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Que diferenças históricas básicas há entre as religiões existentes hoje? É possível que uma cultura esteja realmente atrelada às crenças de um povo? Por que não conseguimos separar determinados povos de suas crenças? Que contribuições sociais e éticas as civilizações trouxeram, com suas respectivas religiões, para as artes, à filosofia, à economia mundial, e que perduram até hoje? Estas e outras perguntas são respondidas nesta obra, História das Religiões, que traz um profundo estudo comparativo entre as mais conhecidas religiões do mundo. Resultado de uma pesquisa acurada acerca das religiões, esta obra possui uma leitura edificante e informativa, que faz o leitor pensar no valor que o evangelho possui para todos os povos. O Autor Valdemir Damião é ministro do evangelho ligado ao Ministério do Belenzinho (SP), graduado em Ciências Sociais e Direito; membro da Comissão de Capelania da Confradesp, foi missionário no Peru e pastoreia a Assembléia de Deus em São José do Rio Preto. Todas as religiões têm um princípio no tempo — seja este princípio ocorrido a partir de uma outra religião, seja por um pensamento de devoção autônomo — e mesclam-se às culturas dos povos, tornando obrigatória a análise da história das religiões junto à história de cada civilização. História das Religiões nos leva a um passeio histórico e religioso entre as mais conhecidas culturas: Entendendo como a religião influencia a história das nações, teremos meios adequados para planejar missões e alcançar com o evangelho outros povos. Iniciando com o tema Religião, e concluindo com uma visão histórica e religiosa sobre o Cristianismo, esta obra é enriquecida com um apêndice sobre mitologia. Ideal para todos os crentes, obreiros e leigos, este livro é fruto de uma aprofundada pesquisa, rico em informações e que será muito bem aproveitado pelo povo de Deus. ° Índia ° China ° Japão ° Arábia ° Israel ° Mesopotâmia ° Palestina ° Egito e Etiópia ° Grécia ° Império Romano Todos os direitos reservados. Copyright © 2003 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Preparação de originais: Alexandre Coelho Revisão: Kleber Cruz Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica: Alexander Diniz R. da Silva CDD: 200.9 - História da Religião ISBN: 85-263-0580-8 Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lança- mentos da CPAD, visite nosso site: http//www.cpad.com.br Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 5ª edição-2008 A minha querida esposa, Odenir, aos meus filhos, Adriano, Alexandre, Daniela, Katia e neto Rhullian Marcos, que comigo construíram uma família. Ao meu pastor, José Wellington B. da Costa, pelo incentivo no momento oportuno. Aos muitos irmãos em Cristo, que me ajudaram em oração e apoio, se colocando ao meu lado e de minha família, nos momentos de preocupação que passamos com a saúde do meu coração. Aos colaboradores, cujos nomes não menciono, atendendo aos seus pedidos. E principalmente ao Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada toda a honra, a glória e o louvor. Amém! Agradecimentos Aos meus queridos pais, Nicola Damião e Maria Postigo, e ao grande amigo Manoel Gomes Ferreira, pelo grande amor e amizade que me deram, e pela doce saudade que deixaram. In Memoriam Prefácio Uma das maiores preocupações, se não a maior, que acomete a huma- nidade no tempo presente, é o chamado processo de globalização. Para alguns eruditos, tal processo teria se iniciado por volta dos séculos XVI e XVII, com a chamada Revolução Industrial, que proporcionou um au- mento de produção das nações industrializadas, que passaram a buscar novos mercados consumidores onde poderiam vender o que produziam. Contudo, a maioria dos eruditos considera o início do processo de globalização a partir do fim da Segunda Grande Guerra, e a reunião da maioria das nações do mundo, debaixo da tutela de uma entidade criada com o fim de cuidar das relações entre elas, a “Organização das Nações Unidas, ONU”. A partir daí, além do estreitamento cultural, político e social das relações internacionais, houve também um grande crescimento no comércio de exportação e importação entre os países do mundo todo, comércio este que passou de sessenta bilhões de dólares em 1950, para cerca de seis trilhões, atualmente. No entanto, quando nos dispomos a consultar a História, a real intér- prete da voz das nações, descobrimos que o processo de globalização teve início há cerca de dois mil anos, em uma pequena região do Oriente 10 História das Religiões Médio chamada Palestina, onde um homem chamado Jesus, “sobrenome” Cristo, dizia aos seus discípulos: “...ide, ensinai todas as nações” (Mt 28.19) “Ide por todo o mundo pregar o Evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). O projeto de globalização que Jesus implantou na terra foi planejado no céu, em reunião dos três representantes máximos do poder universal: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo”, e contemplava não só as nações como representantes dos povos, mas tinha como principal objetivo a consuma- ção da globalização no seu mais profundo significado, que seria substituir todas as nações por uma única: “a Nação Santa” (1 Pe 2.9). Enquanto o projeto humano de globalização tem enfrentado grandes resistências pelo fato de diferenciar as nações entre si, favorecendo algu- mas em prejuízo de outras, o projeto celestial não faz acepção de povos nem de pessoas, proporcionando a todos, indistintamente, os mesmos be- nefícios, e não lhes impondo nenhuma perda. A globalização, tanto no projeto humano quanto no divino, depende fundamentalmente da capacidade de comunicação entre as pessoas, capa- cidade esta, que está diretamente relacionada com o potencial de conhe- cimento que os comunicadores conseguem reunir a respeito de quem receberá a sua mensagem. O projeto humano de globalização, apesar da oposição que sofre, tem evoluído principalmente graças ao notável pro- gresso das técnicas de comunicação, que tem criado canais de divulgação de informações, capacitando as nações a se conhecerem melhor quanto às suas características sociais, culturais, políticas e religiosas, o que tem sido de fundamental importância para o alcance dos objetivos propostos em tal projeto. Quanto ao projeto divino de globalização, desencadeado pela obra missionária implantada pelos primitivos discípulos de Jesus, continuada através dos