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Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 8 Sondas e Drenos 8.1 Sondas Revisão: Carolina Adan 8.1.1 Sonda Nasogástrica Definição Tipo Levin. Sondas flexíveis, de lúmen único ou duplo, que são passadas desde o nariz até o estômago. Escolha do tamanho: 12F (French) para crianças e 16F para adultos. Indicações 1. Administração de medicamentos ou contrastes orais para tomografias computadorizadas, em pacientes que não podem deglutir. 2. Lavagem gástrica, no intuito de remover sangue ou coágulos, para facilitar a endoscopia. 3. Pacientes com rebaixamento do sensório (comprometimento neurológico), mas conscientes o suficiente para terem o reflexo do vômito preservado, uma vez que a passagem pela cavidade nasal não ativa o reflexo vagal. 4. Tratamento de íleo paralítico e obstrução intestinal (descompressão gastrointestinal). Contraindicações 1. Fratura facial ou de base de crânio (risco de introdução intracraniana). 2. Estenose esofágica (risco de perfuração). 3. Varizes esofágicas, devido ao risco de sangramento. 4. Diátese hemorrágica, pois traumas mínimos podem levar a sangramentos profusos. Procedimento 1. Orientar o paciente sobre o procedimento. 2. Colocá-lo em posição de Fowler (cabeceira a 45° e pernas semiflexionadas). 3. Higienização simples das mãos e colocação de luvas de procedimento. 4. Medição: nariz → ponta da orelha → xifoide, sem deixar a sonda tocar no paciente. Figura 8.2 – Medição Figura 8.1 – Sonda Nasogástrica Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 5. Marcação com esparadrapo no tamanho adequado. 6. Lubrificar a sonda até o local demarcado. 7. Instilar Lidocaína Spray a 4% na cavidade nasal (repetir conforme necessário). 8. Flexionar da cabeça do paciente (facilita suboclusão de vias aéreas). 9. Introduzir a sonda na cavidade nasal e avançá-la horizontalmente (em caso de resistência, tentar na narina contralateral). 10. Se o paciente estiver consciente, pedir para que ele faça movimentos de deglutição ou oferecer um pouco de água para facilitar a passagem da sonda. 11. Caso o paciente tussa excessivamente ou não consiga falar, é possível que a sonda tenha sido introduzida na traqueia. Deve-se removê-la e iniciar novamente o procedimento. 12. Injetar aproximadamente 20 ml de ar e auscultar os RHA no epigástrio 13. Com esparadrapo ou micropore cortado longitudinalmente até a metade (em forma de calça), colar a porção íntegra sobre a ponte nasal, envolvendo a sonda com a porção cortada. 14. Fixar a sonda lateralmente na região temporomandibular ou na fronte, com cuidado para não tracionar asa nasal e provocar necrose. 15. Confirmar o posicionamento através de radiografia de abdome. Caso a sonda esteja após o piloro, deve-se tracioná-la para minimizar o risco de anormalidades eletrolíticas. 8.1.2 Sonda Orogástrica Definição Tipo Fouché. Sondas flexíveis, de lúmen único ou duplo, que são passadas desde a cavidade oral até o estômago. Indicações 1. Pacientes inconscientes, uma vez que podem ativar o reflexo de vômito. 2. Lavagem gástrica / aspiração de conteúdo gástrico. 3. Presença de alguma contraindicação para o uso da sonda nasogástrica. Procedimento A técnica é semelhante à nasogástrica, porém com algumas particularidades: 1. Medição: ângulo da boca → ângulo da mandíbula→ xifoide; 2. Introdução é pela boca. 3. É utilizada Lidocaína Spray na cavidade oral, ao invés de gel lubrificante. 4. Fixação: é feita com uma fita adesiva fixada em um lado da face, envolvendo a sonda com protetor antimordedura, sendo fixada contralateralmente (o protetor antimordedura é feito com um pequeno rolo de gaze de diâmetro maior que a sonda, colocado entre os dentes, em paralelo à cânula, e não em torno dela, de forma a evitar que o paciente morda a sonda e oclua o seu lúmen). Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 8.1.3 Sonda Nasoenteral/Enteral Definição As sondas nasoenterais são utilizadas para nutrição e devem ser feitas de borracha de silicone, poliuretano ou de outros polímeros, flexíveis, de fino calibre (mínimo possível), leves, resistentes à ação das secreções digestivas e de alta tolerabilidade por parte dos pacientes (biocompatíveis). Devem possuir fio guia de aço inoxidável, flexível, que ajuda na passagem da sonda no trajeto nasogástrico, quando necessário. Indicações Nutrição enteral (pós-pilórica) em longo prazo, uma vez que, por estar após o piloro, não causa distensões gástricas importantes e o risco de vômitos é reduzido. É indicada para pacientes com risco nutricional ou desnutrição, geralmente por apresentar ingestão inadequada para suprir suas necessidades diárias (trauma, anorexia, alcoolismo ou queimaduras), quando o paciente não pode se alimentar via oral (inconsciente, feridas orais, AVC), quando o paciente não se alimenta, pois sente dor ou desconforto (doenças gastrintestinais graves, pancreatite, quimo e radioterapia) ou quando o paciente apresenta alguma disfunção no trato gastrintestinal (fístulas, síndromes de má absorção ou do intestino curto). O tempo de permanência da sonda é variado, a depender do protocolo do hospital. Procedimento 1. Orientar o paciente sobre o procedimento. 2. Higienização simples das mãos e calçamento de luvas de procedimento. 3. Elevar a cabeceira da cama (paciente na posição de Fowler). 4. Medição: nariz → mastoide → xifoide + 10 cm (deslocamento para o duodeno). 5. Marcar com esparadrapo. 6. Conferir a presença e mobilidade do fio-guia na sonda. 7. Injetar água dentro da sonda. 8. Mergulhar a extremidade da sonda em copo com água para lubrificá-la. A sonda nasoenteral possui um lúmen interno e sistema de peso para facilitar a sua migração para o duodeno, revestidos por uma substância lubrificante hidrófila. 9. Introduzir a sonda em uma das narinas, pedindo ao paciente que degluta. Figura 8.3 – Sonda Orogástrica Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 10. Retirar o fio guia após a passagem correta. 11. Injetar aproximadamente 20 ml de ar e auscultar RHA no epigástrio; 12. Com esparadrapo ou micropore cortado longitudinalmente até a metade (em forma de calça), colar a porção íntegra sobre a ponte nasal, envolvendo a sonda com a porção cortada. 13. Fixar a sonda lateralmente na região temporomandibular ou na fronte, com cuidado para não tracionar asa nasal e provocar necrose. 14. Realizar a primeira radiografia simples de abdome. 15. Aguardar a migração da sonda para duodeno, antes de administrar alimentação (a migração da sonda ocorre de 4h a 24h) confirmada pela segunda radiografia 24h depois. 16. Liberar dieta após a segunda confirmação radiológica. 8.1.4 Sonda Retal Indicações 1. Aliviar a tensão provocada por gases e líquidos no cólon. 2. Administração de medicamentos. 3. Cirurgias anais 4. Diarreias graves. 5. Retirada de conteúdo fecal através do reto, quando não é possível pelos meios naturais. Geralmente a lavagem intestinal para a retirada de conteúdo fecal é indicada quando há obstipação por tempo maior que 05 dias, mesmo diante do uso de laxativos, como óleo mineral e Lactulona. Procedimento 1. Orientar o paciente quanto ao procedimento. 2. Higienização simples das mãos e colocação de luvas de procedimento. 3. Adaptar a sonda retal à solução prescrita e ao equipo de soro, se preciso. 4. Posição de Sims: decúbito lateral esquerdo, perna direita flexionada e esquerda estendida. 5. Lubrificar cerca de 10 cm da sonda com vaselina. 6. Afastar glúteos e introduzir os 10 cm da sonda devidamente acoplada com a solução a ser utilizada.Figura 8.4 – Sonda Nasoenteral Figura 8.5 – Sonda Retal Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 8.1.5 Sondagem Vesical Introdução Cateteres vesicais são utilizados tanto para drenagem urinária quanto para coleta de urina para monitorização de débito urinário. Muitas situações clínicas são propícias à colocação de um cateter vesical, porém muito frequentemente eles são utilizados sem indicação adequada, ou deixados por mais tempo que o necessário. A avaliação diária da necessidade de permanência da sondagem é essencial para reduzir complicações relacionadas ao procedimento. Indicações 1. Obtenção de urina asséptica para exame laboratorial. 2. Manejo da retenção urinária com ou sem obstrução vesical. 3. Monitorização do débito urinário para manejo de fluidos e testes diagnósticos. 4. Monitorização do status volêmico durante cirurgias. 5. Manejo de hematúria com coágulos. 6. Manejo de pacientes imobilizados (fratura pélvica, AVC, etc.). 7. Manejo de pacientes com bexiga neurogênica. 