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Aula 16 08 2021

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Disciplina:
Profª Drª Michelle Dias Bublitz
PONTO 1 PE
Vide: https://www.youtube.com/watch?v=k9-8V95__AY
Vamos refletir?
https://www.youtube.com/watch?v=k9-8V95__AY
DIFERENTES FORMAS DE INTRODUZIR AO ESTUDO DO DIREITO DO CONSUMIDOR:
Segundo Cláudia Lima Marques (Manual de direito do consumidor. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2010. p. 30):
1ª. Introdução sistemática, sob o enfoque constitucional, de análise dos valores nas relações de consumo enquanto um
direito fundamental (art. 5º, XXXII, da CF/88).
2ª. Introdução dogmático-filosófica, sob enfoque de proteção do mais fraco (vulnerável, consumidor), como forma de
reequilibrar uma relação que nasce desigual.
3ª. Introdução socioeconômica, ao estudar as sociedades de consumo contemporâneas, que destaca a importância do
consumo e de sua regulação especial (CDC).
DIREITO DO CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
▪ Art. 48 do ADCT: 120 dias para a promulgação da lei de proteção do consumidor
▪ Art. 5º, inc. XXXII: a proteção do consumidor como direitos e garantias fundamentais.
▪ Art. 60, §4º: cláusulas pétreas.
▪ Art. 24: competência concorrente da União, Estados e DF (responsabilidade por dano ao consumidor)
▪ Art. 150, § 5º: direito à informação sobre os impostos pagos pelos consumidores
▪ Art. 170, inc. V: defesa do consumidor na ordem econômica (importante observar em conjunto inciso IV, que fala sobre livre concorrência *)
▪ Art. 175, parágrafo único: proteção aos usuários dos serviços públicos prestados pelas concessionárias ou permissionárias
Art. 1º, CDC. O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social,
nos termos dos arts. 5º., inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. (grifo
nosso)
* Da interpretação dos incisos IV e V, a conclusão a que se chega é a de ser plenamente livre explorar a atividade econômica no país, desde que
de forma lícita - em respeito, por exemplo, aos demais princípios da ordem econômica (art. 170, CF) -, e que, para ganhar da concorrência, não
poderá colocar um produto ou prestar um serviço no mercado de consumo com violação dos direitos dos consumidores. A proteção dos direitos do
consumidor é a contrapartida à livre concorrência.
Portanto, o Direito do Consumidor está assim representado na Constituição Federal:
O QUE É O CDC: O CDC – Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), é um conjunto de normas ordenadas que visam
proteger determinados destinatários específicos: os consumidores.
CARACTERÍSTICAS DO CDC:
▪ Diploma legal multidisciplinar *: envolve diversas disciplinas e ramos do Direito, entre eles o Direito Civil, Processual Civil, Direito
Constitucional, Direito Empresarial, Direito Administrativo, Direito Penal, entre outros.
▪ Microssistema: é um conjunto de normas aplicáveis à destinatários específicos, quais sejam: os consumidores.
Obs. Sistema (= CC) ≠ Microssistema (= CDC) ≠ Subsistemas (= Leis especiais relacionadas à proteção do consumidor (Ex. Lei que regula os
planos de saúde - Lei nº. 9.956)
▪ Finalidade: é proteger e tutelar o interesse dos consumidores.
▪ Norma principiológica *: interpretação legal com base nos princípios específicos, em especial Princípio da Vulnerabilidade (art. 4º, I, CDC).
▪ Normas cogentes: são normas de ordem pública, onde o Juiz não precisa de provocação para aplicar o CDC. Porém, temos uma exceção na
Súmula 381 do STJ que dispõe que o Juiz não pode conhecer de ofício cláusula abusiva em contrato bancário.
▪ Normas de 3ª Geração (ou Dimensão) de Direitos Fundamentais: vinculado aos direitos de solidariedade ou de fraternidade.
▪ Norma de ordem pública e de interesse social *: as relações de consumo envolvem à todos e não só à um indivíduo.
