Buscar

7º ano Estudos Amazônicos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Estudos Amazônicos 7º ano 
1 | P á g i n a 
 
A Amazônia Negra 
 
Quando se fala sobre a presença negra na Amazônia é frequente ver o espanto das pessoas. 
Ainda hoje, especialmente fora da região, é comum ouvir a pergunta: “Mas, afinal, existiu escravidão 
na Amazônia? ” 
Podemos começar respondendo que a experiência da escravidão africana também marcou a trajetória 
da parte norte da colônia portuguesa na América. Em decorrência disso, hoje a presença negra na 
Amazônia é inegável, com enorme impacto na vida da região, marcando sua história, suas formas de 
comer, vestir, amar, dançar, cantar, rezar, trabalhar, juntamente com todas aquelas heranças 
intangíveis que as pessoas levam na pele, nos olhos e na alma. 
 
São inúmeros os sinais dessa presença. Existem 
hoje 406 comunidades quilombolas nos estados do 
Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará. Os dados são 
da Fundação Cultural Palmares, entidade do 
governo federal responsável pela certificação 
dessas comunidades, etapa necessária para o 
reconhecimento de suas garantias constitucionais e, 
especialmente, o direito às terras em que vivem. 
Em todo o Brasil, são cerca de 2 mil comunidades 
já certificadas. 
Agora, pergunta-se: se a presença negra na 
Amazônia é tão relevante, por que sabemos tão 
pouco sobre ela? Para começar, é preciso lembrar 
que, durante muito tempo, boa parte da 
historiografia partiu do princípio de que a 
escravidão não teve grande importância na região, 
já que ali se costumava usar o trabalho indígena 
em maior escala que o africano. Inclusive, havia 
certo consenso de que estudar a presença africana 
no Brasil era relevante apenas nos lugares onde existia grande número de escravos. Basicamente, 
isso significava falar das regiões Sudeste e Nordeste do País. 
 
Durante anos, esses argumentos foram usados para 
justificar a falta de aprofundamento da pesquisa 
sobre a presença negra na Amazônia. O resultado 
disso repercutiu fundo na produção historiográfica 
sobre o tema e alcançou os livros didáticos. Afinal, 
quanto menos se pesquisava sobre o assunto, mais 
difícil era falar sobre ele. 
Desde o fim da década de 1980, esse cenário vem 
sendo revertido em razão da notável expansão dos 
estudos sobre a escravidão africana e as 
experiências de trabalhadores cativos e libertos, 
ancorados em sólida pesquisa documental, novas 
temáticas e métodos. 
O mergulho nesse universo vem revelando outras 
histórias sobre a vida dos africanos Brasil afora. 
Casal dançando o carimbó, dança típica do Pará que 
“sofreu” forte influência negra 
 
Habitação de negros escravizados, a Senzala 
Estudos Amazônicos 7º ano 
2 | P á g i n a 
 
Tais resultados ajudam a fortalecer as lutas contemporâneas dos movimentos sociais de negritude 
porque iluminam trajetórias de indivíduos e comunidades, colaboram nos processos de 
reconhecimento de terras quilombolas e fundamentam reivindicações de políticas de ação afirmativa 
e combate ao racismo. 
Hoje, as pesquisas revelam um Brasil muito mais diverso do ponto de vista étnico-racial do que se 
pensava no passado. Os estudos fazem isso trazendo outros personagens para a cena, entre 
eles, homens e mulheres de origem africana, escravizados ou não, que viveram na Amazônia. 
 
Os Negros no Pará 
 
Estudos recentes indicam que a Amazônia foi conectada às redes do tráfico atlântico ainda no fim do 
século XVII e, até meados de 1750, estima-se a entrada de cerca de mil indivíduos na região, 
provenientes, em especial, da Costa da Mina, área tradicional de comércio negreiro na África. 
O tráfico era feito com forte comprometimento da coroa portuguesa e, considerando que o Grão-Pará 
e o Maranhão não eram uma de suas rotas mais rentáveis, havia certa irregularidade nos 
desembarques até a segunda metade do século XVIII, quando foi criada a Companhia Geral de 
Comércio do Grão-Pará e Maranhão. 
A partir daí, coube à nova empresa a tarefa de ampliar a oferta de escravos para os proprietários 
da região, em especial porque a coroa portuguesa resolveu, no mesmo período, abolir a escravidão 
dos índios (1755) que eram trazidos dos altos cursos dos rios amazônicos para servir nas 
propriedades no Pará e no Maranhão. No Pará, a defesa dos indígenas pelos missionários, defendendo 
a liberdade dos nativos, criou as condições para a importação de escravos africanos para o Estado do 
Pará. 
Os índios eram trabalhadores indispensáveis e o fim de sua escravidão, somado à presença dos 
escravos, não representou uma redução dessa importância. 
Eles continuaram a ser empregados em diversas formas de trabalho compulsório e, inclusive, 
compartilharam muitas dessas experiências com os escravos negros. 
Foi somente com a criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778), visando o 
estabelecimento da política pombalina de fomentar as atividades comerciais na Amazônia, que as 
cifras dos cativos traficados entre a África e a Amazônia portuguesa aumentam significativamente. 
Entretanto, isso não irá dar conta totalmente da carência por trabalhadores escravos na região. 
Enquanto a Companhia esteve em funcionamento (1755-1778), estima-se que tenha comercializado 
perto de 25 mil escravos na imensa área que hoje conhecemos como Maranhão, Pará, Amazonas e 
Mato Grosso. Até meados do século XIX, 
seguindo os novos fluxos do tráfico internacional, 
as populações desembarcadas na Amazônia 
serão procedentes, em sua maioria, da África 
Central Atlântica. 
Assim, no século XIX já era bastante evidente a 
presença da população escrava africana nas 
vastidões amazônicas, trabalhando com os índios 
nas lavouras de café, tabaco, cana-de-açúcar, na 
coleta de produtos da floresta, nas canoas do 
comércio e também nos diversos núcleos urbanos 
existentes floresta adentro. Como disse o 
historiador Flávio dos Santos Gomes, há muito 
tempo a floresta já estava enegrecida. 
 Índios do norte da província do Grão-Pará 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
3 | P á g i n a 
 
Como a região amazônica a ser explorada era imensa, seja para a agricultura ou pela coleta de produtos 
de origem florestal necessitava-se de um maior número de força de trabalho para a região. Desta 
forma a mão-de-obra na região amazônica se apresentava como uma problemática para os colonos. 
Em Portugal já se utilizava a mão-de-obra escrava africana há séculos: a dos negros ou a de árabes 
do norte da África. Desde o início da colonização do Grão-Pará houve a necessidade de resolver 
problemas de mão-de-obra e Portugal buscou o problema com a escravidão negra africana. Na 
Amazônia, o número de escravos negros não chegou a ser tão numerosos quanto em outras regiões 
do Brasil. Isto devia-se ao fato de que a atividade básica da região – o extrativismo florestal – exigia 
o conhecimento da floresta amazônica e os negros não a conheciam. 
As nações africanas que abasteceram o tráfico na região entre o século XVIII e nas primeiras décadas 
do XIX foram os bantos, o grupo Sudanês e nações do grupo Guineo-sudanês, além de outras 
indicações étnicas consideradas duvidosas. 
 
A maioria da população de escravos negros 
presentes eram originados diretamente da África, 
pois o número de escravos nascidos na região 
ainda era pequeno. Neste contexto, houve a 
presença dos cativos africanos desempenhando 
várias atividades em diversas regiões do território 
amazônico e do Grão-Pará como a presençaafricana no Baixo Tocantins na coleta das drogas 
do sertão; no Marajó com o trabalho na criação de 
gado; no Baixo Amazonas, onde a coleta do cacau 
representava a principal atividade econômica no 
século XIX; na Ilha das Onças no trabalho de 
artesanato de cerâmica; além da presença de 
escravos no próprio espaço urbano da capital 
paraense. De fato, o trabalho escravo africano na 
região amazônica possuiu grande importância 
para a economia regional. 
 
Que tipo de atividades realizavam os escravos? 
 
Circulando pelas ruas de Belém e Manaus estavam carregadores africanos, vendedoras de açaí, 
mucamas e criados, forros negociando suas produções de tabaco, artigos de latão e cobre, oferecendo 
seus serviços de sapateiro, carpinteiro e ourives, divertindo-se nas festas do Espírito Santo, de Nossa 
Senhora de Nazaré ou, ainda, como membros da Irmandade do Rosário. 
Escravos foram empregados na construção de fortalezas, condução de embarcações para Mato 
Grosso, nas fazendas , a r r o z , t aba co , m and ioca , milho, na criação de gado e de cavalos na 
Ilha de Marajó. Também eram artesãos, tecelões de chapéus e redes de algodão, apanhadores 
de açaí, pescadores, trabalhadores do porto, dos arsenais de guerra e da Marinha, das obras públicas, 
calafates, carpinteiros, p e d re i r o s , f e r r e i r o s , v e n d ed o re s d e tabaco, garapa e frutas. Também 
estavam nas casas senhoriais servindo, ninando, zelando, cozinhando, lavando e costurando. Estavam 
em todos os lugares dividindo espaços com os trabalhadores índios, o que tornava essas cidades 
diferentes das outras. Foram utilizados para trabalhar na lavoura de cana- de-açúcar, e m 
e n g e n h o s c o m o o E n g e n h o d o Murutucu em Belém e o Engenho do Cafezal em Barcarena. 
 
