Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Planejamento Pedagógico e Avaliação Institucional Regina Maria da Silva Artigo científico PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Regina Maria da Silva1 RESUMO O presente artigo aborda as articulações entre planejamento pedagógico e avaliação institucional, apresentando o conceito de planejamento, suas funções e níveis de utilização no contexto educacional. A partir de pesquisas e teorias ligadas à pedagogia histórico-crítica, contextualiza o planejamento escolar na legislação educacional do período da redemocratização e seus subsídios para a prática pedagógica, explorando o planejamento no microcontexto e no macrocontexto. Há a explanação do conceito de currículo e suas intersecções com o planejamento e a avaliação, com ênfase nas discussões sobre o projeto político-pedagógico, a gestão democrática e a construção das políticas públicas de avaliação institucional para a Educação Básica e o Ensino Superior. Palavras-chave: planejamento pedagógico; projeto político-pedagógico; currículo; gestão democrática; avaliação institucional. INTRODUÇÃO O planejamento é uma atividade inerente ao ser humano e crucial para a prática pedagógica. Muito mais do que um instrumento da burocracia escolar, o planejamento é o processo de reflexão crítica do professor sobre a sua prática e intencionalidade, tendo como seu produto o plano. Para a elaboração de um plano, seja ele um plano de ensino, de disciplina, projeto didático ou projeto político-pedagógico, há algumas perguntas-chave feitas pelo professor na sua reflexão crítica e coletiva sobre o que pretende atingir, como, por que e para que, a fim de poder estruturar seus objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394/1996 apresenta as concepções de planejamento participativo, coletivo e crítico, etapa fundamental para a construção de uma avaliação consciente da prática pedagógica e da função social da escola. A avaliação se configura em etapa primordial para reflexão para novas ações e indicações de encaminhamentos, sendo a avaliação institucional um instrumento indispensável para a consolidação do princípio da gestão democrática, pilar no contexto da redemocratização. Tanto o planejamento quanto a avaliação têm caráter diagnóstico, processual e contínuo, com vistas a contribuir com o processo de ensino-aprendizagem desde a instância do currículo planejado ao currículo avaliado. Para tal, é válido o resgate do contexto da redemocratização do país, seus marcos legais e como os instrumentos de planejamento, currículo e avaliação ganharam novo significado para ressignificar a prática pedagógica e a participação social nas instituições escolares. 1. PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO, LEGISLAÇÃO E CURRÍCULO 1 Mestra em Educação: História, Política, Sociedade (PUC-SP); especialista em Magistério do Ensino Superior; licenciada em Pedagogia; bacharela e licenciada em Ciências Sociais; pós- graduanda em Didáticas de Implementação da BNCC (Anos Iniciais); docente na Educação Infantil e Ensino Fundamental I e no Ensino Superior. 1.1 Planejamento pedagógico: o que é e para que serve? De acordo com Saviani (2013), a educação é uma atividade essencialmente humana; logo, para compreender a natureza da educação é fundamental entender a natureza humana. Ao contrário dos outros animais que devem se adaptar à realidade, os seres humanos constroem e transformam as condições de sua existência. Esse processo de transformação da natureza para atender a determinadas finalidades chama-se trabalho. Para sobreviver, o homem necessita extrair da natureza, ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência. Ao fazer isso, ele inicia o processo de transformação da natureza, criando um mundo humano (o mundo da cultura. Dizer, pois, que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho (SAVIANI, 2013, p. 11) O trabalho refere-se à ação humana; essencialmente, ao ser humano com todas as suas especificidades: físicas, biológicas, psicológicas e sociais que transforma a natureza ao relacionar-se com ela e, ao mesmo tempo, é transformado e produz o que se entende por cultura. O trabalho gera produtos materiais, como as mercadorias, e não materiais, como a aula de um professor que não possui um valor de troca por ser consumida durante a sua produção. A educação é, portanto, um trabalho não material por não produzir resultados físicos e não se dissociar de seu produtor (o professor) e seu consumidor (o aluno). Tanto o trabalho material quanto o não material necessitam do planejamento, que é o ato de antecipar mentalmente a ação sobre um objeto. Uma vez entendida a educação como um processo de trabalho não material, tendo a ver com ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades, estes elementos não são interessantes em si mesmos, como algo exterior ao homem (SAVIANI, 2013, p.87). Os elementos citados, ou seja, as ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades, são importantes quando se associam à necessidade que os indivíduos possuem de assimilar, possuindo como foco algo a ser constituído como uma segunda natureza, isto porque, o que não é dado ao homem pela própria natureza, deve ser produzido de forma histórica pelos próprios homens. Os atos de pensar e de planejar são intrínsecos e específicos ao ser humano. São fundamentais para que o Homem possa realizar suas ações, seu trabalho e, dessa maneira, o planejamento se insere em praticamente todos os setores da vida humana e tem espaço privilegiado na educação. A ação de planejar envolve organizar, sistematizar, prever e decidir, e, no contexto educacional, consiste em um ato pedagógico e político. Na concepção de Vasconcellos: [...] o planejar torna-se importante para evitar a improvisação, representando um momento de reflexão e de pesquisa, em que o professor tem a possibilidade de uma atuação mais eficiente e eficaz. O planejamento é um aliado para evitar a mecanização do conhecimento, é uma forma de valorizar a criatividade e o raciocínio lógico. Envolve a conscientização por parte do professor da necessidade de mudança, pois a eficácia só é atingida quando escolhemos previamente as ações que vamos executar. (VASCONCELLOS apud FRANCO et al., 2015, p. 2) Desse modo, não se pode compreender o planejamento como uma atividade burocrática de preenchimento de documentos, mas um verdadeiro processo de reflexão, do latim reflectire, voltar atrás, repensar, retomar, analisar e examinar com atenção e cuidado. O ato de planejar envolve uma atitude crítica, articulada e rigorosa, que se volta à raiz do problema e necessita de um método científico e de uma visão da totalidade; portanto, planejar é “uma atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente (FUSARI, 1990, p. 45). O planejamento em contexto escolar é uma atividade que busca prever as ações necessárias para suprir necessidades a serem atendidas, objetivos a cumprir, procedimentos e recursos necessários em vista de um prazo determinado e considerando suas formas de avaliação. Esse planejamento vai se materializar em planos de ensino e projetos da escola, do currículo e do ensino. Esse plano ou projeto será uma sistematização das ideias e ações intencionais que vão orientar o trabalho pedagógico. No âmbito da escola, o plano de ensino vai contemplar as atividades de ensino e aprendizagem a partir de objetivos, valores, atitudes, conteúdos e modos de agir por parte dos professores e demais profissionais da educação. Assim, o planejamento não é uma ação individual, mas uma elaboração coletiva. Uma importante característica do planejamento é o seu caráter processual. O ato de planejar não se reduz ao momentoda elaboração dos planos de trabalho. É uma atividade permanente de reflexão e ação. O planejamento é um processo contínuo de conhecimento e análise da realidade escolar em suas condições concretas, de busca de alternativas para a solução de problemas e de tomada de decisões, possibilitando a revisão dos planos e projetos, a correção no rumo das ações. O caráter de processo indica, também, que um plano prévio é um roteiro para a prática, ele antecipa mentalmente a prática, prevê os passos a seguir, mas não pode determinar rigidamente os resultados, pois estes vão se delineando no desenvolvimento do trabalho, implicando permanente ação, reflexão e deliberação dos educadores sobre a prática em curso. (LIBÂNEO, 2004, p. 150) Como planejar representa algo que se pretende fazer, modificar ou manter, essa ação se relaciona a uma concepção de planejamento, a uma reflexão feita a partir do nosso olhar para uma determinada realidade, como a realidade da escola ou do sistema de ensino. Planejar é também um ato político que requer apreender as singularidades da instituição e refletir sobre as práticas pedagógicas e o compromisso social da escola pública pelos sujeitos sociais que são os protagonistas da ação realizada nas escolas e sistemas de ensino. O planejamento torna-se, dessa maneira, “instrumento teórico-metodológico para a intervenção na realidade” e “imprescindível à ação educativa e ao fazer pedagógico” (SILVA; FILHO, 2016, p. 1322). O planejamento educacional atende aos níveis: - nível do macrocontexto – nesse aspecto, o planejamento refere-se a um contexto mais amplo, das políticas educacionais para os sistemas e suas respectivas redes de ensino. Exemplo: plano curricular; - nível do microcontexto – é o planejamento realizado nas instituições escolares a partir de sua gestão e