* CDC ENQUANTO DIPLOMA LEGAL MULTIDISCIPLINAR:
O Código de Defesa do Consumidor é considerado um microssistema multidisciplinar porque alberga em seu conteúdo as mais
diversas disciplinas jurídicas com o objetivo maior de tutelar o consumidor, que é a parte mais fraca - o vulnerável - da relação
jurídica de consumo. Com efeito, encontraremos no CDC normas de:
▪ Direito Constitucional, ex.: princípio da dignidade da pessoa humana
▪ Direito Civil, ex.: responsabilidade civil do fornecedor
▪ Processo Civil, ex.: ônus da prova
▪ Direito Administrativo, ex.: proteção administrativa do consumidor
▪ Direito Penal, ex.: infrações e sanções penais pela violação do CDC
(Vide, para maiores detalhes, página 50, Capítulo 1. ALMEIDA, Fabricio Bolzan de. Direito do consumidor. 8. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020. (Coleção esquematizado®)
Sugiro leitura: <http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no-direito-do-consumidor-
brasileiro/#:~:text=A%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Teoria%20do%20Di%C3%A1logo%20das%20Fontes%20no%20Di
reito%20do%20Consumidor%20Brasileiro,-por%20Carlos%20Alexandre&text=Trata%2Dse%20de%20uma%20nova,de%20prote
ger%20os%20direitos%20fundamentais.>
http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no-direito-do-consumidor-brasileiro/#:~:text=A%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20Teoria%20do%20Di%C3%A1logo%20das%20Fontes%20no%20Direito%20do%20Consumidor%20Brasileiro,-por%20Carlos%20Alexandre&text=Trata%2Dse%20de%20uma%20nova,de%20proteger%20os%20direitos%20fundamentais.
Ante a existência de um conflito aparente de normas (fontes formais), ou seja, em razão da possibilidade de se aplicar mais de
uma lei perante um mesmo caso, os critérios clássicos de resolução desse conflito sempre prezaram pela exclusão de uma das
leis, e não pela conformação de todas as existentes na busca de tutelar da melhor forma possível o sujeito de direitos.
Assim, as técnicas utilizadas classicamente sempre foram pautadas no:
▪ critério hierárquico: lei de hierarquia superior prevalece em relação à lei de hierarquia inferior;
▪ critério da especialidade: lei especial prevalece sobre a lei geral, ainda que não seja capaz de revogar esta;
▪ critério cronológico: lei mais recente prevalece sobre a lei mais antiga.
Sobre o tema, estabelece a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu art. 2º, vejamos:
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de
que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Percebam que o artigo citado deixa bem clara a visão de sistema jurídico e, consequentemente, a necessidade de o Direito ser
analisado como um todo. (também, art. 7º CDC)
(Vide, para maiores esclarecimentos, páginas 52-54, Capítulo 1. ALMEIDA, Fabricio Bolzan de. Direito do consumidor. 8. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020. (Coleção esquematizado®)
DIÁLOGO DAS FONTES:
Vide: https://www.youtube.com/watch?v=c1EcPGp0ikM
https://www.youtube.com/watch?v=c1EcPGp0ikM
* CDC ENQUANTO NORMA DE ORDEM PÚBLICA E DE INTERESSE SOCIAL:
Qual seria a abrangência da expressão: norma de ordem pública e de interesse social?
Três são, basicamente, as consequências que a característica de ser o CDC uma norma de ordem pública e de interesse social
pode trazer no tocante à sua abrangência:
▪ as decisões decorrentes das relações de consumo não se limitam às partes envolvidas em litígio;
▪ as partes não poderão derrogar os direitos do consumidor;
▪ juiz pode reconhecer de ofício direitos do consumidor.
É evidente que as decisões proferidas em litígios decorrentes das relações de consumo não se limitam às partes envolvidas.
Muitas delas repercutem perante mais de uma pessoa, como ocorre na tutela dos interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos (vide art. 81, CDC), além deservirem de caráter educativo para toda a sociedade e de alerta para os demais
fornecedores não continuarem com práticas ilícitas nas relações de consumo.
* CDC ENQUANTO NORMA PRINCIPIOLÓGICA:
Analisaremos na sequência do conteúdo que os princípios estão disciplinados no CDC da seguinte forma:
▪ princípios gerais do CDC (previstos em seu art. 4º);
▪ direitos básicos do consumidor (previstos no art. 6º);
▪ princípios específicos do CDC (em especial aqueles referentes à publicidade e aos contratos de consumo);
▪ princípios complementares do CDC (com destaque para os princípios constitucionais afetos às relações de consumo).
A eleição dos princípios inerentes ao Direito do Consumidor pelo legislador ordinário buscou, em resumo, o reequilíbrio de uma
relação jurídica originalmente desigual, através da concretização da igualdade material entre o fornecedor e o vulnerável
consumidor.
