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PATOLOGIA GERAL ROTEIROS DE AULAS TEÓRICAS E PRÁTICAS CURSOS: BIOMEDICINA, ENFERMAGEM, FARMÁCIA, FISIOTERAPIA, MEDICINA, MEDICINA VETERINÁRIA E ODONTOLOGIA. Profº. Dr. JOSÉ AIRES PEREIRA 31ª edição Bragança Paulista 2022 PROFESSORES DA DISCIPLINA DE ANATOMIA PATOLÓGICA RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DESSES ROTEIROS ATHANASE BILLIS CARLOS A. F. SOUZA ENZO MAGRINI (in memoriam) HELENICE PIOVESAN (in memoriam) IZILDA AP. CARDINALLI JOSÉ AIRES PEREIRA PREFÁCIO Á 30ª EDIÇÃO Os "Roteiros de Aulas Teóricas e Práticas" são de grande importância para o bom andamento e acompanhamento, por parte dos alunos, da Disciplina de Patologia Geral. Nas "Aulas Teóricas e Práticas" estão enumerados os tópicos mais importantes dos assuntos abordados os quais o aluno não poderá de deixar de estudar. Esta seleção de tópicos se faz necessária devido à extensão da matéria. É preciso que o professor - valendo-se da sua experiência - selecione aquilo que é importante e imprescindível para a formação do aluno de graduação. 0s estudo dos tópicos selecionados deverá ser feito em livros-texto de Anatomia Patológica. Abaixo relacionamos os livros mais importantes que poderão ser consultados ou adquiridos: JOSÉ LOPES DE FARIA, Patologia Geral. Fundamentos das doenças, com aplicações clínicas, 4ª edição, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2003. MONTENEGRO M.R. & FRANCO M., Patologia. Processos Gerais, 5ª edição, Atheneu, São Paulo, 2010. ROBBINS & COTRAN, PATOLOGIA - Bases Patológicas das Doenças, 8ª Edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. BOGLIOLO, Luigi; BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Patologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Nas aulas práticas serão vistos os preparados histológicos e as peças anatômicas das doenças mais importantes ou frequentes procurando-se estudar neles os processos patológicos gerais. A descrição microscópica da lâmina tem a finalidade de auxiliar o estudo e a compreensão da mesma, ajudando inclusive o professor durante a aula prática, mormente quando as turmas são numerosas. 0 círculo que acompanha deve ser utilizado para a confecção de um desenho da lâmina histológica do ponto de vista do aluno não importando se for acadêmico, moderno, surrealista, etc. independente do estilo, a confecção de um desenho da lâmina é um processo ativo de aprendizagem e facilita muito a memorização da imagem. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PATOLOGIA A Anatomia Patológica estuda as alterações do organismo decorrentes de doença. Tem como propósito principal descrever a expressão morfológica destas alterações ao nível de células, tecidos e órgãos. As alterações morfológicas, na maioria das vezes, são características de uma determinada doença permitindo, portanto, elaboração de um diagnóstico correto. Este é fundamental para uma conduta terapêutica adequada. Além da descrição macro e microscópica das lesões, estuda a etiologia, e patogênese, isto é, os mecanismos pelos quais desenvolvem as lesões e a correlação entre expressão morfológica e manifestações clínicas. Para atingir os seus objetivos a Anatomia Patológica utiliza-se de inspeção macroscópica e exame microscópico de lesões no cadáver e no paciente. No primeiro, através da realização de necropsia e, no último, examinando peças cirúrgicas e biópsias. 