumpridos. Por exemplo, cunhava as suas 
próprias moedas - um dos principais sinais de «independência». Tal como o seu pai, também 
Antipas era bastante cumpridor da Lei judaica. Mandou decorar o seu palácio com figuras de 
animais, o que muitos judeus consideravam uma transgressão ao mandamento que proibia os 
ídolos. Provavelmente, ele era de opinião que o seu palácio era um assunto da sua conta. No 
entanto, as suas moedas só tinham símbolos agrícolas, o que os judeus consideravam aceitável. 
Não existem indicações em nenhuma fonte de que ele tivesse tentado impor à população judaica 
costumes e instituições greco-romanas. As instituições nas cidades rurais e nas aldeias da 
Galileia eram completamente judaicas. É possível concluir dos Evangelhos que existiam 
sinagogas em todas as pequenas cidades e aldeias. As escolas eram judaicas e eram juízes 
judeus que julgavam os casos segundo a Lei judaica. 
Se Herodes foi um bom rei, em geral, Antipas foi um bom tetrarca. Correspondeu às exigências 
mais importantes de uma governação bem sucedida. Da perspetiva romana, isto significava que 
pagava tributo, não permitia perturbações à ordem e defendia as 
38 
suas fronteiras (referir-nos-emos mais adiante a uma exceção a este último ponto). Assim, Roma 
não precisava de intervir na Galileia e Antipas impedia que os cidadãos judaicos e os soldados 
romanos entrassem em conflito. 
Josefo não regista nenhum caso no qual Antipas tivessesido obrigado a recorrer à força para 
reprimir um levantamento. O facto de a população judia tolerar bastante bem o seu governante 
revela, provavelmente, duas coisas. Por um lado, que Antipas desprezava publicamente a Lei 
judaica. No entanto, o único exemplo de uma infração semipública da Lei, a decoração do seu 
palácio, teve repercussões anos depois da destituição de Antipas. Durante a insurreição contra 
Roma, a turba judia destruiu o palácio por causa da sua decoração. Podemos concluir daqui que 
muitos dos súbditos de Antipas o desaprovavam enquanto estava no poder e pensavam que ele 
não era um judeu suficientemente devoto, mas não se insurgiram contra ele. O facto de não ter 
existido qualquer insurreição também revela que Antipas não era excessivamente repressivo e 
que não cobrava impostos excessivamente altos (isto é, que estes não eram exorbitantes para os 
critérios da época). Além disso, Antipas, tal como o seu pai, empreendeu grandes projetos de 
construção que contribuíram para reduzir o desemprego. Os galileus no tempo de Jesus não 
tinham a sensação de que as coisas que lhes eram queridas estivessem seriamente ameaçadas: a 
sua religião, as suas tradições populares e a sua subsistência. 
Governantes como os herodianos tinham de pensar sobre a melhor forma de manter a ordem 
pública. Não precisavam de procurar a popularidade, embora alguns o tenham feito. O que era 
necessário era que avaliassem com prudência o que a população suportaria. Por exemplo, 
queriam cobrar tantos impostos quanto possível, mas não queriam uma revolta por causa dos 
impostos. Todos os governantes da Antiguidade sabiam que, quando surgia um conflito público, 
umas vezes, deviam acalmar a população e, outras, discipliná-la. Arquelau não conseguiu 
encontrar o equilíbrio entre ambas as coisas na Judeia. O tetrarca da Galileia teve um reinado 
pacífico e longo, em parte, porque a Galileia era menos difícil de governar e, por outra parte, 
porque era mais prudente do que Arquelau. 
39 
Antipas cometeu, no entanto, um grande erro. Como a história envolve João Baptista, que 
batizou Jesus, e ilustra Antipas como um governante-vassalo «independente», vamos analisá-la. 
Antipas apaixonou-se por Herodíade, a sua meia-sobrinha que já era casada com um outro tio 
seu, um dos meios-irmãos de Antipas. (Os herodianos casavam frequentemente entre si. 
Herodes tinha dez mulheres, pelo que tinha muitos filhos, que tinham imensas possibilidades de 
estabelecer relações de meios-irmãos. O casamento entre tio e sobrinha é permitido na Bíblia 
hebraica.) Para poder fazer de Herodíade a sua nova esposa, Antipas planeava repudiar a sua 
esposa anterior. Ela fugiu para casa do seu pai, um rei árabe de nome Aretas. Este ficou furioso 
e invadiu o território de Antipas, causando-lhe uma pesada derrota, antes de se retirar 
novamente. Aretas não se confrontou com tropas romanas, mas sim com o exército pessoal de 
Antipas, Roma recorreu, mais tarde, às suas tropas estacionadas na Síria para retaliar o ataque 
contra o seu vassalo. Tanto o Novo Testamento como Josefo associam estes acontecimentos a 
João Baptista. De acordo com o Evangelho de Marcos 6, 17-'29, João tinha criticado Antipas 
publicamente por este ter casado com a mulher do seu irmão, o que levou à sua execução. 
