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Tópicos em Ciências Sociais Capitalismo e o Mundo do Trabalho Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Sivio Pinto Ferreira Junior Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota 5 Leia, atentamente, o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer a importância do trabalho como centro de discussões em ciências sociais. Você também encontrará, nesta Unidade, uma atividade composta por questões de múltipla escolha, relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater questões no fórum de discussão. É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto. · Conhecer os reflexos do capitalismo no mundo do trabalho por meio de uma análise histórica e perspectiva crítica. Capitalismo e o Mundo do Trabalho · O Trabalho e a Vida Econômica · A Consolidação do Capital e o Impacto no Mundo do Trabalho · O que é trabalho? · A Divisão do Trabalho · O Taylorismo e o Fordismo · As Mulheres e o Trabalho · O Desemprego · O Declínio da Importância do Trabalho 6 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho Contextualização Para iniciar esta Unidade, vamos partir da música do grupo Legião Urbana: “Música de trabalho”. Para tanto, compartilharemos abaixo a letra dessa canção para que você reflita sobre a questão do trabalho, e, consequentemente, a importância que ele tem na vida das pessoas. Música de Trabalho Legião Urbana Sem trabalho eu não sou nada Não tenho dignidade Não sinto o meu valor Não tenho identidade Mas o que eu tenho É só um emprego E um salário miserável Eu tenho o meu ofício Que me cansa de verdade Tem gente que não tem nada E outros que tem mais do que precisam Tem gente que não quer saber de trabalhar Mas quando chega o fim do dia Eu só penso em descansar E voltar pra casa pros teus braços Quem sabe esquecer um pouco De todo o meu cansaço Nossa vida não é boa E nem podemos reclamar Sei que existe injustiça Eu sei o que acontece Tenho medo da polícia Eu sei o que acontece Se você não segue as ordens Se você não obedece E não suporta o sofrimento Está destinado a miséria Mas isso eu não aceito Eu sei o que acontece Mas isso eu não aceito Eu sei o que acontece Quando chega o fim do dia Eu só penso em descansar E voltar pra casa pros teus braços Quem sabe esquecer um pouco Do pouco que não temos Quem sabe esquecer um pouco De tudo que não sabemos Disponível em: http://letras.mus.br/legiao-urbana/46956/. Acesso em 02/12/2014 Pergunte-se: Por que o trabalho é importante para a dignidade do cidadão? O trabalho reflete a desigualdade social? Como? Quais as principais queixas do trabalhador brasileiro? http://letras.mus.br/legiao-urbana/46956/ 7 O Trabalho e a Vida Econômica Assim como em diversos aspectos da sociedade, o trabalho e a vida econômica conheceram diversas transformações aceleradas pelo capitalismo. Abordaremos adiante alguns tópicos principais como: a divisão do trabalho, a transformação do trabalho, as mulheres e o trabalho, o desemprego, a precarização do trabalho e o declínio da importância do trabalho, cujas análises são baseadas em estudos realizados por especialistas sobre esses temas. A Consolidação do Capital e o Impacto no Mundo do Trabalho Desde o século XVI, com a expansão das navegações e a reconfiguração geopolítica dada pelas colônias europeias na américa, Ásia e África, que o trabalho vem se adaptando à hegemonia do sistema econômico capitalista. Na fase pré-colonial,o trabalho coletivo já era o pilar da produção de sociedades tribais. Com a expansão comercial e o surgimento de umaambiciosa burguesia, o trabalho, durante a colonização, se dará por meio da mão de obra escrava. Na América Latina, por exemplo, as principais formas de trabalho existentes durante o período colonial desenvolveram-se entre os séculos XVI e XIX. De início, o índio concedia sua força de trabalho em troca de subsistência garantida pelos colonos ibéricos, num sistema chamado de encomiendas. O trabalho escravo voltava-se para a extração de metais preciosos como o ouro e a prata. Logo, não só metais preciosos, especiarias e produtos agrícolas eram controlados pelo comércio burguês europeu, como o tráfico humano passou a ser também um grande negócio. Segundo Ricardo Antunes, “Foi desse intercâmbio mercantil que surgiu o escravismo colonial, modalidade de trabalho que se desenvolveu tanto nos territórios dominados pelos colonizadores portugueses quanto nas áreas controladas pelos espanhóis – como o Caribe -, voltadas prioritariamente para a produção agrícola (a plantation) e