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Bronquiolite viral aguda Definições Infecção respiratória aguda, de etiologia viral, que acomete as vias aéreas de pequeno calibre, através de um processo inflamatório levando a um quadro obstrutivo com graus variados de intensidade. É a principal causa de internação em lactentes menores de 1 ano sem doença prévia Etiologia - Principal agente: ● Vírus Sincicial Respiratório (VSR) - 80% dos casos. - Outros agentes: ● Vírus influenza (10-20%) ● Parainfluenza (10-30%) - também é responsável por laringite ou CRUPE. ● Adenovírus (5-10%) - mais frequentemente associado à bronquiolite obliterante ● Metapneumovírus (10%) - Diagnóstico Clínico: - Primeiro episódio de desconforto respiratório em lactentes associado a infecção viral. - Primeiro episódio de sibilância. - Meses que correspondem às estações do VSR (nos períodos de fevereiro até julho é que precisamos tomar medidas profiláticas contra o vírus). Diagnósticos diferenciais: - Pneumonia bacteriana (febre persistente, ausculta localizada) - Insuficiência cardíaca (taquicardia, ausculta de estertores bilateral). - Cardiopatias congênitas (CIA, CIV, PCA) que causam hiperfluxo pulmonar. - Crise de sibilância (quando não for a primeira crise de chiado). - Pneumonia intersticial (Chlamydia Trachomatis) - pode ocorrer até 2, 3 meses (parto vaginal, presença de estertores, hipoxemia). - Miocardite viral - enterovírus (processo inflamatório do miocárdio, com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca aguda - baixo débito, taquicardia, com presença de estertores finos em base). - Coqueluche: tosse de cachorro (tosse em salva, tosse paroxística, repetidas que no final da tosse tem apneia, cianose, vômitos, guincho/ruído inspiratório) - Bordetella Pertussis Exames subsidiários - Raio X: pequenas atelectasias, hiperinsuflação, condensações perto do Hilo. - Hemograma: aumenta leucócitos às custas de linfócitos o que indica infecção viral (ps: quando há infecção bacteriana aumenta linfócitos às custas de neutrófilos). - Hemocultura: solicitar quando houver suspeita de bactérias. - Pesquisa etiológica. Diagnóstico etiológico É necessário para: - Medidas de isolamento - nosocomiais. - Orientar o tratamento: ● Reduzir a prescrição desnecessária de antibióticos. ● Necessidade de antivirais ● Diagnóstico diferencial de coqueluche - Identificar agentes emergentes - Avaliar medidas preventivas - Palivizumab (anticorpo contra vírus sincicial respiratório). Como se faz diagnóstico etiológico: - Métodos sorológicos. - Cultura de vírus – sensibilidade de 60-90%. - Identificação antígeno viral ● Imunofluorescência direta (IFD) e indireta (IFI) - Métodos moleculares: ● RT PCR. ● PCR em tempo real. Vírus pesquisados pelo teste de PCR: - Influenza A (sazonal, H3N2 e H1N1-2009), B e C. - Adenovírus. - Vírus respiratório sincicial A e B. - Rinovírus. - Coronavírus. - Para influência 1, 2, 3 e 4 - Metapneumovírus. - Bocavirus. - Enterovírus. - Sars-cov 2. Vírus Sincicial Respiratório (VSR) Vírus RNA fita simples negativa. - Genoma → 10 genes que codificam 11 proteínas: proteína de adsorção (G), proteína de fusão (F). - 2 grupos antigênicos → grupo A e B e diversos genótipos - Imunidade → genotípico específica - Transmissão → contato - Infecções nosocomiais - Por volta de 2 anos 100% das crianças já tiveram contato. Fisiopatologia: 1. Replicação do vírus no epitélio respiratório da via aérea superior causando espirro, tosse, coriza, secreção. 2. Progressão para via aérea inferior - Aspiração de secreção. - De célula a célula. 3. Necrose e proliferação de epitélio bronquiolite 4. Destruição das células epiteliais ciliadas 5. Infiltrado linfocitário e macrófagos 6. Edema 7. Produção excessiva de muco 8. Migração de células inflamatórias. 9. Obstrução de brônquios e alvéolos. 