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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Psiquiatria TRANSTORNOS DE DEPENDÊNCIA Álcool: Introdução: O alcoolismo representa importante problema de saúde pública no Brasil. A prevalência da dependência de álcool no Brasil é de aproximadamente 12%. Entretanto, o abuso de álcool e a dependência de álcool são subdiagnosticados no Brasil. Geralmente, o diagnóstico do alcoolismo é tardio, piorando o prognóstico dos pacientes. Além disso, na prática clínica, o manejo da dependência de álcool é focada apenas nas complicações clínicas associadas ao uso crônico da substância (complicações hepáticas e pancreáticas, por exemplo). Os efeitos do consumo de álcool na saúde do indivíduo dependem de fatores como: - Quantidade de álcool consumida. - Velocidade de consumo. - Uso prévio de álcool. - Concentração de álcool no sangue. - Estado nutricional do paciente. - Predisposição genética. - Idade. Os efeitos do álcool classificam-se em agudos e crônicos (associados ao consumo repetido e prolongado). Mecanismo de Ação: Quando consumido, o álcool passa por meio do estômago e começa a ser absorvido no intestino delgado, de onde alcança a circulação sanguínea. Ao passar por meio do fígado, começa a ser metabolizado (metabolismo hepático de primeira passagem). A primeira substância formada por meio do metabolismo do etanol no fígado é o etanal (acetaldeído), que, posteriormente, é convertido por outras enzimas hepáticas em ácido acético (acetato). Estas substâncias são eliminadas por meio dos rins (90-98%). As substâncias que, eventualmente, retornam ao fígado são transformadas em água e gás carbônico, que são eliminados por meio dos pulmões na expiração (2-10%). A absorção intestinal do álcool e a sua passagem do intestino delgado para a circulação sanguínea dependem da velocidade de ingestão do álcool, já o processo de metabolização hepática do álcool apresenta velocidade constante. Assim, quando há o consumo de altas quantidades de álcool de forma a exceder a quantidade de receptores hepáticos de etanol, desenvolve-se intoxicação por álcool, resultando no estado de embriaguez. Como a quantidade de enzimas hepáticas que metabolizam o etanol é regulável, indivíduos que consomem quantidades excessivas de álcool de forma crônica apresentam mais enzimas metabolizadoras do álcool, tornando-se mais resistentes a ele. A presença de alimentos no intestino delgado lentifica o processo de absorção do álcool, diminuindo o risco de intoxicação. O dano do álcool ao cérebro, principalmente ao córtex pré-frontal, é inquestionável e manifesta-se por alterações de funções corticais superiores, como lógica e raciocínio. Quanto maior a quantidade de álcool ingerida, maior o dano. Além do córtex, outras áreas cerebrais afetadas são as áreas relacionadas à memória e o cerebelo, causando alteração de coordenação motora. O estresse oxidativo associado à metabolização do etanol produz grande quantidade de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio, aumentando o risco de complicações associadas ao alcoolismo, como hepatopatia alcoólica, pancreatopatia alcoólica, cardiomiopatia alcoólica e alterações hematológicas. Além disso, a ação do álcool influencia a produção e o metabolismo de macromoléculas e micromoléculas celulares, de ácidos 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 nucleicos e a cascata de sinalização intracelular e extracelular, com lesão ao retículo endoplasmático, às mitocôndrias, ao DNA e aos ribossomos, aumentando o risco de neoplasias malignas. Os principais efeitos tóxicos do álcool no organismo são: - Temperatura: diminuição da temperatura corporal, vasodilatação periférica, sudorese; na intoxicação, há hipotermia. - Coração e vasos sanguíneos: aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, vasodilatação periférica e rubor; na intoxicação, há diminuição do fluxo sanguíneo para o SNC, resultando em coma. - Trato gastrointestinal: estímulo à secreção gástrica e inflamação da mucosa gástrica (gastrite); na intoxicação, há ausência ou diminuição da motilidade do trato gastrointestinal. - Pulmões: depressão respiratória; na intoxicação, pode haver morte por depressão respiratória. - Rins: aumento