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Hermenêutica constitucional Prof. Marcelo Caminha Filho Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras ● Princípios Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras: descritivas de comportamento permitido, proibido ou obrigatório. Aplicação “tudo ou nada” (Dworkin). Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras: descritivas de comportamento permitido, proibido ou obrigatório. Aplicação “tudo ou nada” (Dworkin). ● Princípios: prescrições normativas que apontam para um estado ideal de coisas, sem prever diretamente o comportamento que deve ser adotado para promovê-lo (Dworkin). Mandamentos de otimização (Alexy). Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) (1) Grau de abstração: “os princípios são normas com um grau de abstração relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstração relativamente reduzida”; Código Civil: “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.” CRFB: “Art. 145. (...) § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte (...). Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) (2) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: “os princípios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, do juiz), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação direta”; Código de Processo Civil: “Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;” c/c art. 81 (multa de 1 a 10% do valor da causa). Código de Processo Civil: “Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.” Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) (3) Caráter de fundamentalidade no sistema das fontes de direito: “os princípios são normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex.: princípios constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex.: princípio do Estado de Direito)”; Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) CRFB: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) (4) “Proximidade” da ideia de direito: “os princípios são ‘standards’ juridicamente vinculantes radicados nas exigências de ‘justiça’ (DWORKIN) ou na ‘ideia de direito’ (LARENZ); as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional”; CRFB: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:” Hermenêutica constitucional Critérios de diferenciação (J. J. Gomes Canotilho) (5) Natureza normogenética: “os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética fundamentante”. CRFB: “Art. 5º. (...) LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.” Código de Processo Civil: “Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão.” Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras: descritivas de comportamento permitido, proibido ou obrigatório. Aplicação “tudo ou nada” (Dworkin). Só não aplico se: (1) Houver exceção; E.g.: Código Penal: “Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” “Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras: descritivas de comportamento permitido, proibido ou obrigatório. Aplicação “tudo ou nada” (Dworkin). Só não aplico se: (1) Houver exceção; (2) For inválida. E.g.: Código Civil: “Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:” (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)” Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Regras: descritivas de comportamento permitido, proibido ou obrigatório. Aplicação “tudo ou nada” (Dworkin). São satisfeitas ou não. Os princípios são satisfeitos em graus variados (pesos ou ponderação). CRFB: “Art. 14. (...) § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.” (princípio da igualdade x princípio da moralidade) Hermenêutica constitucional Derrotabilidade (superabilidade) das regras? Cancelamento da razão justificadora da regra por razões consideradas superiores pelo aplicador diante do caso concreto (Humberto Ávila). Diferença em relação à invalidade: regra continua existindo e sendo aplicada. Só é afastada naquele contexto específico. Hermenêutica constitucional Derrotabilidade das regras? “A derrotabilidade das normas tem a ver com a não aplicação, total ou parcial, de certa norma jurídica, apesar de exteriorizados os pressupostos a partir dos quais se deveria aplicá-la em condições normais. […] Por outras palavras, como os órgãos que editam normas são incapazes de prever as infinitas circunstâncias que futuramente aparecerão no momento em que uma norma deva ser aplicada, as previsões normativas estão sempre abertas a uma lista de exceções (cláusulas a menos que) que podem derrotar os comandos inicialmente propostos pela autoridade normativa.” (Bernardes e Ferreira) Hermenêutica constitucional Derrotabilidade das regras? Cancelamento da razão justificadora da regra por razões consideradas superiores pelo aplicador diante do caso concreto (Humberto Ávila). E.g.: Lei nº 8.069, de 1990: “Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.” Hermenêutica constitucional RECURSO ESPECIAL. ADOÇÃO DE MENOR PLEITEADA PELA AVÓ PATERNA E SEU COMPANHEIRO (AVÔ POR AFINIDADE). MITIGAÇÃO DA VEDAÇÃO PREVISTA NO § 1º DO ARTIGO 42 DO ECA. POSSIBILIDADE. (...) 