Segundo Josefo, Antipas receava que João, que tinha muitos seguidores, incitasse uma revolta, 
pelo que mandou executá-lo. Eram muitos aqueles que consideravam que João era um profeta e 
a população viu na derrota que Antipas sofreu, na batalha contra Aretas, o castigo de Deus pelo 
facto de o tetrarca ter mandado executar João Baptista.! 
Por volta do ano 39 e.c., anos depois da morte de Jesus, a ambição de Herodíade provocou a 
queda de Antipas. Não estava satisfeita com a posição de tetrarca ocupada por Antipas e queria 
que ele obtivesse o título de rei. Antipas foi a Roma para exigir esta promoção. Mas havia 
acusações contra ele. Foi considerado culpado de armazenar armamento e foi deposto. Foi para 
o exílio, juntamente com Herodíade. 
40 
 
A Judeia no tempo de Jesus 
A Judeia - unidade política composta naquela época por três regiões geográficas, a Samaria, a 
Judeia (incluindo Jerusalém) e a Idumeia - passou por uma história completamente diferente no 
tempo de Jesus. Arquelau teve sérias dificuldades com o povo por causa de algumas atitudes 
que o seu pai, Herodes, tomou no fim da sua vida (este mandou executar dois mestres que eram 
muito estimados e nomeou um sumo sacerdote impopular). Arquelau não tratou do assunto de 
forma hábil. É possível que as suas tentativas de apaziguar a multidão tenham sido 
desadequadas e que os seus esforços para reprimir a insatisfação não tenham sido 
suficientemente severos. Seja como for, os protestos públicos acabaram por levar os romanos a 
demiti-lo. É necessário dizer, para lhe fazer justiça, que esta parte da Palestina era mais difícil 
de governar do que o território de Antipas, uma vez que incluía Jerusalém e Samaria. Os judeus 
reagiam com muita sensibilidade ao que acontecia em Jerusalém; além disso, as grandes 
concentrações que ali ocorriam por ocasião das festas religiosas criavam condições favoráveis à 
eclosão fácil de distúrbios. Havia uma grande hostilidade entre os judeus e os samaritanos, o 
que também provocava conflitos. 
Quando Augusto decidiu que Arquelau não era um vassalo satisfatório como governador da 
Judeia, em vez de entregar o país a outro membro da família de Herodes preferiu nomear um 
procurador (6 e.c.). A administração foi entregue a um funcionário romano da cavalaria, que 
correspondia a uma espécie de aristocracia inferior, abaixo das ordens dos cônsules e dos 
pretorianos.!" Uma epígrafe encontrada há pouco permite concluir que, no período entre 6 e 41 
e.c., este oficial era um «prefeito», enquanto, de 44 a 66, tinha o título de «procuradora.» 
41 
o prefeito (existente no tempo de Jesus) vivia em Cesareia, na costa do Mediterrâneo, num dos 
luxuosos palácios que Herodes Magno tinha mandado construir. O prefeito dispunha de tropas 
com cerca de 3000 homens, o que não era suficiente para resolver problemas graves. Havia uma 
pequena guarnição romana na fortaleza Antónia, em Jerusalém, bem como em outros fortes da 
Judeia, mas Roma não governava a Judeia no dia-a-dia. As cidades e as aldeias eram 
governadas, como sempre o tinham sido, por um pequeno grupo de anciãos, entre os quais um 
ou vários serviam de magistrados. Quando havia dificuldades que poderiam levar ao 
derramamento de sangue, os cidadãos mais importantes mandavam uma mensagem ao prefeito. 
Os distúrbios mais significativos exigiam a intervenção do legado da Síria, que era superior ao 
prefeito da Judeia e dispunha de grandes contingentes militares (quatro legiões, num total de, 
aproximadamente, 20000 homens da infantaria e de uma cavalaria de 5000 homens). 
Durante as festas mais importantes, o prefeito romano vinha para Jerusalém e o contingente de 
tropas era reforçado para garantir que as multidões não se descontrolassem. As reuniões 
públicas, em geral, eram vigiadas cuidadosamente em todo o mundo antigo e as festas em 
Jerusalém eram conhecidas por serem perigosas: durante os 150 anos anteriores à morte de 
Jesus, temos conhecimento de, pelo menos, quatro grandes levantamentos iniciados durante 
uma festa - e isto apesar de os governadores judeus e romanos estarem preparados para 
enfrentar os problemas que surgissem e de terem concentrado forças nos arredores. 
