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e-Book 3 ROBERTO FERREIRA DE MACEDO DESENHO DE OBSERVAÇÃO Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 DESENHO E OBJETOS 3D ����������������������������� 5 Luz e Sombra ����������������������������������������������������������������������� 19 Formas Biomórficas. ���������������������������������������������������������� 29 Volume Interno �������������������������������������������������������������������� 41 Texturas ������������������������������������������������������������������������������� 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������50 3 INTRODUÇÃO A Linha. Começaremos nosso percurso neste tó- pico a partir da linha. Entendemos, conforme Ellen Lupton (2014) que os elementos fundamentais do Design são: ponto, linha e plano, e complemento que isto se estende ao desenho de observação. Aqui veremos a linha como um elemento fundamental para a construção de estruturas, formas, sombras e volumetrias, ou seja, partiremos da linha e aca- baremos em volumes, do plano ao tridimensional. A sua utilização na forma de hachuras, ou texturas visuais, bem como constituintes de estruturas internas de sólidos geométricos e seus volumes internos se faz presente na arte do desenho. Avançaremos sobre este fundamento até chegarmos nas relações biomórficas em que estabeleceremos princípios referenciados nos sólidos geométricos primeiramente, para progredirmos rumo as formas orgânicas. Isto pode parecer complicado, mas é bem útil para termos parâmetros de construção proporção ao desenvolvermos nossos estudos e posteriormente nossos desenhos de arte finalizados. Daremos especial atenção à parte de hachuras, claro/escuro e texturas visuais, pois desta forma conseguimos modelar e representar um objeto plano, bidimensional como se fosse 3D, tridimen- sional, mesmo utilizando o suporte 2D, bidimen- 4 sional. Começaremos com uma breve explicação e posteriormente teremos exemplos para ilustrar melhor os conceitos abordados no capítulo. Bons Estudos. 55 DESENHO E OBJETOS 3D Afinal de contas, como desenhar? Para que esta resposta não fique no ar, ou baseada em soluções mágicas, este curso sistematiza a prática do desenho como uma atividade que segue alguns itens elementares, o que chamamos de: conceitos fundamentais. Ponto, linha e plano. Outra ação im- portante vai do seu esforço pessoal em desenhar e observar o que se quer desenhar com atenção e onde queremos chegar, e para isto ver o trabalho de outros ilustradores é de suma importância. Não é comparar o que você faz com o que outros desenhistas fazem, mas sim observar a técnica ou o resultado alcançado por eles. E praticar, ob- viamente! Além disso, os fundamentos servem para lhes dar uma base, mesmo para aqueles que possuem certa facilidade, isso ajuda a entender melhor o que estamos fazendo. Estes elementos, como dito anteriormente são os pontos, as linhas e os planos. Como estamos ainda trabalhando com lápis (HB, 2B), para a marcação dos desenhos e linhas não entramos ainda nas composições com pontos, pois elas trabalham com a volumetria das peças e requerem canetas especiais de ponta fina, geralmente são feitas com canetas de 0.3 até no máximo 0,5mm de espessura e recomendamos canetas descartáveis ao invés 66 das recarregáveis que são mais caras e dão mais trabalho, apesar que no final das contas, ao se usar muito, elas acabam compensando. Linhas As linhas são elementos fundamentais quando se trata de desenho de observação, passamos muito tempo em cima delas até avançarmos para as hachuras e sombreamento, que são técnicas que possibilitam trabalhar a volumetria das peças. As linhas por si só já constituem boa parte dos desenhos que encontramos por aí, porém é a partir delas que trabalharemos com as massas de cor, luz e sombra� Para tanto, nossa habilidade em traçarmos linhas seguras vem com o tempo, e é mais fácil do que se pensa. Treinar o desenho de observação de forma leve, solta e despretensiosa nos faz soltar a mão e sermos mais espontâneos, que resulta numa linha mais contínua e fluida. Aqui poderemos dividir os exercícios para a prática do traço em exercícios rápidos, esboços feitos em no máximo em 5min e os exercícios mais complexos que podem demorar de horas ou até mesmo