Tráfico negreiro com destino a província do Grão-
Pará 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
4 | P á g i n a 
 
 
As ruínas do Engenho Murutucu, em Belém nas imagens acima e abaixo. O engenho possui quase trezentos anos de 
história. Foi obra do arquiteto italiano Antônio Landi 
 
Ao longo da história o Grão-Pará abrigou 
vários quilombos com expressiva 
população. Espalharam- se na calha do 
Amazonas, Tocantins, ilha do Marajó, 
Amapá e, principalmente, a leste de 
Belém a caminho do Maranhão. 
Por exemplo, no século XIX, o quilombo 
de Alcobaça (hoje Tucuruí) contou com 
mais de 300 indivíduos. 
Em 1835, negros do quilombo de Caxiú, 
cerca de 
400, comandados pelo preto Félix, e um 
tal Manuel Maria, reforçaram o grupo do chefe cabano Eduardo Angelim. 
Um líder quilombola foi o negro Cristóvão, que levantou os escravos do engenho Caraparu. Nos anos 
de 1835, Benfica e Caraparu, proximidades de Belém, eram engenhos de açúcar, com vasta 
escravaria. 
O núcleo rebelde, como os negros do Murutucu, nas terras do poderoso Rodrigues Martins, destruiu 
totalmente o engenho e deu o que fazer ao general Andreia que, para batê-lo, organizou nada menos 
do que três expedições. Somente a última, comandada pelo capitão-tenente Osório, com cerca de 200 
homens, enfrentou cerca de 150 amotinados. 
 
A Capoeira 
 
O negro escravo organizou seu próprio sistema de defesa. E começou usando o próprio corpo. A defesa 
com o corpo gingando, com o ataque rápido e certeiro, característico do negro de Angola: era a 
capoeira. 
Estudos Amazônicos 7º ano 
5 | P á g i n a 
 
A capoeira enquanto jogo ou luta, é de origem 
africana, tendo raízes em Angola, portanto 
tradição dos negros bantos. 
No século XIX, no jornal O Publicador Paraense, 
Diário de Notícias e a folha ilustrada A Semana 
eram constantes as notícias de capoeiras no Pará. 
 
Texto e Contexto 
 
“Os capoeiras não são mais que vagabundos, 
livres ou cativos, dados à crápula, à velhacaria, a 
vícios infames. (...) aparecem até de dia, já não 
procuram envolver-se no escuro manto da noite; 
de dia mesmo praticam das suas. ” 
 
(O Publicador Paraense, Ano II, nº 58, p. 2.) 
 
“Ante-ontem, às 8 horas da noite, no largo da Santana, um negro, metido à capoeira, fazia troça com 
outros companheiros” 
 
(Diário de Notícias, Belém, 15/11/1882. p. 3.) 
 
“O grosso cacete é a arma predileta para os exercícios de capoeiragem; a navalha, a tira-teima, se 
porventura o freguês está jurado. A polícia é a única que não vê os vadios, em grupos, pelos cantos e 
tascas, fazendo a apologia da cachaça e pondo em risco a vida dos pacíficos cidadãos! ” 
 
(A Semana, Ano 4, nº 5, 24/03/1890. p. 2.) 
 
Abolição da escravidão no Pará 
 
Com o término do tráfico negreiro transatlântico entre o Grão-Pará e a África (1834) não 
representou a interrupção desta atividade, pois já havia todo um comércio interno entre os Estados 
do Brasil e do Grão-Pará e Maranhão. Com isto, é importante notarmos que Belém não se limitava 
apenas em ser um polo receptor de cativos africanos, mas também um polo exportador de escravos. 
Através do porto de Belém ocorria um tráfico interprovincial de escravos a fim de abastecer as 
necessidades de mão-de-obra africana para o mercado de trabalho de outros pontos da Amazônia. 
No século XIX, no Brasil, ocorreu a luta para abolir 
a escravidão no país. No Pará, em Belém foi 
fundada a Sociedade Filantrópica Emancipadora da 
Província do Grão-Pará, criada pelo médico Carlos 
Seidl, em 1869. Em 1882, surgiram organizações 
abolicionistas como o Clube Felipe Patroni e o Clube 
Batista Campos. 
Em abril de 1888, com a ascensão na Corte do 
Gabinete de João Alfredo, os abolicionistas 
criaram, n o G r ê m i o L i t e r á r i o , u m a 
a s s o c i a ç ã o denominada Liga dos Cativos da 
Província do Pará. Após discussão sobre o 
Negros praticando capoeira nos arredores de Belém 
 
Imagem retrata a redenção de Benevides do trabalho 
escravo. A Vida Paraense, Belém, 30/03/1884. 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
6 | P á g i n a 
 
estatuto, decidiram: a) que todos os membros da diretoria dariam liberdade aos seus cativos; b) que 
escolheriam a data de 13 de maio para a abolição total dos escravos do Pará; c) como o dia 13 de 
maio estava próximo, adiaram para o ano seguinte (1889) a extinção do cativeiro. 
A colônia agrícola de Benevides torna-se importante nesse contexto, na medida em que atuava como 
centro receptor de escravos fugidos, desde pelo menos 1881, três anos antes de ter sido decretada 
como livre de escravos. 
 
O jornal Diário de Notícias, de João Campbel, engajou-se na campanha abolicionista, denunciando o 
tráfico e desembarque de negros no Pará. 
 
Texto e Contexto 
 
Pele Negra 
 
“O vapor Bahia trouxe 13 escravos para serem 
vendidos nesta província, graças à proteção 
facultada pela assembleia aos especuladores dessa 
torpíssima indústria. ” 
 
(Diário de Notícias, Nº 154, 06/07/1881, p. 2.) 
 
“Do Maranhão entrou ontem o vapor Alcântara, 
trazendo o formidável carregamento de 57 
escravos e 20 ingênuos. 
Esses infelizes vieram com destino a Olaria do Sr. Domingos Noguez. Esse facto depõe seriamente 
contra nós, e devemos o conceito péssimo feito a nosso respeito, dentro e fora do país, unicamente à 
politicagem dos nossos deputados. 
” 
(Diário de Notícias, 24/06/1882, p. 2.). 
 
Poesia antiescravista também circulava no jornal, como as de Tobias Barreto. 
 
Texto e Contexto 
 
“Se Deus é quem deixa o mundo 
Sob o peso que o oprime 
Se ele consente este crime 
Que se chama escravidão; 
Para fazer homenslivres, 
Para arrancá-los do abismo, 
Existe um patriotismo, 
Maior que a religião. ” 
 
(Tobias Barreto. Diário de Noticias, 02/07/1884. Citado em SALLES, Vicente. O negro na formação 
da sociedade paraense. Belém: Paka-Tatu, 2004. pp. 73-74.). 
 
Sátira das festas de doação de cartas de liberdade aos 
escravos no Teatro da Paz. A Semana Ilustrada, 
Belém, 30/03/1884 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
7 | P á g i n a 
 
Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, aboliu a escravidão em todo 
Brasil. Recebendo a notícia, o presidente da província Miguel Almeida Pernambuco fez publicar, pela 
imprensa, um edital, determinando a execução do Decreto nº 3.353 em todo o território do Pará. 
 
Influência negra no Pará 
 
A contribuição do negro no Pará se manifesta nos folguedos populares, na culinária, no vocabulário e 
nos vários aspectos do folclore regional. 
O negro que veio como escravo para o Pará, assim como o indígena e o branco, sobretudo o 
português, contribuiu e influenciou para a formação da sociedade paraense. O negro contribuiu com 
o seu trabalho durante séculos, mas também contribuiu com sua cultura, seja na culinária com a 
feijoada típica, seja na capoeira, na música e na dança. 
 
Texto e Contexto 
 
Observaram Spix e Martius, nos anos de 1820, os 
negros e mulatos paraenses. 
“Os mulatos são os mesmos também aqui; é a 
mesma gente facilmente excitável, exuberante, 
pronta pra qualquer partida, sem sossego, visando 
a efeitos espalhafatosos. Para a música, o jogo e a 
dança, está o mulato sempre disposto e agita-se 
insaciável, nos prazeres, com a mesma leviandade 
dos seus congêneres do Sul, aos sons monótonos, 
sussurrantes, do violão, no lascivo lundu ou no 
desenfreado batuque. ” 
 
(SPIX & MARTIUS. Viagem pelo Brasil, 1817-
1820. São Paulo, 1962, 3 v. p. 22.). 
 
Uma grande contribuição dos negros no Pará foi a 
sua participação ativa no movimento revolucionário 
da Cabanagem, onde negros escravos e ex-escravos se destacaram como o negro Manuel Barbeiro, o 
negro liberto de apelido Patriota e o escravo Joaquim Antônio. 
 
Texto e Contexto 
 
Negros e a Cabanagem 
 
“Emergindo dos mocambos e das senzalas ou afluindo dos quilombos ignotos, no seio das selvas e 
nas praias desabitadas, os escravos acostaram-se à causa cabana, com o objetivo da reconquista da 
liberdade. ” 
 
(HURLEY, H. J. Traços cabanos. Belém: Off Gráficas do Instituto Lauro Sodré, 1936. p. 209.) 
 
