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História Medieval Ocidental e Oriental 02 1. O Império Romano 6 Introdução 6 Crise da República 7 Governo de Augusto 8 Características do Império Romano 9 Dinastias e Imperadores do Império Romano 10 Crise do Império Romano 11 Invasões Germânicas 11 2. Império dos Bárbaros 14 Povos Bárbaros 14 A Origem 15 Os Bárbaros e o Império Romano 15 Godos 15 Hunos 16 Magiares 17 Pictos 17 Vândalos 18 Suevos 18 Francos 19 Bárbaros na Espanha 19 Bárbaros na Itália 20 Bárbaros na Inglaterra 20 3. O Feudalismo 23 Introdução 23 A Origem do Feudalismo 24 Divisão da Sociedade Feudal 24 Aquisição de Terras 26 Economia 26 Política 26 Características do Feudalismo 27 Senhor Feudal 27 Declínio do Feudalismo 27 3 4. Fortalecimento da Igreja Católica 30 Estabelecimento da Igreja Católica 30 A Diversidade da Igreja na Alta Idade Média 32 Características Gerais da Igreja Ocidental na Alta Idade Média 32 A Conversão dos Reis Germânicos 34 Afastamento de Bizâncio e o Surgimento do Islã 35 Cruzadas 36 Inquisição 37 No Tempo das Catedrais 37 5. Fortalecimento das Monarquias 40 A Formação dos Estados Nacionais Modernos 40 O Processo de Centralização Monárquica 42 Condições Para a Centralização Monárquica - (França) 43 Mecanismos da Centralização Monárquica 45 O Fortalecimento da Monarquia Inglesa 46 O Fortalecimento das Monarquias na Península Ibérica 47 6. A Historiografia Sobre o Final da Antiguidade 50 Um Conceito e Suas Origens 51 Invasões Bárbaras 54 Entre Rupturas e Continuidades: a Cidade na Antiguidade Tardia 56 7. O Começo e Queda do Império Romano 66 Gestão Triunviratos 69 Império Romano do Oriente 70 Queda do Império Romano 70 4 8. O Império Bizantino 73 Dados Gerais 74 Desenvolvimento 74 Cristianismo x Islamismo 75 Queda 75 9. Referências Bibliográficas 79 05 6 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 1. O Império Romano Fonte: Revista Galileu1 Introdução o decorrer da fase imperial, Roma se destacou por possuir um governo autocrático sob respon- sabilidade dos célebres imperado- res. Nesta época, a supremacia dos romanos se prolongou até limites descabidos. O Império era uma organiza- ção na qual o poder político real se mantinha sob direção de apenas uma pessoa, o imperador. Ele se iniciou com o imperador Augusto, momento em que o Senado se mostrou limitado a ser uma enti- 1 Retirado em https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/10/o-que-voce-precisa-sa- ber-sobre-o-imperio-romano.html dade de suporte desse poder polí- tico. É possível definir o Império romano, conforme os seguintes perí- odos: Alto Império: Augusto a Dio- cleciano; Baixo Império: Diocleciano à queda do Império Romano no Ocidente. O Império Romano foi o ter- ceiro período da sociedade romana, de acordo com a periodização em- pregue pelos estudiosos. Esta época começou em 27 a.C., com a nomea- N 7 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL ção de Otávio como imperador de Roma, e prolongou-se até 476 d.C., momento em que o último impera- dor, Rômulo Augusto, foi deposto do trono. Tal acontecimento pôs fim no império em sua parcela ocidental. Esse é o período da concentra- ção do poder em Roma, uma vez que ele saiu das responsabilidades do Senado e passou para o imperador. O império é a etapa do pico dessa ci- vilização, pois ela havia atingido sua extrema dominação territorial, mas, fortuitamente, sua crise aconteceu, resultando o seu final, no século V d.C. Crise da República Fonte: https://www.todamate- ria.com.br/republica- romana/ A época do Império Romano foi o resultado da crise que Roma encarou nos 200 anos finais da re- pública. Esse colapso deu-se por meio de agitações sociais, levantes de escravos, mas, principalmente, por competições por domínio que ocasionaram a guerras civis. A ampliação territorial que Roma sofreu no decorrer do período republicano acarretou no apareci- mento de novas solicitações políti- cas que exigiam determinada con- centração do poder. A historiadora Mary Beard sustenta que o alargamento territo- rial romano, por meio da agregação territorial das províncias (expressão empregada para indicar as regiões apoderadas), gerou discussões no íntimo da política romana em rela- ção do gerenciamento do império e assuntos sobre o poder compartilha- do. Dessa forma, o poder que se en- contrava sob incumbência do Se- nado passou a ser contestado. Para mais, os generais roma- nos que atuavam nas campanhas da aquisição de Roma obtiveram noto- riedade e passaram a ter interesses políticos. Isso está associado, sobre- tudo, com a especialização dos exér- citos em Roma no século II a.C., o que cooperou para que os militares se transformassem em figuras real- mente significativas. A competição pelo poderio ocasionou guerras que abalaram o império, fazendo com que fossem inventados os triunviratos como maneira de controlar as concorrên- cias. Houve dois triunviratos no fim da República Romana, e ambos acarretaram novas guerras, mais 8 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL uma vez pelo domínio do poder. O primeiro triunvirato teve Júlio César despontando como ganhador da competição com Crasso e Pompeu. Em 46 a.C., ele se tornou ditador perpétuo, dispondo de poderes to- tais sobre Roma. Júlio César foi morto por inte- grantes do Senado em 44 a.C., e foi preciso construir um segundo triun- virato, formado por seus apoiadores. Esse triunvirato foi constituído por Otávio, Marco Antônio e Lépido e também acabou em guerra. Ao final dessa competição, Otávio saiu como ganhador. Mesmo que determinados in- tegrantes do Senado não aspiravam renunciar seu poderio político para dar espaço a uma figura centraliza- dora, como um imperador, não hou- ve escapatória, pois Otávio, ao ga- nhar a competição contra Marco An- tônio, tornou-se muito potente. Além disso, ele passou a dispor da cooperação do povo, algo impor- tante naquela época. Como conse- quência disso o Senado precisou for- necer pleno poder para Otávio, transformando-o em Princeps Sena- tus, ou seja, o primeiro dos senado- res, dando-lhe poderes únicos sobre o Senado. Seguidamente, Otávio adqui- riu o renome de Imperador, o que condizia com o cargo de comandan- te em chefe dos exércitos romanos, e, por último, adquiriu o título de Augusto, que lhe dava uma significa- ção sagrada, tornando-o figura foco de veneração religiosa. Governo de Augusto A elevação de Otávio e a abun- dância de títulos que ele obteve do Senado transformaram-no em uma personalidade com poder centrado. De modo efetivo, os historia- dores compreendem esse ocorrido como o término da República Roma- na, pois o poder concentrado nas responsabilidades do Senado foi passado para a incumbência de Otá- vio. Ainda com os poderes absolu- tos decorosos de um imperador, Otávio tinha grande destreza políti- ca e liderava o império conservando a imagem política do período repu- blicano. Seu reinado ficou conhecido como uma época de grande segu- rança política, além de fartura eco- nômica e paz interna. A preservação da paz interna e a segurança política viabilizaram que a agricultura passasse por uma significativa evolução e que, portan- to, a economia romana esmerasse. Isso porque, mesmo dispondo de poderes irrestritos, Otávio não desa- fiou o Senado e tampouco removeu seus privilégios. 9 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Ele também atribuiu vanta- gens para as tropas romanas por causa de seus serviços prestados e efetuou aperfeiçoamentos no siste- ma de cobrança de impostos. Essas e outras decisões criaram uma segu- rançapolítica e social que possibili- tou o melhoramento econômico em Roma. Todavia, além da solidez in- terna, o êxito nas campanhas milita- res externas acarretou na aquisição de novas riquezas e novos escravos, este último, um item indispensável na economia romana. Na questão militar, Otávio fi- cou conhecido por adquirir novos territórios para o Império Romano e também por proteger as fronteiras romanas das coações que se localiza- vam no limes, as divisas da região. A defesa das divisas romanas contra os povos bárbaros (como os romanos nomeavam os povos que ocupavam para além das fronteiras) era essen- cial para a manutenção do império. Com a valorização da econo- mia, Otávio começou uma campa- nha de renovação de Roma e de su- porte aos artistas. Tanto nessa cida- de quanto em diferentes localidades do império, Otávio decretou a edifi- cação de uma sequência de relevan- tes construções, como estradas, ba- nheiros públicos, aquedutos, entre outros. A efetivação dessas obras era uma maneira de assegurar a lealda- de das províncias ao imperador. As obras efetuadas no governo de Otávio em Roma levou-o a en- grandecer-se declarando que, quan- do ele abraçou o cargo, havia se de- parado com uma cidade constituída de argila e que, em seu domínio, transformou-a em uma cidade de mármore. Entretanto, apesar desse sucesso, ele também enfrentou em- pecilhos nos âmbitos militar e polí- tico. O sucesso e a política consti- tuída por Otávio ficaram afamados como Pax Romana (paz romana), perdurando-se por cerca de 2 sécu- los e sendo consumada somente com a morte de Marco Aurélio, em 180 d.C. Otávio morreu em 14 d.C., aos 76 anos de idade, e indicou seu filho adotivo, Tibério, como suces- sor. Características do Império Ro- mano Na época imperial, como o ter- mo mesmo insinua, o controle era praticado pelos imperadores, perso- nalidades que possuíam a autori- dade política, militar e religiosa so- bre