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Rebeca Woset Existem dois grandes grupos de doenças circulatórias: as enfermidades congênitas e as adquiridas, sendo estas as mais comuns. As enfermidades circulatórias primárias, por sua vez, podem ser congênitas ou adquiridas. Nomenclatura básica: Pré-carga: Volemia Pós-carga: Trabalho DC= Quantidade de sangue ejetada pelo coração para circulação REVISÃO ANATOMOFISIOLÓGICA DO SISTEMA CIRCULATÓRIO Principais funções do sistema circulatório. • Coração: bombear o sangue para todo o organismo e para si mesmo • Veias: conduzir sangue dos diferentes órgãos e tecidos para o coração – constitui o sistema coletor sanguí-neo • Artérias: transportar sangue do coração para os órgãos e tecidos corporais – sistema distribuidor sanguí-neo • Capilares: transportar o sangue de modo mais lento e possibilitar a difusão de gases e a filtração de substâncias • Sangue: transportar oxigênio, hormônios, nutrientes e substâncias quí-micas e excretas – subprodutos do metabolismo celular que necessitam ser eliminados e/ou metabolizados por via renal ou hepática CAVIDADE TORÁCICA Os animais, por serem quadrúpedes, apresentam o tórax achatado em suas laterais; esse achatamento é mais acentuado na porção ventral – cerca de 2/3 da parte inferior do tórax. Nele estão órgãos como coração, vasos sanguíneos e linfáticos, linfonodos, traqueia, pulmões e pleuras. EXAME CLÍNICO DO SISTEMA CIRCULATÓRIO Resumo dos aspectos mais importantes na se- quência do exame clínico do sistema circulatório em animais de grande porte. Identificação do paciente ■ Principalmente espécie, raça, idade, sexo e uso: relacioná-los com as principais doen- ças cardiovasculares para cada item da identificação do animal Anamnese Histórico atual: ■ Queixa principal: sinais e sintomas ■ Evolução clínica da doença atual ■ Animais contactantes ■ Manejos nutricional e higiênico-sanitário ■ Condicionamento físico do animal e carga de trabalho ■ Medicamentos (dose e frequência) utilizados e resultados obtidos Histórico pregresso: ■ Doenças anteriores e quadros clínicos semelhantes já ocorridos? Exame físico geral e especial: ■ Inspeção ■ Avaliação de atitudes relacionadas com distúrbios cardiovasculares ■ Observação de anormalidades anatômicas e funcionais Rebeca Woset ■ Coloração de mucosas e avaliação do tempo de reperfusão capilar ■ Palpação ■ Avaliação do choque de ponta ■ Avaliação do pulso arterial ■ Detecção de frêmitos ■ Detecção de edemas ■ Ausculta ■ Avaliação de fre- quência e ritmo cardía- cos e respiratórios ■ Detecção de ruídos normais e anormais: patológicos ou não ■ Detecção de bloqueios e desdobramentos ■ Percussão ■ Determinação de área cardíaca Exames complementares: ■ Eletrocardiográfico ■ Mensuração de fre- quência e ritmo cardía- cos ■ Avaliação das ondas P e T, do complexo QRS ■ Detecção de arritmias, bloqueios AV ■ Ultrassonográfico ◦ Ecocardiografia ◦ Eco-Doppler ■ Avaliação cardíaca, valvar e vascular ■ Avaliação anatômica e funcional do sistema circulatório ■ Laboratoriais ■ Avaliação de: CK e LDH (para as isoenzimas cardíacas), SDH, AST e arginase (avaliação hepática); ureia e creatinina (avaliação renal) ■ Fonocardiograma ■ Avaliação das bulhas cardíacas ■ Outros exames IDENTIFICAÇÃO • Espécie • Sexo • Idade • Peso| Porte • Uso ou Função ANAMNESE QUEIXA PRINCIPAL • Cansaço fácil, fraqueza, colapso, intolerância ao exercício ou fraco desempenho atlético • Emagrecimento progressivo – bastante observado em animais adultos • Desenvolvimento retardado e incompleto – observado principalmente em animais em crescimentoTosse (geralmente improdutiva), respiração ofegante (taquipneia) e taquicardia • Febre variável, normalmente intermitente, recidivante ou contínua – costuma ocorrer mais nos casos de endocardite em bovinos • Edema de peito, barbela ou pescoço, além do abdome em sua porção ventral e, ocasionalmente, de membros – mais comumente os torácicos • Decúbito e perda parcial de apetite ou, mais raramente, anorexia • Fraqueza generalizada • Abdução de membros torácicos, com afastamento evidente dos cotovelos – articulação umerorradioulnar • Dilatação ou distensão de veia jugular e, nos bovinos, da mamária • Arritmias