8. Terapia farmacológica intravesical (câncer de bexiga, contrastes para exames). 9. Manejo de pacientes com incontinência urinária após falha de tratamentos conservadores, comportamentais, farmacológicos e cirúrgicos. 10. Conforto para o paciente em cuidado paliativo. Contraindicações absolutas: 1. Fratura instável do anel pélvico. 2. Sangue no meato uretral. 3. Equimose perineal ou hematoma escrotal. 4. Deslocamento cranial da próstata no exame do toque retal. 5. Sangramento em dedo de luva ou presença de espículas ósseas ao toque retal. Contraindicações relativas: 1. Estenose uretral. 2. Cirurgia recente de vias urinárias. 3. Presença de esfíncter artificial. 8.1.5.1 Sonda Vesical de Permanência Tipo: Foley, de 2 ou 3 vias, de silicone ou látex. Escolha: Em adultos, uma sonda 14 – 16 French é tipicamente escolhida para sondagens mais curtas. Sondas mais largas, 20 – 24 French são mais adequadas para drenagem de hematúria com coágulos. Sondas de silicone são preferidas nas sondagens longas, pois o látex está associado a inflamações uretrais, devido à aderência proteica e salina à superfície da sonda. Procedimento: 1. Orientar o paciente sobre o procedimento. Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 2. Posicionamento. Mulheres: posição ginecológica. Homens: decúbito dorsal. 3. Realizar higienização simples das mãos e calçar luvas de procedimento. 4. Lavar toda a região pélvica e perineal com solução degermante (esponja em todos os locais, menos na mucosa, e escova em todos os locais, menos na genitália). 5. Retirar o excesso com compressas e proteger a glande e corpo do pênis com uma gaze antes de repousá-lo na pele da região pubiana, em sua posição anatômica. 6. Calçar luvas estéreis. 7. Testar o balonete da sonda com seringa, conectar a sonda ao sistema coletor fechado. 8. Realizar antissepsia da pele com PVPI tintura, em sentido medial-lateral e PVPI tópico em mucosa (glande e mucosa vaginal), em sentido radial (do centro para fora). 9. Delimitar a área com campo fenestrado. 10. Lidocaína gel. Mulheres: passar na sonda. Homens: aplicar 20 ml diretamente no meato uretral, com auxílio de uma seringa, com o corpo do pênis retificado. 11. Inserção da sonda. Mulher: afastar os lábios com a mão não dominante, identificar o orifício uretral e introduzir a sonda até a urina refluir. Homem: segurar o corpo do pênis a 90º, entre os 2º e 3º quirodáctilos, com a palma da mão voltada para cima, e iniciar a inserção da sonda até que haja resistência. Horizontalizá-lo e finalizar a inserção. 12. Insuflar o balonete com água destilada conforme volume indicado na sonda. Não se deve utilizar soro fisiológico, pois isso propicia a formação de cristais, que podem obstruir a sonda e impedir a sua retirada. Abrir o lacre. 13. Após refluir toda a urina, fechar o lacre, desconectar a sonda do sistema coletor, retirar o campo fenestrado e conectar a sonda ao sistema coletor novamente, abrindo o lacre ao final. 14. A sonda pode ser fixada junto à coxa do paciente para evitar qualquer tração acidental. 8.1.5.2 Sondagem Vesical de Alívio Tipo: Nelaton Procedimento: A realização do procedimento é semelhante à sonda de Foley. Na preparação, no entanto, a técnica pode ser estéril (com antissepsia) ou não estéril, apenas com a degermação. Como não possui balonete, o conteúdo é desprezado em uma cuba rim e a sonda deve ser retirada logo após o esvaziamento vesical. Figura 8.6 – Sonda Vesical de Permanência (Foley) Figura 8.7 – Sonda Vesical de Alívio (Nelaton) Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 8.2 Drenos Introdução As secreções podem ser eliminadas espontaneamente ou por mecanismo ativo de aspiração. Na eliminação espontânea, três são as forças que atuam na expulsão dos líquidos: gravidade, capilaridade e pressão dos tecidos vizinhos sobre a coleção líquida. Tais forças poderão ser ajudadas ainda pela aspiração, contínua ou intermitente. Muitas vezes, a grande produção de líquido a drenar deve ser compensada pela associação de uma força aspirativa externa. Esse tipo de drenagem ativa só é possível com drenos tubulares. Quando for necessária a colocação de drenos na cavidade abdominal, eles não deverão ser exteriorizados pela incisão abdominal, mas por uma contra-abertura, através de pequena incisão não tão apertada sobre o dreno, para não dificultar