0s avanços tecnológicos, propiciou aliar-se ao uso do microscópio óptico comum, o microscópio eletrônico (de transmissão e de varredura). Além das técnicas e colorações histológicas clássicas (H.E., PAS, etc.) utilizam-se hoje técnicas de imunofluorescência e imunoistoquimica, além de outras mais sofisticadas, de bioquímica, imunogenética, etc. Por causa da grande amplitude dos métodos empregados atualmente, muitos se referem à Anatomia Patológica simplesmente com a denominação Patologia (gr. estudo da doença). A Anatomia Patológica pode ser dividida, para fins de aprendizado, em Geral e dos órgãos e Sistemas. A Anatomia Patológica Geral estuda as alterações decorrentes da doença independente do tipo de célula, tecido, órgão ou organismo em que ocorre. Assim sendo, o ensino da Anatomia Patológica Geral é dado nos Cursos de Graduação em Medicina, Farmácia, Biomedicina, Odontologia, Nutrição Fisioterapia, Enfermagem, etc. Já a Anatomia Patológica dos Órgãos e Sistemas, estuda os processos patológicos que ocorrem nas células, tecidos e órgãos humanos sendo, portanto, uma Disciplina exclusiva do Curso de Graduação em Medicina. A Anatomia Patológica é uma das especialidades médicas que, juntamente com a Radiologia e Patologia Clínica, faz parte da área diagnostica da Medicina. 0 especialista, chamado anatomopatologista, após o Curso de Graduação em Medicina deve fazer Residência Médica em um período mínimo de 3 anos. 0 seu campo de atuação inclui: elaboração dos exames de citologia e dos laudos anatomopatológicos de biópsias e peças cirúrgicas; realização de necrópsia; e participação em reuniões anatomoclínicas nas quais são discutidos os diagnósticos correlacionando-se os achados morfológicos com os dados clínicos. Faz parte da equipe de atendimento ao paciente sendo a sua opinião, baseada no diagnóstico anatomopatológico, é de grande valia para a conduta terapêutica. Se o anatomopatologista optar por carreira universitária deverá fazer Curso de pós- graduação em níveis de Mestrado e Doutorado. A anatomia Patológica é um campo muito amplo para pesquisa que pode ser experimental e de aplicação. A primeira pode ser realizada em faculdades de Medicina ou em Institutos de Pesquisa. Como instrumentos de trabalho e de pesquisa, utiliza-se o microscópio óptico comum, de fase, de luz polarizada, de imunofluorescência e o eletrônico de transmissão e varredura; empregam-se técnicas histológicas usuais e especiais como de congelação, imunoistoquímica, imunofluorescência, hibridização in situ, biologia molecular e muitas outras. ANATOMIA PATOLÓGICA. UM BREVE HISTÓRICO Na época de Hipócrates, os gregos explicavam o aparecimento das doenças em base da teoria dos quatro humores do organismo: os fluidos orgânicos eram compostos de variáveis proporções de sangue, catarro, bile amarela e bile negra. Quando estes humores estavam em equilíbrio o corpo humano estava com saúde; excesso ou deficiência de um desses humores causava doença. Esta teoria prevaleceu por muitos séculos. Somente no século XVIII esta teoria foi abalada através da publicação, em 1761, de um dos mais importantes livros da história da Medicina: De Sedibus et Causis Morborum per Anatomen indagatis (Sobre a sede e causas das doenças investigadas pela Anatomia). 0 autor deste livro foi Giovanni Battista Morgagni (1682-1771), professor de Anatomia em Pádua, Itália. Através da realização de 500 autópsias descreveu, de forma sistemática e minuciosa, as lesões observadas nos diferentes órgãos correlacionando-as com os sinais e sintomas dos pacientes. Por causa desta obra monumental Morgagni é considerado o pai da Anatomia Patológica. O trabalho de Morgagni abriu caminho para o aparecimento do que seria a Anatomia Patológica como especialidade médica. No século XVIII e na primeira metade do século XIX o estudo das lesões se baseava apenas no exame macroscópico dos órgãos. No século XIX o maior expoente no exame macroscópico das lesões vistas em autópsias foi Carl Rokitansky(1804-1878). Este tcheco que trabalhava no Instituto de