da diurese por inibição à secreção de hormônio antidiurético (ADH). - SNC: diminuição da ansiedade; na intoxicação, há ataxia, disartria, náuseas, vômitos, anestesia, coma. A ação do álcool no SNC caracteriza-se por estímulo do sistema mediado pelo neurotransmissor inibitório GABA e por inibição do sistema mediado pelo neurotransmissor excitatório glutamato. Intoxicação: A intoxicação por álcool caracteriza-se por alteração de fala (fala arrastada), incoordenação motora, ataxia, nistagmo, diminuição de atenção e de memória, náuseas, vômitos, estupor, coma e até mesmo morte por depressão respiratória. Além disso, geralmente observa-se a presença de alterações de comportamento do indivíduo intoxicado, que apresenta comportamento desinibido e socialmente inadequado. O tratamento da intoxicação por álcool baseia-se em prevenção de broncoaspiração de vômitos e prevenção de TCE, administração de tiamina (vitamina B1) e administração de soro glicosado. A intoxicação patológica é definida como a ingestão de baixas doses de álcool que produzem comportamento violento, 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 crepuscularização da consciência e amnésia lacunar. Abuso: O abuso de álcool é definido como a presença de problemas associados ao consumo excessivo de álcool em curtos períodos de tempo (beber em binge → 5 doses para homens e 4 doses para mulheres em uma única vez). Para o diagnóstico de abuso de álcool, deve haver a presença de ≥ 1 dos seguintes problemas associados ao uso de álcool por, no mínimo, 12 meses: - Prejuízo significativo na escola, na faculdade, no trabalho e/ou nos relacionamentos. - Exposição a situações potencialmente perigosas. - Problemas legais. - Persistência de uso de álcool apesar de pedidos de pessoas próximas para que interrompa o uso. Dependência: A dependência de álcool é definida como a presença de ≥ 3 dos seguintes problemas associados ao uso de álcool por, no mínimo, 12 meses: - Tolerância ao álcool. - Síndrome de abstinência alcoólica. - Consumo excessivo. - Desejo persistente de beber. - Uso de muito tempo para obter a bebida ou para recuperar-se de seus efeitos. - Persistência do consumo de bebida alcoólica apesar dos problemas associados ao uso de álcool. No DSM-4, o abuso de álcool e a dependência de álcool são classificados como transtornos diferentes. Entretanto, no DSM-5, o abuso de álcool e a dependência de álcool são classificados em conjunto como transtorno por uso de álcool. Síndrome de Abstinência Alcoólica: As principais manifestações clínicas da síndrome de abstinência alcoólica, que geralmente inicia-se 6-8 horas após a interrupção do uso de álcool, são: - Tremores. - Hipertermia. - Sudorese. - Náuseas e vômitos. - Cefaleia. - Taquicardia. - Hipertensão arterial. - Agitação psicomotora. - Ansiedade. - Irritabilidade. - Insônia. - Alucinações auditivas, visuais e/ou táteis. - Desorientação espacial, temporal e, eventualmente, pessoal. - Convulsões. - Delirium tremens. O delirium tremens é definido como o quadro confusional agudo e breve associado à abstinência de álcool. O delirium tremens representa a manifestação clínica mais grave da síndrome de abstinência alcoólica e caracteriza-se por agitação psicomotora, tremores, alucinações, principalmente táteis e visuais, desorientação, taquicardia, hipertensão arterial, hipertermia e sudorese, que manifesta-se entre 48 e 96 horas após o último consumo de bebida alcoólica e apresenta duração que varia de 1 a 5 dias. O delirium tremens pode causar a morte do paciente, principalmente devido a distúrbio hidroeletrolítico. O manejo da síndrome de abstinênciaalcoólica baseia-se em: - Monitorização de sinais vitais. - Ambiente calmo, silencioso e com baixa luminosidade. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Contenção, se necessário. - Elevação do leito. - Exames complementares: hemograma, plaquetas, TGO, TGP, GGT, TP e RNI, sódio, potássio, cálcio, creatinina, ureia, amilase, lipase, EQU e TC de crânio (em casos de TCE). - Reposição hídrica e eletrolítica. - Reposição vitamínica: administração de tiamina (vitamina B1) 300 mg/dia IM por 7 dias e, após, VO com o objetivo de prevenir a síndrome de Wernicke-Korsakoff; administração de ácido fólico 5 mg/dia VO. - Benzodiazepínicos: administração de diazepam 20 mg/dia VO em pacientes sem hepatopatia grave e de lorazepam 4 mg/dia VO em pacientes com hepatopatia grave com o objetivo de causar sedação leve do paciente; os benzodiazepínicos, como o diazepam 10-20 mg, também são indicados em casos de convulsão associada à abstinência de álcool. O manejo do delirium tremens deve ser realizado em ambiente hospitalar. Se o paciente apresenta condições, deve-se administrar diazepam 10-20 mg VO imediatamente, além de realizar hidratação adequada. Entretanto, se o paciente não apresenta condições de receber medicamentos por via oral, deve-se garantir acesso venoso adequado e administrar diazepam 10-20 mg EV imediatamente, podendo-se repetir a dose de 10-20 mg de diazepam a cada 1 hora para controlar as manifestações clínicas. Em casos graves de delirium tremens, nos quais o paciente já recebeu doses adequadas de benzodiazepínicos, pode-se administrar antipsicóticos como drogas adjuvantes. Recomenda-se o uso de haloperidol 5 mg VO ou IM. Em pacientes com síndrome de abstinência alcoólica grave ou delirium tremens, que apresentam agitação psicomotora e não têm condições de receber medicamentos por via oral, recomenda-se o uso de diazepam 10- 20 mg EV até causar sedação leve do paciente ou haver condições de administrar medicamentos por via oral. Em pacientes hepatopatas graves, recomenda-se o uso de lorazepam 2-4 mg EV como alternativa ao diazepam. Sempre que houver administração de benzodiazepínicos por via endovenosa, deve-se estar atento ao risco de depressão respiratória do paciente. Se houver depressão respiratória, indica-se ventilação do paciente com oxigênio (O2) a 100% e administração de flumazenil EV (antídoto dos benzodiazepínicos). No manejo terapêutico da síndrome de abstinência alcoólica, nunca se deve administrar clorpromazina injetável, realizar contenção física sem sedação ou administrar benzodiazepínico EV sem suporte ventilatório. Complicações Clínicas: As principais complicações clínicas associadas ao uso crônico de álcool são: - Aumento do risco de hepatite C. 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Hepatite alcoólica. - Esteatose hepática. - Cirrose hepática. - Icterícia. - Pancreatite crônica. - Disfagia. - Esofagite crônica. - Gastrite crônica. - Vômitos. - Hipertensão arterial sistêmica. - Cardiomiopatia alcoólica. - Arritmias cardíacas. - Neuropatia periférica. - Síndrome demencial alcoólica. - Anemia. A síndrome de Wernicke-Korsakoff, também denominada síndrome amnésica, caracteriza-se por ataxia (incoordenação motora), nistagmo e paralisia de músculos oculares, causando quadro semelhante ao estrabismo. Além disso, há confusão mental e perda de memória recente. A síndrome de Wernicke-Korsakoff é considerada emergência médica, devendo ser tratada imediatamente por meio da reposição de tiamina (vitamina B1), que reverte rapidamente o quadro neurológico, exceto o déficit de memória, que pode ser permanente. A síndrome demencial alcoólica é semelhante à Doença de Alzheimer, ou seja, caracteriza-se por quadro de demência associada ao uso crônico de álcool em altas quantidades. Complicações Psiquiátricas: As principais complicações psiquiátricas associadas ao uso crônico de álcool são: - Alucinose alcoólica. - Blackouts. - Síndrome de abstinência alcoólica. - Delirium tremens. - Suicídio. - Transtornos do sono. Tratamento: O tratamento da dependência de álcool baseia-se em medidas farmacológicas e medidas não farmacológicas. As principais medidas não farmacológicas são a participação em grupos de ajuda (alcoólicos anônimos) e a psicoterapia (terapia cognitivo-comportamental). As principais alternativas de tratamento farmacológico são: - Acamprosato. - Baclofeno. - Dissulfiram. - Naltrexona. - Topiramato. Tabaco: Introdução: O tabagismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é definido como a doença crônica transmissível por meio de propaganda que representa a maior causa evitável de mortes precoces em todo o mundo, além de atuar como fator de risco para aproximadamente 50 doenças. A nicotina, presente no cigarro, representa a substância psicoativa associada ao maior risco de dependência. Aproximadamente 1/3 da população adulta