Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................... 3 2. Indicações ..................................................................... 4 3. Contraindicações ....................................................... 7 4. Materiais para drenagem ....................................... 7 5. Preparação .................................................................. 8 6. Técnica ........................................................................... 8 7. Cuidados gerais ........................................................12 8. Critérios para retirada .............................................13 9. Complicações ............................................................14 10. Casos clínicos .........................................................16 Referências bibliográficas ........................................19 3DRENAGEM DE TÓRAX 1. INTRODUÇÃO O sistema respiratório começa no na- riz e na boca e continua pelas vias aé- reas e pulmões. O ar entra no sistema respiratório pelo nariz e boca, passan- do pela garganta (faringe) e laringe. A entrada da laringe é coberta por uma pequena aba de tecido, chamada de epiglote, que se fecha automatica- mente durante a deglutição, impedin- do assim a entrada de alimentos ou líquidos nas vias aéreas. A pleura é uma membrana escorrega- dia que reveste os pulmões e o inte- rior da parede torácica. Ela permite que os pulmões se movam suave- mente durante a respiração e quando a pessoa se movimenta. Normalmen- te, existe apenas uma pequena quan- tidade de líquido lubrificante entre as duas camadas da pleura. Essas duas camadas deslizam suavemente uma sobre a outra quando os pulmões so- frem alterações de tamanho e forma. Figura 1. Sistema respiratório. Fonte: https://bit.ly/2PDGbPu A cavidade pleural é um espaço vir- tual limitado pelas pleuras visceral, parietal, mediastinal e diafragmática, ocupada por fina lâmina líquida que permite o deslizamento entre elas durante o ciclo respiratório. A pressão negativa em seu interior garante o fun- cionamento normal dos órgãos conti- dos no tórax, principalmente pulmões e coração. Em situações patológicas, 4DRENAGEM DE TÓRAX esse espaço pode ser ocupado por conteúdo líquido ou gasoso de varia- do volume, determinando alterações na fisiologia respiratória que, se não adequadamente tratadas, podem de- terminar a morte do doente. 2. INDICAÇÕES A indicação de drenagem no caso de conteúdo líquido está na dependência do tipo e do volume de líquido acu- mulado no espaço pleural. Em deter- minadas situações não traumáticas, a punção pleural com agulha precede a drenagem, pois permite a caracterização ma- croscópica desse conteúdo, bem como sua análise laboratorial. Líquidos estéreis podem ser esvazia- dos por punção pleural sem a necessi- dade de drenagem tubular. Entretanto, coleções purulentas, líquidos contami- nados, sangue e linfa devem ser sem- pre drenados independentemente do volume. Segue abaixo as principais indicações de drenagem torácica: • Pneumotórax: presença de ar entre as duas camadas da pleu- ra, resultando em colapso parcial ou total do pulmão. O pneumotó- rax pode ser espontâneo, ou seja, sem causa aparente em pessoas sem doença pulmonar conhecida, como uma ruptura de uma peque- na área debilitada do pulmão (bo- lha), traumático, que como o nome já diz, pode ser consequência de uma lesão penetrante ou fecha- do, já o pneumotórax aberto ou ferida torácica aspirativa é uma lesão com solução de continuida- de (ferida) em sua parede toráci- ca, o que permite que o ar atmos- férico ganhe a cavidade pleural Figura 2. Ilustração da pleura parietal e visceral e da cavidade pleural. Fonte: Standring, S. Gray’s anatomy, 40ª ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CONCEITO: A drenagem pleural é de- finida como um procedimento cirúrgico cujo objetivo fundamental e restaurar ou manter a negatividade da pressão do espaço pleural, por meio da eliminação de qualquer conteúdo anômalo. Consis- te na introdução de um dreno através da parede torácica, promovendo o esvazia- mento desse conteúdo. 