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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Hematologia ANEMIAS HEMOLÍTICAS Aumento da destruição de hemácias. A anemia resulta do consumo excessivo de eritrócitos no sangue periférico e aumento de sua produção na medula óssea (quando ela não apresenta doença concomitante), gerando reticulocitose (aumento das formas jovens/imaturas de eritrócitos), devido ao aumento compensatório da eritropoiese. As anemias hemolíticas podem ser classificadas em: - Hereditárias ou adquiridas. - Agudas ou crônicas. - Discretas ou muito graves. - Hemólise intravascular ou extravascular. - Defeito intracorpuscular ou extracorpuscular. As manifestações clínicas são relacionadas ao início abrupto ou lento da doença. Os sinais e sintomas são resultantes da hemólise, sendo o principal deles a icterícia. A hemólise extravascular ocorre no fígado ou no baço, resultando em organomegalias (hepatomegalia ou esplenomegalia). Exames Laboratoriais: - Aumento dos níveis séricos de bilirrubina, principalmente indireta. - Urobilinogênio aumentado nas fezes e na urina. - Hemólise intravascular: hemoglobinemia, hemoglobinúria, hemossiderinúria. - LDH aumentada. - Haptoglobina reduzida. - Reticulocitose. - Esfregaço sanguíneo: macrocitose, policromatose e eritrócitos nucleados. - Aspirado de medula óssea: hiperplasia eritroide. A hemólise intravascular crônica e a hemoglobinúria persistente podem resultar em perda de ferro. A hemólise extravascular pode resultar em sobrecarga de ferro e hemocromatose secundária. Tratamento: - Reduzir a produção de anticorpos. - Reduzir a capacidade de anticorpos viáveis. - Reduzir ou cessar a hemólise. Anemias Hemolíticas Autoimunes: Envolvimento de anticorpos, sistema complemento e macrófagos, que causam morte prematura dos eritrócitos. Mais comumente, autoanticorpos ligam-se à membrana do eritrócito. Menos comumente, medicamentos estimulam a produção de autoanticorpos que se ligam à parede do eritrócito, marcando as hemácias como alvos de anticorpos. Anemia hemolítica autoimune com autoanticorpos IgG: - 75% dos casos de anemia hemolítica autoimune. - Pouco frequente (10 em 100.000 pessoas). - Adultos e crianças, mas a maioria em adultos maiores de 40 anos de idade. - 65% dos casos ocorrem em mulheres. - Temperaturas quentes, pois anticorpos IgG reagem com eritrócitos em temperaturas superiores a 37ºC. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Pode ser primária ou idiopática e secundária (associada a outra doença). - Os anticorpos IgG causam hemólise extravascular. - O sistema complemento causa hemólise intravascular. - Os anticorpos IgG têm 2 sítios de ligação: cadeia leve e cadeia pesada. - A taxa de hemólise depende da quantidade de autoanticorpos sobre a superfície do eritrócito, da afinidade e da avidez pelo autoantígeno. - O grau de anemia depende da taxa de destruição de eritrócitos e da capacidade da medula óssea de aumentar a produção de eritrócitos. - A anemia manifesta-se quando o tempo de meia-vida das hemácias é reduzido para cerca de 10 dias. - Causas: → Não bem compreendidas. → Um terço dos casos ligados a autoanticorpos contra o sistema Rh. → Medicamentos podem induzir a formação de autoanticorpos. Alguns exemplos são cefalosporinas, fludarabina e interferon. → A anemia pode ou não se resolver com a interrupção da medicação. - Quadro Clínico: → Insidioso. → Pode ser abrupto com anemia grave. → Pode ser secundária à leucemia linfoblástica crônica ou ao lúpus eritematoso sistêmico. → Sintomas inespecíficos e variáveis que dependem da idade, das comorbidades e de gravidade. → Astenia e fadiga. → Dispneia (pensar em outra patologia associada). - Diagnóstico: → História. → Medicamentos, doenças prévias. → Ocorre muito associada à leucemia linfocítica crônica, linfomas B, colite e artrite reumatoide. → Na maioria dos casos, é secundária a outras doenças. - Exame Físico: → Inespecífico. → Palidez, icterícia e baço palpável (esplenomegalia). → Mais da metade dos pacientes apresenta baço palpável. → Hepatomegalia também frequente em 50% dos casos. → Para avaliação de doenças associadas, investigar linfonodomegalias e eritema malar. - Exames Laboratoriais: → Esfregaço sanguíneo: presença de reticulócitos e esferócitos. → Eritrócitos anormais (RDW aumentado), VCM aumentado (devido à reticulocitose) e reticulocitose. → Contagem de leucócitos discretamente aumentada. → Contagem de plaquetas normal, exceto no lúpus eritematoso sistêmico e na Síndrome de Evans, que cursam com plaquetopenia. → Aspirado de medula óssea: hiperplasia eritroide. → Aumento da bilirrubina indireta. → Aumento da LDH. → Diminuição da haptoglobina. → A LDH é maior quando há hemólise intravascular. → LDH e haptoglobina não são marcadores específicos (proteínas de fase aguda). → Hemoglobinúria, hemossiderinúria. → Teste de Antiglobulina (Coombs): exame chave para o diagnóstico, administração de anticorpos anti IgG e componentes do sistema complemento. - Tratamento: → Corticoterapia: prednisona 1-2 mg/kg/dia por 3 a 4 semanas, 25% dos pacientes respondem. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → Transfusão sanguínea: depende do estado clínico e da tolerância do paciente, pode haver reações transfusionais. → Esplenectomia: casos refratários ou dependentes de corticoides, 75% dos pacientes respondem. → Rituximabe: anticorpo monoclonal anti- CD20. → Imunossupressores: em casos refratários. → Outras alternativas: danazol, IgG. Anemia hemolítica autoimune com autoanticorpos IgM: - Forma Aguda: causada por infecção (Mycoplasma pneumoniae ou EBV), abrupta, ocorre na fase de recuperação da infecção, mais comum em jovens, autolimitada, rara, necessita de tratamento. - Forma Crônica: mais comum, idosos, relacionada a doenças linfoproliferativas B e leucemia linfocítica crônica. - Temperaturas frias, pois anticorpos IgM reagem com eritrócitos em temperaturas inferiores a 37ºC. - A destruição das hemácias ocorre pela capacidade do anticorpo IgM de se ligar ao complemento. - Quadro Clínico: → 50 a 70 anos. → Anemia que piora em climas frios. → Geralmente não é grave. → Aglutinação das hemácias nas extremidades, que são mais frias. → Acrocianose (cianose nas extremidades → dedos, nariz, orelhas) devido à aglutinação nos capilares sanguíneos, hemólise intravascular com hemoglobinúria e, raramente, insuficiência renal. → O aumento do baço é incomum, exceto quando há doença linfoproliferativa associada. - Diagnóstico: → A aglutinação desaparece no calor. → Pode ocorrer rouleaux (empilhamento de hemácias) no esfregaço sanguíneo. → Reticulocitose proporcional à anemia. → Coombs direto positivo. - Tratamento: → Se a causa for infecciosa, não há necessidade de tratamento, pois é autolimitada e o quadro clínico é leve. → O manejo terapêutico envolve evitar o frio, aquecer as extremidades do paciente. → Transfusão de hemocomponentes aquecidos. → Prednisona raramente é efetiva. → Esplenectomia não é efetiva. → Rituximabe quando há aglutinação crônica ou neoplasia de células B. Hemoglobinúria Paroxística Noturna: - Anemia hemolítica adquirida por mutações de células-tronco, que resulta em eritrócitos suscetíveis à destruição. - A doença ocorre em adultos com, em média, 40 anos de idade. A sobrevida é de aproximadamente 10 anos. A doença é rara, não tem preferência por sexo ou caráter hereditário. - Quadro Clínico: → Colúria pela manhã. → Dor abdominal. → Disfagia. → Disfunção erétil. → Trombose venosa em um terço dos casos. - Danos na medula óssea em quase todos os pacientes, pode evoluir para anemia aplásica e, mais raramente, para leucemia aguda. - Diagnóstico: citometria de fluxo. - Tratamento: anticorpo monoclonal (eculizumabe), ferro se há deficiência, varfarina se há trombose, transfusõesde sangue e suporte. Esferocitose Hereditária: - Doença hemolítica familiar. - Características: anemia + icterícia intermitente + esplenomegalia. - Boa resposta à esplenectomia. - Anemia hereditária mais comum na Europa. - Frequente no Brasil. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Autossômica dominante em 75% dos casos e não dominante em 25% dos casos. - Anormalidades nas interações/ligações entre as proteínas de membrana. A desestruturação da membrana plasmática resulta na perda de lipídios e na consequente formação de esferócitos. - Quadro Clínico: → Anemia + icterícia + esplenomegalia em graus variáveis. → Qualquer idade. → Anemia de grau leve a moderado. → Recém-nascidos podem necessitar de exsanguineotransfusão. → Esforço físico, infecções, estresse e gestação causam piora da icterícia. → Esplenomegalia em 75% dos casos. → Cálculos biliares são frequentes (75% dos casos). → Úlceras perimaleolares. → Infecção por parvovírus B19 (o vírus tem tropismo pelas células-tronco, impedindo seu desenvolvimento). → Pode haver crise aplásica grave (ausência transitória dos precursores eritroides na medula óssea) e crise megaloblástica (deficiência de folato, que tem necessidades aumentadas nas anemias hemolíticas). - Exames Laboratoriais: → Reticulocitose sempre, devido à hemólise e à compensação medular. → Aumento de bilirrubina e LDH. → Teste de Coombs negativo. → CHCM aumentado devido à desidratação das células, que perderam mais membrana plasmática do que conteúdo. → Fragilidade osmótica aumentada (teste que mede à resistência dos eritrócitos à hemólise). - Tratamento: → Exsanguineotransfusão em RN dependendo da gravidade. → Suplementação com ácido fólico 1-5 mg/dia via oral. → Transfusões sanguíneas quando há exacerbações da hemólise e das crises aplásicas ou megaloblásticas. → Esplenectomia: curativa, indicada em casos graves (Hb < 8 e reticulócitos > 10%) ou quando há comprometimento intelectual ou físico pela anemia, eritropoiese extramedular ou litíase. É realizada a partir dos 6 anos de idade em pacientes vacinados. Outras anemias hemolíticas: - Eliptocitose Hereditária. - Estomatocitose Hereditária.
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