Patologia de Viena teria realizado, juntamente com seus assistentes, cerca de 60000 autópsias em menos de 50 anos. Apesar do uso do microscópio em Biologia datar do século XVII, somente na metade do século XIX graças a Rudolf Virchow, o estudo das autópsias passou a ser complementado com o exame microscópico. Rudolf Virchow (1821-1902) teve grande influência na Medicina da sua época não apenas como patologista, mas também através da sua atuação em saúde pública e mesmo na política. Foi o autor da "Teoria celular" que explicava as doenças como sendo causadas por distúrbios na estrutura e função celulares. Apesar da sua genialidade, não aceitou as evidências de que microorganismos poderiam ser causadores de doenças. No século XX a Anatomia Patológica firmou-se como uma especialidade médica de grande importância no diagnóstico das doenças. Às técnicas macroscópicas e microscópicas clássicas somaram-se a microscopia eletrônica, a imunofluorescência e, mais recentemente, a imunoistoquímica. A técnica de congelação é prática rotineira permitindo um diagnóstico rápido no próprio centro cirúrgico, sendo de grande valia na conduta terapêutica. Novas conquistas, notadamente em biologia molecular, descortinam um futuro com grandes possibilidades tanto na rotina diagnóstica como na pesquisa em Anatomia Patológica. ALTERAÇÕES REGRESSIVAS CELULARES E DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS AULA 01 LESÃO E MORTE DA CÉLULA. CALCIFICAÇÃO I- LESÃO CELULAR A- CAUSAS 1. Hipóxia; 2. Agentes físicos; 3. Agentes químicos; 4. Agentes infecciosos: vírus, rickéttsias, bactérias, fungos e parasitas 5. Reações imunológicas 6. Alterações genéticas 7. Distúrbios nutricionais B- MECANISMOS Em casos de hipóxia: 1. Diminuição da fosforilação oxidativa ao nível das mitocôndrias; 2. Diminuição da produção do ATP com consequente: a) aumento da glicólise anaeróbica havendo acúmulo de ácido lático e diminuição do pH; b) distúrbio da bomba de Na e K, resultando aumento de Na e H2O no interior da célula e saída de K para o espaço extracelular; 3. Alterações na permeabilidade da membrana citoplasmática resultando entrada de Ca e saída das enzimas: dehidrogenase lática (LDH), creatinoquinase (CPK) e troponina. C- TIPOS 1. Adaptativa. Ex.: hipertrofia e atrofia 2. Reversível Morfologia: tumefação turva e alteração vacuolar 3. Irreversível (necrose celular) 3.1 Conceito de morte e necrose celular 3.2 Morfologia da necrose celular a) em microscopia eletrônica: tumefação de mitocôndrias e retículo endoplasmático; rotura de lisossomos; b) em microscopia óptica comum: acidofilia citoplasmática, fragmentação da membrana citoplasmática, picnose nuclear, cariorrexe e cariolise 3.3 Autólise, heterólise, apoptose 3.4 Tipos de necrose: a) Coagulativa. Ex.: infarto do miocárdio b) Liquefativa. Ex.: abscesso c) Gordurosa (ou esteatonecrose) Ex.: pancreatite aguda (esteatonecrose enzimática); trauma (esteatonecrose traumática) d) Caseosa. Ex.: tuberculose e) Gomosa. Ex.: sífilis 3.5 Evolução: absorção, drenagem, ulceração, cavitação ou encistamento, cicatrização e calcificação. II- CALCIFICAÇÃO A- Classificação 1. Distrófica: ocorre em tecidos necróticos na presença de níveis séricos normais de Cálcio. 