mundial faz uso de cigarro. A prevalência do tabagismo é maior em países em desenvolvimento em comparação com países desenvolvidos. No Brasil, o tabagismo apresenta prevalência média de 12-25%, sendo mais comum em homens do que em mulheres. Aproximadamente 50% dos jovens que fumam continuarão fumando quando alcançarem 60 anos de idade e morrerão de alguma complicação associada ao tabagismo 20 anos antes do indivíduo não fumante. A maioria dos usuários de tabaco apresentam dependência de nicotina. As principais doenças associadas ao tabagismo são doença arterial coronariana (angina e IAM), DPOC (bronquite crônica e enfisema pulmonar), doença cerebrovascular (AVC), câncer (pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, etc). 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Mecanismo de Ação e Intoxicação: A nicotina atua como agonista de receptores de acetilcolina (receptores nicotínicos). Na intoxicação por nicotina, as principais manifestações clínicas são cefaleia, náuseas, vômitos e tontura. Abstinência: As principais manifestações clínicas associadas à abstinência de nicotina são: - Irritabilidade. - Ansiedade. - Inquietação. - Dificuldade de concentração. - Distúrbios do sono (insônia). - Humor deprimido. - Aumento de apetite e ganho de peso. Dependência: A dependência de nicotina está presente em quase 100% dos usuários de tabaco. O grau de dependência pode ser avaliado por meio do Teste de Fagerström, que baseia-se na realização de 6 perguntas, com pontuação total variando de 0-10. 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Tratamento: O tratamento farmacológico para a cessação do tabagismo é recomendado para todo fumante ≥ 18 anos de idade com consumo ≥ 10 cigarros/dia. Antes de iniciar o tratamento farmacológico, deve-se avaliar o grau de dependência do paciente à nicotina, avaliar a experiência prévia com fármacos para o tratamento do tabagismo e avaliar a presença de comorbidades, pois todos estes fatores, associados às contraindicações e aos efeitos adversos de cada droga, influenciam na escolha do medicamento mais indicado para o paciente. O tratamento farmacológico de primeira linha para a cessação do tabagismo baseia- se em: - Adesivo de nicotina: adesivo transdérmico de nicotina em doses de 7 mg, 14 mg e 21 mg; a dose recomendada depende do consumo médio de cigarros/dia, devendo ser reduzida gradualmente ao longo de 8-12 semanas de tratamento; os principais efeitos adversos ao uso do adesivo de nicotina são irritação local, náuseas, vômitos, hipersalivação e diarreia; as contraindicações ao uso do adesivo de nicotina são idade < 18 anos, gestação e idosos com doenças cardiovasculares. → Consumo de ≥ 20 cigarros/dia: 21 mg/dia (semanas 1-4), 14 mg/dia (semanas 5-8) e 7 mg/dia (semanas 9-12). → Consumo de 10-20 cigarros/dia: 14 mg/dia(semanas 1-4) e 7 mg/dia (semanas 5-8). - Goma de nicotina: goma de nicotina em doses de 2 mg e 4 mg; as gomas de nicotina devem ser consumidas a cada 1-2 horas, com redução gradual da dose ao longo de 8- 12 semanas de tratamento; a dose recomendada depende do consumo médio de cigarros/dia. → Consumo de ≥ 25 cigarros/dia: gomas de 4 mg de nicotina. → Consumo de < 25 cigarros/dia: gomas de 2 mg de nicotina. - Bupropiona: antidepressivo inibidor da recaptação de dopamina e noradrenalina; apresenta atividade dopaminérgica e noradrenérgica, simulando a ação da nicotina no SNC; recomenda-se iniciar com 150 mg 1x/dia por 3 dias e, a partir do 4º dia, aumentar para 150 mg 2x/dia ao longo de 12 semanas de tratamento; ao iniciar o uso de bupropiona, o paciente deve parar de fumar no 8º dia de tratamento; os principais efeitos adversos ao uso de bupropiona são insônia, boca seca e convulsões; as contraindicações ao uso de bupropiona são história de convulsões, epilepsia, anorexia nervosa, bulimia, alcoolismo grave, história de AVC, TCE e/ou tumor cerebral, gestação, uso de antidiabéticos orais e/ou insulina e uso de antidepressivos, IMAO e/ou antipsicóticos. - Vareniclina: agonista de receptores nicotínicos no SNC; recomenda-se iniciar com 0,5 mg 1x/dia por 3 dias, aumentando para 0,5 mg 2x/dia a partir do 4º dia e para 1,0 mg 2x/dia a partir do 7º dia ao longo de 12-24 semanas de tratamento; ao iniciar o