e alterações do pulso – que normalmente se torna rápido e irregular Rebeca Woset • Alteração na coloração das mucosas: palidez (que pode indicar anemia ou perda de sangue) e/ou cianose (mucosas ficam azuladas em consequência da maior quantidade de dióxido de carbono acumulado no sangue) • Petéquias, sufusões e equimoses • Morte súbita. HISTÓRICO ATUAL É comum o histórico de, em uma competição, muitos cavalos com doença valvular cardíaca de grau moderado a grave começarem bem, mas, ao longo da prova, apresentarem cansaço com facilidade, levando um período prolongado de recuperação; ou seja, aumento do tempo que leva para os batimentos cardíacos voltarem ao normal após o exercício. Principais indícios de envolvimento do sistema circulatório. • Cansaço fácil, perda de desempenho e intolerância ao exercício • Arritmia, pulso irregular; edema de peito; veias jugular e/ou mamária dilatadas • Fraqueza geral, decúbito, perda parcial de apetite ou anorexia • Taquicardia, taquipneia e febre recidivante • Mucosas cianóticas ou pálidas • Morte súbita É necessário investigar a respeito dos sinais e sintomas para que seja possível: • Confirmar ou não o envolvimento do sistema circulatório (Quadro 7.4), tanto de modo direto quanto indireto • Suspeitar de determinadas doenças (diagnóstico de suspeição) e descartar outros (diagnóstico diferencial) • Detalhar principalmente sobre a evolução dos sinais clínicos: quais surgiram primeiro e quais foram os últimos, bem como seu grau e como foi evoluindo cada um deles. Sobre a evolução do caso • Quais os primeiros sinais notados pelo tratador, proprietário ou clínico/prático? ➢ Com essas informações, é possível começar a suspeitar de enfermidade primária ou secundária do sistema circulatório • Quais surgiram primeiro e qual foi a sequência? ➢ Pode-se inferir sobre a gravidade do processo e analisar se a enfermidade em questão está se agravando e acometendo outros sistemas ou se está restringida ao sistema circulatório • Como eles evoluíram? Pioraram ou melhoraram? Quanto? ➢ É possível inferir sobre a gravidade do processo patológico em questão e verificar se o quadro está se tornando crítico, estabilizado ou se está ocorrendo melhora do caso. Sobre o uso ou não de medicamentos • O animal foi medicado? Qual(is) medicamento(s) foi(ram) utilizado(s)? Em que dose? Com que frequência de administração? ➢ Pode-se avaliar se o medicamento que foi utilizado está sendo eficaz ou não e se isso se deve a um erro de escolha de medicamento ou da dosagem. Além disso, é necessário observar se a medicação utilizada poderia mascarar alguns dos sintomas circulatórios, o que induziria o erro de diagnóstico • Houve melhora dos sintomas ou o quadro clínico piorou? Quanto? Quais sintomas Rebeca Woset melhoraram e quais se agravaram ou se mantiveram como estavam? Qual o grau de alteração desses sintomas? ➢ Se o medicamento está levando à melhora, isso também poderá ajudar a fechar um diagnóstico mais corretamente ou a estabelecer um prognóstico mais confiável, além de dirigir melhor a escolha terapêutica para o caso em si, ao ser elaborada a receita para o nosso paciente Sinais confiáveis de doença cardíaca. ■Sopro sistólico de grau 4/6 ou maior na ausência de anemia ■Sopro diastólico prolongado de grau 2/6 ou maior ■Frêmito precordial na ausência de anemia ■Ingurgitamento venoso generalizado■Fibrilação atrial ■Bloqueio cardíaco atrioventricular de grau 3 (completo) ■Batimentos prematuros ocorrendo frequentemente ■Taquicardia ventricular. MANEJO Algumas das principais perguntas a serem efetuadas com relação ao manejo são: • Qual a alimentação que o animal recebe? Em que quantidade e frequência? Qual a qualidade dos mesmos? ➢ Algumas enfermidades circulatórias estão relacionadas com uma alimentação errônea, como no caso da sobrecarga por grãos (acidose d- láctica rumenal) • Quais as vacinas administradas ao animal? Em qual esquema foram aplicadas? ➢ No momento, a febre aftosa é uma das doenças em maior evidência (em aspecto mundial e nacional), capaz de causar lesões cardíacas e até mesmo levar o animal ao óbito. Em alguns casos, uma de suas complicações é o surgimento de lesões no músculo cardíaco, o que pode determinar um comprometimento bastante sério e importante, podendo mesmo resultar em óbito • Quais as características do local em que o animal vive (ventilação, umidade, calor, higiene etc.)