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Herpes Zoster 1) Objetivos - Conceituar meningite, diferenciando-a de encefalite e meningoencefalite - Apresentar a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento do herpes zoster 2) Pesquisa a) O.1. • Meningite: - Definição: Doença que resulta de um processo inflamatório das meninges, que são as membranas que recobrem o encéfalo e a medula espinhal. As etiologias são diversas, podendo ser causada por bactérias, vírus, fungos e, mais raramente, parasitas (protozoários e helmintos), sendo que, algumas etiologias podem cursar com quadros graves, com alta letalidade, mesmo com o tratamento adequado, ou ainda apresentar evolução para quadros hemorrágicos, que se confundem com infecções como febre maculosa e dengue. A doença meningocócica (DM), causada pela bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) e os vírus são os principais responsáveis por surtos e epidemias. A meningite meningocócica possui alta morbidade e letalidade. Entretanto a meningite viral é mais frequente que a bacteriana, sendo caracterizada geralmente por quadros benignos e autolimitados. Meningite asséptica é o termo que se refere à síndrome clínica de infecção meníngea onde não há crescimento bacteriano no líquor (infecções virais e não virais, fármacos, câncer, doenças reumatológicas e metástases tumorais). - Epidemiologia: A meningite bacteriana é um problema de saúde pública mundial, com incidência anual de 4-6 casos/100 mil adultos, sendo N. meningitidis e S. pneumoniae responsáveis por 80% dos casos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a taxa de incidência é 1,4 caso/100 mil habitante/ano, e letalidade de 22,2%. O meningococo é o principal responsável por epidemias no Brasil e possui vários sorogrupos, sendo o sorogrupo C o mais prevalente. A meningite meningocócica pode ocorrer de forma isolada ou associada à meningococcemia, caracterizada pela disseminação hematogênica do agente, resultando em vasculite sistêmica e fenômenos hemorrágicos fulminantes, sendo a forma mais grave da doença meningocócica. A suscetibilidade à infecção é geral, porém, os grupos de maior risco são as crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano, os idosos acima de 60 anos e os imunodeprimidos. A mortalidade da doença tem se mantido em 18-20% dos casos, chegando a 50% nos casos de meningococcemia. - Eitiologia: 1. Bacteriana: Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemophilus influenzae, Mycobacterium tuberculosis, Streptococcus sp., Streptococcus agalactie, Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp; 2. Viral: Têm distribuição universal e, em geral, evolução benigna, baixa letalidade e menor risco de sequelas. São frequentemente associadas à ocorrência de surtos, podendo ocorrer casos isolados. A incidência se eleva nos meses do outono e da primavera. Os principais agentes de RNA vírus são os enterovírus, arbovírus, vírus da caxumba, vírus do sarampo e HIV 1. Os principais agentes de DNA vírus são o adenovírus, HSV 1 e 2, varicela-zóster, Epstein-barr e citomegalovírus; 3. Fúngica: Os principais fungos causadores de meningite são do gênero Cryptococcus, sendo as espécies mais importantes a C. neoformans e a C. gattii. Outros fungos menos frequentes são: Candida albicans, Candida tropicalis, Histoplasma capsulatum, Paracoccidioides brasiliensis, Aspergillus fumigatus. A meningite criptocócica tem caráter predominantemente oportunista, acometendo principalmente indivíduos com estado imunológico comprometido. No entanto, a espécie C. gattii pode acometer imunocompetentes, residentes em áreas tropicais e subtropicais, com caráter epidêmico. Em geral, cursa com comprometimento neurológico importante, apresentando evolução grave. Associa-se a elevado risco de complicações, como hipertensão intracraniana e de sequelas, como paralisia permanente de nervos cranianos, déficit cognitivo e hidrocefalia; 4. Outros: Existem ainda casos de meningite causados por protozoários (toxoplasma gondii, toxoplasma cruzi e plasmodium sp) e helmintos (infecção larvária de taenia solium e cisticercose). - Transmissão: Ocorre através do contato com secreções respiratórias do portador do agente patogênico (inalação de gotículas de secreção de vias aéreas), havendo necessidade de contato íntimo (moradores da mesma casa, pessoas que compartilham dormitório ou alojamento, comunicante de creche ou escola, namorado). As meningites virais (especificamente causadas por enterovírus) geralmente são transmitidas por via fecal-oral, por meio da qual os vírus atingem o SNC por via hematognica (enterovírus) ou neuronal (HSV). No caso dos enterovírus, ao passarem pelo estômago, são capazes de resistir ao pH ácido e prosseguem para o trato gastrointestinal inferior. Outros vírus se replicam na nasofaringe e se disseminam em linfonodos locais. Após os enterovírus se ligarem a receptores dos enterócitos, eles se replicam em uma célula suscetível, progridem para a placa de Payer (onde ocorre replicação mais intensa) e