o engenho produtor de açúcar, comercializado no mercado europeu.” (2011, p. 18). Desta forma, foi a diversificação das atividades produtivas e a constituição de um mercado interno das promissoras colônias, que criaram as condições para, mais tarde, quando se tornassem independentes, fosse implantado o trabalho assalariado. No final do século XVIII, na Europa, e início do século XIX, com a Revolução industrial, o mundo do trabalho passaria por profundas transformações. Desde então, as relações sociais, políticas e o sistema econômico se remodelaram à luz da sociedade capitalista, liberal e industrializada que influenciaria o mundo todo. Com a proibição do tráfico de escravos no século XIX, a mão de obra passa a ser assalariada. Inicia-se um processo migratório de trabalhadores europeus que sonhavam com a possibilidade de possuírem propriedade privada e condições melhores de sobrevivência nos países que surgiam independentes de seus colonizadores. 8 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho Pequena moenda portátil. Johann Rugendas, Século XIX. Fonte: Johann Rugendas, Século XIX As ex-colônias, desde então, passam a buscar meios de produção para alavancar suas economias, passando da monocultura de produtos como o café, no exemplo brasileiro, para o processo de industrialização que se tornará urgente, principalmente, nas primeiras décadas do século XX. O século XX inicia-se tumultuado. Então,em 1914, explode a Primeira Guerra Mundial motivada pela competitividade de emergentes potências capitalistas europeias e os EUA. A Rússia, em 1917, realiza a revolução socialista, transformando-se na URSS. A primeira grande guerra terminará somente em 1918, deixando um rastro de milhares de mortos. Logo, os países caminham para uma reestruturação, produz-se em grande escala, estimula-se o consumo no mercado interno e agrava-se a competitividade no mercado de exportação. A alta e acelerada produção e o descompassado ritmo de consumo culminarão na mais grave e longa crise da história: a crise da bolsa de Nova Iorque de 1929. Desde então, com o trabalho assalariado, as relações sociais se darão dicotomicamente entre burgueses e proletários no território dos grandes centros urbanos que começam a proliferar em torno das fabricas. Antes de discutirmos aqui tais transformações no mundo do trabalho acarretadas pela industrialização, vamos analisar a natureza do trabalho. O que é trabalho? Em todas as culturas, o trabalho é a base da economia. Além disso, é também a atividade que ocupa a maior parte da vida da maioria dos indivíduos. Na maioria das vezes, associamos a palavra ‘trabalho’ à escravidão, ou seja, um conjunto de tarefas que pretendemos minimizar e escapar. No entanto, aquelas pessoas que não conseguem trabalho se veem completamente desorientadas e perdidas; portanto, trabalho é mais do que escravidão. 9 Nas sociedades modernas, o trabalho, remunerado ou não, é o elemento estruturante na constituição psicológica e emocional das pessoas e no ciclo de seus relacionamentos sociais. Estar ou não trabalhando é elemento definidor de valor social nos dias de hoje. Podemos definir trabalho como a realização das tarefas que dispendem esforço mental e físico, cujo objetivo é produzir bens e serviços para satisfazeras necessidades humanas. O trabalho deve ser recompensado, ora pela satisfação de produzir algo para si ou alguém, ora pela remuneração ou salário regular. Os sistemas de produção pré-modernos, baseados sobretudo na agricultura, dependiam do trabalho da maioria das pessoas que habitavam o campo. No entanto, com a indústria moderna, só uma pequena parcela permaneceu no campo e o próprio cultivo da terra se tornou industrializado. A indústria moderna se alimenta de uma constante transformação caracterizada pelo desenvolvimento tecnológico. Por tecnologia, entende-se o uso da ciência na invenção e desenvolvimento de máquinas para atingir maior produtividade (GIDDENS, 2004, pg. 378). O avanço da ciência para o desenvolvimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento alavancou a economia de empresas multinacionais e de países centrais como EUA, Inglaterra, França, Alemanha e Japão. Enquanto as grandes empresas cresciam como nunca, o trabalho foi sendo automatizado, ou seja, as máquinas foram, aos poucos, substituindo a mão de obra humana, acarretando desigualdades sociais, desemprego, enfraquecimento das organizações sindicais, greves e lutas trabalhistas que perduraram por todo o século XX, arrastando-se para o século XXI. A Divisão do Trabalho As