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Análise crítica Obtenção e caracterização de óleo de semente de romã (Punica granatum) por prensagem a frio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
FACULDADE DE FARMÁCIA 
DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA 
OPERAÇÕES UNITÁRIAS FARMACÊUTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE CRÍTICA 
“Obtenção e caracterização de óleo de semente de romã (​Punica granatum​) por prensagem a frio” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joana Silva Spiess e Vanessa Gomes Ramos 
Porto Alegre, 23 de Novembro de 2020. 
 
TÍTULO 
Obtenção e caracterização de óleo de semente de romã (​Punica granatum​) por prensagem a frio. 
 
AUTORIA 
SILVA, N. K. da; MANSANO, M.; NOGUEIRA, R. I.; FREITAS, S. P. 
 
PERIÓDICO 
I​n: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUÍMICA, 19., 2012, Búzios. Anais... 
São Paulo: Associação Brasileira de Engenharia Química, 2012. p. 9989-9995. 
 
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/75232/1/2012-251.pdf. 
 
RESUMO 
Estudos recentes comprovaram que o fruto da romã possui propriedades antiinflamatórias, 
antitumorais e anti oxidantes. Em especial, o óleo da semente de romã prensado a frio possui alta 
atividade antioxidante (AA). A prensagem de sementes a frio fornece um óleo de elevada pureza, 
sendo muito utilizado na elaboração de produtos naturais. Neste trabalho, as sementes de romã 
foram secas em estufa a 50°C até peso constante. O teor de óleo na amostra foi determinado em 
extrator de gordura, usando éter de petróleo como solvente. As sementes com teor de umidade 
inferior a 10 % foram moídas em moinho de facas e esmagadas em prensa hidráulica contínua. 
Após prensagem, o óleo bruto foi decantado para separar impurezas e armazenado a frio (-20°C). 
O óleo decantado foi posteriormente utilizado para as análises de índice de acidez, de acordo com 
as normas padrões da AOCS e atividade antioxidante, quantificada pelo método ABTS e expressa 
em DPPH. As sementes apresentaram, em base seca, cerca de 30 % de óleo, entretanto, o 
rendimento de extração por prensagem foi 12 %. A baixa acidez (0,73 % em ácido oléico) do óleo 
da semente de romã indica que o processamento a frio preservou a qualidade do mesmo. A 
análise de AA resultou em um valor médio de EC50 igual a 37,98 µg.mL-1. Este resultado revela 
que o óleo de semente de romã tem uma AA cerca de três vezes superior à do óleo de semente 
de maracujá (EC50 de 113,4 µg.mL-1), também usado na formulação de cosméticos e alimentos 
funcionais. 
 
PALAVRAS-CHAVE 
Acidez, atividade antioxidante, prensagem a frio, óleo vegetal, semente de romã. 
 