10. Causando cansaço, dispneia. Quadro clínico: Sinais e sintomas de rinofaringite viral e após 2-3 dias evolui com sintomas de desconforto respiratório que evolui com piora progressiva em 3-4 dias. - Febre - Coriza. - Recusa alimentar. - Irritabilidade. - Tosse. - Sintomas de desconforto respiratório: ● Dispneia e taquipneia ● Apneia ● Recusa alimentar / risco de aspiração / desidratação. ● Sibilos e estertores. Prognóstico - Doença autolimitada: duração de sintomas 7 - 14 dias. - Mortalidade: inferior a 1%. - Risco para doença grave (mortalidade 3-5%) - em pacientes com: ● Prematuridade. ● Baixo peso ao nascer. ● Idade < 12 semanas. ● Cardiopatias. ● DPC. ● Imunodeprimidos. ● Neuropatias. ● Alteração anatômica ou congênita de vias aéreas. Tratamento: - Quadros leves: ● Tratamento domiciliar: ➔ Higiene das mãos. ➔ Evitar tabagismo. ➔ Manter alimentação normal. ➔ Lavagem nasal com solução salina. ➔ Reavaliação se necessário. ➔ Orientar sintomas e sinais de “alerta”. - Indicação de hospitalização: ● Episódios de apneia. ● Piora do estado geral/ toxemiada. ● Desconforto resp. (gemência, cianose, tiragens, sat <92%) → gravidade do quadro ● Sinais de desidratação. ● Recusa alimentar, redução acentuada da diurese. ● Comorbidades (displasia, cardiopatia ,imunodef.,dça neuromuscular). ● <3 meses. ● Prematuras (32 sem). ● Condição social ruim (incapacidade de retornar ou entender). - Medidas de suporte ● Hidratação / nutrição. ● Aspiração de VAS. ● Fisioterapia resp. ● Suporte ventilatório. ● Oxigenoterapia. 1. Oxigenoterapia: saturometria > 92% ● Máscara não reinalante. ● Máscara de Venturi. ● Cânula nasal infantil. 2. Medicamentos: - Broncodilatadores: ● Não reduz os escores clínicos. ● Não melhora a oxigenação. ● Não reduz o tempo de internação. - Adrenalina por nebulização. - Solução salina hipertônica. - Corticosteróides. - Antimicrobianos. - Antivirais. 3. Cânula nasal de alto fluxo: alternativa no tratamento da bronquiolite para pacientes que precisam de alta FIO2 Complicações - Apnéia - Insuficiência respiratória aguda - Atelectasia - Otite média aguda (infecção bacteriana mais frequente que complica a bronquiolite) - Infecção bacteriana secundária - Pneumotórax e Pneumomediastino (VM) - Bronquiolite obliterante -2% dos casos Escala de gravidade Prevenção - Evitar locais com muitas pessoas. - Retardar a ida de crianças que possuem risco para creche. - Boa higiene das mãos. - Evitar contato das crianças com crianças ou adultos com rinofaringites. - Palivizumab Caso clínico 01 Lactente de 5 meses é levado ao pronto atendimento pela mãe que refere que a criança está com tosse, coriza hialina e febre de até 38,2 °C há 2 dias e que há um dia notou que está ficando um pouco mais cansada para respirar. A criança frequenta creche há 1 mês e tem um irmão de 2 anos que está gripado. - Antecedentes neonatais: ● Criança nascida a termo, parto cesariana por mecônio, APGAR 9/10, ficou 3 dias na maternidade e teve alta com a mãe ● Peso de nascimento: 3.300. ● Aleitamento materno exclusivo até 4 meses, quando a mãe retornou ao trabalho e desde então faz uso de fórmula Láctea para idade. - Antecedentes familiares ● Mãe secundigesta, de 34 anos, refere hipertensão e "bronquite quando pequena" . ● Pai 38 anos, fumante, sem outras doenças. ● Irmão de 2 anos, sem doença prévia, mas tem resfriados de repetição, sendo 8 episódios no último ano. ● Tem um gato como animal de estimação. - Vacinação: ● Recebeu BCG - Hepatite ainda na maternidade e as vacinas de 2 e 3 meses do calendário, ainda não realizou a vacinação dos 4 e 5 meses. - Exame físico ● Bom Estado Geral, corado, hidratado, afebril, taquidispneico. ● Cabeça e pescoço - orofaringe - sem lesões em lábio e mucosas; amígdala hipertrofia grau 1 e levemente hiperemiada sem secreções ou pontos purulentos / otoscopia: leve hiperemia de conduto auditivo bilateral e membrana timpânica transparente e brilhante / pequenos linfonodos de até 1 centímetro, móveis e indolores em região de cadeias cervicais, submandibulares e tonsilares bilaterais e simétricos. ● FR = 62 com sinais de desconforto respiratório. ● Pulsos periféricos cheios e simétricos / FC = 142. ● Cardíaco: Ictus não visível, ausculta com bulhas rítmicase normofonéticas e sem sopro. ● Aparelho respiratório - sinais de desconforto respiratório. Batimento de asa de nariz, tiragem intercostal, tiragem subdiafragmática e tiragem de fúrcula; ausência de frêmitos a palpação. Ausculta: Murmúrios vesiculares presentes em ambos os pulmões com roncos grossos difusos , sibilos expiratórios e inspiratórios