tempos pela Igreja de Cristo, que é a herdeira de tal responsa- bilidade e, mais do que nunca necessária e urgente nos tempos atuais, o conhecimento é tão importante — ou quem sabe até mais — do que no projeto humano, em função da realidade de que os resultados finais a serem alcançados pelo projeto celestial serão muito mais importantes, por se tratar, não de venda de mercadorias produzidas por mãos humanas, mas sim da redenção do homem como criatura de Deus, e “comprado” pelo sacrifício expiatório realizado por Jesus Cristo na cruz do Calvário. A “Nação Santa”, a quem cabe a execução definitiva do projeto de globalização divino, precisa adquirir conhecimentos sobre as nações a se- Prefácio 11 rem alcançadas, para que através das informações obtidas, possa estabele- cer efetivamente um produtivo sistema de implantação do projeto de Deus para as nações, que é atraí-las para a capital universal de um mundo defi- nitivamente globalizado, a Nova Jerusalém: “E as nações andarão à sua luz, e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra” (Ap 21.24). Quando decidimos realizar este trabalho, visamos oferecer aos inte- ressados no projeto de globalização celestial uma humilde contribuição quanto a informações sobre a história e religião das civilizações, elaboran- do um pequeno e modesto resumo do vasto campo do conhecimento sobre este assunto. “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!” Valdemir Damião Prefácio .........................................................................................9 Introdução ...................................................................................... 15 Capítulo 1 Religião .......................................................... 23 Capítulo 2 Ciências da Religião ........................................ 39 Capítulo 3 Mesopotâmia ................................................... 75 Capítulo 4 Palestina .......................................................... 93 Capítulo 5 Egito e Etiópia ............................................... 109 Capítulo 6 Grécia ............................................................127 Capítulo 7 Império Romano ...........................................153 Capítulo 8 Índia ...............................................................169 Capítulo 9 China .............................................................233 Capítulo 10 Japão .............................................................. 267 Capítulo 11 Arábia - Islamismo ..........................................297 Capítulo 12 Israel ...............................................................331 Capítulo 13 Cristianismo ................................................... 373 Apêndice - Mitologia .....................................................................465 Bibliografia .....................................................................................473 Sumário Introdução No início da Revolução Francesa, no dia 26 de agosto de 1789, foi votada pela Assembléia Nacional Constituinte francesa a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Por sua relevância universal, esta declara- ção, composta por uma introdução e dezessete artigos, constitui um dos textos mais importantes da história mundial. No mesmo dia, um dos de- putados que fazia parte da Assembléia Constituinte obteve do comitê de redação a decisão de fazer preceder à Constituição uma declaração dos direitos do homem e insistia, neste propósito, sobre os objetivos do texto: “Para que uma Constituição seja boa, é preciso que ela esteja fundamenta- da nos direitos do homem e que ela os proteja; é preciso conhecer os direitos que a justiça natural concede a todos os indivíduos; é preciso recordar todos os prin- cípios que devem formar a base de toda espécie de sociedade, e que cada artigo da Constituição possa ser a conseqüência de um princípio”. Visto que se respeitavam os direitos alheios, garantidos pela lei, os cidadãos deviam exercer a mais absoluta liberdade de culto, de opinião e de expressão. As questões religiosas estavam no centro dos debates, e fo- ram resolvidas com o texto do artigo 10 da lei que estava sendo votada e aprovada: “Ninguém pode ser incomodado por suas opiniões, sequer religiosas”. História das Religiões 16 Em 1948, a ONU, Organização das Nações Unidas, votou uma Declaração Universal dos Direitos do Homem, inspirada na de 1789. O que aparentemente se constituía em uma grande conquista de li- berdades individuais concedidas ao homem em seu convívio social, garantindo-lhe os seus direitos nas mais diversas áreas de sua vida gregária. No aspecto religioso, afrontou radicalmente estes direitos, dificultando sobremaneira o acesso do indivíduo ao conhecimento da verdade de Deus, capacitando-o a uma reconciliação com o seu Cria- dor, pois esta verdade afirma que a fé salvadora vem pelo ouvir e ouvir da Palavra de Deus, sendo um dos mandamentos fundamentais da Constituição da Igreja a obrigatoriedade de falar ao próximo das boas novas do Evangelho do Filho de Deus. Em muitas nações esta lei já vem tendo o seu cumprimento exigido, constituindo-se em crime a obediência à Lei de Deus. A lei fala sobre liberdade de auto-expressão do “eu” do homem, mas é preciso verificar se o homem possui ou não aquele verdadeiro “eu” que Deus desejou que todos os homens tivessem. Se falta este “eu”, o homem não pode exprimi-lo sem receber motivação exterior, e não será capaz de devolver tal “eu” a Deus, sendo obrigado a prestar contas acerca das suas ações no temível Dia do Juízo. A grande e urgente questão, pois, com que cada homem se defronta é aquela que pergunta: Que sucedeu ao teu próprio “eu”? Possuis sob domínio a tua própria alma? O verdadeiro “eu” continua existindo em ti? A visão e a faculdade divinas continuam per- manentes ali? A tua alma continua viva? Mas, se alguém tiver vivido so- mente de conformidade com os seus instintos, desejos e impulsos, o ver- dadeiro “eu” desde há muito estará morto, conforme cada indivíduo po- derá descobrir facilmente, se procurar encontrar a Deus, usando a sua própria liberdade de expressão. O homem não tem capacidade e nem poder para reabilitar o seu verdadeiro “eu”, e não pode encontrar a Deus por seus próprios meios, embora venha tentando fazê-lo desde os mais primitivos tempos de sua história. A essência dessa posição alega que o próprio homem está bem, nos aspectos fundamentais, e que suas dificuldades, sem