organização, respeitando suas dinâmicas, tempos e espaços. Exemplo: plano ou projeto escolar, projeto político-pedagógico; - nível do ensino – nesse caso, refere-se ao planejamento docente, envolvendo: objetivos, conteúdos, metodologias, estratégias didáticas, recursos materiais e espaciais e os critérios de avaliação. Exemplo: planos de ensino e programas das disciplinas; - nível do currículo – nesse âmbito, o planejamento curricular contempla a reflexão e as formas de organização de temas, conhecimentos e disciplinas de áreas diversas e, ainda, define um perfil de formação e os objetivos e itinerários dela. Representa o ponto de encontro do nível do macrocontexto com o microcontexto. As questões ligadas à avaliação em larga escala, formulação de políticas curriculares e avaliação institucional de escolas e universidades também fazem parte das discussões curriculares e sinalizam a relevância da atuação do Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselhos Estaduais de Educação (CEE) e Conselhos Municipais de Educação (CME). Com relação a esse planejamento também existe a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), constituindo em um documento responsável pela regulamentação dos tipos de aprendizagens fundamentais que devem ser trabalhadas nas escolas brasileiras, sendo elas as públicas e as particulares, de todos os níveis de ensino, como formar de garantir o direito à todos da aprendizagem e o desenvolvimento de forma plena de todos os estudantes. Esta abordagem implica conceber o planejamento enquanto processo de reflexão e de análise da realidade, identificação de prioridades, definição de objetivos/metas e estratégias; bem ainda do estabelecimento de formas de acompanhamento e de avaliação do próprio planejamento. Assim, quando falamos de planejamento reportamo-nos a um processo, contínuo e dinâmico, portanto, permanente. (SILVA, 2015, p. 6917) É preciso esclarecer a diferença entre planejamento e plano. Enquanto o planejamento consiste em uma atividade processual, contínua e dinâmica para intervir em uma realidade, o plano representa a materialidade, o documento de registro do planejamento. O planejamento envolve a atuação dinâmica de todos os educadores na interação com os educandos. O plano precisa ser entendido como instrumento orientador do trabalho pedagógico, é a sistematização das propostas de trabalho por área ou disciplina. Enquanto se planeja, é importante buscar a mediação entre o ideal e o real, com o objetivo de consolidar uma gestão democrática e participativa. Um planejamento participativo precisa propiciar a interação e o diálogo e ter como finalidades: [...] orientar o processo de tomada de decisão e da execução dos objetivos e metas estabelecidas pela comunidade; b) fazer a retroalimentação do sistema de informação oferecendo subsídios para o redirecionamento/replanejamento das ações; c) otimizar os diferentes usos e realocações de recursos materiais, financeiros, humanos; d) viabilizar alternativas/estratégias para o estabelecimento do fazer pedagógico-organizacional a curto, médio ou longo prazo; e) visualizar a instituição escolar em sua totalidade considerando o enfoque holístico e os fatores interdependentes e suas relações; f) viabilizar as estratégias de inovação e de mudança cultural nos espaços organizacionais. (SILVA, 2015, p. 6917-6918) Para a devida sistematização do plano de ensino, deve-se ir além de modelos e formulários padronizados para preenchimento. Cabe a cada escola definir os seus caminhos para pensar e repensar o ensino e, como guia, há alguns elementos básicos, como objetivos, conteúdos de aprendizagem, metodologia, tempos e espaços e avaliação. Para definir quais são os objetivos de ensino, é fundamental refletir sobre para que ensinar e para que aprender, o que se pretende e se espera do ensino. Em relação aos conteúdos de aprendizagem, é preciso indagar aos objetivos o que ensinar e o que aprender para atingi-los; enquanto se pensa nos tempos e espaços onde a aprendizagem pode acontecer, as perguntas devem ser quando ensinar e aprender e onde ensinar e aprender. No que tange à avaliação, o questionamento segue na direção de compreender como e o que foi ensinado e aprendido. No processo de construção do planejamento, a equipe docente precisa discutir a forma e o conteúdo que o plano vai assumir com vistas a romper com a dicotomia entre teoria e prática ou pensar e fazer. [...] faz parte da competência teórica do professor, e dos seus compromissos com a democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas aulas, o que implica ter claro, também, quem é seu aluno, o que pretende com o conteúdo, como inicia rotineiramente suas aulas, como as conduz e se existe a preocupação com uma síntese final do dia ou dos quarenta ou cinquenta minutos vivenciados durante a hora-aula. A aula, no contexto da educação escolar, é uma síntese curricular que concretiza, efetiva, constrói o processo de ensinar e aprender. (FUSARI, 1990, p. 47) Quando se fala sobre o planejamento no contexto da democratização, é preciso resgatar os marcos legais que respaldam tal concepção e como ela vem sendo constituída, com destaque para a Constituição Federal (CF) de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996. 1.2 O planejamento na democratização do ensino e a legislação: da Constituição de 1988 à Base Nacional Comum Curricular de 2017. Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, o Brasil inicia um novo período e conceito de participação política na discussão e na elaboração de políticas públicas. Foi um momento de fortalecimento e consolidação da participação política da sociedade civil. Nossa Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 1º estabelece que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e V – o pluralismo político. Este preâmbulodo texto constitucional é muito importante, pois estabelece imediatamente os fundamentos da República Federativa do Brasil caracterizada como Estado Democrático de Direito. (SILVA; FILHO, 2016, p. 1324) Os princípios da educação nacional passam a ser disciplinados pelo disposto no Capítulo III: Da Educação, da Cultura e do Desporto – Seção I, correspondendo aos artigos 205 a 214. O artigo 205 define a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família” a ser “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Entretanto, é no artigo 124 que vem a obrigatoriedade da instituição do plano nacional de educação, decenal, para promover a articulação de um sistema nacional em regime de colaboração entre entes federados, com diretrizes, objetivos, metas estratégias para manter e desenvolver o ensino em todos os níveis, etapas e modalidades. A Emenda Constitucional 59/2009 atribui ao Plano Nacional de Educação a responsabilidade quanto à: I - erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar; III – melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho; V – promoção humanística, científica e tecnológica; VI – estabelecimento de metas de aplicação dos recursos públicos proporcionalmente ao produto interno bruto (PIB). Em 1993, o Ministério da Educação (MEC) elaborou um conjunto de diretrizes que culminou na elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos a partir das resoluções da Conferência Mundial de Educação para Todos de Jomtien – Tailândia (1990), com o intuito de ampliar a oferta e melhorar a qualidade do ensino fundamental. O Plano Decenal de Educação para Todos contava com sete grandes objetivos para atender às necessidades básicas de aprendizagem de crianças, jovens e adultos entre 1993 e 2003: 1 – satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, provendo-lhes as competências fundamentais requeridas para a participação na vida econômica, social, política e cultural do país, especialmente, as necessidades do mundo do trabalho; 2 – universalizar, com equidade, as oportunidades de alcançar e manter níveis apropriados de aprendizagem e desenvolvimento; 3 – ampliar os meios e o alcance da educação básica; 4 – favorecer um ambiente adequado à aprendizagem; 5 – fortalecer os espaços institucionais de acordos, parcerias e compromisso; 6 – incrementar os recursos financeiros para manutenção e para investimentos na qualidade da educação básica, conferindo maior eficácia e equidade em sua distribuição e aplicação; 7 – estabelecer canais mais amplos e qualificados de cooperação e intercâmbio educacional e cultural de caráter bilateral, multilateral e internacional. (BORDIGNON, 2011, p. 20) Contudo, as discussões ficaram cada vez mais complexas e um outro projeto do Senado acabou sendo aprovado, tendo como relator Darcy Ribeiro, e resultou na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996. A Lei 9.394 distribui as competências e as atribuições dos sistemas de ensino de modo colaborativo e com liberdade de organização e dá à União a tarefa de elaborar o Plano Nacional de Educação em conjunto com os estados, o Distrito Federal e os municípios. A LDB também define que haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente [...]