INTRODUÇÃO 
Nos últimos dez anos, o mercado mundial de óleos vegetais tem se caracterizado pelo 
crescimento acentuado na demanda superior ao da oferta. Segundo o Departamento de 
Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2012), a produção mundial dos óleos commodities 
aumentou cerca de 25% enquanto os estoques mundiais recuaram, no mesmo período. O 
aproveitamento de sementes geradas como subprodutos no processamento de frutas tem 
contribuído para minimizar os impactos ambientais associados à industrialização de frutas e, 
adicionalmente, para ampliar a oferta de óleos vegetais ricos em compostos bioativos. 
No Brasil, o bagaço gerado no processamento de frutas é restrito a aplicações como 
adubo, e as empresas do setor de sucos, por falta de logística e tecnologia apropriada, pagam 
para a remoção do bagaço. Portanto, o uso da semente de romã para obtenção de produtos de 
alto valor agregado pode favorecer produtores de sucos, ampliar a oferta de óleos vegetais 
especiais e colaborar para a preservação do meio ambiente. 
Em 2011, cerca de 500 toneladas de romã foram comercializadas na Ceagesp, das quais 
cerca de 120 toneladas vieram dos Estados Unidos (RuralBR, 2011). Entre 2001 e 2004, esse 
número era em média 200 toneladas (Jardini e Mancini Filho, 2007). Esse crescimento indica um 
mercado potencial para a produção de óleo de semente de romã. 
O óleo de semente de romã possui alta atividade antioxidante e é caracterizado pelo 
elevado teor de ácidos graxos polinsaturados como linolênico, linoleico e outros lipídeos como 
ácidos punícico, oleico, esteárico e palmítico (Ozgul-Yu cel, 2005; Fadafi et al., 2005). Dados 
reportados por Viuda-Martos et al. (2010) indicaram que o ácido punícico possui propriedades 
antiinflamatórias e antitumorais. Assim, o óleo da semente de romã tem grande potencial para ser 
utilizado como ingrediente na formulação de alimentos funcionais e na indústria farmacêutica. 
O trabalho tem por objetivo geral, portanto, o reaproveitamento sustentável dos resíduos 
da produção de suco de romã, constituído por semente e bagaço, para produção do óleo. Para 
este fim, a semente foi processada em prensa contínua a frio e o óleo obtido foi caracterizado 
quanto ao teor de atividade antioxidante e acidez. 
ANÁLISE CRÍTICA 
O presente trabalho abordará as as operações unitárias citadas na publicação, bem como 
sugestões e detalhes sobre cada processo envolvido. 
OPERAÇÃO 
UNITÁRIA JUSTIFICATIVA EQUIPAMENTOS 
CRITÉRIOS DE 
ESCOLHA DO 
EQUIPAMENTO 
PARÂMETROS 
Tamisação 
(peneiramento 
úmido) 
Remover polpa 
residual dos 
bagaços 
Não consta Não consta Umidade 
A partir da tabela-resumo anterior, é possível observar uma deficiência de informações e 
detalhes a respeito das características e escolhas para cada processo que podem interferir no 
resultado final. A seguir, mostraremos equipamentos e critérios de escolha para os respectivos 
processos a partir dos conhecimentos obtidos ao longo da disciplina de Operações Unitárias 
Farmacêuticas. 
● Tamisação - Peneiramento úmido 
O bagaço das romãs foi processado por peneiramento úmido e atrito para remoção da 
polpa residual, açúcares e outras substâncias aderidas às sementes. A especificidade de 
umidade da operação foi em razão do material conter umidade superior a 5% e/ou contar com 
adição de água para elevar o rendimento - não citado. Não foi descrito qual o tipo de 
equipamento utilizado para tal processamento, mas, considerando que a finalidade era apenas 
separar as estruturas em duas porções, onde só uma medida extrema é de interesse, uma 
peneira simples poderia ser utilizada junto com aplicação de atrito através de uma colher, por 
exemplo. Após, os resíduos foram descartados e as sementes seguiram para lavagem e 
posterior secagem. 
Secagem Desidratar as sementes 
Secador 
convectivo Não consta 
Temperatura 
(50°C) 
Desintegração 
(moagem) 
Reduzir o 
tamanho de 
partícula 
(d < 1 mm) 
Moinho de facas Não consta Não consta 
Extração 
mecânica 
(prensagem a 
frio) 
Extrair o óleo das 
sementes 
Prensa 
semi-piloto tipo 
parafuso sem fim 
Não consta Umidade 
Extração 
etanólica 
Determinar o teor 
de óleo das 
sementes 
Extrator Soxhlet Não consta Solvente (éter de petróleo) 
Evaporação 
Retirar o solvente 
em excesso do 
produto de 
extração enólica 
Estufa Não consta Temperatura Tempo 
● Secagem 
Visando eliminar a umidade ​in natura e a possivelmente adquirida durante o 
processamento da amostra, as sementes das romãs foram submetidas ao processo de secagem 
através de um secador convectivo a 50°C, até atingir a umidade em equilíbrio. Um secador por 
convecção pode ter sido utilizado pelo baixo custo e não necessidade de ventiladores, porém, 
uma estufa ordinária de recirculação também poderia tersido utilizada, considerando que não 
superaquece o material. 
Outro parâmetro a ser considerado, além da temperatura, que deve ser mantida conforme 
o ideal para não degradar compostos termolábeis presentes, é em relação da porcentagem de 
umidade total resultante da secagem das sementes - fator determinante no trabalho. 
Características físicas do material seco e do material úmido também são importantes. 
● Desintegração - Moagem 
A etapa seguinte foi a moagem. A partir da moagem é possível obter partículas sólidas 
menores (d < 1 mm) a partir de um todo, de modo a aumentar a área de superfície de contato e, 
consequentemente, a eficiência da operação posterior também - prensagem. Foi utilizado o 
moinho de facas, empregando-se a força motriz de corte, para que as sementes fossem cortadas 
e moídas, padronizando as partículas sólidas. Alguns parâmetros a serem considerados são: 
dureza do material, umidade, abrasão, entre outros. 
● Extração - Prensagem a frio 
Para a extração do óleo, foi utilizada uma prensa semi-piloto do tipo parafuso sem fim. A 
escolha de uma prensa contínua dotada de parafuso sem fim se deu em razão de que tal 
equipamento é capaz de esmagar o material, liberando o óleo contido no interior do mesmo. 
Uma vez que o método de prensagem e extração a frio produz óleos de qualidade 
superior, quando comparados aos óleos de extração utilizando calor, ​a especificidade da 
utilização “a frio” provavelmente se deu em razão do interesse dos autores em avaliar o teor de 
atividade antioxidante e acidez do óleo de semente de romã. 
No entanto, ainda que não seja calor suficiente para danificar o óleo, um pouco de calor é 
gerado através da fricção quando a rosca age sobre as sementes. Em virtude disso, a 
temperatura deve ser um parâmetro de constante monitoramento , pois a extração a frio não pode 
ultrapassar 60ºC, para que assim possa permanecer preservando as propriedades naturais das 
sementes. Além disso, umidade segue sendo um fator a ser considerado, uma vez que afeta a 
otimização do processo. 
A prensagem resultou em 12% m/m de óleo bruto, a partir de sementes com 7,3% de 
umidade. 
Após a prensagem, o óleo bruto obtido foi decantado para remoção da borra e a fração 
clarificada foi armazenada a frio (-20ºC), para posteriormente ser utilizada nos ensaios analíticos. 
 
