Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Marina Michels Dotto – Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria Herpes-vírus-humano (HHV) – Herpes Vírus Simples Resumo Livro Patologia Oral e Maxilofacial – Neville (4ª edição) capítulo 7 HERPES-VÍRUS-HUMANO (HHV) Família Herpetoviridae – vírus DNA de cadeia dupla. Família do vírus do herpes simples (HSV) é a mais comum. Ò HSV do tipo I Ò HSV do tipo II Outros do HHV: Ò VZV ou HSV-4 (vírus da varicela- zóster) Ò CMV ou HHV-5 (citamegalovírus) Ò HHV-6, HVV-7 e HHV-8. Os seres humanos são os únicos reservatórios naturais para esses vírus, que são mundialmente endêmicos. Termo “herpes” vem da palavra grega antiga que significa “rastejar, arrastar”, fazendo alusão à tendência de infecção recorrente, latente e com poder de disseminação. Todos os oito tipos causam infecção primária e permanecem em latência no interior de células específicas por toda a vida do indivíduo Reativação do vírus: Infecções recorrentes que podem ser assintomáticas ou sintomáticas. Partículas virais são liberadas na saliva ou secreções genitais. O HHV-8 está envolvido no SARCOMA DE KAPOSI (SK). Infecção primária é assintomática, o contato sexual entre homens é o padrão mais comum de transmissão em países ocidentais. O vírus é encontrado na saliva. Os sintomas associados, como febre transitória, linfadenopatia e artralgia são raramente relatados. Linfócitos B circulantes parecem ser as principais células de latência. Além do SK há relação do HHV-8 com linfomas e uma proliferação linfóide benigna conhecida como doença de Castleman. HHV-6 e HHV-7 estão relacionados pela transmissão por saliva ou perdigotos. A infecção primária é assintomática, porém pode haver febre aguda seguida por erupção maculopapular eritematosa. Esse padrão da infecção primária é denominado roséola (exantema súbito, sexta doença) causado pelo HHV-6 e eventualmente pelo HHV-7. Os dois vírus podem se replicar nas glândulas salivares e permanecer em latência nos linfócitos TCD4 ou outras células. A reativação ocorre mais frequentemente em paciente imunossuprimidos, que podem ter uma infecção generalizada em vários órgãos. VÍRUS DO HERPES SIMPLES A diferença entre os dois tipos de vírus é a localização anatômica de predileção e epidemiologia. Há potencial para reação cruzada de anticorpos e os anticorpos para um dos tipos acaba diminuindo a chance de infecção pelo outro – caso a infecção ocorra, as manifestações são menos acentuadas. HSV-1 Contaminação pela saliva ou lesões periorais ativas. O vírus se adapta melhor nas regiões facial, oral e ocular. Locais envolvidos – faringe, mucosa oral, lábio, olhos e pele acima da cintura. Infecção genital por esse tipo de HSV é incomum, mas tem sido relatada. HSV-2 Adapta-se melhor às regiões genitais e é transmitido por contato sexual. Envolve região genital e pele abaixo da cintura. Lesões orais e faríngeas causadas pelo HSV-2 são possíveis, mas improváveis. Marina Michels Dotto – Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria HSV Infecção primária – latência – infecção recorrente. Infecção Primária: Exposição inicial de um indivíduo sem anticorpos contra o vírus. Em HSV-1 ocorre em pacientes jovens e normalmente sem sintomas. Se há sintomas, o período de incubação é de 3-9 dias. Após o vírus ser estabelecido, ele segue pelos nervos sensitivos e é transportado para os gânglios autonômicos, onde o vírus permanece em latência. Região mais comum para latência do vírus HSV-1: gânglio trigêmio – mas podem também ir para gânglio nodoso do nervo vagal, gânglios da raiz dorsal e cérebro. O vírus usa axônios dos neurônios sensitivos para se deslocar e atingir a pele ou mucosa periférica. Infecção Secundária/Recorrente: Ocorre com a reativação do vírus. Idade avançada, luz ultravioleta, estresse físico ou