então uma viremia atinge coração, SNC, fígado, sistema reticuloendotelial. Acredita-se que o enterovírus atinja o SNC através de junções íntimas endoteliais e posteriormente alcance o plexo coroide e o líquor. A infecção causada pelo HSV atinge o SNC pela via neuronal, através do nervo trigêmeo e olfatório; ou ainda nos casos de meningite asséptica, o vírus se dissemina após uma lesão genital primária, ascendendo pelas raízes sacrais até a meninge. O vírus pode ainda ficar latente nas raízes nervosas do trigêmeo e olfatório, reativando anos depois, causando encefalite ou quadros de meningite asséptica. No caso das meningites bacterianas, o agente etiológico pode atravessar a barreira hematoencefálica por: 1. Acesso Direto: Fraturas de crânio, defeito congênito de fechamento do tubo neural (espinha bífida, meningocele, meningomielocele, meningoencefalocele) e iatrogênica (punção liquórica inadequada); 2. Contiguidade: Otites médias, mastoidites ou sinusites; 3. Via Hematogênica: Ultrapassa a barreira hematoencefálica por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou em áreas mais susceptíveis, como o plexo coroide; 4. Derivações Liquóricas: A lise bacteriana e liberação das suas endotoxinas (Gram-negativas), ácido teicoico e peptidioglicano (gram-positivas) da parede celular, induzem a produção de citocinas inflamatórias que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, causando edema vasogênico e hidrocefalia através deste mecanismo. Com isso, há formação de edema intersticial junto com a hidrocefalia. Além disso, a migração de leucócitos resulta em degranulação e liberação de metabólitos tóxicos que geram edema citotóxico, crises epilépticas e até mesmo acidente vascular. A consequência desses eventos é o aumento da pressão intracraniana e até mesmo coma. - Quadro Clínico: Caracteriza-se por febre de início súbito, associada à cefaleia, prostração, náuseas, vômitos, hiporexia, rigidez de nuca, mialgia, agitação, fotofobia e sinais meníngeos. Em neonatos e lactentes, o quadro é caracterizado por irritabilidade, baixa aceitação da dieta, hipertonia/hipotonia, febre, convulsões, choque séptico, convulsão, abaulamento de fontanela, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada, principalmente, quando se flete as pernas para trocar a fralda). A presença de rigidez da nuca quase nunca está presente, sendo necessário analisar o quadro geral, abaulamento da fontanela e dados epidemiológicos para a suspeição de meningococo. A irritação meníngea se associa com os sinais abaixo: 1. Sinal de Kernig: Flexão passiva da coxa sobre a bacia, em ângulo reto, com dor e resistência à extensão do joelho; 2. Sinal de Brudzinski: Flexão involuntária da perna ao se tentar fletir a cabeça do paciente; 3. Sinais de Gravidade: piorada cefaleia, rebaixamento do nível de consciência, torpor, convulsões, déficit neurológico focal, confusão mental, transtornos pupilares, turvação visual, paralisias de nervos cranianos, bradicardia, nistagmo, papiledema. - A suscetibilidade para a infecção é geral, mas pode-se dizer que as faixas etárias mais vulneráveis são as crianças < de 1 ano e adultos > de 60 anos. Os neonatos possuem uma proteção através dos anticorpos maternos, por isso, dificilmente adoecem. Entretanto, a partir de 3 meses de idade a suscetibilidade vai aumentando devido a diminuição da imunidade. Pacientes idosos, imunossupressos ou portadores de quadros crônicos apresentam maior risco à meningite pneumocócica. • Encefalite: - Corresponde presença de um processo inflamatório no parênquima encefálico, associado à evidência clínica de disfunção encefálica (problema no cérebro propriamente dito). Do ponto de vista clínico, os sinais e sintomas podem ajudar a diferenciar a meningite da encefalite, de modo que os achados mais comuns são: 1. Meningite: Cefaleia, febre, letargia e meningismo (sinais de irritação meníngea); 2. Encefalites: Alterações de funções do estado mental ou cognitivo-comportamental (desorientação, alucinações, psicose, mudança de personalidade e agitação) ou sinais neurológicos focais (anomia, afasia, hemiparesia, hemianopsia e crises epiléticas). - As encefalites podem ser desencadeadas por diversos tipos de etiologias, fazendo com que a epidemiologia do acometimento seja dependente do tipo etiológico. Desse modo, são possíveis etiologias: infecciosa, pós- infecciosa, autoimune e paraneoplásica. 