a drenagem, nem tão grande que permita a evisceração ou eventração tardia e formação de hérnia incisional. A colocação de drenos através da própria incisão favorece a infecção e deiscência da sutura. Tempo de Permanência e Retirada Os drenos deverão permanecer tempo suficiente para servirem a seus propósitos. O tempo de permanência, portanto, é muito variável, porém, em geral, determinado pelo pequeno volume de drenagem (desde que o dreno não esteja obstruído ou bloqueado). No momento da retirada do dreno, deve-se também levar em consideração o aspecto do conteúdo drenado e o motivo (drenagem curativa, sentinela, profilática) de sua instalação. Como exemplo de drenagem curativa, temos as coleções purulentas em geral e cavidades bem delimitadas por paredes (abscesso, pseudocisto). Tem- se a drenagem sentinela em ocasiões em que há a possibilidade de deiscência de uma anastomose por tensão, deficiência de irrigação, infecção, alterações na serosa de revestimento. Já a drenagem profilática seria empregada em ocasiões em que houvesse a possibilidade de acúmulo de secreções (serohemática, biliosa, digestiva), como nos descolamentos do leito vesicular ou pancreático. Complicações Entre as complicações dos drenos, existem as infecções exógenas ascendentes, lesão de vísceras por drenos de maior consistência, perda do dreno dentro do abdome, hemorragia por lesão vascular, fístulas residuais, eviscerações, eventrações e desconforto local em casos de drenagem desnecessária ou mal indicada. 8.2.1 Gaze Classificação: Passivo - Drena por Capilaridade. Uso: praticamente em desuso hoje em dia, a gaze dificulta a saída dos líquidos e reduz a eficiência do dreno. Após alguns momentos de ação efetiva, a gaze ficará completamente embebida e sua força de capilaridade deixará de existir, tornando-se mais um tampão do que uma drenagem. Procedimento: deve-se fazer um rolo com gaze, colocando-se parte para dentro da incisão e parte para fora. Inserção é feita com uma pinça hemostática curva. Deve-se evitar o uso deste tipo de dreno Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I em cavidades, tendo em vista a possibilidade de pedaços/fios de gaze ficarem no interior da cavidade, desenvolvendo reação do tipo corpo estranho. 8.2.2 Penrose Classificação:Passivo - Drena por Capilaridade. Uso: o Penrose deve ser usado nos casos em que o débito/produção de líquido é pequeno. Procedimento: Colocar o dreno sanfonado com o auxilio de uma pinça hemostática curva no local a ser drenado. A fixação é realizada como um ponto simples, transfixando uma das paredes do dreno e a pele. O curativo é feito com dois chumaços de gazes dobradas, repousando o dreno sobre um deles e o outro por cima. Tais gazes, por capilaridade, contribuirão para mobilizar, através do dreno, o conteúdo a ser drenado. Uma vez molhadas, as gazes perdem a força motriz, dificultando o escoamento dos exsudatos. Logo, o curativo deve permanecer seco a maior parte do tempo. Caso a produção de exsudato seja de tal monta que torne impraticável manter seco o curativo, deve-se colocar sobre o dreno uma bolsa coletora de colostomia. Mobilização: 1-2 cm por dia, sem retirar o ponto que está fixando o dreno. 8.2.3 Tubular com e sem Trocarte (Aberto e Fechado) Classificação: Aberto: Passivo - Drena por Gravidade Fechado: Ativo - Drena por Sucção O sistema de aspiração fechado funciona com pressão negativa e elimina suavemente o líquido e os dejetos de uma ferida por meio de una sonda perfurada conectada a uma câmara-reservatório. Trocarte: lâmina utilizada para realizar incisão na pele do mesmo diâmetro do dreno tubular. Uso: o dreno Tubular deve ser utilizado quando o débito for muito alto, necessitando-se, portanto, de uma aspiração ativa. Deve-se considerar ainda a natureza do conteúdo a ser drenado (por exemplo, possibilidade de formação de coágulos ou rolhas proteicas) e a necessidade de lavagem ou aspiração do conteúdo. Ressalta-se que os drenos Tubulares têm indicação para uso em cavidades naturais e naquelas com paredes bem definidas (por exemplo, abscesso encapsulado, pseudocistos), onde a pressão dos órgãos circunvizinhos não favoreça o desabamento de alças sobre os orifícios do dreno, obstruindo-o. Figura 8.8 – Dreno de Penrose Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I Procedimento: 1. Coloca-se o trocarte na cavidade, através da incisão cirúrgica original. Faz-se uma nova incisão de dentro para fora na pele adjacente. Observação: caso o dreno seja sem trocarte, deve-se realizar uma pequena incisão na pele adjacente, lateralmente à incisão original, no intuito de guiar e facilitar a exteriorização do dreno. 