2. Metastática: ocorre em casos de hipercalcemia (ex. hiperparatireoidismo, intoxicação por vit.D, etc.). A deposição de cálcio se faz em diferentes tecidos e órgãos do organismo. B- Morfologia TEXTO Dra. Izilda Cardinalli I - LESÃO CELULAR As células, em condições normais, encontram-se em um estado de equilíbrio homeostático, capaz de suprir as demandas fisiológicas normais. Estresses fisiológicos um pouco mais excessivos ou alguns estímulos patológicos podem acarretar uma série de adaptações celulares fisiológicas e morfológicas, preservando, desta forma a viabilidade da célula e modulando sua função como uma resposta a esses estímulos. Por exemplo, os músculos proeminentes dos fisiculturistas que praticam halterofilismo resultam de adaptações celulares, o aumento da massa muscular refletindo o aumento do tamanho das fibras musculares individuais. Assim, a carga de trabalho é compartilhada por uma massa maior de componentes celulares, e cada fibra muscular é poupada de um trabalho excessivo e, portanto, escapa da lesão. A célula muscular aumentada atinge um novo equilíbrio, permitindo que ela sobreviva em um nível mais alto de atividade. Essa resposta adaptativa denomina-se hipertrofia. Por outro lado, a atrofia é uma resposta adaptativa na qual há uma diminuição do tamanho e função das células. Se os limites da resposta adaptativa forem ultrapassados, ou, em certos casos, quando a adaptação é impossível, sobrevém uma sequência de eventos denominada de lesão celular. A lesão celular é reversível até certo ponto, mas se persistir o estímulo ou se ele for intenso o suficiente desde o início, a célula chega a um ponto sem retorno, e sofre a lesão celular irreversível e a célula morre. Por exemplo, se o suprimento de sangue para um segmento do coração é interrompido por 10 a 15 min, e em seguida é restaurado, as células miocárdicas sofrem lesão, mas podem recuperar-se e voltar a funcionar normalmente. Entretanto, se o fluxo de sangue não for restaurado dentro de 1 hora, ocorre lesão irreversível, e a fibra miocárdica morre. A adaptação, lesão reversível, lesão irreversível e morte celular podem ser consideradas como respostas celulares frente a um leque de agressões na função e estruturas normais das células. A - CAUSAS As causas de lesão celular podem ser agrupadas da seguinte forma: 1. HIPÓXIA A hipóxia é uma causa extremamente importante e comum de lesão celular e altera a respiração oxidativa aeróbica. A causa mais comum de hipóxia ocorre quando o fluxo sanguíneo arterial é diminuído ou interrompido por arteriosclerose ou por trombos (obstáculos na luz arterial). Uma outra causa de hipóxia é a oxigenação inadequada do sangue devido a uma insuficiência cárdiorespiratória. Uma outra causa, menos frequente a perda por parte do sangue da capacidade de transportar oxigênio, como ocorre nas anemias, ou no envenenamento por monóxido de carbono (produzindo uma monoxiemoglobina estável que impede o transporte de oxigênio). Este gás inodoro e incolor é um subproduto da combustão produzido pela queima da gasolina, óleo, carvão madeira e gás natural. De acordo com a intensidade do estado hipóxico as células podem se adaptar, sofrer lesão ou morrer. Por exemplo, se a artéria femoral for estreitada, as células do músculo esquelético da perna podem diminuir de tamanho (atrofia). Essa redução da massa celular atinge um equilíbrio entre as necessidades metabólicas e a oferta de oxigênio. Uma hipóxia mais acentuada induz lesão e morte celulares. 2. AGENTES FÍSICOS Os agentes físicos incluem traumatismo mecânico, extremos de temperatura (queimaduras e frio intenso), radiação e choque elétrico. 3. AGENTES QUÍMICOS Agentes simples como a glicose e o sal em concentrações hipertônicas podem determinar lesão celular ao perturbar a homeostasia líquida e eletrolítica das células. Até mesmo o oxigênio, em altas concentrações, é altamente tóxico (pode levar à lesão pulmonar por formação de radicais livres). Quantidades mínimas de agentes conhecidos como venenos, tais como arsênico, cianeto, sais de mercúrio, podem destruir números suficientes de células em minutos ou horas, causando a morte. Também pode ser citado o álcool como agente tóxico capaz de induzir lesão celular. 