A maniçoba é um prato típico paraense influenciado 
pela cultura africana 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
8 | P á g i n a 
 
Cabanos Negros – Foram muitos, 
porém poucos nomes chegaram aos 
nossos dias. As informações sobre 
cada um deles também são 
escassas, mas, suficientes para 
figurarem no panteão dos grandes 
heróis libertários de nossa terra. 
Quase todos se libertaram da 
escravidão, aderindo ao movimento 
cabano de armas na mão. Por sua 
audácia guerreira e liderança 
política conquistaram chefias 
militares e ao reivindicarem 
abertamente que o terceiro governo 
cabano abolisse formalmente o 
cativeiro tornaram-se a vanguarda 
programática do movimento. 
Entre outros podemos citar o negro 
cabano Pedro Figueiredo, nomeado 
pelo segundo presidente cabano 
Francisco Vinagre, comandante do 
destacamento de guardas nacionais 
numa total inversão da hierarquia 
militar, causando escândalo na 
época. Este destacamento guarnecia o Arsenal de Guerra e o comandante Pedro Figueiredo, nas 
palavras do historiador Domingos Rayol era “Homem da raça africana que se recomendara por seu 
v a l o r e i n t r e p i d e z n o f o g o d a p r a ç a d a s Mercês”. 
Em seus escritos, Rayol que foi o cronista da Cabanagem também faz referência aos negros Manuel 
Barbeiro, Antônio Pereira Guimarães (o gigante Maquedum) o escravo Francisco Sipião “ que fora 
capitão dos cabanos e influente nas desordens na cidade e desse rio”, Custódio Teixeira, 
considerado um dos “influentes” na toma de Belém, em janeiro de 1835 e o aprendiz de sapateiro 
José Manuel Pereira Feio. Outros antigos escravos também foram lembrados, especialmente o negro 
Patriota, Joaquim Antônio e João do Espírito Santo, também conhecido como “ Diamante”. Todos os 
três depois de terem se destacado como propagandistas das ideias revolucionárias e como 
combatentes tiveram que enfrentar a repressão do terceiro governo cabano, de Eduardo Angelim, 
acusados de ¨proclamarem a liberdade a seu jeito, incluindo a dos escravos em geral”. Patriota e 
Joaquim Antônio foram fuzilados pelo governo cabano. Diamante penetrou na mata onde formou um 
grupo que se autodenominou de “guerrilheiros”. Estes três grandes libertários, vindos da escravidão, 
ousaram exigir que a revolução assumisse oficialmente a abolição do cativeiro, num momento em que 
a Cabanagem retrocedia, uma vez que não se decidia a romper com o Brasil escravocrata e 
latifundiário. Seus nomes ficarão na nossa memória para sempre. 
 
Enegrecendo a floresta 
 
No século XIX, Manaus e Belém surpreendiam os viajantes estrangeiros que por ali passavam. Suas 
belezas naturais eram atrativos inquestionáveis, mas a diversidade étnico-racial de suas populações 
era o tema recorrente nos relatos. Os dados mostram que existia, ao lado de uma grande maioria de 
índios vivendo nas cidades, dos escravos africanos e dos chamados brancos, uma grande variedade 
Negros lutando durante a Cabanagem 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
9 | P á g i n a 
 
de tipos mestiços que tornava a Amazônia um laboratório extraordinário para estudo dos efeitos 
das “misturas raciais”. 
Mas outros laços ligavam as histórias de índios e africanos relacionados com suas experiências de 
solidariedade construídas a partir do duro cotidiano que muitas vezes compartilharam. As tentativas 
de constituir novos espaços fora da escravidão levaram à formação de muitos 
quilombos/mocambos que, eventualmente, reuniram índios e africanos no mesmo espaço. As fugas 
também foram frequentes e, em vários casos, épicas, porque atravessavam amplos espaços do 
território amazônico. 
Escravos lançaram mão de muitas estratégias para sobreviver em um mundo adverso e se esforçaram 
para manter, no limite de suas possibilidades, o controle de suas vidas. Buscaram juntar dinheiro 
para alcançar alforria, formaram comunidades independentes, guardaram segredos no fundo da alma 
e transmitiram a seus descendentes. 
Mas a presença negra não se reduziu à escravidão. Outros homens e mulheres viveram na região 
sendo professores de música, chefes de polícia, capoeiras, gráficos, lavadeiras, oleiros, carpinteiros 
– uma lista sem fim. Apesar de o silêncio sobre essas histórias notáveis ainda ser persistente, não 
há como negar que está sendo revertido pela força inquebrantável de todas essas experiências 
históricas. 
 
Festas de Abolição da Escravidão na província do Grão-Pará 
 
Na província do Grão-Pará, encontramos diversas contribuições da Escravidão enquanto instituição, 
contribuições essas que tiveram reflexos culturais e sociais importantes no qual podemos perceber as 
suas influencia na formação da mestiçagem da sociedade paraense. Dessa forma, podemos perceber 
durante o final do século XIX a sociedade paraense passava por diversas transformações; Tais 
metamorfoses passavam no campo social em relação às novas situações postas no campo 
político e socialque estavam se processando. Nesse aspecto, ideias e modas surgem, dando como 
resultado acelerar o processo abolicionista, a entrada de imigrantes, a fuga de escravos, as alforrias 
compradas ou doadas, a decadência das lavouras, a proletarização do negro e do caboclo, livres ou 
escravos, recrutados pela indústria nascente, principalmente a que se associou às oficinas das 
companhias de navegação e vapor. No começo da década de 1880, a campanha abolicionista atingia 
o auge, em toda parte. Muitas províncias haviam fechado suas alfândegas a importação de escravos; 
mas abriram-nas à exportação. 
O movimento de Abolição da Escravidão na província do Grão-Pará, especificamente em Belém 
esteve dentro de um raio de ação que contagiou todo o Império Brasileiro, principalmente no final da 
década de 80 dos oitocentos. 
Essa euforia que contagiou a capital do império foi um reflexo do movimento de emancipação escrava 
que ocorrera no Ceará e que também se espalhou na província do Amazonas. Em Belém não poderia 
ser diferente. Os abolicionistas de Belém também utilizaram diversas formas de contestar a questão 
da Escravidão que se processava na província. Principalmente por meio da imprensa, a Escravidão 
fora denunciada e combatida de maneira veemente; nesse aspecto podemos destacar a atuação 
do periódico Diário de Notícias. Jornal circulante que tinha um público acentuado para os padrões da 
época, aproximadamente 3.000 exemplares de tiragem diária, fora um importante instrumento de 
atuação abolicionista em Belém. Havia na capital da província outros periódicos tais como O Liberal 
do Pará, Diário de Belém e outros. Mas sem dúvida o Diário de Notícias foi o periódico que mais 
se destacou durante esse período por declara-se tanto abolicionista como, passado algum tempo, 
simpatizante do ideário republicano. 
 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
10 | P á g i n a 
 
As festas de abolição - as suas comemorações em Belém 
 
Nesse prisma de análise, vamos perceber que as festas de comemoração do movimento de Abolição 
da escravatura em Belém se apropriavam desses elementos acima explicitados. 
Para que essas festas pudessem ocorrer de forma exemplar, era necessário dar um sentido a festa 
e, ao mesmo tempo apagando um passado e construindo outro. No dia 13 de maio de 1888, o jornal 
Diário de Notícias publica em suas páginas sob a forma de editorial: 
 
Ergamos em frente que chegou a nossa vez! 
Que o nosso grito de enthusiamo vá hoje aos confins do mundo levar a grata noticia de que o Brazil –
livre, completamente livre! —Reclama o logar que lhe compete no grande banquete da humanidade! 
Denodados heróes da idéia abolicionista, vós que fostes infastigaveis na sacrosanta propaganda em 
prol d’uma raça mizerrima, nós vôs saudamos com todos os échos da patria, com todos os sentimentos 
de humanidade! 
E os que foram coibidos pela morte, antes de verem brilhar a aurora da redenção, receberam a nossa 
solemme homenagem! Que seus manes venerando-se regosigem com a felicidade que começa para 
aquelles por quem tanto trabalharam! 
E vós escravos de hontem e cidadãos de hoje, unamo-nôs para o engrandecimento da patria querida! 
 
Podemos perceber que há um discurso no qual se deseja apagar um passado que não representava a 
civilização moderna. As representações da instituição escravista geralmente se reproduziam por seus 
aspectos negativos. Frases tal como “negra instituição” dava ideia de como o regime era designado 
palavras de significados fortes. 
 
Festa da liberdade 
 
Hontem por ocasião da sessão do conselho diretor da liga redentora, reuniram se varios membros da 
sociedade que ahi fizeram por diversas formas comemorar o grande facto pedido da abolição, 
apresentado ao parlamento pela augusta princeza imperial regente. 
Durante a sessão, que foi concorridíssima, distribuíram se perto de 30 cartas a maior parte d’ellas 
dadas em homenagem aos generosos sentimentos da excelsa princeza. 
Muitos quarteirões e ruas foram considerados livres pelas comissões no meio de constantes applausos 
e vivas. 
Duas bandas de músicas tocavam a porta da casa. O honrado comerciante Domingo José Dias 
declara que os vapores da cia Pará e Amazonas estão (SIC) do movimento libertador no interior da 
província. 
Declara mais que o commercio de Belém vai declarar não possuir mais escravos, nem servir-se de 
escravos. 
Calorosos aplausos e vivas cobrem a palavra do distinto cidadão. 
Decidia-se mandar cunhar medalhas de ferro para comemorar o 13 de maio que vai ficar redimida a 
cidade de Belém. 
Em seguida, foi lido o topico da falla do trhono relativo a abolição, levantando-se vivas a 
princeza, ao ministerio, a todos os trabalhadores da causa da liberdade, ao som do hyno nacional 
executado pelas bandas e enquanto uma basta girandola de fogos levava as saudações ao ar livre da 
Amazonia. 
Depois dirigiram se todos ao palacio da presidencia para cumprimentar a primeira autoridade (...) 
Para a noite foi desde logo anunciada uma passeata (...) 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
11 | P á g i n a 
 
Nesse sentido, concebemos a tradição das festas de redenção da cidade de Belém como uma tentativa 
de transformação social apoiado numa ideologia que se afastava das tradições do império liderado 
por Pedro II. Nesse ínterim, as tradições inventadas realmente necessitaram “criar” novos acessórios 
ou linguagens ampliando o seu vocabulário, trabalhando a continuação histórica que é recorrente para 
que as “tradições inventadas” possam estabelecer-se. 
As festas de liberdade refletem bem a forma como as tradições inventadas são utilizadas com o 
propósito principal de socialização e a inculcação de ideias ou sistemas de valores e até mesmos 
padrões de comportamento. As tradições inventadas de festas preenchem um pequeno espaço 
cedido pelas velhas tradições. Nesse sentido, podemos observar que as pessoas só tomam 
consciência da sua cidadania através da assimilação de símbolos ou práticas aliada a participação de 
pessoas que representam o Estado e o povo em si, contemplando a ação. Além disso, o próprio 
discurso do abolicionismo colocava-se como uma “imagem” que se configurava no sentido 
de perceber que a extinção do trabalho escravo no Grão-Pará e, consequentemente no Brasil se deu 
sem nenhum trauma e que tal processo era uma prova de que a nação estava totalmente “redimida” 
de seu passado escravista, mas que a partir desse ato de “humanidade”, o país escalava um cume 
bastante difícil e alcançava o seu topo no qual a nação elevou-se sobre todos os outros países da 
América e da Europa. 
 