toda a região romana. O apoio do poder político em Roma precisava: Ser aprovado pelo imperador, incumbido pelo gerenciamen- to de todo o império; Pelo exército, responsável pela preservação da ordem interna 10 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL e das campanhas de conquis- tas; E pelos governos das provín- cias adquiridas, figuras funda- mentais na preservação do po- der nessas localidades. A economia alimentava-se pelo que era fabricado nas provín- cias adquiridas. Dessa forma, a oferta de alimentos em Roma era consequência da fabricação de grãos na Península Ibérica e no norte da África, por exemplo. A participação dos escravos era in- dispensável para o exercício dessa economia, uma vez que toda a sua produção necessitava dessa ativi- dade. Os escravos, no que lhe diz respeito, eram adquiridos nas guerras de conquista que os roma- nos efetuavam. Era essencial para a economia romana que as provín- cias preservassem uma produção de riquezas contínua. Por esse motivo, o poder cen- tralizado em Roma interferia fre- quentemente nelas, como uma ma- neira de assegurar a sua eficiência e as suas riquezas. Dinastias e Imperadores do Império Romano O período imperial romano, como citado, perdurou-se de 27 a.C. até o ano de 476 d.C. no decorrer dessa fase, inúmeros imperadores passaram pela regência romana e fo- ram reunidos pelos historiadores em quatro dinastias que existiram de 27 a.C. até 235 d.C. Depois do último imperador da Dinastia Severa e Alexandre Se- vero ter sido morto, os historiadores julgam que começou a crise do sé- culo III d.C. Dinastia Júlio-Claudiana (27 a.C. - 68 d. C) Dinastia Flaviana (69-96 d.C.) Dinastia Nerva-Antonina (96- 192 d.C.) Dinastia Severa (193-235 d.C.) Dentre todas essas dinastias, realçaram-se os imperadores: Otávio Augusto; Tibério; Calígula; Nero; Vespasiano; Tito; Nerva; Trajano; Marco Aurélio; Caracala; Geta; Alexandre Severo, entre ou- tros. Nero, por exemplo, tornou-se conhecido na história por ter sido in- criminado como o responsável por um incêndio de grandes extensões que alcançou Roma em 64 d.C. 11 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Crise do Império Romano A partir do século III d.C., os historiadores afirmam que começou a fase de crise do Império Romano. A primeira expressão dessa crise ocorreu na economia, que ma- nifestou vestígios de declínio. Isso porque, no decorrer do período im- perial, a economia romana era de- pendente do trabalho escravo, prin- cipalmente na região ocidental do império, onde se tornou exagerada. Dado que, com a ampliação territorial, houve um grande movi- mento de escravos sendo transpor- tados para atuarem no império. Isso fez com que o sistema escravista ro- mano ficasse submisso das guerras de expansão, e, quando as divergên- cias tornaram-se mais defensivos do que ofensivos, a aptidão de aquisi- ção de escravos caiu energeticamen- te. Sem o número de escravos o bastante para responder às exigên- cias do império, a economia parali- sou-se. Além disso, a dependência desses labutadores fez com que a competência técnica da produção de riquezas não progredisse, o que pre- servou a produção pequena. Com a paralisação da economia, a conjun- tura piorou e o império passou a não ter economias o bastante para o gerenciamento de todas as de- mandas. Uma maneira de resolver a ca- rência de recursos era subtraindo as tropas militares, culpadas por utilizar grande porção das verbas, e aumentar taxas. A primeira maneira deixava as divisas expostas e sujeitas a serem atacadas; já a segunda causava a re- pulsa do povo, provocando revoltas no império. Foram realizadas determinadas ações com a intenção de reestruturar o império, e, assim, foram definidos congelamentos de valores, fragmen- tação do império em duas parcelas e até a mudança da capital de Roma para Constantinopla. A fragmentação do Império Romano ocorreu em 395 e originou o Império Romano do Ocidente, se- diado em Roma, e ao Império Roma- no do Oriente, sediado em Constan- tinopla. Todavia, nenhuma dessas reestruturações resolveu os proble- mas existentes. Para piorar a situação, a cor- rupção e a concorrência pelo poder em Roma colaboraram para abalar o império, que estava no trajeto da ru- ína. O motivo que influenciou deci- sivamente o fim dele foram as ocu- pações germânicas, que se iniciaram de forma expansiva a partir do sé- culo III d.C. Invasões Germânicas Os germânicos eram povos que ocupavam para além da frontei- 12 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL ra norte do Império Romano, nos territórios chamados de Germânia. Esses povos começaram a mi- grar por diferentes motivos pressu- postos pelos historiadores, como a busca por regiões e clima mais agra- dáveis para poderem viver, e alguns migravam puramente porque esca- pavam de outros povos em migra- ção. De toda maneira, movimenta- vam-se incontáveis povos germâni- cos, como francos, alamanos, sue- vos, ostrogodos, saxões, vândalos, hérulos e etc. Todos eles mudavam para o interior do Império Romano, e como Roma tinha baixado o seu número de militares, suas delimitações fica- ram expostas. Os obstáculos militares e econômicos e as ocupações germâni- cas ocorreram concomitantemente. Dessa forma, Roma foi incapaz de resguardar seu território, que co- meçou a ser ocupado por inúmeros desses povos no decorrer dos sécu- los III, IV e V d.C. O próprio municí- pio de Roma afligiu-se com a con- juntura, pois, em 410, os visigodos roubaram a cidade, e, em 476, os hé- rulos, governados pelo rei Odoacro, penetraram-na e depuseram o últi- mo imperador romano, Rômulo Au- gusto. Após isso, o Império Romano do Ocidente dissolveu-se, e os terri- tórios que integravamessa porção foram invadidos por distintos povos germânicos. Nessas localidades, a combi- nação da cultura germânica com a cultura latina ocasionou significati- vas mudanças e estreou o período da Idade Média. A porção oriental transfor- mou-se no Império Bizantino e per- durou até 1453. 1 3 14 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 2. Império dos Bárbaros Fonte: Toda Matéria2 Povos Bárbaros declínio do Império Romano do Ocidente foi apressado pela invasão de povos bárbaros. Bárbaros era a designação que os romanos davam para aqueles que moravam fora das divisas do Impé- rio e não se comunicavam em latim. Dentre os grupos bárbaros é possível destacar os: Germanos: de origem indo-euro- peia, viviam na Europa Ocidental. As nações germânicas mais impor- tantes eram: Os vigiados, Ostrogodos, 2 Retirado em https://www.todamateria.com.br/povos-barbaros/ Vândalos, Bretões, Saxões, Francos etc. Eslavos: oriundos da Europa Ori- ental e da Ásia, abrangiam os russos, tchecos, poloneses, sérvios, entre outros. Tártaro-mongóis: eram de ori- gem asiática. Integravam este grupo as tribos dos hunos, turcos, búlga- ros, etc. A nomeação “Bárbaros” foi cri- ada por gregos e romanos para ca- racterizar a população vinda do nor- te, do oeste e do centro da Europa. O 15 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Esses tiveram grande inter- venção sobre a Europa, pois mistu- raram seus costumes com os do Im- pério Romano. A Origem A expressão "bárbaro" não se origina de um grupo cultural em particular e foi utilizada por gregos e romanos para retratar culturas que eles consideravam primitivas e que embasavam os triunfos mais pela força corporal do que pelo intelecto. Essa percepção, associada à vi- olência, foi desdobrada pelos roma- nos que começaram a denominar co- mo bárbaros os povos que não com- partilhavam de sua cultura, dialeto e hábitos. Ainda assim, os romanos conceituavam essas tribos com guer- reiros valentes e corajosos. Atualmente, o termo "barbaro" é utilizado para retratar quem usa de violência em demasia sem ponderar suas ações e afeta assim, os demais ci- dadãos. Os Bárbaros e o Império Ro- mano Ao passo que o Império Roma- no se expandia pela Europa e pela África do Norte, recrutava diversas tribos e populações. Algumas dessas tribos e populações guerrearam de forma agressiva contra o exército ro- mano, que começou a chamá-los de bárbaros. No entanto, não foi a todo mo- mento que, romanos e bárbaros en- contraram-se lutando. Em meados dos séculos IV d.C. e V d.C., diversos povos foram agregadas ao Império como aliadas e os romanos arreba- nharam garotos militares góticos e vândalos nas batalhas. Dessa forma, diversas tribos conseguiram se formas dentro das divisas do Império Romano. Godos Fonte: https://jvargascarinanco.wixsite.com/ ecpumanque/single- ost/2015/09/25/Invasiones-germanas Os godos eram uma tribo ger- mânica oriental que iniciou na Es- candinávia. Eles deslocaram-se para o sul e ocuparam parte do Império Romano e eram povos temíveis, cu- jos aprisionados eram oferecidos ao seu deus da guerra, Tyr. Uma potência de godos efe- tuou o primeiro ataque ao Império Romano em 263, na Macedônia. 