dias para serem feitos. Para que possamos desenvolver nosso desenho, compilamos abaixo algumas dicas para que você 77 preste atenção enquanto desenha, e obviamente enquanto isto não estiver automatizado. Selecione o objeto a ser desenhado segundo as suas capacidades, nem muito fácil e nem absurdamente complexo. Verifique seu material de desenho, quais lápis serão utilizados, pois cada um tem uma resposta diferente, entre HB e 2B já podemos notar isto. Veja se estão apontados conforme você precisa, ou em pontas ou com a ponta chanfrada. Selecione a folha que utilizará para que atinja o resultado que você deseja, folhas A5, A4 são menores e talvez você possua melhor controle, folhas A3 são maiores e precisarão de um controle maior de seu gestual e braço. Observe seu objeto com calma e veja as linhas supe- riores e inferiores dele, observe as linhas horizontais e verticais, observe também as linhas inclinadas, e finalmente a perspectiva que faz parte da composição ou do objeto, em linhas gerias, para onde essas linhas caminham. Para onde convergem. Meça a proporção entre os objetos da cena. Um em relação ao outro. E todos em relação ao campo plástico bidimensional, que no caso é a sua folha mesmo. Comece marcando o desenho com um lápis HB, para que você tenha noção de tamanho e posicionamento dos objetos e posteriormente faça alguns detalhes em 2B. FIQUE ATENTO 88 Posicione uma folha de sulfite A4 debaixo da sua mão enquanto estiver desenhando, pois, estes lápis soltam muito grafite e podem acabar sujando seus desenhos e nem sempre as borrachas apagam tudo. No box foram dados conselhos de ordem prática para que o desenho possa evoluir para as compo- sições que trabalham com volume. Estas técnicas são essenciais para que possamos trabalhar com a ilusão da tridimensionalidade no plano bidimensional. 3D Tridimensionalidade. Percebemos que representar objetos sem perspec- tiva e sem luz/sombra não nos traz a sensação de que o objeto é tridimensional. Ele é um desenho plano, entretanto poderemos acrescentar hachuras para que simulemos também o efeito de volume. O Flat Design é uma maneira de representação dos objetos que não possui perspectiva e nem variações tonais. É outra forma de representação bem utiliza- da. Aqui avançaremos para as escalas tonais e os modelados de luz e sombra, para que possamos utilizá-los não só nos desenhos e composições de natureza morta, paisagens e figura humana e esta é outra possibilidade de representação. Começaremos com as escalas tonais, escalas de variação de cinzas. 0% seria o branco e 100% o preto total. Esta escala feita a lápis serve para 99 você controlar o traço, a pressão sobre o lápis e saber modular o sombreamento. Mais à frente verá como são feitas. Sombrearemos esferas, para falar a verdade som- brearemos circunferências que com o sombrea- mento se tornarão esferas. A técnica é a mesma, porém agora a modulação de claro e escuro, luz e sombra se dá dentro de uma mesma figura. Na escala cada tom está dentro de um quadrado, na esfera temos vários tons em conjunto tentando modelar uma esfera. Outra possibilidade de representação da tridimen- sionalidade são as hachuras. Hachuras são textu- ras visuais com a intenção de indicar visualmente as áreas de luz e sombra, são diversos os efeitos criados pelas texturas visuais, vamos explorá-los. As composições mais complexas possuem várias destas técnicas em um só trabalho. Levamos em conta a composição em si, o posicionamento das peças, as linhas direcionais, a perspectiva e a rela- ção de tamanho entre as peças,bem como a ação da luz incidente sobre elas e suas áreas de luz e sombra, modelando assim a peça em claro e escuro e nos dando a impressão de tridimensionalidade. A correta utilização dos valores tonais produzidos pelos diferentes tipos de lápis, com suas carac- terísticas especiais devem ser experimentadas 1010 até que se consiga reproduzir nas peças o que se fez nas escalas tonais. Em alguns casos também podemos representar as zonas de luz e sombra através de hachuras, que necessariamente não precisam ser geometricamente ordenadas como no Desenho Técnico. As hachuras mais intuitivas e soltas também produzem efeitos indicativos de luz e sombra� Claro Escuro, Linhas e Hachuras. Iniciaremos aqui um