importar quais sejam, não se originam de qualquer coisa radicalmente errada em sua própria natureza. Para alguns desses teóricos, o problema da existência do homem, no mundo, é simplesmente uma questão de desenvolvimento e evolução. Argumentam eles que o homem se desenvolveu a partir de Introdução 17 animais irracionais, sendo inevitável que, por determinado período, ele continue apresentando traços dos limites e das imperfeições que lhe foram legados por causa da sua natureza animal, cujos direitos devem ser garantidos por leis estabelecidas segundo estes princípios. Mas es- tes mesmos teóricos continuam afirmando que na medida que o con- vívio social do homem evolui através de tais leis, a grande questão que devemos entender é que o homem está se desenvolvendo, progredin- do e melhorando. Somos convidados, então, a examinar o começo da história do ho- mem e sua narrativa através dos séculos, para observar o grande “progres- so” que ele tem feito, e constatamos que esta perspectiva conceitual do homem constitui-se em um insulto feito a ele, pois pretende reduzi-lo ao nível dos irracionais, ignorando tudo quanto é mais nobre, melhor e mais elevado na natureza humana. Fica a indagação: O que é o homem? Um mero conjunto de impulsos e instintos? Não! É algo infinitamente maior, algo incomensuravelmente mais vasto. É uma alma imortal, dotada do poder de ordenar e controlar esses impulsos e instintos, levando-os ao seu serviço e uso, em vez de ser escrava dos mesmos. Se o homem continuasse perfeito como Deus o criou, então todos os impulsos e instintos estariam operando da maneira correta, servindo aos seus mais altos interesses. Não haveria maiores problemas; a vida do homem seria de absoluta liberdade e conhecimento, livrando-o desta busca incessante e desnorteada de um retorno ao convívio com um Deus, que nas circunstâncias em que é feita, não passa de perda de tempo e tendo como conseqüência um distanciamento cada vez maior deste Deus verdadeiro, tão desconhecido pelas religiões inventadas pelo desvario humano. A natureza humana caí- da não só desconhece o amor verdadeiro, como também não tem temor ao verdadeiro Deus. Admite-se de fato que a maior parte dos homens tem, mais cedo ou mais tarde, uma espécie de temor insensível, irracional, propriamente chamado de superstição, embora alguns dêem a isso o nome de religião. Tendo sua alma enferma, embora não o reconheça explicita- mente, o homem busca implicitamente, pelos mais absurdos meios, en- contrar a cura, ignorando que a solução para os seus problemas é a religião de Jesus Cristo, que é o método divino de curar a alma enferma do homem. Por este meio o grande Médico das almas aplica o remédio para curar a enfermidade, para restaurar a natureza humana, totalmente corrompida em todas as suas faculdades. Deus cura o homem pelo conhecimento de si História das Religiões 18 mesmo em Jesus Cristo, seu Filho, a quem Ele enviou, dando-nos fé, uma divina evidência ou convicção de Deus e de suas obras, em particular desta grande verdade: “Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5.2). Filo costumava dizer, “Fugir para oSer divino é vida eterna, mas correr para longe dEle é morte”. O pleno conhecimento do Filho de Deus também significa o conhe- cimento experimental da alma, mediante a “comunhão” com Ele, em sua natureza e manifestações essenciais. Cristo deve ser visto como uma per- sonalidade transcendental, que em sua grandiosidade só pode vir a ser conhecido por métodos espirituais e sendo conhecido, Ele pode operar a transformação nos homens, para que estes assumam sua natureza e suas riquezas. É por isso que Paulo declarou: “... para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com Ele na sua morte...” (Fl 3.10) O homem através da história tem buscado a satisfação de necessida- des espirituais inerentes a ele em função da sua origem, criado que foi pelo Deus verdadeiro, que é “Espírito e busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade”. Mas esta busca tem sido infrutífera em fun- ção do fato de que ela tem sido baseada na “verdade” do próprio ho- mem, e não na verdade de Deus, levando a criatura a distanciar-se cada vez mais do seu Criador, apelando para processos religiosos que muitas vezes beiram a insanidade e o irracionalismo do absurdo, como tem sido registrado pela história, desde os seus mais antigos registros até o tempo contemporâneo. A esperança de mudar este quadro depende da revela- ção de Jesus Cristo, que com seu sacrifício redentor, tendo como instru- mento a sua Igreja, oferece ao homem a luz que indica o caminho do seu real valor e destino, em direção à reconciliação com Deus; e para que a Igreja demonstre o poder capaz de lutar contra esta triste realida- de vivida pelo homem, a vida de cada um de seus membros deveria fluir inteiramente da verdade divina, como bem ilustrou o grande teólogo holandês Abraham Kuyper, que disse: “Houve tempos, nos séculos passados, em que lá fora, no mundo, havia somente trevas e frio enregelante, ao passo que na Igreja havia calor, alegria e zelo, e os homens se aqueciam próximos às chamas da verdade de Palavra de Deus. Essas chamas, entretanto, foram corrompidas pela mentira. Lentamente se foram apagando tais chamas, até que o frio inva- Introdução 19 diu a Igreja. Os que estavam do lado de dentro tomaram consciência do seu estado, bem como de sua frieza, e lançaram-se à tentativa de fazer alguma coisa a respeito. Entre eles levantaram-se aqueles que sugeriram uma solução para o problema: ‘Estais vendo, senhores, que não podeis obter calor das fogueiras. O que se deve fazer é remover totalmente a lareira, criando o calor em vossas próprias almas, sem emprego de fogo. Simplesmente esfreguem as mãos com bastante força, e em breve estareis aquecidos’”. Porém, a resposta das Escrituras é que devemos acender novamente as chamas da verdade. Esta foi a oração feita por Jesus Cristo: “Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade”. Para a Igreja que se encontra nesta situação, resta uma solução: conhecer e imitar o exemplo do profeta Elias, restaurando o altar, orando a Deus, e o fogo divino reacenderá a chama do altar, capacitando-a ao exercício de sua missão, que é a de ser luz neste mundo tenebroso, onde proliferam as religiões que prestam culto a deuses falsos, inventados pela irracionalidade dos instintos, desejos e impulsos de um ser criado à imagem e semelhança