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Semântica APRESENTAÇÃO Imagine que você está lendo um livro para uma disciplina do seu curso e, em um certo momento, se depara com uma palavra que nunca viu antes e cujo significado você não conhece. Talvez você possa seguir com a leitura, sem que isso atrapalhe a sua compreensão do texto como um todo. Porém, às vezes, você precisa consultar um dicionário para descobrir o significado daquela palavra, para que o texto continue fazendo sentido. De fato, para que possamos compreender os textos que lemos ou os enunciados que ouvimos, precisamos, de alguma forma, reconhecer os significados das palavras e das frases que os compõem. As formas como os significados se estabelecem em enunciados e textos são explicadas pela Semântica. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender o que é Semântica e quais são os seus objetos de estudo. Além disso, vai entender o lugar que ela ocupa e o papel que ela desempenha dentro do campo dos estudos da linguagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a definição de Semântica.• Reconhecer o histórico dos estudos em Semântica.• Analisar diferentes abordagens semânticas.• DESAFIO Um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais que produzem dicionários é a elaboração dos vocábulos que designam cores. Você já deve ter percebido, nas suas tentativas de explicar uma determinada cor para outra pessoa, que cores são muitos difíceis de serem definidas linguisticamente. Por conta da natureza desses elementos, vocábulos como amarelo, vermelho e azul não podem ser descritos ou reproduzidos em proposições simples ou nos seus próprios termos – tal como poderia ser feito para se descrever o tamanho ou a forma de um objeto. Imagine que você está participando da redação de um dicionário e ficou encarregado do vocábulo Amarelo. Como você definiria esse vocábulo? Indique no mínimo três definições e traga um exemplo prático. INFOGRÁFICO A Semântica tem papel muito importante na elaboração das definições que encontramos nos dicionários da nossa língua. No Infográfico a seguir, você vai conhecer três áreas práticas em que a semântica pode desempenhar um papel importante. Confira! CONTEÚDO DO LIVRO A Semântica é uma área bastante vasta no campo dos estudos da linguagem – em termos tanto de objetos quanto de abordagens e teorias. Acompanhe a obra Semântica do português, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Leia o capítulo Semântica. No trecho, você vai estudar a respeito de como se define e se estrutura a Semântica enquanto ciência, bem como encontrar explicações de algumas teorias que se enquadram nessa área específica do campo dos estudos da linguagem. Boa leitura! SEMÂNTICA DO PORTUGUÊS Dalby Dienstbach Revisão técnica: Laís Virginia Alves Medeiros Bacharelado em Letras (UFRGS) Mestrado em Letras (UFRGS) Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 D562s Dienstbach, Dalby. Semântica do português / Dalby Dienstbach. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 79 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-140-2 1. Semântica - Português. I. Título. CDU 81’3 Iniciais.indd 2 22/08/2017 10:06:59 Semântica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car a de� nição de semântica. Reconhecer o histórico dos estudos em semântica. Analisar as diferentes abordagens semânticas. Introdução Imagine que você está lendo um livro para uma disciplina do seu curso e, em determinado momento, depara-se com uma palavra que nunca viu antes e cujo significado não conhece. Talvez você possa seguir com a leitura sem que isso atrapalhe a sua compreensão do texto como um todo. Porém, às vezes, é preciso consultar um dicionário para descobrir o significado daquela palavra, de forma que o texto continue fazendo sentido. De fato, para que possamos compreender os textos que lemos ou os enunciados que ouvimos, precisamos, de alguma forma, reconhecer os significados das palavras e frases que os compõem. As formas como os significados se estabelecem em enunciados e nos textos são explicadas pela semântica. Neste capítulo, você vai aprender o que é semântica e quais são os seus objetos de estudo. Além disso, vai entender qual é o lugar que ela ocupa e o papel que desempenha dentro do campo dos estudos da linguagem. U N I D A D E 1 Semântica do português_U1C1.indd 11 22/08/2017 12:11:35 O que é semântica? Em geral, semântica é defi nida como o estudo