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LAISSA LOPES ROCHA RESUMO Trabalho apresentado a Profº. Danielle , na disciplina, Trabalho e Sociabilidade no Serviço Social como requisito para obtenção parcial de nota, no curso de Serviço Social da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG. CARANGOLA/MG 2021 OS SENTIDOS DO TRABALHO - Ricardo Antunes. O advento do capitalismo e o papel dos sindicatos: A sociedade capitalista encontrou em meados do século XVIII plenas condições para a sua expansão. O intenso desenvolvimento das máquinas, substituindo a produção artesanal e manufatureira, consolidou o capitalismo, que agora ingressava na fase industrial. O sindicato surge da união dos trabalhadores que visa reverter à desigualdade de forças existente na relação patrão X empregado. Os sindicatos têm como finalidade primeira impedir que os níveis salariais coloquem-se abaixo do mínimo necessário para manutenção e sobrevivência do trabalhador e sua família. Presentemente os sindicatos são instituições reconhecidas e sua ação é admitida como fato de regulamentação e fiscalização dos salários, da jornada de trabalho e da legislação social. O nascimento do sindicalismo e das lutas operárias: os trade-unions: O capitalismo iniciava um processo que ainda haveria de desenvolver, mas já trazia consigo toda uma gama de transtornos sociais, como a superexploração do trabalho, que atingia até 16 horas por dia, a exploração das mulheres e das crianças, o trabalho sem condições mínimas de salubridade, além da aglomeração da população operária em locais sem as mínimas condições de vida e habitação. Lei votada em 1824 pelo Parlamento inglês garantiu a livre associação aos operários. Antes este direito era restrito às classes dominantes. Por uma noção ampliada de classe trabalhadora. A expressão “classe que vive do trabalho”, que utilizamos nesta pesquisa, tem como primeiro objetivo conferir validade contemporânea ao conceito marxiano de classe trabalhadora. Quando tantas formulações vêm afirmando a perda da validade analítica da noção de classe, nossa designação pretende enfatizar o sentido atual da classe trabalhadora, sua forma de ser. Portanto, ao contrário dos autores que defendem o fim das classes sociais, o fim da classe trabalhadora, ou até mesmo o fim do trabalho, a expressão classe que vive do trabalho pretende dar contemporaneidade e amplitude ao ser social que trabalha à classe trabalhadora hoje, apreender sua efetividade sua processualidade e concretude. Portanto, o trabalho produtivo, onde se encontra o proletariado, no entendimento que fazemos de Marx, não se restringe ao trabalho manual direto, incorporando também formas de trabalho que são produtivas, que produzem mais-valia, mas que não são diretamente manuais. A classe que vive do trabalho engloba também os trabalhadores improdutivos, aqueles cujas formas de trabalho são utilizadas como serviço, seja para uso público ou para o capitalista, e que não se constituem como elemento diretamente produtivo, como elemento vivo do processo de valorização do capital e de criação de mais-valia. São aqueles em que, segundo Marx, o trabalho é consumido como valor de uso e não como trabalho que cria valor de troca. O trabalho improdutivo abrange um amplo leque de assalariados, desde aqueles inseridos no setor de serviços, bancos, comércio, turismo, serviços públicos etc., até aqueles que realizam atividades nas fábricas, mas não criam diretamente valor. Considerando, portanto, que todo trabalhador produtivo é assalariado e nem todo trabalhador assalariado é produtivo, uma noção contemporânea de classe trabalhadora, vista de modo ampliado, deve, em nosso entendimento, incorporar a totalidade dos trabalhadores assalariados. Na divisão sexual do trabalho, operada pelo capital dentro do espaço fabril, geralmente as atividades de concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são preenchidas pelo trabalho masculino, enquanto aquelas dotadas de menor qualificação, mais elementares e muitas vezes fundadas em trabalho intensivo, são destinadas às mulheres trabalhadoras (e, muito frequentemente também aos trabalhadores/as imigrantes e negros/as). Nas pesquisas que realiza no mundo do trabalho no Reino Unido, afirma que é visível a distinção entre os trabalhos masculino e feminino. “No que concerne à organização do trabalho, a primeira conclusão é que nos estabelecimentos dos três países o pessoal envolvido era masculino ou feminino segundo o tipo de máquinas, o tipo de trabalho e a organização do trabalho”. O trabalho manual e repetitivo