Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR FRANCISCANO – IESF CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Adriana Oliveira Pereira Mariana Lopes M. Norberto A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Paço do Lumiar 2020 Adriana Oliveira Pereira Mariana Lopes M. Norberto A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Projeto de pesquisa apresentado ao Curso de Serviço Social do Instituto de Ensino Superior Franciscano, como requisito para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Orientador: M.ª Katiana Souza Santos Paço do Lumiar 2020 SUMÁRIO 1 JUSTIFICATIVA.................................................................................4 2 OBJETIVOS.......................................................................................6 2.1 Objetivo geral.................................................................................6 2.2 Objetivos específicos....................................................................6 3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................7 4 METODOLOGIA.................................................................................15 5 CRONOGRAMA.................................................................................17 REFERÊNCIAS..................................................................................18 4 1. JUSTIFICATIVA A violência contra as mulheres ainda acontece todos os dias. Ela é a extrema manifestação de desigualdades de vários tipos, que foram sendo historicamente construídas e vigoram até nos dias atuais, pois a mulher ainda é vista por muitos como sujeito inferior ao homem. A discriminação contra a mulher é geradora de desigualdades e serve de base para muitas formas de violência contra as mulheres, física, psicológica, moral, sexual e patrimonial, que afetam o desenvolvimento das mulheres e da sociedade como um todo. Essas várias formas de violência atingem mulheres de diversas maneiras como marcadores sociais entre elas estão raça/ etnia, sexualidade, identidade de gênero, classe e idade. Portanto, faz-se necessária a expansão desse debate como forma de perceber suas intervenções nas demandas sociais, principalmente, no processo de formação do serviço social. Sendo necessário aproximarmos dessa discussão para que no exercício profissional tenham subsídios para aprofundar os conhecimentos sobre gênero e perceber suas relações de desigualdade, opressão e dominação, e dessa forma buscar identificar possibilidades de atuação para o enfrentamento das problemáticas desse contexto. A violência contra a mulher é uma das principais expressões da violação dos Direitos Humanos, atingindo os direitos essenciais que são: o direito à vida, a liberdade, bem como a saúde e integridade física das mulheres. Desse modo, discutir o papel do assistente social frente a está demanda é de fundamental importância, pois o mesmo atua na garantia da não violação de direitos, na tentativa da superação da violência, no movimento de extinguir a violência contra a mulher. O Assistente Social está qualificado para atuar nas diversas áreas ligadas à condução das políticas sociais públicas, tendo como objetivo responder às demandas dos usuários, afim de assegurar atendimento humanizado e efetivação dos direitos. A ação e intervenção do profissional em demandas familiares, inclusive na questão da violência, se apresenta desafiadora, entretanto, vêm evoluindo com muita competência, o qual possibilita resgatar a dignidade humana. A percepção do Assistente Social que atua através do diálogo e da intervenção é de que a violência atinge todas as classes, raças e etnias. O profissional tem como papel diante a questão da violência contra a mulher utilizar de seus instrumentos e técnicas para diminuir os impactos sofridos pela vítima de violência doméstica, onde o profissional orienta as mulheres sobre como sair da situação de violência e submissão na qual se encontram, o assistente social também visa não só o combate, mas a prevenção desse tipo de violência. A escolha desse tema é por existir muitas perguntas sem respostas, e o nosso objetivo é buscar essas respostas por meio de pesquisas, e tentar entender as causas e identificar estratégia de enfrentamento. Dessa forma, entendemos que é de extrema relevância discutirmos sobre a Lei Maria da Penha (nº 11.340), que dispõe sobre o enfrentamento à