percurso visual que terá como ponto de partida as linhas, passando pelas hachu- ras, tentando desta forma explorar a possibilidade da representação tridimensional e chegaremos na volumetria. Utilizaremos alguns exemplos que nem sempre serão sobre o mesmo desenho, mas a intenção deste fato é produzir um guia de refe- rência visual que o auxiliará muito na produção de seus desenhos. Começaremos pelas linhas, estrutura esta que, junto com os pontos, é fundamental na construção dos desenhos, abaixo você poderá observar por onde que o desenho começa, veja que é uma figura de média complexidade, mas o exemplo servirá a diferentes propósitos (Figura1). 1111 Figura 1: Observe segundo as linhas vermelhas os diferentes formatos de traço que compõem a figueira. Fonte: A arte do desenho – Fasc. 13, pag. 6. Planeta DeAgostini, 2008� Algumas áreas desta figueira possuem um trata- mento, um valor na linha, no traço diferente dos 1212 demais. Perceba que temos linhas mais próximas, linhas cruzadas e linhas contínuas. A Imagem a seguir nos mostrará as linhas de construção, assim você entenderá melhor por onde começar o desenho (Figuras 2 e 3) 1313 Figura 2: Perceba aqui os traços iniciais de dão origem a forma. Fonte: A arte do desenho. Fasc. 13. Pag.7. Planeta DeAgostini, 2008� 1414 Figura 3: Atente ao nível de detalhamento com os diferentes traços� Fonte: A arte do Desenho. Fasc. 13. Pag.8. Planeta DeAgostini, 2008� Nas próximas imagens (Figura 4), vocês poderão perceber que o nível de detalhamento vai se apro- fundando e a imagem vai tomando a sua forma final, 1515 neste exemplo fica clara a intenção de demarcar a superfície da figura com as hachuras para dar a sensação de volumetria na peça, mesmo que ainda não estejamos trabalhando com a modelagem de luz e sombras� Figura 4: Detalhes das hachuras na construção da árvore e seu plano ampliado. Fonte: A arte do desenho, Fasc. 13. Pag.8. Planeta DeAgostini. 2008 Podemos também trabalhar com canetas especiais para reforçar o traço se isto for a nossa intenção, 1616 (Figura 5), você também pode traçar a imagem com lápis e depois sobrepor o desenho com canetas especiais de nanquim para posteriormente ser digitalizado e adicionado cor ou mesmo vetorizar o seu desenho com auxílio de programas gráficos. Figura 5: Aplicação das hachuras com a caneta Nanquin. Fonte: A Arte do Desenho. Fasc.13. Pag. 8. Planeta DeAgostini, 2008� As hachuras podem variar de espessura, inclinação e sobreposição. Podemos ver a seguir (Figura 6), 1717 as imagens de como as hachuras podem ser e de como são aplicadas no desenho, só que agora em outro contexto e exemplo. Colocamos uma escala tonal ao lado do desenho para que você perceba esta variação, é importante treinar esta escala, não só na mão, desenhando, mas também observando-a, pois assim terá condições de aplicar as variações tonais quando se fizer necessário. Veja também que algumas partes da catedral foram preenchidas com hachuras, o que ajuda a completar esta mode- lagem da peça, ora foi usado claro e escuro e ora foi usado hachura. Quanto ao nível de complexidade deste desenho podemos dizer que é de um nível médio para avançado, pois utiliza muitas técnicas combinadas, mas neste caso o desenho demora um pouco a ser executado, então caso queiram se aventurar em desenhos complexos tenham em mente que ele pode levar dias até ser finalizado. 1818 Figura 6: Perceba a variação na composição das hachuras, bem como a variação tonal do gradiente da “escala de cinzas”. Fonte: Materiais e técnicas: Guia Completo Editora wmfMartins Fontes, 2008 A seguir, um exemplo com sanguínea, veja a mistura de cores na composição de uma textura visual e seu interessante resultado (Figura 7). Além das misturas, as sobreposições dos traços também possuem um propósito, ressaltar planos de luz, profundidades com sombras. Perceba quais são as informações que o objeto passa para você, e a partir disto você ordena o posicionamento dos traços� 1919 Figura 7: Perceba a sobreposição e a intensidade das hachuras sobre o plano, bem como a mistura do grafite com a sanguínea. Fonte: Materiais e técnicas: Guia Completo. Editora wmfMartins Fontes, 2008 LUZ E SOMBRA O volume pode também ser modelado através da relação de luz e sombra de uma figura, ou seja, 2020 