do Deus Todo-poderoso, e que em Jesus Cristo e na Verdade e Luz dEle emanadas, tem a oportunidade de reconciliação com a sua verdadeira origem. Pode-se supor, como escreve D. Hume, “que o homem não tinha outros sentimentos que aqueles elementares da vida humana: a preo- cupação ansiosa com a felicidade, o medo de uma infelicidade futura, o terror da morte, a sede de vingança e o desejo do alimento e das outras coisas necessárias. Perturbados por esperanças e medos desse tipo, os homens investigam com curiosidade temerosa como essas causas atuarão no futuro e examinam os eventos raros e difíceis da vida hu- mana. Nesse espetáculo desordenado, os homens descortinam, com olhos ainda incertos e atônitos, as confusas, para ele, pegadas de uma divindade”. A Escola histórico-cultural de Viena, fundada e dirigida por Wilhelm Schmidt, no século XIX, estabeleceu como postulado prin- cipal de seus estudos e pesquisas a primeira forma de religião que surgiu na história da humanidade e os eventuais resíduos encontráveis, através de suas influências e desdobramentos posteriores nas culturas que se seguiam, e destaca nas suas conclusões que a idéia oferecida, da história das religiões, era a de uma involução progressiva, que a partir História das Religiões 20 da revelação bíblica se revelam como manifestações cada vez mais polu- ídas por elementos que ofuscam a pureza original. “Portanto [escreve Schmidt, ao final do seu Manual], se depois, com o crescente brilho e com a crescente riqueza da civilização material, também a religião começou a manifestar-se através de formas cada vez mais ricas e pomposas, na ilimitada multiplicidade das suas figuras da deidade e dos demônios, na riqueza dos seus templos, santuários, florestas sagradas, na abundância dos seus sacerdotes e servidores, dos sacrifícios e das cerimônias, nada disso consegue esconder de nós, que por trás dessa riqueza e bela aparência, o que está acontecendo é o desaparecimento da verdadeira religião e o enfraquecimento da sua força espiritual”. Estes fatos tiveram uma repercussão muito danosa no campo moral e social e levaram, devido aos excessos da corrupção, também, à divinização de elementos imorais e anti-sociais. Isto especialmente porque a figura do Ser supremo foi sendo substi- tuída por milhares e milhares de deuses e espíritos novos, que passaram a receber do homem o culto e a adoração devida ao único e verdadeiro Deus, que se revelou ao homem de maneira maravilhosa, na pessoa ben- dita de seu Filho Jesus Cristo, O Verbo Encarnado, imputando ao homem a culpa por seus atos, como diz o apóstolo Paulo em sua Carta aos Roma- nos, capítulo primeiro, versículos 19, 20 e 21 (ARA): “... porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes mani- festou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis; porquanto, tendo conhe- cimento de Deus não o glorificaram como Deus nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se- lhes o coração insensato”. No estudo que faremos da história das religiões, partiremos do prin- cípio de que somente os fatos mais relevantes deverão receber atenção, pois tantas são as variantes aos troncos principais das religiões professadas pelo homem, que seria praticamente impossível atentar para elas em uma só obra, tomando como exemplo as seitas modernas que não se constitu- em propriamente em religiões, mas sim em variantes espúrias do tronco Introdução 21 principal da religião definitiva que é o Cristianismo, sendo que no tocan- te a estas seitas existem à disposição dos leitores diversas obras de excelen- te valor. Religião IIIII A – Introdução Nas religiões, Deus é o Ser supremo e o princípio gerador do mundo. Para o “monoteísmo”, a criação e origem de todas as coisas está em um único Deus, identificado com atributos de perfeição: onipotente, onisciente, onipresente, eterno, infinito, santo, imutável, etc. Deus pode ser conside- rado pelas religiões como transcendente, isto é, acima do mundo, ou imanente, presente em todas as coisas do universo. Nas maiores religiões monoteístas, Deus é adorado como a suprema unidade criadora de todas as coisas. No princípio da sua existência, os seres humanos criam em um Deus que era a Causa Primeira de todas as coisas e o Senhor da terra e do céu. Ele não era representado por imagens e não tinha templos nem sacerdotes a seu serviço. Era elevado demais para um culto humano inadequado. Aos poucos, foi se distanciando da consciênciado povo. Tornou-se tão remo- to que eles decidiram que não mais o queriam. Acabaram dizendo que Ele desaparecera. Na teoria popularizada pelo teólogo Wilhelm Schmidt, em sua obra A Origem da Idéia de Deus, publicado pela primeira vez em 1912, ele sugeria que houve um monoteísmo primitivo antes de homens e mulheres começarem a adorar vários deuses. Originalmente, reconheci- Capítulo História das Religiões 24 am apenas uma Divindade Suprema, que criara o mundo e governava de longe os assuntos humanos. Foi a partir do afastamento do homem deste Deus, do princípio de todas as coisas, que surgiram as várias correntes religiosas politeístas, ido- latras e pagãs. Os antropólogos sugerem que esse Deus tornou-se tão dis- tante e excelso que na verdade foi substituído por espíritos menores e deuses mais acessíveis. Deus foi substituído pelos deuses mais atraentes dos panteões pagãos. Existem muitas teorias sobre a origem da religião, todas elas conflitantes entre si, havendo, no entanto, uma concordância quanto à idéia de que criar deuses é uma coisa que os homens sempre fizeram. Quando uma idéia religiosa deixa de ser atraente, o homem simplesmente a substitui por outra. Dependendo dos períodos históricos e culturais, as concepções de Deus variam de forma considerável, mas a fé em um ser sagrado prevale- ceu em quase todas as culturas. Nas maiores religiões monoteístas do mundo, há um retorno às ori- gens do homem quanto à sua crença em um único Deus como Ser Su- premo e o princípio gerador do mundo. Para o judaísmo, o ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus (Jeová). A compreensão judaica de Deus é essencialmente antropomórfica, abrangendo a idéia de que Deus é Rei, Juiz e Pastor. O cristianismo assumiu o Deus hebraico e, com o passar do tempo, as escrituras judaicas se tornaram o Antigo Testamento na Bíblia cristã. No Novo Testamento, Jesus Cristo foi exaltado como Pastor Divino, contrari- ando a crença fundamental do monoteísmo