16 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Também atacaram a Grécia e Ásia, mas foram abatidos um ano depois e levados de novamente à origem pelo rio Danúbio. Esta população foi decompos- ta pelos escritores romanos em dois seguimentos: Os ostrogodos (godos de leste) E os visigodos (godos do oeste). Os primeiros tomariam a Pe- nínsula Itálica e Balcãs, ao mesmo tempo em que os outros habitariam a Península Ibérica. Hunos Fonte: https://aventurasnahisto- ria.uol.com.br/noticias/almana- que/historia-curiosidades-atila- huno.phtml Os hunos eram populações nô- mades, advindas da Ásia Central, que se apoderaram da Europa e edi- ficaram um grandioso império. Es- ses povos venceram os ostrogodos e visigodos e alcançaram à divisa do Império Romano. Era uma população receada por toda a Europa como combaten- tes modelos, especialistas no tiro com arco e equitação, e surpreen- dentes em lutas. O único comandante que con- seguiu juntá-los foi Átila, o Huno ou o Rei dos Hunos, e viveu entre 406 e 453. Reinou sobre a Europa Central e seu império se expandiu para o Mar Negro, Rio Danúbio e Mar Bál- tico. Foi um dos piores rivais do Império romano do Oriente e do Ocidente. Atacou duas vezes os Bal- cãs e chegou a cercar Constantinopla no segundo ataque. Ao alcançar a entrada de Ro- ma, o papa Leão I (400-461) o per- suadiu de não apropriar-se da cida- de e Átila recuou com seu exército. Atacou a França, mas foi afas- tado na localização da atual cidade de Orleans. Mesmo Átila não tendo deixado um legado marcante, tor- nou-se uma das personalidades mais famosas da Europa, sendo re- nomado na história ocidental como o "Flagelo de Deus". Muito gananciosos, os hunos eram combatentes habilidosos, po- rém agressivos. Destinavam-se a ocupações, roubos e pilhagens para seu sustento e ampliação territo- rial. 17 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Por causa dessa ganância, du- rante anos coagiram os demais po- vos bárbaros para um ataque ao Im- pério Romano com a intenção de utilizar terras prolíferas (a Germâ- nia era uma terra infértil, tomada por pântanos, o que complicava a plantação) e poupar riquezas. Quan- do finalmente conseguiram, no sé- culo V, colaboraram fortemente pa- ra o declínio do Império, mas não fo- ram os principais culpados, pois na época das ocupações o Império já se encontrava em conflito. Magiares Fonte: https://definicionyque.es/ma- giares/ Os magiares são um grupo ét- nico oriundo da Hungria e regiões próximas. Encontravam-se a leste dos Montes Urais, na Sibéria, onde caçavam e pescavam. Na área, ainda cuidavam de cavalos e elaboraram métodos de equitação. Deslocaram-se para o sul e pa- ra o oeste e, em 896, sob o comando do príncipe Árpad (850-907), os magiares cruzaram as Montanhas dos Cárpatos para adentrar na Bacia dos Cárpatos. Pictos Fonte: http://deolhonailha-vix.blogs- pot.com/ 2018/07/os-pictos-o-povo- barbaro-que-nao-se.html Os pictos eram povoações que viviam em Caledônia, local que atu- almente integra a Escócia ao norte do rio Forth. Não muito se conhece este povo, mas é possível que parti- lhassem alguns deuses com os cel- tas. Habitavam ao norte do Muro de Antonino e no decorrer da inva- são romana da Grã-Bretanha, os pic- tos foram incessantemente ataca- dos. Sua mudança para o cristia- nismo acontece no século VI, através da pregação de São Columba (521- 591). 18 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Vândalos Fonte: https://pt.wikipe- dia.org/wiki/V%C3%A2n dalos Como uma tribo germânica oriental, os vândalos ingressaram no fim do Império Romano no de- correr do século V. Percorreram a Europa até que se depararam com a oposição dos francos. Mesmo tendo saído como vencedores, 20 mil vândalos perderam a vida na luta e então, atravessaram o rio Reno, ocupando a Gália onde conseguiram conter o domínio romano no norte deste re- gião. Roubavam a população com que se deparavam em sua trajetória e avançaram para o sul através da Aquitânia. Desta forma, atravessa- ram os Pirineus e se encaminha- ram para a Península Ibérica. Ali se constituíram em diversas porções da Espanha, como a Andaluzia, no sul, onde se prenderam antes partir para a África. Em 455, os vândalos golpea- ram e invadiram Roma. Roubaram a cidade por duas semanas, fugin- do com diversos utensílios de valor.A expressão "vandalismo" perdura como uma herança desta pilhagem. Suevos Mais uma tribo oriunda da atual Alemanha, mais exatamente da cidade Stuttgart. Sem conjun- tura para atuar a frente de tantas lutas, os romanos são vencidos e entregam a terra da Galícia (parte da Espanha, mas também de Por- tugal) aos suevos. Mesmo com a oposição dos lusitanos, os suevos se estruturam em um reino a partir de 411 e fazem da cidade de Braga, em Portugal, sua capital. Serão cristianizados na segunda metade do século VI, quando reinava o rei Teodomiro (falecido em 570). Em 585, os visigodos os aba- tem e os suevos tornam-se vassalos do reino visigodo que tinha sua ca- pital em Toledo. 19 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Francos Fonte: http://povosgermanicos.blogs- pot.com/ 2009/11/francos-salios.html Por mais ou menos 500 anos d.C. os francos geriram o norte da França, que ganhou este nome por causa desta tribo. O local foi comandado entre 481 e 511 por Clóvis (466-511), ca- sado com a princesa católica Clotilde de Borgonha (475-545). Sob inter- venção desta, Clóvis se converteu ao cristianismo e, como era habitual na época, forçou seus súditos a acom- panhá-lo. A conversão do supremo foi um início para a concórdia entre os francos e os romano-gauleses e a França se tornou o primeiro reino cristão após a Queda de Roma. Em 507, Clóvis lançou um con- junto de leis que, entre outras deli- berações, colocava Paris como capi- tal da França. Ao falecer, tinha inú- meros descendentes que repartiram o reino entre si. Bárbaros na Espanha Até o começo do século V, o Império Romano estava ruindo por causa da ocupação dos povos bárba- ros. Em 409 d.C., alanos, vândalos e suevos invadiram a maior parte da Espanha. Um dos nomeados como po- vos germânicos, os visigodos, asso- ciaram-se aos romanos. Em 416-418, os visigodos ocu- param a Espanha e venceram os ala- nos e, consecutivamente, foram para a França. Os vândalos abarcaram os restantes dos alanos e, em 429 cru- zaram para o Norte da África, dei- xando a Espanha para os suevos. A maioria das terras que cons- tituía parte a Espanha se tornou per- tencente aos visigodos em 456, mo- mento em que o rei visigodo Teodo- rico II (453-466) comandou o exér- cito e venceu os suevos. Uma diminuta parcela situada ao nordeste espanhol continuou sob domínio romano, mas foi tomada pelos visigodos em 476. Cidades ancestrais que se en- contravam sob o controle romano 20 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL começaram a ruir perante as investi- das dos visigodos e em 589, o rei Re- caredo I (559 - 601) converteu-se ao catolicismo romano e dessa forma, uniu os hispanos-romanos e os visi- godos que moravam ali. Após isso, em 654, o rei Reces- vinto (falecido em 672) organizou um código único para seu reino. As competições internas entre os visigodos enfraqueceram o reino, que sucumbiram perante os mouros. O reino visigodo foi desmanchado pela ocupação muçulmana em 19 de julho de 711. Bárbaros na Itália No século V, a destituição do Império Romano deixou a Itália di- vidida. Entre 409 e 407, os povos germânicos ocuparam a Gália e em 407, o exército romano deixou a Grã-Bretanha. Três anos mais tarde, Alarico I, o Gótico (370-410) foi apanhado em Roma, mas o império não ruiu. O declínio foi marcado entre 429 e 430, momento em que vânda- los atravessaram a Espanha a partir do Norte da África, o que foi essen- cial para o declínio dos romanos. Em 455, Roma foi roubada pe- los vândalos e o derradeiro impera- dor romano, Rômulo Augusto (461- 500) foi destituído do trono em 476. Desta forma, o germânico Odoacro (433-493) nomeou-se rei da Itália. Odoacro efetuou diversas mudanças administrativas e conse- guiu chefiar toda a península. O convívio pacato entre ger- mânicos e romanos continuou tam- bém sob o reinado de Teodorico (454-526), sucessor de Odoacro. O Império Romano, porém, resistiu no Oriente e passou a ser co- nhecido como Império Bizantino. Bárbaros na Inglaterra Saxões, anglos, vikings, dina- marqueses vindos da Escandinávia, começaram os ataques à Grã-Breta- nha, no século III e em meados do século V, gozando das ocupações que ocorriam na Península Itálica. As ilhas britânicas eram inva- didas pelos celtas e pictos e sempre foram difíceis de serem protegidas, por causa da sua longitude. Por esse motivo, os romanos abriram mão de admitir mercenários entre os povos germânicos associados, exercício muito habitual nesta época. Desta forma, mais e mais po- vos bárbaros alcançavam as ilhas, abatiam o rei local e aproveitavam para se fixar. Os celtas continuaram a deba- ter contra os anglo-saxões, mas são vencidos. De maneira igual, sua reli- 21 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL gião e hábitos são aspirados aos pou- cos através da cristianização das ilhas britânicas. Esses episódios aca- baram se tornando o tema para os contos do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. 