Amazônia colonial: exploração da mão de obra indígena (Ouro Vermelho) 
 
O escambo de pau-brasil, intensamente 
praticado no litoral, foi a primeira 
atividade importante onde se utilizou a 
mão-de-obra indígena. Na região 
amazônica, o uso da força de trabalho dos 
índios era importante, pois estes 
conheciam e região, sendo utilizados na 
navegação nos rios, na orientação na 
mata, assim como no trabalho na 
floresta, na extração das chamadas 
“drogas-do-sertão”. 
O uso da mão-de-obra indígena no Brasil, 
como no Pará, determinou a adoção de 
diversas medidas legais em relação aos 
indígenas e o uso de sua força de 
trabalho. 
A liberdade era garantida para os índios 
aldeados e aliados, ou seja, os que viviam 
nos aldeamentos e foram convertidos e 
aculturados. Livres, eram senhores de 
suas terras nas aldeias, passíveis de 
serem requisitados para trabalharem 
para os moradores mediante pagamento de salário. 
Aos olhos dos colonizadores,o Vale Amazônico apresentava-se com possibilidades incalculáveis, 
inclusive dando a impressão de que seus produtos podiam substituir as especiarias das Colônias 
perdidas no Oriente. 
A colonização que ali se impôs, portanto, fundamentou-se nas atividades extrativas, compondo um 
sistema original e peculiar que constituiu e marcou a vida econômica da região. 
Para o Estado português, a prioridade era assegurar a participação 
dos indígenas nas atividades produtivas e sua colaboração na 
defesa do território. 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
12 | P á g i n a 
 
A Legalidade 
 
A disputa ao acesso e controle desses índios marcou a história política de 
toda a região amazônica. Vários conflitos entre colonos e missionários foram 
inevitáveis pela disputa da mão de obra indígena. Diversas formas de recrutamento 
foram utilizadas para obter essa força de trabalho. 
Assim, diversas leis foram criadas, ora beneficiando os colonos leigos na exploração da mão-de-obra 
indígena e, em outras, aos colonos religiosos. 
A lei de 1595 previa um único motivo para escravizar o índio: somente a prisão, feita durante alguma 
guerra, e efetuada por ordem direta da Coroa Portuguesa. Os decretos de 1605, 1608 e 1609 
suprimiram inteiramente a escravidão do índio, declarando por princípio a liberdade indígena e a 
igualdade dos seus direitos políticos ao dos brancos. Mas essas leis não puderam ser instauradas, 
devido à pressão dos colonos leigos, os quais alegavam falta de mão-de-obra para continuar seus 
negócios. 
 
Os indígenas entre os colonos leigos e os missionários 
 
A expansão do mercantilismo europeu transformou a 
Amazônia num palco de batalhas, onde os principais 
protagonistas eram estrangeiros que disputavam a 
posse do território e as riquezas nele contidas. 
Colonos de diferentes nacionalidades, armados, 
instalaram-se na área, realizando um intenso 
comércio e a exploração da força de trabalho 
indígena. 
 
Processo de Recrutamento 
 
Descimentos 
 
Eram expedições, em princípio não militares, 
realizadas desde o início da colonização do Brasil 
pelos missionários, com o objetivo de convencer os 
nativos para que "descessem" de suas aldeias de origem para os aldeamentos dos religiosos. Os 
descimentos eram feitos através do convencimento dos nativos para saírem de suas terras por livre e 
espontânea vontade. 
Os missionários, para conseguirem tal objetivo, faziam inúmeras promessas de melhorias nas 
condições de vida dos nativos caso fossem viver nos aldeamentos; quando isso não funcionava, 
usavam a coação, obrigando-os, através do medo, a aceitarem a convivência indesejada nos 
aldeamentos. Após o descimento os nativos eram armazenados em "aldeias de repartições", pois eram 
considerados "livres", para daí serem alugados e distribuídos entre os colonos, os missionários e o 
serviço real. 
O aldeamento era um projeto da colonização portuguesa para garantir a conversão dos índios ao 
catolicismo, a ocupação do território, sua defesa e ainda servia como uma reserva da mão-de-obra 
para o desenvolvimento da colônia. 
A repartição da mão-de-obra era estabelecida pela “terça parte”: um terço permanecia na aldeia, um 
terço servia à Coroa (guerras, descimentos), o restante era repartido entre os moradores, para 
atividades remuneradas. 
Representação de uma Tropa de Resgate 
Estudos Amazônicos 7º ano 
13 | P á g i n a 
 
O comércio de escravos ficou tão intenso que se estima que até meados do século XVIII cerca de 20 
mil índios foram apresados e descidos do Alto Rio Negro. Nas listas dos escravos retirados dessa 
região, já estão incluídos em grande número índios Tukano, Baniwa, Baré, Maku, Werekena e outros 
que vivem hoje em dia nesta mesma área, trazidos para trabalhar em Belém e São Luís. 
 
Índios de Repartição 
 
Também chamados de índios "livres" em oposição aos escravos, eram todos aqueles que aceitavam 
ser descidos sem oferecer resistência armada. 
 
Tropas de Resgate 
 
Eram expedições armadas realizadas pelas tropas de resgates, com o objetivo de fazer uma troca 
comercial entre os portugueses e as tribos consideradas aliadas. Os colonos trocavam quinquilharias 
(espelhos, facões, miçangas, colares, panelas, etc.), por nativos prisioneiros de guerras intertribais, 
os chamados "índios de corda". 
Os índios resgatados podiam ser escravizados durante dez anos em retribuição ao seu salvador, que 
os livrava da morte. No entanto, 1626, quando completaria os dez primeiros anos de presença 
portuguesa na Amazônia e os primeiros escravos deveriam ser libertados, a legislação foi modificada, 
estabelecendo que pudessem ser escravizados por toda vida. 
 
Guerras Justas 
 
Eram expedições armadas, realizadas pelas tropas de guerra. Invadiam os territórios indígenas com o 
objetivo de capturar o maior número possível de índios, inclusive mulheres e crianças. De acordo com 
o conjunto de leis de 1611, a guerra só era considerada justa quando: 
 
 Os nativos atacavam e roubavam colonos; 
 
 Se os nativos se negassem a ajudar os portugueses na luta contra outras tribos ou na defesa 
de suas vidas; 
 
 Fossem contra o Cristianismo, impedindo a pregação do Santo Evangelho; 
 
 Se os nativos se aliassem a outros povos europeus como holandeses, franceses, ingleses e 
irlandeses. 
 
 Enfim, qualquer demonstração de independência e vontade própria poderia servir de pretexto 
para a guerra justa. 
 
Além dos pontos já mencionados, podemos citar como causas legítimas para a realização de uma 
guerra justa a recusa à conversão, a prática de hostilidades contra os portugueses e a quebra de pactos 
celebrados. O impedimento à pregação era apontado como causa justificada de guerra, para punir e 
castigar aqueles que punham obstáculo à propagação da fé cristã. As hostilidades das tribos também 
eram causas das guerras justas. Era então estabelecida a hostilidade, a guerra devia destruir as aldeias 
inimigas, matando ou escravizando a todos a quem de algum modo resistir. 
Os nativos presos eram conduzidos ao mercado de escravos da aldeia, onde também eram repartidos 
entre os colonos, os religiosos e os serviços da coroa portuguesa. 
Estudos Amazônicos 7º ano 
14 | P á g i n a 
 