1. Infecciosas: Na maioria das vezes estão relacionadas com infecções virais, sendo o HSV-1 o agente mais comum, seguido de outros, como: HIV, enterovírus, EBV, HSV-6 e arbovírus. Os principais vírus causadores de encefalite nos pacientes imunocompetentes pertencem ao grupo do herpes vírus, dos arbovírus e dos enterovírus. Já nos pacientes imunocomprometidos, ocorre aumento considerável na frequência de infecções causadas pelo vírus da varicela-zóster e pelo citomegalovírus. Bactérias e protozoários também podem estar associados; 2. Pós-infecciosas: Ocorrem após infecção ou vacinação. Tem-se como exemplo a encefalomielite disseminada aguda (ADEM), que surge após um quadro infeccioso, que pode ser viral (herpes) ou bacteriano (Mycoplasma pneumoniae), de qualquer sítio, em dias ou semanas; 3. Autoimunes: Estão associadas com uma resposta do sistema imune do próprio paciente (os através de autoanticorpos como Hu, Ma2, CRMP5, NMDA e Caspr2) que agem contra receptores proteicos no encéfalo, ocasionando a inflamação; 4. Paraneoplásicas Os canceres mais associados são os de pulmão, de testículos e de timo. - Patogenia: Pode ser dividida em dois modos: direto e 2 indireto. Dentro do mecanismo direto, existem 3 possíveis vias, a hematogênica, quando há infecção do endotélio dos pequenos vasos, de modo que os leucócitos infectados chegam ao SNC através dos plexos coroides (herpes e arbovírus); difusão, quando ocorre infecção através da difusão centrípeta a partir de nervos periféricos (raiva); olfativa, muito relacionada com as infecções por herpes, poliomielite e arbovírus. Quanto ao mecanismo indireto, a patologia ocorre através de mecanismos imunológicos, por um mecanismo predominantemente mediado por células T ativadas que reconhecem antígenos da mielina e causam a lesão. - Quadro Clínico: Se caracteriza por uma instalação aguda ou subaguda, cursando com alterações no estado mental, crises convulsivas ou alterações cognitivo-comportamentais, além de alguns sinais neurológicos focais (hemiparesia, distúrbio da linguagem). O paciente pode apresentar alguns achados meníngeos, quando há uma meningoencefalite, e ainda percebe-se que alguns pacientes evoluem com sinais e sintomas constitucionais, como febre, vômitos, cefaleia e acometimento de outros órgãos específicos (exantema, sinais de infecção respiratória). • Meningoencefalite: - Consiste em um processo inflamatório nas meninges do encéfalo e da medula espinhal, podendo atingir o parênquima nervoso (encefalite) e causar lesões necróticas, tóxicas, hemorrágicas e anóxicas. Podem ou não ser infecciosas, tendo como possíveis etiologias: vírus, bactérias, protozoários, fungos, helmintos, medicamentosa, hemorrágica, tumoral, imune e alérgica. 1. Bacteriana: Listeria monocytogenes, Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis, Rickettsia prowazekii, Mycoplasma pneumoniae, Mycoplasma tuberculosis, Borrelia burgdorferi e Leptospira interrogans. 2. Viral: Arbovírus (vírus transmitidos por insetos ou carrapatos), vírus do Nilo Ocidental, vírus do sarampo, Epstein-Barr vírus, varicella-zoster vírus, enterovírus, herpes simplex virus (tipo 1 e 2), vírus da caxumba e HIV (raramente). 3. Protozoários: Acanthamoeba, Naegleria fowleri, Balamuthia mandrillaris, Sappinia diploidea]], Trypanosoma brucei, Toxoplasma gondii 4. Outros: Cryptococcus neoformans (fungo), antagonistas do NMDA (ex: quetamina) e vasculite. b) O.2 • Introdução: - Os herpes vírus são vírus que contém dupla cadeia de DNA, envelopados e considerados “grandes”. Têm a característica importante de incorporação do DNA viral no genoma do hospedeiro, o que garante a possibilidade posterior reativação das doenças. Apenas 8 tipos infectam os humanos. Os herpes vírus 1 e 2 são chamados de herpes simples (HSV 1 e 2) e são responsáveis pelo acometimento oral ou genital, respectivamente. O herpes vírus 3 é chamado de vírus varicela-zóster, causador da varicela e herpes zoster. O tipo 4 é o Epstein-Barr vírus (EBV), causador da mononucleose infecciosa, além de outras patologias oncológicas, como o linfoma de Burkitt. O tipo 5 é o citomegalovírus (CMV), responsável pela síndrome mononucleose infecciosa, além da retinite por CMV. O tipo 6 e 7 são os Roseolovírus, causadores da sexta doença (roséola infantum ou exantema súbito) e, por fim, o tipo 8 é o vírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV) e outros tumores, bastantes relacionados à infecção pelo HIV. 1. Vírus do Grupo α: Incluem HSV-1, HSV-2 e VZV, os quais infectam células epiteliais e produzem infecções latentes nos neurônios; 2. Vírus do Grupo β Linfotrópico: Incluem CMV, herpesvírus humano-6 e o herpesvírus humano-7: 3. Vírus do Grupo γ: EBV e KSHV/HHV-8, os quais produzem infecção latente principalmente nas células linfoides. - Na infecção primária (aguda), o herpes vírus 3 entra em contato com a mucosa do trato respiratório superior ou a conjuntiva. A transmissão de pessoa a pessoa ocorre através da inalação de aerossóis formados por micropartículas virais cuja fonte é a via respiratória do paciente. O contato direto com o conteúdo líquido presente nas vesículas e bolhas cutâneas são também fonte de transmissão dos vírus, que podem alcançar a via respiratória dos indivíduos expostos através das mãos, objetos ou alimentos. O vírus infecta as membranas mucosas, a pele e os neurônios, e causa uma infecção primária autolimitante em indivíduos imunocompetentes. O patógeno escapa das respostas imunes e se incorpora no genoma do hospedeiro em células do local de infecção e em alguns reservatórios do organismo, que são muitas vezes tecidos nervosos, como o gânglio dorsal e o nervo