5DRENAGEM DE TÓRAX provocando o pneumo- tórax, lesões maiores ou iguais a 2/3 do diâmetro da traqueia fazem com que o ar entre e colabe o pulmão e o pneumotórax hipertensivo, onde ocorre um vazamento de ar tanto do pulmão quanto da parede torácica para espaço pleural, ele é caracterizado por um deslocamento do mediastino para lado oposto e possível choque obstrutivo decorrente da diminuição do retorno ve- noso e do débito cardíaco. • Hemotórax: fruto de um trauma torácico, seja ele contuso ou pene- trante, pós-operatório de cirurgia torácica ou abdominal superior ou condições cardíacas ou aórticas não traumáticas como infarto agu- do do miocárdio e dissecção agu- da de aorta. Casos em que ocorre um rápido acumulo com mais de 1500ml ou 1/3 do volume de san- gue do doente na cavidade toráci- ca são considerados como hemo- tórax maciço, sendo capazes de promover compressão pulmonar suficiente para gerar importante desconforto respiratório, hipoten- são e choque. Condições como essa, são comuns em casos de fe- rimento penetrante que atinge va- sos sistêmicas ou hilares • Derrame pleural sintomático ou recidivante: o derrame pode ser estéril, infectado ou inflamatório como no empiema ou no derra- me parapneumônico, maligno, ou seja, condições não emergenciais decorrentes de um tumor causan- do derrame pleural, como no qui- lotórax, que é o acúmulo de linfa no espaço pleural, podendo resul- tar de obstrução da drenagem lin- fática, de lesão do ducto torácico ou do aumento da produção lin- fática, tem como causas mais co- muns neoplasias, trauma, causas congênitas, infecções e trombose venosa do sistema da veia cava superior, ruptura esofágica/brôn- quica ou síndrome de Boerhaave (protocolo de drenagem bilateral) • Realização de pleurodese: in- serção do tubo torácico para fa- cilitar a instilação de agentes Figura 3. Pneumotórax. Fonte: https://bit.ly/2PEXU9a 6DRENAGEM DE TÓRAX esclerosantes (Tetracicli- na, Nitrato de Prata, Po- vidine, Bleomicina, talco estéril) no espaço pleu- ral para o tratamento de derrame refratário • Hemopneumotórax • Após procedimento ci- rúrgico (com abertura de pleura) MAPA: PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE DRENAGEM DE TÓRAX Abertura da pleura PRINCIPAIS INDICAÇÕES Derrame pleural sintomático ou recidivante Condições não emergenciais Após procedimento cirúrgico Hemotórax Pneumotórax Realização de pleurodese Hemopneumotórax Empiema Tumor Trauma Aumento da produção linfática Derrame parapneumônico Neoplasia Lesão do ducto torácico Estéril Maligno Infectado ou inflamatório Quilotórax Instilação de agentes esclerosantes no espaço pleural Hemotórax maciço1500ml ou 1/3 do volume de sangue Choque obstrutivo Diagnóstico clínico Deslocamento do me- diastino para lado oposto Desvio de traqueia Pneumotórax hipertensivo Lesão com solução de continuidade (ferida) Quando o doente inspirar, o ar seguirá preferencialmente pela abertura torácica em vez de penetrar na via aérea Pneumotórax aberto 7DRENAGEM DE TÓRAX SE LIGA! O motivo mais comum para a colocação de um tubo torácico na popu- lação pediátrica é o pneumotórax. Como nos adultos, parece ser mais comum entre o sexo masculino, isso também é válido na população neonatal. Outros diagnósticos principais para os quais a colocação do tubo torácico na população pediátrica são derrames parapneumôni- cos e empiema. Porém cerca de metade das crianças com derrame parapneumô- nico ou empiema pode ser tratada ape- nas com antibióticos. O restante exigirá intervenções como colocação de tubo torácico, com ou sem terapia fibrinolítica ou desbridamento cirúrgico. 