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PÉROLAS FALSAS E VERDADEIRAS: QUEM CONSEGUE DISTINGUÍ-LAS? RESPOSTAS COMENTADAS Maria Teresa Eglér Mantoan Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Faculdade de Educação Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença – LEPED/UNICAMP 1. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, aprovada em 2006 pela Organização das Nações Unidas – ONU, tem valor jurídico para o Brasil. Verdadeiro ( X ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. Essa Convenção tem valor constitucional porque foi aprovada no Congresso Nacional por quórum privilegiado – Decreto Legislativo 186/2008. 2. A escola comum pode negar matrícula a alunos com deficiência e aos demais alunos da educação especial, se não se sentir em condições de atendê-los. Verdadeiro ( ) Falso ( X ) Justificativa: FALSO. Pela legislação brasileira não se pode negar ou fazer cessar, sem justa causa, a matrícula escolar de qualquer aluno, em escolas comuns, especialmente quando o motivo é a deficiência. Esclareça-se que a justa causa não pode ser a deficiência em si, ou qualquer outra condição pessoal do ser humano, como raça, religião, orientação sexual, sob pena de discriminação. 3. Pela Convenção da Guatemala, a diferenciação de uma pessoa pela sua deficiência caracteriza, em alguma circunstância, um ato de discriminação. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. MAS LEMBRANDO QUE: Essa diferenciação não constitui discriminação, caso seja para incluir e não excluir a pessoa com deficiência da escola e de outros espaços sociais. Se um aluno cego, por exemplo, precisa de um computador que é para seu uso exclusivo e que serve para ele acompanhar as aulas, esse equipamento o diferencia, mas para incluí-lo na turma e, portanto, não constitui discriminação pela diferença. Já uma diferenciação para excluir, por exemplo, seria matricular um aluno com deficiência nas escolas especiais, pois essa diferenciação o retira dos demais colegas de sua idade, que estão cursando as escolas comuns. 4. O direito à educação dos alunos da educação especial, que está prescrito e garantido pela Constituição Federal de 1988, é totalmente assegurado nas escolas especiais. Verdadeiro ( ) Falso (x) Justificativa: FALSO. As escolas especiais, pela LDBEN/96, não são escolas regulares (legalizadas). Assim sendo as escolas especiais não podem oferecer ensino escolar de nível básico para os alunos público alvo da educação especial, no período de ensino obrigatório – de 04 a 17 ano). O ensino especial é uma modalidade de ensino e não um sistema constituído por níveis, etapas, anos escolares. Como uma modalidade ensino, a educação especial complementa e é transversal a todos os níveis, etapas e anos do ensino comum do básico ao superior. Essa formação complementar é voltada para conteúdos, conhecimentos específicos, tais como: uso de tecnologias assistivas, de ábacos, de pauta aumentada, leitor de tela, próteses ortopédicas, bengalas, LIBRAS, braile e outros. A educação especial não ensina conteúdos curriculares. 5. Alunos da educação especial na faixa etária em que a escolarização é obrigatória poderão ser encaminhados às escolas especiais, no caso de os pais/responsáveis por esses alunos assim o decidirem. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. Os pais não têm essa opção em nenhum caso. O direito à educação é um direito indisponível do aluno, a partir da Constituição de 1988.Os pais são guardiões desse direito e na faixa etária de ensino obrigatório eles Não podem matricular os alunos em escolas especiais, pois essas não são escolas regulares. Os pais que o fizerem podem ser processados por abandono intelectual de seus filhos. 6. O Decreto 6571/08 dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) como um serviço do ensino regular. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO.O Decreto 6571/08, no seu parágrafo 2º do artigo 1º diz que o AEE, como um serviço da educação especial, deve integrar a proposta pedagógica da escola comum e envolver a participação da família e de outras instituições, sendo realizado em articulação com as demais políticas públicas: saúde, assistência social, direitos humanos, entre outros. 7. Pelo Decreto 6571/2008, o financiamento do AEE condiciona que o aluno da educação especial esteja matriculado na escola comum. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. De acordo com o Decreto n. 6.571/08, os alunos público alvo da educação especial serão contabilizados duplamente no FUNDEB, quando tiverem matrícula em classe comum de ensino regular e no atendimento educacional especializado - AEE, conforme registro no Censo escolar/ MEC/INEP do ano anterior. 8. A PNEEPEI acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando favorecer unicamente os alunos que diferem dos demais, por terem uma deficiência. Seu público alvo são: alunos com deficiência, transtornos do espectro do autismo, altas habilidades/superdotação. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. A Política Nacional é um documento que apesar de se referir a alunos público alvo da educação especial, foi concebida para beneficiar e atender à diferença de todos os alunos, na perspectiva de uma escola para todos. 9. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola comum. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. A PNEEPEI deixa clara a articulação da educação especial com o ensino comum, orientando para o atendimento ao seu público-alvo. 10. A educação especial é sinônimo de Atendimento Educacional Especializado – AEE. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. O AEE é um dos serviços oferecidos pela educação especial, a partir da PNEEPEI de 2008. Essa Política tem uma atuação ampla na escola: orienta a organização de redes de apoio aos alunos da educação especial; participa da formação continuada dos professores; identifica de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas entre todos os que atuam na escola e fora delas; desloca do aluno para o meio as barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais que impedem o acesso e a participação de alunos da educação especial nas escola, na família, no trabalho, na sociedade. Deve ser oferecido preferencialmente nas escolas comuns, mas pode ser oferecido em centros de atendimento especializados. 11. O professor de AEE tem como função: identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no AEE diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização de alunos da educação especial nela incluídos. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. A Política Nacional clareia o serviço do AEE no contexto da Educação Especial articulando-a com o ensino comum, deixando claro o seu caráter complementar e/ou suplementar na formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. 12. Nas escolas comuns devem estar incluídos todos os alunos. A partir da PNEEPEI/2008, aqueles alunos que constituem o público alvo da educação especial: alunos com deficiência; com transtornos do espectro do autismo; alunos com todos os alunos, têm sua inclusão plena e igualmente garantida. Verdadeiro ( X ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. Todos os brasileiros, incondicionalmente, têm direito à educação, na faixa etária em que o ensino escolar é obrigatório (04 a 17 anos). Não há nada que impeça os alunos de frequentarem as escolas comuns, em todas as etapas do ensino básico e no ensino de nívelsuperior. Todos nós aprendemos com a experiência da diferença nas escolas! 13. O acesso de alunos com deficiência às escolas comuns “desde que possível”, “desde que capazes de se adaptarem”, demonstra uma precaução, um cuidado que devemos tomar, quando fazemos uma “inclusão responsável”. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. Essas condições são típicas de uma opção de inserção de alunos com deficiência às escolas comuns – a integração, que já está ultrapassada e que propunha a inclusão parcial, de acordo com as possibilidades de o aluno com deficiência acompanhar as turmas comuns de ensino regular. 14. Nas salas de aula comuns os alunos com deficiência aprendem os conteúdos curriculares a partir de atividades adaptadas. Verdadeiro ( ) Falso ( X ) Justificativa: FALSO. Nas escolas inclusivas o ensino não se diferencia para alunos com mais ou menos dificuldades de aprender um dado conteúdo. As atividades escolares são variadas para que todos os alunos, de modo que possam escolhê-las livremente e tenham autonomia para realizá-las, de acordo com seus interesses, capacidades, dúvidas. 15. A Educação Infantil para alunos da educação especial acontece nas escolas especiais, para que nesse período elas possam ter cuidados que a escola comum não conhece, especialmente aqueles alunos que têm comprometimentos sérios e/ou não conseguem se locomover e se comunicar, como seus demais coleguinhas. Verdadeiro ( ) Falso ( X ) Justificativa: FALSO. A inclusão, em ambientes comuns de desenvolvimento e de formação, só beneficia o aluno. Serviços assistenciais, reabilitadores acontecem fora da escola. 16. A escola especial não substitui o ensino que é ministrado nas escolas comuns. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. O ensino escolar brasileiro é ministrado exclusivamente em escolas comuns. 17. Currículos e atividades adaptadas não são indicados para que alunos da educação especial sejam incluídos em turmas comuns de ensino regular. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. Em uma escola inclusiva não se adaptam currículos, para que tenham objetivos limitados, atividades pedagógicas facilitadas e diferentes das demais, oferecidas a toda a turma. Essa diferenciação/adaptação constitui uma ação discriminatória. Os conteúdos programáticos, os objetivos educacionais devem ser abertos à capacidade de cada aluno e as atividades precisam ser variadas, de modo que todos os alunos possam escolhê-las e realizá-las, livremente. 