4. AGENTES INFECCIOSOS Vírus, riquétsias, (rickettsias), bactérias, fungos e parasitas. 5. REAÇÕES IMUNOLÓGICASElas podem salvar vidas e podem ser letais. Embora o sistema imunológico sirva como defesa contra agentes biológicos, as reações imunes podem, na verdade, causar lesão celular. A reação anafilática a uma proteína estranha ou a uma droga, e as doenças auto- imunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, são exemplos básicos. 6. ALTERAÇÕES GENÉTICAS Ex. Anemia falciforme, em que ocorre alteração na produção da hemoglobina S; e os erros inatos do metabolismo, oriundos de anormalidades enzimáticas, em geral uma falta de uma enzima. 7. DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS São importantes causas de lesão celular! Tanto a desnutrição proteico-calórica e a falta de vitaminas podem levar à lesão celular, como também um excesso de alimentação (dieta rica em lípides predispondo à aterosclerose) pode ser nocivo às células. B - MECANISMOS A manutenção da integridade da célula depende da preservação de quatro sistemas celulares básicos: a) Manutenção da integridade das membranas celulares, da qual depende a homeostase iônica e osmótica da célula e suas organelas; b) Respiração aeróbica, envolvendo a fosforilação oxidativa mitocondrial e produção de trifosfato de adenosina (ATP); c) Síntese de proteína; d) Preservação da integridade do aparelho genético da célula. Em casos de hipóxia, os mecanismos de lesão celular envolvem: 1. Diminuição da fosforilação oxidativa ao nível de mitocôndrias; 2. Diminuição da produção de ATP com consequente: a) Aumento da glicólise anaeróbica havendo acúmulo de ácido lático e diminuição do pH ; b) Distúrbio da bomba de sódio e potássio, resultando em aumento da concentração de Na e água intra celular e saída de K para o espaço extra celular 3. Alterações na permeabilidade da membrana citoplasmática resultando em entrada de cálcio e saída de enzimas: dehidrogenase lática (LDH), creatinoquinase (CPK) e troponina. LESÃO CELULAR REVERSÍVEL: O primeiro ponto de ataque da hipóxia é a respiração aeróbica da célula, isto é, a fosforilação oxidativa pelas mitocôndrias. À medida que a tensão de oxigênio dentro da célula diminui, há diminuição da fosforilação oxidativa, prejudicando a formação de adenosina trifosfato (ATP). Essa perda de ATP - a fonte de energia - tem efeitos amplos em muitos sistemas dentro da célula, como veremos a seguir: 1. A atividade da bomba de sódio e potássio dependente de energia na membrana plasmática é reduzida. A falha desse sistema de transporte ativo, devido a uma concentração reduzida de ATP e aumento da atividade de ATPase, leva ao acúmulo de sódio no meio intracelular, com difusão de potássio para fora da célula. O acúmulo intracelular de sódio promove o afluxo isosmótico de água, acarretando tumefação celular (edema celular) e dilatação do retículo endoplasmático e tumefação de mitocôndrias. 2. O mecanismo energético celular é alterado. Quando os níveis de oxigênio são baixos, a fosforilação oxidativa cessa e as células dependem de glicose para a produção de energia (metabolismo anaeróbico). Isso resulta em uma taxa aumentada de glicólise anaeróbica, que visa manter as fontes de energia da célula gerando ATP através do metabolismo de glicose derivada do glicogênio. A glicólise resulta no acúmulo de ácido lático diminuindo o pH intracelular. Neste período inicial, na microscopia óptica, há um agrupamento da cromatina nuclear, aparentemente causada pelo pH reduzido. 3. O próximo fenômeno a ocorrer é o desprendimento dos ribossomas do retículo endoplasmático rugoso, com consequente redução da síntese de proteínas. → Até certo momento, todos esses distúrbios são reversíveis se for restaurada a oxigenação. 