3. CONTRAINDICAÇÕES Não há contraindicação absoluta para a drenagem pleural. Existem situações, no entanto, em que sua indicação é controversa, como nos doentes que podem ser trata- dospor punção pleural esvaziadora, tra- tamento medicamentoso ou mesmo apenas com conduta expectante. É o caso do pneumotórax e do hemotó- rax pequenos, desde que assintomá- ticos e não progressivos, já que estes podem ser esvaziados por punção ou observados clinicamente, associados ou não a antibioticoterapia. Por outro lado, existem algumas con- dições as quais o médico deve estar atendo, que caracterizam contrain- dicações relativas à drenagem de tórax: • Coagulopatias ou uso de anticoa- gulantes orais • Cirrose hepática • Paquipleuris 4. MATERIAIS PARA DRENAGEM • Equipamentos de proteção indivi- dual (EPIs): luva estéril, bata, más- cara, óculos de proteção • Material de antissepsia: pinça Fo- erster; PVPI tópico ou Clorexidina alcoólica e gaze • Campo cirúrgico • Anestésico: lidocaína 1% • Agulha e seringa para anestesia • Cabo de bisturi (n° 3 ou 4) • Lâmina de bisturi (n° 11 ou 15 para o cabo 3 ou 21, 22, 23 ou 24 para o cabo 4) • Pinça hemostática Kelly ou Rochester • Material para sutura: porta-agulha Mayo-Hegar; pinça traumática; fio Sertix (agulhado); e tesoura reta • Material para curativo: gaze; e es- paradrapo ou micropore • Dreno: diâmetro de 2-6mm (6- 26 French) para uso pediátrico e 5-11mm (20-40 French) para uso adulto • Sistema selo d`água 8DRENAGEM DE TÓRAX 5. PREPARAÇÃO Durante a preparação do paciente, alguns pontos importantes devem ser analisados, dentre eles, a neces- sidade de profilaxia antibiótica an- tes da colocação dos drenos. Tal si- tuação depende das circunstâncias clínicas. De modo geral, a maioria das evidências da profilaxia com an- tibióticos envolve a população adulta acometida por traumas penetrantes e cirurgias torácicas eletivas, sendo administrada apenas como uma dose pré-operatória. A escolha do dreno apresenta uma ampla variação. Nos adultos, estão disponíveis tubos torácicos padrão, variando de 24 a 40 French, para crianças, os tamanhos variam de 16 a 24 French e, em bebês, os tama- nhos variam de 8 a 12 French. Deve- -se lembrar que quanto mais visco- so o conteúdo a ser drenado (pus ou sangue) mais calibroso será o dreno. SE LIGA! Segundo a 10ª edição do ATLS, a drenagem torácica deve ser fei- ta utilizando drenos de menor calibre, entre 28 e 32 Fr. O procedimento necessita ser in- formado ao paciente e consentido pelo mesmo, a exceção de uma situ- ação de emergência. Feito isso, a dre- nagem pode ser iniciada, seguindo apropriadamente a técnica e os cui- dados necessários. 6. TÉCNICA O tipo mais executado de drena- gem é a drenagem pleural tubular fechada simples, mas em situações especiais pode-se recorrer a outras formas como a drenagem fechada sob aspiração continua e mesmo a drenagem pleural aberta. Na maior parte das drenagens utilizamos dre- nos multifenestrados de material plástico e siliconizado. Na drenagem tubular fechada sim- ples, um tubo ou dreno é introduzido no interior da cavidade pleural. A ou- tra extremidade é conectada ao siste- ma de selo d’agua que consta de um tubo de borracha mergulhado 2-3 cm na superfície líquida de um fras- co, cuja tampa existe um respiro para o meio externo e que não está em contato com o líquido. Dessa forma, o selo d’agua garante um fluxo uni- direcional ao conteúdo drenado: da cavidade pleural para o frasco, sem possibilidade de retorno a ela. O ar drenado pode ganhar o meio externo pelo respiro, mas não consegue voltar ao espaço pleural, pois o nível líquido impede o retorno ao sistema. 9DRENAGEM DE TÓRAX Figura 4. A. Drenagem tubular fechada simples; B. Drenagem pleural sob aspiração contínua. Fonte: Massaia, I. F. D. S. et al. Procedimentos do internato à residência médica. 