. O CNE já havia sido instituído, em substituição ao Conselho Federal da Educação [...] como órgão colaborador do Ministério da Educação e, no que tange ao PNE, lhe atribui a competência de “subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano Nacional de Educação”. (BORDIGNON, 2011, p. 19) O Plano Decenal de Educação para Todos foi aprovado pelo Banco Mundial e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em encontro realizado em Nova Délhi – Índia, em 1993, e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) realizou o I Seminário Nacional sobre Educação para Todos, em 1999, que resultou na publicação “Educação para Todos: avaliação de uma década”. Ainda nesse seminário, o pesquisador e educador Moacir Gadotti considerou que criar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) era a melhor estratégia para o cumprimento dos eixos do Plano Decenal que possibilitaram a universalização do ensino fundamental. A partir dele, também iniciaram as discussões para a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). Importante falar da importância da LDB na constituição de um planejamento participativo. O artigo 1º define a educação como conjunto de processos formativos envolvendo a vida em família, a convivência humana, o trabalho, as instituições de ensino e pesquisa, o trabalho, os movimentos sociais, as manifestações culturais e as organizações da sociedade civil. No artigo 3º, são apresentados os princípios que regem a educação e a ênfase recai sobre o planejamento e as políticas públicas (VIII – gestão democrática do ensino público). Ao tratar da gestão democrática da educação pública, considera também a democratização do planejamento, isto é, um planejamento participativo para chegar à democratização da gestão escolar. O artigo 9º do Título IV da LDB nos mostra que cabe à União a elaboração do Plano Nacional de Educação, em colaboração com o Distrito Federal, os estados e os municípios. No inciso III, do artigo 10, “cabe aos Estados elaborar e executar políticas e plano educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios” (SILVA; FILHO, 2016, p. 1325), e que as competências dos municípios versam sobre “organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados” (SILVA; FILHO, 2016, p. 1326). Quanto ao planejamento, a maior inovação da LDB é expressa no artigo 12 ao indicar como princípio “instituir para os estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica” (SILVA; FILHO, 2016, p. 1326). Essa proposta pedagógica citada na LDB é o que se chama de projeto político-pedagógico. O projeto pedagógico configura-se na legislação como um canal de participação e instrumento de viabilização da gestão democrática, requerendo a participação dos profissionais da educação em diálogo com a comunidade escolar e extraescolar. No espírito legislativo da atual LDBEN 9394 almeja-se que a proposta pedagógica e/ou projeto pedagógico constitua-se em instrumento de interação da comunidade e de intervenção na realidade escolar. Cabe destacar que o projeto político-pedagógico adquire legitimidade no seio da comunidade escolar ao ser elaborado e implementado no bojo de um planejamento participativo. (SILVA; FILHO, 2016, p. 1326) Tal projeto político ou proposta pedagógica, ou, ainda, projeto político- pedagógico, torna-se um instrumento de intervenção e transformação da e na realidade escolar, permitindo a integração e diálogo de sujeitos dos diferentes segmentos da escola, como funcionários, famílias, professores, comunidade, alunos e a equipe gestora. O Plano Decenal de Educação para todos apresentava metas somente para a Educação Básica. Assim, os educadores continuaram mobilizados para a aprovação do Plano Nacional de Educação e para contemplar as necessidades de todos os níveis e modalidades da educação. O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública já tinha formulado uma proposta, e o governo, às pressas, também encaminhou uma proposta de plano no final de 1997. O Congresso Nacional recebeu as duas propostas, sendo uma da sociedade brasileira e a outra do Executivo. A proposta da Sociedade Brasileira foi discutida no fórum e nos Ie II Congressos Nacionais de Educação (CONED), em Belo Horizonte – MG, onde os debates giraram em torno das diretrizes para o novo Plano Nacional de Educação (PNE), com visão sistêmica e específicas para cada nível e modalidade de educação e seus profissionais. Este Plano Nacional de Educação tem como ponto de partida um DIAGNÓSTICO de possibilidades e limitações, construído com base na realidade nacional e através de comparações com o que ocorre ou ocorreu em diferentes países. Como consequência desse diagnóstico, são apresentadas propostas para a ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL, particularmente para a configuração do Sistema Nacional de Educação, para a Gestão Democrática da Educação brasileira e para o Financiamento da educação. São analisados aspectos significativos dos NÍVEIS E MODALIDADES DA EDUCAÇÃO, sendo apresentadas diretrizes e metas para a Educação Básica, aí incluídas a Educação Infantil, o Ensino Fundamental, a Educação de Jovens e Adultos, com vista, sobretudo, à Erradicação do Analfabetismo, e o Ensino Médio e Educação Profissional, e para a Educação Superior. Finalmente, são analisados os problemas relativos à FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, tanto para o magistério como para as áreas técnica e administrativa, nos diversos níveis e modalidades de ensino, apresentando-se um conjunto de diretrizes e metas específicas. Tendo como horizonte a democracia e a inclusão social, as propostas aqui apresentadas buscam, em síntese, fazer cumprir a Constituição Federal e, assim, dar curso às transformações necessárias para melhorar a qualidade de vida da maioria da população, a conquista da justiça e da igualdade social. (BORDIGNON, 2011, p. 22) Já a proposta do Executivo foi elaborada pelo MEC tendo alguns interlocutores (Conselho Nacional de Educação - CNE, Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME). O MEC justificou a ausência de maior representatividade de participação de outros órgãos e segmentos alegando o prazo de um ano da aprovação da LDB que foi dado para apresentação de propostas para o PNE. O MEC produziu, após alguns debates e reuniões auxiliares feitas por estados e municípios, um documento preliminar contendo alguns problemas, diretrizes principais e sugestões de metas com dados estatísticos. A “proposta do Executivo” procurou caracterizar-se como de caráter técnico, de definição de objetivos e metas segmentados por temas, sem a visão de totalidade da educação, nem de projeto de sociedade, embora nela estivesse subjacente a dimensão política do governo que a formulava, até porque, nesse campo, a neutralidade se constitui numa impossibilidade lógica. Os pontos discutidos versavam sobre: 1. Educação infantil 2. Ensino fundamental 3. Ensino médio 4. Educação de jovens e adultos 5. Educação tecnológica e formação profissional 6. Educação Superior 7. Educação Especial 8. Educação indígena 9. Formação de professores e valorização do magistério 10. Educação a distância e tecnologias educacionais 11. Financiamento e gestão (BORDIGNON, 2011, p. 24) O CNE redigiu o documento “Subsídios oferecidos à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, relativos ao Plano Nacional de Educação”, a partir de análise do prof. dr. Carlos Roberto Jamil Cury (UFMG), em “Texto e Contexto: duas formulações de Plano Nacional de Educação” como forma de contribuir com comparação entre a Proposta da Sociedade Brasileira e a Proposta do Executivo como dois blocos de poder: a sociedade civil e o governo. Para o prof. dr. Roberto Romano (UNICAMP) e o deputado federal Ivan Valente, a compreensão foi que: As duas propostas de PNE materializam mais do que a existência de dois projetos de escola ou duas perspectivas opostas e política educacional. Elas traduzem dois projetos conflitantes de país. De um lado tínhamos o projeto democrático e popular, expresso na proposta de sociedade. De outro, enfrentávamos um plano que expressava a política do capital financeiro internacional e a ideologia das classes dominantes, devidamente refletida nas diretrizes e metas do governo. O PNE da Sociedade Brasileira reivindicava o fortalecimento da escola pública estatal e a plena democratização da gestão educacional, como eixo do esforço para universalizar a educação básica. Isso implicaria propor objetivos, metas e meios audaciosos, incluindo a ampliação do gasto público total para a manutenção e o desenvolvimento do ensino público. O custo seria mudar o dispêndio, equivalente a menos de 4% do PIB nos anos de 1990, para 10% do PIB, ao fim dos 10 anos do PNE. A proposta da sociedade retomava, visando a organizar a gestão educacional, o embate histórico pelo efetivo Sistema Nacional de Educação, contraposto e antagônico ao expediente governista do Sistema Nacional de Avaliação. O PNE do governo insistia na permanência da atual política educacional e nos seus dois pilares fundamentais: máxima centralização, particularmente na esfera federal, da formulação e da gestão política educacional, com o progressivo abandono, pelo Estado, das tarefas de manter e desenvolver o ensino, transferindo-as, sempre que possível, para a sociedade. (BORDIGNON, 2011, p. 24-25) Por fim, o relator deputado Nelson Marchezan elaborou um substitutivo tendo por base a proposta do Executivo com algumas metas da proposta da sociedade brasileira. Um grupo técnico e um grupo político foram criados e ocorreram, ainda, 20 audiências públicas até a finalização da proposta que contemplou 11 temas da proposta do Executivo com os subtemas Diagnóstico, Diretrizes, Objetivos e Metas. Ficaram 295 metas, com a fusão ou incorporação de 248 metas do Executivo e 118 da sociedade, mais algumas emendas. Houve veto da equipe econômica de nove metas ligadas ao tema do financiamento da educação. O PNE foi aprovado e publicado