? ➢ Sabe-se que um pasto ou piquete que tenha higiene precária predispõe o animal a diversas enfermidades que, em propriedades que primam pela correta higiene e limpeza, quase não se constatam. Por exemplo, a reticulopericardite traumática é mais comum em propriedades em que haja maior possibilidade de o animal ingerir corpos estranhos ao se alimentar, tais como objetos metálicos (pregos, restos de arames de cerca, parafusos e outros objetos pontiagudos que possam levar à perfuração do retículo e lesar o coração), causando a reticulopericardite traumática, ou o peritônio, determinando um caso de reticuloperitonite traumática • Qual a função destinada ao animal? Qual sua carga de trabalho? Quanto de exercício realiza, de que maneira e com qual frequência? ➢ À semelhança do que ocorre em seres humanos, guardadas as devidas particularidades e proporções, sabe-se que o preparo Rebeca Woset físico do animal deve ser adequado ao tipo de trabalho ao qual será submetido. Animais que são submetidos a uma carga de trabalho mais acentuada que a habitual ou a que estejam adaptados são mais suscetíveis a problemas circulatórios que aqueles que levam uma vida mais pacata e tranquila, sem muito esforço. HISTÓRICO PREGRESSO É necessário verificar: • O provável diagnóstico dado para as doenças anteriores: é necessário saber se o diagnóstico foi elaborado por um veterinário ou um prático e buscar saber sobre a sua “competência” • Se o diagnóstico foi ou não confirmado a partir de dados e exames fidedignos ou elaborados de modo subjetivo • Se as doenças apresentadas pelo animal ou as recorrências de certas enfermidades podem indicar provável relação com problemas circulatórios: por exemplo, episódios recorrentes de tying- up (também conhecida como atamento, doença da manhã de segunda-feira ou rabdomiólise de esforço, uma doença comum em animais de enduro) EXAME FÍSICO É necessário iniciar o exame pelo órgão principal desse sistema: o coração, e prosseguir o exame avaliando os vasos sanguíneos: artérias, capilares e veias. Os meios semiológicos utilizados para se examinar o coração são: inspeção, auscultação, palpação e percussão. No entanto, dois deles são os mais importantes referentes ao coração: a inspeção e a auscultação; já para os vasos sanguíneos, são inspeção e palpação. INSPEÇÃO DIRETA Avaliação física e comportamental Procurar observar se o animal apresenta postura ou atitude anormal, que possa sugerir a ocorrência de algum distúrbio circulatório, seja ele primário ou secundário. Por exemplo, detectar a existência de: • Edemas: geralmente em cabeça, barbela e peito, nos ruminantes, e peito e abdome em equinos • Pulso venoso positivo: pulsação da veia jugular e/ou mamária, que ocorre imediatamente após a primeira bulha cardíaca • Abdução de membros torácicos na tentativa de: ➢ Respirar melhor: em quadro de dispneia por edema pulmonar ou por insuficiência cardíaca em que haja menor oxigenação sanguínea ➢ Diminuir a dor decorrente de uma reticulopericardite traumática: nessa enfermidade, é comum haver relato ou observarmos que o animal enfermo sente dor e geme ao descer uma rampa, procura ficar em aclive, com os membros torácicos em local mais alto que os pélvicos e evita fazer curvas acentuadas à esquerda e se deitar, para não sentir dor ao levantar-se • Observar se há dilatação de vasos como as veias jugular e mamária • Anóxia: mucosas aparentes revelando palidez ou cianose – adquirindo coloração azulada. Rebeca Woset Os edemas ocorrem, mais comumente, em consequência de quadros de hipoproteinemia; contudo, há algumas causas mais importantes que devem ser descartadas primeiro, para somente então passarmos a pensar em causas cardíacas. O edema pode ocorrer em virtude de: • Pressão hidrostática capilar aumentada: pouco comum em equinos, mas pode ser consequência, por exemplo, de uma falha cardíaca direita e obstrução venosa • Danos capilares (bastante comuns em veterinária): como os que ocorrem na arterite viral equina e em processos autoimunes • Obstrução linfática: como os decorrentes de formações neoplásicas • Pressão coloidal osmótica diminuída: decorrentes, por exemplo, de perda de proteína, seja por problemas renais, hepáticos ou digestórios. EXAME DAS MUCOSAS Avaliação da coloração A coloração das mucosas depende de vários fatores, dentre os quais: • Quantidade e qualidade do sangue circulante • Trocas gasosas • Existência ou não de hemoparasitos • Função hepática adequada • Medula óssea e outros. Avaliação do estado circulatório periférico É preciso avaliar o TPC para detectar sinais de desidratação e hipovolemia. Avaliação dos vasos sanguíneos É possível inspecionar as veias e os capilares. Mais facilmente, inspecionamos as veias jugulares nas faces ventrolaterais do pescoço – no chamado sulco da veia jugular – de um equino ou ruminante ou a veia safena na face interna do membro pélvico de equinos ou ainda as veias mamárias em ruminantes. Quanto aos capilares, normalmente se inspecionam os vasos episclerais, os quais dão uma ideia geral de como está a circulação sanguínea nos capilares em geral. Inspeção de vasos episclerais em bovinos. A. Não preenchidos. B. Ingurgitados. A seta mostra uma região neoplásica, a qual deve ser a causa desse ingurgitamento, e não um distúrbio circulatório. Avaliação da veia jugular A pulsação que mais comumente observamos em equinos na veia jugular corresponde a uma pulsação reflexa da jugular em decorrência da pulsação da artéria carótida, que está localizada imediatamente abaixo da jugular. No entanto, pode ocorrer, também, pela influência da respiração ofegante do animal ou decorrente de anormalidade cardíaca. Somente haverá pulsação da jugular quando essa veia se encontrar com sangue acumulado em seu interior – o que pode ou não ser patológico, como no caso de um pulso venoso positivo comentado a seguir. Rebeca Woset As causas de dilatação da jugular são várias, mas as mais comuns são: • Massa intratorácica, que dificulta o retorno venoso ao coração • Endocardite atrioventricular direita grave, que leva à insuficiência e, mais raramente, à estenose • Efusão pericárdica e elevação da pressão venosa central, como decorrente de falha cardíaca direita ou sobrecarga iatrogênica de volume. Para fecharmos o diagnóstico dessas alterações, devemos, muitas vezes, lançar mão de exames complementares. Pulso venoso negativo O pulso venoso negativo (fisiológico) é observado durante a fase final da fase diastólica, imediatamente anterior à sístole ventricular Pulso venoso positivoO pulso venoso positivo (patológico) é observado desde a entrada no tórax, propagando-se em direção à mandíbula, durante a fase sistólica ventricular, portanto, é observado logo em sequência à primeira bulha cardíaca. É decorrente da regurgitação sanguínea através da valva tricúspide, a qual não oclui totalmente a passagem do sangue do ventrículo direito para o átrio direito, caracterizando assim um quadro de insuficiência da valva atrioventricular direita. Como essa valva não consegue impedir o retorno sanguíneo do ventrículo para o átrio, ocorre, então, a regurgitação de sangue para a veia jugular, com formação de uma onda pulsátil nessa veia. Choque cardíaco Nos animais de grande porte é a parede do ventrículo que bate contra a parede torácica constituindo-se assim o chamado choque cardíaco ou choque lateral do coração. Características dos pulsos venosos positivo e negativo. Pulso venoso Positivo Negativo Sincrônico com Sístole ven- tricular Contração atrial Fase em que ocorre Sistólico Pré-sistólico Características das ondulações Evidentes e difundem-se até a cabeça do animal Leves, de igual intensidade em ambas as veias jugulares e difusas Relação com o pulso arterial Coincide com ele Antecede-o Para que se possa observar esse fenômeno, deve- se posicionar o membro torácico esquerdo mais cranialmente que o direito e observar a região torácica logo acima e caudal ao cotovelo – olécrano. Mesmo assim, isso só é perceptível em animais magros ou de peito estreito. Mais comumente, palpamos esse choque cardíaco, mais evidente no quinto ou sexto EIC. Por meio desse método, busca-se avaliar a intensidade e a posição em que ocorre. AUSCULTAÇÃO Mediante a auscultação