1ªed. São Paulo. Editora Atheneu; 2012. não deve ultrapassar 25 a 30 cm de H2O pelo risco de lesão pulmonar, motivo pelo qual não devemos conec- tar a fonte de aspiração diretamente no frasco de drenagem convencional sem o auxílio do frasco de três vias. Segue abaixo as etapas da técnica de drenagem de tórax: • Comunicar/informar ao paciente sobre o procedimento • Paramentação completa com os EPIs • Posicionar paciente em decúbito dorsal (braços abduzidos com a mão atrás da cabeça facilitando a exposição do tórax) • Antissepsia/assepsia e colocação de campos estéreis A B Em algumas situações como no con- teúdo purulento espesso ou na fístula aérea pode-se recorrer a drenagem pleural sob aspiração continua e, nesse caso, e necessário mais um frasco. Utilizamos um segundo fras- co fechado para o exterior por uma tampa com três vias. A do meio re- presenta a abertura para o ar de um tubo mergulhado na superfície líquida cerca de 15 a 20 cm de H2O. Uma das vias laterais está conectada ao vácuo da parede ou a um aparelho que faz aspiração constante, e a ou- tra via serve para conectar esse fras- co ao frasco coletor com selo d’agua. Assim, se o tubo central (aberto para o meio externo) está mergulhado 15 cm no líquido, então essa é a pressão de aspiração que está sendo gerada no sistema. A pressão de aspiração 10DRENAGEM DE TÓRAX • Bloqueio anestésico com lidocaína a 1% no local escolhido para inser- ção do dreno (anestesia-se a pele, subcutâneo e periósteo) • Incisão cutânea de 1,5 a 2,0 cm de extensão, paralela aos arcos costais e junto à borda superior da costela inferior, no 5° espaço inter- costal (EIC) anterior à linha axilar média, buscando assim, não atin- gir os vasos nessa região (em uma situação de emergência, os pontos de referência são a linha do mami- lo nos homens e o vinco infra ma- mário nas mulheres) Divulsão romba com pinça Kelly ou Rochester dos planos subcutâneos e muscular até perfurar a pleura pa- rietal. Deve-se, nesse tempo, manter a pinça dentro da cavidade e abri-la para garantir o espaço para passa- gem do dreno Exploração digital do interior da ca- vidade: avaliar consistência dos ór- gãos, presença de aderências, cor- po estranho, tumorações ou hérnia/ lesões diafragmáticas O dreno deve ser pinçado com a Kelly ou Rochester na extremidade em que será inserido na cavidade (proximal) e na porção distal Com o auxílio de uma pinça tipo Kelly ou Rochester, o dreno é introduzido na cavidade e di- recionado posterossuperior- mente (pneumotórax) ou posteroinferiormente (he- motórax ou derrame pleu- ral) e depois a pinça pro- ximal é retirada. Figura 5. Vasos intercostais. Fonte: Standring, S. Gray’s anatomy, 40ª ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 11DRENAGEM DE TÓRAX Figura 6. A. Posiciona- mento do paciente; B. Toracocentese ascenden- te para identificação de local de inserção de dreno torácico; C. Exploração digital da cavidade; D. In- serção de dreno torácico. Fonte: Massaia, I. F. D. S. et al. Procedimentos do internato à residência médica. 1ªed. São Paulo. Editora Atheneu; 2012. • O fio é trançado ao redor do tubo (nó frouxo) e confeccionada “bai- larina”, amarrando o fio apenas na última volta. Uma fixação frou- xa pode levar ao escape do dre- no e comprometimento clínico do doente. • O dreno é conectado ao sistema sela d`água e depois a pinça Kelly ou Rochester distal deve ser reti- rada. Obrigatoriamente deverá ha- ver oscilação da coluna líquida. O contrário indica erro na drenagem • Fixa-se o dreno à pele, sem perfu- ra-lo, com um ponto em ´´U`` de fio inabsorvível e resistente Figura 7. A. Primeiro, o ponto de ancoragem é frouxamente amarrado sobre o tubo, B. Em seguida, o tubo é preso ao ponto de ancoragem. Observe o recuo no tubo, indicando uma ligação confortável para evitar derrapagens. Fonte: UpToDate. 2019. 12DRENAGEM DE TÓRAX • Coloca-se um curativo oclusivo ao redor do local de inserção do dreno • Vedação da extremidade distal do dreno com o encaixe do selo d`á- gua, utilizando esparadrapo ou micropore • Pode ser feito o raio-X de tórax para confirmar a colocação apropriada do dreno, porém, não é necessário no pós-operatório imediato, desde que o dreno esteja funcionante e com oscilação da coluna liquidaFigura 8. Raio-x de tórax após colocação do dreno. Fonte: www.sanarflix.com.br 7. CUIDADOS GERAIS • Sempre que for manipular o dreno, lavar as mãos, secar e aplicar ál- cool gel 70% • Clampear o dreno, para que não haja entrada de ar, e lembrar de soltar o clamp ao término da manipulação • Manter o selo d’água com 