dos signifi cados das línguas (CANÇADO, 2008). Com isso, mais especifi camente, diremos que essa é a área da Linguística que se ocupa dos processos lógicos, cognitivos e discursivos responsáveis pela produção e pela compreensão dos signifi cados de palavras, frases e enunciados que se manifestam nas situações de uso da língua. Dessa forma, para entender de que forma se estabelecem os significados de palavras e frases (tanto para quem as produz quanto para quem as interpreta), a semântica investiga, dentre outras coisas: as propriedades formais que compõem os conceitos; os conhecimentos dos falantes a respeito daquilo que falam e ouvem (ou escrevem e leem); as pistas contextuais que orientam os sentidos de palavras e frases. Assim, os estudos em semântica devem ser capazes de explicar, por exemplo, como é possível que produzamos uma metáfora como “Estou morrendo de fome” sem dar a entender que estamos realmente prestes a morrer, no sentido literal, e como é possível entendermos essa metáfora mesmo sabendo que ninguém, de fato, perderá a vida. Por conta da forma como os estudos em semântica entendem o seu objeto, isto é, o significado, podemos falar em duas concepções básicas dessa ciência (TAMBA-MECZ, 2006). A primeira concepção de semântica, que chamaremos de semântica lexical, recebe esse nome porque se ocupa pontualmente dos significados das palavras, precisamente das unidades lexicais (LEWIS, 1993). Uma unidade lexical equivale a qualquer palavra (ou combinação de palavras) que constitua uma unidade de significação, ou seja, que esteja dotada de um significado elementar próprio. Alguns exemplos simples de unidades lexicais, em português, são as palavras “telefone”, “bonito” e “comprar”, e as palavras compostas “livro didático”, “mal-humorado” e “fim de semana”. A segunda concepção de semântica, da qual faz parte, por exemplo, a semântica frásica (ou frástica), refere-se a uma ciência mais abrangente, pois assume, como objeto de estudo, o significado de quaisquer unidades que compõem uma língua, quer sejam palavras, sintagmas, frases ou, até mesmo, as relações entre frases. De acordo com essa concepção, uma sentença como “Estou morrendo de fome” pode significar muito mais do que a simples soma dos significados das palavras que a compõem, pois contém, além das pro- Semântica 12 Semântica do português_U1C1.indd 12 22/08/2017 12:11:35 priedades lexicais, aspectos pragmáticos e discursivos relativos ao contexto em que é enunciada. É importante observar, aliás, que, quando se trata da produção e da compre- ensão dos significados de palavras e sentenças, em situações concretas de uso da linguagem, a semântica acaba dialogando com outra área da linguística, que é a pragmática. Pragmática é a ciência que estuda, basicamente, o sentido e a função que os enunciados cumprem em contextos específicos de uso. São os aspectos pragmáticos, por exemplo, que nos ajudam a lidar, de uma maneira mais apropriada, com sentenças como “Você tem horas?”. Se levássemos em consideração somente as relações semânticas dessa sen- tença com os significados mais convencionais que ela pode denotar, teríamos, para essa pergunta, respostas muito literais, como “Sim, tenho” ou “Não, não tenho”. No entanto, em situações concretas de uso, devemos ser capazes de identificar, além das suas relações semânticas, as funções pragmáticas por trás dessa sentença,como a intenção do falante que a enuncia. Nesse caso, uma resposta mais adequada para a pergunta “Você tem horas?” seria o horário que o relógio marca no momento em que ela é feita. O termo “semântica”, em português, é uma tradução da palavra francesa “sémantique”, cunhada pelo filólogo francês Michel Bréal (1832–1915) no ensaio “As leis intelectuais da linguagem” [Les lois intellectuelles du langage], justamente para denominar essa ciência. A palavra francesa, por sua vez, deriva do verbo grego “semainein”, que significa algo como mostrar ou indicar por meio de sinais ou signos (BRÉAL, 1883). A semântica no passado De acordo com um esquema proposto pela linguista francesa Irène Tamba- -Mecz (2006), o percurso dos estudos dos signifi cados das línguas pode ser dividido em três momentos principais, que são defi nidos, em princípio, pelos fenômenos semânticos que compõem o seu foco de investigação. Dentro desse esquema, os estudos são agrupados em: semântica histórica; semântica estruturalista; semântica baseada em teorias linguísticas. 