2. Corta-se a ponta do trocarte e liga-se esta porção do dreno aos conectores (a mangueira dos conectores já deve estar acoplada ao reservatório, e o lacre, que regula a passagem para o reservatório, deve estar fechado para que não haja extravasamento de secreção). 3. O reservatório é comprimido e a sua tampa deve ser fechada neste momento, permitindo a obtenção da pressão negativa que irá promover a sucção após a finalização do procedimento. 4. Fechar a incisão cirúrgica inicial. 5. Realização de um ponto em U horizontal em volta do dreno, sem transfixá-lo. 6. Cortar a agulha e realizar 1 seminó. Realizar a “bailarina” (as duas extremidades do fio são cruzadas através do dreno). Realiza-se mais 3 seminós, para finalizar a fixação. 7. O lacre deve ser aberto para que o conteúdo drenado prossiga para o reservatório. 8. Curativo oclusivo ao redor do dreno: cortar dois maços de gaze até o meio e colocá-los ao redor do dreno, cobrindo-os com esparadrapo. 8.2.3 Blake com e sem trocarte (aberto e fechado) Classificação: Aberto: Passivo - Drena por Gravidade e Capilaridade. Fechado: Misto - Drena por Sucção e Capilaridade. Uso: Funciona de forma semelhante ao dreno tubular (mesma técnica). A principal diferença do dreno Blake para o dreno tubular reside no fato de que o primeiro possui uma conformação diferenciada em sua extremidade, que propicia o mecanismo de drenagem também por capilaridade, fato que não ocorre no dreno tubular. Figura 8.9 – Dreno Tubular Figura 8.10 – Sistema de Drenagem Fechado Figura 8.11 – Diferença entre as extremidades dos drenos tubulares e Blake. Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 8.2.4 Dreno de Tórax Introdução A drenagem torácica é um procedimento cirúrgico no qual um tubo é inserido na cavidade pleural através da parede do tórax. Possui finalidade diagnóstica e terapêutica das afecções que acometem a cavidade pleural. É indicada para promover a manutenção ou para o restabelecimento da pressão negativa do espaço pleural através da drenagem de coleções de ar, líquidos ou fragmentos sólidos. Indicações Indica-se a drenagem de tórax sempre que houver necessidade de retirar da cavidade pleural ar ou fluido (qualquer coleção líquida acima de 50 ml ou gás, na cavidade pleural, é considerada anômala). Todavia, pequenas quantidades de ar e sangue não indicam necessariamente a drenagem. a) Pneumotórax a. Espontâneo: ocorre geralmente em pacientes tabagistas. Ocorre formação de bolhas ou lesões subpleurais que podem se romper durante o repouso. A necessidade de drenagem depende da extensão do pneumotórax e das condições clínicas do paciente. b. Traumático: a drenagem é realizada no intuito de monitorizar o espaço pleural, oferecendo reexpansão pulmonar com curto período de permanência do dreno. c. Iatrogênico: costuma ocorrer em pacientes submetidos a procedimentos como toracocentese, acessos venosos centrais (principalmente pela via subclávia), traqueostomias, sondagem nasogástrica, bloqueios intercostais, ventilação mecânica com uso de pressão positiva e ressuscitação cardiopulmonar (fraturas de arcos costais). d. Hipertensivo: ocorre quando o espaço pleural virtual passa a ter pressão positiva pelo aumento rápido da quantidade de ar na cavidade pleural, levando à compressão e deslocamento das estruturas mediastinais contralateralmente. Provoca repercussões hemodinâmicas pela diminuição do retorno venoso e déficit respiratório secundário ao colapso pulmonar. O diagnóstico é clínico e caracterizado por hipotensão, turgência de jugulares, hipertimpanismo do hemitórax acometido, disfunção respiratória significativa e cianose. Nestes casos, pode-se proceder rapidamente à drenagem torácica com tubo ou realizar uma punção de alívio no hemitórax acometido. b) Hemotórax a. Traumático: em mais de 80% dos casos, a solução se dá através da drenagem torácica. De uma forma geral, uma drenagem imediata de 20 ml/Kg ou o acúmulo de > 3 ml/Kg/h de sangue é indicação de toracotomia para identificação e manejo de lesão torácica vascular. b. Residual: ocorre em 5 a 30% dos pacientes com trauma torácico e é o principal fator de risco para o desenvolvimento de empiema. Quando a drenagem pleural inicial não é eficiente, observa-se a persistência de coágulos na cavidade pleural após 24h da drenagem. A drenagem é realizada com drenos de tórax de grosso calibre (40F), com objetivo de evacuar completamente a coleção pleural. Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I c) Efusões pleurais Normalmente, os derrames pleurais em pacientes internados ocorrem devido a processos infecciosos (abdominais ou pulmonares). A toracocentese para a obtenção do perfil bioquímico desse líquido é capaz de definir a necessidade de drenagem fechada ou não. a. Transudato: com baixos níveis de proteína e baixa densidade, raramente necessita de drenagem convencional, devendo ser esvaziado por toracocentese ou por pequenos cateteres. b. Exsudato: requer investigação complementar para decisão do correto tratamento e nem sempre necessita de drenagem. c. Empiema: presença de coleção purulenta no espaço pleural. A definição das fases evolutivas do empiema é fundamental para o planejamento terapêutico da doença: nas fases iniciais, o pulmão encontra-se livre (exsudativa) ou parcialmenteencarcerado (fibrinopurulenta) e pode ser realizada a drenagem pleural fechada ou pleuroscopia. Na fase crônica, quando a aderência ou encarceramento pulmonar já estão instalados, pode ser realizada drenagem aberta (pleurostomia) ou decorticação pulmonar. d. Quilotórax: o diagnóstico é estabelecido na toracocentese, na qual o líquido pleural tem aspecto leitoso e apresenta uma concentração de triglicerídeos superior a 110 mg/dl. Pode ocorrer em trauma torácico, cirúrgico ou no linfoma. d) Pleurodese Administração de agentes esclerosantes, como o talco, no espaço pleural, para o tratamento de efusões pleurais refratárias. Contraindicações Na drenagem torácica eletiva para pleurodese, anticoagulação, coagulopatia e diátese hemorrágica são contraindicações relativas. A inserção do dreno torácico às cegas em pacientes com aderências pleurais secundárias a infecções, pleurodese ou cirurgia pulmonar prévia é perigosa; nestes casos, deve-se preferir a realização do procedimento guiado por imagem. Tipos a) Fechada (sistema selo d’água): o dreno possui um prolongamento que fica mergulhado em água, permitindo a saída de ar e fluidos da cavidade pleural sem, contudo, haver entrada de ar atmosférico para essa cavidade, funcionando como uma válvula unidirecional. b) Aberta: o dreno estabelece comunicação da cavidade pleural com a atmosfera; é indicada em empiemas crônicos, quando já há aderências entre as pleuras parietal e visceral, devido ao risco de colapso pulmonar diante da igualdade pressórica entre o espaço pleural e atmosfera. Complicações a) Posicionamento inadequado: é a complicação mais comum. Representa uma forma de trauma penetrante e deve ser manejado como tal. Deve-se consultar a equipe de cirurgia torácica antes de qualquer nova abordagem em um paciente estável com tubo mal posicionado. Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I b) Infecção: pneumonia e empiema complicam o curso da drenagem torácica em cerca de 1 a 3% dos pacientes. Fatores relacionados à infecção são, por exemplo, a maior duração da drenagem e o hemotórax retido. c) Lesão visceral: os pulmões são os órgãos mais comumente lesionados durante o procedimento de drenagem torácica, ocorrendo em 0,2 a 0,6% dos casos. Casos de perfuração de coração, baço, fígado, estômago, cólon e diafragma já foram relatados na literatura. d) Edema pulmonar de reexpansão (RPE): é uma complicação com alto risco de morte, que ocorre usualmente pela rápida reexpansão pulmonar após drenagem de um pneumotórax extenso, porém também pode ocorrer após drenagem de grandes volumes de fluidos do espaço pleural. Pacientes com RPE cursam precocemente com tosse, dor torácica, dispneia e hipoxemia após a inserção do tubo torácico. Nestes casos, drena-se 1 a 1,5 litros inicialmente, clampeando-se o tubo em seguida e, então, após 2 a 4 horas, procede-se à drenagem residual. e) Outros: sangramento da parede por lesão de vasos intercostais ou mamários internos, lesão