trigêmeo, estabelecendo uma infecção latente nessas estruturas, provocando a catapora (varicela). - Durante a sua manifestação, o VZV dissemina-se hematogenicamente e causa lesões cutâneas vesiculares disseminadas. Histologicamente, as lesões da catapora mostram vesículas intraepiteliais com inclusões intranucleares nas células epiteliais na base das vesículas. Após alguns dias, a maioria das vesículas da catapora se rompe, forma crosta, e cura por regeneração, não deixando cicatrizes. Entretanto, a superinfecção bacteriana das vesículas rompidas por trauma pode levar à destruição da camada epidérmicabasal e à cicatrização residual, geralmente sem qualquer evidência de envolvimento neurológico. - Após um período de latência (persistência de genomas virais nas células que não produzem o vírus infeccioso), que pode durar meses ou anos, diante de algum estímulo, os neurônios e/ou as células satélites ao redor dos neurônios nos gânglios da raiz dorsal passam a replicar o material genético viral, podendo gerar a doença recidivante (herpes-zóster), infectando os nervos sensoriais que o carreiam para um ou mais dermátomos. Lá, o vírus infecta os queratinócitos e causa lesões vesiculares, as quais, diferentemente da catapora, são frequentemente associadas com prurido intenso, queimação, ou dor aguda devido à radiculoneurite concomitante. Essa característica de reativação garante a possibilidade de aparecimento da doença em diversos episódios, sempre diante de algum estímulo, que pode ser o estresse, a imunodepressão, uso de corticosteroides, envelhecimento ou a exposição solar. - Os gânglios afetados demonstram morte neuronal, geralmente acompanhada por abundante infiltrado celular inflamatório mononuclear, sendo que necrose com hemorragia focal também pode ser encontrada. Os nervos periféricos mostram a degeneração dos axônios que pertencem aos neurônios sensoriais mortos. A destruição focal dos grandes neurônios motores do corno anterior ou dos núcleos motores dos nervos cranianos pode ser vista em níveis correspondentes, pois o dano está ao nível de corpo celular neuronal, caracterizando uma neuropatia. Inclusões intranucleares em geral não são encontradas no SNP. A. Lesão da catapora na pele (vírus varicela-zóster) com vesículas intraepiteliais. B. Gânglio da raiz dorsal com infecção pelo vírus varicela-zóster, demonstrando necrose da célula ganglionar e inflamação associada. • Epidemiologia e Fatores de Risco: - Epidemiologia: 1. A reativação do herpes-zóster é incomum, sendo mais frequente nos dermátomos inervados pelo gânglio do trigêmeo, onde o vírus é mais provável de estar latente. O VZV raramente recorre em indivíduos imunocompetentes (apenas 1%-4% dos indivíduos infectados), mas os indivíduos imunossuprimidos e as pessoas mais velhas podem ter múltiplas recorrências; 2. A varicela é uma doença endêmica nos países ocidentais nos quais o programa de vacinação é ineficaz ou inexistente. Por ser resultado de uma primo-infecção, o herpes-zoster tem maior incidência ao decorrer do aumento de idade, principalmente após os 55 anos; 3. Em países temperados, a varicela ocorre tipicamente antes dos quatro anos de idade, com picos de incidência referentes ao final do inverno e início da primavera, e com pelo menos 90% dos pacientes com histórico de contato com o vírus aos 15 anos. Em países tropicais, a infecção não obedece a picos de incidência relacionados a nenhuma estação do ano, e mais de 20% dos adultos permanecem suscetíveis à infecção primária; 4. No Brasil, a varicela não é uma doença de notificação compulsória, embora nos surtos as secretarias de saúde, municipal e estadual, devam ser notificadas. A incidência anual no país é de aproximadamente 3,3 milhões de pessoas, e os estados que mais notificam casos são MG e RS; 5. O contato com o vírus ocorre nos primeiros anos da infância. Cerca de 40% das crianças com 1 ano apresentam anticorpos antivaricela zoster, proporção que alcança 90% aos 10 anos. O maior número de hospitalizações concentra-se na faixa etária de 1 a 4 anos, seguido dos menores de 1 ano e de 5- 9 anos. Embora o maior número absoluto de hospitalizações seja observado entre crianças, grupo em que se espera o maior número de casos da doença, proporcionalmente os adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito, na qual vê-se que a taxa de letalidade entre os casos hospitalizados aumenta com a idade, chegando a 5% na faixa etária de 50 anos ou mais e 3% na faixa etária de 15 a 49 anos. - Fatores de Risco: 1. Imunossupressão decorrente de HIV, terapias imunossupressoras, linfoma/leucemia ou pelo processo de senescência (pessoas não vacinadas que vivem até os 85 anos de idade têm um risco de 50% de desenvolverem a doença ao longo da vida); 2. História familiar prévia para a doença, raça negra e sexo feminino; 3. Após a primoinfecção, há uma redução progressiva, proporcional ao tempo, no nível de imunidade mediada pelas células T. Por outro lado, quando a infecção ocorre intraútero ou no primeiro ano de vida, quando o sistema