no ano de 2014 fazendo valer pelo prazo de dez anos, com estratégias, a indicação de que os planos seguintes fossem elaborados pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, e com mecanismos de acompanhamento definidos pela União, que também se responsabilizaria, com os demais entes, por planos plurianuais para cumprir as metas dos planos decenais. Assim, esse plano trouxe uma modificação daquele Plano Decenal de Educação para Todos elaborado em 1993. A diretriz do Plano Nacional de Educação consiste em, de acordo com o art. 2º da Lei nº13005 de 2014: - erradicação do analfabetismo; - universalização do atendimento escolar; - superação das desigualdades educacionais, dando-se ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as maneiras de discriminação; - melhoria da qualidade da educação; - formação para o trabalho e para a cidadania, dando-se ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; - valorização dos profissionais da educação; - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Por meio dessas diretrizes e através de metas, a PNE veio para gerir e garantir uma educação para todos e gerir uma melhoria na educação brasileira, devendo ser essas metas cumpridas pelo prazo de dez anos. Em meio a esse contexto de evolução, pode-se dizer que a gestão democrática, hoje, constitui em uma prática prevista na Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Plano de Educação. Constituindo como uma maneira de exercitar a democracia participativa, podendo exercer uma contribuição para a própria democratização da sociedade. No entanto, em 2017, por meio de uma alteração acontecida na Lei de Diretrizese Bases da Educação Nacional, a legislação passou a utilizar de forma concomitante duas nomenclaturas para se referir às finalidades da educação: Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento I - linguagens e suas tecnologias; II - matemática e suas tecnologias; III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV - ciências humanas e sociais aplicadas. Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: § 1o A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências e habilidades será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino (BRASIL, 2017, s.p.). Deste modo, de forma a concluir o avanço da democratização do ensino no que cabe ao processo legislativo, o último documento normativo responsável por determinar a forma de ensino e a sua importância é a Base Nacional Curricular, vigente até os dias atuais. 1.3 A intersecção entre planejamento e currículo O cenário em que ocorrem as discussões da Constituição Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, do Plano Nacional de Educação faz parte de um contexto de redemocratização do país iniciado no final dos anos 1970 e da Base Nacional Curricular de 2017, que levou ao surgimento de novas tendências pedagógicas de cunho progressista em defesa da escola pública e valorizando os conhecimentos construídos social e historicamente, e integrados aos aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos. Essas tendências pedagógicas progressistas fazem uma crítica à pedagogia conservadora e reivindicam uma educação que forme indivíduos livres, críticos, conscientes, criativos, participativos e solidários. O destaque fica para a pedagogia histórico-crítica, sistematizada por Dermeval Saviani, nos anos 1980, e que influenciou as discussões curriculares dos anos 1990 levando à criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Outras concepções de grande influência foram: crítico-social dos conteúdos (Libâneo), cognitivista (Piaget), humanista (Rogers) e sociocultural (Paulo Freire). A pedagogia crítico-social dos conteúdos foi apresentada por José Carlos Libâneo no livro “Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos” A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado. (LIBÂNEO, 2006, p. 31-32) É uma pedagogia que faz forte oposição às concepções tradicional e tecnicista. Outra abordagem de grande expressão nesse contexto é a cognitivista, que parte da epistemologia genética desenvolvida pelo biólogo suíço Jean Piaget. Nela, a educação é “um todo indissociável, considerando dois elementos fundamentais: o intelectual e o moral” (PIAGET, apud MIZUKAMI, 1986, p. 70), e tem como objetivo central que “[...] o aluno aprenda por si próprio a conquistar essas verdades, mesmo que tenha de realizar todos os tateios pressupostos por qualquer atividade real” (MIZUKAMI, 1986, p. 71). Cabe, assim, aos professores: “[...] criar as situações, propiciando condições onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao mesmo tempo moral e racional” (MIZUKAMI, 1986, p. 77), investindo em situações desafiadoras, assumindo o papel de pesquisadores, orientadores e permitindo que os alunos sejam ativos, participativos e independentes. A tendência pedagógica humanista é representada pela teoria de Carl Rogers, psicólogo norte-americano, e tem como princípio que [...] a educação tem como finalidade primeira a criação de condições que facilitem a aprendizagem do aluno, e como objetivo básico liberar a sua capacidade de autoaprendizagem de forma que seja possível o seu desenvolvimento tanto intelectual quanto emocional. (MIZUKAMI, 1986, p. 44-45) Nessa abordagem, espera-se que os alunos tenham iniciativa e responsabilidade, aprendam a resolver problemas e desenvolvam um espírito livre e criativo. Enquanto isso, a abordagem sociocultural, sistematizada por Paulo Freire, reforça os aspectos sociopolítico-culturais, a valorização da cultura popular e propõe uma educação problematizadora baseada “[...] nos homens conscientes e, na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo” (MIZUKAMI, 1986, p. 77). A escola é vista como espaço de formação e conscientização para alunos e professores, e o currículo é construído social e coletivamente. O educador deve “desmitificar e questionar, com o aluno, a cultura dominante, valorizando a linguagem e cultura deste, criando condições para que cada um analise seu contexto e crie cultura” (MIZUKAMI, 1986, p. 99). O conceito de currículo envolve o “conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, valores) transmitidos (de modo explícito ou implícito) nas práticas pedagógicas e nas situações de escolarização” (FORQUIN apud LIBÂNEO, 2004, p. 155). Ao se discutir uma proposta curricular, existe uma preocupação com as diretrizes, as orientações e as concepções, e, sem dúvida, com os objetivos. Libâneo (2004) ainda salienta que, quando o projeto pedagógico é colocado em prática, o currículo se realimenta e modifica o projeto, mostrando uma grande aproximação entre o projeto pedagógico e a proposta curricular, promovendo um entrecruzamento entre os objetivos e as estratégias de ensino e as necessidades evidenciadas pela sociedade e pelos alunos a partir de critérios políticos, culturais, filosóficos e pedagógicos, além das experiências a serem proporcionadas pelo currículo. É imprescindível que o planejamento retrate a prática pedagógica dos professores e da escola. Ao longo da história de nossa educação, tem-se visto que, se o planejamento se descola da realidade social, assume uma faceta mecanicista e burocrática que não resulta em mudanças no cotidiano escolar e no processo de ensino-aprendizagem. Quando ocorre a discussão do planejamento na esfera curricular, é necessário atenção para a função crítica e transformadora da prática pedagógica em uma concepção progressista de educação. Nessa concepção, é importante considerar as dimensões política e técnica do planejamento. Entende-se como concepção política o entendimento de que toda ação humana é política; logo, o planejamento não é uma atividade neutra ou descompromissada. Mesmo o ato de recusa a planejar é uma decisão política. O planejamento deve ser um ato consciente. A compreensão da dimensão técnica do planejamento refere-se ao saber envolvido nessa tarefa. O professor precisa de um conjunto de conhecimentos quanto a saberes e fazeres para desenvolver a prática docente. Para compreender o caminho percorrido pelo currículo desde o macrocontexto até o microcontexto, isto é, desde a elaboração feita pelo Ministério da Educação, passando pelos sistemas de ensino estaduais e municipais (Secretarias) até chegar às unidades escolares, com as discussões do projeto político-pedagógico e os planos elaborados pelos professores, pode-se refletir a partir das seguintes categorias: - Currículo prescrito – âmbito dos processos decisórios de definições políticas e administrativas,como o Ministério da Educação. Um exemplo de currículo prescrito é a Base Nacional Comum Curricular; - Currículo planejado – âmbito dos sistemas de ensino, como as Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Educação. Um exemplo de currículo planejado é o Currículo da Cidade, da rede municipal de São Paulo – SP. - Currículo organizado: produzido no interior das unidades escolar, como o projeto político-pedagógico; - Currículo em ação: produzido pelos professores no cotidiano escolar, como os planos de ensino, as atividades e tarefas escolares; - Currículo avaliado: conjunto das formas de avaliação da aprendizagem e/ou do desempenho dos alunos, correspondendo às avaliações internas, realizadas pelos professores, e às avaliações externas, elaboradas por instituições contratadas ou governamentais, como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. A Base Nacional Comum Curricular institui que todos os sistemas de ensino devem construir currículos, devendo as escolas elaborarem os seus projetos pedagógicos considerando as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes, como também suas identidades linguísticas, étnicas e culturais. A LDB estabelece que os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem se basear na base nacional comum, sendo complementada em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parcela diversificada, exigidas pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. Ainda, esse currículo deve abranger, de forma obrigatória o estudo da língua portuguesa e da matemática, como também o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, de forma especial do Brasil. Também constitui em componente obrigatório no currículo o ensino de arte, de educação física, de história, artes visuais, e, a partir do sexto ano, deve ser ofertado o ensino da língua inglesa. 2. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA 2.1 O projeto político-pedagógico no contexto da gestão democrática O planejamento é um pilar da organização do trabalho de uma escola. As instituições escolares têm objetivos a cumprir, estratégias definidas para realizar as ações e consideram toda a comunidade atendida. Toda instituição escolar tem objetivos a serem alcançados e para que isso aconteça de fato é necessário que exista um planejamento, onde as metas, estratégias e ações sejam cuidadosamente planejadas, levando-se em conta vários aspectos do contexto em que esses objetivos foram definidos como a clientela, a missão da instituição, dados relevantes de aprendizagem, a relação com as famílias, os recursos disponíveis, as diretrizes pedagógicas vindas das secretarias e as da própria escola, entre outros. Dessa forma é importante que se tenha conhecimento desses aspectos, bem como das possíveis mudanças que se desejam alcançar com o planejamento realizado pelas pessoas envolvidas no processo, para que assim obtenha-se o sucesso no que foi planejado. (AMORIM, 2015, p. 248) O projeto político-pedagógico consiste na possibilidade de planejar ações e intervenções na realidade escolar, com o envolvimento de toda a comunidade e segmentos, como alunos, professores, funcionários, gestores, famílias, todos trabalhando e se dedicando para construir uma gestão democrática e participativa. O coletivo na escola não significa, portanto, um todo homogêneo, orgânico e consensual. Logo, como articular tanta diferença em torno de um projeto comum? Por essa razão é que a defesa de uma determinada forma de planejamento se justifica. Somente o planejamento educacional feito de forma participativa permite experimentar o desafio de lidar com a diferença e produzir, a partir dela, a identidade em torno de um projeto de formação. (SOUZA et al., 2005, p. 18) É um dos grandes desafios de uma escola construir esse trabalho coletivo e até mesmo conscientizar os segmentos da importância de sua participação, visando efetivar uma gestão democrática. Oliveira (2005 apud AMORIM, 2015) aponta três atos que fazem parte da construção do projeto político-pedagógico em uma gestão democrática: 1 – o ato situacional – compreende o momento de diagnosticar a realidade escolar, bem como seus conflitos e contradições; 2 – o ato conceitual – consiste na discussão e na definição das concepções de educação, sociedade, educação, escola, currículo e relação ensino-aprendizagem; 3 – o ato operacional – as ações e as tarefas realizadas para mudar a realidade da escola a partir dos objetivos e metas elencados. A gestão democrática é um grande desafio porque no dia a dia das escolas sempre há novas situações com alunos, funcionários e professores, cada qual com suas especificidades e demandas, desenvolvendo novas dinâmicas e relações. É importante que a escola constitua instâncias e instrumentos capazes de organizar os trabalhos coletivos de seus segmentos, como Conselho de Escola ou Conselho Escolar (pais, funcionários, professores, gestores, alunos e comunidade), Grêmio Estudantil, Associação de Pais e Mestres etc., e a gestão deve procurar informar e envolver os segmentos para que integrem outros conselhos do sistema educacional, como Conselho e/ou Fórum Municipal de Educação, Conselho de Acompanhamento e Controle do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), entre outras. Essa participação é crucial para a construção e a gestão do projeto político-pedagógico para estimular o envolvimento e a participação de todos os segmentos na resolução de problemas e conflitos do cotidiano escolar. Essa gestão democrática se legitimará quando os fundamentos do paradigma patrimonialista do Estado Brasileiro forem destruídos, estejam eles situados nos governantes, nas burocracias ou nas corporações, para que possam ser colocados no lugar novos fundamentos que sejam configurados na pertença da escola aos cidadãos, onde autonomia e poder possam lhes ser conferidos para poderem exercer a verdadeira participação e assim consolidar a gestão democrática na escola. A educação a ser empregada neste sentido é algo muito especial, porque requer envolvimento de várias partes. É como se fosse uma rede, onde o marco inicial seria a conscientização, para tanto, necessitamos formar o ser socialmente mais justo, e por meio do conhecimento torná-lo competente para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. (AMORIM, 2015, p. 2483) É vital que na escola pública, principalmente, haja a compreensão do processo de ensino-aprendizagem como desenvolvimento individual, social e moral com um currículo em conformidade com o contexto sociocultural dos alunos e mediado por metodologias que garantam boas condições e ambientes para realização das atividades pedagógicas elaboradas coletivamente, e que professores e alunos participem efetivamente dessa construção coletiva que é a própria sociedade. Oliveira (2016) destaca a reflexão da coordenadora pedagógica Mariana sobre o seu papel na articulação do planejamento dos professores com o projeto político- pedagógico da instituição: As intervenções que a gente tem que realizar, seja a curto prazo ou a longo prazo, é um planejamento mesmo. O que nós temos que fazer, buscando sempre um objetivo e uma meta para ser alcançada. Eu vou planejar isso para quê? Por que eu estou sendo obrigada? O que eu quero fazer com isso? Igual, eu vou planejar uma reunião de pais, igual essa reunião que eu fiz, meu objetivo era mostrar para os pais que os filhos deles estavam sem limites, sem regras, orientar quanto à disciplina, organização de material, então o meu planejamento da reunião, foi com base em cumprir esses objetivos. Então para fazer um planejamento a gente tem que ter em mente o que quer alcançar. Se eu forfazer uma reunião de módulo, o que eu quero alcançar com os professores? Fazer um planejamento de intervenções com os professores da escola. Quais professores, por que esses professores? O que eu vou trabalhar com esses professores? Quanto tempo eu vou fazer isso? (p. 100). O projeto pedagógico ou projeto político-pedagógico é uma demanda presente na Constituição (1988) e na LDB (1996) para contemplar as visões e as concepções de todos os segmentos da equipe escolar, configurando-se em um plano que represente a realidade e os anseios da coletividade. Nos anos 1980, a necessidade de transformar a escola pública para atender aos segmentos populacionais que estavam fora dela e que, com a democratização da educação, continuavam excluídos por uma instituição que não os enxergava, fez com que o projeto pedagógico fosse visto como um instrumento capaz de adaptar sua identidade escolar ao seu novo compromisso. Com base no que está previsto na Constituição, a LDB também diz que a educação deve buscar o desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania, além de qualificá-la para o trabalho. A LDB prevê, ainda, que não basta educar desenvolvendo competências e habilidades nos (as) alunos (as), mas que é preciso educar com valores, a fim de preparar todos e todas para viver em uma sociedade verdadeiramente democrática. (GRACIANO, 2008, p. 21 apud AMORIM, 2015, p. 248) No período militar, as escolas não tinham autonomia para definir os conteúdos e assumiam uma postura de passividade em relação às questões educacionais mais abrangentes. A nova Constituição permitiu que a realidade local pudesse fazer parte do currículo conectada às questões globais, modificando a função social da escola. A realidade da comunidade escolar passa a ser um ponto relevante, bem como todos os sujeitos, e a construção do projeto político-pedagógico contempla os seguintes elementos: a proposta curricular, a formação de professores e a gestão administrativa. A discussão sobre a proposta curricular leva à reflexão sobre objetivos de ensino e aprendizagem, estratégias, recursos didáticos, organização de tempos e espaços, e concepções de educação; os professores têm necessidade de aprimorar seus conhecimentos, problematizar suas dificuldades e trocar experiências, aprender de forma contínua – formação de professores; pensar na identidade da escola e da comunidade, onde se quer chegar e quais caminhos devem ser percorridos para tal – gestão administrativa. Outro momento fundamental é a avaliação escolar, que se configura como um instrumento norteador das ações de superação das dificuldades. [...] a avaliação deve ser vista como uma prática de intervenção, que pode começar a ser realizada por meio de uma gestão que possibilite a participação dos sujeitos atores, ou seja, todos os segmentos que fazem a escola, a começar pela