judaico, prevalecendo no cris- tianismo a doutrina da Santíssima Trindade, acrescentando em sua fé a crença da pessoa do Espírito Santo, proveniente do Pai e do Filho, segun- do a igreja cristã ocidental, enquanto a igreja oriental ou ortodoxa garan- te que o Espírito Santo procede só do Pai. No islamismo, Deus é Alá, pessoal, transcendente e único. Sua repre- sentação é proibida em qualquer forma de ser vivo. O principal aspecto da fé islâmica é a proclamação de que “não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu mensageiro”. Nas diversas correntes religiosas politeístas, que é a crença em várias divindades, se atribui a cada uma das divindades certa influência nas dife- rentes ordens do universo. Religião 25 No hinduísmo, o ser sagrado é Brähma, realidade única, eterna e ab- soluta. Muitos outros deuses são reconhecidos, mas todos seriam manifes- tações de Brahma. Os três deuses principais, encarregados da criação, pre- servação e destruição, unem-se em “Trimurti”, ou os três poderes. A Realidade Última, ou Ser Sagrado, constitui a ordem cósmica im- pessoal, no “budismo” mahayana da China e do Japão, com o próprio Buda transformado em ser divino. A crença religiosa do homem, além de contaminada pelo politeísmo idólatra, também tem sido contestada através de doutrinas como o ceticismo, o materialismo, o ateísmo e outras formas de descrença. B – Definição de Religião 1 – Definição etimológica A palavra portuguesa “religião” etimologicamente é originaria do termo latino religio, que significa “fidelidade ao dever, lealdade, consciência do dever, escrúpulo religioso, obrigação religiosa, culto religioso, práticas religiosas”. Ainda que o significado do termo “religião” possa parecer óbvio, não existe uma definição sobre a qual haja acordo geral, e o seu uso é bastante divergente no pensamento e obra de diferentes escritores. A quantidade das definições e o caráter normalmente contraditório que encontramos nas discussões modernas da religião sugerem a falta de unanimidade entre os estudiosos do tema, para formularem uma definição universalmente aceita. A etimologia do termo não ajuda, não somente por ser incerta, como também porque os verbos latinos religare, relegere ou religere, deriva- dos de religio, são divergentes quanto ao significado de religião. O esforço no sentido de se estabelecer, de maneira isolada, as características que as religiões têm em comum encontra algumas dificuldades, pois tais caracte- rísticas são tão diferentes entre si que talvez seja impossível, por esse mé- todo, definir qualquer coisa em comum entre elas, e se porventura fossem encontradas semelhanças, seria algo tão vago que o seu valor científico seria duvidoso. Se forem separadas para análise, as chamadas religiões su- periores, daquelas que por suas deficiências e por não serem normativas são chamadas religiões inferiores, talvez seja possível encontrar algo em comum entre as diversas religiões professadas pelo homem em sua histó- História das Religiões 26 ria, podendo se esperar um acordo razoavelmente geral se a seleção dos elementos comparativos não for demasiadamente rígida, e se tal seleção for plenamente justificável. Semelhante método definiria, como caracte- rísticas comuns entre as diversas religiões estudadas, o reconhecimento de um poder superior invisível e uma atitude de reverente dependência da- quele poder no modo de viver; e ações especiais, como ritos, orações e atos de misericórdia, explicando e expressando a atitude religiosa do ho- mem. Como defensores do uso de cada um dos três verbos latinos para defi- nição do termo “religião”, destacamos inicialmente a definição dada por Cícero, estadista, orador e escritor romano, que viveu entre os anos de 106 e 43 a.C. Representante da latinidade clássica, Cícero teve através dos sécu- los uma influência enorme sobre o pensamento filosófico em suas diversas áreas de atuação, inclusive no campo da religião, considerando ele no cam- po da metafísica a existência de uma divindade racional, cujos princípios foram incorporados no universo sob a forma de leis naturais. Estas leis trans- cendem às leis e tradições dos homens, e os homens são considerados res- ponsáveis diante delas. Estas leis naturais são, igualmente, os padrões segun- do os quais os homens devem estabelecer as suas leis. Cícero definiu o termo latino religio, ligando-o ao verbo relegere, que significa “retomar o que tinha sido abandonado”. O filósofo romano L. C. Firmiano Lactâncio, que viveu entre 240- 320 d.C., era professor de retórica, e tendo se convertido ao cristianismo, tornou-se dele um persistente apologista. Em sua obra principal, As Institutas Divinas, ele usou os três primeiros livros para refutar as idéias do paganis- mo e oferecer uma apresentação sistemática dos temas da apologética cristã primitiva. Do quarto ao sétimo livros, apresenta uma filosofia da religião que enfatiza a verdadeira adoração do único Deus, a justiça, a conduta moral e a imortalidade da alma. O cristianismo, segundo ele, combina as duas coisas que a natureza do homem deseja: a religião e a sabedoria verdadeiras. Menciona muitos testemunhos da literatura latina que apóiam o ensino cristão, vindo a ser conhecido como o Cícero cris- tão, tanto pela qualidade do seu estilo quanto pela quantidade de idéias e citações do pensamento de Cícero. Lactâncio defendeu como etimológica a ligação do termo latino religio ao verbo religare (religar, atar), sendo que a aplicação básica dessa palavra é a idéia de que certos poderes sobrenaturais podem exercer autoridade sobre os homens, exigindo que eles façam Religião 27 certas coisas e evitem outras, forçando-os a cumprir ritos, sustentar cren- ças e seguir algum curso específico de ação. Em um sentido secundário, a denominação religiosa de alguém também exerce tais poderes. O objetivo do autor era, em certo sentido, redirecionar o termo religio de modo que fosse capaz de exprimir tanto o conceito de transcendência segundo o pensamento cristão, quanto, mais do que expor o comportamento do crente, exprimir anatureza da relação de fé estabelecida pelo cristianismo entre o nível humano e o nível divino. Um conceito intermediário entre os conceitos de Cícero e Lactâncio para o termo latino religio foi proposto por Aurélio Agostinho, que viveu entre 354-430 d.C., convertido ao cristianismo graças à influência de sua mãe, Mônica, e de um amigo chamado Simpliciano. Através