violência doméstica e familiar, a Lei busca proporcionar uma efetiva mudança nos valores sociais, que naturalizam a violência que ocorre nas relações domésticas e familiares, em que os padrões de dominação masculina e submissão feminina, durante muitos séculos, foram aceitos pela sociedade. Neste contexto é que a Lei apresenta, de 5 maneira detalhada, os conceitos e as diferentes formas de violência contra a mulher, pretendendo ser um instrumento de mudança política, jurídica e cultural. Portanto, compreendendo seus conceitos, obteremos condições de identificar os direitos das mulheres e reconhecer onde, quando e em que momento estão sendo violados. Para que a Lei Maria da Penha seja realmente colocada em prática, precisa, antes de tudo, ser divulgada e comentada, que é essencial para prevenirmos a violência contra as mulheres. 6 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Analisar as estratégias definidas na Lei Maria da Penha para o combate a violência. 2.2 Objetivos específicos Compreender o fenômeno da violência doméstica. Descrever as intervenções da Lei Maria da Penha no enfrentamento a violência doméstica contra a mulher. Mapear normativas complementares à Lei Maria da Penha no enfrentamento à violência doméstica. 7 3. REFERENCIAL TEÓRICO É fundamental entender que estudar o fenômeno da violência contra a mulher tem como princípio a compreensão acerca das relações sociais de gênero. Inicialmente, há que se diferenciar sexo biológico de gênero; sexo está relacionado à condição biológica do homem e da mulher, é fenótipo, visível no ato do nascimento pelas particularidades genitais. Enquanto o gênero é uma condição psicológica, é construção social que estabelece papéis sociais de natureza cultural, e que levam a compreensão da masculinidade e/ou feminilidade, sendo relativo à conduta do indivíduo no contexto em que convive. Dessa forma, é preciso ter clareza, segundo Machado (1999), que gênero é diferente do termo sexo, onde o mesmo foi criado para evidenciar que homem e mulher são categorias sociais que foram construídas historicamente e não se limitam a características biológicas, mas possuem “implicações psicológicas e culturais”. Assim, são definidos comportamentos para serem exercidos pelos indivíduos a partir das relações sociais. O termo "gênero" torna-se, antes, uma maneira de indicar "construções culturais" - a criação inteiramente social de ideias sobre papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. "Gênero" é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Com a proliferação dos estudos sobre sexo e sexualidade, "gênero" tornou-se uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens (SCOTT, 1995, p.75). Desse modo, a compreensão sobre o conceito de gênero se faz necessário, visto que tem sido um instrumento dereflexão para compreendermos a realidade da desigualdade e dominação entre gêneros, onde se naturaliza a superioridade do masculino sobre o feminino, estimulando o preconceito, a violência , especialmente para mulheres. A violência enquanto fenômeno transversal se apresenta em todas os espaços socialmente construídos. A violência de gênero, no entanto, se relaciona com a organização da sociedade patriarcal, na qual se naturaliza a relação de domínio do macho sobre a fêmea. A violência surge quando os gêneros “saem” dos lugares estabelecidos anteriormente. Nesse sentido, Faleiros (2007) afirma que a violência de gênero se estrutura de maneira social, cultural, econômica e política com base numa divisão sexista que propõem os lugares, papéis, status e poderes aceitáveis para homens e mulheres. A desigualdade de gênero é exercida por homens contra mulheres, em que o gênero do agressor e o da vítima está junto ao esclarecimento desta violência, ou seja, causa dano as mulheres pelo simples fato de serem mulheres, é a violência perpetuada pelos homens como domínio e controle sobre as mulheres. Em todas as culturas do mundo, as mulheres vivem em condições de desigualdade social em relação aos homens. Estas desigualdades adquirem diferentes manifestações e magnitudes. A definição de gênero implica em dois níveis, quais sejam o gênero como elemento constitutivo das relações sócias, baseado nas diferenças perceptíveis entre os dois sexos e o gênero como forma básica de representar relações de poder em que as ações dominantes são apresentadas como naturais e inquestionáveis. (CASIQUE, 2006, p.02). 