13Semântica Semântica do português_U1C1.indd 13 22/08/2017 12:11:35 A semântica histórica teve início em 1883, ano em que foi publicado, na França, o artigo seminal “As leis intelectuais da linguagem” (BRÉAL, 1883), estendendo-se até as primeiras décadas do século XX. Pode ser caracterizada por duas preocupações básicas em relação aos significados. Por ser alinhada à tradição daquela época (investigar a história da gramática das línguas [a sua filologia]), a primeira dessas preocupações está voltada aos estudos cro- nológicos dos fenômenos semânticos, que envolve a descrição e o registro da origem e da mudança dos significados das palavras ao longo do tempo. A outra preocupação é baseada, sobretudo, nas descobertas científicas feitas pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809–1882), nas décadas de 1850 a 1870, a respeito da evolução dos seres vivos. De fato, comparando as línguas a espécies de seres vivos (que surgem, evoluem e desaparecem em função das condições que a natureza impõe), a semântica histórica demonstra um grande interesse, também, em desvendar os princípios ou as leis gerais que determinariam as mudanças de significação nas línguas. Alguns repre- sentantes importantes da semântica histórica são o filólogo francês Michel Bréal (1832–1915) e o linguista e medievalista alemão Jost Trier (1894–1970). Figura 1. Michel Bréal (1832–1915), autor do termo “semântica” [sémantique] (1883). Fonte: Michel Bréal (2008). Semântica 14 Semântica do português_U1C1.indd 14 22/08/2017 12:11:35 O início da fase estruturalista da semântica pode ser atribuído à publi- cação da obra célebre Curso de linguística geral, do linguista e filósofo suíço Ferdinand de Saussure (1857–1913). Embora muitos estudiosos, na época do lançamento dessa obra, continuassem interessados em descrever a trajetória diacrônica (ou seja, evolutiva) dos significados das línguas, uma boa parte dos estudos em semântica, desenvolvidos a partir desse período, já começava a dar uma atenção maior à dimensão sincrônica (ou seja, estática) desse fenômeno, trazendo para dentro dessa ciência os postulados e princípios propostos por Saussure (2012). De modo geral, as preocupações dos estudos identificados com a semân- tica estruturalista giram em torno das relações entre os vários significados, atrelados aos seus significantes (SAUSSURE, 2012), no interior das línguas como sistema fechados. Uma das investigações que esses estudos empreen- dem, por exemplo, é a de elencar tantas propriedades semânticas (em termos de traços distintivos) quantas sejam necessárias e suficientes para definir cada conceito e determinar o seu lugar dentro desse sistema. Outro tipo de investigação característico desse período é o que busca organizar as palavras das línguas em campos semânticos, com base nas relações que existem entre os seus significados. Alguns estudiosos importantes da fase estruturalista da semântica são o linguista dinamarquês Louis Hjelmslev (1899–1965), o linguista alemão Leo Weisberger (1899–1985) e o linguista inglês John Lyons (1932–). Essa fase perdeu o fôlego em meados da década de 1960, quando surgiram diversos estudos em semântica vinculados às diferentes teorias linguísticas, muitas hoje consolidadas como áreas autônomas. Duas noções importantes que habitam a semântica estruturalista são o sema e o campo semântico. Semas são entendidos como traços semânticos distintivos, isto é, propriedades mínimas de significado que distinguem um conceito de outro. Por exemplo, as palavras “homem” e “mulher” compartilham vários semas, como “ser vivo”, “mamífero”, “primata”, “humano”, etc.; distinguem-se, no entanto, por, pelo menos, um sema: a palavra “mulher” contém o sema “fêmea”; a palavra “homem”, o sema “macho”. Já os campos semânticos são conjuntos de palavras que se agrupam com base em relações de sentido. Por exemplo, as palavras “minúsculo”, “pequeno”, “grande”, “enorme”, “gigantesco”, etc. podem compor um campo semântico relativo a tamanho. 