celular imune ainda não está completamente maduro, aumenta o risco de desenvolver herpes-zóster na infância; 4. Em RN’s de mães com varicela no primeiro semestre de gravidez, a taxa de síndrome de varicela congênita é 1,2%. Quando a infecção ocorre entre a 13ª e 20ª semanas de gestação, de 2%. RN’s que adquirem varicela entre 5 e 10 dias de vida, cujas mães infectaram-se no período situado entre cinco dias antes do parto e dois dias após o mesmo, estão mais expostos à varicela grave, cuja letalidade pode atingir 30%. • Etiologia e Características da Infecção: - Agente Etiológico: Varicella-zoster, vírus RNA da família Herpetoviridae. - Reservatório: Homem. - Modo de Transmissão: Direto pelo contato ou através de secreções respiratórias e, raramente, através de contato com lesões. Indireto através de objetos contaminados com secreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infectados. - Período de Incubação: Entre 14 a 16 dias, podendo variar entre 10 a 20 dias após o contato. Pode ser mais curto em pacientes imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva. - Período de Transmissibilidade: Varia de 1 a 2 dias antes da erupção até 5 dias após o surgimento do primeiro grupo de vesículas. Enquanto houver vesículas, a infecção é possível. - Susceptibilidade e Imunidade: A susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras. A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, na maioria das vezes, proteção até 4 a 6 meses de vida extrauterina. • Fisiopatologia: - No primeiro contato de um paciente com o vírus, é desenvolvido um quadro de primoinfecção por varicela, no qual o vírus é carreado por via hematogênica para outros órgãos, incluindo gânglios nervosos. Após a sua resolução, o vírus permanece latente em gânglios das raízes espinhais dorsais (sensoriais) ou nos nervos cranianos durante toda a vida, podendo ou não sofrer reativação diante de um declínio da resposta imune celular a esse patógeno. Na reativação, o VZV se espalha dentro do gânglio e passa a envolver vários neurônios sensoriais, os quais exibem, então, uma intensa inflamação, acompanhada de necrose hemorrágica das células nervosas. Em seguida, o vírus migra pela fibra sensorial até atingir o dermátomo correspondente, causando as erupções típicas dessa doença. - As lesões cutâneas da varicela e do herpes-zóster são histopatologicamente idênticas e o VVZ infectante está presente em ambas. A varicela estimula tanto a imunidade humoral como a celular, que é altamente protetora contra a reinfecção sintomática. Nos pacientes imunocomprometidos, a falha da resposta imune, especialmente da imunidade celular, permite a replicação viral continuada que resulta em lesões nos pulmões, fígado, cérebro e outros órgãos. • Quadro Clínico: - Primoinfecção: Infecção primária, aguda e contagiosa, que se caracteriza por exantema vesicular generalizado da pele e mucosas (o qual se assemelha a uma gota de orvalho em uma pétala de rosa). A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diversas formas evolutivas, acompanhadas de prurido. Acomete principalmente crianças, nas quais, geralmente, a doença é benigna e autolimitada. 1. Período Prodrômico: Febre baixa, mal-estar, faringite,vômito, anorexia e cefaleia podem ocorrer um a dois dias antes do aparecimento do rash e durar de três a cinco dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema cutâneo o primeiro sinal da doença; 2. Período Exantemático: Caracterizado pela evolução rápida das várias formas de lesões exantematosas. A primeira geralmente aparece no couro cabeludo, na face ou no tronco e caracteriza-se por ser pruriginosa. Em seguidas, essas lesões evoluem por meio de um estágio papular para formar vesículas claras repletas de líquido. A turvação e a umbilicação das lesões começam em 24 a 48 horas. Enquanto as lesões iniciais tornam-se crostosas, novos grupos de lesões se formam no tronco e, em seguida, nos membros; 3. Período Cicatricial: As crostas se desprendem, sem deixar cicatriz, 4 a 6 dias depois, permanecendo uma área temporariamente hipopigmentada. Lesões infectadas secundariamente e/ou removidas prematuramente podem deixar cicatrizes; 4. Complicações: Surgem devido a uma maior disseminação do vírus e uma incapacidade do sistema imunológico em limitar esta replicação, sendo mais comuns nos adultos imunocompetentes do que nas crianças. 