uso de vareniclina, o paciente deve parar de fumar no 8º dia de tratamento. O tratamento farmacológico de segunda linha para a cessação do tabagismo baseia- se em: - Clonidina: 0,1-0,75 mg/dia por 3 semanas. - Nortriptilina: 75-100 mg/dia por 8-12 semanas. Além do tratamento farmacológico, há também o tratamento não farmacológico para a cessação do tabagismo, que baseia- se em participação em grupos de ajuda e psicoterapia (terapia cognitivo- comportamental). Maconha: Introdução: Aproximadamente 7% da população brasileira já experimentou maconha. Entre os indivíduos que já experimentaram, 42% fizeram uso de maconha no último ano. Destes, 37% apresentam dependência à maconha. Aproximadamente 62% dos indivíduos experimentam maconha pela primeira vez antes dos 18 anos de idade. A maconha frequentemente representa a “porta de entrada” do indivíduo para o consumo de outras drogas ilícitas, como cocaína e crack. Intoxicação: O pico de ação da maconha é de 10-30 minutos e a duração de ação é de 8 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 aproximadamente 3 horas. As principais manifestações clínicas associadas à intoxicação por maconha (cannabis) são: - Hiperemia conjuntival. - Aumento de apetite. - Xerostomia. - Taquicardia. - Alterações comportamentais e psicológicas: → Aumento da sensibilidade a estímulos externos. → Sensação de lentidão do tempo. → Sensação de estar sonhando ou de não ser mais a mesma pessoa. → Julgamento comprometido. → Isolamento/retraimento social. → Ansiedade ou euforia. → Medo ou pânico. → Diminuição da capacidade de atenção e de concentração. → Perda de memória de curto prazo. → Incoordenação motora. Abstinência: As principais manifestações clínicas associadas à abstinência de maconha (cannabis) são: - Agressividade, irritabilidade ou raiva. - Ansiedade ou nervosismo. - Diminuição de apetite ou perda de peso. - Inquietação. - Humor deprimido. - Febre, calafrios, tremores, sudorese, cefaleia e/ou dor abdominal. O tratamento da síndrome de abstinência de maconha baseia-se em medidas farmacológicas, como dronabinol, gabapentina e nabiximol, e medidas não farmacológicas, como terapia cognitivo- comportamental. Dependência: A dependência à maconha (cannabis) é rara. A probabilidade do usuário de maconha 9 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 tornar-se dependente é de aproximadamente 9%. Tratamento: O tratamento da dependência de maconha baseia-se principalmente em participação em grupos de ajuda e psicoterapia (terapia cognitivo-comportamental). Eventualmente, pode-se realizar tratamento farmacológico com gabapentina. Complicações Crônicas: O uso crônico e prolongado de maconha associa-se a efeitos tóxicos no cérebro, tais como diminuição da densidade de substância cinzenta e da atividade neuronal em determinadas áreas do córtex cerebral, comprometimento de atenção, concentração, aprendizado e memória, aumento do risco de desenvolvimento de esquizofrenia e de sintomas psicóticos em indivíduos geneticamente predispostos, ativação precoce da esquizofrenia em pacientes geneticamente predispostos, aumento do risco de desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos, como ansiedade, depressão e bipolaridade, aumento do risco de suicídio e aumento do risco de uso de outras drogas. Potenciais Terapêuticos: Os principais potenciais terapêuticos do canabidiol, substância derivada da cannabis (maconha), são: - Antiemético. - Epilepsia. - Autismo. - Transtornos psicóticos. - Transtornos de ansiedade. - Depressão. - Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). - Doença de Alzheimer. - Doença de Parkinson. Cocaína: Introdução: A prevalência de uso da cocaína ao longo da vida no Brasil é de aproximadamente 3%, valores muito menores em comparação à prevalência de uso da cocaína em países desenvolvidos, como EUA e Inglaterra. A prevalência de uso de crack ao longo da vida no Brasil é de aproximadamente 0,8%. Entretanto, a dependência de cocaína e/ou de crack representa a principal causa de internação por dependência química no Brasil. A principal forma de consumo da cocaína no Brasil é o pó inalado. Mecanismo de Ação: A cocaína bloqueia a recaptação de dopamina, aumentando a concentração deste neurotransmissor na