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Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Dor precordial A dor torácica aguda é um sintoma muito frequente nas unidades de emergência, constituindo- se em um possível sinal de alerta para as doenças com risco iminente de morte. Como a maioria desses pacientes é internada para avaliação de uma possível síndrome coronariana aguda, isso gera um custo hospitalar muito alto por paciente. Por conta dessa possibilidade diagnóstica, muitos emergencistas internam a maioria dos pacientes. Por outro lado, a liberação inapropriada daqueles com infarto agudo do miocárdio representa um risco para o médico e, especialmente, para o paciente. Outro ponto importante é a demora para o atendimento, em que há a influência de fatores relacionados ao paciente, assim como, pontos negativos na logística de atendimento dos serviços de emergência em nosso país. Para excelência no atendimento, é importante uma anamnese detalhada adicionada ao exame físico, a qual permite a elaboração das hipóteses diagnósticas. E para auxiliar os médicos na escolha da hipótese diagnóstica e na tomada rápida de decisão, escores de risco são disponibilizados, os quais, facilmente, identificam a probabilidade de eventos adversos. A conduta imediata de casos com risco de morte imediata tem como principal objetivo reduzir a morbidade e a mortalidade, aumentando, consequentemente, a segurança do profissional da emergência. Sugestões de fluxogramas e algoritmos para o atendimento desses pacientes na sala de emergência definem, de forma objetiva, quem fica e quem pode ser liberado O sintoma de dor torácica constitui um grande desafio para o médico da emergência em decorrência da ampla lista de diagnósticos diferenciais. Representa em torno de 5% a 10% das consultas em Pronto-Socorro. A síndrome coronária aguda (SCA) é responsável por quase 1/5 das causas de dor torácica e 2% a 10% dos pacientes com este diagnóstico são, inadvertidamente, liberados e podem apresentar uma evolução clínica desfavorável. Dessa forma, é importante um atendimento sistematizado por meio de fluxogramas e algoritmos, a fim de se obter uma alta acurácia diagnóstica, com o principal objetivo de reconhecer e tratar as doenças mais graves e com risco iminente de morte, evitando-se assim, internações e exames complementares desnecessários para os pacientes de baixa complexidade. Vários fatores interferem para o retardo de pacientes com dor torácica no Pronto-Socorro e que pioram o prognóstico. Entre eles têm-se aqueles atribuídos ao paciente, levando a diferenças individuais na experiência subjetiva de dor, como: conhecimento de experiência de outros pacientes, contribuição genética para diferenças individuais, interação entre fatores genéticos e sociais, fatores psicológicos que influenciam a sensibilidade à dor, a não valorização, pelo paciente, dos sintomas de dor torácica, a atribuição dos sintomas a condições crônicas pré-existentes (dor muscular), ausência de conhecimento dos benefícios do rápido tratamento. Salienta-se que apenas 20% dos pacientes com dor torácica e infarto agudo do miocárdio (IAM) procuram por atendimento nas duas primeiras horas. Ainda nesse contexto, vários fatores contribuem para o retardo no atendimento de pacientes com dor torácica, interferindo de forma negativa nos resultados, como: a não disponibilidade de atendimento pré-hospitalar de urgência, a demora no atendimento de grupos especiais como os idosos, pacientes do sexo feminino, baixa classe socioeconômica, raça negra. Uma anamnese detalhada é o instrumento básico e o mais relevante na formulação de uma causa da dor torácica que, adicionada ao exame físico e aos fatores de risco permitirá a elaboração das hipóteses diagnósticas, definindo os exames complementares mais pertinentes, evitando-se alta hospitalar para os casos com risco iminente de morte. Nas Figuras 8 e 9 apresentam-se, respectivamente, sugestões de fluxograma e algoritmo para atendimento de pacientes com dor torácica aguda na sala de emergência, definindo de forma objetiva quem fica e quem pode ser liberado Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Os cinco principais grupos de etiologias de dor torácica, por ordem decrescente de prevalência, são as causas musculoesqueléticas, gastrointestinais, cardíacas, psiquiátricas e pulmonares. Além da SCA, algumas se destacam por seu caráter potencialmente fatal, como a dissecção aguda de aorta, o tromboembolismo pulmonar (TEP), o pneumotórax hipertensivo, o tamponamento cardíaco, a ruptura e a perfuração esofagiana. A Tabela 1 descreve as principais causas de dor torácica e que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial de acordo com as informações da história clínica, do exame físico e dos dados laboratoriais, constituindo difícil tarefa para o médico emergencista. A caracterização precisa da dor torácica é fundamental para o diagnóstico diferencial. As características essenciais são: início e duração do sintoma, qualidade, localização, irradiação, intensidade, fatores desencadeantes, fatores de alívio, sintomas associados e evolução no tempo. As unidades de dor torácica foram criadas nos Estados Unidos na década de 1980. Constituem uma estratégia operacional padronizada para o atendimento dos pacientes com dor torácica, dependendo da estrutura e das características assistenciais de cada instituição. Os objetivos das Unidades de Dor Torácica são: 1. Priorizar o atendimento dos pacientes com dor torácica que procuram o Pronto-Socorro e a rápida realização do eletrocardiograma (ECG); 2. Identificação precoce das doenças com risco de morte e o início do tratamento específico por meio de protocolos; 3. Reduzir altas hospitalares inadvertidas e internações desnecessárias; 4. Reduzir os custos hospitalares. CAUSAS DE DOR TORÁCICA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL UNIDADES DE DOR TORÁCICA Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús O objetivo principal do atendimento ao paciente com dor torácica é o de excluir imediatamente as causas que, potencialmente, implicam em risco iminente de morte. Essa avaliação inicial corresponde às medidas dos sinais vitais, como: frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e oximetria de pulso para a identificação da presença ou não de instabilidade hemodinâmica e/ou de insuficiência respiratória. Para os pacientes fora desse contexto de risco de morte, é necessária a caracterização detalhada da dor, a avaliação dos fatores de risco para doença arterial coronária (DAC) (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, tabagismo, obesidade, história familiar precoce para DAC, antecedentes de procedimento de revascularização miocárdica [angioplastia e / ou cirurgia]) e a realização de exame físico dirigido. A seguir, solicitam-se os exames complementares, onde o ECG e a radiografia de tórax são imperiosos, seguidos por outros, de acordo com as hipóteses diagnósticas. Ainda, no momento inicial do atendimento, é muito importante identificar e classificar os pacientes quanto à probabilidade da dor torácica ser origem isquêmica: Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. ESCALA ANALÓGICA VISUAL (EVA) Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica.Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. Com a suspeita diagnóstica inicial elaborada por meio da história clínica e do exame físico, utiliza- se dos exames complementares para confirmação diagnóstica e/ou estratificação do risco para eventos adversos em curto prazo. ESCORE DE HEART ABORDAGEM INICIAL ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Para auxiliar os médicos da emergência na escolha da hipótese diagnóstica e na decisão da melhor estratégia terapêutica, foi desenvolvido o escore HEART. O escore HEART facilmente identifica a probabilidade de eventos adversos (morte, infarto, revascularização miocárdica urgente [angioplastia ou cirurgia]), no período de seis meses após a apresentação, auxiliando na triagem de pacientes com dor torácica aguda na emergência. Os pacientes com escore de 0 a 3 pontos apresentam chance de 1,6% de experimentarem um evento adverso (casa); para aqueles com escore de 4 a 6 pontos (admissão e investigação) uma chance 13%; e para os com pontuação 7 ou mais (angio), 50% de chance de apresentarem um evento adverso. Com o escore HEART é possível imediatamente identificar os pacientes elegíveis para alta hospitalar sem a necessidade de testes adicionais ou procedimentos invasivos. ESCORE DE TIMI RICH O processo de estratificação de risco dos pacientes com IAM tem dois componentes: identificação precoce dos pacientes de alto risco para eventos recorrentes, no momento da hospitalização, e determinação de quais pacientes, após o IAM, possuem maior risco para eventos cardiológicos maiores. Aqueles com risco elevado são, normalmente, candidatos a uma terapia mais agressiva; indivíduos com menor risco podem receber tratamento conservador. O escore de TIMI é uma ferramenta totalmente aplicável à beira do leito em nossa população, como preditor de óbito intra-hospitalar, fornecendo importante informação prognóstica ELETROCARDIOGRAMA O ECG deve ser realizado e analisado em até 10 minutos do primeiro contato médico. São necessários ECGs seriados, com o objetivo de aumentar a sensibilidade para a presença de alterações isquêmicas, conforme a necessidade. No contexto clínico de SCA, a elevação do segmento ST medida a partir do ponto J, é considerada sugestiva de oclusão arterial coronária aguda nas seguintes apresentações: presença do supradesnível do segmento ST ≥ 2,5mm em homens EXAMES COMPLEMENTARES Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús com idade inferior a 40 anos, ≥ 2mm em homens com 40 anos ou mais, ou ≥ 1,5mm em mulheres nas derivações V2–V3 e / ou ≥ 1mm em outras derivações, na ausência de hipertrofia ventricular esquerda ou bloqueio de ramo esquerdo. A presença do bloqueio de ramo esquerdo “novo” ou “presumivelmente novo” na presença de sintomas típicos também deve ser interpretada como IAM por oclusão arterial aguda, podendo ser levados em consideração os critérios de Sgarbossa que, quando igual ou maior que três pontos apresentam 90% especificidade e 36% de sensibilidade para o diagnóstico de IAM com supradesnível do segmento ST: Elevação concordante de ST com QRS ≥ 1 mm= 5 pontos Infradesnível do segmento ST ≥ 1 mm em derivação V1, V2, ou V3= 3 pontos. Elevação discordante do segmento ST com QRS ≥ 5 mm= 2 pontos. Dentro ainda do contexto de SCA, o ECG pode apresentar alterações isquêmicas, como o infradesnível dinâmico do segmento ST e/ou inversão das ondas T, que implicariam em risco aumentado de complicações cardiovasculares. O ECG também pode ser uma importante ferramenta para o diagnóstico diferencial das causas cardíacas de dor torácica, como o achado de supradesnível difuso do segmento ST na pericardite, baixa voltagem e/ou alternância elétrica no derrame pericárdico e a taquicardia sinusal e sinais de sobrecarga ventricular direita do TEP. É importante salientar que um ECG normal reduz sensivelmente a probabilidade de IAM, porém, não a exclui. Cerca de 6% dos pacientes que procuram a unidade de emergência com um ECG normal, irão apresentar IAM, não descartando, portanto, a possibilidade de etiologia cardiogênica da dor torácica, onde o quadro clínico deve sempre prevalecer. A sensibilidade do ECG inicial para o IAM é de 45% a 60% quando se utiliza o supradesnível do segmento ST como critério diagnóstico. Dessa forma, metade dos pacientes com IAM não é diagnosticada com um único ECG, sendo importante a realização de forma seriada. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax tem importância para o diagnóstico diferencial da dor torácica (dissecção da aorta, TEP, pneumotórax e pneumomediastino) e na identificação de complicações do IAM. Portanto, tem sua maior utilidade no diagnóstico diferencial de dor torácica não isquêmica e pode sugerir a presença de pneumonia, pneumotórax, derrame pleural, derrame pericárdico, embolia pulmonar e hipertensão pulmonar. MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA A necrose do músculo cardíaco promove a liberação de enzimas e proteínas estruturais dos miócitos que podem ser quantificadas por técnicas específicas no sangue dos pacientes com IAM. Os principais marcadores séricos de necrose miocárdica são a mioglobina, a creatinoquinase isoenzima MB (CK-MB), a CK-MB massa e as troponinas I e T. As diretrizes brasileiras e americanas recomendam a utilização das troponinas I e T e, se não disponível, a CK-MB massa para o diagnóstico de IAM ou para o diagnóstico de reinfarto em decorrência da sua normalização mais precoce. Portanto, as troponinas T e I são os marcadores laboratoriais mais sensíveis e específicos de lesão miocárdica. Em média, a troponina T tem sensibilidade de 96,9% e especificidade de 94,5% para o diagnóstico de IAM. Já a CK-MB massa pode ser uma alternativa às troponinas cardíacas, quando da não disponibilidade destas. Os marcadores de necrose miocárdica devem ser solicitados em todos os pacientes com suspeita de SCA e repetidos entre seis e 12 horas. A elevação de tais marcadores não é exclusiva dos casos de IAM, mas também pode estar presente nas situações que cursam com injúria miocárdica de outra natureza, tais como taquiarritmias, miocardite, insuficiência cardíaca, pós-ressuscitação cardiopulmonar, trauma torácico, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar. Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús TOMOGRAFIA DE TÓRAX E ANGIOTOMOGRAFIA DE CORONÁRIAS A tomografia de tórax é um exame mais sensível e mais específico que a radiografia de tórax para o diagnóstico de doenças pleurais, do parênquima e da vasculatura pulmonar. Auxilia no diagnóstico diferencial da dissecção aguda da aorta, do TEP e de doenças pulmonares (pneumotórax, pneumonia). A angiotomografia de coronárias é capaz, de forma não invasiva, de avaliar a anatomia coronária por meio de sua análise luminal e parietal, identificando a presença de placas ateroscleróticas e classificando o seu grau de estenose. Esse exame possui alta acurácia na identificação de estenoses coronárias significativas (≥ 50%), apresentando elevados valores preditivos negativos e positivos, sendo hoje bem difundido em nosso meio, e fazendo parte da triagem de pacientes com dor torácica aguda nas unidades de emergência dos hospitais de referência em cardiologia. Portanto, tem sua indicação nas unidades de emergênciacomo um dos métodos diagnósticos em pacientes com suspeita de SCA com risco baixo e tendo a vantagem de rápida aquisição das imagens e de não ser necessário tempo adicional após a estratificação de risco para a sua realização. ECOCARDIOGRAMA O ecocardiograma é um exame com boa indicação nos pacientes com suspeita de derrame pericárdico, valvopatias, cardiomiopatia hipertrófica, dissecção aguda da aorta, embolia pulmonar e hipertensão pulmonar, tendo pouca utilidade na emergência para os pacientes com SCA, exceto em situações em que as alterações isquêmicas ao ECG são mascaradas como, por exemplo, na presença de bloqueio de ramo esquerdo ou ritmo de marcapasso. Nesses casos, a alteração da mobilidade segmentar miocárdica “nova” pode sugerir IAM atual. Porém, o ecocardiograma pode ser utilizado nas SCAs para avaliar a etiologia isquêmica da dor torácica, para investigar isquemia induzida por estresse em pacientes em que foram excluídos o IAM e a isquemia em repouso, para avaliação prognóstica e na suspeita de complicações das SCAs. TESTE ERGOMÉTRICO O teste ergométrico é recomendado nas unidades de dor torácica como exame complementar seguro em pacientes o riscos baixo, com o objetivo de investigar a isquemia induzida por estresse. Apresenta importante valor diagnóstico e prognóstico. É um exame simples, amplamente disponível, de baixo custo e de alto valor preditivo negativo (> 95%) para eventos cardíacos adversos. Portanto, pode ser realizado nos pacientes com dor torácica possivelmente anginosa ou mesmo nos pacientes com SCA estratificados inicialmente como de baixo risco, cujo resultado normal confere um risco menor que 2% de eventos cardiovasculares em um ano. Para a sua realização devem ser afastadas as situações de risco moderado a alto, doenças agudas da aorta, TEP, miocardite e pericardite. Entre as condições necessárias para a realização do exame incluem: ausência de sintomas e alterações eletrocardiográficas sugestivos de isquemia miocárdica nas últimas 24 horas, presença de pelo menos duas amostras seriadas de marcadores de necrose miocárdica negativas. CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA Para avaliação da dor torácica na sala de emergência, podemos usar a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM) em repouso e sob estresse. A CPM em repouso está indicada nos pacientes com suspeita de SCA e ECG não diagnóstico com o objetivo de confirmar ou afastar precocemente esse diagnóstico. Os pacientes com exame normal apresentam baixo risco para eventos cardíacos adversos nos próximos meses, podendo ser liberados imediatamente das unidades de emergência com redução dos custos hospitalares. Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús CINECORONARIOGRAFIA A cineangiocoronariografia é considerada o padrão-ouro na avaliação da anatomia coronária e de lesões estenóticas obstrutivas, sendo fundamental para se decidir sobre o tratamento de revascularização miocárdica dos pacientes com SCA. A cinecoronariografia associada à intervenção coronária percutânea primária está indicada, no contexto do IAM com supradesnível do segmento ST ou bloqueio do ramo esquerdo novo ou presumivelmente novo, nos pacientes com até 12 horas do início da dor torácica, tendo como meta o tempo porta-balão de 90 minutos. No caso das SCAs sem supradesnível do segmento ST, a estratégia invasiva por meio da cinecoronariografia é a de preferência naqueles pacientes estratificados como de intermediário ou alto risco. Na maioria dos pacientes que são avaliados para dor torácica aguda no PS, a avaliação geral com história clínica, ECG e troponina irá apontar para qual o diagnóstico mais provável. Mas, existem casos em que a dúvida persiste mesmo após essa avaliação inicial e o médico pode ficar em dúvida se se trata de uma síndrome coronariana aguda, uma embolia pulmonar ou mesmo uma dissecção de aorta. Uma opção nestes casos é o protocolo chamado de triple rule-out. Tratar-se de uma angiotomografia de tórax que avalia simultaneamente estas 3 hipóteses diagnósticas. A TC de exclusão tripla denomina um protocolo controlado por ECG que permite a representação das artérias pulmonares, aorta torácica e artérias coronárias em um único exame. Isso pode ser feito através do uso de um regime de administração de meios de contraste dedicado, resultando na atenuação simultânea dos três territórios de vasos. A tomografia computadorizada multidetectores agiliza o atendimento de pacientes com dor torácica ao excluir SCA. A angiotomografia coronária com "exclusão tripla" fornece visualização não invasiva das artérias coronárias com avaliação simultânea das artérias pulmonares, aorta torácica e outras estruturas intratorácicas que possam explicar os sinais e sintomas que se sobrepõem à SCA. Após a realização do eletrocardiograma, todos os pacientes com IAM com supra de segmento ST devem ser submetidos à conduta terapêutica básica inicial, salve contraindicações a alguma das condutas. A conduta se baseia na sigla MONABCTH (morfina, oxigênio, nitrato, AAS, betabloqueador, clopidogrel, trombolítico e angioplastia). Obs.: a ICP primária é a terapia preferida e mais efetiva do que a fibrinólise ao desobstruir as artérias. Fibrinolíticos tem efeito até 2 horas do aparecimento da dor. Morfina: Controle da dor. Diluir 1 ampola de 10mg para 10mL de AD, ADM endovenoso de 2-4mL lentamente a cada 5 ou 15 minutos se necessário. TRIPLE RULE OUT MANEJO https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378603X15000674 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378603X15000674 Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Obs.: atenção ao risco de parada respiratória. Contraindicação: infarto de VD (hipotensão grave) e em indivíduo chocado. Oxigênio: indicado com SaO2 <94%, congestão pulmonar ou na presença de desconforto respiratório. Oxigênio suplementar deve ser reservado para pacientes com hipoxemia (oximetria de pulso <90%). Nitroglicerina: gera alívio para o desconforto isquêmico. Quando indicada, a nitroglicerina deve ser utilizada diluída em 250 ou 500mL de sopro glicosado a 5% ou fisiológico a 0,9%, BIC com doses progressivas a cada 5 a 10 minutos, até a dose anterior àquela que reduziu a pressão arterial em mais de 20mmHg, ou para menos de 100mmHg, e/ou aumento da frequência cardíaca para mais de 10% do basal. Quando indicado, o mononitrato de isosorbica IV e também na