era atribuído às mulheres e aquele que requeria conhecimentos técnicos era atribuído aos homens. É evidente que a ampliação do trabalho feminino no mundo produtivo das últimas décadas é parte do processo de emancipação parcial das mulheres, tanto em relação à sociedade de classes quanto às inúmeras formas de opressão masculina, que se fundamentam na tradicional divisão social e sexual do trabalho. Mas – e isso tem sido central – o capital incorpora o trabalho feminino de modo desigual e diferenciado em sua divisão social e sexual do trabalho. Vimos, com base nas pesquisas referidas, que ele faz precarizando com intensidade maior o trabalho das mulheres. Os salários, os direitos, as condições de trabalho, em suma, a precarização das condições de trabalho tem sido ainda mais intensificada quando, nos estudos sobre o mundo fabril, o olhar apreende também a dimensão de gênero. A mesma condição que molda as distintas formas de estranhamento, para uma vida desprovida de sentido no trabalho, oferece as condições para o afloramento de uma subjetividade autêntica e capaz de construir uma vida dotada de sentido. Mas a luta das mulheres por sua emancipação é também – e decisivamente – uma ação contra as formas histórico-sociais da opressão masculina. Nesse domínio, a luta feminista emancipatória é pré-capitalista, encontra vigência sob o domínio do capital; será também pós-capitalista, pois o fim da sociedade de classes não significa direta e imediatamente o fim da opressão de gênero. Os assalariados no setor de serviços, o “Terceiro Setor” e as novas formas de trabalho em domicílio. Retomemos então outras tendências que vêm caracterizando o mundo do trabalho. Veja-se, por exemplo, o caso da intensa diminuição do trabalho bancário ou da monumental privatização dos serviços públicos, com seus enormes níveis de desempregados, durante a última década. Se acrescentarmos a imbricação crescente entre mundo produtivo e setor de serviços, bem como a crescente subordinação desse último ao primeiro, o assalariamento dos trabalhadores do setor de serviços aproxima-se cada vez mais da lógica e da racionalidade do mundo produtivo, gerando uma interpenetração recíproca entre eles, entre trabalho produtivo e improdutivo. Significou um forte contingente de assalariados na nova configuração da classe trabalhadora. Aqueles com cerca de 40 anos ou mais, uma vez excluídos do trabalho dificilmente conseguem se requalificar para o reingresso. Ampliam os contigentes do chamado trabalho informal, além de aumentar ainda mais os bolsões do exército industrial de reserva. A expansão dos movimentos religiosos tem se utilizado enormemente desses segmentos de desempregados. O mundo do trabalho capitalista moderno hostiliza diretamente esses trabalhadores, em geral herdeiros de uma “cultura fordista”, de uma especialização que, por sua unilateralidade, contrasta com o operário polivalente e multifuncional requerido pela era toyotista. Paralelamente a esta exclusão, há uma inclusão precoce e criminosa de crianças no mercado de trabalho, não só nos países asiáticos, latino-americanos, mas também em vários países do centro. O crescimento do "terceiro setor" decorre da retração do mercado de trabalho industrial e também da redução que começa a sentir o setor de serviços, em decorrência do desemprego estrutural (ver, por exemplo, Dickens, 1997: 1- 4). Em verdade, ele é consequência da crise estrutural do capital,da sua lógica destrutiva vigente, bem como dos mecanismos utilizados pela reestruturação produtiva do capital visando reduzir trabalho vivo e ampliar trabalho morto. Alternativa limitadíssima para repor as perdas de postos de trabalho causadas pela vigência da lógica destrutiva da sociedade contemporânea, o "terceiro setor" tem, entretanto, merecido reflexão em diversos países. Nesse sentido, em nosso entendimento o "Terceiro Setor" não é uma alternativa efetiva e duradoura ao mercado de trabalho capitalista, mas cumpre um papel de funcionalidade ao incorporar parcelas de trabalhadores desempregados pelo capital. Uma coisa é presenciar nas diversas formas de atividade próprias da economia solidária e do "Terceiro Setor" um mecanismo de incorporação de homens e mulheres que foram expulsos do mercado de trabalho e das relações de emprego assalariado e passaram a desenvolver atividades não lucrativas, não mercantis, reinvestindo nas limitadas (mas necessárias) formas de sociabilidade que o trabalho possibilita na sociedade atual. Esses seres sociais veem-se, então, não como desempregados, excluídos, mas como realizando atividades