Foram incontáveis as expedições que penetraram no sertão amazônico com o objetivo de capturar 
nativos forçados. 
Porém, a lei de 1655, profundamente influenciada pelo padre Antônio Vieira, exímio combatente da 
causa da liberdade indígena na região amazônica, estabeleceu com grande moderação sérios esforços 
para acomodar, de um lado, as vantagens materiais dos colonos, e de outro, a proteção dos índios. 
Apesar disso, a escravidão particular continuou a existir; em se tratando de índios prisioneiros de 
guerra, ela devia, inclusive, ser vitalícia e hereditária. A escravidão dos índios resgatados, contudo, 
devia durar somente cinco anos. Com essa lei a situação dos índios livres mudou, pois, a fiscalização 
deles, antes atribuída a funcionários civis, foi designada aos jesuítas. A atuação dos funcionários civis 
era geralmente prejudicial aos “índios livres”, pois compactuavam com os colonos que os tinham sob 
guarda, fazendo os índios prestar serviços aos portugueses por prazos maiores que os estabelecidos. 
Pela lei de 1655 foi organizado um tribunal que tinha como função sentenciar os índios apanhados, 
prisioneiros de guerra ou resgatados. Este tribunal era composto pelo governador do Estado, ouvidor-
geral, vigário do Maranhão ou Pará, e pelos preladosde quatro ordens religiosas: carmelitas, 
franciscanos, mercedários e jesuítas. Mas deve-se ressaltar que quase todos membros do tribunal 
estavam comprometidos com o sistema colonial e geralmente votavam pela escravidão vitalícia e 
hereditária por “guerra justa”. O Padre Antônio Vieira e o então governador, André Vidal - que apoiava 
os preceitos do padre jesuíta quanto à proteção dos índios -, geralmente viam-se derrotados, em 
particular, pelos mercedários e carmelitas. 
O fato é que a aplicação do conceito de guerra justa variou, não só ao sabor da discussão empreendida 
entre teólogos e juristas, mas também, e principalmente, devido a considerações econômicas e 
políticas conjunturais. No que se refere às expedições de resgate dos “índios de corda”, a legislação 
da Coroa reconhecia a legalidade da compra dos índios condenados pelas tribos ao sacrifício ritual. O 
Estado português apenas tentou coibir as fraudes dos colonos e garantir que o resgate constituísse 
uma prática efetivamente espontânea por parte dos vendedores indígenas. 
Com a Lei de 28-4-1688, o próprio Estado tornava-se empresário dos resgates, que a partir de então 
seriam feitos pela Fazenda Real: duas tropas – uma para o Pará e outra para o Maranhão – deveriam 
ser anualmente enviadas ao sertão. A Fazenda Real forneceria 3000 réis para a compra de 
quinquilharias necessárias ao resgate de escravos, devendo ser empregados dois mil para o Pará e mil 
para o Maranhão. Cada índio escravizado seria taxado em 3000 réis, e a renda desses impostos 
formaria um fundo intitulado “Tesouro dos Resgates”, para ser aplicado em benefício das missões, de 
novas entradas, e de outros itens relativos à obtenção da mão-de-obra. O Estado intervinha, assim, 
em seu próprio benefício, desde que sobre a venda de escravos resgatados por tropas oficiais era 
possível cobrar dízimos, enquanto o apresamento por particulares, no mais das vezes clandestino, 
deixava invariavelmente vazios os cofres régios. 
Continuando a tratar das leis vemos, aqui mais um exemplo do posicionamento ambíguo da Coroa: 
pela lei de 1663, a fiscalização sobre as reduções indígenas voltava as câmaras de Belém e São Luís, 
e o cuidado das almas dos índios perdia o monopólio jesuíta, agora repartido entre as ordens. A 
escravidão desenfreada não tinha agora obstáculos, já que os membros escolhidos para a Câmara 
eram os mesmos interessados na escravidão. Totalmente contrária aos preceitos da lei anterior, a lei 
de 1680 suprimia quase que por completo a escravidão dos índios, declarava libertos todos os 
prisioneiros resgatados de tribos indígenas e ordenava que fossem agasalhados nos aldeamentos; 
somente os prisioneiros de guerra permaneciam escravos. A fiscalização temporal e das almas 
retornava assim ao monopólio dos jesuítas. Poucos anos mais tarde o rei voltou atrás e novamente 
concedeu o direito de escravizar os índios nos casos de “guerra justa”, com a justificativa que o plano 
de substituir o índio pelo escravo negro não dera certo, devido principalmente ao preço. 
 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
15 | P á g i n a 
 
Cabo das Canoas 
 
Encarregado de dirigir as primeiras expedições de exploração da mão de obra indígena, usava esta 
para a coleta das drogas do sertão, assim como a função de remeiros, sua função daria a coroa de 
Portugal o entendimento de que seria preciso a criação de uma legislação que melhor controlasse o 
processo de exploração das riquezas da região daí em 1611 foram implantados os sistemas de chefia: 
 
1- Sistema de Capitães de Aldeia 
 
(1616-1686) - quando Portugal decidiu ocupar a Amazônia, enquadrou-a no sistema legal de 
organização do trabalho indígena vigente na época: o sistema de "capitães de aldeia". 
 
Tarefas do Capitão de aldeia: 
 
 Representar e fazer cumprir as atribuições impostas pela Coroa portuguesa à aldeia; 
 Comandar as formas de recrutamento e escravização de mão-de-obra indígena; 
 Empreender a distribuição e aluguel dos índios entre colonos, missionários e o serviço real da 
Coroa portuguesa; 
 Atuar como juiz, civil e criminal, julgando e estabelecendo penas; 
 Fiscalizar o pagamento dos "salários" aos índios, a fim de impedir que esses fossem enganados 
pelos colonos. 
 
Os Colonos Missionários 
 
Os missionários constituam uma categoria de colonos que, além dos interesses econômicos e 
materiais, tinham objetivos espirituais declarados: converter os índios à religião e a disciplina para 
que aceitassem as novas condições de trabalho. Nesta época, a igreja não estava separada do estado 
como agora. E os missionários das três ordens religiosas carmelitas, capuchinhos e jesuítas eram 
funcionários da Coroa Portuguesa que lhes pagava o Côngrua, uma espécie de salário pelos serviços 
prestados. Como os colonos leigos controlavam os dois sistemas de trabalho: os índios repartidos e 
dos índios escravos, os missionários estavam descontentes e começaram a luta contra os colonos, para 
tentar obter o controle da força de trabalho indígena. 
 
O Regimento das Missões (1686) 
 
O Regimento fez crescer o poder das ordens religiosas, que passaram a ter não só importância no 
trabalho espiritual, mas também no político e temporal, das aldeias sob sua administração. Com o 
Regimento, os episódios se precipitaram e os missionários de diversas ordens adquiriram uma 
liberdade maior, uma força de contestação que o sistema não pôde suportar. Os religiosos puderam 
então obter a posse exclusiva das aldeias, com a exclusão dos moradores brancos e mestiços, e, além 
disso, o controle de toda a vida econômica e social das aldeias. Os missionários, portanto, passaram a 
funcionar como centro e articuladores de todas as atividades nas aldeias, e como intermediários entre 
as aldeias e o sistema colonial. 
Incluía, afora a conversão católica dos gentios, sua incorporação ao domínio político da coroa mediante 
o aprendizado da língua portuguesa, a organização das tribos em núcleos de caráter urbano 
e, sobretudo, o aproveitamento racionalizado de sua força de trabalho em atividades extrativas e 
agrícolas. 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
16 | P á g i n a 
 
As Missões Religiosas e a Ocupação do Vale Amazônico 
 
O papel do indígena na ocupação do Vale do 
Amazonas era de extrema importância. Não se dava 
um passo sem ele, pois conhecia o território, 
sabendo se movimentar naquela área desconhecida 
pelo europeu. 
Os nativos eram os guias pela floresta ou pelos rios. 
Canoeiros, conduziam as embarcações nas longas 
expedições fortemente escoltadas, em meio a 
milhares de quilômetros, pelos cursos emaranhados 
d'água. Eram também caçadores, identificando a 
variada fauna, e coletores das "drogas do sertão", 
pois conheciam como ninguém a flora local. 
A coleta se organizou no Vale sob a coordenação dos 
missionários. Os padres, que monopolizavam o 
trabalho indígena, usavam um artifício para que os nativos extraíssem elementos da flora em grande 
quantidade. Alegavam que, além das partes destinadas aos adultos, aos velhos e às crianças, deveriam 
extrair outra, destinada a Tupã. Esta fração - "Tupã baê" - acumulada nos depósitos das missões, era, 
posteriormente, exportada para a Europa onde seria comercializada com grande lucro. 
Conduzido pelos nativos, o "homem branco" 
penetrava pelo coração pulsante da mata espessa, 
formada por imenso e heterogêneo verde, onde não 
bastava querer para efetivamente ocupar. Era uma 
tarefa complexa, em meio a terrenos submetidos a 
chuvas constantes que provocavam um aumento no 
nível das águas que, por sua vez, arrastavame 
deslocavam grandes porções de terra próximas aos 
cursos dos rios. Por conta disto, a exploração detinha-
se no que a floresta oferecia e possibilitava 
espontaneamente. 
O isolamento de alguma canoa significava extremo 
risco; por isto, iam em grupos pelos igarapés, sob a 
copa de árvores gigantes, geralmente de folhas 
largas, cercados pelo silêncio cortado pelo zumbido 
dos insetos e pelo canto das aves. Assim, pouco a 
pouco, estes aventureiros divisavam, no lusco-fusco 
da floresta equatorial, um vale repleto de diferentes espécies animais e vegetais vivendo em equilíbrio. 
Pelos cursos d'água - "estradas líquidas", segundo o historiador Caio Prado Júnior -, vias de 
comunicação natural, iam sendo coletadas especiarias diversas, aproveitadas e utilizadas no comércio: 
plantas alimentícias e aromáticas como cravo, canela, castanha dita do Maranhão, salsaparrilha, cacau 
etc. Também eram extraídas madeiras valiosas e produtos de origem animal, desconhecidos, como 
uma espécie de óleo utilizado na alimentação e na iluminação, obtido dos ovos da tartaruga, ou o 
"manacuru" (peixe-boi), exportado salgado e seco. 
Regulada a divisão do território entre as ordens, por meio de cartas régias (1687-1714), vários 
grupos de religiosos iniciaram a tarefa sistemática de colonização, espalhando suas missões num raio 
de milhares de quilômetros pelo vale amazônico. 
Estudos Amazônicos 7º ano 
17 | P á g i n a 
 