23 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 3. O Feudalismo Fonte: Todo Estudo3 Introdução começo do Feudalismo está as- sociado à queda do Império Romano, ocasião em que muitas ocupações aconteceram na área, fa- zendo com que a população (tanto os fidalgos quanto aqueles de posições mais baixas da sociedade) fosse para o interior. A partir disso, toda uma orga- nização hierárquica foi elaborada apoiada na terra, que atuava ao mesmo tempo como moeda de troca, 3 Retirado em https://www.todoestudo.com.br/historia/feudalismo lugar de sustento e conjuntura fi- nanceira fundamental do período. O feudalismo proporcionou uma reestruturação no padrão de conformação social, política, finan- ceira e cultural dos países da Europa Ocidental. O sistema inventou uma forma de produção que assinalou o começo da Idade Média depois da queda do Império Romano. O motivo fundamental para esse acontecimento está na autori- dade política e militar do Mediterrâ- O 24 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL neo, o que possibilitou que a Europa se isolasse comercialmente. Com a ampliação que teve o seu cume com a Batalha de Poitiers, a comunidade europeia sofreu inú- meras ocupações. Dessa forma, a nobreza e os camponeses passaram a se insular no campo, distante das cidades. Assim, apareceram os Rei- nos Bárbaros (ou seja, não-roma- nos), cuja origem essencial era ger- mânica. A disposição dessas socieda- des sugeriu as primeiras evidências do que viria a se transformar no Feu- dalismo. O principal Reino foi o Franco, que possuía inúmeros por- menores em relação aos demais. Os mais significativos eram a concentração política prematura e os acordos com a igreja católica. Foi também nesse momento que acon- teceram as primeiras segmentações de terra, em condados. Com a sequência de reis, o Rei- no Franco passa a ser segmentado entre os filhos do Rei Luís, o Piedo- so, a partir do Tratado de Verdun. Com isso, os feudos se trans- formam em hereditários e o Feuda- lismo inicia sua atuação concreta na sociedade europeia. Sua organização está baseada na combinação de itens romanos, germânicos e árabes. O Feudalismo está decom- posto em duas grandes fases: a Baixa Idade Média e a Alta Idade Média. A Origem do Feudalismo Uma das razões que levou ao aparecimento do feudalismo foi o crescimento da ruralização, que aconteceu com a população por cau- sa da economia ter experimentado uma atenuação nas operações comer ciais com a crise de Roma. A ocupação dos povos bárba- ros também foi uma das razões que propiciou o começo do feudalismo, pois com a grande selvageria,os ro- manos foram forçados a se distanci- arem da cidade carregando em seu poder os camponeses. A instabilidade e a violência fi- zeram com que os feudos (domínios territoriais) se dispersassem para di- ferentes áreas. Como os reis não possuíam recursos econômicos e nem militares para defender as po- pulações dessas regiões, o encargo se tornou dos senhores feudais. Com isso, começava o sistema fundamentado no sistema de servi- dão, no qual os trabalhadores (ser- vos), em troca de segurança, fariam trabalhos agrícolas dentro de uma grande propriedade rural, onde ha- via terras para plantio, um castelo reforçado, aldeias, pastos e bosques. Divisão da Sociedade Feudal A sociedade do feudalismo era fragmentada em três camadas soci- ais: 25 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL O clero, possuindo como com- ponente fundamental a igreja católica; A nobreza, formada pelos se- nhores feudais; E os servos, integrada pela ca- mada mais baixa e os campo- neses. As camadas eram designadas estanques, por isso, no regime não havia mutabilidade social, ou seja, os servos estavam "destinados" a vi- verem o resto de suas existências trabalhando para os senhores. A nobreza, constituída pelos proprietários dos feudos ou senho- res feudal, era a camada mais privi- legiada do feudalismo. Proprietária dos grandes territórios rurais, ela desempenhava poder total sobre as demais camadas. Dessa maneira, a camada se fracionava em suseranos, que eram os proprietários da terra, e vassalos, que eram os serventes obreiros. Além disso, era a encarregada pela administração de normas, outorga- ção de vantagens, gerenciamento da justiça, dentre outros. O clero era constituído essen- cialmente pelos praticantes do cato- licismo. Com isso, o cristianismo, re- gime conduzido pela igreja católica delineou a conduta, as ideologias e a cultura do povo medieval, tornando a igreja a entidade mais influente do sistema feudal. Os servos, por sua vez, repre- sentavam a maior camada do feuda- lismo. Era formada por escravos, vi- lões e camponeses que eram força- dos a realizar trabalhos laboriosos. Dessa forma: Plantavam, Colhiam, Fabricavam azeite, vinho, pão, farinha, queijo, manteiga, Caçavam, Pescavam, E ainda trabalhavam numa grosseira indústria artesanal. Além disso, o serviço desses indivíduos compreendia inúmeras obrigações, entre elas, o ofício como rendeiro, situação em que se realiza- va o pagamento ao senhor com pro- dutos ou prestações de trabalho pelo uso da terra. O serviço grátis era efetuado por determinadas famílias em dias estabelecidos e a gratificação era oferecida por meio da concessão da utilização de fornos, moinhos e ou- tras ferramentas agrícolas. A seguir são expostos alguns dos impostos que eram pagos por eles: Capitação: imposto despen- dido por cada integrante da fa- mília; Dízimo: 10% da produção pre- cisavam ser destinados à igreja; Talha: uma parcela da produ- ção deveria ser destinada ao senhor feudal; 26 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Banalidade: pagamento que viabilizava o uso de posses do feudo, a exemplo de moinhos, fornos, estradas, etc. Havia um conjunto de traba- lhadores conhecidos como ministe- riais. De maneira oposta aos servos, eles podiam obter uma melhoria dentro da nobreza. Quando os vassalos alcança- vam algum benefício advindo dos suseranos, eles precisavam compro- meter-se a atender esse senhor, in- clusive, atuar no seu exército caso fosse preciso. Aquisição de Terras As terras na época do feuda- lismo podiam ser obtidas de três ma- neiras: Pela permissão do rei ou de um importante senhor feudal, Através de guerras, Ou do matrimônio. A permissão por um senhor feudal ocorria quando ele queria res- sarcir o trabalho de um nobre ou ca- valeiro específico, a fim de conquis- tar os servos dessa família. Quando não ocorria de manei- ra tranquila, era usual que aconte- cesse por meio de guerras. Na maior parte elas ocorriam quando deter- minados proprietários donos de ter- ras queriam expandir as suas terras. Outra forma que interferia nesses conflitos era o encerramento do vínculo existente entre servos e senhores feudais. E por último, o ca- samento, situação que visava preser- var o comando de um território nas mãos da mesma família, os reis ca- savam seus filhos. Economia A economia no feudalismo era direcionada à demanda local, por- tanto, as operações comerciais eram quase inexistentes, sendo a agricul- tura a atividade fundamental de sus- tentação econômica. O número de produtos era o bastante e quando sobrava ia para a posse dos senhores feudais. Não ha- via a permuta de moedas. Quando era indispensável a arrecadação de produtos que neces- sitavam, mas não fabricavam, os tra- balhadores efetuavam a troca de produtos (escambo). Política A política do feudalismo esta- va totalmente unificada nas mãos dos senhores feudais, uma vez que eles eram incumbidos da criação de exércitos particulares, da edificação dos castelos protegidos, da separa- ção dos operários agrícolas, além de possuírem regalias como a dispensa tributária e judiciária. 27 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Características do Feudalismo Da mesma forma que em ou- tros períodos da história, o Feudalis- mo traz consigo inúmeras particula- ridades marcantes. Entre elas, é pos- sível destacar: Economia baseada na agricul- tura de subsistência; Inexistência de comércio ou qualquer operação mercantil; Inexistência de moedas ou qualquer tipo de dinheiro; Predomínio da troca entre pessoas para obtenção de bens de consumo; Descentralização do poder; Presença do trabalho servil. A sociedade feudal era uma or- ganização vigorosamente estamen- tal e imóvel. Por isso, havia escassa mutabilidade social e, portanto, al- guém nascido em específica posição não possuía a expectativa de trocar de classe social no decorrer da vida. A fragmentação da sociedade feudal era: Realeza; Alta nobreza e clero; Nobreza média; Artesãos ricos; Artesãos comuns; Servos; Escravos. A escravidão, embora não fos- se uma realidade muito usual no pe- ríodo, ela existia. A maior parte dos escravos assim era nomeados por causa de dívidas ou de guerras. A maior ligação nesse caso, en- tretanto, era a de suserania e vassa- lagem, que acontecia quando o se- nhor feudal transferia uma parcela de terra ao servo em troca de fideli- dade e trabalhos. Senhor Feudal O senhor feudal era o proprie- tário dos feudos, ou seja, das terras que eram transferidas aos servos como negociação comercial. A sua responsabilidade princi- pal para com esse grupo era defen- der os seus servos, principalmente em situações de guerras ou invasões. Os senhores feudais também possuíam grande domínio político e atuavam lado a lado com a Igreja Ca- tólica, que dispunha de um forte do- mínio na época e comandava o rumo ideológico de toda a população. Os Reis, por sua vez, notaram um gran- de caimento do seu comando. Declínio do Feudalismo Por conta das significativas transformações que aconteceram na estrutura da sociedade, como a volta das operações comerciais e o au- mento populacional, o feudalismo sofreu as perturbações e começou a se consumir de maneira progressiva. 28 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL As associações de fabricações tiveram a atuação do livre trabalho pago. Com isso, a prepotência dos senhores feudais sobre os servos cresceu, na tentativa de preservar uma relação comercial de acordo com as novas demandas da socie- dade. A situação foi a razão de rebe- lião para inúmeros servos, que já se encontravam descontentes com a formacomo eles trabalhavam. Isso sucedeu no escape de muito deles, como também na alteração de atua- ção de alguns senhores, que para controlar a situação, decidiram ven- der a soltura de alguns trabalhado- res. O começo de uma nova classe de camponeses, fez com que inúme- ros senhores passassem a empregar trabalhadores pagos. Isso deu início ao aparecimento de um futuro re- gime, o capitalismo. 