8 O comportamento do homem é considerado socialmente mais importante, suas atitudes são reprimidas quando se assemelham ao de uma mulher, as respostas são violentas, que muitas das vezes ainda são bem vistas pela sociedade, o trabalho doméstico é praticamente inadmissível aos homens, passando a ser obrigatório ser realizado pelas mulheres. A categoria gênero infere o entendimento das relações que se determinam entre os sexos na sociedade, diferenciando o sexo biológico (anatomia) do social (comportamento). Nas palavras de (ARAÚJO, 2008). A violência de gênero produz-se e reproduz-se nas relações de poder onde se entrelaçam as categorias de gênero, classe e raça/etnia. Expressa uma forma particular de violência global midiatizada pela ordem patriarcal, que delega aos homens o direito de dominar e controlar suas mulheres, podendo para isso usar a violência. Dentro dessa ótica, a ordem patriarcal é vista como um fator preponderante na produção da violência de gênero, uma vez que está na base das representações de gênero que legitimam a desigualdade e dominação masculina internalizadas por homens e mulheres. (ARAÚJO,2008, p.04). Dessa forma, a violência contra a mulher ainda é um fenômeno fortemente influenciável pela cultura e submetida à execução de valores que mudam de acordo com a sociedade e com as normas em que os indivíduos estão inseridos. Na maioria das vezes esse assunto é tratado como uma questão distante, como se fosse unicamente das classes menos favorecidas, gerado das desigualdades sociais, todavia, a violência está inserida em todos os contextos sociais, independente de raça, classe ou condição social. A violência contra a mulher carrega um estigma como se fosse um sinal no corpo e na alma da mulher. É como se alguém tivesse determinado que se nem todas as mulheres foram espancadas ou estupradas ainda, poderão sê- lo qualquer dia (TELES, 2017, p. 8). A ideia da posse do homem sobre a mulher é algo cultural, que infelizmente ainda ganha espaço nas sociedades de todo o mundo. A frase mais conhecida é “se ela não for minha não será de mais ninguém”, como se a mulher fosse um objeto que se pertence ao homem, como uma propriedade privada. Trata-se de um problema antigo, no qual muitos ainda não dão a devida importância, a famosa “reputação masculina” vale mais do que a vida humana. Assim, o machismo é apontado como motivo principal que leva a desigualdade sexual ou de gênero. Pois este conceito é fundamentado na premissa de que o homem é superior a mulher, colocando a figura feminina como dominada e a masculina como dominante. Essa base preconceituosa se insere principalmente em ambientes familiares, regidos por regras e normas, um aprendizado que infelizmente vem perpassando gerações. No patriarcado, os homens foram educados e cobrados, a exercerem superioridade, consequentemente lhes gerando ações machistas, ou como diz o ditado popular “ação de um verdadeiro macho” (PALMEIRA, 2001). O machismo enquanto sistema ideológico oferece modelos de identidade, tanto para o elemento masculino como para o elemento feminino: Desde criança, a menina entra em determinadas relações, que independem de suas vontades, e que formam suas consciências: por exemplo, o sentimento de superioridade do garoto pelo simples fato de ser macho e em contraposição o de inferioridade da menina (PALMEIRA, 2001 apud DRUMMONTT, 1980, p.81). 9 Na década de 1960, o movimento feminista impulsionou mudanças socioeconômicas e demográficas refletindo diretamente no interior familiar. Expandindo o papel da mulher no mercado de trabalho, no domínio da política, na escolarização, ocasionando a separação entre exercício da sexualidade e reprodução. Os homens passaram a enfrentar dificuldades na aceitação da mulher em espaços públicos e sua atuação política (COUTO e SCHRAIBER, 2011). O movimento feminista é uma expressão da questão social e um dos assuntos mais discutidos na atualidade, mediante as crescentes taxas de mortalidade feminina, vista como descaso por parte dos governantes, e falta de controle. O aumento do índice de violência que acomete a mulher faz com que a sociedade se posicione diante desses abusos (COUTO e SCHRAIBER, 2011). Atualmente, ainda nos deparamos com o machismo invisível que se encontra atrelado ao exercício profissional, tanto em homens quanto em mulheres. Esse fato ocorre devido