3. LESÃO CELULAR IRREVERSÍVEL (necrose celular): Se a isquemia persistir, a lesão torna-se irreversível. A lesão irreversível está associada morfologicamente a tumefação intensa das mitocôndrias, lesão extensa da membrana citoplasmática e tumefação dos lisossomas. Então ocorre entrada maciça de cálcio para o interior da célula. O aumento de cálcio intracelular promove o aumento da permeabilidade da membrana citoplasmática, bem como, ativa uma série de enzimas incluindo as fosfolipases (desse modo promovendo a lesão da membrana), proteases (que degradam as proteínas da membrana e do citoesqueleto), ATPases (acelerando assim a depleção de ATP), e endonucleases (que estão associadas à fragmentação da cromatina nuclear). Há perda contínua de proteínas, enzimas, coenzimas e ácidos nucléicos pela membrana citoplasmática hiper permeável. A diminuição do pH (devido a glicólise, acúmulo de lactato) leva à lesão das membranas lisossômicas, seguida por extravasamento de suas enzimas dentro do citoplasma e ocorre ativação de suas hidrolases ácidas. Os lisossomas contêm Rnases, Dnases, proteases, fosfatases, glicosidases e catepsinas. A ativação dessas enzimas acarreta digestão enzimática dos componentes celulares levando à morte celular. Após a morte celular, os componentes celulares são progressivamente degradados, e há amplo extravasamento de enzimas intracelulares para o espaço extracelular, fornecendo parâmetros clínicos importantes de morte celular, por exemplo, a liberação de LDH e CPK após infarto agudo do miocárdio. MECANISMOS DA LESÃO IRREVERSÍVEL: Disfunção mitocondrial acentuada que causa depleção intensa de ATP, e que, a partir de certo ponto, torna-se irreversível; lesão da membrana celular (devido à perda de fosfolípides, proteases intracelulares; liberação de radicais tóxicos de O2). Em resumo, a hipóxia afeta a fosforilação oxidativa e, por conseguinte, a síntese de suprimentos vitais de ATP. A lesão da membrana citoplasmática é crucial para o desenvolvimento da lesão celular letal, e o cálcio é um mediador importante das alterações bioquímicas e morfológicas que levam à morte celular. C- TIPOS 1. ADAPTATIVA. Ex. hipertrofia e atrofia. 2. REVERSÍVEL Morfologia: tumefação turva e alteração vacuolar. TUMEFAÇÃO TURVA: É a primeira manifestação de quase todas as formas de lesão celular, causada pelo deslocamento de água para dentro da célula. Macroscopicamente nota-se palidez, maior turgor e aumento de peso do órgão. À microscopia óptica, nota-se aspecto granuloso do citoplasma. ALTERAÇÃO VACUOLAR: Se continuar a ocorrer acúmulo de água dentro da célula surge vacúolos claros dentro do citoplasma, levando à alteração vacuolar, que é apenas uma forma mais acentuada de tumefação celular. 3. IRREVERSÍVEL (NECROSE CELULAR) 3.1 Conceito de morte e necrose celular As células podem ser dadas como mortas na microscopia óptica, somente após evidenciarem os sinais de necrose celular. A necrose pode ser definida como o conjunto de alterações morfológicas que se seguem a morte celular, num tecido ou órgão vivo, resultante de ação degradativa progressiva por parte de enzimas sobre uma célula letalmente agredida. 3.2 Morfologia da necrose celular A necrose é a soma das alterações morfológicas que se seguem à morte celular, num tecido ou órgão vivo. a) Em microscopia eletrônica: Observa-se tumefação de mitocôndrias e retículo endoplasmático; rotura de lisossomos. b) Em microscopia óptica comum: Observa-se acidofilia citoplasmática, picnose nuclear (retração nuclear, até transformar-se em uma massa densa, pequena e enrugada de cromatina firmemente compacta), cariorrexe (fragmentação nuclear), cariólise (lise nuclear). 