inserção de pais, alunos e funcionários no Conselho de classe, aplicação de avaliações internas realizadas semestralmente, bem como inserir a avaliação institucional no Projeto Político-Pedagógico. (AMORIM, 2015, p. 248) A elaboração e a condução do projeto político-pedagógico devem ser feitas coletivamente, por todos os segmentos, mas é atribuição principal da direção da escola propiciar a oportunidade e as condições para que isso ocorra. No entanto, não existe uma receita de como fazer isso; há muitas maneiras de vivenciar esse processo. Pode ser a partir do Conselho de Escola, instância representativa dos vários segmentos, mas cada instituição pode encontrar uma maneira de construir o PPP, porém é importante que metas, estratégias, responsáveis e prazos estejam devidamente documentados e que sejam, de fato, os condutores das ações pedagógicas e administrativas da escola no seu cotidiano. [...] é inegável a importância do projeto pedagógico, particularmente quando se assume o seu significado como projeto político-pedagógico (PPP), o que ocorre quando o seu processo de elaboração e implementação se pauta pelo princípio democrático da participação e, portanto, como um dos elementos do exercício da gestão escolar democrática. Desta perspectiva, o PPP é, também um instrumento fundamental para a efetiva construção e instalação da democracia social entre nós. Isto significa dizer que a democracia não se limita à sua dimensão política, pois envolve a articulação direta desta com as práticas de participação social. Ou seja, é necessário que a maioria das instituições sociais, incluindo os serviços públicos e a escola, seja democraticamente governada. (AMORIM, 2015, p. 248) Tanto o planejamento quanto a avaliação do PPP no contexto da gestão democrática devem ocorrer de forma contínua, já que o cotidiano escolar é dinâmico, novas questões e conflitos surgem diariamente e é imprescindível que esse documento não seja feito de modo burocrático para atender a determinações legais e fique guardado no fundo de uma gaveta. Ele precisa ganhar vida, ser vivenciado por todos no dia a dia e ser garantida a participação coletiva no momento de planejar e de avaliar. O sentimento de pertença da escola a todos os cidadãos a quem ela diz respeito requer a identificação ao seu projeto educacional. Se a participação requer compromisso com o projeto educacional coletivo, o compromisso advém dessa identificação, desse sentimento de pertença. As pessoas somente se comprometem com aquilo em que acreditam, com aquilo que lhes diz respeito, que faz sentido para suas vidas. Se é assim, então passam a querer exercer seu poder, participar das decisões, porque adquiriram a consciência de que estas afetam suas vidas. Só há efetiva participação e compromisso quando se estabelece a cultura do querer fazer, no lugar do dever fazer, para exercer o poder sobre o que nos pertence, o que diz respeito às nossas vidas, ao nosso futuro, que está vinculado ao futuro do coletivo social. (BRASIL, 2004, p. 5) Para que o PPP seja, de fato, um produto da coletividade, da comunidade escolar, é importante um olhar e uma escuta atentos ao que a escola e seus atores necessitam; quais são as questões que os mobilizam, instigam; quais são os obstáculos para a participação, para a aprendizagem, para que as relações sejam harmoniosas e saudáveis. Muitas vezes, podem aparecer temas que são problemas sociais, como violência, gravidez precoce, miséria, racismo, entre outros, e que os professores não enxergam como barreiras para a aprendizagem ou para o bom convívio de todos. Entretanto, são questões que estão sendo vivenciadas pelos alunos e suas famílias e que, ao fazerem parte da pauta dos Conselhos, por exemplo, consigam mobilizar e envolver mais pessoas e, articuladas aos saberes escolares, proporcionar que os alunos e as famílias se sintam pertencentes àquele espaço e saibam que suas vozes e presenças são valorizadas. O projeto político-pedagógico deve nascer do chão da escola, da necessidade dos sujeitos que fazem parte do processo educativo; não deve haver qualquer tipo de convencimento ou mobilização para que trabalhem mais, antes se deve proporcionar aos mesmos as condições necessárias para refletir o fazer pedagógico de forma consciente e coerente. (VEIGA; RESENDE, 1998 apud SANCHES, 2007, p. 65) Nessa perspectiva, o PPP vai se efetivar como projeto coletivo que representa os anseios da comunidade, pautado na organização do trabalho pedagógico, comprometido com a formação de cidadãos e com a superação das dificuldades da escola, valorizando a autonomia, a cooperação e a participação. 2.2 A avaliação institucional Avaliação institucional é um instrumento primordial para contribuir com as escolas e instituições de todos os níveis de ensino, na compreensão de sua realidade e repensar ações e práticas. Consiste em processo coletivo de mobilização de toda a escola para avaliar os aspectos pautados pelas avaliações e pelo coletivo pensando em sua superação. Na avaliação institucional,cabe à gestão zelar para que os alunos sejam categorizados, discriminados e excluídos do processo avaliativo utilizado pela escola. Em geral, a avaliação acontece diariamente, feita pelos professores, de modo externo, com as provas em larga escala aplicadas com a elaboração e a correção feitas pelas Secretarias Municipais ou Estaduais ou o Ministério da Educação, ou, ainda, a avaliação institucional, que “[...] deve ser utilizada como referência para a busca de melhorias educacionais e/ou de manutenção de experiências exitosas, como prevê o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Instituição.” (SOUSA, 2007, p. 12). Se a avaliação permite verificar diretamente o nível de aprendizagem dos alunos, ela permite, também e indiretamente, determinar a qualidade do processo de implementação e articulação com o projeto político pedagógico, pois, na avaliação, estão contidos os fatores éticos, políticos, econômicos com os quais se relaciona internamente e em relação aos quais ela se define e pode nele ser compreendida. (SANCHES; RAPHAEL, 2006, p. 110) Um sistema de avaliação mais coerente com uma perspectiva democrática de instituição escolar implica uma prática avaliativa das aprendizagens que se paute pela lógica da inclusão, construção da autonomia, mediação. A avaliação diária feita pelos professores está assegurada na LDB desde a Educação Infantil, devendo ser contínua e processual, com acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem caráter classificatório ou de promoção. A avaliação externa acontece a partir do Ensino Fundamental (embora haja discussões para implementação também na Educação Infantil) e tem o intuito de elaborar indicadores gerais para verificar o desempenho das escolas, onde há necessidade de repensar estratégias ou conteúdos e as instituições podem analisar como estão no panorama geral. Figura como exemplo a Prova Brasil, que avalia os estudantes no final dos ciclos de aprendizagem. A Avaliação Institucional é aquela que tem como foco avaliar o trabalho da escola. Essa avaliação precisa permear todos os recantos da instituição, pois o objetivo deve ser o de avaliar o todo e se aprofundar nas particularidades (dificuldades e possibilidades). Para isso, se faz imprescindível a reflexão coletiva, de tal modo que novas ações sejam traçadas em função da realidade e necessidades de todos os segmentos envolvidos (comunidade escolar, professores, gestores e alunos) de forma a promover continuamente as aprendizagens dos estudantes que ali atuam. A Avaliação Institucional precisa ser um processo permanente, tendo como função orientar, inventariar, tranquilizar, apoiar, harmonizar, reforçar e corrigir os aspectos que foram avaliados. (SOUSA, 2015, p. 13) Desse modo, os professores podem fazer uso da avaliação institucional para auxiliar na sua reflexão sobre o ensino e a aprendizagem, pois, assim, conseguem ter clareza do todo, não somente do que acontece na sala de aula. As instituições de ensino devem elaborar os projetos com metas e estratégias, em geral, para médio e longo prazos pela responsabilidade com a formação profissional. Para realização da avaliação institucional considera-se que todos, sendo eles participantes e avaliadores, possuam o mesmo juízo sobre o funcionamento da instituição, o conceito de qualidade sobre o que se pretende alcançar. Isso se alcança através de liderança eficiente que oportuniza o diálogo, favorecendo a participação e o compromisso dos atores do processo. A avaliação institucional é uma grande aliada no processo de elaboração e reelaboração do PPP por se diferir radicalmente da avaliação da aprendizagem. Enquanto a avaliação da aprendizagem permite aferir sobre a aprendizagem e sobre o ensino, além do trabalho docente, a avaliação institucional contribui com a análise dos resultados da avaliação da aprendizagem. A avaliação institucional cumpre seu papel se não for utilizada em momentos estanques e pontuais, mas se também estiver presente no cotidiano da escola ou da instituição de nível superior com o envolvimento e participação de todos os segmentos. Há muitas formas de realizar avaliação institucional, cabendo à escola encontrar as alternativas que melhor atendam às suas necessidades. Deve- se levar em conta especialmente cinco condições que se desdobram em etapas do processo autoavaliativo da escola: a) os participantes, b) a interação entre eles, c) como coletar informações, d) a análise das informações colhidas, e) a retomada das ações a