emocional, fadiga, calor, frio, gestação, alergia, trauma, tratamento odontológico, doenças respiratórias, febre, ciclo menstrual, doenças sistêmicas e neoplasias malignas. Recidivas sintomáticas são comuns e afetam epitélio inervado pelo gânglio sensitivo – a reativação assintomática com excreção viral excede, em muito, recorrências evidentes clinicamente. A transmissão para um indivíduo não infectado pode ocorrer durante os períodos de liberação assintomática do vírus ou a partir de lesões ativas. Em casos sintomáticos os indivíduos expostos ao HSV-1 em idades precoces tendem a apresentar gengivoestomatite e aqueles com exposição inicial em uma faixa etária mais avançada (adultos) em geral apresentam faringotonsilite. Gengivoestomatite herpética aguda (herpes primário) é o padrão mais comum de infecção primária sintomática pelo HSV. Ocorre entre 6 meses e 5 anos de idade, pico de prevalência é aos 2-3 anos. Há também casos relatados em pessoas com mais de 60 anos. Desenvolvimento antes dos 6 meses é raro e é devido à proteção pelos anticorpos anti-HSV maternos. Aparecimento é abrupto e acompanhado por linfadenopatia cervical anterior, calafrios, febre (39 a 40 graus), náusea, anorexia, irritabilidade e lesões orais dolorosas. Manifestações variam de leve- grave. Início – mucosa com diversas vesículas puntiformes, rapidamente se rompe e forma várias pequenas lesões, avermelhadas. Lesões aumentam de tamanho e desenvolvem áreas centrais de ulceração, recobertas por fibrina amarela. Ulcerações adjacentes podem coalescer e formar lesões maiores, rasas e irregulares. A mucosa oral móvel e aderida podem ser afetadas, número de lesões é altamente variável. Em todos os casos, a gengiva se encontra aumentada, dolorosa e eritematosa. Além disso, a gengiva afetada apresenta erosões com aspecto de tecido arrancado por saca-bocado ao longo da gengiva marginal livre. Pode haver o envolvimento da mucosa labial ultrapassar a linha úmida e incluir a borda adjacente da vermelhidão dos lábios. Autoinoculação para dedos, olhos e áreas genitais pode ocorrer. Casos brandos geralmente se resolvem dentro de 5-7 dias. Casos graves podem persistir por 2 semanas. Queratoconjuntivite, esofagite, pneumonia, meningite e encefalite representam complicações raras. Em adultos (infecção primária): Faringotonsilites. Marina Michels Dotto – Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria - Sintomas iniciais: dor de garganta, febre, mal-estar e cefaléia. - Pequenas e numerosas vesículas aparecem nas tonsilas e na parede posterior da faringe, se rompem rapidamente podendo formar várias ulcerações rasas. A localização mais comum de recidiva para o HSV-I consiste na borda do vermelhão e pele adjacente aos lábios Infecção conhecida como herpes labial. Sinais e sintomas prodrômicos surgem de 6-24hrs antes do desenvolvimento das lesões – dor, ardência, prurido, formigamento, calor localizado, eritema do epitélio envolvido. Aparecem múltiplas e pequenas pápulas eritematosas, formando grupamentos de vesículas preenchidas por líquido. As vesículas se rompem e formam crostas dentro de dois dias. Cicatrização ocorre entre 7-10 dias. Sintomas são mais intensos nas primeiras 8 horas. Maior parte da replicação viral ativa se completa dentro de 48 horas. Recidivas também podem afetar mucosa oral – limita-se à mucosa queratinizada, aderida ao osso (gengiva inserida e palato duro). Alterações mais sutis, sintomas com menor intensidade. Também há relatos de manifestações menos comuns, como nos dedos Panarício herpético (paroníquia herpética). Pode ocorrer em crianças com HSV-1 ou adultos com HSV-2. Recidiva nos dedos pode causar parestesia e cicatriz permanente. Lutadores e jogadores de rúgbi podem contaminar áreas de abrasão, originando uma lesão denominada herpesgladiatorum ou lesão por tatame. Se herpes simples se disseminar por um