3.3 Autolise, heterólise, apoptose Dois processos simultâneos propiciam as alterações de necrose: (1) digestão enzimática da célula e (2) desnaturação das proteínas. As enzimas catalíticas originam-se ou dos lisossomas das células mortas, em que a digestão enzimática é referida como autólise, ou dos lisossomas de leucócitos imigrantes, chamada de heterólise. O desenvolvimento desses processos leva horas e, portanto, não haveria alterações detectáveis nas células se, por exemplo, um infarto miocárdicocausasse morte súbita. A única evidência denunciadora poderia ser a oclusão de uma artéria coronária. A primeira evidência histológica de necrose miocárdica manifesta-se somente 4 a 12 h depois, mas a perda de enzimas e proteínas específicas do coração pode ser detectada na corrente sanguínea 2 h após a morte de células miocárdicas. Um padrão morfológico um tanto diferente de morte celular foi denominado de apoptose (derivado grego desabando). Trata-se de uma destruição programada da célula. As células apoptóticas são caracterizadas, morfologicamente, pela retração celular – a célula exibe um tamanho menor, o citoplasma é denso, e as organelas, embora relativamente normais, estão mais compactadas; e condensação da cromatina - a cromatina agrega-se na periferia, sob a membrana nuclear, em massas densas e bem delimitadas. O núcleo pode romper-se, produzindo dois ou mais fragmentos. A apoptose ocorre durante os seguintes eventos: a) A destruição programada de células durante a embriogênese. b) Involução dependente de hormônio no adulto, como a degradação das células endometriais durante o ciclo menstrual e a regressão da mama lactente após o desmame e atrofia prostática após a castração. c) Deleção celular em populações de células em proliferação, como nos epitélios das criptas intestinais. d) Morte de células em tumores. e) Lesão celular em certas doenças virais. A apoptose ao contrário da necrose não produz inflamação, dificultando sua detecção histológica. 3.4 Tipos e necrose a) Coagulativa - Quando a desnaturação é o padrão primário, a necrose coagulativa desenvolve-se. No caso de digestão enzimática predominante, o resultado é a necrose liquefativa. A necrose coagulativa implica na preservação do contorno básico da célula coagulada por um período mínimo de alguns dias. Na necrose coagulativa ocorre a preservação da arquitetura tecidual geral. Os tecidos afetados exibem uma textura firme. Supostamente, a lesão ou a acidose intracelular desnatura não apenas as proteínas estruturais como também as proteínas enzimáticas, bloqueando, assim, a proteólise da célula. Esta necrose é frequente na interrupção pela circulação arterial, que causa infarto, por ex. do miocárdio, rim, baço. A necrose coagulativa é típica da morte hipóxica das células em todos os tecidos, exceto o cérebro. b) Liquefativa - Difere da coagulativa pelo caráter mole e até liquefeito do tecido necrótico. Dá-se o amolecimento pela ação de enzimas e o tipo de tecido envolvido. É característico da destruição isquêmica do tecido cerebral. Também é encontrado comumente nas lesões bacterianas, possivelmente devido à liberação de enzimas, de origem bacteriana e de leucócitos que migram para a área de infecção. O resultado final é a transformação do tecido em uma massa viscosa líquida. Se o processo foi desencadeado por inflamação aguda, o material frequentemente é amarelo-cremoso devido à presença de leucócitos mortos, e denomina-se pus. c) Gordurosa (esteatonecrose) - É o tipo de necrose encontrado no tecido adiposo devido à ação de lipases. É encontrado na pancreatite aguda (esteatonecrose enzimática); ou no trauma (esteatonecrose traumática). Ex. mama. d) Caseosa - Consiste na combinação da necrose de coagulação com a necrose de liquefação, e é encontrada principalmente nas infecções tuberculosas. O aspecto característico deste tipo de necrose é o de um material mole, friável e branco-acinzentado, parecido com um queijo cremoso, daí o termo necrose caseosa. e) Gomosa - É o tipo mais raro de se ver. É o tipo de necrose que se encontra na sífilis terciária ou na sífilis congênita, quando então é chamada de goma sifilítica. A área necrótica apresenta-se compacta, firme, elástica como uma goma, isto é, tem um aspecto borrachoso. 