demarcar em que parte da superfície do objeto incide a luz, tornando-a assim mais clara e obser- vando que em zonas de menor incidência da luz elas se tornam mais escuras. Esta variação de luminosidade cria um gradiente, ou degradê, que serve para dar a impressão de que uma peça plana e bidimensional pode ser observada e interpretada como uma peça tridimensional (Figura 8) Figura 8: estabelece as relações de luz e sombra, primeiro visua- lizadas na escala e depois na circunferência. LUZ Cor Pura e Preto 100% NOTA: Escala em que partimos de uma cor sólida, como o azul e o preto e vamos chegando ao mais claro possível, esta variação tonal possibilita que modelemos os sólidos dando-lhes a impressão 3D. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 2121 A seguir, temos um Modelo 3D, (Figura 9) que se originou de uma circunferência e que agora ao receber 3 pontos de luz, tem a sua superfície mo- delada pelas relações de claro e escuro. Figura 9: Circunferência com modelagem 3D, trabalhando a relação de luz/sombra. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Porém, estas ilustrações que mostramos foram feitas com o auxílio de programas gráficos para que você pudesse entender como o gradiente e a relação luz/sombra funciona, mas não foi sempre assim, 2222 e agora logo a seguir (Figura 10) demonstraremos como este modelado é feito com lápis e grafite, por isso podemos levar em conta não só a dureza dos grafites, como: 2B, 4B, 6B etc. como também a pressão utilizada pelo desenhista ao manusear o lápis. Veja que temos uma série de técnicas jun- tas, mas o importante é você perceber como a luz é utilizada para modelar os volumes. Sugiro que você comece modelando peças simples, como um ovo por exemplo, uma esfera de isopor, uma bola de tênis ou futebol e posteriormente poderá usar esta técnica em diferentes situações, de objetos simples do cotidiano até mesmo no desenho da figura humana. Figura 10: Imagem ilustrativa da modelagem com luz e sombra para a construção de objetos complexos. Fonte: Arte do desenho. Fasc. 3. Pag.7. Planeta DeAgostini, 2008� 2323 A figura humana inicialmente pode começar com breves estudos de linhas e posteriormente ir acres- centando as hachuras e depois os modelados de claro escuro, porém isto não é uma regra, a seguir destacamos na (Figura 11) alguns elementos que nos auxiliarão a perceber a combinação de técni- cas de sombreado e marcação, porém atentem ao detalhe que o que sobressai são as zonas de luz e sombra, quase não percebemos as linhas e marcações mais fortes, é um exemplo clássico que pode ser produzido com lápis pastel, tintas, ou mesmo lápis de cor, contanto que esta variação tonal esteja presente na composição. 2424 Figura 11: Modelagem com claro e escuro na formatação do corpo humano. Fonte: Materiais e técnicas Guia completo. Editora wmfMartins Fontes, 2008. Vamos nos aprofundar um pouco maisexemplifi- cando o desenho em estruturas básicas para que você fixe bem os conceitos, faremos um percurso 2525 visual com a finalidade de mostrar alguns detalhes. Inicialmente seria interessante você perceber a incidência da luz em 3 figuras geométricas (Figura 12), bem como observar as formas planas bidi- mensionais geradoras destes volumes. Fica bem definido que ao entrarmos com informações visuais sobre os polígonos planos, nós mudamos suas características. Veja por exemplo o quadrado, que ao ser adicionado algumas linhas, reconfigura-se em um cubo. E ao trabalharmos a luz e sombra preenchemos esta superfície da forma desejada. Figura 12: Estudo de luz e sombra. Fonte: Colored Pencil. (SORG, 2009) 2626 Na sequência, temos uma estrutura, em perspecti- va, um estudo demonstrando a marcação de luz e sombra de forma livre e despretensiosa, um sketch, como costumamos chamar (Figura 13). Figura 13: Sketch de perspectiva com luz e sombra. Fonte: Elaborado pelo autor (2021) Abaixo, poderemos estudar com profundidade a volumetria e o jogo de luz e sombra que envolvem o rosto humano. Veja as zonas mais claras, de luz, e como ela configura, em oposição as zonas mais escuras, as formas do rosto humano (Figura 14). 