efetivas, dotadas de algum sentido social. Para finalizar esse desenho das tendências que vêm caracterizando o mundo do trabalho devemos mencionar também a expansão do trabalho em domicílio, propiciada pela desconcentração do processo produtivo, pela expansão de pequenas e médias unidades produtivas, de que é exemplo a "Terceira Itália". Com a introdução da telemática, a expansão das formas de flexibilização (e precarização) do trabalho, o avanço da horizontalização do capital produtivo e a necessidade de atender a um mercado mais "individualizado", o trabalho em domicílio vem presenciando formas de expansão em várias partes do mundo. Ela abre caminho para a fragmentação de processos de trabalho e para novas formas de "trabalho em domicílio" (Chesnais, 1999: 28). No caso do "trabalho em domicílio", sua utilização não pode abranger inúmeros setores produtivos, como a empresa automobilística, a siderurgia, a petroquímica etc. Mas onde ela tem proliferado, seu vínculo com o sistema produtivo capitalista é muito mais evidente, sua subordinação ao capital é direta, sendo um mecanismo de reintrodução de formas pretéritas de trabalho, como o trabalho por peça, de que falou Marx, o qual o capitalismo da era da mundialização está recuperando em grande escala. Basta lembrar o caso da monumental expansão da Benetton, da Nike, em tantas partes do mundo, dentre as inúmeras experiências de trabalho realizado no espaço domiciliar, doméstico ou em pequenas unidades. É mister acrescentar que o trabalho produtivo em domicílio, do qual se utilizam essas empresas, mescla-se com o trabalho reprodutivo doméstico, do qual falamos anteriormente, fazendo aflorar novamente a importância do trabalho feminino. Transnacionalização do capital e mundo do trabalho. Essa conformação mais complexificada da classe trabalhadora assume, no contexto do capitalismo atual, uma dimensão decisiva, dada pelo caráter transnacionalizado do capital e de seu sistema produtivo. Sua configuração local, regional e nacional se amplia em laços e conexões na cadeia produtiva, que é cada vez mais internacionalizada. Isso porque "as formas singulares e particulares de trabalho são subsumidas pelo trabalho social, geral e abstrato que se expressa no âmbito do capitalismo mundial, realizando-se aí. Da mesma maneira que as mais diferentes formas singulares e particulares do capital são levadas a subsumir-se ao capital em geral, que se expressa no âmbito do mercado mundial, algo semelhante ocorre com as mais diversas formas e significados do trabalho" (Ianni, 1996: 169). Assim como o capital é um sistema global, o mundo do trabalho e seus desafios são também cada vez mais transnacionais, embora a internacionalização da cadeia produtiva não tenha, até o presente, gerada uma resposta internacional por parte da classe trabalhadora, que ainda se mantém predominantemente em sua estruturação nacional, o que é um limite enorme para a ação dos trabalhadores. Essa nova conformação produtiva do capital desafia, portanto, crescentemente o mundo do trabalho, uma vez que o centro da confrontação social contemporânea é dado pela contradição entre o capital social total e a totalidade do trabalho (Mészáros,1995). Esse universo ampliado, complexificado e fragmentado do mundo do trabalho manifesta-se, portato: 1) dentro de um grupo particular ou segmento do trabalho; 2) entre diferentes grupos de trabalhadores pertencentes à mesma comunidade nacional; 3) entre conjuntos de trabalhadores de diversas nações, opostos entre si no contexto da competição capitalista internacional (...); 4) [entre] a força de trabalho dos países capitalistas avançados – relativamente beneficiados pela divisão capitalista global do trabalho – em oposição à força de trabalho relativamente mais explorada do "Terceiro Mundo"; 5) [entre] o trabalhador empregado, separado e oposto aos interesses objetivamente diferenciados – e geralmente política e organizacionalmente não articulados – e os "não assalariados" ou desempregados, inclusive os crescentemente vitimados pela "segunda revolução industrial" (Mészáros; 1995: 929). Esse desenho compósito, diverso e heterogêneo da classe que vive do trabalho me possibilita, na parte seguinte deste livro, tecer algumas considerações de caráter acentuadamente analítico. Tratarei das formas atuais da teoria do valor, bem como das distintas modalidades de trabalho existentes. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANTUNES, Ricardo C. O sentidos do trabalho. São Paulo. Editora Boitempo. Ano 2009.
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