Foram os carmelitas, acompanhados de perto pelos inacianos e mercedários, que mais aprofundaram 
a colonização nos antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas. As 
missões jesuíticas espalharam-se pelo vale contíguo do Tapajós e, mais a oeste, pelo do Madeira, 
enquanto os mercedários se estabeleceram próximo à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do 
Uatumã. Os carmelitas disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte, 
do Branco, no atual estado de Roraima. 
Assim distribuídas, as missões entregaram-se a diligente trabalho de exploração econômica em 
suas circunscrições. A própria metrópole incentivou tal empreendimento, uma vez que perdera seu 
império asiático e necessitava dar continuidade ao comércio de especiarias, de que o Amazonas se 
mostrava muito rico. 
Os religiosos corresponderam de imediato a essa solicitação, iniciando as primeiras atividades 
extrativas de vulto. Firmou-se, dessa maneira, a exportação regular de cravo, cacau, baunilha, canela, 
resinas aromáticas e plantas medicinais, toda ela sob o controle dos missionários, que dispunham do 
indígena como mão-de-obra altamente produtiva. 
No empenho de converter os gentios à fé católica e de ampliar o comércio de especiarias, ou "drogas 
do sertão", os religiosos com frequência transferiam suas missões de um ponto a outro, 
seguindo sempre a margem dos rios. Da multiplicidade desses aldeamentos surgiram dezenas de 
povoados, a exemplo de Cametá, no deságue do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio 
Negro; Santarém, na foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundá; Borba, no rio Madeira; Tefé, São Paulo 
de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do Amazonas, Itacoatiara e Silves. 
Os sertanistas acompanharam os missionários na intensa atividade de exploração do Amazonas. Sua 
ação, em geral estimulada pelas autoridades coloniais, devia facilitar o trabalho dos provedores da 
fazenda, sob a direção dos quais corriam os serviços do fisco. 
 
Os Franciscanos 
 
Os Franciscanos da Província de Santo Antônio chegaram a Belém em 1618, mas já estava a mais 
tempo no Maranhão. Os da Província da Piedade e da Província da Conceição da Beira do Mecho 
chegaram a Belém nos anos 1693 e 1706, respectivamente. 
Esses missionários, até o século XVIII, administraram cerca de 20 aldeamentos indígenas distribuídos 
por diversas áreas do baixo Amazonas: La do Marajó, região entre a margem esquerda do 
rio Amazonas e a fronteira da Guiana Francesa, adjacência de Gurupá, distritos do Amazonas até 
Nhamundá, inclusive o Xingu e Trombetas. 
 
Os Jesuítas 
 
Antes mesmo de ser iniciada a colonização da Amazônia, os Jesuítas já tinham se apresentado na 
parte norte da América Portuguesa. Em 1607, estiveram na serra de Ibiapaba, no Ceará, sob a 
liderança do padre Luís Figueira. Outros chegaram a São Luís nos anos de 1615, 1622 e, em 1636 
e 1643, chegaram até Belém. Mas suas obras missionárias, propriamente ditas, iniciam-se com 
a chegada do padre Antônio Vieira na Amazônia, em 1653. Essa obra passou por várias fases, 
perdurou até 1759, quando foram expulsos definitivamente da Amazônia e de todos os domínios 
portugueses. 
No tempo do padre Vieira, os jesuítas defenderam veementemente a liberdade dos índios, o que lhe 
custou duas expulsões da região (1661 e 1684). Esses atos foram liderados por colonos 
leigos descontentes com a política indigenista que praticavam. A partir de fins do século XVII, atuaram 
como administradores espirituais e temporais em cerca de dezenove aldeamentos indígenas ao longo 
Estudos Amazônicos 7º ano 
18 | P á g i n a 
 
do rio Amazonas. Pela margem direita e seu sertão azul, no trecho compreendido do delta do rio até a 
região do rio Madeira. 
 
Os Carmelitas 
 
Os primeiros carmelitas chegaram a Belém em 1627. Esses missionários administravam todos os 
aldeamentos indígenas do Solimões a partir do século XVIII quando os portugueses expulsaram os 
espanhóis da região. Administraram também os aldeamentos do Rio Negro e Branco. A grande maioria 
desses núcleos coloniais foi transformado em vilas, que atualmente são cidades e municípios. 
Alguns dos aldeamentos missionários do Solimões administrados pelos carmelitas foram fundados 
em fins do século XVII e início do XVIII pelo padre Samuel Fritz, jesuíta a serviço do governo espanhol. 
 
Os Mercedários 
 
Os mercedários espanhóis da ordem de Nossa Senhora das Mercês chegaram a Belém, com 
expedição de Pedro Teixeira, em 1639, oriundo do vice-reino do Peru. Administraram uns poucos 
aldeamentos no delta do Amazonas, mas atuaram, principalmente, na porção territorial que 
compreende o Rio Urubu até o baixo Rio Negro. 
 
O extermínio dos indígenas 
 
Em consequência do contato com os portugueses, uma epidemia de varíola devastou o Alto Rio Negro 
em 1740, matando grande número de índios, pois é muito provável que ela tenha se alastrado por 
certas partes da região sem contato direto com os "brancos", por meio de tecidos e roupas de algodão. 
Entre 1749 e 1763, epidemias recorrentes de varíola e sarampo continuaram assolando a região, 
sendo que a de sarampo de 1749 foi tão terrível que passou a ser chamada "o sarampo grande". 
A revolta indígena mais famosa desse período foi a de 1757, liderada pelos principais de Lamalonga 
no Médio Rio Negro. Esta rebelião marca a revolta dos índios contra os missionários, pela ênfase dada 
à destruição das igrejas e paramentos religiosos e o assassinato do padre carmelita. 
 
O projeto pombalino para a Amazônia: a intervenção 
do estado português na economia da Amazônia e a 
doutrina do índio cidadão 
 
A Amazônia Colonial sempre se constituiu num 
grande problema para a Metrópole portuguesa, no 
que dizia respeito a sua ocupação efetiva. O 
constante assédio de estrangeiros tornava imperiosa 
a sua conquista e ocupação. As dificuldades para 
deslocar colonos para a Amazônia tornaram-na 
celeiro de degredados que, com a justificativa de 
virem cumprir suas penas, eram enviados para as 
Capitanias do Grão-Pará e Rio Negro, onde assumiram a condição de colonos. 
Aescassa população branca sempre presente nas referidas capitanias tornava quase impossível a 
organização de sua defesa, coisa que só seria conseguida com sua efetiva ocupação. Nesse sentido, a 
política pombalina traçada para a Amazônia procurava superar os obstáculos colocados à sua 
colonização, através da execução de um projeto que visava transformar o índio em colono. Assim, 
Pombal formulou uma política indigenista que objetivava emancipar os índios, retirando-os da tutela 
Estudos Amazônicos 7º ano 
19 | P á g i n a 
 
das ordens missionárias e procurava integrá-los à população branca. Nesse esforço de fazer do índio 
colono, a estratégia chave foi a implantação do regime do Diretório. 
 
A era do Marquês de Pombal e Antônio Landi (1750) 
 
Durante 
aproximadamente 30 
anos, o primeiro ministro 
de Portugal, Sebastião 
José de Carvalho e Melo, o 
Marquês de Pombal 
(1699-1782), foi muito 
atuante em Portugal e em 
suas colônias. Político 
português, verdadeiro 
dirigente de Portugal 
durante o reinado de José 
I, o Reformador, Pombal 
nasceu em Lisboa no dia 
13 de maio de 1699. 
Estudou na Universidade 
de Coimbra. 
Em 1738, foi nomeado 
embaixador em Londres e, 
cinco anos depois, 
embaixador em Viena, 
cargo que exerceu até 
1748. Em 1750, o rei José nomeou-o secretário de Estado (ministro) para Assuntos Exteriores. 
Quando um terremoto devastador destruiu Lisboa em 1755, organizou as forças de auxílio e planejou 
a reconstrução da cidade. Foi nomeado primeiro-ministro neste mesmo ano. 
A partir de 1756, seu poder foi quase absoluto e realizou um programa político de acordo com os 
princípios do Século das Luzes ou Iluminismo. Aboliu a escravidão, reorganizou o sistema educacional, 
elaborou um novo código penal, introduziu novos colonos nos domínios coloniais portugueses e fundou 
a Companhia das Índias Orientais. Além de reorganizar o Exército e fortalecer a Marinha portuguesa, 
foram desenvolvidos a agricultura, o comércio e as finanças, com base nos princípios do 
mercantilismo. 
No entanto, suas reformas suscitaram grande oposição, em particular dos jesuítas e da aristocracia. 
Quando ocorreu o atentado contra a vida do rei em 1758, conseguiu implicar os jesuítas, expulsos em 
1759, e os nobres; alguns destes foram torturados até morrer. Em 1770, o rei lhe concedeu o título 
de marquês. 
 
O estabelecimento de fronteiras. 
 
Em 1751, o Marquês de Pombal deu início a três importantes projetos que deveriam marcar o novo 
governo absolutista: o projeto militar, o projeto econômico e o projeto social. 
Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) recebeu a delicada missão de 
demarcar as fronteiras de Portugal e Espanha, estando à frente desses projetos. Em 1751, ao pôr em 
O Marquês de Pombal expulsando os jesuítas (pintura de Louis-Michel van Loo e 
Claude-Joseph Vernet, 1766). 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
20 | P á g i n a 
 
prática o projeto militar, percorreu o território do Grão-Pará e sugeriu a sua divisão, visando uma 
administração com maior controle territorial. 
Decidido a defender seu direito sobre essas terras, o rei de Portugal fez vários acordos com o rei da 
Espanha. O mais importante deles foi o Tratado de Madri, em 1750. Nesse acordo, Portugal foi 
representado pelo diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, que defendeu a ideia de que as terras 
deveriam ser de quem as conquistou. Assim, terras que hoje formam a região Amazônica (oeste do 
Pará, Amazonas. Rondônia, Amapá, Roraima, Mato Grosso e Parte do Estado do Tocantins), como 
áreas de outras regiões foram anexadas ao território brasileiro. 
Este tratado estabeleceu ainda uma linha divisória da província do Pará e o Maranhão (Rio Gurupi), e 
os limites do Pará e Amazonas. 
O projeto militar do Marquês de Pombal se consolidaria, portanto, administrando todas as fronteiras, 
ao norte e ao extremo oeste, reaparelhando, também antigas fortalezas já existentes ao longo do rio 
Amazonas e de seus afluentes. 
 