dose de 2,5mg/kg ao dia em infusão contínua. Dinidrato de Isossorbida (5mg) SL no máximo de 3 doses de 5mg com intervalo de 5 minutos. Contraindicados: estenose aórtica grave, cardiomiopatia hipertrófica, pacientes com pressão sistêmica <90mmHg ou queda >30mmHg em comparação ao basal, bradicardia ou taquicardia, infarto do VD ou naqueles que tenham usado inibidores da fosfodiesterase para disfunção erétil nas últimas 48 horas. Obs: a administração de nitroglicerina não deve ser feita como teste diagnóstico em pacientes com dor torácica ou apresentação não compatível com SCA, pois a resposta ao tto pode obscurecer o quadro clínico. Antiagregantes plaquetários: iniciar AAS (reduz mortalidade em 23%) na 160-325mg (mastigável) + clopidogrel 300-600mg. Manter AAD dose 100mg/dia sem interrupção e clopidogrel 75mg/dia até 12 meses. Dupla antiagregação plaquetária (benefício em reduzir eventos cardiovasculares maiores). Contraindicações: hipersensibilidade conhecida, úlcera péptica ativa, discrasia sanguínea ou hepatopatia grave. Betabloqueador: a curto prazo, os efeitos do uso dos beta-bloqueadores apresentam redução da frequência cardíaca e da pressão arterial. Contraindicações para o uso: FC <60bpm, PAS <100mmHg, intervalo PR>0,24s, BAV de 2º e 3º, história de asma ou doença pulmonar obstrutiva grave, sintomas de vasoespasmo por uso de cocaína, doença vascular periférica e disfunção ventricular grave (classe Killip ≥ II). Trombolíticos: critérios para utilizar: a queixa clínica é consistente com dor torácica do tipo isquêmica, supra de ST <1mm em pelo menos duas derivações anatomicamente contíguas, não há contraindicações ao tratamento trombolítico e paciente com menos de 75 anos (há risco maior de hemorragia). Não devem receber trombolíticos se houver uma contraindicação clara, tal como cirurgia de grande porte recente, sangramento interno ativo ou suspeita de dissecção da aorta, hipertensão grave ou história prévia de acidente vascular hemorrágio. Obs.: se acesso a ICP dentro de 90 minutos, ICP é o recomendado. Se acesso ICP >120 min, prefira fibrinólise. A ICP é indicada em pacientes com contraindicação ao tratamento trombolítico ou que estão hipotensos ou com choque cardiogênico. Estatinas: o uso de estatinas potentes em doses máximas está indicado para os indivíduos com síndromes coronarianas agudas iniciando a terapêutica na admissão hospitalar. Após os primeiros 30 dias, a terapia hipolipemiante deve ser ajustada para adequar a uma meta terapêutica de LDL-c <70 mg. Anticoagulantes: 1º opção enoxaparina (sem redução da mortalidade, mas redução primária do desfecho de morte ou IAM não fatal sem aumento importante de sangramento). Anticoagulação com heparina não fracionada, 5000Ul EV + infusão contínua 1000-1200ui/hora (>80kg) e TTPA entre 60- 85seg. Anticoagulação com HBPM, bollus EV de 30mg seguido de 1mg/kg SC de 12/12hrs (não ultrapassar 100mg/dia), >75 anos 0,75mg/kg de 12/12hrs sem bollus. Ajustar pela TFG. Angioplastia de resgate: está definida como uma alternativa naqueles pacientes que receberam trombolítico, mas que, por critérios clínicos ou laboratoriais, não apresentaram sucesso na reperfusão. Controle glicêmico: Pacientes diabéticos admitidos com IAM, tem mais chance de sangramento em 30 dias. O alvo dessa terapia é reduzir os níveis glicêmicos e evitar episódios de hipoglicemia (<70mg/dL). IECA: primeiras 24h após a reperfusão coronariana. Bloqueadores de canal de cálcio: Isquemia persistente quando beta-bloqueadores não são bem aceitos. Não usar hidropiridina. PARA IAMCSST Terapia de reperfusão: Química: Alteplase é o melhor, seguido pelo tenecteplase e por último estroptoquinase. Melhor Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús em 2h, pode ser usado até 12h. OBS.:contra- indicações relativas e absolutas. Mecânica: tratamento de reperfusão de eleição nos hospitais onde haja serviço de hemodinâmica ou quando seja possível a transferência em um tempo menor que 120 minutos. Indicada até 12h. o A reperfusão mecânica apresenta muitas vantagens sobre os trombolíticos: patencia arterial precoce acima de 90%, melhor manutenção do fluxo coronário pleno, menor lesão residual, melhora função ventricular, menor risco de sangramento e AVC, redução das taxas de reoclusão, reinfarto e mortalidade hospitalar presente em 10% Pré-requisitos: disponibilidade 24h, porta-balão 90minutos, equipe de cirurgia cardíaca disponível. *Ideal: tempo porta-agulha: 30 minutos. Tempo porta- balão: 90 minutos. Estudos têm demonstrado que a lesão miocárdica, definida por um valor elevado de troponina cardíaca (cTn), é frequentemente encontrada clinicamente e está associada a um prognóstico adverso. Embora a lesão miocárdica seja um pré-requisito para o diagnóstico de IAM, também é uma entidade nele mesmo. Para estabelecer um diagnóstico de IM, são necessários critérios além de biomarcadores anormais. A lesão miocárdica não isquêmica pode surgir secundária a muitas condições cardíacas, como miocardite, ou pode estar associada a condições não cardíacas, como insuficiência renal. Portanto, para pacientes com valores de cTn aumentados, os médicos devem distinguir se os pacientes sofreram uma lesão miocárdica não isquêmica ou um dos subtipos de IAM. Se não houver evidência para apoiar a presença de isquemia miocárdica, o diagnóstico pode ser alterado se a avaliação subsequente indicar critérios para IAM. DEFINIÇÃO DE IM: denota a presença de lesão miocárdica aguda detectada por biomarcadores cardíacos anormais no cenário de evidência de isquemia miocárdica. O IM é definido patologicamente como a morte das células miocárdicas devido à isquemia prolongada. Glicogênio celular diminuído e miofibrilas relaxadas e ruptura do sarcolema (fina camada de tecido conjuntivo que envolve a fibra muscular) são as primeiras alterações ultraestruturais e são observadas tão cedo quanto 10 a 15 minutos após o início da isquemia. Anormalidades mitocondriais são observadas tão cedo quanto 10 min após oclusão coronária por microscopia eletrônica e são progressivas. Pode levar horas até que a necrose do miócito possa ser identificada pelo exame post mortem em humanos; isso contrasta com os modelos animais, nos quais a evidência bioquímica de morte celular miocárdica devido à apoptose pode ser detectada dentro de 10 minutos de isquemia miocárdica induzida em associação com morte do miócito. Experimentalmente, a necrose progride do subendocárdio para o subepicárdio ao longo de vários horas. O curso do tempo pode ser prolongado pelo aumento do fluxo colateral, redução dos determinantes do consumo de oxigênio miocárdico e oclusão/reperfusão intermitente, que podem pré- condicionar o coração. A implementação oportuna da terapia de reperfusão, quando apropriada, reduz a lesão isquêmica do miocárdio. A troponina cardíaca I (cTnI) e T (cTnT) são componentes do aparelho contrátil das células miocárdicas e são expressas quase exclusivamente no coração. Aumentos nos valores de cTnI não