do nervo frênico e enfisema subcutâneo. Especificações do Material Os drenos torácicos são tubos de silicone ou PVC que possuem uma linha longitudinal de material radiopaco em sua parede, para facilitar a sua identificação em exames radiológicos. A linha é interrompida pela última fenestração do tubo, o que permite a identificação deste orifício à radiografia de tórax, evitando-se a ocorrência de enfisema subcutâneo pelo mal posicionamento. O diâmetro interno do tubo, associado à viscosidade do fluido, determina o fluxo da drenagem. Os tubos estão disponíveis nos tamanhos de 14 a 40 Fr (French). A título de curiosidade, Fr/3 = diâmetro em milímetros. Assim, um tubo de 18 Fr possui 6 mm de diâmetro. No hemotórax, deve-se preferir um tubo de maior calibre (32 – 36 Fr). Casos de pneumotórax não traumáticos podem ser drenados com tubos de 24 Fr ou menores. O pneumotórax traumático deve ser drenado com um tubo de 36 a 40 Fr devido à provável necessidade de drenar secreção sanguinolenta além do ar. Para crianças, utilizam-se tubos de 14 a 26 French. Inserção do Tubo O tubo deve ser inserido no 5º espaço intercostal (altura que corresponde à linha intermamilar no sexo masculino e ao sulco inframamário no sexo feminino), anteriormente à linha axilar média. Para drenagem de pneumotórax, direciona-se o tubo superior e anteriormente, pois ele tende a se posicionar entre os lobos pulmonares de pacientes que possuem fissuras completas. Para drenar um pneumohemotórax, o tubo é direcionado posteriormente. De uma forma geral, tubos direcionados anteriormente são melhores para drenar ar, enquanto que tubos direcionados posteriormente são melhores para drenar fluidos. Materiais Necessários 1. Caixa de Pequena Cirurgia (Cabo de bisturi nº3, tesoura Mayo reta, 2 pinças hemostáticas curvas médias ou grandes, porta-agulhas, pinça anatômica traumática); 2. PVPI Degermante e Tintura; Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 3. Luvas estéreis; 4. Campo estéril (01 campo fenestrado ou 04 avulsos); 5. Agulhas (40 x 12 mm para aspiração do anestésico e 30 x 07 mm para infiltração); 6. Seringa de 10 ml; 7. Lidocaína a 1% sem vasoconstrictor; 8. Lâmina de bisturi nº 10 ou 11. 9. Dreno de tórax com diâmetro em French apropriado; 10. Sistema de Drenagem em Selo d’água; 11. Soro fisiológico ou água estéril para preenchimento do sistema (aproximadamente 500 ml); 12. Fio de sutura Mononylon 2.0 ou 3.0 agulhado; 13. Esparadrapo e gaze para curativo. Procedimento 1. Explicar o procedimento ao paciente. 2. Colocar o paciente em posição supina (decúbito dorsal), com o braço ipsilateral à incisão em abdução e flexão, posicionando confortavelmente a mão sob a cabeça. 3. Realizar higienização simples das mãos, calçar luvas de procedimento e fazer a degermação local com Clorexidina ou PVPI Degermante, retirando o excesso com gaze ou compressa. 4. Realizar lavagem cirúrgica das mãos e paramentação cirúrgica. 5. Antissepsia do paciente com PVPI Tintura. 6. Colocação do campo fenestrado ou quatro campos simples. 7. Anestesia local na altura do 6º espaço intercostal (01 espaço intercostal abaixo do local de inserção do tubo), anteriormente à linha axilar média, numa região de 2 – 3 cm, incluindo pele e subcutâneo, sempre na margem superior das costelas que delimitam o espaço, para evitar lesão do feixe vasculonervoso. Isso permitirá a criação de um “túnel” de tecido subcutâneo, através do qual o tubo será inserido, o que previne a reentrada de ar no momento da sua remoção. 8. Incisão de 1 – 2 cm na pele, no local da infiltração (6º EIC), paralelamente ao espaço intercostal. 9. Anestesia do plano muscular e do periósteo dos arcos costais acima e abaixo do 5º espaço intercostal, através da incisão já realizada, atentando-se para não lesionar o feixe vasculonervoso localizado na margem inferior das costelas. 10. Divulsão do “túnel” subcutâneo e musculatura do 5º EIC com Figura 8.13 – Feixe vasculonervoso (seta) Figura 8.12 – Sistema de drenagem em selo d’água Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I pinça hemostática curva média, em sentido cefálico, passando-se pela margem superior da costela inferior, com posterior perfuração da pleura parietal (pinçando-a e tracionando-a no sentido do cirurgião). 