4.1. Infecções Bacterianas Secundárias: São favorecidas pela entrada de bactérias (sobretudo S. aureus e Streptococcus pyogenes) nos focos de lesão cutâneos, provocando impetigo, abscesso, celulite e erisipela, que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, artrite, endocardite e glomerulonefrite. Pode surgir fascite necrozante quando as infecções são causadas por Streptococcus beta-hemolítico do grupo A9; 4.2. Danos Neurológicos: Afetam o SNC e são relativamente incomuns. Incluem ataxia cerebelar, meningite, encefalite, meningoencefalite e vasculopatia, que surgem em associação a vômitos, febre, vertigem, alteração da fala, tremores, edema cerebral acentuado, cefaleia progressiva, depressão do nível de consciência e alteração do comportamento. A ataxia cerebelar costuma ser uma complicação benigna nas crianças, com resolução em 2-4 semanas; 4.3. Síndrome de Reye: É resultado de um comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral que ocorre especialmente diante do uso do ácido acetilsalicílico durante a fase aguda da doença. Caracteriza-se por um quadro de vômitos, irritabilidade e diminuição do nível da consciência, com edema cerebral progressivo; 4.4. Pneumonia: Complicação potencialmente grave que se manifesta por taquidispnéia decorrente da hipoxemia por difusão ineficiente dos gases, tosse não-produtiva e febre; 4.5. Danos Hematológicos: Incluem a púrpura trombocitogênica (lesões hemorrágicas cutaneomucosas de origem autoimune induzidas pela infecção viral), púrpura fulminante (síndrome da coagulação intravascular disseminada que leva a grandes hemorragias), síndrome hemofagocítica (resposta inflamatória sistêmica excessiva, desencadeada pela ativação e proliferação inapropriada de linfócitos, o que pode levar ao choque), leucopenia (neutropenia moderada a grave ou linfopenia) e manifestações de trombose disseminada (trombocitopenia associada à alteração dos fatores de coagulação II, V e VIII e à presença de produtos da degradação da fibrina); 4.6. Danos ao Feto: Nas primeiras 16 semanas de gestação há maior risco de lesões graves ao feto, resultando em baixo peso ao nascer, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e retardo mental. - Reativação do Vírus: Causas diversas podem causar uma reativação do vírus, que, caminhando centrifugamente pelo nervo periférico, atinge a pele, causando a característica erupção local do herpes zoster no dermátomo associado e um quadro pleomórfico que vai desde doença benigna até outras formas graves. 1. Período Prodrômico: Dor, parestesia e hiperestesia, além de ardor e prurido localizadas no dermátomo comprometido, acompanhados de febre, cefaleia e mal-estar, os quais precedem de um a sete dias o surgimento de uma erupção eritema-vesicular; 2. Período Exantemático: As lesões cutâneas, quase sempre unilaterais, iniciam como máculas eritematosas entre 12 a 24 horas, que evoluem para pústulas no terceiro dia e na sequência tornam- se crostosas em sete a dez dias. A localização mais frequente é a torácica, porém também é comum a ocorrência em região craniana cervical e lombossacra. Raramente a lesão ultrapassa a linha média, característica consistente com o acometimento de um único gânglio dorsal da raiz ou nervo craniano. Em indivíduos imunocomprometidos, podem ocorrer lesões fora do dermátomo afetado, tendo apresentações atípicas; 3. Período Cicatricial: Quando não ocorre infecção secundária, as vesículas se dissecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em duas a 4 semanas, podendo deixar cicatrizes. As regiões mais comprometidas são a torácica, cervical, trigêmeo e lombossacra. 4. Complicações: Podem acontecer nas fases tardias ou precoces da doença. 4.1. Síndrome Ramsay-Hunt (SRH): Decorre do envolvimento do nervo facial e auditivo, após reativação do VZV no gânglio geniculado do nervo facial. Se caracteriza por dor no ouvido associada a erupções cutâneas dentro e ao redor do meato auditivo externo, com paralisia facial de início mais grave e pouco propensa a recuperação. Podem ocorrer prurido, zumbido, vertigens, surdez, náuseas, vômitos, e nistagmo, indicando envolvimento não só do gânglio geniculado, mas também do V, VI, VII, IX e X nervo craniano; 4.2. Neuralgia Pós-Herpética (NPH): Dor crônica que persiste por 90 dias após o início da erupção cutânea, podendo estar associada a prurido e dormência local. É descrita como constante ou intermitente, em queimação ou lancinante, que pode ser precipitada ou exacerbada por alguns estímulos, como mudanças de temperatura e contato com roupas. Surge devido à inflamação no gânglio sensorial, que ativa química e constantemente os nociceptores periféricos, ocorrendo em 10% a 18% dos indivíduos (a incidência aumenta para 40% a partir dos 60 anos). Na maioria das vezes, tem resolução espontânea e, quando a duração é superior a um ano, raramente a dor é muito intensa; 4.3 Vasculopatias: Acometem pequenas ou grandes artérias cerebrais, provocando cefaleia, febre, alterações do estado mental, ataques isquêmicos transitórios e déficits focais. Aneurismas cerebrais e hemorragia também podem ocorrer; 4.4 Complicações Oculares: Os pacientes podem apresentar conjuntivite, ceratite, uveíte, córeo-retinite, neurite óptica, retração cicatricial da pálpebra e entrópio, resultados do envolvimento do gânglio de Gasser. Dor e erupção vesicular ao redor dos olhos e na fronte, associam-se ao comprometimento do ramo oftálmico do nervo trigêmeo. Lesões cutâneas que se estendem para o lado medial do nariz são indicativos de sinal de Hutchinson, associado ao comprometimento do ramo nasociliar; 4.5. Zoster Sine Herpete: Manifestação do sintoma de dor radicular na ausência de erupção cutânea, uma condição rara e mais grave que as manifestações usuais; • Diagnóstico: - Abordagem Inicial: O diagnóstico da infecção por Herpes-zoster é eminentemente clínico-epidemiológico, baseado nas características das lesões exantematosas, que são amplamente distribuídas em padrão de dermátomo com neurite associada. - Exames Laboratoriais: Não são utilizados para confirmação ou descarte dos casos de varicela, mas podem ser utilizados para o diagnóstico diferencial em casos graves. 