foram relatados após lesão de tecidos não cardíacos. A situação é mais complexa para cTnT. Outros biomarcadores, por exemplo, a isoforma MB da creatina quinase (CK-MB), são menos sensíveis e menos específicos. A lesão miocárdica é definida como presente quando os níveis sanguíneos de cTn estão aumentados acima do limite superior de referência do percentil 99. A lesão pode ser aguda, como evidenciado por um padrão dinâmico crescente e/ou decrescente recentemente detectado de valores de cTn acima do 99º percentil URL, ou crônica, no cenário de níveis persistentemente elevados de cTn. Critérios para lesão miocárdica A detecção de um valor de cTn elevado acima do percentil 99 da é definida como lesão miocárdica. A lesão é considerada aguda se houver aumento e/ou queda dos valores de cTn CARACTERÍSICAS PATOLÓGICAS DE ISQUEMIA E INFARTO DO MIOCÁRDIO DETECÇÃO DE BIOMARCADORES DE LESÃO MIOCÁRDICA E INFARTO Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Embora valores elevados de cTn reflitam lesão às células miocárdicas, eles não indicam os mecanismos fisiopatológicos subjacentes e podem surgir após estiramento mecânico induzido por pré- carga ou estresse fisiológico em corações normais. Várias causas têm sido sugeridas para liberação de proteínas estruturais do miocárdio, incluindo renovação normal de células miocárdicas, apoptose, liberação celular de produtos de degradação de cTn, aumento da permeabilidade da parede celular, formação e liberação de bolhas membranosas e necrose de miócitos. No entanto, não é clinicamente possível distinguir quais aumentos dos níveis de cTn são devidos a quais mecanismos. No entanto, independentemente do mecanismo, a lesão miocárdica aguda, quando associada a um padrão ascendente e/ou decrescente dos valores de cTn com pelo menos um valor acima do percentil 99 URL e causado por isquemia miocárdica,é designado como infarto agudo do miocárdio. Evidência histológica de lesão miocárdica com morte de miócitos pode ser detectado em condições clínicas associadas a mecanismos não isquêmicos. A complexidade das circunstâncias clínicas às vezes pode dificultar a discriminação de mecanismos individuais específicos de lesão miocárdica. Nessa situação, as contribuições multifatoriais que resultam em lesão miocárdica devem ser descritas no prontuário do paciente. O início da isquemia miocárdica é o passo inicial no desenvolvimento do IAM e resulta de um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio. A isquemia miocárdica em um ambiente clínico pode ser identificada com mais frequência a partir da história do paciente e do ECG. Possíveis sintomas isquêmicos incluem várias combinações de desconforto torácico, de extremidade superior, mandibular ou epigástrico durante o esforço ou em repouso, ou um equivalente isquêmico, como dispneia ou fadiga. Muitas vezes, o desconforto é difuso; não localizado, nem posicional, nem afetado pelo movimento da região. No entanto, esses sintomas não são específicos para isquemia miocárdica e podem ser observados em outras condições, como queixas gastrointestinais, neurológicas, pulmonares ou musculoesqueléticas. O IM pode ocorrer com sintomas atípicos, como palpitações ou parada APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DE INFARTO DO MIOCÁRDIO Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús cardíaca, ou mesmo sem sintomas. Episódios muito breves de isquemias muito curtas para causar necrose também pode causar liberação de cTn e elevações. Os miócitos envolvidos podem subsequentemente morrer devido à apoptose. Se a isquemia miocárdica estiver presente clinicamente ou detectada por alterações no ECG juntamente com lesão miocárdica, manifestada por um aumento crescente e/ou decrescente dos valores de cTn, o diagnóstico de IAM agudo é apropriado. Se a isquemia miocárdica não estiver presente clinicamente, então níveis elevados de cTn podem ser indicativos de lesão miocárdica aguda se o padrão de valores estiver subindo e/ou caindo, ou relacionado a uma lesão crônica mais contínua se o padrão não mudar. Pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) que são descartados para IAM com valores normais de biomarcadores cardíacos (≤99 percentil URL) podem ter angina instável ou um diagnóstico alternativo. Esses pacientes devem ser avaliados e tratados adequadamente. Por uma questão de estratégias de tratamento imediato, como terapia de reperfusão, é prática comum designar IAM em pacientes com desconforto torácico ou outros sintomas isquêmicos, que desenvolvem novas elevações do segmento ST em duas derivações contíguas ou novos bloqueios de ramo com padrões de repolarização isquêmica como um IM de elevação ST (IAMCSST). Em contraste, os pacientes sem supradesnivelamento do segmento ST na apresentação são geralmente designados como IAM sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST). As categorias de pacientes com IAMCSST, IAMSSST ou angina instável são habitualmente incluídas no conceito de SCA. Além dessas categorias, o IAM pode ser classificado em vários tipos com base em diferenças patológicas, clínicas e prognósticas, juntamente com diferentes estratégias de tratamento. INFARTO DO MIOCÁRDIO TIPO 1 IM causado por doença arterial coronariana aterotrombótica (DAC) e geralmente precipitada por ruptura da placa aterosclerótica (ruptura ou erosão) é designado como IM tipo 1. A carga relativa de aterosclerose e trombose na lesão culpada varia muito, e o componente trombótico dinâmico pode levar à embolização coronária distal, resultando em necrose do miócito. A ruptura da placa não só pode ser complicada por trombose intraluminal, mas também por hemorragia na placa através da superfície rompida. A demonstração post-mortem de um aterotrombo na artéria que supre o miocárdio infartado, ou uma área circunscrita macroscopicamente grande de necrose com ou sem hemorragia intramiocárdica, atende aos critérios de IAM tipo 1, independentemente dos valores de cTn. É essencial integrar os achados do ECG com o objetivo de classificar o IAM tipo 1 em IAM com CSST ou SSST para estabelecer o tratamento adequado de acordo com as Diretrizes atuais. INFARTO DO MIOCÁRDIO TIPO 2 O mecanismo fisiopatológico que leva à lesão isquêmica do miocárdio no contexto de uma incompatibilidade entre o suprimento de oxigênio e a demanda foi classificada como IAM tipo 2. Por definição, a ruptura aguda da placa aterotrombótica não é uma característica do IAM tipo 2. Em pacientes com DAC estável conhecida ou presumida, um estresse agudo, como sangramento gastrointestinal agudo com queda abrupta da hemoglobina, ou taquiarritmia sustentada com manifestações clínicas de isquemia miocárdica, pode resultar em lesão miocárdica e IAM tipo 2. Esses efeitos são devidos ao fluxo sanguíneo insuficiente para a isquemia do miocárdio para atender a demanda aumentada de oxigênio do miocárdio do estressor. Os limiares isquêmicos podem variar substancialmente em pacientes individuais, dependendo da magnitude do estresse, da presença de comorbidades não cardíacas e da extensão da DAC subjacente e das anormalidades estruturais cardíacas. A maioria dos estudos mostra maior frequência de IAM tipo 2 em mulheres. As taxas de mortalidade CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DO INFARTO DO MIOCÁRDIO Critérios para IM tipo 1: Detecção de um aumento e/ou queda de cTn com pelo menos um valor acima do URL do percentil 99 e com pelo menos um dos: Sintomas de isquemia miocárdica aguda; Novas alterações isquêmicas do ECG; Desenvolvimento de ondas Q patológicas; Evidência de imagem de nova perda de miocárdio viável ou nova anormalidade de movimento da parede regional em um padrão consistente com uma etiologia isquêmica; A identificação de um trombo coronário por angiografia incluindo imagem intracoronariana ou por autópsia. Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús a curto e longo prazo para pacientes com IAM tipo 2 são geralmente mais altas do que para pacientes com IAM tipo 1 na maioria, mas não em todos os estudos devido ao aumento da prevalência de comorbidades. A aterosclerose coronariana é um achado comum em pacientes com IAM tipo 2 selecionados para cineangiocoronariografia. Em geral, esses pacientes têm pior prognóstico do que aqueles sem DAC. Foi demonstrado que a frequência de supradesniveamento do segmento ST em tipo 2 varia de 3 a 24%. Em alguns casos, embolia coronariana causadas por trombos, cálcio ou vegetação dos átrios ou ventrículos, ou dissecção aguda da aorta pode resultar em IAM tipo 2. Espontânea dissecção de artéria coronária com ou sem hematoma intramural é outra condição não aterosclerótica que pode ocorrer, principalmente em mulheres jovens. É definida como dissecção espontânea da parede da artéria coronária com acúmulo de sangue dentro do falso lúmen, podendo comprimir o verdadeiro lúmen em graus variados. O desequilíbrio oferta/demanda de oxigênio do miocárdio atribuível à isquemia miocárdica aguda pode ser multifatorial, relacionado a: perfusão miocárdica reduzida devido a aterosclerose coronária fixa sem ruptura da placa, espasmo da artéria coronária, disfunção microvascular coronariana (que inclui disfunção endotelial, disfunção das células musculares lisas e desregulação da inervação do sistema simpático), embolia coronária, dissecção da artéria coronária com ou sem hematoma intramural ou outros mecanismos que reduzem a oferta de oxigênio, como bradiarritmia grave, insuficiência respiratória com hipoxemia grave, anemia grave e hipotensão/choque; ou ao aumentoda demanda miocárdica de oxigênio devido a ritmo taquiarritmia sustentada ou hipertensão grave com ou sem hipertrofia do ventrículo esquerdo. Esse tratamento pode incluir ajuste de volume, controle da pressão arterial, administração de hemoderivados, controle da frequência cardíaca e suporte respiratório. Infarto do miocárdio tipo 2 e lesão miocárdica IAM tipo 2 e lesão miocárdica são frequentemente encontrados na prática clínica e ambos estão relacionados a um desfecho ruim. Um modelo conceitual para facilitar a distinção clínica entre isquemia aguda lesão miocárdica com ou sem evento aterotrombótico agudo (IAM tipo 1 ou tipo 2) versus condições sem lesão miocárdica isquêmica aguda é exibida na Figura 6. O IM agudo requer um padrão ascendente e/ou descendente dos valores de cTn. A lesão miocárdica aguda também pode manifestar esse padrão, mas se a lesão estiver relacionada à doença cardíaca estrutural, os valores de cTn podem ser estáveis e imutáveis. O IAM tipo 2 e a lesão miocárdica não isquêmica podem coexistir. Deve-se reconhecer que algumas entidades de doença podem estar em ambos os lados do diagrama, por exemplo, insuficiência cardíaca aguda que pode ocorrer no contexto de isquemia miocárdica aguda. No entanto, valores anormais de cTn no contexto de insuficiência cardíaca aguda e/ou crônica são muitas vezes melhor Critérios para IM tipo 2: Detecção de um aumento e/ou queda dos valores de cTn com pelo menos um valor acima do percentil 99 URL, e evidência de um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio do miocárdio não relacionada à aterotrombose coronariana aguda, exigindo pelo menos um dos seguintes: Sintomas de isquemia miocárdica aguda; Novas alterações isquêmicas do ECG; Desenvolvimento de ondas Q patológicas; Evidência de imagem de nova perda de miocárdio viável ou nova anormalidade de movimento da parede regional em um padrão consistente com uma etiologia isquêmica. Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús categorizados como uma condição de lesão miocárdica. INFARTO DO MIOCÁRDIO TIPO 3 A detecção de biomarcadores cardíacos no sangue é fundamental para estabelecer o diagnóstico de IM. No entanto, os pacientes podem manifestar uma apresentação típica de isquemia/infarto do miocárdio, incluindo novas alterações isquêmicas no ECG ou fibrilação ventricular, e morrer antes que seja possível obter sangue para determinação de biomarcadores cardíacos; ou o paciente pode sucumbir logo após o início dos sintomas antes de ocorrer uma elevação dos valores dos biomarcadores. Esses pacientes são designados como portadores de IAM tipo 3, quando a suspeita de um evento isquêmico agudo do miocárdio é alta, mesmo quando não há evidência de IM por biomarcador cardíaco. Quando um IAM tipo 3 é diagnosticado e uma autópsia subsequente revela evidência recente de IM, com um trombo recente ou recente na artéria relacionada ao infarto, o IM tipo 3 deve ser reclassificado para IM tipo 1. A lesão miocárdica de procedimento cardíaco relacionada a procedimentos de revascularização coronariana, seja intervenção coronária percutânea (ICP) ou cirurgia de revascularização miocárdica (RM), pode estar temporalmente relacionada ao próprio procedimento, refletindo questões periprocedimento, ou pode ocorrer posteriormente, refletindo complicações de um dispositivo, como trombose precoce ou tardia do stent ou reestenose intra-stent para ICP, ou oclusão do enxerto ou estenose com revascularização do miocárdio. A ressonância magnética cardíaca (RMC) com realce tardio por gadolínio (LGE) permite a avaliação da lesão miocárdica do procedimento. Valores elevados de cTn detectados após um procedimento de revascularização coronariana podem refletir lesão miocárdica processual. É importante que, se o valor basal antes do procedimento estiver acima do percentil 99 do URL, é essencial que os níveis de cTn estejam estáveis antes da avaliação para estabelecer com segurança a presença de lesão miocárdica aguda do procedimento. Não é possível determinar, ao intervir em um paciente com um evento agudo de IM resultando em um aumento do nível de cTn, quando de um determinado aumento está relacionado ao IM e quanto é devido ao procedimento. A ocorrência de lesão miocárdica processual pode ser detectada pela medida da cTn antes do procedimento e repetida 3 a 6 horas depois. Onde o segundo valor está aumentando, amostragem adicional deve ser realizada para documentar