de uma ex- periência mística, quando uma voz misteriosa lhe disse: “Toma e lê”, ao manusear um manuscrito do Novo Testamento, deparou-se com a mensa- gem de Romanos 13, versos 13 e 14 (“Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências”), o que conferiu a Agostinho uma firme convicção moral e completa conversão ao Senhor Jesus Cristo, vindo a ser bispo de Hipona e exercendo influên- cia constante sobre o pensamento cristão, através das suas obras, das quais podemos destacar, A Cidade de Deus, As Confissões e O Tratado da Graça, nas quais ele estabelece uma definição etimológica para o termo religio, vinculando-o ao verbo religere (reeleger, como retorno a Deus), tendo ele escrito: “Escolhendo, ou melhor, reescolhendo Deus, pois nós o havía- mos perdido por negligência; por isso reescolhendo-o (daí diz-se derivar o termo religione [religião]) tendemos para Ele com amor, até que alcan- çando-o, nEle repousamos. O étimo proposto por Agostinho sugere uma interpretação de religio como passagem da negligência para com Deus a uma relação cuidadosamente reconstruída com Ele, antes desprezado e agora reescolhido, isto é, recolocado no centro da atenção e do amor do homem. A aparente indefinição a respeito de uma conceituação totalmente objetiva para a palavra “religião” se caracteriza pelo fato de que o termo tem se prestado para múltiplas definições de atividades humanas, que não têm nada em comum com os conceitos de verdadeira religiosidade, co- nhecidos somente por aqueles que vivem dentro dos padrões espirituais História das Religiões 28 estabelecidos por Deus, revelado ao homem na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, que restabelece para o homem caído o víncu- lo original com o Criador, perdido por ocasião da “Queda” provocada pelo pecado, significando fé em Deus, junto com os resultados práticos de tal fé, expressados em adoração a Deus, e determinando o destino do homem e a maneira como alguém deva viver sua vida. Os que exerci- tam a verdadeira religião conseguem também distinguir entre a religião mesma e outras coisas que podem associar-se com ela ou parte dela, havendo quem pretenda usar o termo “religião” para referir-se tanto no sentido estrito de uma religião em particular, como em um sentido mais amplo para incluir os sistemas de “fé” não religiosos, algo totalmente discrepante e injustificado. Na educação religiosa se usa muitas vezes o termo “religião” imprecisamente para definir o conteúdo de coisas que não são religiosas em si mesmas, mas que podem acabar por adquirir significado religioso para pessoas religiosas. Por exemplo, a beleza das flores é em si mesma somente estética, mas pode ser vista religiosamente como a obra criadora de Deus, e dessa forma chegar a ser parte da religião verdadeira. 2 – Definição genérica Existem alguns vocábulos, como “verdade”, “beleza”, “justiça”, que são muito ricos em interpretação, os quais não podemos definir de ma- neira absoluta; o máximo que se consegue nestes casos é reunir uma série de descrições relacionadas com eles, que embora incompletas em si mes- mas, se reunidas, conseguem determinar idéias gerais sobre os assuntos enfocados por tais vocábulos. Nesta categoria podemos enquadrar o vo- cábulo “religião”, para o qual não existe de fato uma definição absoluta- mente determinada, havendo porém conceitos gerais sobre ele, que nos conduzem à compreensão precisa do seu real significado, entre os quais podemos mencionar: 1) A religião é um sistema qualquer de idéias, de fé e de culto, como é o caso da fé cristã. 2) A religião consiste em crenças e práticas organizadas, formando algum sistema privado ou coletivo, mediante o qual uma pessoa ou um grupo de pessoas são influenciados. Religião 29 3) Uma instituição com um corpo autorizado de comungantes, os quais se reúnem regularmente para efeito de adoração, aceitando um conjunto de doutrinas que oferece algum meio de relacionar o indivíduo àquilo que é considerado ser a natureza da última realidade. 4) Um uso popular do termo é aquele que pensa que religião é qual- quer coisa que ocupa o tempo e as devoções de alguém. Assim, as pessoas costumam dizer: “O trabalho dele é a sua religião”, ou então: “O comunismo é uma religião”, etc. Há nisso uma certa verdade fundamental, visto que aquilo que ocupa o tempo de uma pessoa, usualmente, é algo a que ela se devota, porquanto a devoção encontra-se na raiz de toda religião, mesmo que não en- volva a afirmação da existência de algum ser supremo. 5) Algumas definições têm propósitos específicos, como quando Mao Tsé-tung, ditador da China, declarou, repetindo Karl Marx, que a religião é o ópio do povo. Ele falava sob uma influência idealista específica, que se ajustava à sua filosofia comunista. Os psicólogos, antropólogos e sociólogos com freqüência expressam definições es- treitas deste tipo. F. H. Bradley, psicólogo, apresentou uma definição desse tipo quando disse: “Penso que a religião é um sentimento fixo de medo, resignação, admiração ou aprovação sem importar qual seja o seu objeto, contanto que esse sentimento atinja certa tensão e seja qualificado por certo grau de reflexão (sendo estas algumas características principais das religiões primitivas)”. 6) Uma definição eclética e funcional de religião “é o reconhecimen- to da existência de algum poder superior invisível; é uma atitude de reverente dependência a esse poder na conduta da vida, e manifes- ta-se por meio de atos especiais, como ritos, orações, atos de mise- ricórdia, etc., como expressões peculiares e como meios de cultivo de atitude religiosa”. 