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AULA 1 Missionários e viajantes

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Missionários e viajantes
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
22:28
 
Introdução
Pompeia, a cidade que foi coberta pela lava do vulcão Vesúvio no ano 79 d.C. e que permaneceu praticamente intacta. Hoje, ela é um sítio arqueológico que possibilita uma visão detalhada do que seria a vida nos tempos da Roma Antiga.
 
A Antropologia é a ciência que se ocupa de pesquisar e formular teorias sobre esses povos diferentes dos nossos, sobre seus costumes, religiões, línguas, formas de viver e representar o mundo, e suas respostas se baseiam em longas pesquisas. As pesquisas antropológicas contam, portanto, com informações recolhidas sobre esses povos distantes e pouco conhecidos pela maioria da população, embora a Antropologia moderna tenha incorporado o estudo de grupos sociais que também vivem nas grandes cidades, mas que permanecem “distantes” de nossa experiência.
 
Os antropólogos não foram os primeiros a produzir relatos
sobre povos exóticos ou primitivos. Os primeiros a se deparar e a escrever sobre povos com línguas, hábitos e costumes diferentes foram os viajantes
 
Já a Antropologia, que surge entre os séculos XVIII e XIX, terá como objetivo produzir conhecimento sobre esses povos distantes, contando com métodos, técnicas, pesquisas sistemáticas e teorias, discutidas e reavaliadas no âmbito acadêmico.
 
As crônica dos viajantes 
A Antropologia, como toda ciência, tem antecedentes e
precursores. Os alquimistas da Antiguidade, por exemplo, foram precursores da Química moderna, e os astrólogos, precursores da Astronomia.
 
Observar que os objetos celestes percorrem trajetórias regulares no céu foi um “recorte” que pode ter motivado a formulação das primeiras leis matemáticas sobre os movimentos planetários (Astronomia). As crônicas de viajantes também podem ser consideradas precursoras de uma ciência, a Antropologia, embora as descrições realizadas por viajantes e missionários sobre povos distantes fossem às vezes pouco realistas ou com forte apelo imaginativo.
As crônicas eram diários de viagem, mas nem sempre mantinham uma sequência cronológica de fatos, acontecimentos ou observações. Podiam ser anotações dispersas, escritas por viajantes ou missionários durante sua permanência no novo território ou durante o caminho de retorno à Europa. Também se produziam crônicas com desenhos, para ilustrar alguma situação, ou com pinturas que, às vezes, eram comentadas pelos próprios artistas.
 
Entre as crônicas do período medieval, uma das mais famosas é a de Marco Polo, em que ele narra curiosidades e hábitos exóticos de povos orientais, como da China, da Pérsia, da Índia, do Tibete e do Sri Lanka.
Contudo, as crônicas de viagens que tiveram mais influência para o posterior desenvolvimento da Antropologia foram as da descoberta da América
 
As viagens do descobrimento 
Os viajantes do Descobrimento, Fernão de Magalhães,
Cristóvão Colombo, Vasco da Gama, Américo Vespúcio e Pedro Álvares Cabral, tinham objetivos mercantis, políticos e religiosos.
 
Devemos considerar que utilizamos a categoria viajantes e missionários em um sentido amplo, já que não eram todos os viajantes que deixavam registro de suas viagens.
Américo Vespúcio descreve na carta Mundos novos que os
habitantes da América (que chamou de índios, por acreditar que havia descoberto a rota para a Índia) não tinham religião, governo, nem lei.
 
 
 
Eurocentrismo Visão de mundo que coloca a Europa no centro da civilização e que, consequentemente, considera os povos não europeus como não civilizados ou exóticos. Desde o século XX, esse pensamento vem sendo questionado, na tentativa de reverter essa visão de mundo.
Estava em gérmen no século XIX o que começou a se chamar de eurocentrismo.
 
Do fato de não existirem leis escritas, por exemplo, não se pode concluir que não exista qualquer tipo de ordem
 
As primeiras crônicas da conquista falam de hábitos, costumes e características dos povos da América e das experiências passadas pelos próprios cronistas
 
Os cronistas oficiais deviam fazer narrativas detalhadas e
objetivas de fatos que deviam servir para marcar rotas e para o desenho de cartas geográficas.
 
Na Carta de Colombo e de outros navegantes, as terras descobertas são descritas como se fossem o Éden, lugar de riquezas e maravilhas.
Embora a descrição do Novo Mundo também estivesse influenciada pela visão do Paraíso sem fim.
 
Os nativos do Brasil na visão dos viajantes
 Dentre as primeiras crônicas sobre o Descobrimento do Brasil, conhecemos a Carta de Pero Vaz de Caminha, que foi escriba (aquele que exercia as funções de contador, arquivista e cronista) na frota de Cabral. A viagem comandada por Cabral foi o maior empreendimento marítimo de Portugal no séculos XV e XVI, levando treze navios e um grande exército com a finalidade de montar um entreposto comercial no que acreditavam ser o continente indiano.
O próprio Cabral foi o primeiro navegante a percorrer os quatro continentes.
 
Caminha faz uma descrição objetiva dos indígenas, de seus
corpos, de vestimentas e materiais de uso doméstico, mas não é suficiente para constituir uma etnografia. 
 
As etnografias envolvem aspectos mais amplos, incluindo
os sistemas de parentesco, mitos, cosmologia, magia, a organização política, as formas de produção e de intercambiar e outros aspectos não considerados nessas crônicas.
 