cardíaca, avaliam-se principalmente: • Frequência cardíaca • Ritmo cardíaco • Bulhas (total de quatro) • Ruídos anormais (como os sopros e os roces), patológicos ou não • Focos de auscultação • Ruídos adventícios. Rebeca Woset Para a realização e interpretação correta da auscultação cardíaca, é necessário saber o local correto de se auscultar o coração. Os focos principais de auscultação devem ser localizados: (1) pulmonar; (2) aórtico; (3) mitral; e (4) tricúspide; cada um deles corresponde a uma das quatro valvas cardíacas. RUÍDOS CARDÍACOS NORMAIS E PATOLÓGICOS OU ANORMAIS Focos de auscultação cardíaca Espéc ie Pulmo nar Aórtic o Mitral Tricúspi de Bovin a 3º EIC esquerd o 4º EIC esquer do 4º EIC esquer do 3º ou 4º EIC direito Equin a 3º EIC esquerd o 4º EIC esquer do 4º ou 5º EIC esquer do 3º ou 4º EIC direito Capri na 3º EIC esquerd o 4º EIC esquer do 5º EIC esquer do 3º ou 4º EIC direito Ovina 3º EIC esquerd o 4º EIC esquer do 5º EIC esquer do 3º ou 4º EIC direito PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DE BULHAS CARDÍACAS É necessário avaliar as bulhas cardíacas principalmente quanto aos seguintes aspectos: (1) intensidade; (2) localização; e (3) características dos ruídos (timbre, ritmo e ocorrência ou não de ruídos novos ou adventícios). INTENSIDADE DAS BULHAS As bulhas cardíacas podem ter sua intensidade alterada por doenças, as quais são capazes de determinar aumento (hiperfonese) ou diminuição (hipofonese). Hiperfonese de bulhas cardíacas A hiperfonese pode ocorrer por diversos motivos, dentre os quais se destacam os seguintes: • Hiperatividade cardíaca, em função de esforço físico, excitação nervosa, agitação, estados febris, hipertireoidismo, anemia etc. • Aumento da transmissão dos ruídos, decorrente de pneumotórax (devido à maior ressonância), adelgaçamento da parede torácica, aumento da macicez pulmonar, deslocamento cardíaco aproximando-o da parede torácica etc. Hipofonese de bulhas cardíacas A hipofonese de bulhas cardíacas pode ser causada por diferentes causas, dentre as quais se destacam: • Hipoatividade cardíaca, devido a pericardites com derrame pericárdico, miocardites, astenia cardíaca etc. • Diminuição da transmissão dos ruídos, decorrente de obesidade, espessamento de parede torácica (p. ex., em caso de edema), enfisema pulmonar etc. Hiperfonese de apenas uma bulha cardíaca Rebeca Woset A hiperfonese de uma bulha apenas pode ocorrer tanto na primeira quanto na segunda bulha em virtude de: • Primeira bulha: estenose atrioventricular, mais comumente a mitral; exercício ou excitação; anemia; insuficiência cardíaca • Segunda bulha: hipertensão sanguínea sistêmica ou pulmonar. No foco aórtico, ocorre, por exemplo, em decorrência de hipertensão renal causada por nefrite crônica; estenose aórtica. No foco da pulmonar, em casos de pericardite, pneumonia, esclerose, enfisema pulmonar, congestão, edema, bronquite, pleuris com derrame e na insuficiência ventricular esquerda. Hipofonese de apenas uma bulha cardíaca A hipofonese de uma bulha apenas pode ocorrer tanto na primeira quanto na segunda bulha em virtude de: • Primeira bulha: endo e miocardites (acompanhadas de hipertrofia ventricular), sendo mais comum no foco da mitral. Decorrente de hipertrofia ventricular direita, afetando a tricúspide • Segunda bulha: sempre que houver hipotensão arterial na circulação sistêmica ou na pulmonar. LOCALIZAÇÃO DAS BULHAS CARDÍACAS As bulhas cardíacas podem estar em pontos considerados normais ou em posicionamento diferente ao padrão para a espécie em questão. Quando elas estão em local diferente do padrão, são consideradas deslocadas. TIMBRE E RITMO As bulhas cardíacas podem ter seu timbre alterado e o ritmo, modificado. Por exemplo, é possível encontrar bulhas com som surdo (ou seja, com perda de sonoridade, tornando-se mais grave e abafado) nos casos de hipertrofia ventricular associada ao edema valvar. PALPAÇÃO CHOQUE CARDÍACO E CHOQUE DE PONTA O choque cardíaco pode ser facilmente palpável na parede torácica, próximo ao olécrano, na área cardíaca próxima ao quarto (em bovinos) ou quinto (em equinos) espaço intercostal esquerdo, durante a sístole ventricular e pode estar normal, aumentado, diminuído