● Extração enólica 
Uma segunda extração foi realizada, entretanto foi uma extração a quente do tipo enólica. 
O intuito de tal processo foi determinar o teor de óleo presente nas sementes de romã, a partir da 
extração por solvente orgânico. Para isso, 2,5 g de sementes pós processadas no moinho de 
facas foram alojadas no cartucho do aparelho extrator Soxhlet com 120 ml de éter de petróleo. 
A utilização do aparelho Soxhlet, ainda que não citado no trabalho, se deu em razão de ser 
o instrumento de extração contínua líquido-sólido mais indicado na literatura para extrair óleo de 
sementes. O solvente em questão foi escolhido, conforme citado no texto, segundo normas 
estabelecidas pelo fabricante Quimis. Alguns parâmetros importantes do processo são: 
temperatura, natureza do solvente, agitação, entre outros. 
O teor de óleo da semente foi cerca de 30%, resultando uma eficiência de extração igual a 
43%. 
● Evaporação 
Após a extração por solvente, o produto obtido foi exposto a aquecimento de 70°C por 2 
horas em uma estufa para secagem. Não foram indicados parâmetros de escolha, tampouco 
fatores a serem considerados. 
Foi citado que o solvente foi evaporado e condensado, no entanto não foi expresso como. 
Diante disso, deduzimos que um rotaevaporador pode ter sido utilizado, uma vez que tal 
equipamento permite a evaporação do solvente em excesso, obtendo uma solução concentrada e 
vapor condensado, à medida que ainda proporciona um recolhimento do solvente que pode ser 
reaproveitado posteriormente. Com isso, o objetivo inicial de reaproveitamento sustentável pode 
ser atingido, também, durante as operações. 
Alguns parâmetros que deveriam ser analisados são: viscosidade do produto, resistência a 
temperatura, características físico-químicas em geral determinantes para a escolha do 
equipamento correto. A seguir, foi determinado o teor de lipídeos do produto por gravimetria. 
Após os processamentos, os óleos obtidos foram submetidos à análises para determinar a 
acidez do produto e sua atividade antioxidante através de metodologia DPPH. 
CONCLUSÃO 
O trabalho analisado descreve as etapas envolvidas na obtenção de óleo a partir de 
sementes de romã para análise de atividade antioxidante e acidez, através de ensaios analíticos e 
comparações de dados da literatura. 
Através da análise crítica do artigo, é possível evidenciar a importância do detalhamento 
acerca dos processos e métodos utilizados para obtenção de produtos. A partir de tais 
informações completas, seria possível compreender de modo mais claro e assertivo os objetivos 
da obtenção, bem como finalidade para análise e caracterização do produto. 
Segundo os resultados obtidos, uma vez que a acidez foi baixa e atividade antioxidante 
comparável à de produtos comumente utilizados na formulação de produtos naturais, a eficiência 
da etapa de extração por prensagem a frio precisa ser otimizada. Para aumentar o rendimento de 
extração, os autores sugerem uma prensagem a frio da amostra com maior umidade, prensagem 
a quente ou extração combinada com etanol. 
Considerando isso, conclui-se que, uma vez as operações unitárias formam um conjunto e 
cada fase é dependente da outra, através de um conhecimento prévio sobre as mesmas seria 
possível justificar o uso, o equipamento adequado, bem como o produto final adquirido. Os 
processos envolvidos devem corroborar com a finalidade de garantir um produto de melhor 
eficiência tanto para extração, bem como para as análises a serem feitas. 
 
 
REFERÊNCIAS 
Apostila de Operações Unitárias Farmacêuticas, Faculdade de Farmácia; 
A Feira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 
Agroindústria - Operações Unitárias, SEDEC; 
Operações Unitárias na Indústria de Alimentos, eBook; 
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo;

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