29 30 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 4. Fortalecimento da Igreja Católica Fonte: Conib4 Estabelecimento da Igreja Católica ara melhor entendimento so- bre o que foi a Idade Média (476 a 1453) é preciso saber como a Igreja católica progrediu nessa época. Foi no decorrer dos 10 séculos que comumente nomeiam de "Idade Média" que a influência dessa enti- dade religiosa, ligada à fé cristã, cresceu e difundiu-se de forma des- comunal. 4 Retirado em https://www.conib.org.br/brasil-vota-contra-entrada-na-onu-de-grupo-palestino-com-lacos- terroristas/ A Igreja católica se apoia no cristianismo, o credo em Jesus Cris- to, um homem que anunciava ser encaminhado pelo criador do uni- verso, Deus, para pregar aos ho- mens. Ela apareceu no século 1 da era da humanidade, sendo o calen- dário cristão determinado pelo ano que se supõe ser o nascimento de Je- sus. O calendário verídico de todo o mundo ocidental até os dias atuais é o calendário cristão. P 31 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL O cristianismo definiu-se co- mo entidade nos últimos séculos do Império Romano. Ao mesmo tempo em que o Im- pério Romano desfazia-se em confli- tos internos, a Igreja Católica fortifi- cou-se e consolidou seus pilares. A in- tolerância para com os cristãos termi- nou a partir de 313 com o Édito de Mi- lão, firmado pelo imperador Constan- tino. Desde o ano de 380, com o fir- mamento do Édito de Tessalônica pelo imperador Teodósio, o Cristia- nismo passou a ser a religião oficial do Império. Todavia, a autoridade da igre- ja só se estabeleceria com a aceita-ção dos povos germânicos ao catoli-cis- mo. Com isso, a Igreja resistiria à des- membração do Império Romano do Ocidente, concomitantemente com a transformação na mais influ-ente entidade de sua época. Fonte: https://www.estudopra- tico.com.br/igreja-catolica-na-idade- media/ A Igreja Católica era a maior motivadora da ideologia social e cul- tural daquele tempo, seu domínio era tão grande que interferia até no pró- prio império. Neste tempo, a igreja evangelizava para seus subordinados ofertarem suas posses para alcançar a tão almejada redenção, já que a vida na terra teoricamente não significava completamente coisa nenhuma. Com essa concepção de desa- pego, o Clero atraiu aproximada- mente um terço dos terrenos férteis da Europa Ocidental, sendo ela uma grandiosa senhora feudal. O assentamento da Igreja e a criação do dogma eclesiástico aconte- ceram a partir das divergências ocasi- onadas pelos sacrilégios, isto é, todos os dogmas religiosos que não estavam em conformidade com a ortodoxia corrente. Esses sacrilégios ameaçavam a existência da Igreja e foram ardua- mente hostilizados. Como exemplos, é possível destacar: O gnosticismo; Pelagianismo; Priscilianismo; E o arianismo, um dos sacrilé- gios que mais conquistou apoi- adores. O arianismo apareceu graças à doutrina de Ário (viveu no século IV) e rejeitava a concepção da Trindade. Para Ário, o Pai e Cristo não compartilhavam a mesma essência, dessa forma, Cristo não era Deus. 32 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Ele julgava Cristo como uma concepção do Pai e, embora sendo divino, era ínfero ao Pai. O arianismo adquiriu diversos apoiadores pelo mundo cristão, al- cançando proteção por imperado- res, como foi o caso de Constâncio II. A complicação do arianismo foi tão grande que foi propagado en- tre os povos germânicos a partir de Úlfilas, que persuadiu os godos, dis- persando-se para ostrogodos, visi- godos, vândalos, e etc. A Igreja Cató- lica estabeleceu-se entre os povos germânicos a partir da aceitação de Clóvis, rei dos francos no século VI. Esse cenário inicial de firma- mento da Igreja, em sua maioria, foi graças a determinadas figuras, como Santo Agostinho, Santo Atanásio, São Jerônimo, Gregório Magno etc. Todos colaboraram para a es- truturação da doutrina eclesiástica e a consolidação da Igreja a partir da luta contra as heresias. A Diversidade da Igreja na Alta Idade Média Entre os séculos V e VII, mes- mo com o seguimento das inúmeras “invasões bárbaras” em um cenário inicial e, gradualmente, da criação dos reinos germânicos, assim como a estruturação de uma soberania franca sob eles, é possível verificar a função essencial dos bispos no Oci- dente cristão como “pilares incon- testáveis da Igreja” (BASCHET, 2006, p. 63). Como demonstra Jérôme Bas- chet: Eles captam em seu benefício o que subsiste das estruturas ur- banas romanas, de modo que, ao passo que seu prestígio cres- ce, a função episcopal é inves- tida pela aristocracia, especial- mente a senatorial. Essa aristocratização da Igreja, bastante saliente na Gália do Sul e na Espanha, assegura a manutenção de uma rede de ci- dades episcopais nas mãos de homens bem formados, escora- dos por famílias poderosas e que sabem governar. O bispo é, então, a principal autoridade urbana, concentrando em si po- deres religiosos e políticos: ele é juiz e conciliador, encarnação da lei e da ordem, “pai” e prote- tor de sua cidade. E o bispo não pretende cumprir esse papel apenas com suas forças huma- nas; ele tem necessidades, nes- ses tempos conturbados, de uma ajuda sobrenatural, que ele encontra junto aos santos, cujo culto constitui uma extra- ordinária invenção desse perí- odo (BASCHET, 2006, p. 63). Características Gerais da Igre- ja Ocidental na Alta Idade Mé- dia Em pautas organizacionais, a historiadora francesa Mireille Baumgartner, em concordância com Jérôme Baschet, evidencia que: 33 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Durante o período das inva- sões, no meio das misérias e das violências, a vida religiosa re- grediu, exceto nos mosteiros e na cidade romana. Bispos instruídos, pertencendo às famílias da velha aristocra- cia, ocupam-se na defesa das ci- dades; mantêm uma organiza- ção e impõem-se aos chefes bárbaros (BAUMGAR-TNER, 2001, p. 112). A partir do século VII, obser- va-se uma reparação transitória, es- pecialmente, na Gália, onde os bis- pos remodelaram a vida eclesial, evangelizaram, designaram sacer- dotes para as igrejas vizinhas a sede episcopal, etc. (BAUMGARTNER, 2001, p. 113). A essa estruturação, diga-se, mais “logística”, é preciso agregar questionamentos a respeito dos ri- tos e usos que vão se definindo de maneira mais visível no íntimo da Igreja entre os séculos V e VII, den- tre eles, é possível ressaltar o rigor do ano litúrgico que, mesmo com as variabilidades locais, constitui- se das festas já determinadas ante- riormente, mas que agora são agre- gadas a elas a da Circuncisão, entre o Natal e a Epifania e, no decorrer do ano, as dos Santos com jejuns e vigílias. No século VI a missa é insti- tuída como obrigatória ao domingo e na Páscoa, nota-se que, também, nesses dias é desautorizado o servi- ço da terra (subsequentemente, no decorrer dos anos, a Igreja vai cada vez mais consagrando dias especí- ficos com o objetivo óbvio de pa- dronizar a sociedade medieval em inúmeras vertentes, desde o sexo até o exercício militar). No que se refere à liturgia, “cada Igreja tem a sua própria até o século VIII, quando em todos os la- dos se imporá a de Roma” (BAUM- GARTNER, 2001, p. 114). O latim também, gradual- mente, transforma-se na língua li-túrgica exclusiva que reina no Oci- dente, com esporádicas ressalvas. Em relação às partes que in- tegram a missa, assim esclarece Mireille Baumgartner: A primeira parte permanece centrada nas três leituras do Antigo Testamento, dos Actos do Apóstolos ou da Epístola, do Evangelho seguidas da ho- milia, do credo, e da interces- são pela Igreja. São precedidas pelo Intróito, às vezes acom- panhado por uma procissão ao canto de um Salmo, e enqua- dradas por orações, cantos responsoriais e hinos (Kyrie, Aleluia, Cântico de Zacarias, Cântico dos três Hebreus na fornalha). A segunda parte, só para os fi- éis batizados, tem por centro a Eucaristia, que é sempre a ação de graças da comunida- de. Os assistentes depuseram na entrada as suas esmolas 34 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL para os pobres e para o clero; depois, as suas oferendas de pão e de vinho são trazidas ao altar em procissão pelos diá- conos. Sucedem-se em segui- da, nem sempre pela mesma ordem, o Prefácio, o canto do Sanctus, o Memento dos mor- tos, o beijo da paz, a consagra- ção das oferendas e a partição do pão, a anamnese e a epi- clese, uma oração seguida da recitação comum da oração dominical (chamada Pater), por fim, a bênção solene e a comunhão (BAUMGAR- TNER, 2001, p. 114). Agrega-se a isso, o batismo, cada vez mais significativo, se não, primordial, para a anexação de fiéis no âmago da cristandade em cons- trução e, aos poucos, a confissão explícita suprime em favor da con- fissão reservada. A devoção popular adquire bastante domínio nessa época, o que pode ser averiguado com o aparecimento do culto a Maria. “Adotam-se festas no Oci- dente, no final do século VII: Natividade da Virgem a 8 de Setembro, festa de Maria a 1 de Janeiro, Purificação a 2 de Fevereiro, Anunciação a 25 de Março, Assunção a 15 de Agosto (BAUMGARTNER, 2001, p. 114). Nota-se nesse tempo o au- mento na quantidade de igrejas consagradas à Virgem. A Conversão dos Reis Germâ- nicos A Igreja, com os seus diversos bispos operando de forma inde- pendente em suas dioceses, consi- derando-se sucessora do Império Romano, vê nos povos germânicos em sua maior parte pagãos quando começaram a proeminente intimi- dação ao Império, como impetuo- sos inimigos. Mesmo com os ostrogodos, vi- sigodos e vândalos já convertidos quando cruzam o limes e adentram no Império, eles não exercem a orto- doxia católica, aquela que Constan- tino legitimou no Concílio de Nicéia, em 325. De forma contrária, esses “povos bárbaros” escolheram por praticar a doutrina ariana, tida nesse mesmo concílio como herege. Isso causou algum conflito entre os “invasores” e as comunida- des católicas das regiões então apropriadas por eles, confronto travado, também, especialmente com o clero que, como já destaca- do, julgavam o arianismo um sacri- légio. 