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CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo - Versão para impressão - Área de Legislação

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PARECER Órgão: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Número: 169223 Data Emissão: 2020
Ementa: Exame de corpo de delito. Médico plantonista. Nomeação oficial. Medida excepcional. Possibilidade de escusa por parte do médico.
Consulta nº 169.223/19
Assunto: Vítimas de violência sexual. Coleta de material pelos médicos do SUS.
Relatora: Dra. Camila Kitazawa Cortez - OAB/SP 247.402 - Advogada do Departamento Jurídico.
Parecer subscrito pela Conselheira Maria Alice Saccani Scardoelli, Diretora Secretária.
Ementa: Exame de corpo de delito. Médico plantonista. Nomeação oficial. Medida excepcional.
Possibilidade de escusa por parte do médico.
Trata-se, em apertada síntese, de Consulta formulada pela consulente, Dra. D. M. G., que
questiona ao CREMESP:
1. É lícito ao médico do SUS, que atua na função de médico assistente, coletar amostras que não
tem por finalidade diagnóstico e tratamento, mas sim a coleta de vestígios de provas de crime?
2. Existe algum impedimento ético-legal ao médico assistente que coleta material em vítimas de
violência sexual, nos hospitais do SUS quando prestam assistência às vítimas?
3. A coleta de material pelos profissionais do SUS não incorre em usurpação de função pública?
PARECER
O CREMESP já se manifestou por diversas vezes acerca do tema, sempre no sentido da
impossibilidade de médicos que não sejam peritos realizarem exames de corpo de delito, bem
como elaborarem os respectivos laudos (Consulta CREMESP 31.172/10 e Consulta CREMESP
83.601/09).
O exame de corpo de delito é atribuição dos peritos oficiais do Instituto Médico Legal, a princípio.
O Código de Processo Penal, no entanto, possibilita a realização do exame de corpo de delito por
duas pessoas idôneas, com diploma de curso superior na área específica, na hipótese de não
haver peritos oficiais (artigo 159, CPP), a saber:
Art. 159.  O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador
de diploma de curso superior.
§ 1º  Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame.
O mesmo Codex, ao dispor sobre os peritos, estabelece:
Art. 275.  O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.
(...)
Art. 277.  O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de
cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
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O que se depreende dos dispositivos destacados é que o médico assistencial poderá exercer a
função de médico perito, desde que seja formalmente nomeado para a função. Este também é o
entendimento exarado na Consulta  CREMESP nº 197.420/14:
"Os   médicos   plantonistas   só   deverão   realizar os   exames   de   corpo   de   delito   após suas
 nomeações  oficiais  pela  autoridade  pertinente, conforme  preconizam  as  normas  do  CPP.  As
 nomeações  deverão  sempre  ser   lavradas  no  ato  da  nomeação  do  perito  e  anteceder  a
 realização  do  exame,  de  forma   individual  (uma  nomeação  e  um  compromisso   legal  para
 cada  exame).  As  nomeações  dos  peritos "ad hoc" deverão ser sempre em número de dois (dois
médicos fora da escala de plantão do dia).  O  desrespeito  às  normas  jurídicas  (CPP  -  Art.  159,
§s   1º   e   2º;   Art.   179)   torna inútil, ineficaz e sem valor probatório a perícia realizada e a
responsabilidade compete à autoridade  nomeante,  podendo,  inclusive,  eventualmente  configurar
 prova  obtida  de maneira ilegal".
Certo é, porém, que o exame de corpo de delito e a perícia demandam conhecimentos
específicos que, por vezes, alguns profissionais médicos não detêm. Trata-se de especialidade
médica (Medicina Legal e Perícia Médica) regularmente prevista na Resolução CFM 1.973/2011.
Do ponto de vista ético-profissional, portanto, se o médico não se sentir apto a praticar qualquer
ato médico, deve recusar-se a fazê-lo. Este é o entendimento extraído do disposto no Capítulo I,
VII do Código de Ética Médica , que claramente consigna:
Capítulo I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
(...)
VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que
contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de
ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer
danos à saúde do paciente.
A Consulta CREMESP 197.420/14 também prevê a possibilidade de escusa:
"Os peritos nomeados poderão ainda se escusar ou se declarar impedidos em  realizar a perícias,
em cumprimento às normas éticas (Capítulo I, incisos VII e VIII; Capitulo II, inciso IX; Capítulo IX,
Artigo 73; Capítulo  XI,  Artigos  93  e  98  (parágrafo  único),  assim  como  às  normas  legais  (CPP
 - Arts. 254, 255, 275, 277, 279, 280)".
É de se ressaltar que o Instituto Médico Legal (IML), órgão responsável pela elaboração dos
exames de corpo de delito, possui competência estadual, de modo que a ausência de médico
legista oficial no município não justifica a atuação de peritos não oficiais, sendo possível o
encaminhamento dos casos ao IML mais próximo.
Outro argumento relevante para afastar a atuação dos médicos plantonistas, não especialistas
em Medicina Legal e Perícia Médica, é o estabelecimento de relação médico-paciente que se dá
quando realizado o atendimento em hospital. 
Neste sentido, é expresso o artigo 93 do Código de Ética Médica, Resolução CFM 2.217/18:
Capítulo XI
AUDITORIA E PERÍCIA MÉDICA
É vedado ao médico:
Art. 93. Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou de qualquer outra com
a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho ou de empresa em que atue ou tenha
atuado."
Deste modo, seja pela necessária especialização para a elaboração de um trabalho adequado (o
que deve ser individualmente aferido pelo próprio médico), seja pela configuração de relação
médico-paciente que afasta a regularidade de elaboração de exame de corpo de delito/perícia, a
realização de exame de corpo de delito pelo médico assistencial deve ser medida excepcional e
deve observar os requisitos ora apresentados, sendo direito do médico escusar-se desta
atribuição, devendo comunicar seu superior imediatamente.
Isto posto, passamos a responder pontualmente às dúvidas ora apresentadas:
1. É lícito ao médico do SUS, que atua na função de médico assistente, coletar amostras que não
tem por finalidade diagnóstico e tratamento, mas sim a coleta de vestígios de provas de crime?
Resposta: Não, conforme discorrido acima.
2. Existe algum impedimento ético-legal ao médico assistente que coleta material em vítimas de
violência sexual, nos hospitais do SUS quando prestam assistência às vítimas?
Resposta: Sim.
3. A coleta de material pelos profissionais do SUS não incorre em usurpação de função pública?
Resposta: Prejudicado.
Este é o nosso parecer, s.m.j.
Dra. Camila Kitazawa Cortez - OAB/SP 247.402
Departamento Jurídico - CREMESP
APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA DE CONSULTAS, REALIZADA EM 28.02.2020.
HOMOLOGADO NA 4.940ª  REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM 05.03.2020.
 
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