partir da análise. Essas condições/etapas precisam estar em sintonia com o espaço estabelecido para a avaliação, o qual pode ser diluído nos diferentes momentos de trabalhos coletivos da escola – coordenações coletivas, reuniões de equipes, nas quais se incluem a de orientação educacional e apoio à aprendizagem, reuniões de pais, reuniões dos demais funcionários da escola – desde que se tenha em mente que a avaliação institucional não se limita a um único dia e horário estabelecidos no ano ou no semestre. Pode-se, no entanto, constituir momentos específicos de socialização das informações coletadas, o que favorece a reflexão coletiva acerca dos aspectos suscitados pela avaliação e, consequentemente, a definição de novas ações. É importante que sejam garantidas as manifestações de todos os segmentos que compõem a comunidade escolar: professores, equipe gestora e demais funcionários da escola, alunos e pais. (PEREIRA apud SOUSA, 2015, p. 15) Mesmo na Educação Infantil, as crianças podem contribuir significativamente com a avaliação institucional. É fundamental que a escola organize situações em que a linguagem e a estratégia sejam adequadas do ponto de vista pedagógico para que as crianças compreendam a importância de sua opinião e consigam olhar de maneira crítica para os aspectos em análise. Sanches (2007) alerta para que a avaliação institucional seja instrumento de qualificação da qualidade das instituições de ensino superior estando associada ao projeto pedagógico e de acordo com a sua realidade. Os cursos de pós-graduação são avaliados desde 1977 pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) com relatórios anuais, o processo de credenciamento e recredenciamento de cursos, visitas in loco e avaliação pelos pares. As pesquisas são responsabilidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outras instituições estaduais ou regionais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). O que se precisa num cenário mais amplo, porém, é orientar a Instituição de Educação Superior no sentido do autoconhecimento, para que ela busque a melhoria de suas ações e o aprimoramento em seus projetos. Também fortalecer seu compromisso social enquanto instância que é palco de ensino, pesquisa e extensão é outra necessidade a ser contemplada. Considerando- se que a qualidade é um juízo valorativo que se constrói socialmente, é, assim, inevitável considerar a relação da qualidade com os processos de Avaliação Institucional. (SANCHES, 2007, p. 12) Esse processo de avaliação institucional deve ser contínuo, considerando que a realidade se modifica a todo instante e novos desafios e dificuldades exigem que as instituições de ensino sejam dinâmicas e seus atores sociais estejam preparados para essa reconstrução permanente. Para os profissionais técnicos e os docentes, há a possibilidade de formação contínua para o aprimoramento profissional; para os alunos, também há um desenvolvimento pessoal e social. As Instituições de Educação Superior (IES), na busca por atender às demandas de produção de socialização dos conhecimentos exigidos pelo contexto atual, são conduzidas a redimensionarem seu papel social, enfrentando o deságio de, ao mesmo tempo, em que são atores sociais, compreenderem e desvendarem os meandrosde suas relações e, ainda, constituírem-se em instituições que possam criar e exercer uma pedagogia que possibilite à educação assumir cada vez mais sua dimensão de cidadania, ampliando os espaços de participação social, produtiva e política dos educandos. (SANCHES e RAPHAEL apud SANCHES, 2007, p. 17) O conhecimento é a principal ferramenta de desenvolvimento econômico na atualidade e a educação é a área de excelência para pensar, propor e desenvolver alternativas para os principais problemas e questões do país. Contudo, é fundamental que haja mais investimentos e o reconhecimento do papel da educação nesse processo de transformação social. 2.3 A avaliação institucional no contexto da gestão democrática A adoção de práticas de gestão democrática nos estabelecimentos de ensino carrega um componente pedagógico e pode ser compreendida como um processo de formação em valores e educação para a cidadania, na medida em que estimula a ampla participação da comunidade escolar em processos decisórios coletivos. A qualidade da avaliação institucional depende muito da confiabilidade em seu processo e da credibilidade que ela inspira nas pessoas. Em seu contexto, é necessário que haja o engajamento e o compromisso dos atores envolvidos, seja em uma escola, seja em uma faculdade ou universidade. Apesar do empenho constante para qualificar e democratizar o processo de avaliação institucional, o que se observa na educação superior é uma compreensão parcial e equivocada de restrição ao ensino e à aprendizagem ou, ainda, às condições físicas e estruturais da instituição. É fundamental entender também que AVALIAR, nesse caso, não tem relação com medir, mas tem o sentido de julgar, aferir, analisar. A avaliação institucional pode ser vista como uma oportunidade para redimensionar o processo de democratização da educação, ganhar maior autonomia e prestar contas à comunidade. É uma forma de conquistar maior credibilidade e reconhecimento ao incentivar a participação de todos e demonstrar abertura de suas ações. A Avaliação Institucional é, por sua essência, um processo global no qual se revisa o que foi planejado e se constrói, continuamente, a IES, mediante processo de autoconhecimento. Nessa análise contínua, deve-se considerar principalmente a missão da instituição e o contexto em que está inserida, bem como sua trajetória histórica. Não é um processo que, isolado, resolva todos os problemas da instituição, mas que contribui para a sinalização dos mesmos e a efetiva reflexão sobre as alternativas mais eficazes. (SANCHES; RAPHAEL apud SANCHES, 2007, p. 19) O que uma gestão democrática almeja é conseguir o engajamento de professores, funcionários, alunos e comunidade em geral na defesa da qualidade da educação, além de ser um princípio constitucional presente no Título VIII, Capítulo III, Seção I. Esse princípio só adquire sentido quando todos os segmentos da escola têm consciência do significado político de autonomia. Essa autonomia é pedagógica, administrativa e financeira. Na perspectiva de uma avaliação formativa, pode-se conquistar a emancipação, a participação e a colaboração com o engajamento dos sujeitos na definição dos propósitos e critérios a serem avaliados. O caráter que deve se evidenciar é o diagnóstico para identificar problemas e suas possíveis soluções. Assim, se constrói a noção de que a avaliação é um processo de via dupla, que permite o autoconhecimento e a análise das relações e ações presentes na instituição. Assim, avaliar a gestão e a administração, o trabalho da equipe docente, o corpo discente, as condições materiais, os aspectos físicos e outros, em conjunto, significa proporcionar um novo olhar para o processo de Avaliação Institucional. Os resultados fragmentados não contam uma história; quando organizados sob a égide da Avaliação Institucional, porém assumem uma nova dimensão. [...] O que se verifica, portanto é que os processos de Avaliação Institucional ganharam força, impulsionados por duas correntes: de um lado as Universidades e seus estudiosos tentando se manter como instituições contemporâneas, na vanguarda de seu tempo, como polos geradores de pesquisa e conhecimento, garantindo, ainda, os necessários financiamentos para sua manutenção. Já do outro lado o Estado, precisando orientar suas políticas de financiamento e responder às pressões da sociedade no tocante à ampliação de acesso e à manutenção da qualidade. (SANCHES, 2007, p. 21) As dificuldades para implementar as políticas de avaliação institucional encontravam dificuldades devido aos medos que surgiam em relação às suas metodologias; todavia, têm feito parte do cotidiano de muitas instituições e vêm proporcionando que as instituições de ensino consigam implementar políticas de melhorias com os ajustes aos padrões sociais e governamentais. Tais ajustes garantem a qualidade das ações, a prestação de contas, o diagnóstico, o planejamento e a execução das dimensões de ensino, gestão, pesquisa e extensão, além de elencar as diretrizes do projeto pedagógico, de sua avaliação e a reflexão acerca das correções necessárias. A avaliação institucional deve ter em consideração todos os aspectos da vida da escola, no que diz respeito às estruturas, aos órgãos de administração e gestão, aos meios e recursos, às finalidades educativas, aos currículos, às formas de participação de todos os actores educativos e suas práticas, aos constrangimentos, às políticas, às expectativas e necessidades, aos valores e representações, às dimensões materiais e simbólicas, às relações interpessoais e às interacções com o Estado, com a sociedade e com o meio local, aos sucessos e insucessos, aos percursos realizados e aos projectos de futuro (ESTEBAN, 2008, p. 44). A avaliação institucional adquire papel fundamental ao se configurar um instrumento pedagógico e gerencial, possibilitando evidenciar as necessidades da instituição no que diz respeito à sua missão sem burocratizar o processo. O grande compromisso de uma instituição de educação é com a formação de indivíduos e, quando a avaliação alcança esse nível mais filosófico e político, é possível revelar os meandros, as nuances e os interesses, e colocá-los em primeiro plano. Assim, a avaliação institucional pode assumir seu