4. É certo que o § 1º do artigo 42 do ECA estabeleceu, como regra, a impossibilidade da adoção dos netos pelos avós, a fim de evitar inversões e confusões (tumulto) nas relações familiares - em decorrência da alteração dos graus de parentesco -, bem como a utilização do instituto com finalidade meramente patrimonial. 5. Nada obstante, sem descurar do relevante escopo social da norma proibitiva da chamada adoção avoenga, revela-se cabida sua mitigação excepcional quando: (i) o pretenso adotando seja menor de idade; (ii) os avós (pretensos adotantes) exerçam, com exclusividade, as funçõesde mãe e pai do neto desde o seu nascimento; (iii) a parentalidade socioafetiva tenha sido devidamente atestada por estudo psicossocial; (iv) o adotando reconheça os - adotantes como seus genitores e seu pai (ou sua mãe) como irmão; (v) inexista conflito familiar a respeito da adoção; (vi) não se constate perigo de confusão mental e emocional a ser gerada no adotando; (vii) não se funde a pretensão de adoção em motivos ilegítimos, a exemplo da predominância de interesses econômicos; e (viii) a adoção apresente reais vantagens para o adotando. Precedentes da Terceira Turma. (...) 7. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1587477/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/03/2020, DJe 27/08/2020) Hermenêutica constitucional Derrotabilidade das regras? Cancelamento da razão justificadora da regra por razões consideradas superiores pelo aplicador diante do caso concreto (Humberto Ávila). E.g.: Lei nº 8.112, de 1990: “Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse da administração é assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época, independentemente de vaga.” Hermenêutica constitucional “III. Consoante a firme jurisprudência do STF e do STJ, o servidor público civil ou militar estudante, transferido ex officio, e seu dependente estudante, tem direito à matrícula em instituição de ensino superior da nova localidade, desde que congêneres as instituições de ensino, excepcionando-se a regra, em caso de inexistência de estabelecimento de ensino da mesma natureza, no local da nova residência ou em suas imediações. Nesse sentido: STJ, REsp 688.675/RN, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJU de 09/05/2005.” (REsp 1649793/RJ, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 09/06/2017) Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● ● Princípios: prescrições normativas que apontam para um estado ideal de coisas, sem prever diretamente o comportamento que deve ser adotado para promovê-lo. Mandamentos de otimização (Dworkin e Alexy). Hermenêutica constitucional Espécies de norma: CUIDADO! Pamprincipiologismo? Princípio da felicidade; princípio da livre escolha do causídico; princípio da ponderação; princípio da congruência entre pedido e tutela? Hermenêutica constitucional Espécies de norma: CUIDADO! Legislação e doutrina mais antiga (ou consolidada)! Lei nº 6.015, de 1973: “Art. 176. (...) § 1º A escrituração do Livro nº 2 obedecerá às seguintes normas: I - cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;” Princípio da unitariedade? Hermenêutica constitucional Espécies de norma: Regras X Princípios? Hermenêutica constitucional Espécies de norma: Regras X Princípios? Tendo em vista a UNIDADE do ordenamento jurídico, não há hierarquia. Hermenêutica constitucional Um sistema não pode ser composto somente de princípios, ou só de regras. Só princípios: muito flexível, pela ausência de guias claros de comportamento; Só regras: muito rígido, pela ausência de válvulas de abertura para o amoldamento das soluções às particularidades dos casos concretos. Cada espécie normativa desempenha funções diferentes e complementares, não se podendo sequer conceber uma sem a outra, e a outra sem a uma. (Humberto Ávila) Hermenêutica constitucional Código de Processo Civil: “Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.” Código de Processo Civil: “Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:” Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 227.” ECA: “Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis. § 1º A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando.” Hermenêutica constitucional Às vezes, um mesmo texto expressa mais de uma norma! CRFB: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:” Princípio da moralidade Regra da vedação ao nepotismo Hermenêutica constitucional Às vezes, o princípio exerce função integrativa! Lei nº 8.213, de 1991: “Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.” “Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).” + princípio da universalidade da cobertura e da igualdade Hermenêutica constitucional Às vezes, o princípio exerce função integrativa! Comprovada a necessidade de assistência permanente de terceiro, é devido o acréscimo de 25%, previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/91, a todas as modalidades de aposentadoria pagas pelo INSS. Apesar de o art. 45 da Lei nº 8.213/91 falar apenas em “aposentadoria por invalidez”, o STJ entendeu que se pode estender esse adicional para todas as demais espécies de aposentadoria (especial, por idade, tempo de contribuição). STJ. 1ª Seção. REsp 1.720.805-RJ e 1648305-RS, Rel. para acórdão Min. Regina Helena Costa, julgados em 23/08/2018 (recurso repetitivo). (DIZER O DIREITO) Hermenêutica constitucional Cuidado! Analogia é diferente de interpretação analógica! Na ANALOGIA, , as consequências jurídicas atribuídas a um caso já regulamentado deverão ser atribuídas também a um caso não-regulamentado, pois as mesmas razões que justificam um o fazem em relação ao outro. Já na INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA, o legislador dispõe uma fórmula casuística e outra genérica, permitindo que se amplie o alcance da genérica mesmo in malam partem. Hermenêutica constitucional Cuidado! Analogia é diferente de interpretação analógica! Código Penal: “Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; Pena - reclusão, de doze a trinta anos.” Código Civil: “Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.” Hermenêutica constitucional Interpretação analógica Código Civil: “Art. 99. São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;” Mas praia também, golfos também, jardins também. Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB O raciocínio analógico é típico do pensamento jurídico. Esse é um tema debatido por vários teóricos e filósofos do Direito. Para Norberto Bobbio, na obra Teoria do Ordenamento Jurídico, trata-se de um método de autointegração do Direito. Assinale a opção que, segundo esse autor, apresenta o conceito de analogia. (A) Subsunção de um caso (premissa menor) a uma norma jurídica (premissa maior) de forma a permitir uma conclusão lógica e necessária. (B) Existindo relevante semelhança entre dois casos, as consequências jurídicas atribuídas a um caso já regulamentado deverão ser atribuídas também a um caso não-regulamentado. (C) Raciocínio emque se produz, como efeito, a extensão de uma norma jurídica para casos não previstos por esta. (D) Decisão, por meio de recurso, às práticas sociais que sejam uniformes e continuadas e que possuam previsão de necessidade jurídica. Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB O raciocínio analógico é típico do pensamento jurídico. Esse é um tema debatido por vários teóricos e filósofos do Direito. Para Norberto Bobbio, na obra Teoria do Ordenamento Jurídico, trata-se de um método de autointegração do Direito. Assinale a opção que, segundo esse autor, apresenta o conceito de analogia. (A) Subsunção de um caso (premissa menor) a uma norma jurídica (premissa maior) de forma a permitir uma conclusão lógica e necessária. (B) Existindo relevante semelhança entre dois casos, as consequências jurídicas atribuídas a um caso já regulamentado deverão ser atribuídas também a um caso não-regulamentado. (C) Raciocínio em que se produz, como efeito, a extensão de uma norma jurídica para casos não previstos por esta. (D) Decisão, por meio de recurso, às práticas sociais que sejam uniformes e continuadas e que possuam previsão de necessidade jurídica. Hermenêutica constitucional Como eu identifico um princípio? Hermenêutica constitucional Como eu identifico um princípio? O princípio pode ser expresso... CRFB: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:” Hermenêutica constitucional Como eu identifico um princípio? Ou implícito! Lei nº 6.015, de 1973: “Art. 176. (...) § 1º A escrituração do Livro nº 2 obedecerá às seguintes normas: I - cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;” “Art. 186 - O número de ordem determinará a prioridade do título, e esta a preferência dos direitos reais, ainda que apresentados pela mesma pessoa mais de um título simultaneamente.” “Art. 13. Salvo as anotações e as averbações obrigatórias, os atos do registro serão praticados: I - por ordem judicial; II - a requerimento verbal ou escrito dos interessados; III - a requerimento do Ministério Público, quando a lei autorizar.” “Art. 17. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.” Segurança jurídica Hermenêutica constitucional Espécies de norma: ● Princípios: geralmente relacionados a um valor. Funções: ● Informativa ou inspiradora: inspirar e indicar diretrizes ao legislador; ● Integrativa ou normativa: suprir lacunas no ordenamento jurídico; ● Interpretativa: auxiliar na construção do sentido. Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: OAB Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso Riggs contra Palmer, em que um jovem matou o próprio avô para ficar com a herança. O Tribunal de Nova Iorque (em 1889) julga o caso considerando que a legislação do local e da época não previa o homicídio como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o Tribunal aplica o princípio, não legislado, do direito que diz que ninguém pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. Assim, o assassino não recebeu sua herança. Com esse exemplo podemos concluir que a jusfilosofia de Ronald Dworkin, dentre outras coisas, pretende (A) revelar que a responsabilidade sobre o maior ou menor grau de justiça de um ordenamento jurídico é responsabilidade exclusiva do legislador que deve se esforçar por produzir leis justas. (B) mostrar como as cortes podem ser ativistas quando decidem com base em princípios e não com base na lei e que decidir assim fere o estado de direito. (C) defender que regras e princípios são normas jurídicas que possuem as mesmas características e, por isso, ambos podem ser aplicados livremente pelos tribunais. (D) argumentar que regras e princípios são normas com características distintas e em certos casos os princípios poderão justificar de forma mais razoável a decisão judicial, pois a tornam também moralmente aceitável. Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: OAB Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso Riggs contra Palmer, em que um jovem matou o próprio avô para ficar com a herança. O Tribunal de Nova Iorque (em 1889) julga o caso considerando que a legislação do local e da época não previa o homicídio como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o Tribunal aplica o princípio, não legislado, do direito que diz que ninguém pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. Assim, o assassino não recebeu sua herança. Com esse exemplo podemos concluir que a jusfilosofia de Ronald Dworkin, dentre outras coisas, pretende (A) revelar que a responsabilidade sobre o maior ou menor grau de justiça de um ordenamento jurídico é responsabilidade exclusiva do legislador que deve se esforçar por produzir leis justas. (B) mostrar como as cortes podem ser ativistas quando decidem com base em princípios e não com base na lei e que decidir assim fere o estado de direito. (C) defender que regras e princípios são normas jurídicas que possuem as mesmas características e, por isso, ambos podem ser aplicados livremente pelos tribunais. (D) argumentar que regras e princípios são normas com características distintas e em certos casos os princípios poderão justificar de forma mais razoável a decisão judicial, pois a tornam também moralmente aceitável. Hermenêutica constitucional Postulados normativos aplicativos (princípios instrumentais, princípios interpretativos, metanormas, normas de 2º grau) Instituem os critérios de aplicação de outras normas. Os princípios e regras são objeto da aplicação – postulados orientam a aplicação (Humberto Ávila). Hermenêutica constitucional Exemplos: (1) Postulado da unidade do ordenamento jurídico: um todo coerente. (2) Postulado da hierarquia: estrutura escalonada de normas. (3) Postulado da razoabilidade: relação de razoabilidade da aplicação da norma geral ao caso concreto. (4) Postulado da proporcionalidade: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Hermenêutica constitucional Extensão da interpretação (1) Interpretação declarativa (literal) (2) Interpretação ampliativa (extensiva) (3) Interpretação restritiva Hermenêutica constitucional Extensão da interpretação (1) Interpretação declarativa (literal): atém-se ao significado da letra da lei. Enunciado coincide, na sua amplitude, com aquele que, à primeira vista, parece conter-se nas