3.5 Evolução: Absorção, drenagem, ulceração, cavitação ou encistamento, cicatrização e calcificação. AULA PRÁTICA L - 01 Cortes histológicos de fígado onde observa-se citoplasma dos hepatócitos com aspecto grumoso (granuloso), com aumento do volume do citoplasma (balonizado) tumefação turva. L- 1 Tumefação turva de hepatócitos L – 02 Cortes histológicos de rim observando-se aspecto claro e vacuolado das células tubulares, em algumas células o aspecto é de tumefação turva. A alteração vacuolar nada mais é do que uma tumefação turva exuberante. L – L - 02 Alteração vacuolar túbulos renais L- 04 Fragmento de pulmão notando-se área infartada que é caracterizada pela perda dos núcleos (parênquima com aspecto “fantasma”). Margeando o infarto observa-se afluxo de leucócitos neutrófilos indicando infecção secundária por desvitalização do tecido. L- 04 Necrose coagulativa: Infarto pulmonar L. 05 Secções de rim onde observa-se áreas de destruição do parênquima (necrose liquefativa). Observar o afluxo de Leucócitos neutrófilos (microabscessos). L. 05 Necrose liquefativa: microabscessos renais L.06 No fragmento de pulmão observa-se nódulo tuberculoso bem delimitado. Na porção central do nódulo existe material amorfo de tonalidade eosinófila correspondendo, a necrose caseosa. L-06 Necrose caseosa: Tuberculose pulmonar PEÇAS ANATÔMICAS 107-R Pneumonia lobar (fase de hepatização cinzenta) e abscesso pulmonar metapneumônico. À esquerda nota-se consolidação do parênquima pulmonar em toda a extensão do lobo. Notar a cor branco-amarelada caracterizando a fase de hepatização cinzenta. No pulmão à D. nota-se abscesso metapneumônico (exemplo de necrose liquefativa). Observar a consolidação do parênquima circunjacente caracterizando um processo pneumônico e o espessamento da pleura (pleurite fibrinopurulenta). 117-R Cavernas tuberculosas apicais. Tuberculose ácino-nodosa. Observar em ambos os pulmões caverna apical com superfície interna anfractuosa. A necrose caseosa (áreas esbranquiçadas) desenha a estrutura acinar ou, mais frequentemente, apresenta-se em forma de nódulos de diferentes tamanhos difusamente esparsos. 118-R Tuberculose acinosa e ácino-nodosa. A forma acinosa é nitidamente observada no pulmão à E. Em certos trechos, a distribuição da necrose caseosa lembra folhas de trevo. À D. o comprometimento é predominantemente em forma nodosa (nódulos de diferentes tamanhos difusamente esparsos). 120-R Caverna tuberculosa. Tuberculose lobar. Na porção média de um dos lados nota- se volumosa caverna de superfície interna anfractuosa. Logo abaixo notar a consolidação em toda a extensão do lobo (pneumonia tuberculosa lobar) e o intenso espessamento da pleura. 70-C Infarto agudo do miocárdio roto. Notar a área de necrose coagulativa que acomete toda a espessura do miocárdio e a hemorragia epicárdica conseqüente. 163-OH Anemia falciforme. A medula óssea da tíbia (peça superior) e da coluna vertebral (peça do meio) mostra-se de tonalidade vermelha muito intensa. Notar a extrema redução de volume (atrofia) do baço junto à cauda do pâncreas (à direita da peça inferior) decorrente de isquemiasecundária a tromboses (falcização de hemácias).
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