Só o prefeito tinha o direito de condenar alguém à morte - com uma exceção: Roma permitia 
aos sacerdotes afixar avisos em grego e latim no Templo proibindo aos prosélitos a entrada num 
determinado sector do Templo. Quem infringisse essa proibição, mesmo que fosse um cidadão 
romano, era executado imediatamente, sem que o culpado fosse enviado ao prefeito. 
Excetuando este caso, o direito do prefeito 
42 
a condenar à morte não só eraexclusivo como também era absoluto; ele podia mandar executar 
até um cidadão romano, sem precisar de formular uma acusação que fosse apresentada perante 
um tribunal romano. Neste posto avançado do Império, um prefeito tinha de ser capaz de fazer 
tudo quanto considerasse necessário para defender os interesses de Roma e isto incluía o poder 
para disciplinar o exército. Se tinha o direito de executar um oficial romano sem um julgamento 
romano regular, então podia tratar os habitantes do país submetido mais ou menos como lhe 
apetecesse. A maioria dos prefeitos eram pessoas sensatas e não condenavam à morte de forma 
arbitrária. Mas, se um prefeito fosse extraordinariamente cruel, os súbditos não tinham grandes 
meios para se defenderem. Podiam reunir-se em massa e persuadir os seus líderes a tentar que o 
prefeito fosse mais benevolente. Se os seus líderes os apoiassem, podiam apresentar uma 
petição ao legado na Síria e este talvez interviesse. O legado da Síria podia, por exemplo, 
mandar o prefeito da Palestina a Roma para responder ali pelos seus atos. Por fim, a população 
do país submetido podia ser autorizada a mandar uma delegação diretamente a Roma. Para tal 
era provável que precisassem da autorização do legado e este podia proteger-se a si próprio 
fazendo reféns, para não se tornar o alvo da delegação.!? Nem Augusto nem o seu sucessor 
Tibério estavam interessados num levantamento ou numa insurreição. Por isso, Roma, às vezes, 
respondia positivamente a essas petições. No período sobre o qual nos debruçamos aqui, Roma 
destituiu dois governantes nativos (Arquelau e Antipas), bem como dois funcionários romanos, 
um dos quais era Pilatos. 
43 
Já foi observado que o governo local, sob os prefeitos, estava nas mãos de cidadãos notáveis: 
nas cidades e aldeias judaicas, os governantes efetivos eram sacerdotes e leigos judeus notáveis; 
nas cidades e nas aldeias samaritanas, esta tarefa era cumprida por sacerdotes e leigos 
samaritanos notáveis. Na Judeia, a situação era muito mais complicada do que na Galileia, dado 
que, em algumas cidades de maior dimensão, vivia um grande número de prosélitos e a 
população da Samaria, uma das regiões geográficas da Judeia, não era judaica. Mas basta que 
nos concentremos em Jerusalém, visto que era a única cidade da Judeia importante na vida de 
Jesus. 
Jerusalém era governada pelo sumo sacerdote judeu e pelo seu Conselho. Isto constituía, pura e 
simplesmente, um sistema praticado na época persa e helenística antes do levantamento dos 
Asmoneus. O sumo sacerdote - que atuava frequentemente em consonância com os «chefes dos 
sacerdotes» e, por vezes, também com «os poderosos» ou com «os anciãos» (leigos influentes) - 
controlava a polícia normal e o sistema judicial; o sumo sacerdote - sozinho ou nas combinações 
que acabamos de mencionar - ocupa um lugar de destaque nos Evangelhos, nos Atos dos 
Apóstolos e em Josefo. Houve sempre uma tendência para atribuir ao Conselho - que se chama 
Sinédrio, em hebraico - um papel governativo demasiado relevante. Não irei argumentar aqui 
contra a opinião tradicional sobre o Sinédrio e sobre a sua suposta autoridade legislativa e judi- 
cial, mas sim falar em termos gerais sobre o sumo sacerdote e o seu Conselho. É correto dizer 
que Jerusalém era governada, tanto formal como informalmente, pelo sumo sacerdote e pelos 
seus conselheiros. 