sociedades tradicionais se organizavam para trabalhar em detrimento de suas necessidades de sobrevivência. Os ofícios eram herdados pelas gerações seguintes e não ultrapassavam mais de 20 tipos de ocupação. Desde o oficio de ferreiro até os trabalhos domésticos, imaginemos que a forma singela de sustento de muitas famílias era proveniente de ocupações, em que as pessoas se especializavam durante muito tempo até adquirirem o domínio perfeito da técnica do ‘saber fazer’. Normalmente, o trabalhador executava todas as fases do processo de produção, do princípio ao fim. Com a produção industrial moderna, muitos dos ofícios tradicionais desapareceram, sendo substituídos por especialistas que operam parcialmente, dependendo do trabalho de outras pessoas para se chegar ao resultado final. O que se quer chamar a atenção aqui é que o trabalho, antes realizado por um profundo conhecedor do assunto, quando substituído pelos modernos meios de produção, perde-se tal conhecimento que passa a ser dominado de forma fragmentada por um grupo de pessoas que formam uma equipe de trabalho. 10 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho É também importante ressaltar que o local de produção também inspirou mudanças. Se antes se trabalhava no núcleo de uma família, envolvendo praticamente a todos os membros no recinto de um lar, aos poucos, o trabalhador foi distanciando-se de casa para trabalhar para as indústrias, ou seja, as novas formas de produção alavancaram profundas mudanças estruturais na própria organização social, desde o núcleo familiar, contribuindo para a separação entre o trabalho e a casa. As pessoas que foram procurar emprego nas fábricas seriam treinadas para executar uma tarefa específica em troca de um salário. O desempenho do trabalhador passa a ser, então, controlado pelos dirigentes das fábricas a fim de melhorar a produtividade e disciplinar o trabalhador. No sistema moderno de trabalho, segundo recenseamento britânico, registrou-se mais de 20.000 tipos de ocupações distintas. O contraste entre a divisão do trabalho nas sociedades tradicionais e nas sociedades modernas é verdadeiramente extraordinário. Se as sociedades tradicionais eram autossuficientes, as sociedades modernas são caraterizadas pela interdependência econômica. Isso quer dizer que as sociedades tradicionais eram capacitadas para produzir seus próprios alimentos, vestuário e demais bens essenciais, enquanto que a maioria das pessoas nas sociedades modernas não produz os alimentos de que precisa, nem as habitações, em que vive ou os bens materiais que consome. Marx previa que o trabalho remunerado iria desembocar na alienação do trabalhador. Uma vez empregado, o trabalhador perderia o controle sobre seu trabalho desempenhando tarefas rotineiras, repetitivas e monótonas movidas pelo fetichismo da mercadoria, ou seja, pelo desejo do consumo, despojando o trabalhador de seu valor criativo. Em Síntese Sociedades tradicionais: são caracterizadas pelo envolvimento do grupo no objetivo de satisfazer as necessidades de todos. O trabalho é realizado para satisfazer as necessidades básicas de sobrevivência. O trabalhador é profundo conhecedor de suas técnicas e domina o seu trabalho. Sociedades modernas: são caracterizadas pela fragmentação do grupo, em que o objetivo do trabalho está no recebimento de um salário. O trabalho é realizado para produzir e gerar lucro para as empresas sem, nem mesmo uma remuneração justa. O trabalhador é especialista em um tipo de trabalho e desconhece o todo, pois depende do trabalho dos demais para se chegar a um resultado final. 11 O Taylorismo e o Fordismo Adam Smith em sua obra, A riqueza das nações, apresenta uma descrição da divisão do trabalho numa fábrica de alfinetes. O autor, um dos fundadores da economia moderna, analisa o cotidiano dos trabalhadores e compara: o trabalhador que produz alfinetes sozinho chegaria a produzir no máximo 20 alfinetes por dia, já o trabalhador que tem suas tarefas divididas com outros dez, efetuando trabalhos especializados, poderiam produzir juntos até 48.000 alfinetes ao dia. Dessa forma, comprova-se que a divisão do trabalho aumentou a produção 240 vezes mais com o trabalho em conjunto em detrimento do trabalho solitário. Mais tarde, Frederick W. Taylor aplicou a matemática de Smith aliada ao controle do tempo de produção. Assim, a divisão do trabalho + o tempo cronometrado, aumentaria em larga escala a produção e o lucro das empresas. Já o salário do trabalhador não modifica, quando muito fica defasado. Ainda que passasse