Sobre o assunto, Claudia Lima Marques afirma que resta superada a ideia de que basta a igualdade formal para que todos sejam
iguais na sociedade, é o reconhecimento (da presunção de vulnerabilidade, vejamos art. 4º, inc. I, do CDC) de que alguns são
mais fortes ou detêm posição jurídica mais forte, detêm mais informações, são experts ou profissionais, transferem mais
facilmente seus riscos e custos profissionais para os outros, reconhecimento de que os ‘outros’ geralmente são leigos, não detêm
informações sobre os produtos e serviços oferecidos no mercado, não conhecem as técnicas da contratação de massa ou os
materiais que compõem os produtos ou a maneira de usar os serviços, são pois mais vulneráveis e vítimas fáceis de abusos.
(Manual de direito do consumidor. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2010. p. 38)
1. PRINCÍPIOS GERAIS DO CDC: define o art. 4º do CDC os objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo e
prevê os princípios que devem ser seguidos pelo mercado:
PRINCÍPIOS INERENTES AO DIREITO DO CONSUMIDOR:
1.1 Princípio da VULNERABILIDADE: o art. 4º, inciso I, do CDC identificou como o primeiro princípio da Política
Nacional das Relações de Consumo o da Vulnerabilidade, que expressa o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo”. O consumidor é considerado a parte mais frágil da relação jurídica de consumo.
Com a constatação de que a relação de consumo é extremamente desigual, imprescindível foi buscar instrumentos jurídicos para
tentar reequilibrar os negócios firmados entre consumidor e fornecedor, sendo o reconhecimento da presunção de vulnerabilidade
do consumidor o princípio norteador da igualdade material entre os sujeitos do mercado de consumo.
A vulnerabilidade do consumidor pessoa física constitui presunção absoluta no diploma consumerista, não necessitando de
qualquer comprovação outra para demonstrar o desequilíbrio existente entre consumidor e fornecedor nas relações jurídicas
estabelecidas entre si. No entanto, vale lembrar que no caso de consumidor pessoa jurídica ou profissional - como é o caso, por
exemplo, das microempresas e dos profissionais liberais (relembrar: relações de trabalho enquanto gênero presente Direito
Empresarial x Direito Civil x Direito do Trabalho) tal comprovação é pressuposto sem o qual não será possível a utilização das
regras tutelares do CDC para alcançar tais pessoas em suas relações de consumo.
Espécies de VULNERABILIDADE:
▪ Vulnerabilidade técnica: consiste na fragilidade do consumidor no tocante à ausência de conhecimentos técnicos sobre o
produto ou o serviço adquirido/contratado no mercado de consumo. Consumidor é frágil nos conhecimentos técnicos
específicos do produto/serviço.
▪ Vulnerabilidade jurídica / científica: envolve a debilidade do consumidor em relação à falta do conhecimento sobre a matéria
jurídica ou a respeito de outros ramos científicos como da economia ou da contabilidade. Tal situação se deve, por exemplo, à
evidente fraqueza do consumidor na apreciação das cláusulas dos contratos de consumo que são, em sua maioria, contratos
de adesão, cuja elaboração é realizada exclusivamente pelo fornecedor; onde há impossibilidade de se discutirem os termos
da contratação. Nesse contexto, tem maior dificuldade em demonstrar a vulnerabilidade jurídica ou científica o consumidor
pessoa jurídica ou o profissional, visto que a presunção nestas hipóteses é exatamente a contrária, ou seja, presume‐se que a
empresa tenha funcionário com conhecimento científico sobre o produto adquirido ou serviço contratado. Tal presunção é
relativa e admite prova em contrário, podendo, sim, a pessoa jurídica ou o profissional ser considerados consumidores,
conforme visto anteriormente, face teoria finalista atenuada/mitigada/ aprofundada.
▪ Vulnerabilidade fática ou socioeconômica: trata‐se de modalidade aberta de vulnerabilidade capaz de albergar situações
outras que no caso concreto identificam a fragilidade de uma das partes, como no caso do consumidor crédulo, o mais
humilde, que se deixa levar pela conversa enganosa de um vendedor que afirma ser o melhor presente a joia mais cara
daquele estabelecimento. Nesta hipótese, não necessariamente o preposto da empresa se referiu a questões de ordem
técnica afetas ao produto ou jurídica relacionadas ao contrato de consumo, mas ainda assim faticamente o consumidor pode
ser considerado a parte mais fraca da relação. Consumidor é frágil no aspecto econômico e demais situações fáticas.