o valor de pico de cTn. Níveis crescentes após o procedimento só podem ser atribuídos com certeza à lesão miocárdica do procedimento quando os valores de cTn pré-procedimento são normais (<99 percentil URL), ou se estão estáveis ou em queda. Para pacientes que apresentam uma SCA e são submetidos a um procedimento de revascularização coronária imediata, resultando em apenas um único valor basal pré-procedimento normal ou levemente elevado, seguido por valores pós-procedimento subsequentes que continuam a aumentar, o aumento pós-procedimento deve ser atribuído ao evento de índice. Dados recentes corroboraram a importância de valores elevados de cTn pré-procedimento como marcador prognóstico em pacientes que apresentam valores que se elevam após o procedimento. Para diagnosticar lesão miocárdica processual no cenário clínico de apenas um único valor de cTn pré- procedimeno, os valores de Tn cardíaco precisariam ser estáveis ou cair após o procedimento, seguido por um aumento subsequente que exceda o URL do percentil 99 e, se o valor não tiver retornado à linha de base, o aumento deve ser >20% com um valor absoluto >percentil 99 URL. Aumentos autônomos pós-procedimento dos valores de cTn são suficientes para estabelecer um diagnóstico de lesão miocárdica do procedimento, mas não para o diagnóstico de IAM tipo 4A. O IAM tipo 4A requer uma elevação dos valores de cTn maior que cinco vezes o URL do percentil 99 em pacientes com valores basais normais ou, em pacientes com cTn pré- procedimento são estáveis (variação <20%) ou LESÃO MIOCÁRDICA RELACIONADA AO PROCEDIMENO CORONARIANO Critérios para lesão miocárdica de procedimento cardíaco A lesão miocárdica de procedimento cardíaco é definida arbitrariamente por aumentos dos valores de cTn (> 99º percentil URL) em pacientes com valores basais normais (<99 percentil URL) ou um aumento de cTn > 20% do valor da linha de base quando estiver acima do URL do percentil 99, mas estiver estável ou em queda. INFARTO DO MIOCÁRDIO ASSOCIADO À INTERVENÇÃO COROÁRIA PERCUTÂNEA (INFARTO DO MIOCARDIO TIPO 4A) Critérios para IM tipo 3: Pacientes que sofrem morte cardíaca, com sintomas sugestivos de isquemia miocárdica acompanhada por presumida nova isquemia. Alterações no ECG ou fibrilação ventricular, mas morrem antes que amostras de sangue para biomarcadores possam ser obtidas, ou antes que aumentos nos biomarcadores cardíacos possam ser identificados, ou IAM é detectado por autópsia. Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús caindo, o cTn pós-procedimento deve aumentar >20% para um valor absoluto maior que cinco vezes o 99º URL de percentil. Além disso, deve haver evidência de nova isquemia miocárdica, seja por alterações no ECG, evidências de imagem ou por complicações relacionadas ao procedimento associadas à redução do fluxo sanguíneo coronariano, como dissecção coronariana, oclusão de uma artéria epicárdica principal ou oclusão de ramo lateral/trombo, interrupção do fluxo colateral, fluxo lento ou sem refluxo, ou embolização distal. Outros critérios que atendem à definição de IAM tipo 4A, independentemente dos valores de hs-cTnou cTn, são o desenvolvimento de novas ondas Q patológicas ou evidência de autópsia de trombo relacionado ao procedimento recente na artéria culpada. Uma subcategoria de IAM relacionado a ICP é trombose de stent/scaffold, IAM tipo 4B, conforme documentado por angiografia ou autópsia usando os mesmos critérios utilizados para IAM tipo 1. É importante indicar o tempo de ocorrência da trombose do stent/scaffold em relação ao tempo do procedimento de ICP. As seguintes categorias temporais são sugeridas: aguda, 0–24 h; subagudo, >24 h a 30 dias; tardia, >30 dias a 1 ano; e muito tarde >1 ano após implante de stent/ scaffold Ocasionalmente ocorre IM e – na angiografia, reestenose intra-stent ou reestenose após angioplastia com balão no território do infarto – é a única explicação angiográfica, pois nenhuma outra lesão ou trombo culpado pode ser identificado. Este tipo de IM relacionado a ICP é designado como IM tipo 4C, definido como reestenose focal ou difusa, ou uma lesão complexa associada a um aumento e/ou queda de valores de cTn acima do 99º percentil URL aplicado, os mesmos critérios utilizados para o tipo 1 IM. Inúmeros fatores podem levar à lesão miocárdica processual durante um procedimento de revascularização do miocárdio. Muitos deles estão relacionados aos detalhes da preservação cardíaca, à extensão da lesão traumática direta ao miocárdio, bem como a qualquer possível lesão isquêmica. Por essa razão, aumentos nos valores de cTn devem ser esperados após todos os procedimentos de CRM, que precisam ser levados em consideração ao comparar a extensão da lesão miocárdica do procedimento após cirurgia cardíaca associada a abordagens menos invasivas. Dependendo se é cirurgia fora da bomba ou na bomba, a lesão miocárdica processual é observada em 32 a 44% dos pacientes de CRM quando quantificada por RMC-LGE. Valores muito altos de cTn estão mais frequentemente associados a eventos relacionados à artéria coronária. Assim, embora os biomarcadores cardíacos e especialmente a cTn parecem robustos para a detecção de lesão miocárdica processual e também, na presença de nova isquemia miocárdica, para a detecção de IM tipo 5, é difícil definir um valor de corte específico para todos os procedimentos e todos os ensaios de cTn. No entanto, para garantir a consistência com os padrões análogos da definição anterior de IM tipo 5 e devido à falta de novas evidências científicas que identifiquem critérios superiores para definir este subtipo de MI, sugere-se que um valor de cTn > 10 vezes o 99º O percentil URL é aplicado como ponto de corte durante as primeiras 48h após a CRM, ocorrendo a partir de um valor de cTn de linha de base Critérios para IM relacionado a PCI 48h após procedimento de índice (IM tipo 4A) O IM relacionado à intervenção coronariana é arbitrariamente definido por uma elevação dos valores de cTn mais de cinco vezes o percentil 99 da URL em pacientes com valores basais normais. Em pacientes com cTn pré- procedimento elevada em que o nível de cTn está estável (variação <= 20%) ou caindo, a cTn pós-procedimento deve aumentar em >20%. No entanto, o valor absoluto pós- procedimento ainda deve ser pelo menos cinco vezes o URL do percentil 99. Além disso, é necessário um dos seguintes elementos: Novas alterações isquêmicas do ECG; Desenvolvimento de novas ondas Q patológicas; Evidência de imagem de nova perda de miocárdio viável ou nova anormalidade de movimento da parede regional em um padrão consistente com uma etiologia isquêmica; Achados angiográficos consistentes com uma complicação limitante do fluxo do procedimento, como dissecção coronariana, oclusão de uma artéria epicárdica principal ou oclusão/trombo de ramo lateral, interrupção do fluxo colateral ou embolização distal. O desenvolvimento isolado de novas ondas Q patológicas atende aos critérios de IM tipo 4A se os valores