a maior parte do tempo dentro de uma fábrica, o soldo de um operário mal dava para alimentar a família que, quase sempre, era bastante numerosa. Já Henry Ford percebeu que a larga produção em série necessitava de mercados de massa. Ford projetou, em 1908, sua primeira fábrica para produzir apenas um produto, o automóvel Ford modelo T. O que mais tarde ficou conhecido como fordismo, diz respeito à construção de uma linha de montagem móvel. Cada trabalhador tinha uma tarefa específica. Por exemplo, encaixar maçanetas das portas do lado esquerdo, enquanto o carro passava ao longo da linha de produção. O Ford T foi produzido até 1929 e chegou a ser fabricado mais de quinze milhões de carros. Vejamos, no quadro abaixo, as principais características dos métodos de organização do trabalho: Taylorismo Fordismo · Criado pelo americano Frederick Winslow Taylor. · Objetivo: atingir a máxima eficiência no processo produtivo com maior economia de tempo. · Consistia na sistematização e padronização do trabalho, definindo precisamente cada uma das etapas da produção a ser realizada no tempo cronometrado para elas. · Criado pelo americano Henry Ford. · Objetivo: fabricação na linha de montagem por meio do trabalho especializado. · Produção em larga escala para atender um mercado de consumo de massa. O fordismo e o taylorismo adaptaram o trabalho humano ao da máquina, transformando o homem em uma engrenagem a mais que completa a linha de montagem. A permanência do operário na fábrica foi substituída pela rotatividade frequente. O modelo de Henry Ford foi fundamental à instalação de unidades de produção em diversas partes do mundo, onde a fabricação de mercadorias baseada na linha de montagem em etapas não exigia, em princípio, qualificação de boa parte da mão de obra. 12 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho O advento da produtividade, com a racionalização do trabalho proveniente do fordismo e do taylorismo, revelou-se surpreendente, satisfazendo os anseios e as necessidades das empresas capitalistas de aumentarem também os lucros. As Mulheres e o Trabalho As mulheres, durante muito tempo, ficavamencarregadas de administrar o lar. Com o desenvolvimento industrial e a modernização econômica, houve uma separação da vida no lar e no trabalho. Isso se deu pelo fato de que as empresas contratavam, preferencialmente, trabalhadores individuais e não famílias. Mulheres trabalhando numa fábrica de armamentos durante a Primeira Guerra Mundial Fonte: Horace Nicholls/Wikimedia Commons Enquanto a grande maioria dos trabalhadores no início da revolução industrial era do sexo masculino, a participação das mulheres aumentou de forma contínua. De início, executando nas fábricas de tecelagem trabalhos especializados que exigiam habilidades femininas, as mulheres, com a delicadeza das mãos, dedos finos, podiam manusear melhor do que os homens as maquinarias da indústria têxtil, assim como também eram admitidas as crianças para trabalhar, muitas vezes, até 14 horas por dia a um salário muito inferior do que recebiam os homens. Uma das maiores causas da entrada da mulher no mercado de trabalho foi a falta de mão de obra durante a Primeira Guerra Mundial. Enquanto os seus maridos e filhos iam à guerra, as mulheres substituíram o trabalhador masculino nas fábricas de praticamente todos os setores. Com o fim da guerra, os homens ocuparam de novo esses empregos, mas já havia se quebrado o padrão estabelecido de trabalho masculino e a mulher, gradativamente, foi sendo absorvida como mão de obra pela indústria. Nos anos que ocorreram a Segunda Guerra mundial, o quadro havia mudado drasticamente, as mulheres já eram 29% da força de trabalho na Grã-Bretanha. Muitas foram as razões para o enfraquecimento da desigualdade entre os gêneros na atividade econômica. Além da necessidade da mão de obra feminina em momentos de guerra como citamos acima, houve também mudanças na natureza das tarefas tradicionalmente associadas às mulheres. A mecanização de muitas tarefas domesticas ajudou a reduzir o volume de tempo necessário 13 à manutenção do lar. Uma série de eletrodomésticos cada vez mais acessíveis ao consumidor de massa, tornaram menos pesada a carga de trabalho doméstico. Outro fator que influenciou a consolidação do trabalho feminino na economia produtiva foi o fato de, cada vez mais, as mulheres terem menos filhos e mais tarde. A redução da família teve como consequência a diminuição do tempo que a mulher dedicava à família e os filhos. O aumento do desemprego masculino e o custo de