Uma política de maior controle sobre o território do Grão-Pará 
 
O grande objetivo da política de Pombal era retirar Portugal do atraso econômico e da dependência da 
Inglaterra, através do desenvolvimento industrial e da intervenção do Estado na Economia. Para tanto, 
Pombal empreendeu uma série de reformas, que iam desde a reorganização econômica do reino até 
ao reordenamento da cultura, através de reformas na educação. Assim, o ministro tratou de impor 
uma nova política para a Amazônia (política de controle econômico), principalmente, dando ao Estado 
português maior autoridade e impedindo, portanto, qualquer tipo de concorrência que viesse prejudicar 
os interesses da metrópole na região. Ou seja, o Projeto de Regeneração portuguesa centrava-se na 
necessidade de reavaliar e modificar as relações Metrópole-Colônia, na medida em que a elite lusitana 
observava o sub aproveitamento e/ou desperdícios de suas potencialidades econômicas, devido a 
completa ausência de um projeto político de base científica, daí o interesse de Pombal pela Amazônia. 
 
A criação de uma política econômica. 
 
Como desde a colonização da Amazônia (século XVII), os jesuítas detinham o privilégio de 
comercializar as drogas do sertão sem pagar impostos à metrópole e, neste período (segunda metade 
do século XVIII), essas especiarias brasileiras estavam cada vez mais escassas, o extrativismo na 
floresta amazônica surgia como uma nova possibilidade de ganho para a metrópole portuguesa. 
Em virtude disso, não demorou muito para que Pombal executasse um plano, radical, no sentido de 
quebrar o privilégio dos religiosos, passando assim, o controle do comércio para a iniciativa privada 
(companhia de comercio do Grão-Pará e Maranhão). 
A criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão tinha como finalidade aumentar 
fiscalização da Coroa sobre as atividades mercantis da colônia. Organizada por negociantes 
portugueses, a Companhia exercia o monopólio comercial e administrativo, tanto da importação de 
mercadorias europeias como da exportação de produtos da colônia. Além disso, era a única empresa 
oficialmente autorizada a trazer negros para serem vendidos na região Amazônica. Esta companhia 
só foi extinta em 1778, depois que o Marquês de Pombal deixou de ser ministro. 
Assim, para que o Estado português lucrasse com o comércio das Drogas do Sertão, o Marquês de 
Pombal resolveu acompanhar de perto tudo o que acontecia nas regiões da colônia 
Nesse período, os portugueses procuraram dar uma finalidade econômica mais clara para a região. 
Embora o extrativismo da coleta das drogas do sertão tenha convivido com as tentativas agrícolas 
realizadas pelos missionários, apenas com Pombal, e na companhia do rio Negro é que iria ser 
realizada uma experiência agrícola e pecuária de grande importância para a região. Na verdade, os 
Estudos Amazônicos 7º ano 
21 | P á g i n a 
 
portugueses não tinham um interesse mercantil ligado à exploração das drogas do sertão. Eles 
pensaram numa alternativa econômica fixadora que garantisse a posse da área conquistada. É claro 
que o extrativismo, além de lucrativo, era um meio de usar as possibilidades econômicas naturais da 
região. Mas não era suficiente para formar uma sociedade permanente. Era preciso implementar uma 
política econômica que garantisse a posse territorial da região e pudesse gerar lucros à metrópole. 
 
Projeto de ordem social 
 
Pombal enviou seu irmão Francisco Xavier de MendonçaFurtado para ser governador do novo Estado 
do Grão-Pará e Maranhão e aplicar sua política de transformação da colônia. Mendonça Furtado 
organizou uma expedição com físicos, astrônomos, geógrafos, engenheiros, o arquiteto Landi, entre 
outros. Seu interesse era conhecer a região amazônica de perto. O então governador possuía seus 
objetivos específicos para a região. 
A política pombalina ordenou a criação de novos fortes em toda a Amazônia, a fim de que esta se 
tornasse de fato um território português. Para isto, havia a necessidade de uma organização militar 
permanente na região. Um segundo grande objetivo era incentivar o povoamento na região. Sua 
política incentivou a vinda de portugueses para a região e o casamento destes com índias. Em meados 
do século XVIII, o marquês de Pombal fez aprovar, em 4 de abril de 1755, o alvará com força de lei, 
concedendo privilégios aos portugueses que casassem com índias. O governador também procurou 
reorganizar a administração regional. 
Em 1751, foi criado o Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Grão-Pará foi subdividido em duas 
capitanias, à do Grão-Pará e a do Rio Negro. O novo Estado continuava a receber ordens diretamente 
de Lisboa (e não da capital do Estado do Brasil, o Rio de Janeiro). 
 
O regime do diretório 
 
Ponto culminante da política 
pombalina, a instituição do 
Regime do Diretório que 
representou a completa laicização 
(exclusão do elemento religioso) 
da administração das povoações 
indígenas existentes no Grão-
Pará e Maranhão, a partir do 
reconhecimento da incapacidade 
dos próprios índios de gerirem 
seus próprios interesses, devido à 
rusticidade e a ignorância de que 
são portadores, havendo, por isso, 
a necessidade da presença em 
cada povoação de “um Diretor, 
que nomeará um Governador, e 
Capitão General do Estado, o qual 
deve ser dotado de bons 
costumes, zelo, prudência, 
verdade, ciência da língua, e todos 
os mais requisitos necessários para 
 
 
Estátua do Marquês de Pombal, na 
praça de mesmo nome, em Lisboa. 
Estátua do Marquês de Pombal, na praça de mesmo nome, em 
Lisboa. 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
22 | P á g i n a 
 
poder dirigir com acerto os referidos índios”. 
Um dos fundamentos ideológicos centrais de tal regime era o de levar os índios à civilização através 
de sua cristianização, pois só a absorção dos preceitos cristãos os libertaria do estado de selvageria e 
barbárie em que se encontravam. Por isso, esta “civilização” era a principal tarefa do diretor, que 
deveria utilizar-se para o seu cumprimento do instrumento considerado mais eficaz, ou seja, a língua 
portuguesa, que deveria ser disseminada entre os índios, com o objetivo de acabar com a prática de 
utilizarem a chamada língua geral indígena, o “nheengatu”. Essa introdução da língua dos 
dominadores sobre os dominados é um dos meios mais eficazes de consolidação das conquistas, na 
medida em que possibilita aos dominantes, reduzindo-se, assim, a resistência à dominação. 
Fazer com que mentalmente o índio passasse de colonizado a colonizador significava, ao menos 
retoricamente, tratá-lo como igual, atribuindo-lhe os direitos naturais dos quais todos os seres 
humanos seriam portadores, principalmente o de nascer livre. 
Para que os índios pudessem se reconhecer como iguais aos portugueses, identificando-se como eles, 
precisavam se sentir diferentes dos outros trabalhadores escravos com os quais sempre conviveram, 
os africanos. Na Amazônia Colonial o conjunto de elementos despossuídos – índios forros, índios 
escravos, negros forros, negros escravos, homens brancos pobres, mestiços – era genericamente 
denominado de “pretos” ou “negros”, termo este iminentemente pejorativo pelo sentido discriminador. 
Destruir a identidade por eles construída com os outros expropriados exigia que não mais se vissem 
como “negros” e foi nesse sentido que o estatuto do Diretório determinou que os diretores das 
povoações “... não consentirão (...) daqui por diante, que pessoa alguma chame de Negro aos Índios, 
nem que eles mesmos usem entre si deste nome como até agora praticavam para que (...) possam 
conceber aquelas nobres ideias, que naturalmente infundem aos homens a estimação e a honra”. 
Invertendo a lógica que sempre se fez presente na colonização – a de conceber os dominados como 
naturalmente destinados a escravos dos brancos. A política indigenista pombalina procurava produzir 
no imaginário colonial a imagem do índio-cidadão, enfatizando que tal situação foi reconhecida pelo 
próprio rei que “foi servido nobilitar, e declarar (os índios) por isento de toda, e qualquer infâmia, 
habilitando-os para todo o emprego honorífico...” Parece não haver dúvida que o regime do Diretório 
pretendia desfechar o golpe de misericórdia sobre a cultura indígena, através da reforma dos 
costumes, no sentido de substituí-la pelo do colonizador. 
Talvez o mais grave dos problemas enfrentados pelas autoridades portuguesas na Amazônia fosse a 
do abastecimento de alimentos das tropas e da cidade, devido as dificuldades de mão de obra, sendo 
a base da alimentação a farinha de mandioca produzida em pequenas lavouras. Não só o controle 
missionário sobre os aldeamentos era a causa da dificuldade de obtenção de mão de obra pelos colonos, 
mas principalmente a resistência indígena em se submeter ao tipo de exploração do trabalho utilizado 
pelos mesmos, fundado em jornadas exaustivas, causadoras de inúmeras mortes entre os 
trabalhadores. Como na sociedade colonial o ser livre estava diretamente associado ao proprietário, e 
o ser proprietário implicava em uma situação de não trabalho, tornava-se bastante difícil convencer 
os índios de que a liberdade não era incompatível com o trabalho em suas roças nos moldes da 
concepção capitalista de trabalho, que significa realizar trabalho excedente para se obter uma 
produção de excedentes. 
Habituados a uma produção de subsistência que exigia apenas a realização de trabalho necessário, os 
índios nunca demonstraram ter absorvido a disciplina de trabalho capitalista e, ao contrário, sempre 
impuseram tenaz resistência a ela. Nesse sentido, o estatuto do Diretório procurou demonstrar aos 
índios “o quanto lhes será útil o honrado exercício de cultivarem as suas terras...”, pois só assim 
garantiriam o seu bem-estar e de suas famílias, associando a isso toda uma argumentação que 
mostrava quão perniciosa era a ociosidade. 
A violência que parece ter marcado as relações de trabalho dos índios com os colonos tornava pouco 
eficiente os estímulos previstos no Regimento do Diretório para convencê-los das “vantagens” que 
Estudos Amazônicos 7º ano 
23 | P á g i n a 
 