15Semântica Semântica do português_U1C1.indd 15 22/08/2017 12:11:35 A partir da década de 1960, os estudos em semântica começam a se desen- volver no âmbito de determinadas escolas linguísticas, identificando-se com os postulados e modelos pertinentes a elas, como o princípio da cooperação, do filósofo britânico H. Paul Grice (1913–1988), a gramática gerativa, introdu- zida pelo linguista norte-americano Noam Chomsky (1928–), e a Teoria dos Protótipos, proposta pela psicóloga norte-americana Eleanor Rosch (1938–). Embora as suas preocupações, no que se refere à investigação dos signifi- cados das línguas, estejam alinhadas aos propósitos e enfoques de cada escola, esses estudos ainda guardam alguns pontos em comum. Por exemplo, algo que passa caracterizar os estudos em semântica, de um modo geral, é o fato de que o seu objeto de investigação não mais se limita somente aos significados das palavras (ou das unidades lexicais), mas se estende aos significados que podem ser atribuídos a estruturas sintáticas completas. Em outras palavras, podemos dizer que os estudos dos significados, nesse período, representam uma semântica tanto das palavras quanto das frases (e, até mesmo, das relações entre frases). Outras preocupações mais pontuais giram em torno, ainda, de como as estruturas mentais dos falantes ou os aspectos contextuais, pertinentes aos eventos concretos de uso da linguagem, podem interferir na determinação dos significados de palavras e frases. É essa diversidade de teorias semânticas que, a propósito, constitui o cenário dos estudos dos significados das línguas atualmente. Figura 2. Noam Chomsky (1928–), o maior nome da gramática gerativa. Fonte: Noam Chomsky (2017). Semântica 16 Semântica do português_U1C1.indd 16 22/08/2017 12:11:36 A semântica geralmente é encarada como uma contraparte da sintaxe, que é o estudo da forma das unidades que se manifestam na língua. Assim, enquanto a sintaxe se ocupa, de um modo geral, das regras e dos princípios que orientam a combinação tanto de palavras em sintagmas quanto de sintagmas em sentenças (MARTELOTTA, 2010), a semântica investiga a natureza das relações dessas palavras, sintagmas e sentenças com os seus respectivos significados. A semântica no presente Atualmente, a semântica constitui uma ciência tão produtiva e relativamente abrangente dentro do campo dos estudos da linguagem que podemos falar de várias semânticas, ou, mais especifi camente, de várias teorias semânticas. Essas teorias se reconhecem em função da maneira como abordam o seu objeto, isto é, os signifi cados das línguas. Cançado (2008) sugere, nesse sentido, três grupos principais de teorias semânticas: teorias de abordagem referencial; teorias de abordagem mentalista; teorias de abordagem pragmática. O primeiro grupo, o das teorias semânticas de abordagem referencial, investiga os significados em funçãoda relação entre, de um lado, as palavras e, de outro, as entidades do mundo que essas palavras devem representar. Uma teoria importante que podemos identificar como de abordagem referencial é a teoria denominada semântica formal, desenvolvida por estudiosos como o matemático e filósofo alemão F. Gottlob Frege (1848–1925) e o matemático e filósofo polonês Alfred Tarski (1901–1983). Duas noções fundamentais podem ser relacionadas a essa teoria: a de composicionalidade e a de condição de verdade. De acordo com o princípio da composicionalidade (FREGE, 2009), o significado de uma dada estrutura sintática seria resultado da combinação do significado das suas partes. Em outras palavras, diremos, então, que a nossa compreensão do significado de uma sentença qualquer dependerá, essencialmente, dos significados das palavras e dos sintagmas que a compõem. 17Semântica Semântica do português_U1C1.indd 17 22/08/2017 12:11:36 Para a noção de condição de verdade (TARSKI, 2007), postula-se que, para determinar o significado de uma sentença, precisamos conhecer em que condições ela seria verdadeira. Por exemplo, podemos compreender o significado da sentença “Maria é esposa de Pedro” na medida em que identificamos as condições que devem existir para que ela seja verdadeira no mundo, ou seja, que uma pessoa chamada de Maria seja, de fato, casada com outra pessoa chamada de Pedro. O segundo grupo de teorias semânticas, as de abordagem mentalista, tratam dos significados a partir da relação das palavras e frases não com as respectivas entidades no mundo, mas com aquilo que conhecemos (ou, ainda, com as nossas representações mentais) a respeito dessas entidades. Duas teorias, pelo menos, fazem parte desse grupo: a semântica cognitiva e a semântica representacional. Desenvolvida inicialmente pelos linguistas norte-americanos George Lakoff (1941–) e Ronald Langacker (1942–), a semântica cognitiva se coloca, dentro dos estudos da linguagem, como uma dissidência da gramática gerativa princi- palmente, Chomsky (1978). Um