bilaterais audíveis em todo pulmão. ● Abdome - globoso e um pouco distendido, cicatriz umbilical sem alterações. Flácido à palpação, fígado com borda lisa a 3 centímetros do rebordo costal direito e ponta de 1 centímetro de baço palpável a esquerda; ● Ausência de massas membros e pele sem alterações. ● Neurológico - criança acordada e ativa irritada ao exame físico, mas se acalma no colo da mãe. - Raio X de tórax Diagnóstico: - Bronquiolite. Caso clínico 02 Lactente de 2 meses com cansaço respiratório desde o nascimento e há 3 dias com coriza, um pico febril e há 2 dias piora evidente do cansaço. Exame físico: - REG, palidez cutânea, dispneico, TIC - FR= 62 FC = 198 - Cardio BRNF ss++/6 (sopros sistólicos duas cruzes de 6). - Pulmão MV + bilateralmente EC em ambas as bases - Abdome globoso e flácido, fígado 3 cm. - Neuro: irritada Raio X Hipótese diagnóstica - Insuficiência cardíaca, o paciente tinha uma cardiopatia que foi descompensada após um quadro de bronquiolite. Exames para confirmar. - Ecocardiograma Tratamento - Terapia de O2 - Diurético (A base do tratamento para cardiopatias congênitas que cursam com hiperfluxo pulmonar é administrar diurético, de preferência furosemida) + restrição hídrica. Caso clínico 3 Lactente, 6 meses foi levado ao Serviço de Emergência por “cansaço”. Identificação João Pedro, 6 meses, branco, natural e procedente de São Paulo, católico Informante e acompanhante, é a mãe, Carolina, 26 anos. HPMA Há 5 dias, iniciou com obstrução nasal, coriza hialina e tosse seca. Teve febre (até 38,5°C) por 2 dias, mas está afebril há 3 dias. Há 1 dia, a tosse passou a ficar mais produtiva e refere”cansaço para respirar”. O cansaço está pior hoje, por essa razão procurou atendimento. Em função do cansaço e da tosse, apresentou 3 episódios de vômitos. A mãe sente que ele está com chiado no peito, sem períodos em que é mais intenso, mas não conseguiu dormir, na última noite. Desde o início dos sintomas, a mãe está fazendo inalação só com soro fisiológico e lavagem nasal, sem melhora. Nega episódios anteriores de chiado no peito. A mãe refere que a filha mais velha, que tem 3 anos e frequenta creche, esteve resfriada na semana passada ISDA - Geral: Está mais abatido hoje, chorando muito. Não dormiu na última noite e não consegue mamar, porque a tosse e o cansaço atrapalham a mamada. - Pele e anexos: Está mais pálido - Aparelho Respiratório: Vide HMA - Aparelho Cardiocirculatório: Nega cianose - Aparelho Digestório: Apresentou 3 episódios de vômitos. Nega diarreia. - Aparelho Urinário: Mãe refere diminuição da diurese - Sistema Nervoso Central: Muito choroso e irritado. Antecedentes pessoais - Antecedentes neonatais: Foi RNT, sem intercorrências no período neonatal. - Nega doenças crônicas. - Nega internação ou cirurgia prévias. - Vacinas em dia. - Não frequenta a creche. Antecedentes familiares - Mãe é asmática. - Pai e irmã têm rinite alérgica. - Nega a presença de tossidores crônicos. Ambiente físico - Moram em apartamento próprio, em bairro de classe média, com água encanada e luz elétrica. - Moram 4 pessoas (pai, mãe, irmã e João Pedro). - Têm um cachorro que fica dentro de casa. - Pai tabagista (1 maço/dia). - Nega mofo, umidade, “bichinhos de pelúcia”. Exame físico - Aparelho Respiratório: MV+ com a presença de sibilos inspiratórios e expiratórios difusos, TSC+, TIC+, RF+, BAN+ , FR=50 irpm SatO₂=93% (catéter nasal 1L/min). Em uso de musculatura acessória. - Aparelho cardiovascular: BRNF a 2T sem sopros FC= 140 bpm TEC=3 seg PA= 80x40 mmHg. - Abdome: globoso, pouco distendido, indolor. - Fontanelas abertas e normotensas, sonolento. Hipótese diagnóstica Bronquiolite viral aguda Classificação de acordo com o score de gravidade Grave Fator de risco que justifica evolução Menor de 1 ano Conduta - Internação hospitalar, oxigenoterapia, manutenção da hidratação e da nutrição. - Fisioterapia respiratória. - Rx de tórax (em função da gravidade, na busca de complicações). - Pesquisa de vírus respiratórios em aspirado de nasofaringe (se disponível). Complicações que podem ocorrer: - Atelectasia, pneumotórax. - Complicações infecciosas (OMA e pneumonia).
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