▪ Vulnerabilidade informacional: refere‐se basicamente à importância das informações a respeito dos bens de consumo e sobre
sua influência cada vez maior no poder de persuadir o consumidor no momento de escolher o que comprar ou contratar no
mercado consumidor. Consumidor é frágil em relação às informações veiculadas do produto/serviço.
HIPERVULNERABILIDADE:
São aqueles cuja fragilidade se apresenta em maior grau de relevância ou de forma agravada. É o caso dos consumidores
personificados nas gestantes, nas crianças, nos idosos, nos enfermos, nas pessoas com deficiência, nos analfabetos, dentre
outros.
VULNERABILIDADE x HIPOSSUFICIÊNCIA:
Ver: https://www.youtube.com/watch?v=7avqUQzIWTk
https://www.youtube.com/watch?v=7avqUQzIWTk
Jurisprudência TJRS:
Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. FATURA COM VALOR BEM ACIMA DO VALOR DO CONSUMO USUAL. TERMO DE CONFISSÃO E PARCELAMENTO DE DÍVIDA. PARTE RÉ QUE NÃO DEMONSTRA TER
SIDO A AUTORA SUFICIENTEMENTE INFORMADA ACERCA DO INSTRUMENTO ASSINADO. NULIDADE DECLARADA. SUPOSTO FORNECIMENTO DE ENERGIA PARA TERCEIROS
NÃO COMPROVADO. AUSÊNCIA DE PROVA DA FRAUDE. CONSUMIDORA QUE É, NO CASO EM TELA, EXTREMAMENTE VULNERÁVEL. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO QUE COMPORTA REDUÇÃO PARA R$ 2.000,00, EM OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. SENTENÇA
PARCIALMENTE MANTIDA. Narrou a autora que recebeu fatura no valor de R$ 1.990,63, referente ao mês de dezembro de 2017, a qual considerou excessiva, não condizente com a média
de gasto usual. Sustentou que, para evitar a suspensão do fornecimento de energia elétrica, assinou termo de confissão de dívida dos valores cobrados. Requereu a abstenção da ré em
efetuar o corte no fornecimento de energia elétrica de sua residência, a nulidade do termo firmado, bem como indenização por danos morais. A sentença julgou parcialmente procedente a ação
para o fim de declarar nulo o termo de confissão e parcelamento de dívida firmado entre as partes no valor de R$ 1.990,63, bem como condenar a ré ao pagamento de R$ 9.540,00 a título de
indenização por danos morais. Da análise das faturas acostadas aos autos (fls. 19-35), verifica-se que, de fato, a cobrança relativa ao mês de dezembro de 2017 apresentou um valor muito
superior em comparação com os meses anteriores e posteriores. O aumento excessivo e abrupto no consumo, sem razões aparentes, afasta a presunção de legalidade inerente aos atos
praticados pela concessionária,no que tange à fatura de dezembro de 2017. Além do mais, pelas fotografias acostadas aos autos (fls. 58, 125-127), não é crível que uma residência simples,
com cinco cômodos, dois moradores, consuma tanta energia, conforme consta na fatura de dezembro de 2017 (4.896 KW/H). A ré alegou que o termo de confissão de dívida foi firmado
livremente, bem como a ciência da autora quanto à irregularidade do consumo de energia, com o fornecimento desta a terceiros, o que justificaria o elevado consumo. Todavia, não trouxe aos
autos provas de tais alegações. Não há elementos a evidenciar que a autora tenha compreendido o conteúdo do termo firmado. Salienta-se que a autora é pessoa idosa e
com mínimo grau de alfabetização, caracterizando sua hipervulnerabilidade no caso concreto. Portanto, cabia à ré comprovar o alegado fornecimento de
energia a terceiro, de modo a justificar o aumento abrupto no consumo médio habitual, ratificando a cobrança do valor de R$ 1.990,63 na fatura de dezembro de 2017, ônus do qual não se
desincumbiu, nos termos do art. 373, II, do CPC. Não há nos autos qualquer documento comprobatório acerca da suposta fraude cometida. Na ausência de provas, não há que ser admitida a
acusação de fornecimento de energia a terceiros. Cumpre ressaltar, novamente, que a autora possui baixíssimo grau de instrução, razão pela qual a assinatura lançada nos termos de