à segmentação das profissões e a classificação do que é considerado feminino e masculino. Levando a crer que para desenraizar tais comportamentos e atitudes provenientes do machismo no local de trabalho, são necessárias medidas de caráter multidisciplinar e políticas públicas efetivas (PROCÓPIO e VALENÇA, 2016). Percebe-se que, obstáculos foram sendo constituídos que impediram a ascensão social da mulher, nos quais a desigualdade prejudicou a conquista de seus direitos, fundamentais para sobreviverem com dignidade e praticarem a cidadania. somente com as iniciativas do movimento feminista, em certos momentos históricos foi possível a conquista da inclusão da mulher na política e na economia, bem como no mercado de trabalho. Em vista dos argumentos apresentados é possível entender que romper o polo dominador, saindo da figura de oprimida, e da condição de vítima, reafirmando seu próprio destino dentro da sociedade, lutando por seus ideais e por sua própria liberdade foi e continua sendo uma barreira que precisa ser quebrada pelas mulheres. E para compreendermos melhor é necessário discutirmos também sobre o conceito de violência doméstica onde a mesma configura-se em qualquer tipo de ação ou que venha infligir, reiteradamente, sofrimentos físicos, mentais, sexuais e econômicos, de forma direta ou indireta, utilizando-se de mentiras, ameaças, chantagens ou coação sobre o indivíduo que compartilhe do mesmo agregado doméstico privado como, pessoas-crianças, jovens, mulheres e homens adultos ou idosos que coabitem ou não no mesmo agregado doméstico privado. Caracterizando como o agente da violência pessoas da família, cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital (ALVES, 2005). Da mesma maneira, a violência contra a mulher se caracteriza como, toda ação ou omissão fundamentada na condição de gênero que cause à mulher morte, lesão, sofrimento físico, sexual oupsicológico, dano moral ou patrimonial no âmbito da residência, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, em que haja convivência entre vítima e transgressor, independentemente de coabitação (Lei nº 11.340/06). “Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; A violência física é a forma mais socialmente visível e identificável de violência doméstica e intrafamiliar contra a mulher por gerar consequências e resultados materialmente comprováveis, como hematomas, 10 arranhões, cortes, fraturas, queimaduras entre outros tipos de ferimentos. Na prática, sua presença indica grandes possibilidades de existência das demais formas de violência. (FEIX, 2011, p.204). II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; A violência psicológica está necessariamente relacionada a todas as demais modalidades de violência doméstica e familiar contra a mulher. Sua justificativa encontra-se alicerçada na negativa ou impedimento à mulher de exercer sua liberdade e condição de alteridade em relação ao agressor. É a negação de valor fundamental do Estado de Direito, o exercício da autonomia da vontade e, portanto, da condição de sujeito de direitos conquistada pelos homens. (FEIX, 2011, p.205). III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; No que tange à violência sexual, as condutas exemplificadas referem-se, sem exceção, a práticas contra a liberdade sexual e reprodutiva, que representam violações aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos (FEIX, 2011, p.206). IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; A violência patrimonial é uma inovação da Lei Maria da Penha que tipifica com clareza condutas que necessariamente configuram violação dos direitos econômicos das mulheres, justificando a iniciativa do Estado brasileiro de combater atos que impeçam ou anulem o exercício desses direitos (FEIX, 2011, p.207). V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. A violência moral está fortemente associada à violência psicológica, tendo, porém, efeitos mais amplos, uma vez que sua configuração impõe, pelo menos nos casos de calúnia e difamação, ofensas à imagem e reputação da mulher em seu meio social “(FEIX, 2011, p.210). Dessa forma, a violência contra a mulher é um fenômeno transversal e complexo que demanda atenção. Portanto, abordá-la é de fundamental relevância para instigar a reflexão e a discussão a respeito, com o propósito de buscar mudanças 11 no pensamento social, anelado pela superação