caráter de instrumento diagnóstico e transformador visando novos rumos e possibilidades. De acordo com Bordignon (1995 apud SANCHES, 2007, p. 23), são pressupostos da avaliação institucional: - ser considerada um processo crítico e dialógico, que se dá por meio da negociação entre atores, respeitando a “pluralidade de vozes”; - buscar atribuir valores a meios e processos (não às pessoas), “superando a atual prática autoritária”; - alcançar, por meio dos objetivos institucionais, a qualidade do ensino e a educação cidadã; - ser referencial de qualidade na crítica da realidade; - cumprir a função diagnóstica na identificação das dificuldades; - promover mudanças na realidade; - promover a cultura do sucesso institucional. Com a avaliação institucional, o projeto institucional se destaca, adquire relevância e, se integrado, pode contribuir para concretizar investimentos na melhoria da qualidade do ensino e dos serviços oferecidos fazendo parte do projeto pedagógico. O projeto pedagógico ou institucional se configura no horizonte a servir como referência de aonde a instituições pretende chegar, não somente com julgamentos, mas com a tomada de decisões a partir do diagnóstico realizado. Essas mudanças serão parte do processo de autoconhecimento institucional, com atribuição de valores e sentidos para a emancipação individual, social e da escola como um conjunto. É uma postura que rompe com processos tradicionais de gerenciamento e instala uma estratégia coletiva, participativa e estratégica de acompanhamento e controle dos processos administrativos e pedagógicos. Mostra uma visão que supera a ideia detrabalhar PARA a comunidade, para trabalhar COM a comunidade. Deste modo, pode-se elencar como função dialógica da avaliação institucional a de servir a um projeto pedagógico comprometido tanto com as variáveis do meio sociocultural no qual o educando se insere quanto com aquelas que determinam o modo de ser desse mesmo educando. Correspondendo ao elemento central da avaliação institucional a relação entre Projeto Político Pedagógico e Sistemas de Avaliação. Quando a instituição desenvolve essa prática de avaliação contínua, pode identificar possíveis lacunas e propor correções, mas também validar e intensificar iniciativas positivas em processos que demonstram potencialidades. É um procedimento gerencial e, ao mesmo tempo, pedagógico, porque a avaliação institucional está abandonando o caráter burocrático e sem significado para adquirir o status de oportunidade para uma análise e uma reflexão processual e minuciosa com o intuito de preservar seus princípios éticos e valores. 3. A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL EM AÇÃO 3.1 Avaliação institucional na Educação Básica A partir da promulgação da LDB (1996), a Educação Básica passa a contar com dispositivos orientadores para a institucionalização do projeto político-pedagógico em todos os seus níveis e sistemas. A partir de então, deu-se início à construção de um sistema generalizado de avaliação para um diagnóstico que subsidiasse as políticas públicas educacionais para a melhoria da qualidade do ensino. Para tal, vários testes em larga escala foram desenvolvidos para verificar os índices de aprendizagem dos estudantes e os resultados dos sistemas de ensino. Entretanto, apesar da importância dessas avaliações externas em larga escala, existem algumas limitações no subsídio da elaboração e no controle social das políticas educacionais, pois indicam determinados resultados da aprendizagem, mas não alcançam fatores ligados ao próprio ensino, às relações, à infraestrutura e aos processos da dinâmica escolar. Existe, também, o fator da divulgação dos resultados que podem gerar uma imagem negativa de um sistema educacional, uma rede ou uma escola, em particular, levando à busca por culpados, em geral, os professores. Nos últimos anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) buscou alternativas para evitar distorções na compreensão dos resultados, minimizar a ideia de “ranqueamento”, mas muitas vezes a própria equipe escolar tem dificuldade em compreender o que os indicadores significam. [...] as razões do baixo uso de tais indicadores pela maioria das pessoas envolvidas com a prática educacional deve ser buscadas principalmente no domínio da motivação. É provável que esses indicadores não interessem às comunidades escolares porque respondem a perguntas que não foram formuladas por essas mesmas comunidades. Pesquisadores e tecnocratas não observam e não interrogam a realidade escolar da mesma perspectiva que as pessoas que a vivem no cotidiano. (RIBEIRO; RIBEIRO; GUSMÃO, 2005 apud ALMEIDA; TARTUCE, 2017, p. 36) Com esse raciocínio, nos anos 2000, a avaliação institucional passa a ser incentivada como prática que possa trazer respostas além do desempenho individual dos alunos para refletir sobre a realidade escolar e como intervir nela. Essa prática faz sentido, inclusive, porque as condições sociais, culturais e econômicas são muito singulares na realidade de cada escola. Uma iniciativa interessante foi o conjunto de indicadores desenvolvido pela Ação Educativa, organização não governamental situada no centro de São Paulo – SP, com uma metodologia participativa de autoavaliação, com todos os atores da unidade escolar, que fosse complementar às avaliações externas em larga escala para: Construção e disseminação de um conjunto de indicadores educacionais qualitativos de fácil compreensão e que propicie o envolvimento dos diversos setores da comunidade escolar em torno de um processo de avaliação participativo, visando a instigar sua ação pela melhoria da qualidade da escola. [...] Formulamos um sistema de mensuração da qualidade que coloca nos próprios sujeitos a prerrogativa de atribuir valores às diferentes dimensões da realidade escolar. (RIBEIRO; RIBEIRO; GUSMÃO apud ALMEIDA; TARTUCE, 2017, p. 36) Dessa maneira, há uma possibilidade de mobilizar a comunidade escolar destacando o seu papel e compromisso para diagnosticar os aspectos em que há sucesso, onde há problemas e planejar intervenções com a participação e responsabilidade de todos. As decisões serão tomadas coletivamente dentro das potencialidades de cada segmento contribuindo com o aumento da consciência sobre os problemas e a responsabilização coletiva. Tanto o PPP quanto a avaliação institucional já mencionavam um ou outro, mas ambos passaram a ser pensados junto com a prática da avaliação institucional. É primordial perceber a articulação do projeto político-pedagógico com a avaliação institucional e a ausência de um deles ou sua dissociação pode resultar em prejuízos para a escola. Há quase um consenso de que a avaliação institucional possibilita o acompanhamento do PPP da escola ao passo que este é construído e reconstruído coletivamente. A LDB trata da elaboração da proposta pedagógica pelas escolas para melhorar a qualidade do ensino e aumenta as possibilidades de ampliar a autonomia, estimulando a gestão democrática. Essa cultura escolar do trabalho solitário do professor dificulta a constituição de uma cultura colaborativa e participativa nas unidades escolares, por isso é necessário o debate dos princípios da gestão democrática. É salutar que as escolas sejam espaços de troca de ideias, de discussões e de mobilização coletiva. Um professor que trabalha isolado não consegue refletir sobre sua prática, conhecer seus colegas e alunos e, assim, pensar em soluções possíveis para os problemas do cotidiano. Pode se tornar um profissional inseguro e pouco autônomo. É um contexto educacional que figura como obstáculo para promover a participação de toda a comunidade escolar em torno do projeto político-pedagógico. Outra questão significativa a problematizar é a crítica que muitos acadêmicos e gestores públicos e/ou educacionais fazem sobre as avaliações externas de larga escala por responsabilizarem as escolas pelos resultados muitas vezes insatisfatórios desses testes. Criticam a cultura da culpabilização, de prestação de contas e competição que surge entre as escolas e que, muitas vezes, ainda sofrem punições e sanções ao não atingir metas preestabelecidas, sendo que existem outras razões para o fracasso escolar que mostram que a instituição tem problemas além do fracasso escolar e que não recebem o auxílio necessário e são cobradas a resolvê-los. As opiniões ficam divididas entre a função reguladora e emancipatória desses testes padronizados. Segundo Ball (1989 apud ALMEIDA; TARTUCE, 2017), analisando os processos micropolíticos dentro da escola, as políticas educacionais são reconfiguradas de acordo com a gestão, o corpo docente, o alunado e a própria infraestrutura, isto é, as relações sociais são particulares a cada uma delas e indicam que os valores, os saberes e as práticas são diferentes; logo, nem tudo acontece de maneira uniforme; algumas conseguem se transformar e outras não. O que se mostra primordial, nessa situação, é que se trata de “garantir a construção e a aprendizagem da participação da comunidade escolar e, igualmente, a aceitação dos processos avaliativos como condição para a melhoria do ensino (ALMEIDA; TARTUCE, 2017, p. 42). A avaliação do trabalho da escola ou sua Avaliação Institucional é interna e permanente. Ela deve ocorrer com envolvimento de todos os segmentos: mães/pais, estudantes, gestores, professores e demais profissionais da educação. Existem diversos momentos propícios para a Avaliação Institucional que devem ocorrer durante todo o ano letivo, como
Compartilhar