notificação (fls. 116-118) não indica a sua compreensão acerca da imputação de irregularidade. Inclusive, quanto a isto, o empregado da ré, em seu depoimento pessoal (fl. 134), não
recordava quem teria assinado o termo de notificação, além de não saber se haviam sido feitos testes no medidor da autora à época, para averiguar a suposta irregularidade. Assim, correta a
sentença que considerou nula a confissão de dívida feita pela autora, que é pessoa vulnerável diante da concessionária ré, especialmente por ser idosa, analfabeta, acometida de moléstias
psiquiátricas, e pobre no sentido jurídico da palavra, que certamente foi premida a assinar o referido termo, sem ter real conhecimento do que se tratava, para não ter interrompido o
fornecimento do serviço essencial. Danos morais configurados. A mera cobrança em valor superior ao que efetivamente devido, por si só, não enseja a reparação por danos morais. Contudo,
no caso, a excepcionalidade da situação denota o abalo moral sofrido pela autora, consubstanciado na afronta a seus atributos de personalidade. Todavia, o quantum indenizatório fixado pelo
juízo de origem em R$ 9.540,00, comporta redução para R$ 2.000,00, de maneira a adequar-se aos princípios de proporcionalidade e razoabilidade. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71008675548, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em: 13-05-2020)
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. IDOSO, APOSENTADO E
ANALFABETO. PRESUNÇÃO DE VULNERABILIDADE DO CONTRATANTE. NULIDADE RECONHECIDA. DANO MORAL CONFIGURADO. Nulidade contratual. No
caso concreto, o autor – idoso, aposentado e analfabeto – dirigiu-se ao banco, após receber cobranças de um débito, e acabou sendo levado a assinar uma
confissão de dívida sem saber o conteúdo do documento, pensando tratar-se de assinatura de termo de encerramento de conta corrente. A prova testemunhal foi
categórica no sentido de que o funcionário da instituição não leu ao autor o teor do instrumento. A instituição financeira valeu-se da hipervulnerabilidade do
cliente para impingir-lhe uma confissão de dívida com juros de 2,10% ao mês, conduta que se mostrou abusiva e ilícita. O analfabetismo funcional
do autor não o torna incapaz para os atos da vida civil nem inviabiliza que celebre contratos. Contudo, em face de sua presumida vulnerabilidade, devem ser atendidos
alguns pressupostos legais para a perfectibilização do contrato, conforme preceitua o art. 595 do Código Civil. Assim, para que um contrato celebrado com um analfabeto
seja válido, ele precisa ser formalizado por instrumento público ou por instrumento particular assinado a rogo por intermédio de procurador constituído por instrumento
público, e subscrito por duas testemunhas. A inobservância de tais requisitos conduz à nulidade da contratação, consoante os termos dos artigos 104, inciso III, e 166,
inciso IV, do CC. Indenização por dano moral. In casu, o nome do autor foi inscrito nos órgãos de inadimplentes, com o que, aliás, concordou o banco demandado em
sede de contrarrazões. Como se não bastasse, a situação vivenciada pelo aposentado ultrapassou em muito o mero dissabor do cotidiano, caracterizando abalo moral
suscetível de reparação patrimonial. Nesse contexto, sopesando-se a condição socioeconômica da vítima, a natureza do fato e o sofrimento a que fora submetida, bem
como as demais circunstâncias pertinentes à espécie, deve ser arbitrado em R$ 9.800,00 o quantitativo indenizatório, tendo em vista os parâmetros adotados
normalmente por esta Câmara em hipóteses similares. APELAÇÃO PROVIDA.(Apelação Cível, Nº 70081168478, Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Afif Jorge Simões Neto, Julgado em: 10-12-2019)
Ementa: RECURSO INOMINADO. PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. TURISMO. PACOTE DE VIAGEM. CANCELAMENTO POR MOTIVO DE DOENÇA.