de velhos paradigmas que possuem fortes ranços na atualidade. Cada vez mais, a violência contra a mulher é confirmada como uma grande preocupação de saúde pública bem como violação dos direitos humanos, apresentando impactos devastadores para a saúde da mulher, assim como para outros aspectos do seu bem-estar mental e físico, se tornando uma questão de saúde, econômica, jurídica, educacional, de desenvolvimento e, acima de tudo, de direitos humanos. Um dos principais episódios de violência contra a mulher acontece dentro do seu próprio lar, sendo cometido por pessoas bem próximas, como por exemplo; maridos, familiares, ex. companheiros e etc. uma das causas bem vista em relação a esse assunto é a não aceitação do término da relação e sentimento de posse, dentre outros motivos que levam o homem a praticar tal ato. Portanto, pode-se dizer que a violência contra a mulher não é um fenômeno único e não acontece da mesma forma nos diferentes contextos; ela tem aspectos semelhantes, mas também diferentes em função das singularidades dos sujeitos envolvidos. Apesar da presença comum do fator predominante – a desigualdade de poder nas relações de gênero – cada situação tem uma dinâmica própria, relacionada com os contextos específicos e as histórias de vida de seus protagonistas. Por isso, na análise e compreensão da violência contra a mulher é fundamental levar em conta esses aspectos universais e particulares de forma a apreender a diversidade do fenômeno. (ARAÚJO,2008, p.05). Nesse sentido é importante assumir a questão da violência contra a mulher como uma questão social e que demanda a formação de uma nova cultura na sociedade, É preciso através de mudanças assegurar e garantir que a mulher tenha seus direitos respeitados e acima de tudo que a lei se efetive. A violência contra a mulher é uma das principais expressões da violação dos Direitos Humanos, atingindo os direitos essenciais que são: o direito à vida, a liberdade, bem como a saúde e integridade física das mulheres. Saffiotti (1987) afirma que: A violência masculina contra a mulher atravessa toda a sociedade, estando presente em todas as classes sociais. Não importa se um Zé ninguém mate sua mulher com um machado, em quanto Doca Street assassinou barbaramente Ângela Diniz, usado um revólver. O resultado objetivo é o mesmo: o homicídio de mulheres por seus companheiros. Portanto, é de extrema relevância debatermos acerca do assistente social frente a está demanda, pois o mesmo atua na garantia da não violação de direitos, na tentativa da superação da violência, no movimento de extinguir a violência contra a mulher. O Assistente Social está qualificado para atuar nas diversas áreas ligadas à condução das políticas sociais públicas, tendo como objetivo responder às demandas dos usuários, afim de assegurar atendimento humanizado e efetivação dos direitos. Assim, Serviço Social inserido na política de proteção a mulher é essencial para a sociedade, todavia, é importante salientar que há um déficit nessa política, pois a ausência do profissional em delegacias de proteção a mulher é um erro muito grave em algumas regiões do país. Na maioria das vezes o atendimento é feito somente por um médico e um psicólogo, esquecendo a importância das expressões sociais envolvidas. A presença de um assistente social nestas instituições ajudaria a identificar e a solucionar/amenizar os problemas enfrentados pelas mulheres vítimas de violência (LISBOA, 2005). 12 A violência contra a mulher tem sido apontada pela ONU como uma violação dos Direitos Humanos e como um problema de Saúde pública, ou seja, como uma das principais causas de doenças das mulheres (hipertensão, angústia, depressão, sofrimento psíquico, e outras). Da mesma forma, a violência cometida contra as mulheres é considerada um dos principais entraves ao desenvolvimento de países do mundo inteiro. Portanto, a interlocução do Serviço Social com essa questão se faz necessária. Uma vez que a violência de gênero é um fenômenosocial, deve ser enfrentada através de um conjunto de estratégias políticas e de intervenção social direta (LISBOA, 2005, p.03). Neste sentido, podemos perceber que é necessária toda uma equipe técnica e especializada para direcionar e solucionar esse problema social, e o profissional de Serviço Social devem fazer parte desta equipe para programar o serviço através de seus instrumentos