ferimento no ato de se barbear leva a uma condição denominada herpes barbae. Pacientes com doenças cutâneas crônicas difusas, como eczema, pênfigo e doença de Darier, podem desenvolver infecção difusa com risco de morte pelo HSV, conhecida como eczema herpético (erupção variceliforme de Kaposi). Recém-nascidos podem se infectar após a passagem pelo canal do parto contaminado pelo HSV durante o nascimento (geralmente pelo HSV-2). Em casos sem tratamento, a taxa de mortalidade ultrapassa 50%. A infecção pelo HSV em uma úlcera crônica na mucosa oral móvel deve ser considerada relevante, paciente deve ser avaliado minuciosamente para verificação de possível disfunção imunológica. CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS - Células epiteliais com acantose, núcleo claro e aumentado; - Alterações denominadas degeneração balonizante; - Células epitelicais acantolíticas são denominadas células de Tzanck (não são específicas do HSV, representam células epiteliais livres e flutuantes em qualquer vesícula intraepitelial); - Fragmentação do núcleo e condensação da cromatina ao redor da periferia do núcleo; - Fusão entre células epiteliais infectadas Aparecimento de células epiteliais multinucleadas; - Edema intercelular Leva à formação de uma vesícula intraepitelial. - Vesículas se rompem rapidamente e as localizadas na pele persistem e desenvolvem infiltração secundária – infiltrado inflamatório; - Após romper-se elas apresentam membrana fibrinopurulenta na superfície. Marina Michels Dotto – Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria DIAGNÓSTICO Clínico, biópsia, citopatologia, PCR, testes sorológicos. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Quando antivirais são administrados na fase prodrômica da doença, podem ser benéficos. Ò Aciclovir em suspensão iniciado nos 3 primeiros dias Boa resposta na resolução clínica. Sintomática: Dificuldade para deglutição, dor, tempo de cicatrização, duração da febre e liberação do vírus são fatores associados muito curtos – uso de drogas adjuvantes, como: Ò Spray tópico de cloridrato de diclonina; Ò Pirulitos de cloridrato tetracaína (feito em farmácias de manipulação); Ò Anti-inflamatórios não esteroidais. EVITAR lidocaína viscosa e benzocaína tópica em pacientes pediátricos devido ao relato de CONVULSÕES – associação entre benzocaína tópica e metemoglobinemia. Instruir aos pacientes a restringir o contato com as lesões ativas para prevenir a autoinoculação ou disseminação para outras regiões. Ò Aciclovir pomada em polietilenoglicol – uso tópico – benefício limitado para herpes labial em pacientes imunocompetentes; Ò Penciclovir em creme – tem maior absorção através do vermelhão do lábio – reduz em um dia a dor e cicatriza, porém só apresenta efeito na fase prodrômica. Ò Aciclovir em creme; Ò Docosanol em creme a 10%; Esses cremes estão associados de forma estatisticamente significativa, mas com efeito clínico mínimo à redução no tempo de cicatrização e dor. Penciclovir mais eficaz e docosanol o menos. Ò Aciclovir sistêmico; Ò Dois medicamentos mais novos: valaciclovir e fanciclovir: Semelhante eficácia contra o HSV. Valaciclovir e fanciclovir têm melhor biodisponibilidade. Em pacientes nos quais as recidivas parecem estar associadas a procedimentos odontológicos 2g de Valaciclovir 2x ao dia no dia do atendimento e 1g administrado 2x no dia seguinte. Indivíduos com um fator desencadeante conhecido que se estenda por um período de tempo – Uso profilático de curto prazo de um dos antivirais – Aciclovir 400mg 2x ao dia, Valaciclovir 1g diário ou Fanciclovir 250mg 2x ao dia. Aciclovir – Antibiótico antiviral É um nucleosídio análogo da guanosina (hidroximetoximetilguanina) É “virustático” e não “virucida” e deve ser empregado nas fases iniciais do surto herpético para impedir a multiplicação viral.
Compartilhar