7) Sistema de crenças que estabelece e regula as relações entre os seres humanos e as divindades. A palavra aplica-se aos sistemas que comportam fé numa crença, obediência a determinado código moral e participação em cultos. Algumas comparações adicionais ajudam na tentativa de definir o vocábulo “religião”: História das Religiões 30 • A Teologia é um estudo intelectual, sistemático e teórico, en- quanto a religião se refere ao homem integral e sua prática de vida; a religião é a prática, enquanto a teologia é a teoria. • A política, como ciência humana, trata de assuntos deste mun- do, enquanto a religião tem uma referência divina. Entretanto, o con- ceito político de uma pessoa religiosa naturalmente estará formado por seus conceitos religiosos e sua escala religiosa de valores. • A ética trata de uma maneira de viver e de se relacionar com as pessoas, e pode ser totalmente não teísta (doutrina que afirma a exis- tência pessoal de Deus, e sua ação providencial no mundo), enquan- to a religião inclui uma maneira de viver, mas se relaciona com o divino. • A cerimônia e o ritual em si mesmos são ações puramente exter- nas, enquanto a religião é tanto externa quanto interna. A religião pode expressar-se em cerimônias e rituais, porém as cerimônias e ritu- ais não expressam necessariamente algum grau de religiosidade. • Os esportes podem produzir muito entusiasmo a um nível humano. A religião pode produzir um entusiasmo e uma excitação emocional semelhantes, porém com uma referência divina. Seja que os sentimentos fortes na religião, venham diretamente de Deus ou se originem ao menos em parte pela associação com outros senti- mentos de semelhante convicção, de qualquer maneira se relacio- nam com a crença religiosa. Para um psicólogo, as emoções que ex- perimentam nos esportes e na religião podem ser semelhantes, po- rém não se justifica a inclusão dos esportesna categoria de religião, como fazem alguns. A semelhança é somente superficial, em um só nível, o humano, sem o divino. 3 – Definição filosófica Alguns representantes das mais variadas correntes filosóficas definem religião das mais distintas maneiras, enfocando seus próprios conceitos sobre o tema, baseados no tipo de pensamento filosófico que represen- tam: Emanuel Kant: “Religião é a moral em relação a Deus, como legis- lador. É o reconhecimento dos nossos deveres considerados como man- damentos divinos”. Ludwig Feuerbach: “Religião é o sonho da mente humana”. Religião 31 William James: “A fé religiosa de um homem (por maior que seja o número de doutrinas especiais que envolva) significa para mim, essencial- mente, a sua fé na existência de uma regra invisível de qualquer espécie, na qual o enigma da disposição natural possa ser achado definido. É essen- cial que Deus seja concebido como o poder mais profundo no universo, e que, em segundo lugar, Ele tenha que ser concebido sob a forma de uma personalidade mental”. James Frazer: “A pergunta sobre se a nossa personalidade conscien- te sobrevive depois da morte tem sido respondida por quase toda raça humana dum modo afirmativo. Neste ponto os céticos ou os agnósticos são quase, se não inteiramente, desconhecidos”. Schleiermacher: “Religião é o sentimento do fato de dependência absoluta do Juiz invisível do nosso destino, acompanhado do desejo cons- ciente de entrar em relações harmoniosas com Ele”. Emerson: “Religião é a comunhão com a alma eterna; a divindade dentro de nós tocando a divindade em cima”. Jacob Burckhardt: “Religiões são as expressões das súplicas metafísicas da natureza humana, eterna e indestrutível. A sua grandeza está em que elas representam todo o complemento supersensorial do homem, tudo aquilo que ele mesmo não pode providenciar. Ao mesmo tempo, elas são as reflexões de um grande e diferente plano, de todos os povos e culturas”. J. Milton Yinger: “A religião pode ser pensada como um modo último de resposta e de adaptação; é uma tentativa de explicar aquilo que de outra maneira não seria explicável; de recuperar o vigor quando todas as outras forças terminam; de instaurar o equilíbrio e a serenidade diante do mal e do sofrimento, que outros esforços não foram capazes de eliminar”. Agostinho: “Religião procura significar novamente alguma coisa que se havia perdido”. Segundo as regras básicas do pensamento filosófico, religião é “reco- nhecimento prático da dependência do homem para com Deus; institui- ção social com crenças e ritos; respeito a uma regra”. Para os sociólogos, religião é a instituição social criada em torno da idéia de um ou vários seres sobrenaturais e de sua relação com os homens, incluindo-se misticis- mos e prática feiticista negra. História das Religiões 32 Muitos sociólogos contemporâneos chegam a considerar como re- ligiosos fenômenos sociais mais amplos, isto é, situações nas quais uma determinada ideologia político-social fale de uma redenção total do homem assumindo certos estilos e ritos comuns à estrutura religiosa, advindo daí algumas definições sob a ótica sociológica: • Religião é um serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por meio de ritos, preces e observância do que se considera mandamento divino. É um sentimento consciente de dependência ou submissão que liga a criatura humana ao Criador. • É um culto externo ou interno prestado à divindade. • É crença ou doutrina religiosa; sistema dogmático e moral. • É veneração às coisas; crença, devoção, fé, piedade. • É prática dos preceitos divinos ou revelados. • É temor de Deus. • É tudo que é considerado obrigação moral ou dever sagrado e indeclinável. • É ordem ou congregação religiosa. • É caráter sagrado ou virtude especial que se atribui a al- guém ou a alguma coisa e pelo qual se lhe presta reverência. • É o conjunto de ritos e cerimônias sacrificiais ou não, orde- nados para a manifestação do culto à divindade; cerimonial litúrgico. Reconhece-se a existência de uma religião, sempre que alguma socie- dade manifeste, entre as suas expressões culturais, um corpo organizado de crenças que ultrapassam a realidade da ordem natural. Essa definição abran- ge tanto as religiões dos povos primitivos quanto as formas mais complexas de organização dos vários sistemas religiosos, embora variem muito os con- ceitos sobre o conteúdo e a natureza da experiência religiosa. Apesar dessa variedade e da universalidade do fenômeno no tempo e no espaço, as reli- giões têm como característica comum o reconhecimento do sagrado (defi- nição de Rudolf Otto) e a dependência do homem de poderes supramundanos (definição de Friedrich Schleiermacher). A observância e experiência religiosas têm como objetivo prestar tri- butos e estabelecer formas de submissão a esses poderes supramundanos, nos quais está implícita a idéia da existência de um Ser superior, que criou e controla o cosmos e a vida humana. Religião em geral consiste num “teísmo” (crença em Deus, em algum deus, ou em deuses, fazendo con- traste com “ateísmo”), existindo diversas formas de teísmo: Religião 33 Henoteísmo: Culto a um único deus, com o reconhecimento, po- rém, de outros deuses. Monoteísmo: Culto a um único Deus, com a negação de qualquer outro deus. Politeísmo: Culto a diversos deuses. Panteísmo: Culto a um deus considerado coincidente com o