vida crescente durante todo o século XX, também, levaram a mulher ao trabalho para agregar renda à família. Muitas vezes, a mulher sustentava a casa, enquanto o marido desempregado ia em busca de trabalho. Há uma série de fatores que, aos poucos, foram incorporando a mulher ao mercado de trabalho, como o desejo da mulher em realizar uma satisfação pessoal e concretização de sua vontade como ocorreu em peso a partir dos anos 60 e 70. A vida independente da mulher não é hoje tabu, ainda que haja desigualdades em alguns setores quanto a salário e ocupação, essas barreiras foram decrescendo. Vale ressaltar que a consolidação da mulher no mercado de trabalho se deu gradativamente e de acordo com as circunstâncias históricas e, muitas vezes, por lutas sociais e a permanente busca de garantias legais para diminuir ainda mais as disparidades de salários e ocupações em algumas esferas. O Desemprego Até os anos trinta do século XX, o pleno emprego era parte do cenário das sociedades industrializadas ou em vias de industrialização. Aos poucos, as inovações tecnológicas foram substituindo o trabalhador pela máquina, ou seja, a automação do trabalho retirou do mercado e ainda o faz, milhares de postos de trabalho. Fonte: iStock/Getty Images Um outro fator que contribui para o aumento do desemprego é o alto custo do trabalhador, respaldado por legislações trabalhistas que, aos olhos dos capitalistas, oneram o custo de produção. As indústrias preferem investir em tecnologia para aumentar a produção e reduzir o custo. O trabalhador está ficando caro para as empresas e, quando podem, estas inovam seus meios de produção que, paulatinamente, substituem o trabalho humano. Desde a crise de 1929, o desemprego tem sido um dos grandes fantasmas da estrutura de vida social e das economias. Para John Maynard Keynes, o desemprego seria resultado da falta de poder de compra de bens de consumo, reduzindo a produção e, consequentemente, a procura de mão de obra. Para 14 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho Keynes, o estado deveria intervir na criação de novos postos de trabalho. Segundo Giddens, “O compromisso com o pleno emprego tornou-se parte da política governamental praticamente em todas as sociedades ocidentais. Até os anos 70, estas políticas pareciam ter sucesso, e o crescimento econômico foi mais ou menos continuo. Durante os anos 70 e 80, os índices de desemprego dispararam em muitos países, e o Keynesianismo foi abandonado, em grande parte, como meio de regulação econômica” (2004, pg. 410). O neoliberalismo, implementado pelos governos Reagan nos EUA e Margaret Thatcher na Grã-Bretanha, dimensionou a economia à luz do livre mercado e das diretrizes dadas pelas grandes empresas aos rumos da economia. Do final dos anos 80 e durante os anos 90, o neoliberalismo trouxe uma política de privatização de empresas, redução de direitos trabalhistas, drástica redução de postos de trabalho e defasagem salarial. Há uma série de estudos sobre os efeitos emocionais ocasionados pelo desemprego. Os indivíduos vivem um sentimento de choque, baixa estima, depressão e desvalorização social. O desempregado se sente humilhado nessa condição; portanto, sociedades que apresentam índices elevados de desemprego alavancam uma desestruturação social. A Precarização do Trabalho A precarização do trabalho, a que nos referimos aqui, diz respeitoàs condições de trabalho decorrentes da economia de transição baseada na indústria para uma economia fundamentada nos serviços. A tecnologia da informação foi fator também decorrente das mudanças no trabalho, ora reduzindo empregos, ora criando novas atividades de trabalho. Segundo Anthony Giddens, os trabalhadores, em diversos tipos de ocupações, vivem hoje a precarização do trabalho, um sentimento de receio e incerteza a respeito da estabilidade no emprego e do futuro da sua posição e do seu papel no local de trabalho (2004, pg. 413). A informatização fez com que muitos funcionários públicos, por exemplo, perdessem postos de trabalho. As crises econômicas, privatizações, fusões de empresas, alta competitividade, etc., agravaram o quadro. São características da precarização do trabalho: · substituição de empregos por novas tecnologias; · mudanças constantes e fim da rotina no trabalho; · instabilidade no emprego; · insegurança no futuro profissional; · fusões de empresas e redução de postos de trabalho; · empregos precários para quem não tem qualificação; e · fim da ideia ‘de emprego para toda a vida’. 