expressões do dispositivo (LIMONGI FRANÇA). (2) Interpretação ampliativa (extensiva): (3) Interpretação restritiva: Hermenêutica constitucional Extensão da interpretação (1) Interpretação declarativa (literal): (2) Interpretação ampliativa (extensiva): amplia-se o significado prima facie extraído do dispositivo, dando-lhe o seu significado real. (3) Interpretação restritiva: Hermenêutica constitucional Extensão da interpretação (1) Interpretação declarativa (literal): (2) Interpretação ampliativa (extensiva): (3) Interpretação restritiva: restringe-se o significado prima facie extraído do dispositivo, dando-lhe o seu significado real. Hermenêutica constitucional Extensão da interpretação CPP: “Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.” CTN: “Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.” Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b)templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.” Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.” Hermenêutica constitucional STF reafirma que empresas estatais sem lucro são beneficiárias de imunidade tributária recíproca A Corte entendeu que empresas públicas e as sociedades de economia mista têm direito ao benefício, ainda que haja cobrança de tarifa aos usuários. 13/05/2021 17h13 Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou jurisprudência de que as empresas públicas e as sociedades de economia mista, delegatárias de serviços públicos essenciais, são beneficiárias de imunidade tributária recíproca, independentemente de cobrança de tarifa como contraprestação do serviço. A decisão foi proferida no Recurso Extraordinário (RE) 1320054, com repercussão geral (Tema 1.140). Segundo o entendimento da Corte, o benefício, previsto na Constituição Federal (artigo 150, inciso VI, alínea “a”), é concedido quando não houver distribuição de lucros a acionistas privados e nos casos de ausência de risco ao equilíbrio concorrencial. (http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=465866&ori=1) http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=465866&ori=1 Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.” Hermenêutica constitucional EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. IPTU. ARTIGO 150, VI, "B", CB/88. CEMITÉRIO. EXTENSÃO DE ENTIDADE DE CUNHO RELIGIOSO. 1. Os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de cunho religioso estão abrangidos pela garantia contemplada no artigo 150 da Constituição do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles. 2. A imunidade aos tributos de que gozam os templos de qualquer culto é projetada a partir da interpretação da totalidade que o texto da Constituição é, sobretudo do disposto nos artigos 5º, VI, 19, I e 150, VI, "b". 3. As áreas da incidência e da imunidade tributária são antípodas. Recurso extraordinário provido. (RE 578562, Relator(a): EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2008, DJe-172 DIVULG 11-09-2008 PUBLIC 12-09-2008 EMENT VOL-02332-05 PP-01070 RTJ VOL-00206-02 PP-00906 LEXSTF v. 30, n. 358, 2008, p. 334-340) Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.” Hermenêutica constitucional Imunidade tributária de partidos, sindicatos e instituições educacionais sem fins lucrativos alcança IOF Em julgamento com repercussão geral, o STF negou recurso da União e reconheceu que as entidades têm direito à imunidade em relação ao tributo. 15/04/2021 17h05 Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a imunidade tributária assegurada aos partidos políticos e suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e às instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos alcança o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na sessão virtual encerrada em 12/4, o colegiado negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 611510, com repercussão geral reconhecida (Tema 328), interposto pela União. (http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=464236&ori=1) http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=464236&ori=1 Hermenêutica constitucional CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.” Hermenêutica constitucional https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?classeNumeroIncidente=330817&b ase=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&sinonimo=true&plural=true&radicais= false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&sort=_score&sortBy=desc&isAdva nced=true (RE 330817, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 08/03/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-195 DIVULG 30- 08-2017 PUBLIC 