35 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL “Clóvis, rei dos francos” em tela pin- tada por François-Louis Dejuinne (1786-1844). Nessa tela, é possível ob- servar como os modernos “imagina- ram” o rei dos francos. (Disponível em: http://povosgermanicos.blogs- pot.com/2010/02/clovis-i.html) Dessa forma, os francos, ainda pagãos no final do século V, distinti- vamente dos demais impérios ger- mânicos: Fazem uma escolha politica- mente mais pertinente: seu rei Clóvis, que percebe muito bem a força adquirida pelos bispos de seu reino, decide converter- se ao cristianismo (católico_ e faz-se batizar, em companhia de 3 mil soldados de sua ar- mada, por Remígio, bispo de Reims, a catedral obrigatória para a sagração de seus reis. De imediato, a escolha de Clóvis lhe permite estar em acordo com as populações e o clero de seu reino e obter, assim, o apoio dos bispos para seus empreen- dimentos militares contra os vi- sigodos arianos (BASCHET, 2006, p. 61). Rapidamente, os outros rei- nos “bárbaros” sejam eles ainda pagãos ou cristãos arianos, vão progressivamente se convertendo a ortodoxia romana, é óbvio que isso não quer dizer que todos os ocu- pantes das terras pertencentes a cada um desses impérios tenham admitido prontamente a doutrina da liderança. Porém, chama aten- ção Baschet: Mesmo se as datas indicam apenas a conversão dos líderes e não uma difusão geral do cris- tianismo, doravante o Ocidente é por inteiro uma cristandade (católica) e a fronteira móvel - mas sempre presente durante a Alta Idade Média - em que cris- tãos e pagãos entravam em con- tato só continua a existir de ma- neira residual (BASCHET, 2006, p. 63). Afastamento de Bizâncio e o Surgimento do Islã Depois da catequização das populações germânicas, o Cristia- nismo sofreu nova intimidação à sua supremacia com o aparecimento do Islamismo e sua dissipação impetu- osa a partir da concepção de guerra santa, a jihad. Dessa forma, o islamismo dis- seminou-se por todo o Norte da África e, a partir de 711, dominou quase toda a Península Ibérica. 36 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Fonte: https://www.historiado- mundo.com.br/ idade-media/a- igreja-medieval.htm A disseminação muçulmana na Europa só cessou em 732, na ba- talha de Poitiers, que proibiu o in- gresso dos muçulmanos no Reino dos Francos. Além do Islã, a Igreja sofreu também o distanciamento ocorrido entre o cristianismo em Roma e o cristianismo em Constantinopla. As discrepâncias teológicas entre a igreja latina e a igreja bizan- tina ocasionaram o Grande Cisma do Oriente em 1054. O Grande Cisma foi o rompi- mento decisivo da Igreja sediada em Roma da Igreja sediada em Constantinopla. Dessa forma, surgiu a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Cruzadas Fonte: https://www.saberatualizado.com.br/ 2019/04/cruzadas-fe-guerra-amor-e- cabecas.html Desde 1095, depois da solicita- ção do papa Urbano II, a Igreja Católi- ca começou uma atividade militar co- nhecida por Cruzadas (de acordo com Le Goff, o termo “Cruzadas” só apare- ceu no século XV) para dominar Jeru- salém, o Santo Sepulcro e fosse qual for o lugar na Palestina visto como sa- grado no comando muçulmano. Além disso, a Igreja enxergou nas Cruzadas e na determinação de um adversário compartilhado com todos, uma maneira de mobilizar a progressiva violência demonstrada pela nobreza europeia. Para defender as Cruzadas, foi criada a concepção de Guerra Justa, que declarava que a guerra era ad- missível se fosse efetuada em oposi- 37 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL ção ao pagão, nesse caso, o muçul- mano. No geral foram efetuadas oito cruzadas no decorrer de mais de um século. A primeira Cruzada ficou fa- mosa pela agressividade da aquisi- ção das terras de Jerusalém em 1099. Foi instituído a partir daí um rápido império cristão na Palestina. A cidade de Jerusalém foi reavida pelos muçulmanos em 1187. A quarta Cruzada delimitou o saque de Constantinopla pelos cristãos em 1204. As Cruzadas finais foram co- mandadas por São Luís e acabaram em grande derrota. Os domínios derradeiros dos cristãos na Pales- tina, Acre e Tiro, foram reavidos pe- los muçulmanos em 1291. As Cruza- das colaboraram para crescer o dis- tanciamento entre cristãos e muçul- manos. Inquisição A partir do século XII, os sacri- légios adquiriram poder em meios cristãos, e a Igreja passou a enfren- tá-los de forma rígida. Os movimen- tos profanos dessa época foram defi- nidos pela grande súplica que tive- ram do povo. Como a heresia era tida como o maior de todas as trans- gressões, foi elaborado o Tribunal da Santa Inquisição. Duas importantes moções hereges dessa época eviden- ciaram-se: Os albigenses; E os valdenses. O papel da Inquisição era apu- rar, julgar e sentenciar todos os im- plicados em movimentos hereges. Para isso, foi autorizada pela Igrejaa prática da tortura, e os de- linquentes eram castigados à foguei- ra. Os historiadores não conhecem exatamente quantos foram assassi- nados pelo Tribunal da Santa Inqui- sição, mas contabiliza-se que mi- lhões de pessoas tenham sido mor- tas. No Tempo das Catedrais A Igreja católica foi a entidade mais influente da idade Média. Num tempo em que a fortuna era mensu- rada pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser dona de pratica- mente dois terços do território da Europa ocidental. Era a majestosa senhora feudal, atuando nos tratos de suserania e vassalagem e monito- rando a subordinação dos campone- ses. Até os dias atuais, em inúme- ros lugares da Europa, é possível presenciar a influência da Igreja ca- tólica do mundo medieval. As gran- diosas catedrais edificadas nos sécu- 38 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL los XII e XIII são uma das amostras dessa força. A catedral de Coutan- ces, na França foi construída em molde gótico, levou trinta anos (1220-1250) para ser finalizada. Fonte: https://br.pinte- rest.com/pin/5121437 88875172706/ Outro exemplo é a Catedral de Colônia, situada na cidade alemã de Colônia, igreja de modelo gótico, é o símbolo mais importante da cidade. Fonte: https://culturaeviagem.word- press.com/ 2013/09/25/catedral-de- colonia-uma-historia-que-vale-a- pena-conhecer/ A edificação da igreja gótica iniciou-se no século XIII e custou, com as paradas, mais de 600 anos para ser finalizada. Os dois campa- nários têm 157 metros de altura, com a catedral contando com o tamanho de 144 metros e largura de 86 me- tros. Quando foi finalizada em 1880, era a construção mais alta do mun- do. A catedral é dedicada a São Pe- dro e a Maria. 39 40 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 5. Fortalecimento das Monarquias Fonte: Sputnik News5 A Formação dos Estados Nacionais Modernos o longo da Idade Média, o re- trato político do rei era muito divergente daquele que comumente as pessoas idealizam. A jurisdição interna dos senhores feudais não se- guia a uma reunião de cláusulas prescritas pelo poder real. Quando de forma demasiada, um rei poderia interferir politica- mente sobre os fidalgos que obti- nham uma parcela dos terrenos de suas propriedades. Entretanto, a 5 Retirado em https://br.sputniknews.com/brasil/2019111514781632-dia-da-proclamacao-da-republica-esta- repleto-de-principes-reais-do-brasil/ volta de forma acalorada das práti- cas comerciais, na Baixa idade Mé- dia, transfigurou a relevância polí- tica dos reis. O poderio monárquico perdu- rou por toda uma região estabele- cida por demarcações, atributos cul- turais e linguísticos que alinhavam a construção de um Estado Nacional. Para isso, foi necessário vencer os empecilhos instituídos pela especifi- cidade e totalidade políticas que ca- racterizaram toda a Idade Média. A totalidade mostrava-se na abrangente soberania da Igreja, compondo o desfrute sobre grandes A 41 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL áreas de terra e a estipulação de leis e impostos próprios. Já a especifici- dade expôs-se nos hábitos políticos regionais arraigados nos feudos e nas cidades comerciais. Os mercadores burgueses apa- receram na qualidade de classe so- cial entusiasmada com a criação de uma regência política centralizada. As leis de cunho regional, estabeleci- das em cada um dos feudos, subiam os preços das práticas comerciais por meio do recolhimento de tribu- tos e pedágios que oneravam os va- lores de uma viagem comercial. Além disso, a ausência de uma moeda modelo agregava um gran- dioso obstáculo na contabilização dos rendimentos e na cotação dos valores das mercadorias. Além disso, a ameaça aos rela- cionamentos servis ocasionou outro cenário conveniente à criação de um governo centralizado. Intimidados por sucessivas re- beliões, especialmente na Baixa Ida- de Média e a diminuição do trabalho agrícola, os senhores feudais apela- vam à potência real com a intenção de criar exércitos suficientemente hábeis para controlar as revoltas camponesas. Dessa forma, a partir do século XI, é possível notar um aumento progressivo das incumbências polí- ticas do rei. Para reunir maior controle em mãos, o Estado monárquico con- quistou o domínio sobre assuntos de conformação fiscal, jurídica e mili- tar. Em outras palavras, o rei preci- saria possuir poderio e legitimidade o suficiente para: Elaborar leis; Estruturar exércitos; E deliberar tributos. Diante desses três artifícios de atuação, as monarquias foram se constituindo por meio de ações co- munitárias que contavam com o su- porte tanto da burguesia comerci- ante, quanto da nobreza feudal. Com a colaboração dos comer- ciantes, os reis estruturaram exérci- tos mercenários que dispunham de cunho, sobretudo, provisório. No decorrer dos anos, o auxí- lio monetário dos comerciantes ocupou-se de criar as tropas urba- nas e as primeiras cavalarias. Tal diligência fraquejou o desempenho dos cavaleiros que restringiam sua atividade militar às exigências de seu suserano. A criação de exércitos foi uma etapa significativa para que as fronteiras territoriais fossem esta- belecidas e para que fosse viável a injunção de uma soberania de or- dem nacional. 