15 Fonte: iStock/Getty Images A precarização do trabalho não é um fenômeno novo; no entanto, vem acontecendo em maior velocidade, principalmente, a partir dos anos 80, e atingindo, também, um número maior de trabalhadores à medida que as empresas foram se reestruturando e se organizando de acordo com as demandas do mercado. O Declínio da Importância do Trabalho Há especialistas que afirmam que, no futuro, o trabalho assalariado terá um papel cada vez menos importante na vida das pessoas. Ao contrário do que Marx observou a respeito de que no futuro cada vez mais pessoas pertenceriam à classe trabalhadora, conduzindo a sociedade a uma revolução que originaria uma sociedade mais humana, o que vem ocorrendo é redução de postos de trabalho na indústria, terceirização do trabalho e crescente desemprego. Em vez da classe trabalhadora tornar-se o maior grupo da sociedade, hoje, os trabalhadores manuais são minoria. As indústrias têm, cada vez mais, substituído postos de trabalho pela automação. A expansão tecnológicatende a diminuir, ainda mais, os postos de emprego nos próximos anos agravando o quadro. Ainda que novas atividades profissionais surjam com as novas tecnologias, não alcançam o número de postos de trabalho daqueles que são substituídos pela máquina. Para as empresas, é mais lucrativo investir em novas tecnologias e aprimorar a produção, ofertando produtos e serviços de qualidade, do que manter postos de trabalho, render-se à pressão do trabalhador por aumentos de salários, melhores condições de trabalho, jornada justa, etc., além de encargos trabalhistas e a submissão à legislação protecionista que as grandes empresas entendem estar sujeitas. O desafio dos estados vem sendo minimizar os impactos da nova estrutura organizacional do trabalho, que, como vimos, vem reduzindo o número de empregos, porém a economia precisa ser estimulada pelo consumo. Como consumir sem renda? Essa é a grande questão e o grande desafio das economias e políticas governamentais quanto ao impacto neoliberal na sociedade globalizada. 16 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho Considerações Finais O trabalho é um dos temas centrais dos estudos em ciências sociais. Esta unidade apresentou o percurso do trabalho desde a escravidão durante o período de colonização até a automação e inovações tecnológicas dos dias atuais. Verificamos que o trabalho assalariado teve impulso no início do século XX com a industrialização e, aos poucos, incorporou a mulher ao mercado de trabalho, principalmente, pelas necessidades de mão de obra durante as Guerras. Além disso, a industrialização, modernização e a economia liberal capitalista exigiu a produção para o mercado de massa com os métodos taylorista e fordista. Logo, o trabalhador assalariado seria substituído pela automação. Assim, o neoliberalismo, com a privatização das empresas, estimulo à competitividade, terceirização do trabalho e enfraquecimento dos sindicatos, reestruturaria o sistema organizacional das corporações e o desemprego se agiganta como um fantasma que assombra os países do mundo todo no presente século. 17 Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, segue sugestão de leituras: Explore · Paul Singer – Globalização e desemprego http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572440936. Acesso em 02/12/14. · Introdução à sociologia http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508114740. Acesso em 02/12/14. · Até quando? Ensaios sobre dilemas da atualidade http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788520426524. Acesso em 02/12/14. · Adam Smith – A mão invisível http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788563560698. Acesso em 02/12/14. Vale salientar que todas as sugestões propostas enriquecerão sua compreensão sobre o trabalho como tema de estudo em ciências sociais. Por isso, não deixe de acessá-las. http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572440936 http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508114740 http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788520426524 http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788563560698 18 Unidade: Capitalismo e o Mundo do Trabalho Referências ANTUNES, Ricardo. O continente do labor. São Paulo: Boitempo, 2011. CANCLINI, Nestor. A globalização imaginada. São Paulo: ILUMINURAS, 2003. CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Editorial da Fundação Caulouste Gulbenkian, 2004. HARVEY, David. A Justiça social e a cidade. São Paulo: HUCITEC, 1980. 19 Anotações
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