Na Antropologia moderna, essas descrições etnográficas são analisadas em conjunto e interpretadas, tentando-se identificar os sentidos ou as funções que possuem para os próprios indígenas. Já nas crônicas, essas descrições são isoladas e entendidas somente à luz da própria cultura europeia
 
Entretanto, os estudos antropológicos tentam se afastar dessa visão maniqueísta, não somente porque os antropólogos estão mais acostumados a viver com povos distantes, mas também porque a Antropologia, como as Ciências Sociais em geral, pro cura realizar descrições da realidade evitando os juízos de valor,
indígena tupi. O ato do canibalismo responde a uma necessidade simbólica de vingar a morte de parentes. Trata-se também de um jaguar que possuía o fogo, portanto um “jaguar civilizado”, porque comia carne cozida.
 
As crônicas dos viajantes foram mudando conforme a situação histórica e política. Portanto, em vez de falar dos viajantes em geral, devemos diferenciá-los, considerando seus objetivos de viagem e o momento histórico e político em que escrevem suas crônicas. Nesse sentido, distinguimos os viajantes do Des cobrimento e os viajantes naturalistas. A seguir, você saberá as diferenças entre ambos.
 
A visão dos naturalistas
 A diferença dos séculos XV e XVI, em que as monarquias da
Europa financiaram viagens oceânicas por motivos comerciais e políticos, é que nos séculos XVIII e XIX também foram organizadas expedições com objetivos científicos. Era a época do Iluminismo, em que se buscava aprofundar o conhecimento da natureza pela observação minuciosa e sistemática. As Ciências Naturais começavam a se organizar sobre bases científicas e, na Europa, foram fundados os primeiros jardins botânicos, com espécies achadas nos locais mais distantes do globo; os observatórios astronômicos e as academias científicas, que também promoveram investigações e expedições científicas a terras remotas.
Na embarcação, viajaram cientistas e naturalistas que fizeram uma ampla identificação e coleta da flora e da fauna e descreveram novos povos da Oceania. Nas ilhas da Austrália, Cook descreve, por exemplo, os broches de osso que atravessavam a cartilagem do nariz dos nativos como um grande piercing. As crônicas também falam de outros costumes excêntricos, como a tatuagem dos nativos maoris da Nova Zelândia, chamada moko. As viagens de Cook foram uma das publicações mais populares na Europa dos séculos XVIII e XIX.
 
As crônicas dos séculos XVIII e XIX foram, em geral, sobre expedições científicas ou artísticas realizadas por naturalistas. O explorador aventureiro dos séculos XV e XVI é substituído pelo profissional de ciência da época: o naturalista. Os naturalistas eram uma mistura de cientista, filósofoe poeta, que se voltaram à descrição e classificação da natureza.
 
– Os naturalistas consideravam que a pesquisa devia ser realizada no próprio terreno, exigindo longas jornadas de observação e comparação de informações.
 
– Humboldt e os naturalistas utilizaram o método comparativo na botânica, procurando classificar as espécies por semelhanças e diferenças. Mediante a observação e a pesquisa, trataram de demonstrar em que se baseavam essas semelhanças (se eram acidentais ou produto de condições de existência similares) e as diferenças. Esse método será posteriormente utilizado na Antropologia, ao comparar povos e sociedades segundo suas semelhanças e diferenças e estabelecendo conjecturas sobre o porquê desses agrupamentos.
 
– Consideravam que o clima influenciava o comportamento, tanto de plantas como de populações.
 
Acreditavam que os povos da América eram não civilizados ou atrasados em relação à Europa.
 
– Aplicavam a ideia evolucionista também à mentalidade desses povos.
 
 
Para a Antropologia do século XX, as sociedades não são superiores nem inferiores: possuem culturas diferentes. Esse assunto será tratado nas próximas aulas.
 
Um dos naturalistas inspirados por Humboldt foi o alemão
Carl von Martius que, durante três anos, de 1817 a 1820, per correu 10 mil quilômetros no interior do Brasil, de São Paulo ao Amazonas
 
Na botânica, o critério de comparação era a forma das folhas, o tamanho do talo, dentre outros, mas o critério para comparar povos muitas vezes era moral.
 
Antropologia se abstém de realizar juízos morais sobre os povos que pesquisa. Se dissermos que os índios são preguiçosos, é porque consideramos o trabalho como “normal”, mas o normal para alguns povos não é normal para outros. Essa atitude, que chamamos de “estranhamento”, é uma das características da Antropologia que está ausente nesses relatos de viajantes.
 
 
Outro naturalista que visitou o Brasil foi Charles Darwin.
Em uma primeira viagem, em 1832, realizou estudos sobre flora e fauna na ilha de Fernando de Noronha, em Salvador e no Rio de Janeiro e, na segunda viagem, visitou o litoral da Bahia e de Recife, antes de seu retorno à Inglaterra
 
As crônicas e os filósofos europeus
Rousseau defendia a ideia de que a civilização moderna tinha perdido a liberdade que possuía quando se vivia em estado primitivo. Contrastando a condição do homem no estado primitivo com a condição na civilização, conclui com o seguinte raciocínio: “Nascemos livres e em todas as partes encontramos grilhões!”. Para Rousseau, a liberdade era a condição natural do homem no “estado de natureza”.
 
Portanto, como você pode observar, as crônicas dos viajantes e naturalistas não foram para uso exclusivo do poder monárquico, da Igreja ou da ciência. Também foram fonte de inspiração para filósofos que a partir desses relatos começaram a imaginar a possibilidade de mudar o mundo.

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