300- 500 mL de SF 0,9% (cerca de 2,5 cm de altura), e trocá-lo a cada 12- 24 horas • Posicionar o selo d’água no piso, com suporte próprio, ou sustenta- do em local adequado • Nuca elevar o selo d’água acima do tórax sem que esteja clampea- do (fechado) • Manter a pinça do dreno sempre abaixo do nível da cintura ou do leito do paciente • Mensurar o débito do dreno a cada 6 horas, ou menos, caso haja dre- nagem superior a 100 mL/hora (colocar uma fita adesiva ao lado da graduação do frasco) • Sempre registrar o aspecto do lí- quido (ex.: seroso, sero-hemático, hemático, purulento) • Inspeção e troca diária do curativo • Verificar a oscilação na coluna lí- quida: deve subir na inspiração, e descer na expiração. Caso não haja esse movimento espontâneo, pode haver obstrução do tubo • “Ordenhar” ou massagear a tubu- lação, na direção de saída (frasco coletor), de 2/2-4/4 horas, ou con- forme protocolo próprio (ex.: às 6 horas) 13DRENAGEM DE TÓRAX • Atentar para a presença de vaza- mentos e/ou risco de desconexão • Manter a cabeceira do leito relati- vamente elevada, para facilitar a drenagem • A fixação pode ser do tipo meso (lateral), com distância de 2 cm en- tre o dreno e a pele, ou conforme protocolo da instituição • Atentar para a presença de bolhas no frasco de drenagem, que podem ser indicativos de fístula aérea • Manter o dreno sob aspiração con- tínua, se indicado. A intensidade da aspiração do sistema é determi- nada pela quantidade de água no frasco de aspiração contínua, e não pela frequência de borbulhamento • Se disponível, preferir a bolsa de drenagem com válvula de Heimi- lich, que é um sistema unidirecio- nal seguro de drenagem torácica e mediastinal • Cuidado na passagem entre ma- cas, pois o dreno pode ficar preso e/ou ser arrancado • Atenção para que a extremidade do sistema de drenagem não fique fora d’água • Não ocluir o dreno durante o transporte 8. CRITÉRIOS PARA RETIRADA O dreno torácico deve permanecer o menor tempo possível no interior da cavidade, para que seu aproveita- mento seja máximo. Poderá ser reti- rado nas seguintes situações: • Dreno obstruído, que não se con- segue desobstruir (o doente é re- drenado, se necessário) • Dreno que cumpriu sua função inicial, na ausência de borbulha- mento, com baixo debito (abaixo de 100 a 200 mL/24 horas) e com boa expansão pulmonar clínica e radiológica Retirada do dreno é feita da seguin- te forma: • Desfazer todas as fixações • Cortar a amarração e desfazer a “bailarina”, mantendo o fio tracio- nado para impedir a entrada de ar na cavidade pleural • Solicitar ao doente que evite inspi- rar durante a retirada, para não re- duzir a pressão intrapleural • Solicitar que o paciente realize uma expiração forçada e retirar rapida- mente o dreno durante o processo, buscando rapidamente ocluir com um curativo a região de abertura, evitando a entrada de ar 14DRENAGEM DE TÓRAX • Durante o período subsequente o paciente deve ser monitorizado atentamente buscando identificar qualquer desconforto respiratório que acabe se desenvolvendo • Raio-X de tórax após retirada 9. COMPLICAÇÕES A drenagem torácica é um procedi- mento tecnicamente simples, além de altamente eficiente, pela eleva- da frequência de realização e sim- plicidade técnica, porém, o procedi- mento acaba sendo negligenciado e, muitas vezes, é executado sem o devido rigor metodológico. Em con- sequência, pode apresentar índices de complicação desproporcionais a sua simplicidade, o que revela desconhecimento da técnica cirúrgi- ca, dos cuidados na manutenção do sistema e até mesmo dos princípios de fisiologia respiratória. Entre as principais complicações que a dre- nagem de tórax pode estar associa- da, tem-se: • Enfisema subcutâneo • Lesão do feixe vasculonervoso • Edema pulmonar de reexpansão (volume maior do que 1500mL) • Empiema • Lesão de estruturas torácicas • Lesão de vísceras abdominais • Posicionamento errado do dreno 15DRENAGEM DE TÓRAX MAPA: RESUMO DO TEMA DRENAGEM DE TÓRAX INDICAÇÕES Empiema pleural Quilotórax