fenda sináptica de neurônios do SNC. Além disso, a cocaína também aumenta a atividade de outros neurotransmissores no SNC, a serotonina e a noradrenalina. Os principais efeitos associados ao uso da cocaína são: - Aumento do estado de vigília. - Agitação psicomotora. - Euforia. - Sensação de bem-estar e prazer. - Aumento da autoconfiança. - Aceleração do pensamento. - Taquicardia. - Taquipneia. - Hipertermia e sudorese. - Tremor de extremidades. - Espasmos musculares. - Tiques. - Midríase. A cocaína apresenta início de ação em 10-15 minutos e duração de ação de aproximadamente 45 minutos. O crack apresenta mecanismo de ação e efeitos semelhantes aos da cocaína. Entretanto, o crack apresenta início de ação em 10-15 segundos e duração de ação de aproximadamente 5 minutos, resultando em maior probabilidade de dependência e em fissura, que é a vontade incontrolável de sentir os efeitos de prazer causados pela droga. Intoxicação: As principais manifestações clínicas associadas à intoxicação por cocaína são: - Taquicardia. 10 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Arritmias cardíacas. - Hipertensão arterial. - Midríase. - Náuseas e vômitos. - Anorexia e perda de peso. - Agitação psicomotora. - Dores musculares. - Diminuição da capacidade respiratória. A administração de altas doses de cocaína pode causar overdose, caracterizada por aumento do tônus simpático devido ao bloqueio da recaptação de monoaminas no SNC. As principais manifestações clínicas da overdose de cocaína são: - Agitação psicomotora. - Arritmia cardíaca. - Angina ou IAM. - AVC. - Convulsões. Diante de um paciente que apresenta intoxicação aguda por cocaína, inicialmente, deve-se avaliar vias aéreas, sinais vitais (FC, FR e PA), nível de consciência, tamanho da pupila, temperatura e estado de hidratação do paciente. Recomenda-se realizar monitorização cardíaca contínua, avaliar oximetria de pulso, realizar ECG, medir HGT e realizar acesso venoso periférico. Deve-se oxigenar o paciente apenas se necessário (dispneia, taquipneia, diminuição da SatO2 e/ou diminuição do nível de consciência). Se houver necessidadede intubação orotraqueal, recomenda-se que não se utilize a succinilcolina como bloqueador neuromuscular devido ao risco da droga prolongar os efeitos da cocaína. Assim, se houver indicação de administrar bloqueador neuromuscular, recomenda-se o uso de rocurônio. Para a indução anestésica associada à intubação orotraqueal, pode-se utilizar benzodiazepínicos, etomidato ou propofol. Para o manejo das complicações cardiovasculares associadas à intoxicação aguda por cocaína (HAS e taquicardia), a terapia de primeira linha baseia-se em uso de benzodiazepínicos, como diazepam 5-10 mg EV, podendo repetir a dose a cada 5 minutos até a sedação do paciente. Os benzodiazepínicos apresentam a vantagem de, além de reduzir a frequência cardíaca e a pressão arterial do paciente, diminuir a agitação psicomotora do paciente. Em casos de HAS refratária ao uso de benzodiazepínicos, recomenda-se o uso de fentolamina 5-10 mg EV, podendo repetir a dose a cada 5-15 minutos. Outras alternativas são nitroglicerina EV e nitroprussiato de sódio EV. O uso de β- bloqueadores é contraindicado para o manejo das complicações cardiovasculares associadas à intoxicação aguda por cocaína. Abstinência: As principais manifestações clínicas da síndrome de abstinência de cocaína são: - Depressão. - Anedonia. - Agitação psicomotora. - Irritabilidade. - Distúrbios do sono (hipersonia). - Fissura. Efeitos Crônicos: Os principais efeitos associados ao uso crônico de cocaína são: - Psicose com delírio paranoide. - Alucinações auditivas e/ou visuais. - Ansiedade. - Depressão. - Agressividade. - Perda de peso. Tratamento: O tratamento da dependência de cocaína baseia-se em manejo dos sintomas da síndrome de abstinência e dos efeitos crônicos associados ao uso da droga (ansiedade, depressão, psicose, etc), havendo necessidade de internação compulsória em muitos casos. O tratamento da psicose cocaínica baseia-se em administração de haloperidol 5 mg VO ou IM de 6/6 horas. Além disso, recomenda-se participação em grupos de apoio e psicoterapia (terapia cognitivo- comportamental).
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