uni- verso natural. Panenteísmo: Culto a um deus considerado coincidente com o uni- verso natural, professando, no entanto, a transcendência deste deus diante da natureza. C – Religião Natural e Revelada Aquelas características que de certa forma não distinguem uma reli- gião de outra levaram ao debate sobre religião natural e revelada, o que recebeu significação especial nas teologias judaica e cristã. A manifestação de alguma coisa mostrada ao homem na condição de sagrado, fenômeno que M. Eliade denominou de “hierofania”, é um ato misterioso que reve- la algo completamente diferente da realidade do mundo natural, como uma árvore ou uma pedra considerados “sagrados” pelo paganismo, ou a doutrina da encarnação de Deus em Jesus Cristo. Por mais que a menta- lidade ocidental moderna possa repudiar certas expressões rudimentares ou exóticas das religiões primitivas, na realidade a pedra e a árvore não são adoradas como tais, mas como expressões de algo sagrado para o seu adorador, que paradoxalmente transforma o objeto numa outra realidade. O sagra- do e o profano configuram duas modalidades de estar no mundo e duas atitudes existenciais do homem ao longo da sua história, que sob o aspecto religioso natural são fundamentadas em uma verdade completamente distorcida. A teologia cristã introduziu o termo “revelação” — a manifestação de um mistério escondido — para definir a especificidade da fé cristã depen- dente de um evento histórico: o nascimento de Jesus Cristo. A religião revelada estaria, assim, em oposição à religião natural, uma vez que esta corresponderia a uma atividade humana, enquanto aquela independe de qualquer ação humana. A controvérsia sobre a religião natural e religião revelada (ou religião e revelação) indica a dificuldade de uma definição de religião. E. B. Taylor História das Religiões 34 (1871), ao propor como “definição mínima de religião a crença em seres espirituais”, na realidade está afirmando algo mais complexo que uma definição. A partir de observações entre tribos atrasadas, cuja expressão religiosa denominou de “animismo” (do termo anima, alma, fôlego), com o homem vendo as coisas ao seu redor como “animadas”, crendo que os animais, as plantas, os rios, as montanhas, o sol, a luz e as estrelas eram dotados de espíritos, como manifestação do próprio Deus a quem era fundamental apaziguar, ele concluiu que para tal tipo de religião seriam dispensáveis a revelação divina e os livros sagrados. Para outros, qualquer definição de religião deveria partir de fundamentos que se baseiam ou no temor, ou no conteúdo ético, ou ainda no ritual, não importando a sua forma. RudolfOtto definiu a religião como o encontro do homem com o sagrado, sendo este o “numinoso” (estado religioso da alma inspirado pelas qualidades transcendentais da divindade), uma característica exclusi- va da religião. Otto (teólogo protestante alemão que viveu entre os sécu- los XIX e XX) reconhece como raiz da religião o sentimento do estado religioso da alma inspirado pela divindade, que se manifesta como mysterium tremendum (medo da divindade) e mysterium fascinosum (atração irresistível da divindade). Karl Barth, em sua obra Dogmas da Igreja, fez uma distinção entre a religião, mesmo a religião cristã, e a fé que vem de uma revelação divina. Ele faz tanta ênfase na soberania de Deus, que negou qualquer possibili- dade de se conhecer a Deus por meio do esforço humano e definiu todas as religiões como uma atividade exclusivamente humana, que portanto não pode chegar ao conhecimento de Deus. Deus só pode ser conhecido, segundo Barth, por meio da sua revelação de si mesmo em Cristo, e esta revelação só pode ser aceita por meio da fé; de modo que ele falou do “juízo da revelação divina sobre toda religião”. À parte de Jesus Cristo e sem Ele, não podemos dizer nada acerca de Deus e do homem em sua relação um com o outro. De maneira semelhante, E. Brunner, em sua obra O Mediador, disse que a revelação, em um sentido cristão da palavra, significa algo totalmente diferen- te de todas as formas de religião e filosofia. Nenhuma religião do mundo, nem mesmo a mais primitiva, carece de alguns elementos de verdade; porém, não é uma verdade parcial, mas uma verdade distorcida, à semelhança do que acontece com as seitas cristãs heréticas modernas. Ao contrário de todas as demais formas de religião, o cristianismo é a fé em um único Mediador. Que diferenças históricas básicas há entre as religiões existentes hoje? É possível que uma cultura esteja realmente atrelada às crenças de um povo? Por que não conseguimos separar determinados povos de suas crenças? Que contribuições sociais e éticas as civilizações trouxeram, com suas respectivas religiões, para as artes, à filosofia, à economia mundial, e que perduram até hoje? Estas e outras perguntas são respondidas nesta obra, História das Religiões, que traz um profundo estudo comparativo entre as mais conhecidas religiões do mundo. Resultado de uma pesquisa acurada acerca das religiões, esta obra possui uma leitura edificante e informativa, que faz o leitor pensar no valor que o evangelho possui para todos os povos. O Autor Valdemir Damião é ministro do evangelho ligado ao Ministério do Belenzinho (SP), graduado em Ciências Sociais e Direito; membro da Comissão de Capelania da Confradesp, foi missionário no Peru e pastoreia a Assembléia de Deus em São José do Rio Preto. Todas as religiões têm um princípio no tempo — seja este princípio ocorrido a partir de uma outra religião, seja por um pensamento de devoção autônomo — e mesclam-se às culturas dos povos, tornando obrigatória a análise da história das religiões junto à história de cada civilização. História das Religiões nos leva a um passeio histórico e religioso entre as mais conhecidas culturas: Entendendo como a religião influencia a história das nações, teremos meios adequados para planejar missões e alcançar com o evangelho outros povos. Iniciando com o tema Religião, e concluindo com uma visão histórica e religiosa sobre o Cristianismo, esta obra é enriquecida com um apêndice sobre mitologia. Ideal para todos os crentes, obreiros e leigos, este livro é fruto de uma aprofundada pesquisa, rico em informações e que será muito bem aproveitado pelo povo de Deus. ° Índia ° China ° Japão ° Arábia ° Israel ° Mesopotâmia ° Palestina ° Egito e Etiópia ° Grécia ° Império Romano
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