Derrame pleural sintomático ou recidivante Hemotórax Hemopneumotórax COMPLICAÇÕES PREPARAÇÃO TÉCNICA CONTRAINDICAÇÕES CRITÉRIOS PARA RETIRADA DO DRENO Cirrose hepática Coagulopatias ou uso de anticoagulantes orais Paquipleuris Escolha do dreno Profilaxia antibiótica Crianças: 16-24Fr Bebês: 8-12Fr Adultos: 24-40Fr Drenagem pleural tubular fechada simples Drenagem fechada sob aspiração continua Drenagem pleural aberta Dreno obstruído, que não se consegue desobstruir Dreno que cumpriu sua função inicial, na ausência de borbulhamento. Dreno que cumpriu sua função inicial, baixo debito (< 100 a 200 mL/24 horas) Dreno que cumpriu sua função inicial, com boa expansão pulmonar clínica e radiológica. Após procedimento cirúrgico Pneumotórax Edema pulmonar de reexpansão (V > 1500mL) Lesão do feixe vasculonervoso Posicionamento errado do dreno Lesão de vísceras abdominais Enfisema subcutâneo Empiema Lesão de estruturas torácicas Condições não emergenciais Ruptura esofágica/ brônquica Realização de pleurodese 16DRENAGEM DE TÓRAX 10. CASOS CLÍNICOS Agora que você já aprendeu sobre drenagem torácica, vamos aplicar isso na prática clínica: Paciente do sexo feminino, 29 anos, vítima de trauma automobilístico após dormir ao volante. Dá entra- da no serviço trazida pelos bom- beiros que relatam acidente carro- -poste com paciente sem cinto de segurança, projetada sob o volan- te. Paciente sonolenta, gemente, desorientada em tempo e espaço apresentando sinais claros de em- briaguez. Escala de coma de Glas- gow 13. No local, hipocorada +/4+, Fr 27irpm, Fc 110bpm, apresentan- do dor em tórax anterior e abdome. A ausculta cardíaca BRNF2T, sem sopros. Asculta pulmonar sem ruí- dos adventícios, MUV+ rude. Lesão corto-contusa na região frontal di- reita, sem outras lesões aparentes ou sangramentos ativos. A paciente é recebida pelo médico de plantão em prancha rígida e com colar cer- vical, sendo prontamente solicita- do dois acessos venosos calibrosos nos MMSS, avaliada as vias aéreas e ofertado O2 a 100% em máscara válvula-balão. Durante a avaliação cardíaca e pulmonar o médico per- cebe que a paciente começou a fi- car agitada, apresentando piora da dispneia, turgência jugula, bulhas cardíacas hipofonéticas, murmúrio vesicular abolido à direita com hi- pertimpanismo e hipotensão. Dian- te do quadro, como é feito o diag- nóstico e tratamento para essa paciente? O quadro condiz com uma situação de pneumotórax hipertensivo. Situa- ção grave, em que o diagnóstico é clí- nico com base nos sinais e sintomas de dispneia, redução da expansivida- de pulmonar do hemitórax envolvido associado a desvio contralateral da traqueia, turgência jugular, diminui- ção ou ausência de murmúrio vesi- cular no lado acometido, hipotensão ou enfisema subcutâneo. No caso em questão, o tratamento deve ser ime- diato, devendo ser realizada a toraco- centese de alívio no 2° espaço inter- costal, na linha hemiclavicular do lado acometido, para então ser realizado o tratamento definitivo, que consiste na drenagem de tórax no 5° espaço intercostal. Paciente do sexo masculino, 19 anos, se apresenta ao departamen- to de Emergência com ferimentos por arma de fogo em hemitórax esquerdo. Seus sinais vitais iniciais são: Fr 40 irpm/min, Fc 110bpm, Saturação 88% com O2 a 15L/ min, PA 102/60 mmHg. Durante a avaliação inicial, você verifica que o jovem é capaz de manter a per- viedade das vias aéreas, porém o 17DRENAGEM DE TÓRAX murmúrio vesicular está diminuído em hemitórax esquerdoe há maci- cez à percussão. A expansibilidade torácica também está diminuída no lado afetado. A traqueia parece es- tar centralizada e você acha a aus- culta cardíaca normal. Em seguida, ele evolui para franca insuficiência respiratória. Com esses achados, qual é o diagnóstico mais provável e o tratamento? Quando é provável a necessidade de toracotomia nes- ses casos? O quadro é consistente com hemo- tórax, podendo ser confirmado por meio de uma radiografia de tórax. Caso a perda sanguínea seja maior que 1500ml, temos o que