ético profissionais. Também é importante denunciar, e aplicar a Lei Maria da Penha, que segundo Prates (2019), na Lei nº11.340, de 7 de agosto de 2006, são criados mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 226 da Constituição Federal, para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher. Para situar o significado da profissão de Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais, faz-se necessário, inicialmente, procurar apreender o movimento no qual e através do qual se engendram e se renovam as relações sociais que peculiarizam a formação social capitalista. Buscar detectar no processo da vida social sua realidade substancial e as formas que reveste é uma tarefa preliminar (IAMAMOTO, 2012, p. 35). Prates (2019), na Lei Orgânica da Assistência Social, nº 8.742 de 7 de novembro de 1993, diz que a lei dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Com a violação de direitos faz-se necessário a presença do assistente social e de sua intervenção social, e somente através deste referencial teórico será possível uma verdadeira analise sobre cada estudo de caso, ou seja, trata-se de um primeiro nível da análise mais geral das condições sociais em que a vítima está inserida para que então posteriormente possa ser tomada as medidas cabíveis de proteção e garantia de direitos. A questão social é o alicerce para a tomada de decisões. Muito já se mudou e conquistou-se até os dias atuais, todavia, as políticas direcionadas a proteção da mulher e a conscientização da sociedade ainda são muito falhas, as famílias continuam criando suas filhas para procriar, cuidar da familiar e respeitar o marido, enquanto os filhos são criados com mais liberdade, autoridade sobre as mulheres, além de vivenciarem a violência dentro de seus próprios lares. Assim, estimulando a propagação desta violência para a sua família futura. Desse modo, entendemos que é de extrema relevância a Lei Maria da Penha (nº 11.340), que dispõe sobre o enfrentamento à violência doméstica e familiar, a Lei busca proporcionar uma efetiva mudança nos valores sociais, que naturalizam a violência que ocorre nas relações domésticas e familiares, em que os padrões de dominação masculina e submissão feminina, durante muitos séculos, foram aceitos pela sociedade. Neste contexto é que a Lei apresenta, de maneira detalhada, os conceitos e as diferentes formas de violência contra a mulher, pretendendo ser um instrumento de mudança política, jurídica e cultural. Ainda no calor da promulgação foram criados os primeiros Juizados de Violência Doméstica e Familiar. Poder Público, grupos diversos, organizações de mulheres e universidades realizaram eventos para discutir, 13 entender as mudanças trazidas pela Lei, reivindicar mais recursos orçamentários e prioridade para a mesma. Dentre os eventos, destacam-se a I Videoconferência organizada pela AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras, que reuniu mulheres em 20 estados do Brasil e a I Jornada Lei Maria da Penha, sob responsabilidade do Conselho Nacional de Justiça, para debater o papel do Poder Judiciário na aplicação da Lei. (CORTÊS e MATOS,2009, p.16). Assim, Promulgada em 2006, a Lei 11.340, dispõe sobre o enfrentamento à violência tanto doméstica quanto familiar contra as mulheres. O movimento feminista foi de fundamental importância para a implantação e aprovação da Lei Maria da Penha em união com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A principal ideia dessa Lei é garantir proteção e intervenção policiais e judiciais as vítimas de agressão (CORTÊS e MATOS, 2009). Sem dúvida que após várias reivindicações dos movimentos feministas, a Constituição Federal de 1988 com seu artigo 5º representou um grande marco no que tange aos direitos de igualdade de gênero no nosso país. Ademais, ao conceder um tratamento diferenciado a mulheres e homens devido uma realidade cultural na qual a mulher se encontra em situação de desfavorável, ao mesmo tempo em que reforçou o status que a mulher como sujeito de direitos, permitindo a discussão e elaboração de políticas públicas em prol das mulheres. No entanto, foi com a Lei 11.340/2006, que o País deu o passo mais significativo para a concretização dos direitos humanos das mulheres. Portanto, com a promulgação da Lei Maria da Penha, a violência intra- familiar parou de ser tratada entre peculiaridades envolvidos em sua