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1 Beatriz Cavalcanti Regis USP Emergências Hiperglicêmicas INTRODUÇÃO • Complicações hiperglicêmicas: (1) Cetoacidose diabética (CAD): hiperglicemia, acidose metabólica e aumento dos corpos cetônicos; (2) Estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH): hiperglicemia, hiperosmolaridade, desidratação severa e ausência de cetoacidose significativa. CETOACIDOSE DIABÉTICA (CAD) • Fisiopatologia: ✓ Deficiência absoluta ou relativa de insulina: diminuição da utilização periférica da glicose + aumento da produção hepática de glicose → hiperglicemia → diurese osmótica → depleção de volume → desidratação. ✓ Aumento dos hormônios contra-reguladores (cortisol, catecolaminas, glucagon): aumento da proteólise e lipólise → aumento da cetogênese e da liberação de ácidos graxos livres → cetoacidose → acidose metabólica. • Fatores precipitantes: ✓ Tratamento irregular; ✓ Infecção (urinária, pulmonar); ✓ Primo-descompensação (jovens); ✓ Doenças vasculares (IAM, AVC, isquemia de extremidades); ✓ Complicações abdominais (pancreatite, colecistite, apendicite, diarreia, isquemia mesentérica); ✓ Drogas (BB, corticoides, inibidores de proteases, cocaína). • Quadro clínico: ✓ Polidipsia, poliúria e perda de peso; ✓ Início agudo dos sintomas: náuseas, vômitos e dor abdominal; fadiga; mal-estar; desidratação; alteração do nível de consciência; hálito cetônico; taquipneia (respiração de Kussmaul); taquicardia; hipotensão. • Diagnóstico: ✓ Hiperglicemia (glicemia capilar > 250 mg/dL); ✓ Acidose (pH ≤ 7,3); ✓ Cetose (corpos cetônicos presentes; se disponível, a dosagem sérica de cetoácidos é melhor que a cetonúria). • Diagnósticos diferenciais: ✓ Cetose de inanição; ✓ Cetose alcoólica; ✓ Acidose láctica; ✓ Intoxicação exógena; ✓ IRC. • Classificação da CAD: • Exames laboratoriais: ✓ Glicemia; ✓ Gasometria arterial; ✓ Ureia/creatinina; ✓ Eletrólitos (com cálculo de AG); ✓ Corpos cetônicos (sérico ou urinário); ✓ Osmolalidade; ✓ Hemograma; ✓ Urina I + urocultura; ✓ Raio X de tórax; ✓ ECG; ✓ Teste de Gravidez. • Achados laboratoriais: 1. Sódio diminuído/normal/aumentado; 2. Potássio e fósforo aumentados; 3. Leucocitose com ou sem desvio a E (> 25.000 são sugestivos de infecção); 4. Hb e Ht aumentados (hemoconcentração); 5. Ureia e creatinina aumentados (desidratação; IRA); 6. Amilase e lipase aumentados. • Tratamento: 1. Reposição de volume: - Expansão intravascular, intersticial e intracelular; - Melhorar perfusão renal; - Pode reduzir até 25% da glicemia; 2 Beatriz Cavalcanti Regis USP *Sódio corrigido = sódio medido + (glicose – 100)/100 x 1,6 2. Insulinoterapia: - Checar potássio! (contraindicação: K < 3,3 mEq/L); - Infusão EV contínua: insulina regular 50 UI + SF 250 mL (1ml = 0,2UI); - Infundir e desprezar 50mL da solução no equipo para prevenir ligação da insulina no plástico. - Não introduzir dieta precoce! - Manter bomba de infusão de insulina regular até: (1) controle do fator precipitante, (2) glicemia < 250 mg/dL, (3) ph > 7,3 e (4) bicarbonato > 18 mEq/L (AG > 12); - Antes de suspender a bomba: prescrever 10 UI de insulina regular SC; - Desligar a bomba após 1-2h. Obs.: cetoacidose leve → insulina regular IM bolus inicial de 0,4 U/kg (½ EV e ½ IM/SC) + manter 0,1 U/kg/h IM. 3. Reposição de potássio: 4. Reposição de bicarbonato: 5. Reposição de fósforo: - Geralmente não é necessária; - Repor se: dosagem < 1 mg/dL ou dosagem baixa + disfunção de VE, arritmia cardíaca e insuficiência respiratória. • Monitorização: ✓ Dextro (glicemia capilar): a cada 1h; ✓ pH, eletrólitos, ureia, creatinia e glicemia: a cada 2-4h. • Critérios de resolução: glicemia < 200 mg/dL + 2 dos seguintes → bicarbonato ≥ 15 mEq/L, pH > 7,3 e AG ≤ 12 mEq/L. • Complicações do tratamento: ✓ Hipoglicemia; ✓ Hipocalemia; ✓ Edema cerebral; ✓ Congestão pulmonar por sobrecarga hídrica; ✓ Dilatação gástrica aguda; ✓ Mucormicose (infecção fúngica rara). 3 Beatriz Cavalcanti Regis USP ESTADO HIPEROSMOLAR HIPERGLICÊMICO • Fisiopatologia: menos compreendida; • Quadro clínico: ✓ Polidipsia, poliúria e perda de peso; ✓ Início subagudo dos sintomas (dias-semanas): fadiga; mal-estar; desidratação severa; alteração do nível de consciência (estupor ou coma); taquicardia; hipotensão. • Diagnóstico: ✓ Glicemia plasmática > 600 mg/dL; ✓ pH arterial > 7,3; ✓ Osmolalildade efetiva > 320 mOsm/kg. *Osmolalidade efetiva estimada: [2 x sódio (mEq/L)] + [glicemia(mg/dL) / 18). ✓ Bicarbonato sérico > 18 mEqL; ✓ Cetonúria pode estar fracamente presente; ✓ AG variável; ✓ Estado mental: estupor ou coma. • Exames laboratoriais: idem a CAD. • Achados laboratoriais: ✓ Sódio diminuído/normal/aumentado; ✓ Potássio aumentado; ✓ Hb e Ht aumentados (hemoconcentração); ✓ Ureia e creatinina aumentados (desidratação; IRA). • Tratamento: 1. Reposição de volume: 2. Insulinoterapia: - Manter bomba de infusão de insulina regular até: (1) osmolalidade normal e (2) melhora do nível de consciência; - Antes de suspender a bomba: checar aceitação alimentar do paciente e prescrever 10 UI de insulina regular SC; - Desligar a bomba após 1-2h. 3. Reposição de potássio: idem ao CAD. • Monitorização: ✓ Dextro (glicemia capilar): a cada 1h; ✓ Osmolalidade, eletrólitos, ureia, creatinia e glicemia: a cada 2-4h. • Critérios de resolução: osmolalidade normal e retorno ao status mental basal. • Complicações do tratamento: ✓ Hipoglicemia; ✓ Hipocalemia; ✓ Empolia pulmonar; ✓ Congestão pulmonar por sobrecarga hídrica.
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