teriam de trabalhar para os moradores. A exploração excessiva a que comumente eram submetidos, 
tornava-os arredios ao trabalho e levava-os a constantes fugas. Afinal, não devemos esquecer que os 
índios preferiam o trabalho nas missões, pois consideravam o convívio com os missionários muito 
menos pernicioso para si do que com os colonos leigos, na medida em que ser catequizado implicava 
não só em trabalhar, mas também em outras atividades mais suaves. Mesmo assim, a vida com os 
missionários não era um mar de rosas, já que, sentindo-se violentados no seu modo de vida tradicional, 
não perdiam oportunidades para internar-se no mato. 
As experiências vivenciadas pelos trabalhadores indígenas nas suas relações cotidianas com os 
colonos e autoridades locais tornavam inúteis os esforços de persuadi-los dos benefícios que poderiam 
tirar do trabalho, pois sempre significou para eles violência e morte. 
Na visão de Pombal, a garantiada posse da terra era, entre os argumentos, o mais sólido para tentar 
persuadir os índios a se tornarem colonos, embora isso pudesse funcionar às avessas. 
Aportuguesar os índios não implicava apenas e levá-los a se pensar como tais. Havia também a 
necessidade de fazer com que os próprios portugueses os vissem dessa forma e deixassem de tratá-
los como seres inferiores, desprovidos de humanidade e, consequentemente, de direitos de vontade 
própria. Entendia Pombal que o meio mais eficaz de fazer com que índios e brancos se sentissem 
iguais era estimular o casamento entre brancos e índios. Além de orientar os diretores a trabalhar 
ideologicamente os colonos, no sentido de demonstrar-lhes não serem os índios inferiores em nada a 
eles, o estatuto estabelecia que todos que casarem com índios portadores de honras e privilégios 
passariam a ter igual gozo dos mesmos. Procurava-se, assim, atrair os brancos para um tipo de 
convívio diferente com os índios, cuja base era o reconhecimento e o restabelecimento da sua condição 
de pessoa. 
Ao pretender emancipar os índios através da institucionalização do Regime do Diretório, Pombal tinha 
claro a fundamental importância que isso tinha para a efetivação de seu projeto para a Amazônia, na 
medida em que, transformados em colonos, os índios garantiriam a ocupação efetiva da terra e a 
consequente consolidação da dominação portuguesa, já que não havia qualquer possibilidade que isto 
pudesse ser feito com os colonos portugueses. 
Dar “liberdade” aos índios significava aprisioná-los às necessidades do governo colonial, que passaria 
a ter liberdade para deslocá-los para áreas que lhes fossem mais convenientes como soldados, 
completando o processo de destribalização iniciado pelos missionários e utilizá-los como 
trabalhadores nas obras públicas e distribuí-los com vantagens financeiras aos colonos. Tal esforço 
demonstrou ser infrutífero, pois a laicização das povoações facilitou a ação dos colonos portugueses 
no que dizia respeito à exploração do trabalho indígena, tornando, em grande medida, os artigos do 
estatuto do Diretório, letra morta. 
A substituição da tutela dos religiosos pela tutela laica dos diretores significou para os indígenas uma 
mudança trágica, na medida em que os deixou totalmente à mercê dos colonos já que os diretores, 
interessados em auferir vantagens pessoais comumente criavam inúmeras facilidades para o acesso 
dos colonos ao seu trabalho e encontravam inúmeras maneiras de burlar as normas a que estavam 
submetidas pelo Regimento do Diretório. 
O Diretório representou um esforço estupendo de integração do índio à sociedade colonial, 
contribuindo decididamente para intensificar a desorganização do seu antigo modo de vida e para 
tornar as suas condições de sobrevivência praticamente insuportáveis, aproximando-os ainda mais 
dos outros seguimentos de não proprietários presentes na população. Contraditoriamente, a 
destribalização iniciada pelos missionários com os descimentos e intensificada pelo Regime do 
Diretório, contribuiu para aproximar as tribos indígenas existentes na Amazônia, possibilitando a 
construção de uma identidade de interesses que inúmeras vezes se exteriorizou em ações de 
resistência coletiva. 
Estudos Amazônicos 7º ano 
24 | P á g i n a 
 
Em resumo, o Diretório enunciava, ao longo dos 95 parágrafos, os principais objetivos a atingir: 
expandir a fé cristã, abolir os costumes gentílicos, civilizar os índios, desenvolver a agricultura, 
incrementar o comércio, introduzir a moeda metálica em circulação e fortalecer o Estado. O Diretório 
definia as regras para a instauração do governo temporal e espiritual nas aldeias indígenas e 
enumerava as medidas preconizadas: interdição das línguas nativas, obrigatoriedade do uso da língua 
portuguesa, criação de escolas separadas para meninos e meninas, nomeação e pagamento de 
professores, utilização de sobrenomes lusitanos, introdução de vestuário, hábitos e costumes do reino 
e proibição de apelidar os indígenas de “negros”. Continha, também, disposições relativas à 
distribuição de terras pelos ameríndios, intensificação de produções agrícolas (plantações de 
mandioca, feijão, milho, arroz, algodão, tabaco e café), ao comércio de drogas do sertão (cacau e 
salsaparrilha), às atividades da pesca e extrativas, ao pagamento de dízimos e à política de repartição 
e pagamento da mão-de-obra nativa. Estipulava, ainda, as regras referentes à organização das aldeias, 
atribuição do estatuto de vila ou lugar, à entrada de colonos nas povoações indígenas e aos casamentos 
entre brancos e índias. Definia, finalmente, a responsabilidade dos diretores dos aldeamentos 
indígenas. 
No entanto, a aversão dos índios em trabalhar para os colonos fazia com que a alternativa de os 
transformar em trabalhadores assalariados não parecesse a mais correta. Assim, a alternativa do 
índio-colono tornava-se mais viável e, para isso, não bastava conceder-lhe apenas a liberdade. Junto 
com esta, havia a necessidade de reconhecer-lhe direito à terra, no sentido de transformá-lo num 
agricultor produtivo à Metrópole. Por isso, a referida lei também reconhecia serem os índios senhores 
de suas terras, mesmo daquelas que estivessem em poder de particulares. 
A obra de Pombal foi aprovada pelo governo metropolitano que a mandou publicar (Lisboa, 1758) e 
tornar extensiva ao estado do Brasil. Em pouco tempo, concedeu o estatuto de vila a 40 aglomerados 
e de lugar a 23, conferindo-lhes nomes de povoações do reino (Barcelos, Tomar, Melgaço, Santarém, 
Óbidos, Porto de Mós, Chaves, Soure, Bragança, Guimarães, Viseu, etc.). O objetivo era 
institucionalizar o espaço onde os índios estavam reunidos. 
Uma das principais preocupações de Pombal em relação à Amazônia era de garantir sua eficaz 
proteção do seu território contra investidas estrangeiras (franceses e espanhóis). No sentido de 
atenuar a resistência dos índios ao serviço militar, Mendonça Furtado, encarregado do governo do 
Pará e da missão de executar o projeto pombalino na Amazônia, em carta de 20 de julho de 1755, 
propõe ao rei: 
 
“Que (...) mande, por uma lei, declarar que todos os descendentes de índios estão habilitados para 
todas as honras sem que aquele sangue lhes sirva de embaraço, e que os Principais, seus filhos e 
filhas, e quem casar com elas, são nobres e gozarão de todos os privilégios que como tais lhe 
competem”. 
 
Fiel a “doutrina do índio-cidadão”, o governador 
procurava igualar brancos e índios em direitos, com o 
objetivo de estimular o casamento entre eles, pois 
considerava que “habilitados assim os índios, se irão 
sem dúvida os europeus misturando com eles sem 
embaraço, e ficará mais fácil o povoar-se este 
larguíssimo país, que, sem aproveitarmos a gente da 
terra, é moralmente impossível”. 
 
Para o governador havia a necessidade de se criar 
condições para que os índios pudessem se sentir 
Palácio do Governo do Grão-Pará ou Palácio Lauro 
Sodré 
 
Estudos Amazônicos 7º ano 
25 | P á g i n a 
 
iguais aos portugueses e, assim, assumirem os interesses dos últimos como seus, cumprindo seu papel 
de vassalos da Coroa portuguesa. Contraditoriamente, o governador não os reconhecia como iguais, 
como mostra sua carta: 
 
“Que aqueles índios que passassem a oficiais e chegassem a capitães, e daí para cima, gozarão dos 
privilégios que competem aos seus postos, ainda que não sejam confirmados, pela razão de que são 
uma miserável gente, e não cabe na sua possibilidade o mandar ao Reino confirmar as ditas patentes”. 
 
A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi criada com o objetivo de

Continue navegando