vitimização, tendo em vista que o Estado passou a de fato admitir esse mal social e se ativar no enfrentamento, mediante medidas jurídicas buscando garantir a segurança das vítimas com construção e disponibilização de abrigos, além de maior responsabilização penal dos agressores. A lei reafirma que as mulheres, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, gozam dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. Desta forma, têm asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (Artigo 2º, CORTÊS e MATOS, 2009, p.22). Dentre as mudanças alcançadas no cenário jurídico pós Lei 11.340/2006 foram inseridas várias medidas protetivas às vítimas de violência intra-familiar. Dentre elas, pode-se citar a renúncia da mulher, o atendimento perante a autoridade policial, a entrega da intimação ao agressor, a possibilidade da prisão em flagrante e a notificação da vítima. Antes da vigência do aparato legal em comento, a vítima poderia desistir da denúncia perante a autoridade policial, o que muitas vezes era feito, gerando com isso impunidade. Depois da vigência, a desistência da representação somente poderá ser feita perante a autoridade policial. Desse modo, a Lei 11.340/2006, proporcionou um atendimento diferenciado e especializado diante a autoridade policial, que, anteriormente, o delegado agia perante a violência intra-familiar da mesma forma como em outras agressões, por meio de confecção de TCC – Termo Circunstanciado de Ocorrência. De acordo com o artigo 21 da Lei, a mulher vítima de violência será notificada pessoalmente dos atos do processo relativos ao agressor, sem prejuízo da intimação 14 do advogado ou defensor público, além disso, não poderá entregar a notificação ao agressor. Por todos esses aspectos, no tocante da Lei Maria da Penha, os movimentos feministas trouxeram consigo desafios, como por exemplo: manter um diálogo com o Poder Judiciário, Ministério Público e a Defensoria Pública. Sendo assim, importante manter ações que promovam a defesa dos direitos junto a estas instituições. O apoio da mídia na divulgação do movimento é imprescindível para que aos poucos seja disseminada a cultura da igualdade e para fazer valer as Leis que regem nosso País. 15 4. METODOLOGIA Este projeto propõe uma pesquisa, que diz respeito ao enfrentamento a violência contra a mulher, e o objeto a ser estudado será a analisar as estratégias definidas na Lei Maria da Penha para o combate a violência. O método de abordagem utilizado é o Materialismo Histórico Dialético, pois de acordo com a filosofia marxista, o método de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do objetivo, ou seja, tentar achar explicações coerentes e lógicas aos fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. (NETTO, 2011). Em relação a natureza nossapesquisa é básica, pois têm como objetivo a busca de conhecimento teórico. A pesquisa básica busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas. (GIL, 2008). A pesquisa científica pura, também chamada de teórica ou básica, “permite articular conceitos e sistematizar a produção de uma determinada área de conhecimento”, diz Minayo (2002, p. 52). Visa, portanto, a “criar novas questões num processo de incorporação e superação daquilo que já se encontra produzido”. (ZANELLA,2011, p.32). Enquanto abordagem qualitativa o método preocupa-se em conhecer a realidade segundo a perspectiva dos sujeitos participantes da pesquisa, sem medir ou utilizar elementos estatísticos para análise dos dados. (ZANELLA, 2011). Quanto ao Método e à forma de abordar o problema para Vieira (1996), a pesquisa qualitativa pode ser definida como a que se fundamenta principalmente em análises qualitativas, caracterizando-se, em princípio, pela não utilização de instrumental estatístico na análise dos dados. Esse tipo de análise tem por base conhecimentos teórico-empíricos que permitem atribuir- lhe cientificidade. (ZANELLA, 2011, p.35). Como objetivos específicos, pretende-se: analisar o fenômeno da violência contra a mulher tecer reflexões analíticas sobre a Lei Maria da Penha, considerada o principal marco legal de conquista das mulheres frente à violência; apontar desafios para a efetivação dessa lei e para a construção de uma vida sem violência. Portanto, escolhemos a pesquisas explicativas porquê é a pesquisa que têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. (GIL, 2008). Para