1. Testes de Anticorpos: Dois tipos de anticorpos contra VZV podem ser encontrados no sangue (IgM e IgG) para ajudar a confirmar a presença de infecção recente ou antiga por esse vírus. No entanto, pode ser difícil distinguir entre infecção ativa e latente, uma vez que (1) um indivíduo saudável que tenha sido infectado por VZV continuará portador do vírus após os sintomas terem desaparecido, (2) o VZV pode ser reativado intermitentemente, frequentemente sem que haja sinais evidentes, liberando pequenasquantidades do vírus nos líquidos corporais sem causar sintomas, (3) lactentes ou indivíduos imunocomprometidos podem não apresentar uma reação imune intensa à infecção por VZV, mesmo diante de infecção ativa. 1.1. IgM: São os primeiros anticorpos a serem produzidos pelo organismo em resposta à infecção por VZV, estando presentes na maioria dos indivíduos no prazo de uma a duas semanas após a exposição inicial, e durante a reativação do VZV (proteção a curto prazo); 1.2. IgG: Aumenta durante a infecção ativa e estabilizam-se quando a infecção é resolvida e o vírus se torna inativo. Uma vez que o indivíduo tenha sido exposto ao VZV, ele manterá uma quantidade mensurável de IgG anti-VZV no seu sangue pelo resto da vida (proteção a longo prazo). 2. Detecção do Vírus: O VZV pode ser isolado em amostras de sangue, líquido ou tecido. O isolamento pode ser feito por meio de cultivo do vírus, por detecção de seu material genético (VZV DNA) ou por técnica direta de fluorescência para anticorpo (DFA), solicitados quando um RN ou um indivíduo imunocomprometido tenha sido exposto ao VZV e esteja doente com sintomas atípicos e/ou graves, a fim de detectar uma infecção primária por VZV no bebê ou uma infecção primária ou reativada no indivíduo imunocomprometido. 2.1. Cultura: Uma amostra de líquido é coletada de uma vesícula. O material é incubado em cultura de células vivas e nutrientes para que haja crescimento e isolamento do vírus. O teste é sensível e específico, mas demora dois ou mais dias para ser finalizado. As lesões recentes são as melhores para esse teste. A presença de vírus pode se reduzir com o tempo, levando a resultado falso-negativo; 2.2. Teste de DNA: Realizado para detectar material genético do VZV em uma amostra do paciente. Esse método é sensível, sendo possível identificar e quantificar o vírus; 2.3. Técnica Direta de Fluorescência Para Anticorpo (DFA): Com esse teste visualiza-se a presença de VZV em células retiradas da lesão cutânea do paciente utilizando um microscópio especial e anticorpos marcados. É um teste rápido, porém menos específico e menos sensível que a cultura e o teste de DNA para VZV. 3. Análise de Resultados: 3.1. Detecção de Anticorpos: Se ambos, IgG e IgM anti-VZV, estiverem presentes em indivíduo sintomático, é provável que ele tenha sido exposto recentemente ao VZV pela primeira vez e apresenta varicela, ou que o vírus tenha sido reativado e ele esteja com herpes zoster. Se apenas IgM estiver presente, a infecção foi muito recente (se um RN apresentar anticorpos IgM, ele será portador de infecção congênita por VZV). Se o indivíduo for sintomático, mas apresentar níveis baixos ou indetectáveis de IgG e/ou de IgM, é possível que seja portador de outra doença ou que seu sistema imune não esteja respondendo normalmente ao VZV; 3.2. Detecção do Vírus: Se o paciente apresentar sintomas e a cultura for positiva para vírus varicela zoster, é provável que o indivíduo esteja com uma infecção ativa por VZV. Se a cultura for negativa, os sintomas do paciente podem ter outra causa, ou o VZV não está detectável na amostra testada. Se o teste para detecção de DNA de VZV for positivo, confirma-se a presença do vírus. Níveis altos de DNA viral tendem a indicar infecção ativa. Níveis baixos indicam infecção por VZV, mas não implicam condição sintomática. Resultados negativos não afastam infecção por VZV, pois o vírus pode estar presente em número muito pequeno ou ausente na amostra testada. - Diagnóstico Diferencial: 1. Impetigo: Máculas seguidas por vesículas ou pústulas, que se rompem formando crostas melicéricas. A dor, quando presente, não é intensa, sendo geralmente em queimação. Pode haver prurido. Geralmente localizado em face ou extremidades, sem distribuição em dermátomo; 2. Dermatite de Contato: Erupção localizada, sem distribuição em dermátomo, com relação topográfica com o agente causador. Pode ser uma reação alérgica ou irritativa. A remoção do agente causador é importante para a resolução do quadro; 3. Dermatite Herpetiforme: Pápulas e