Darei aqui uma explicação sobre o processo de escolha do sumo sacerdote. O sacerdócio era 
hereditário; os sacerdotes judaicos faziam remontar a sua árvore genealógica a Aarão, irmão de 
Moisés, que foi considerado o primeiro sacerdote (cf Ex 28, 1). Durante a época persa e 
helenística, os sumos sacerdotes, os chefes da nação, eram (ou supunha-se que eram) da família 
de Sadoc, o sacerdote que ungiu Salomão como rei (1 Rs 1, 28-45). Os Asmoneus eram 
sacerdotes hereditários, mas não eram sadocitas. A consequência natural da sua ascensão ao 
poder, em resultado do levantamento bem sucedido contra os Selêucidas, foi a nomeação do 
chefe da família como sumo sacerdote. Com a investidura de Simão, o Asmoneu, no cargo de 
sumo sacerdote (1 Mac 
44 
14,41-49), a família dos Sadocitas, que governava anteriormente, foi deposta; no entanto, o 
sistema de governo pelo sumo sacerdote manteve-se. Porém, cerca de cem anos mais tarde, o 
levantamento de Aristóbulo II e do seu filho levou à entronização de Herodes como rei, o que 
alterou o sistema. Herodes não podia invocar uma origem sacerdotal. Durante o período da sua 
governação limitou-se a nomear os sumos sacerdotes. Quando Roma depôs Arquelau e entregou 
o governo da Judeia a um prefeito, começou também a nomear o sumo sacerdote. A partir daí, 
este direito foi concedido, por vezes, a um membro da família de Herodes, mas, outras vezes, 
ficava reservado ao prefeito, ao procurador da Judeia ou ao legado da Síria. No período entre 6 e 
66 e.c., os sumos sacerdotes foram sempre escolhidos de uma das quatro famílias de sacerdotes 
nobres. Visto que chegavam ao seu cargo através de uma nomeação política, não gozavam do 
respeito e da autoridade dos sumos sacerdotes hereditários das épocas anteriores (dos Sadocitas 
e dos Asmoneus), mas tinham algum prestígio e muito poder. De uma forma geral, foram bem 
sucedidos na governação de Jerusalém durante sessenta anos (de 6 a 66 e.c.). 
Por conseguinte, mesmo quando a Judeia estava formalmente sob o domínio romano «direto», o 
controlo quotidiano era exercido pelos líderes judaicos. Os magistrados eram judeus e 
governavam segundo a Lei judaica, as escolas eram judaicas e a religião também. O sumo 
sacerdote e o seu Conselho assumiam um amplo leque de responsabilidades. Assim, tinham de 
organizar, por exemplo, o pagamento do tributo, bem como zelar para que o dinheiro e os bens 
chegassem às mãos certas. A ordem pública em Jerusalém era garantida pelas guardas do 
Templo, que estavam sob o comando do sumo sacerdote. Durante a guerra civil que 
acompanhou a revolta judaica (66-74 e.c.), morreram 8500 guardas do Templo na defesa de 
Ananus, um dos exsumos sacerdotes. Isto pode dar uma ideia da quantidade de forças 
policiais que estavam disponíveis em caso de emergência. Já mencionámos que o prefeito e 
tropas romanas adicionais vinham para Jerusalém durante as festas, para evitar problemas. 
45 
O sumo sacerdote era adequado como governante, por três razões: o governo dos sumos 
sacerdotes era da tradição; os judeus respeitavam muito o seu cargo e o prefeito romano 
considerava-o o porta-voz oficial da população de Jerusalém. Já foi suficientemente explicado o 
cariz tradicional do governo dos sacerdotes: eles governaram a Palestina judaica desde cerca de 
445 até 37 a.e.c. Os restantes dois pontos necessitam de ser um pouco mais esclarecidos. 
A população odiava algumas das pessoas que ocupavam o cargo de sumo sacerdote durante a 
era romana; a turba perseguiu e matou um antigo sumo sacerdote, quando a revolta contra Roma 
eclodiu, em 66 e.c. Outros sumos sacerdotes, pelo contrário, eram respeitados. O primeiro 
governo revolucionário, que foi eleito por aclamação popular, foi liderado por dois antigos 
sumo sacerdotes: as massas eram capazes de distinguir os bons dos maus. Porém, 
independentemente de um sumo sacerdote concreto ser estimado ou não, o respeito pelo cargo 
era profundo e genuíno. Primeiro, Herodes e, mais tarde, Roma, assumiram o controlo das 
vestes do sumo sacerdote, entregando-as apenas em ocasiões especiais. O sumo sacerdote, na 
sua veste oficial, ficava investido de demasiado poder. Houve várias ocasiões em que litígios 
nos quais estavam em causa as vestes de sumo sacerdote, bem como a nomeação deste foram 
apresentados para decisão diretamente ao imperador. Era importante saber quem controlava as 
vestes e o cargo, porque o detentor do cargo não era intermediário apenas entre Roma e a 
população, mas também entre Deus e o seu povo. Era ele que entrava no Santo dos

Outros materiais