corresponder a esses objetivos, utilizaremos para o embasamento teórico a pesquisa bibliográfica que é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. (GIL, 2008). Deste modo, a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (GIL, 2008). A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Parte dos estudos exploratórios podem ser definidos como pesquisas 16 bibliográficas, assim como certo número de pesquisas desenvolvidas a partir da técnica de análise de conteúdo. (GIL, 2008, p.50). Para consecução desse propósito em busca de compreender o fenômeno da violência contra a mulher como questão social em seu contexto histórico, serão abordados sobre gênero, machismo, violência doméstica e a importância do Assistente Social frente a esta demanda , e também será relatado os avanços no que diz respeito ao combate à violência contra as mulheres representado através da Lei Maria da Penha. 17 5. CRONOGRAMA ATIVIDADES Ago 2020 Set 2020 Out 2020 Nov 2020 Dez 2020 Levantamento bibliográfico X X X Leitura X X X Fichamento de texto X X X Interpretação, análise e discussão X Orientações X X X X Redação, digitação e normalização do Artigo Científico X X Entrega do Artigo Cientifico X Socialização do TCC X 18 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALVES, C. Violência Doméstica. Coimbra,2005. Disponível em: http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2004010.pdf. Acesso em:19 de maio de 2020. ARAÚJO, Maria de Fátima. GÊNERO E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: o perigoso jogo de poder e dominação. 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870350X20080003000 12. Acesso em: 19 de maio de 2020. CASIQUE, Letícia Casique. FUREGATO, Antonia Regina Ferreira. VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES: reflexões teóricas. 2006. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2814/281421865018.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2020. CORTÊS, Iáris Ramalho. MATOS, Myllena Calasans de. LEI MARIA DA PENHA: do papel para a vida. Brasilia: 2º ed. 2009. COUTO, M.T. Schraiber, L.B. MACHISMO HOJE NO BRASIL: uma análise de gênero das percepções dos homens e das mulheres. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2011. FALEIROS, E. Violência de gênero. In: TAQUETTE, S. R. (org.). Violência contra a mulher adolescente-jovem. Rio de janeiro: Ed UERJ, 2007. p. 61-65. FEIX, Virgínia. Das formas de violência contra a mulher- art. 7º. In: LEI MARIA DA PENHA comentada em uma perspectiva jurídico – feminista. CAMPOS, Carmen Hein de. Rio de Janeiro: Ed. LUMEN JURIS, 2011. Gil, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. IAMAMOTO, Marilda Villela. CARVALHO, Raul de. RELAÇÕES SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: esboço de uma interpretação histórico metodólogica. 36 ed. São Paulo: Cortez, 2012. LISBOA, Teresa Kleba. PINHEIRO, Eliane Aparecida. A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO À QUESTÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. 2005. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1796/179616343007.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2020. MACHADO, Leda Maria Vieira. A incorporação do gênero nas políticas públicas: perspectivas e desafios. São Paulo: ed. Annablume, 1999. Netto, Jose Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular. 2011. 19 OLIVEIRA, Andresa Venancia Lima de. SALAZAR, Angela Maria Moraes. RIBEIRO, Danyelle Bitencourt Athayde. VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA A MULHER: estudos, contextos e reflexões. São Luís: ESMAM, 2018. PALMEIRA, Fabio Bispo. DESIGUALDADE DE GÊNERO: o machismo reinando na sociedade. São Paulo, 2001. PRATES, Marcia Maria Bianchi. LEI MARIA DA PENHA. 6 ed. Brasília: Câmara dos deputados, Edições Câmara, 2019. PROCÓPIO, Lycia Rinco Borges; VALENÇA, Jarbene de Oliveira. MACHISMO INVÍSIVEL E EXERCICIO PROFISSIONAL. Gênero e Sexualidade, 2016. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre, 20(2), p. 71-99, jul./dez. 1995. SAFFIOTI, Heleieth I. B. O poder do macho. São Paulo: ed. Moderna,1987. TELES, Maria Amélia de Almeida. MELO, Mônica de. O QUE É VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. São Paulo: Editora Brasiliense, 2017. ZANELLA, Liane Carly Hermes. Metodologia de pesquisa. 2. ed. rev. atual. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2011.
Compartilhar