42 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Desde então, o rei reunia po- deres para estabelecer impostos que supririam o Estado e, concomitante- mente, regularizaria os tributos a se- rem recolhidos em seu território. Simultaneamente, as moedas receberiam uma referência de preço, peso e medida apta a estimar previa- mente os lucros adquiridos com o comércio e o recolhimento de tribu- tos. O estabelecimento de tais altera- ções individualizou a soberania polí- tica dos Estados europeus no caráter particular de um rei. Além de dispor do custeio da camada burguesa, a criação dos im- périos autoritaristas também pos- suiu a contribuição de cunho inte- lectual e filosófico. Os filósofos políticos da renas- cença conceberam respeitáveis obras que ponderavam as funções a serem realizadas pelo rei. No âmbito religioso, a aceitação das figuras re- ligiosas se manifestava como essen- cial para que os antigos serventes agora virassem súditos à autoridade de um rei. O Processo de Centralização Monárquica Praticamente todos os países da Europa Ocidental passaram pela fase de crescimento da consolidação da autoridade centralizada nos fi- nais da Idade Média e também do começo dos Tempos Modernos. Tal é a situação de Portugal, Espanha, Inglaterra e França. Nestes países, o seguimento de centralização imperial deu-se em es- fera nacional, isto é, as divisas do Es- tado inclinaram-se a convergir com as demarcações culturais da nação. Itália e Alemanha similarmen- te inclinam-se para a centralização das autoridades, mas na Itália, ao in- vés de um só Estado, equivalente às demarcações da nação, houve a cria- ção de inúmeros setores políticos, todos eles supremos (isto é, autôno- mos). Na Alemanha, as predisposi- ções penderam de um lado para o Estado de caráter nacional, simboli- zado pelo Sacro Império Romano- Germânico; mas também concen- trou o poder no âmbito local, retra- tado pelos príncipes. Na França, a descentralização e o regionalismo políticos, efetivos no decorrer da maioria da Idade Média, começam a ruir em prol da centraliza- ção do poder monárquico, nos séculos XIII e XIV. Para que esta consolidação se estabelecesse totalmente, transcorre- riam aproximadamente três séculos. O cunho de centralização da Monarquia francesa é o mais tradici- onal, uma vez que na França medieval a autoridade política conquistou uma postura mais pulverizada.43 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Foi também o Estado europeu que primeiro começou o trajeto do centralismo e aquele que foi capaz de levar a centralização à extrema manifestação: o absolutismo. Por esses motivos, o progresso da centralização do domínio monár- quico na França será o exemplo. Condições Para a Centraliza- ção Monárquica - (França) Fatores Socioeconômicos: A Aliança Rei-burguesia Há uma íntima associação en- tre a evolução econômica europeia, especialmente do exercício comer- cial, e a centralização do poderio real. De um lado, posto que a econo- mia mercantil ocasionou uma ca- mada social nova - a burguesia - em circunstâncias de debater os aristo- cratas a superioridade política. Por outro, há que se levar em conta a instabilidade do feudalismo, que foi forçado a alterar sua estru- tura no sentido de se incorporar na economia de mercado, então em eta- pa de progressão. Isto levou ao abatimento da nobreza feudal associada à terra, propiciando circunstâncias para a centralização imperial. Os comerciantes possuíam en- tusiasmo na centralização do pode- rio político, na proporção em que esta padronizaria a moeda, pesos e medidas, encerraria a variedade de barreiras dentro do país e propicia- ria à burguesia circunstâncias de crescimento externo, competindo com os mercadores de outros Esta- dos europeus. Em torno do rei, reuniam-se os comerciantes de padrão internacio- nal, associados ao comércio de impor- tação e exportação, em resumo, os que mais necessitavam de sua defesa. Na Alemanha, os comercian- tes encontrados em regiões não refe- rentes aos domínios da monarquia inclinaram a reunir-se em volta dos senhores feudais regionais, ou a se emanciparem, tanto em referência ao rei quanto aos senhores locais. Este desencadeamento acarre- ta a “Repúblicas” independentes, co- medidas pela burguesia, especial- mente pela aristocracia urbana. Foi o que aconteceu na maioria de toda a Itália. Fatores Políticos e Religiosos: Os Nobres e a Igreja Perdem Seu Poder As questões políticas também colaboraram para a consolidação do poderio real. Como já citado, o de- caimento da autoridade senhorial teve como contrapeso a evolução do poder nacional, representado pelos reis. 44 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL No âmbito internacional euro- peu, destaca-se neste tempo a dimi- nuição acentuada da soberania uni- versal, retratado pelo Papado e pelo Império. Esse decaimento adveio da Re- forma Religiosa do século XVI, que desestabilizou fortemente a autori- dade papal, reduzindo de forma signi- ficativa sua aspiração ao poder uni- versal, que seguia demonstrando no decorrer da Baixa Idade Média. A debilitação suportada pelo poder papal com a Reforma influen- ciou de forma indireta o Império, uma vez que o poder político impe- rial era feito pelo poder espiritual do Papado, por meio da cerimônia de santificação. Ora, a política dos príncipes alemães se encontrava direcionada para o escape ao poder imperial e à instituição de um poder absoluto no âmbito regional, com o suporte da burguesia. A crise do Papado propor- cionou-lhes a ocasião de se levanta- rem como chefes de seus principados até na esfera religiosa. O colapso da soberania papal é talvez a informação mais significa- tiva do problema, uma vez que per- mitiu aos reis o domínio das Igrejas nacionais e a arrecadação das rendas eclesiásticas. Os tribunais do Papado, tidos pelo direito canônico a última juris- dição deliberativa em toda a Europa, deram lugar aos tribunais reais, mu- nidos desde então da excelência ju- dicial. Fatores Culturais Na esfera cultural, é preciso evidenciar o progresso dos ensina- mentos universitários de Direito, que originaram os legistas. Estes, concentrados em legitimar o poder real, sustentaram-se tanto no Di- reito Costumeiro Germânico quan- to e fundamentalmente no Direito Romano de Justiniano. O rei é posto como fonte viva da lei, pois sua soberania vem de Deus, por meio da concordância nacional. O Renascimento, essencial- mente particular, incentivou o ideal nacional, do qual o rei é o pró- prio retrato material. O rei é enxer- gado como o herói nacional, man- tenedor e protetor da nação. Por fim, é preciso considerar a realidade de que havia um cos- tume de poder real hereditário, ins- tituído no decorrer da Idade Mé- dia, mesmo quando o poder mo- nárquico não possuía existência prática, mas somente por direito. 