11. Exploração digital da cavidade para confirmar a entrada no espaço pleural e liberar possíveis aderências entre pulmão e superfície pleural. 12. Inserção do dreno no sentido anterior (pneumotórax) ou posterior (hemotórax) com o auxílio de duas pinças hemostáticas (Kelly ou Crile), sendo, a primeira (A), curva e acima dos orifícios laterais para ajudar na inserção, e a segunda (B), curva ou reta, 3-5 cm abaixo das fenestrações, garantindo que elas sejamintroduzidas na pleura parietal e não fiquem em contato com o subcutâneo, o que poderia causar enfisema subcutâneo. 13. A pinça A deve ser introduzida com a curvatura voltada para cima e, após passar pelo músculo intercostal e a pleura parietal, sua curvatura deve ser reorientada no sentido da pleura parietal, com sua convexidade para a parede do tórax, reduzindo os riscos de lesionar o pulmão e o feixe vasculonervoso. 14. Remover a pinça A e posicioná-la distalmente à pinça B. Inserir o tubo até que a pinça B fique em contato com a pele. 15. Retirar a pinça B e realizar a fixação do dreno com ponto em U horizontal e três bailarinas. 16. Conectar ao sistema coletor previamente testado. 17. Retirar pinça A e abrir o lacre. 18. Observar indícios de adequado posicionamento: condensação do tubo durante a respiração, ou início de drenagem de líquido. 19. Observar o sincronismo dos movimentos respiratórios, elevando o nível de água na haste imersa durante a inspiração ou diminuindo-o na expiração. 20. Curativo compressivo: cortar dois maços de gaze até a metade e colocá-las ao redor do dreno. 21. Cobrir com esparadrapo. 22. Realizar Radiografia de Tórax em PA logo após o procedimento para confirmar o posicionamento. Figura 8.14 – Sentido de inserção do dreno. Figura 8.15 – Radiografia de tórax demonstrando dreno torácico inserido em hemitórax esquerdo. Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I Observação: caso o paciente evolua com tosse, dispneia ou dor torácica, logo após o início da drenagem, deve-se clampear o dreno e aguardar melhora clínica para evitar edema pulmonar de reexpansão. Limita-se a drenagem inicial a 1 – 1,5 litros, clampeando-se o tubo e aguardando 2 a 4 horas para realizar drenagem adicional. Critérios para Remoção a) Pneumotórax a. Pulmões com expansão adequada; b. Vazamento de ar ausente e ausência de acúmulo de ar quando a sucção é removida. c. Em caso de dúvida, procede-se ao “Teste do Clampeamento”: clampear o dreno e realizar radiografias de tórax seriadas (2 horas, 6 horas e 12 horas). Se não houver acúmulo de ar, o dreno pode ser removido. b) Efusões: a. Pulmões com expansão adequada. b. Drenagem diária menor que 100 – 300 ml/dia. Técnica de Remoção 1. Remoção do curativo, degermação local e antissepsia. 2. Secção do nó distal, desfazendo a bailarina. 3. Pedir para o paciente inspirar profundamente e segurar a respiração. 4. Retirar o dreno rapidamente, aproveitando o seminó em contato com a pele (contenção) para oclusão da incisão e realização de mais dois seminós (fixação e segurança). 5. Curativo oclusivo. Realizar radiografia de tórax imediatamente e após 24 horas para avaliar recorrência de pneumotórax e novo acúmulo de fluidos. Referências 1. Hodin RA et al. Nasogastric and nasoenteric tubes. UpToDate, 2015. 2. Schaeffer AJ et al. Placement and management of urinary bladder catheters. UpToDate, 2015. 3. Doelken P et al. Placement and management of thoracostomy tubes. UpToDate, 2015. 4. Marques, RG. Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Guanabara Koogan; 2005. 5. Goffi, FS. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4ª edição. São Paulo: Atheneu, 2007. 6. Viana AT. Bases da Técnica Cirúrgica. [Apostila] 6ª ed. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 2000. 7. Cipriano FG, Dessote LU. Drenagem Pleural. Revista de Medicina (Ribeirão Preto). 2011. 8. Perfeito JAJ, et al. Punção e drenagem pleural. Disponível em: <www.sbct.org.br/pdf/livro_virtual/puncao_drenagem_pleural.pdf >. Acesso em: 10/12/2013. 9. Andrade CF, Felicetti JC, et al. Drenagem Torácica. Disponível em: <www.proac.uff.br/esai2/sites/default/files/drenagem_toracica_2.pdf >. Acesso em: 10/12/2013. 10. Filho LOA, Campos JRM, Haddad R. Pneumotórax. Jornal Brasileiro de Pneumologia, vol. 32, São Paulo, 2006.
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