se chama de hemotórax maciço. Ele pode ser associada a trauma torácico contuso ou penetrante. Sinais de choque hipo- volêmico estão geralmente presentes devido à perda de sangue para dentro do tórax e o tratamento do hemotórax e da perda sanguínea precisa ser re- alizado simultaneamente. De modo geral, o tratamento envolve oxigênio em alto fluxo, drenagem torácica (di- recionada anteriormente se houver pneumotórax associado), acesso ve- noso calibroso para permitir reposição volêmica simultânea. A toracotomia é indicada em alguns pacientes com hemotórax maciço. As indicações in- cluem drenagem imediata maior que 1500ml de sangue de um hemitórax, sangramento contínuo de acima de 250ml/h, transfusões repetidas. Paciente do sexo feminino, 32 anos, vítima de acidente automobilístico. Durante a avaliação preconizada pelo ATLS® percebe-se sinais de fratura na caixa torácica, com co- labamento durante a inspiração e abaulamento durante a expiração. Esse movimento é característico em pacientes que apresentam múl- tiplas fraturas em arcos costais ad- jacentes em pontos consecutivos, especialmente na porção anterior do tórax. Diante disso, qual o pro- vável diagnóstico e qual conduta deve ser tomada para resolvê-lo? O achado clínico consiste numa res- piração paradoxal, sendo condizente com o quadro de tórax instável ou flail chest, o que suscita imediatamente a suspeita de contusão pulmonar (san- gue nos alvéolos e no interstício pul- monar). Nesses casos, a abordagem inicial envolve a administração de oxi- gênio umidificado e a reposição volê- mica. Na ausência de hipotensão sis- têmica, a administração intravenosa de soluções cristaloides deve ser cui- dadosamente controlada para evitar hiper-hidratação. A terapia definitiva consiste em garantir a oxigenação mais completa possível, administrar líquidos cautelosamente e fornecer analgesia para melhorar a ventilação. 18DRENAGEM DE TÓRAX A melhora da dor permite uma maior expansibilidade torácica, o que leva a alinhamento das fraturas (com maior rapidez da consolidação) e evita acú- mulo de secreções pulmonares. O uso de ataduras por sobre as fraturas costais é formalmente contraindicada, sob o risco de agravamento ou preci- pitação de insuficiência respiratória. Em determinadas condições pode ser indicado o tratamento cirúrgico para estabilização das fraturas. Perceba que nesse caso, a drenagem torácica não apresenta indicação. CONCEITO: Tórax instável ou flail chest é definido pela perda da continui- dade da parede torácica com o restante da caixa torácica devido a uma separa- ção em 2 ou mais arcos costais conse- cutivos, com cada arco fraturado em 2 ou mais pontos. O paciente cursa nesses casos com uma respiração paradoxal, ou seja, durante a inspiração o segmen- to fraturado colaba (pressão intrapleu- ral negativa) e, durante a expiração, há abaulamento desta região, levando ao aumento do trabalho respiratório e a uma hipoventilação alveolar. 19DRENAGEM DE TÓRAX REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACI Respiratory Network. Consensus Guideline - Pleural drains in adults [Internet]. 2016. ATLS - Advanced Trauma Life Support for Doctors. American College of Surgeons. 10a. Ed 2018. Cipriano FG, Dessote LU. Drenagem pleural. Medicina (Ribeirão Preto) 2011;44(1): 70-8. John T Huggins, M. D. el al. Placement and management of thoracostomy tubes and ca- theters in adults and children – UpToDate. 2019. LIGHT et al. Pneumothorax in adults: Epidemiology and etiology. UpToDate, 2020. Massaia, I. F. D. S. et al. Procedimentos do internato à residência médica. 1ªed. São Paulo. Editora Atheneu; 2012. Ministério da Saúde. Profissionalização de Auxiliares de Enfermagem - Caderno do Alu- no. Fundamentos de Enfermagem. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. Pohl, F. F.; Petroianu, A. Tubos, sondas e drenos. 1ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. Standring, S. Gray’s anatomy, 40ª ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 20DRENAGEM DE TÓRAX
Compartilhar