POSSIBILIDADE DE DETECÇÃO DA CONDIÇÃO DE HIPERVULNERABILIDADE. PLEITO DE DEVOLUÇÃO INTEGRAL DAS PARCELAS. CERCEAMENTO DE
PROVA EVIDENCIADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DESCONSTITUÍDA. A regra legal, nos JECs, é a de realização de audiência de instrução e julgamento,
quando então serão apresentadas as provas, máxime quando a parte autora postula pela dilação probatória, face ao exíguo prazo concedido para que fossem acostados
documentos (48h). Em se tratando de contrato submetido ao manto do CDC, embora presumida jure et jure a vulnerabilidade do consumidor,
deve-se permitir a prova em concreto da chamada hipervulnerabilidade, quando se trate de consumidor idoso, criança ou adolescente, ou
doente mental, caso invocado pela autora. Mesmo que não pudesse o fornecedor detectar a hipervulnerabilidade da consumidora quando da contratação, por se tratar
de pessoa sedizente bipolar, depois de argüida essa condição na esfera administrativa, é preciso averiguar se a normal condição de vulnerabilidade não foi exacerbada,
em ofensa à boa-fé objetiva. RECURSO PROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71003151529, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fabio Vieira Heerdt,
Julgado em: 27-09-2011)
Sugere-se aos alunos que continuem os estudos da tipologia de princípios gerais do CDC
através da leitura: páginas 263-288, Capítulo 1. ALMEIDA, Fabricio Bolzan de. Direito do consumidor. 8. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020. (Coleção esquematizado®)
DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR:
Em que pese o art. 6º do CDC elencar uma série de direitos básicos do consumidor, ressalta‐se que o rol desses direitos é
bastante amplo, não se limitando ao dispositivo citado, nem ao próprio texto do Código do Consumidor. Aliás, esta é a mens legis
do art. 7º, caput, da Lei n. 8.078/90, que prevê: “Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções
internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos
que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade”.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; (CDC
previu no Capítulo IV - “Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos”)
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; (Educação e
informação asseguram → Liberdade de escolha, que concretiza → igualdadena contratação)
III - a informação adequada e clara * sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada
a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; (art. 373, CPC)
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)
III - a informação adequada e clara * sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
ÂMBITO DE APLICAÇÃO DO CDC:
1. Teoria Maximalista: estende a proteção do consumidor a todos os indivíduos que retiram determinado produto do mercado de
consumo (destinatário fático do bem, pouco importando se utilizará o bem na profissão ou não).
2. Teoria Finalista ou Teleológica: destinatário final: para uso próprio ou de sua família, excluindo o uso profissional. Análise finalista /
teleológica da destinação do produto. Admitem a aplicação do CDC às pequenas empresas, desde que presente a vulnerabilidade.
3. Teoria Finalista Aprofundada: Cláudia Lima Marques - noção de consumidor imediato e de vulnerabilidade (art. 4°, I), que poderíamos
denominar finalismo aprofundado. Jurisprudência STJ (Informativo nº. 150).
DIREITO DO CONSUMIDOR. CONSUMO INTERMEDIÁRIO. VULNERABILIDADE. FINALISMO APROFUNDADO. Não ostenta a qualidade de consumidor a pessoa física ou jurídica que não é
destinatária fática ou econômica do bem ou serviço, salvo se caracterizada a sua vulnerabilidade frente ao fornecedor. A determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita mediante
aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou
jurídica. Dessa forma, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e,
portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pelo CDC, aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-
o de forma definitiva do mercado de consumo. Todavia, a jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma
aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando “finalismo aprofundado”. Assim, tem se admitido que, em determinadas hipóteses, a
pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o princípio-motor da
política nacional das relações de consumo, premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção conferida ao consumidor. A doutrina tradicionalmente aponta a existência
de três modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e
de seus reflexos na relação de consumo) e fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor).
Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra). Além disso, a
casuística poderá apresentar novas formas de vulnerabilidade aptas a atrair a incidência do CDC à relação de consumo. Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de vulnerabilidade já
consagradas pela doutrina e pela jurisprudência, a relação de dependência de uma das partes frente à outra pode, conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade legitimadora da aplicação do CDC,
mitigando os rigores da teoria finalista e autorizando a equiparação da pessoa jurídica compradora à condição de consumidora. Precedentes citados: REsp 1.196.951-PI, DJe 9/4/2012, e REsp
1.027.165-ES, DJe 14/6/2011. REsp 1.195.642-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2012.
CONTATOS:
Profª Michelle Dias Bublitz
email: michelle.bublitz@uniritter.edu.br
Michelle Bublitz michelle.bublitz
Ficou com 
alguma dúvida?

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