ou desviado de posição. As causas mais comuns de aumento do choque são hipertrofia cardíaca, endocardite incipiente e hepatização da lâmina pulmonar que cobre o coração. As causas mais comuns de diminuição do choque são debilidade cardíaca, deficiência funcional em animal moribundo – próximo da morte –, hemopericárdio, hidrotórax, hidropericárdio e pericardite fibrinosa. Os desvios do choque de ponta podem ocorrer para a frente, para trás, para a direita e para a esquerda. No entanto, mais comumente, são detectados os desvios cranial e caudal. As causas mais comuns de desvio cranial do choque são ascite, sobrecarga rumenal (alimentar), meteorismo, gestação avançada, tumores e gânglios infartados no mediastino caudal. As causas mais comuns de desvio caudal do choque são tumores situados na parede torácica. AVALIAÇÃO DO PULSO ARTERIAL A palpação arterial é realizada com os dedos indicador e médio, ambos devendo pressionar a artéria de modo mais forte e, lentamente, diminui- se a pressão sobre ela, até que seja possível começar a sentir a pulsação. Em casos de maior dificuldade em se sentir o pulso, pode-se realizar Rebeca Woset pressão maior com o dedo que está mais distal à artéria e menor pressão com o proximal. Assim, oclui-se parcialmente a artéria e aumenta-se o enchimento do vaso atrás dessa oclusão parcial, facilitando sentir o pulso com o dedo que se encontra mais proximal. Ao palparmos o pulso arterial, devemos avaliar os seguintes parâmetros: • Frequência (ou taxa): quantidade de pulsos por minuto que a artéria apresenta. • Ritmo: avaliação da ocorrência ou não de um ritmo cardíaco e se o mesmo está normal ou alterado, regular ouirregular • Amplitude: avaliação da distensão da artéria na passagem do sangue por ela, que geralmente ocorre logo após a sístole cardíaca • Tensão: indica o quão firme está a artéria. Está ligada à pressão sanguínea arterial • Celeridade: mostra o tempo que a artéria leva para dilatar e voltar ao normal durante sua pulsação • Grau de repleção: indica de quanto sangue a artéria dispõe. As duas primeiras características pertencem aos chamados caracteres relativos, ao passo que os demais fazem parte dos caracteres absolutos. As artérias mais comumente utilizadas na palpação são: • Facial (“submandibular”) em equinos e ruminantes, e facial transversa, mais para equinos • Femoral em pequenos ruminantes, bezerros e potros • Carótida em equinos e ruminantes • Safena em equinos • Digital palmar em equinos • Caudal (“coccígea”) em bovinos. Todas as características do pulso dependem de: • Rendimento cardíaco: força de contração, volume de sangue bombeado por batimento cardíaco e funcionalidade das válvulas cardíacas • Pressão sanguínea: volume sanguíneo disponível, diâmetro e tensão dos vasos. Classificação dos pulsos quanto às características à palpação. ■Quanto à frequência: bradisfigmia; normosfigmia; taquisfigmia ■Quanto ao ritmo: regular; irregular (cíclico ou acíclico); intermitente (regular ou irregular) ■Quanto à tensão (força): fraco (mole); normal; forte (duro); alternante; desigual ■Quanto à celeridade: lento; normal; rápido (célere) ■Quanto à amplitude: pequeno; normal; amplo ■Quanto à plenitude: vazio; normal; cheio Em equinos, utiliza-se mais frequentemente a artéria facial; em bovinos, a caudal; em pequenos ruminantes, potros e bezerros, a femoral. PERCURSSÃO Em geral, utiliza-se a percussão do tórax para determinar a área cardíaca absoluta e relativa. A área absoluta somente é encontrada, em grandes animais, em equinos, tanto do lado direito quanto do esquerdo, haja vista que os cavalos apresentam uma área em que o coração não é recoberto pelos pulmões – a chamada incisura cardíaca – e, portanto, existe o contato direto entre o coração e a parede torácica. A área relativa é encontrada nos ruminantes, pois seu coração fica completamente coberto pelos pulmões. A percussão pode ser direta (digitodigital) ou indireta, sendo esta a mais utilizada. Para isso, usa- se um martelo e um plessímetro (ou plessômetro). Rebeca Woset REFERÊNCIAS F., FEITOSA,.Francisco. L. Semiologia Veterinária - A Arte do Diagnóstico. Grupo GEN, 2020.
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