2727 Figura 14: Detalhe dos valores tonais no rosto e o modelado dentro da estrutura de luz e sombra. Fonte: Dynamic Light and Shade. (HOGARTH, 1991) Sfumatto ou esfumado é uma técnica de desenho em que se produz o sombreado, claro/escuro com as mãos ou com a auxílio do esfuminho. O grafite pode ser espalhado com as mãos, com um pano ou com o lápis esfuminho, tornado a superfície de certa forma um pouco mais “suja”, mas isto nos proporciona melhores gradientes escalas tonais mais livres, um modelado FIQUE ATENTO 2828 mais orgânico. A seguir, o esfumado sendo feito à mão e com esfuminho (Figuras 15 e 16) Figura 15: Podemos observar a técnica de esfu- mado sendo produzida à mão livre. Fonte: Materiais e Técnicas Guia Completo. Editora wmfMartins Fontes. 2008. 2929 Figura 16: podemos observar a técnica de esfu- mado sendo produzida com o auxílio do bastão de esfuminho. Fonte: Materiais e Técnicas Guia Completo. Editora wmfMartins Fontes. 2008 FORMAS BIOMÓRFICAS. Até agora vimos o desenho como uma sucessão de linhas e formatos diferentes, além de como 3030 modelar uma superfície através das hachuras e da relação claro/escuro, dando assim a impressão de tridimensionalidade. Pois bem, agora entraremos em outro momento de nosso estudo das formas dentro do desenho. Abandonaremos momentaneamente o que fizemos até agora, para estabelecermos uma outra relação no desenho. Uma relação entre as formas mais geométricas e formas orgânicas. Para isto recorreremos mais uma vez a este percurso visual, que remete a alguns textos de apoio, mas de forma alguma negligência a informação necessária para você entender o processo todo. Veremos a seguir alguns exemplos de estruturas pré-concebidas para abarcarem o desenho, es- truturas que podem ser chamadas de Almas do desenho. Observe que elas possuem uma forte relação com a geometria e de certa forma criam objetos biomórficos, algo como seres criados no mundo da fantasia. Comecemos com alguns estudos da forma humana referenciada com a geometria e suas estruturas. Caso você ainda não se sinta confortável com esta situação de ter que desenhar, postaremos estudos iniciais para que vejam como as coisas se desenvolvem, veja aqui estudos primários de uma estrutura do corpo humano, simples em geometria (Figura 17)� 3131 Figura 17: Esboços pré-biomórficos, apenas para entender estru- turas básicas. Fonte: Elaborado pelo autor.2021 Agora, na próxima imagem poderá perceber estu- dos de volumes, ainda como esboços (Figura 18). 3232 Figura 18: Perceba os volumes e formas esféricas sendo parte constituinte do corpo do personagem. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Agora uma relação mais próxima com a geometria e os traços e hachuras, o corpo humano represen- tado com o auxílio das formas geométricas, veja este esboço (Figura 19)� 3333 Figura 19: Apesar de ainda ser um sketch, já temos estudos de troncos e estrutura humana, estruturadas no referencial geomé- trico além de um detalhe de tronco, também geometrizado. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Agora uma pausa para analisarmos detalhes das mãos, você verá como a Alma Estrutural da figura 3434 polimórfica se assenta nos sólidos geométricos, você poderá estabelecer esta relação com os mais diversos objetos, e inclusive isto é muito útil para criar e desenvolver objetos fantásticos, fora da realidade e do senso comum. Analisaremos mais algumas imagens com este processo de estudo para que você se atente ao detalhe. Veja as figuras seguintes e perceba as relações geométricas e o resultado final, o esboço, a geome- trização e a mão em si, utilizada em uma ilustração técnica (Figuras 20, 21, 22, 23) Na (Figura 20) uma visão esquemática de uma mão com 4 dedos. 3535 Figura 20: Mãos biomórficas,estudos. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Na (Figura 21) um detalhe maior das mãos e uma pequena estrutura de construção de um dedo. 3636 Figura 21: Mão biomórfica com detalhe do dedo. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Veja agora o percurso do desenho das mãos e o seu resultado. Uma parte do desenho está sobre papel sulfite e outra no papel vegetal (Figura 22) 3737 Figura 22: Perceba o processo de construção das mãos. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Agora mãos orgânicas e geométricas, desenhados no lápis e arte finalizados no nanquim (Figura 23) 3838 Figura 23: Percurso final de estudos da forma da mão, concep- ção geométrica, estilizada, com referências iniciais as formas geométricas e ao estudo da mão em si. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Finalizando nossas concepções biomórficas e após você ter acompanhado os estudos das estruturas e também dos detalhes, temos a seguir a figura de um “robô” humanóide, porém com referências nas formas geométricas (Figura 24). Inicialmente algumas formas foram traçadas livre- mente para termos ideia do que queríamos, depois com auxílio de gabaritos e linhas de construção estruturamos as formas e posteriormente demos 3939 um acabamento em nanquim, o que tecnicamente se chama de Arte Final, com canetas de nanquim apropriadas para este fim. Por Arte Final entendemos a ação de finalizar, cobrir, contornar os desenhos inicialmente feitos a lápis por nanquim ou outras tintas de marcação; na arte dos quadrinhos vocês podem achar como Inking. O que mais ou menos seria “tintar”, pois colorir o desenho seria com o Colorista. Hoje em dia Inking também pode ser confundido com termos utilizados no universo das tatuagens. 4040 Figura 24: Humanoide Biomórfico, visão da arte final e estudo da geometria envolvida no processo. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Uma sugestão: desenvolva algumas estruturas geo- métricas “base”, para que você comece a desenvolver este olhar sistematizado, mesmo que, no início, utilize o auxílio de réguas, esquadros, compassos e gabaritos REFLITA 4141 geométricos. Veja este esquema, ele seguiu esta lógica (Figura 25) Figura 25: Estrutura pronta, pré-geometrizada, uma base para os seus desenvolvimentos Biomórficos. Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 4242 VOLUME INTERNO Todas as estruturas possuem volume interno, eles podem estar aparentes ou não, mas veja bem: o fato de não estarem aparentes não significa que não sejam perceptíveis. Uma folha de papel amassada se torna um grande desafio para ser representada devido aos seus volumes internos. Uma lata de refrigerante, possui volume interno, senão seria plana, mas nós não o vemos. Esta lógica se aplica ao desenho de objetos (Natureza Morta), Paisagens e Corpo Humano. Veremos isto inicialmente nesta folha de papel amassada (Figura 26). 4343 Figura 26: Folha de papel amassada, estudos iniciais. Fonte: A arte do Desenho.Fasc.8. pag.16. Planeta DeAgostini, 2008� Na sequência, poderemos ver mais detalhes nas imagens da (Figura 27) em que a representação de tridimensionalidade se faz perceber através das relações de claro e escuro, além dos planos inclinados que a superfície do objeto demonstra em sua totalidade. Temos também a estrutura do padrão construtivo do desenho, por onde ele co- meça e se desenvolve, até um desenho com mais detalhes e bem próximo da ilustração finalizada. 4444 Figura 27: A figura nos mostra a estrutura inicial do desenho, detalhes intermediários, e Arte já finalizada. Fonte: A arte do Desenho. Fasc. 8. Pag. 16. Planeta DeAgostin, 2008� Uma explicação pormenorizada desta forma de se es- truturar o desenho se encontra disponível no capítulo 10 do livro Desenho de Observação (CURTIS, 2015) e que faz parte do acervo virtual da Minha Biblioteca. Lá vocês verão que temos outros exemplos disponíveis e uma outra forma de abordar o espaço interno de uma estrutura, quanto mais informação melhor, desde que seja bem utilizada, façam bom proveito! TEXTURAS As texturas são parte fundamental do desenho e das artes visuais como um todo. No desenho as texturas podem ser variadas e produzidas com diferentes materiais buscando resultados ímpa- res. As hachuras, que acabamos de ver anterior- SAIBA MAIS 4545 mente, podem de certa forma serem qualificadas como texturas, certo de que elas possuem uma certa ordenação para construir uma área de luz e sombra com resultados programados. Não que as texturas também não possuam uma intenção, sim elas possuem, mas não são tão organizadas visualmente como as hachuras. Texturas podem ser encontradas na pintura, um recurso importante na pintura é a carga de tinta sobre uma superfície, e o empastamento possibilita este acúmulo de material criando assim uma textura visual. No campo da escultura e tridimensionalidade também percebemos sua presença. Ressalto aqui que as texturas podem ser tanto visuais