postulado fundamental dessa teoria semântica é o de que os significados da nossa língua se organizariam dentro da nossa mente, ou do nosso sistema conceptual, em termos de sistemas abstratos (ou esquemas) de elementos inter-relacionados. Dessa forma, o significado de uma palavra qualquer, como, por exemplo, “domingo”, é determinado, dentre outras coisas, pelo sistema abstrato de conceitos do qual ela faz parte (nesse caso, um esquema de “semana”) e que reúne outros elementos relacionados a ela (como “segunda-feira”, “terça-feira”, “quarta-feira”, etc.). Para compreendermos o significado de “domingo”, por- tanto, precisamos conhecer todo o esquema em que esse conceito está inserido. Já a semântica representacional, proposta pelo linguista norte-americano Ray Jackendoff (1945–), pode ser caracterizada como uma contraparte da gramática gerativa nos estudos dos significados. Um dos postulados que aquela teoria semântica compartilha com essa teoria sintática, por exemplo, é o de que os diferentes aspectos da linguagem (ou seja, a sua fonologia, sintaxe, semântica, etc.) seriam processados por módulos mentais autônomos. Ou seja, para a semântica representacional, as representações mentais que dão conta dos significados da nossa língua estariam localizadas em um compartimento próprio dentro da nossa mente. Por fim, temos o conjunto de teorias semânticas de abordagem pragmática, que estuda de que maneira se estabelecem os significados de palavras e frases nas situações concretas de uso da linguagem. Uma primeira representante desse grupo é a teoria dos atos de fala, cujos teóricos mais célebres são o filósofo inglês John Austin (1911–1960) e filósofo norte-americano John Searle (1932–). Semântica 18 Semântica do português_U1C1.indd 18 22/08/2017 12:11:36 O que essa teoria argumenta, basicamente, é que os enunciados, além de um significado convencional, também desempenham uma função específica, socialmente convencionalizada, como informar, persuadir, prometer, etc. Os enunciados são considerados atos (de fala), nesse caso, porque possuem algum efeito sobre o arranjo contextual em que são proferidas. Considere, por exemplo, as sentenças “Você poderia fechar a janela, por favor?” e “Está muito frio aqui dentro”. Embora denotem significados diferentes, ambas podem propor que a mesma ação seja tomada: uma por meio de uma ordem direta; a outra por meio de uma insinuação. Duas outras teorias importantes, que podemos classificar como de abordagem pragmática, são a semântica argumentativa, proposta pelo linguista francês Oswald Ducrot (1930–), e a análise do discurso, inaugurada pelo filósofo, também francês, Michel Pêcheux (1938–1983). A primeira delas orienta o estudo dos significados diante das intenções e pressuposições implicadas no uso das sentenças, não propriamente da sua estrutura sintática. Dessa forma, o que interessa para essa teoria é o fato de uma mesma sentença, como, por exemplo, “Estou sem dinheiro” pode ter mais de um significado, dependendo das inten- ções do falante. Por sua vez, a análise do discurso curso propõe o estudo dos significados em função das condições sociais, históricas, políticas, etc. da sua produção, ou seja, das relações de poder (ideológicas) entre os interlocutores. Figura 3. O linguista Oswald Ducrot (1930–). Fonte: Oswald Ducrot (2017). 19Semântica Semântica do português_U1C1.indd 19 22/08/2017 12:11:36 BRÉAL, M. Les lois intellectuelles du langage: fragment de sémantique. Annuaire de l’Association pour l’encouragement des études grecques en France, n. 17, p. 132-142, 1883. CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2008. CHOMSKY, N. Aspectos da teoria da sintaxe. 2. ed. Coimbra: Almedima, 1978. FREGE, F. Sobre o sentido e a referência. In: ______. Lógica e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2009. LEWIS, M. The lexical approach: the state of ELT and a way forward. Hove: Language Teaching Publications, 1993. MARTELOTTA, M. Conceitos de gramática. In: MARTELOTTA, M. (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2010. MICHEL BREAL. Vor 175 jahren: michel bréal, weltbürger und sprachwissenschaftler, wird in landau geboren. 2008. Disponível: <http://www.pfalzgeschichte.de/michel-breal/>. Acesso em: 30 jul. 2017. NOAM CHOMSKY. In: Wikipedia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Noam_Chomsky>. Acesso em: 30 jul. 2017. OSWALD DUCROT. Biographie & informations. 