31-08-2017) https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?classeNumeroIncidente=330817&base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&sinonimo=true&plural=true&radicais=false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&sort=_score&sortBy=desc&isAdvanced=true Hermenêutica constitucional Agentes de interpretação (1) Interpretação judicial (2) Interpretação doutrinária (3) Interpretação autêntica Hermenêutica constitucional Interpretação autêntica Código Tributário Nacional: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” Hermenêutica constitucional Decreto-Lei nº 37, de 1966: “Art. 13 - É concedida isenção do imposto de importação, nos têrmos e condições estabelecidos no regulamento, à bagagem constituída de: I - roupas e objetos de uso ou consumo pessoal do passageiro, necessários a sua estada no exterior;” Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-SC (Cartório) Antônio, renomado professor de direito constitucional, foi procurado por um estudante para que analisasse a constitucionalidade de determinada norma. Na ocasião, o estudante expôs ao professor que, ao seu ver, o texto normativo e a norma não apresentavam uma relação de sobreposição, o que conferia especial relevância à atividade intelectiva conduzida pelo intérprete na atribuição de significados aos significantes interpretados. Afinal, sempre que dois ou mais significados pudessem ser atribuídos ao mesmo significante, caberia ao intérprete resolver as conflitualidades intrínsecas da norma constitucional, que refletem justamente a oposição entre grandezas argumentativamente relevantes, e decidir qual deles deveria preponderar, de modo a individualizar a norma. Ao concordarcom a explicação do estudante, o professor concluiu, corretamente, que essa era uma das razões pelas quais: (A) as escolas formalistas clássicas tinham conquistado elevada importância, pois valorizavam o papel da hermenêutica, sem descurar da segurança jurídica; (B) deve ser admitida a formulação de pedido, em sede de ação direta de inconstitucionalidade, de declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto; (C) a estática textual ganha dinamismo com a realidade, mas apenas no processo de individualização das normas principiológicas, que apresentam maior permeabilidade aos valores; (D) a mutação constitucional não se ajusta às normas-regra, já que estas últimas apresentam reduzida mobilidade semântica, comprimindo, ao ponto de suprimir, o espaço decisório do intérprete; (E) a interpretação conforme a Constituição, realizada em sede de controle concentrado de constitucionalidade, pressupõe a declaração de nulidade da parte do texto que dá origem à norma dissonante da ordem constitucional. Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-SC (Cartório) Antônio, renomado professor de direito constitucional, foi procurado por um estudante para que analisasse a constitucionalidade de determinada norma. Na ocasião, o estudante expôs ao professor que, ao seu ver, o texto normativo e a norma não apresentavam uma relação de sobreposição, o que conferia especial relevância à atividade intelectiva conduzida pelo intérprete na atribuição de significados aos significantes interpretados. Afinal, sempre que dois ou mais significados pudessem ser atribuídos ao mesmo significante, caberia ao intérprete resolver as conflitualidades intrínsecas da norma constitucional, que refletem justamente a oposição entre grandezas argumentativamente relevantes, e decidir qual deles deveria preponderar, de modo a individualizar a norma. Ao concordar com a explicação do estudante, o professor concluiu, corretamente, que essa era uma das razões pelas quais: (A) as escolas formalistas clássicas tinham conquistado elevada importância, pois valorizavam o papel da hermenêutica, sem descurar da segurança jurídica; (B) deve ser admitida a formulação de pedido, em sede de ação direta de inconstitucionalidade, de declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto; (C) a estática textual ganha dinamismo com a realidade, mas apenas no processo de individualização das normas principiológicas, que apresentam maior permeabilidade aos valores; (D) a mutação constitucional não se ajusta às normas-regra, já que estas últimas apresentam reduzida mobilidade semântica, comprimindo, ao ponto de suprimir, o espaço decisório do intérprete; (E) a interpretação conforme a Constituição, realizada em sede de controle concentrado de constitucionalidade, pressupõe a declaração de nulidade da parte do texto que dá origem à norma dissonante da ordem constitucional.