18. Os alunos com e sem deficiência são capazes de construir ativamente o conhecimento. Verdadeiro ( X ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. Ensinar é disponibilizar o conhecimento da melhor maneira possível, para que os alunos tenham garantido o seu “lugar de saber” na escola, conquistado com esforço próprio, interesse e desejo de conhecer cada vez mais. 19. O Centro de Atendimento Especializado e as escolas especiais são espaços educacionais que podem substituir o AEE em escolas comuns, sem quaisquer prejuízos aos alunos que dele necessitam. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. O AEE, entre outros argumentos legais, sendo oferecido preferencialmente nas escolas comuns, assegura que os professores comuns e especiais possam atuar em um mesmo ambiente educacional, o que garante ao aluno uma melhor assistência às suas necessidades; os alunos têm um acompanhamento do uso dos recursos e equipamentos nas salas de aula com maior frequência; os pais de alunos da educação especial percebem que, de fato, seus filhos estão incluídos no projeto da escola; os pais de outros alunos entendem o que é a inclusão de todos em uma única escola; os alunos da educação especial se sentem integralmente acolhidos na escola, não tendo de buscar em outros ambientes educacionais o que precisam para frequentá-la. As escolas especiais transformadas em Centros de Atendimento Educacional Especializado não preenchem todas essas vantagens do AEE nas escolas comuns. 20. O AEE pode ser exercido por psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e outros profissionais da área clínica. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. O AEE é um serviço educacional realizado exclusivamente por professores de educação especial. Esses professores podem ter, na medida de suas necessidades, a contribuição dos profissionais responsáveis pelo atendimento clínico, mas as atribuições específicas do professor de AEE não se confundem com outros saberes de natureza terapêutica, paramédica e nem com os do professor comum. Há que se distinguir o saber clínico do saber especializado e do saber escolar. 21. Pela LDBEN, o AEE destina-se “preferencialmente” aos alunos que não conseguiram ser incluídos em escolas comuns. Verdadeiro ( ) Falso ( X ) Justificativa: FALSO. O “preferencialmente” nesse o texto refere-se ao local onde o AEE deve ser oferecido, ou seja, preferencialmente nas escolas comuns. Essa interpretação equivocada traz muitos problemas para o entendimento do AEE e da inclusão escolar, pois a maioria das pessoas se confunde e atribui o preferencialmente ao aluno com deficiência. 22. O professor de AEE define os conteúdos escolares e as práticas pedagógicas que os professores comuns adotarão em suas turmas para os alunos com deficiência. Verdadeiro ( ) Falso ( x ) Justificativa: FALSO. A escolarização de todos os alunos de uma turma, inclusive dos alunos da educação especial que nela estão incluídos é uma das atribuições da escola comum. o professor de AEE promove a acessibilidade e participação alunos às atividades de sala de aula, sem adaptações curriculares. o professor de AEE estuda cada caso, reconhece as barreiras de natureza física, atitudinal, comunicacional e as remove, oferecendo recursos e apoios técnicos para tais alunos possam atuar com o máximo de autonomia e independência, sem adaptações de atividades escolares, estudando com todos os seus colegas e a partir das mesmas atividades de sala de aula. 23. É da competência do professor de AEE a decisão pela promoção ou repetência de alunos da educação especial incluídos em escolas comuns. Verdadeiro ( ) Falso ( X ) Justificativa: FALSO. Compete aos professores da escola comum a avaliação escolar e a tomada de decisão sobre a promoção desses e dos demais alunos. Mas nada contra, se a professora do AEE for chamada a opinar dentro do que é específico de seu trabalho, informando a evolução do aluno a partir do seu plano de atendimento individual de AEE e contribuindo para que a avaliação de seu desenvolvimento escolar seja a mais justa e completa possível. 24. O professor que atua no AEE não é especializado em todos os alunos que constituem o público alvo da educação especial: alunos com deficiência, alunos com transtornos do espectro do autismo e alunos com altas habilidades/ superdotação. Verdadeiro ( x ) Falso ( ) Justificativa: VERDADEIRO. O que habilita o professor de AEE não é a especialização em um dado público alvo, como ocorria anteriormente, segundo a política de educação especial de 1994. Hoje esse professor tem outras atribuições: estudar cada caso, compor um plano de ação individualizado para atender a cada um, verificar se as barreiras que se interpunham entre esse aluno e seu processo de escolarização estão lhe dando condições de acesso e participação na escola em que está incluindo. Ele é um professor que articula seu trabalho com o professor da sala de aula, a família. Faz um intercâmbio com outros setores externos à escola (médico, psicológico, social e outros), com outras escolas, que tenham contribuições a oferecer aos seus alunos.