como táteis. Retículas usadas em ilustrações, HQs e Mangás também podem ser consideradas texturas. Podemos perceber também as texturas produzidas pelos diferentes materiais de desenho em relação ao seu suporte. O depósito de grafite sobre a super- fície de um papel mais áspero produz uma textura visual, (Figura 28); diferentes papéis texturizados produzem resultados variados, inclusive são pro- duzidos com esta finalidade (Figura 29). Podemos também criar texturas ao observarmos o nosso entorno, ao percebermos que no nosso cotidiano somos cercados por inúmeras referências visuais que podem, por exemplo, serem repassadas para o papel e posteriormente serem reproduzidas. 4646 Figura 28: Texturas de suporte, papéis. Fonte: Materiais e Técnica: Guia Completo. Editora wmfMartins Fontes, 2008. 4747 Figura 29: Papéis especiais com a finalidade de produzir textu- ras no desenho. Fonte: Materiais e Técnicas Guia Completo. Editora wmfMartins Fontes, 2008. A seguir, algumas texturas produzidas com objetos do cotidiano e que podem ser empregadas facilmen- te em seus desenhos. A maneira mais simples de 4848 obtê-las é posicionando a folha de papel ou suporte desejado sobre a superfície texturizada, pressio- nar o suporte contra a base e passar um grafite ou mesmo carvão sobre sua superfície. Isto pode ser fonte de muitas referências e inspirações, pois as superfícies com estes detalhes podem realçar o seu desenho, funcionando inclusive como uma ferramenta de preenchimento de formas. Veja os efeitos (Figura 30). Figura 30: Texturas produzidas sobre o efeito de diferentes superfícies. Fonte: The Art Of Drawing People. Walter Foster Publising, 2008. Também podemos produzir nossas texturas utili- zando lápis ou grafites de diferentes espessuras e durezas, com as mais variadas possibilidades de uso, conforme acharmos necessário, sendo orien- tados pela superfície a ser recoberta (Figura 31). 4949 Figura 31: Diferentes tipos de texturas produzidas por diferentes tipos de lápis, quanto à dureza e espessura. Fonte: Pencil Drawing. (FRANKS, 1988) 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizamos assim esta unidade abarcando o percurso da linha, da forma e do volume, de como as linhas podem se articular gerando texturas e hachuras e cada uma com uma utilização espe- cífica. As hachuras com a intenção de trabalhar, por intermédio do claro/escuro, a sensação de volume. As texturas por sua vez, nos trazem a ideia de superfícies e de certa forma nos ajudam a perceber melhor as formas. Vimos também a volumetria sendo produzida a partir de figuras planas bidimensionais e como que este procedimento de luz e sombra nos ajuda a modelar todas as peças. Passamos também pelas formas Biomórficas, em que se estabelece uma conexão bem próxima entre os sólidos geométricos e as formas orgânicas. Por fim, estudamos as texturas e os volumes inter- nos que vêm a complementar toda esta constru- ção, nos dando assim uma dimensão do plano ao tridimensional, da linha ao volume, passando por texturas, hachuras e formas geométricas simples. 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[Biblioteca Virtual]. HOGARTH, Burne. Dynamic Light and Shade� Nova Yorque: Watson-Guptill Publications; Illustrated edição, 1991. HSUAN-NA, Tai. Design: conceitos e métodos. São Paulo: Blucher, 2017 [Biblioteca Virtual]. MONTENEGRO, Gildo A. Inteligência visual e 3-D: compreendendo conceitos básicos da geometria espacial. São Paulo: Blucher, 2019. [Biblioteca Virtual]. LUPTON, Ellen. Novos fundamentos do design� São Paulo: Cosac Naify, 2014. Materiais e Técnicas: guia completo / tradução: Joana Angélica D’Avila Melo. São Paulo; editora Martins Fontes, 2008 PRÄKEL, David. Composição� Porto Alegre: Bookman, 2010 SANZI, Gianpietro; QUADROS, Eliane Soares. Desenho de perspectiva. São Paulo: Érica, 2014. [Minha Biblioteca]. SORG, Eileen. Colored Pencil. Irvine: Walter Foster Publishing Inc, 2009. The Art Of Drawing People. Irvine: Walter Foster Publishing Inc, 2008. WARD, T. W. Composition & Perspective� Leicester. UK: Magna Books,1993. Introdução DESENHO E OBJETOS 3D Luz e Sombra Formas Biomórficas. Volume Interno Texturas Considerações finais Referências Bibliográficas & Consultadas
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