2017. Disponível em: <https://www. babelio.com/auteur/Oswald-Ducrot/33571>. Acesso em: 30 jul. 2017. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012. TAMBA-MECZ, I. A semântica. São Paulo: Parábola, 2006. TARSKI, A. A concepção semântica da verdade e os fundamentos da semântica. In: MORTARI, C. A.; DUTRA, L. H. (Orgs.). A concepção semântica da verdade: textos clássicos de Tarski. São Paulo: UNESP, 2007. 21Semântica Semântica do português_U1C1.indd 21 22/08/2017 12:11:38 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Semântica é o estudo dos significados das unidades lexicais. Sua utilização para o ensino de línguas, a tradução de textos ou para a redação de dicionários envolve o conhecimento dos fenômenos próprios dessa ciência. O vídeo a seguir mostra alguns fenômenos dos quais a semântica lexical se ocupa: sinonímia, antonímia, polissemia, homonímia, hiperonímia e hiponímia. Assista! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) "Unidade lexical" é um termo fundamental para os estudos em Semântica. A que ele se refere? A) Qualquer palavra ou frase que desempenha alguma função pragmática. B) Qualquer pista contextual que orienta o sentido de palavras e frases. C) Qualquer palavra ou combinação de palavras dotadade um significado elementar. D) Qualquer sentença cujo significado resulta da soma dos significados das palavras que a compõem. E) Qualquer palavra composta que denota um significado diferente dos significados das suas partes. 2) Qual é um dos objetos de interesse da fase estruturalista da Semântica? A) Os campos semânticos, que agrupam as palavras de uma língua com base nas relações que há entre os seus significados. B) As representações mentais dos falantes e a forma como elas determinam os significados de palavras e frases. C) Os aspectos cronológicos que indicam a origem dos significados das línguas. D) Os aspectos contextuais de uso da linguagem e a forma como eles determinam os significados de palavras e frases. E) As leis gerais que orientam a mudança dos significados das línguas ao longo do tempo. 3) Qual a relação entre Semântica e Pragmática? A) Ambas se interessam pelos significados no seu nível lexical. B) A Pragmática é a contraparte da Semântica que se ocupa das regras de combinação de palavras e sintagmas. C) A Semântica é a contraparte da Pragmática que se ocupa dos aspectos contextuais de uso da linguagem. D) A Pragmática se alia à Semântica, inserindo nos estudos dos significados questões relativas ao uso da linguagem. E) A Pragmática é uma abordagem semântica que se ocupa da forma como as representações mentais dos falantes determinam os significados. Qual a abordagem que caracteriza a teoria dos atos de fala, proposta pelo filósofo 4) inglês John Austin (1911-1960)? A) Abordagem pragmática. B) Abordagem diacrônica. C) Abordagem mentalista. D) Abordagem histórica. E) Abordagem referencial. 5) Um princípio que caracteriza a Semântica Formal é o princípio da composicionalidade. A que se refere esse princípio? A) O significado de uma palavra é determinado pela sua relação com outros conceitos pertinentes ao mesmo esquema mental. B) O significado de uma sentença é determinado pelas condições sociais, históricas, políticas, etc. em que ela se manifesta. C) O significado de uma sentença é determinado pelas condições em que ela seria verdadeira no mundo. D) O significado convencional de uma sentença também desempenha uma função pragmática. E) O significado de uma sentença seria resultado da soma dos significados de palavras e frases que o compõem. NA PRÁTICA A Semântica constitui um dos conteúdos que devem ser abordados no ensino de língua materna nas escolas, pois ela é fundamental para o desenvolvimento da capacidade de interpretação de textos. Um tópico de Semântica que pode ajudar os alunos a desenvolverem a sua capacidade de interpretação são as expressões idiomáticas. Expressões idiomáticas são frases cristalizadas na língua, cujo significado não pode ser depreendido a partir dos significados (literais) das palavras que as compõem. É o caso da expressão "andar nas nuvens", que quer dizer algo como "estar distraído". Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O Dicionário de termos linguísticos traz a descrição dos conceitos de Semântica Lexical (sinonímia, antonímia, etc.) e de outros campos de estudo da língua portuguesa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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