vesículas eritematosas, muito pruriginosas, distribuídas simetricamente nas superfícies extensoras dos cotovelos, joelhos, nádega, sacro, ombros e couro cabeludo. A erupção é recorrente, sobretudo nos meses mais quentes, e está associada à doença celíaca, embora na maioria das vezes os sintomas intestinais não estejam presentes. A confirmação diagnóstica é por meio de biópsia de lesão cutânea; 4. Herpes Simples: Caracterizada por cachos de vesículas dolorosas em base eritematosa, frequentemente precedidas por dor e/ou prurido. As lesões geralmente se localizam em região oral ou genital, sem a distribuição em dermátomo. Eventualmente, podem ter uma distribuição mais extensa, lembrando o herpes-zóster. Deve-se considerar essa hipótese em casos recorrentes de herpes-zóster, devendo ser feita a diferenciação por maio de exames complementares. • Tratamento: - Abordagem Inicial: O tratamento da varicela inclui medidas de suporte para os quadros de febre, dor e prurido, além da decisão de iniciar a terapia antiviral ou não, que depende da idade do paciente, das comorbidades e da apresentação clínica. Nessa etapa, basta que sejam administrados: 1. Roupas confortáveis, pouco apertadas e de algodão para permitir que a pele respire; 2. Compressas de permanganato de potássio (1:40.000) e água boricada a 2% várias vezes ao dia; 3. Compressas frias de camomila e calamyn sobre a região afetada para aliviar a coceira; 4. Banhos com água morna e sabão neutro sem esfregar para prevenir infecções secundárias; 5. Antitérmicos; 6. Analgésicos. Para dores leves, utiliza-se AINES, paracetamol ou dipirona. Para dores intensas, faz- se uso de opioides; 7. Antibióticos para complicações como infecções secundárias da pele e pneumopatias bacterianas associadas. - Terapia Antiviral: Para crianças ≤ 12 anos, a varicela costuma ser autolimitada e a terapia normalmente não é indicada. Para os que apresentam alto risco de complicações (adolescentes não vacinados, adultos, grávidas, imunocomprometidos), erupções cutâneas severas ou que comprometam outras partes do corpo além do tronco, e se a dor for moderada ou grave, terapia está indicada para reduzir a gravidade dos sintomas e/ou reduzir o risco de complicações. É importante lembrar que para ser mais eficaz, o tratamento deve ser iniciado até 72 horas depois do surgimento das bolhas na pele. Após esse período, a terapia antiviral só é iniciada se aparecerem novas lesões no momento da apresentação, diante de imunocomprometidos, e na presença de complicações neurológicas graves, utilizando a via endovenosa por 10 a 14 dias, sob regime de internação. A terapia antiviral específica, iniciada dentro de 72 horas após o surgimento do rash reduz a ocorrência da NPH. O uso de corticosteróides, na fase aguda da doença não altera a incidência e a gravidade da NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser adotada em pacientes sem imunocomprometimento. Contudo, a conduta principal (realizada pela via oral), normalmente inclui: 1. Aciclovir: Antiviral que impede a replicação do VZV, tendo um bom potencial em erradicar o vírus e aliviar os sintomas rapidamente. Como consegue só ser absorvido pelas células que estão infectadas pelo vírus, apresentando uma baixa gama de efeitos colaterais (como náusea, vômitos, diarreia e vertigem). É administrado usualmente na dose de 800 mg, 5x ao dia por 7 a 10 dias; 2. Vanciclovir: É considerado uma pró-droga, ou seja, quando metabolizada no organismo por hidrólise resulta em aciclovir, porém possui a vantagem de ter uma maior biodisponibilidade. É administrado usualmente na dose de 1000mg, 3x ao dia por 7 dias; 3. Fanciclovir: Também é caracterizado como uma pró-droga, porém o seu resultado pós-hidrólise é o penciclovir. Costuma ser administrado na dose de 500 mg, 3x ao dia por 7 dias. - Manejo de Complicações:1. Neuralgia Pós Herpética: Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina, imipramina), agentes anticonvulsivantes (gabapentina e pregabalina), opióides, lidocaína tópica e capsaicina; 2. Distúrbios Olftamológicos: Uso de colírios midriáticos, capazes de reduzir o risco de formação de sinéquias; glicocorticóides tópicos para ceratite, episclerite ou irite; medicamentos para reduzir a pressão intraocular para o tratamento do glaucoma; e terapia antiviral intravítrea para pacientes imunocomprometidos com necrose de retina. - Prevenção: Orientações para evitar a transmissão do vírus e o uso de vacina em pacientes acima dos 60 anos. Para as pessoas imunocompetentes com herpes-zóster acometendo um dermátomo, deverá haver precauções de contato, e as lesões devem ser cobertas se possível até que estejam encrustadas. A imunização passiva com imunoglobulina (125 U/kg), dentro de 96 horas da exposição a varicela-zóster é indicada para indivíduos imunodeprimidos suscetíveis e para mulheres grávidas suscetíveis expostos à varicela pela primeira vez, bem como para recém-nascidos cujas mães foram infectadas pouco antes do nascimento.
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