45 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Mecanismos da Centralização Monárquica Apoio da Burguesia e Política Financeira do Estado Há uma sucessão coerente na conduta real, com propósitos à cen- tralização. O primeiro empecilho era conquistar o auxílio da burguesia mercantil associada ao comércio in- ternacional, bem como da reduzida burguesia regional, pertencente à autoridade real, ou seja, à região so- bre a qual o rei desempenhava domí- nio direto. Isso feito, a política tribu- tária passava a ser empregada. Recolhia-se tributos da bur- guesia, sedenta por conquistar, em contrapartida, a aceitação do poder real contra os nobres e contra os im- pedimentos que eles significavam para o comércio. Os tributos come- çaram a compor uma fonte significa- tiva de renda do Estado. Com o progresso das nações, as taxas alfandegárias consolidaram este recolhimento. As urgências financeiras do Estado levaram a uma política de ir- radiação monetária, que discordava dos interesses comerciais, uma vez que, ocasionava o encarecimento dos preços. Havia, entretanto, um ponto benéfico: a moeda real sobrepunha às moedas regionais cunhadas pelos senhores feudais, fornecendo padro- nização ao ambiente circulante. Fortalecimento Militar: Os Exércitos Nacionais Dispondo de recurso próprio, o rei, em nome do Estado, pagava mercenários para seu exército. As tropas infantes, gradativamente, so- brepuseram os cavaleiros. As pró- prias cidades apresentavam-se, ar- madas por conta própria, para guer- rear ao lado do rei. O exército nacio- nal começava a aflorar. O regulamento de cavalaria que conduzia os combates durante a Idade Média deixou de ser respei- tado. O desejo do rei, isto é, do Es- tado, progressivamente fez sobres- sair a moral do interesse coletivo em detrimento à moral individual, ca- racterística da Idade Média. O exército real foi a ferramen- ta por primazia da centralização, sendo aplicada contra os nobres re- sistentes em ceder ao poder real. Paulatinamente, inúmeros senhores foram rendidos, e a autoridade real se espalhou. A Diplomacia A diplomacia é outra ferra- menta da centralização monárquica. Os reis conseguiram utilizá-la com efetividade. Conspiravam os nobres 46 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL entre si e posteriormente agregavam as propriedades de ambos os com- ponentes. A razão do Estado estava começando a sobressair. Nas regiões ressarcidas aos nobres, representantes reais obti- nham a responsabilidade de reco- lher os tributos e disseminar a jus- tiça; eram os bailios e senescais (nomeações outrora conferidas aos ministeriais dos senhores feudais). O tribunal real era tido como superior aos tribunais feudais. Os sentenciados nesses tribunais regi- onais poderiam recorrer ao tribu- nal real, classificado como última jurisdição julgadora. Geralmente, os recorrentes eram apontados inocentes, diante de contribuição monetária. Dessa forma transformou-se a justiça em outra fonte de renda. O clero, que até então apenas poderia ser condenado por tribu- nais eclesiásticos, passou a ser re- gido pelo rei. Este decretava aos re- ligiosos sentenciados por tribunais eclesiásticos uma segunda audiên- cia num tribunal civil, onde pode-riam ser condenados até à pena ca- pital. Os apelos para julgamento em última instância no tribunal pa- pal, que dava certo em Roma, fo- ram revogados. A Legitimação do Poder Abso- luto Ao mesmo tempo em que esta situação ocorria, o monarca buscava legalizar seu poder. Incentivava o aprendizado universitário e os estu- dos das leis. Os legistas, servidores reais, tanto se encarregavam do gerencia- mento, quanto elaboravam as leis do reino. Compreendiam o Direito Cos- tumeiro, estudavam o Direito Ro- mano, buscando retirar um conjun- to legal que concedesse ao rei a pra- ticar o poder total. O rei era tido como fonte viva da lei, pela ascensão divina do seu poder. O Fortalecimento da Monar- quia Inglesa A constituição de um poder central na Inglaterra foi parcialmen- te antecipada, pois a ocupação e o dominação do país pelos norman- dos, em 1605, ocasionou uma nobre- za parcialmente submissa ao poder central. No entanto, essa nobreza ain- da preservava algumas regalias pe- rante o rei. Um exemplo foi o que aconteceu em 1264, quando os ba- rões obrigaram o rei Henrique III a reconhecer um órgão restritivo do 47 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL poder real, o Parlamento, que expri- mia os interesses dos barões feudais. Após a Guerra dos Cem anos (1337-1453), o Parlamento inglês se fortificou. Isso estava relacionado a importantes mudanças socioeconô- micas. A criação de ovelhas para a fabricação de lã mostrou uma opera- ção vantajosa para os nobres, que in- tegravam, dessa forma, o comércio europeu continental. Para elevar seus rendimentos eles começaram a escorraçar os camponeses dos senhorios, modifi- cados em grandes pastagens, ativi- dade famosa pelo nome de cerca- mentos. Surgia, dessa maneira, uma nobreza aburguesada, direcionada ao comércio. Outra resultante disso foi o aumento da servidão e o cresci- mento da mão-de-obra remunerada. Os camponeses que permaneciam nas terras - fossem suas velhas pe- quenas propriedades, fossem terri- tórios dos senhores feudais - preser- vavam-se na posição de servos, e os que eram expulsos iam trabalhar nas fábricas. Essas pressões sociais termi- naram em competições políticas en- tre os aristocratas, os barões suces- sores da aristocracia feudal tradicio- nal, e os novos nobres, que se desti- navam à criação de ovelhas e ao co- mércio de lã, confrontaram-se numa guerra pela continuidade do trono inglês. A guerra (1455-1485) abarcou duas famílias inglesas que requeriam o trono, os Lancaster e os York, e ficou famosa como Guerra das Duas Rosas: a família Lancaster possuía no seu brasão uma rosa vermelha, e o brasão dos York exibia uma rosa branca. Esse confronto trazia grandes danos para a economia inglesa, ocasionando uma enorme insatisfação. Isso fez com que a burguesia e a nova nobreza abraçassem um no- bre da família Tudor para ser o novo rei. Tudor alcançou o trono em 1485. A partir daí, a monarquia inglesa se fortificou. A aflição predominante na fase inicial do reinado da dinastia Tudor foi a consolidação da soberania do rei, o que foi favorecido pelo fato de a nobreza ter se debilitado na ex- tensa guerra civil e pela aceitação pública recebida pela Coroa. No entanto, a soberania real sempre trombava no Parlamento, que precisava ser requisitado para acatar as sugestões de tributos ela- boradas pelo rei. O Fortalecimento das Monar- quias na Península Ibérica Espanha O seguimento da unificação da Espanha esteve profundamente as- sociado à Reconquista, isto é, à guer- ra contra a autoridade muçulmana 48 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL na península. O debate requeria uma centralização do domínio mili- tar e a mobilização definitiva de um exército, colocando sob incumbên- cia do rei uma valiosa ferramenta de poder. Mesmo que a Reconquista re- presentasse a disseminação do feu- dalismo nas regiões reconquistadas das mãos dos muçulmanos, ele era instituído em situações exclusivas que possibilitaram a fortificação de um poder mais centralizado. Com o matrimônio de Fernan- do, rei de Aragão com Isabel, rainha de Castela, em 1469, a guerra contra os mouros se consolidou e, em 1492, estes foram decididamente abatidos na península com a queda da sua úl- tima guarida, Granada. Para preservar o poder forte- mente centralizado, os monarcas es- panhóis usavam a religião: todos os não-cristãos, isto é, os judeus e os muçulmanos que continuaram na Espanha, precisariam se converter. Foi a partir daí que o Estado espanhol se fortificou e agrupou meios para começar a expansão ma- rítima e adquirir colônias. Portugal O reino de Portugal também se estabeleceu no decorrer da Recon- quista. De primeira mão um con- dado, o centro territorial, o que pos- teriormente se nomeou de Portugal era componente do reino de Castela. No ano de 1139, D. Afonso Henriques, em óbvia teimosia con- tra Castela, afirmou-se independen- te. O embate contra os mouros con- tinuou sob a gestão dos sucessores de D. Afonso até a conquista do Al- garve, no ano de 1249. Mas o motivo mais significati- vo para a fortificação da monarquia portuguesa foi seu acordo com os co- merciantes e com a nobreza do sul. Os mercadores eram escolta- dos pela Coroa e, em alguns casos, chegaram a ganhar títulos de nobre- za, estabelecendo, dessa forma, uma nova classe de nobres. A monarquia portuguesa po- de, com tal pacto, impulsionar os projetos comerciais e marítimos que ocasionaram os grandes descobri- mentos. Um marco significativo nesse processo foi a vitória de D. João de Avis, soberano posto no trono por uma rebelião sustentada pelos co- merciantes, pela nobreza do sul e pe- la população em geral (1383-1385), contra um exército castelhano que tentava reaver a soberania de Cas- tela sobre o antigo condado. 49 50 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL 6. A Historiografia Sobre o Final da Antiguidade Fonte: Veja Abril6 eja que, um espectro que ronda a história da Antiguidade tar- dia: foi a queda do Império romano. Pelo fato de que o evento político por significação, que por séculos engo- dou a atenção de historiadores (afo- ra de filósofos e teólogos), tenha se volvido, nos últimos anos, um gran- de debate, é algo admirável e que merece nossa aplicação. Logo, quando Arnaldo Momi- gliano historiou, em 1959, a introdu- ção para a linha de conferências que ele tinha reunido no Instituto War- burg de Londres, sendo que de acor- 6 Retirado em http://veja.abril.com.br do com Machado (2015) um ano an- tes: “Ele ainda podia abrir sua expo- sição observando: "ainda é pos- sível considerar uma verdade histórica o fato de que o Impé- rio romano declinou e caiu" (grifos meus). Em pouco mais de uma década, no entanto, Momigliano assistiria à implo- são desse consenso, à negação dessa verdade histórica e à re- dução desse fato, até então de proporções épicas, a uma mera data nas cronologias que nor- malmente fecham os livros so- bre esse período - isso quando o próprio fato não era negado.” V 51 HISTÓRIA MEDIEVAL OCIDENTAL E ORIENTAL Dessa forma, na segunda me- tade do século XX foi caracterizada pela profunda reavaliação desse mo- mento histórico que avocamos como Antiguidade tardia, geralmente identificado como se distendendo do final do século III até o final do sé- culo VII. Note que essa reavaliação pode ser assinalada como uma apro- priada revolução historiográfica, não exclusivamente em termos das novidades referenciais, mas das no- vas metodologias e das novas abor- dagens seguidas. Entretanto até mesmo em ex- pressões de como o período é perce- bido por seus estudiosos. Como lembrou Andrea Giardina, nenhum