de cTn forem elevados e subindo, mas menos de cinco vezes o URL do percentil 99. A demonstração post-mortem de um trombo relacionado ao procedimento na artéria culpada ou uma área macroscopicamente grande circunscrita de necrose com ou sem hemorragia intramiocárdica atende aos critérios de IAM tipo 4A. TROMBOSE DE STENT/SCAFFOLD ASSOCIADA A INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA (INFARTO DO MIOCÁRDIO TIPO 4B) REESTENOSE ASSOCIADA À INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA (INFARTO DO MIOCARDIO TIPO 4C) INFARTO DO MIOCÁRDIO ASSOCIADO À ENXERTO DE BYPASS NA ARTÉRIA CORONÁRIA (INFARTO DO MIOCARDIO TIPO 5) Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús normal (<99 percentil URL), para o diagnóstico de IM tipo 5. É importante que a elevação pós-procedimento dos valores de cTn seja acompanhada por ECG, angiografia ou evidência de imagem de nova isquemia miocárdica/nova perda de viabilidade miocárdica. Deve-se reconhecer que o desvio do segmento ST e as alterações da onda T são comuns após a CRM devido a lesão epicárdica e não são indicadores confiáveis de isquemia miocárdica nesse cenário. No entanto, a elevação do segmento ST com infradesnivelamento recíproco do segmento ST ou outros padrões específicos de ECG podem ser um achado mais confiável de um evento isquêmico potencial. A elevação isolada acentuada dos valores de cTn no período pós-operatório de 48h, mesmo na ausência de ECG/angiografia ou outras evidências de imagem de IM, indica lesão miocárdica com prognóstico significativo de procedimento cardíaco. A presença de lesão miocárdica significativa de procedimento em pacientes com problemas operatórios (por exemplo, dificuldade em sair do bypass, anastomoses tecnicamente difíceis em uma aorta fortemente calcificada, evidência perioperatória de isquemia miocárdica, etc.) devem levar à revisão clínica do procedimento e/ou considerar testes diagnósticos adicionais para possível IAM tipo 5. O IM incidente é definido como o primeiro IM do indivíduo. Quando as características do IM ocorrer nos primeiros 28 dias após um evento incidente, o segundo evento não é contado como novo IAM para fins epidemiológicos. Se as características do IAM ocorrerem após 28 dias após um IAM incidente, é considerado um IAM recorrente. O termo reinfarto é usado clinicamente para um IM agudo que ocorre dentro de 28 dias de um incidente ou IM recorrente. O diagnóstico de ECG de suspeita de reinfarto após o IM inicial pode ser confundido pelas alterações evolutivas iniciais do ECG. O reinfarto deve ser considerado quando há recorrência de supradesnivelamento do segmento ST >_1 mm ou novas ondas Q patognomônicas aparecem em pelo menos duas derivações contíguas, particularmente quando associadas a sintomas isquêmicos. No entanto, a reelevação do segmento ST também pode ser observada na ameaça de ruptura miocárdica ou em casos de pericardite, devendo levar a uma avaliação diagnóstica adicional. Em pacientes com suspeita de reinfarto devido a sinais ou sintomas clínicos após o IAM inicial, uma medição imediata de cTn é recomendado. Uma segunda amostra deve ser obtida 3-6 h mais tarde ou mais cedo com ensaios de cTn mais sensíveis. Se a concentração de cTn estiver elevada, mas estável ou diminuindo no momento da suspeita de reinfarto, o diagnóstico de reinfarto requer um aumento >20% do valor de cTn na segunda amostra. Se a concentração inicial de cTn for normal, aplicam-se os critérios para novo infarto agudo do miocárdio. Procedimentos cardíacos, como intervenções valvulares transcateter, podem causar lesão miocárdica, tanto por trauma direto ao miocárdio quanto pela criação deisquemia regional secundária à obstrução coronária ou embolização. A ablação de arritmias envolve lesão miocárdica processual controlada pela aplicação de aquecimento ou resfriamento do tecido. A extensão da lesão miocárdica processual pode ser avaliada por medições seriadas de cTn. Os aumentos dos valores de cTn neste contexto devem ser considerados como lesão miocárdica processual e não rotulados como IAM, a menos que os critérios de biomarcadores e um dos critérios auxiliares para isquemia miocárdica aguda listados para IAM tipo 5 estão presentes Critérios para IAM relacionado a CRM 48h após o procedimento índice (IM tipo 5) O IM relacionado à CRM é definido arbitrariamente como elevação dos valores de cTn > 10 vezes o percentil 99 da URL em pacientes com valores de cTn de linha de base normais. Em pacientes com cTn pré-procedimento elevada, nos quais os níveis de cTn estão estáveis (variação <=20%) ou em queda, a cTn pós-procedimento deve aumentar >20%. No entanto, o valor pós-procedimento absoluto ainda deve ser > 10 vezes o URL do percentil 99. Além disso, é necessário um dos seguintes elementos: Desenvolvimento de novas ondas Q patológicas; Nova oclusão de enxerto documentada por angiografia ou nova oclusão de artéria coronária nativa; Evidência de imagem de nova perda de miocárdio viável ou nova anormalidade de movimento da parede regional em um padrão consistente com uma etiologia isquêmica. O desenvolvimento isolado de novas ondas Q patológicas atende aos critérios de IM tipo 5 se os valores de cTn estiverem elevados e crescentes, mas <10 vezes o URL do percentil 99 INFARTO DO MIOCÁRDIO RECORRENTE REINFARTO LESÃO E INFARTO DO MIOCÁRDIO ASSOCIADOS A PROCEDIMENTOS CARDÍACOS QUE NÃO SEJAM REVASCULARIZAÇÃO LESÃO E INFARTO DO MIOCÁRDIO ASSOCIADOS A PROCEDIMENTOS NÃO CARDÍACOS Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús O IAM perioperatório é uma das complicações mais importantes em cirurgias não cardíacas de grande porte e está associado a um prognóstico ruim. A maioria dos pacientes que tem IAM perioperatório não apresentará sintomas isquêmicos devido à anestesia, sedação ou medicamentos para alívio da dor. No entanto, o IAM perioperatório assintomático está tão fortemente associado à mortalidade em 30 dias quanto o IAM sintomático. O conhecimento sobre os valores de hs-cTn na linha de base pode ajudar a identificar pacientes com elevação crônica de cTn antes da cirurgia, bem como aqueles com risco aumentado durante e após o procedimento.. Aqueles com um padrão crescente de valores elevados de hs- cTn estão em risco particular; quanto maior o aumento, maior o risco. Reconhece-se que o período perioperatório é caracterizado pelo aumento da demanda metabólica cardíaca que pode levar ao IAM em pacientes com DAC estável. Assim, uma investigação angiográfica identificou isquemia miocárdica de demanda como a etiologia predominante do IAM perioperatório, que juntamente com um aumento e/ou queda dos valores de cTn indica IM tipo 2. No entanto, outros estudos angiográficos detectaram ruptura da placa coronariana em 50-60% dos pacientes com IAM perioperatório que se qualifica como IAM tipo 1. Por outro lado, lesão miocárdica perioperatória sem evidência isquêmica auxiliar indicativa de IAM é uma complicação comum após cirurgia não cardíaca que está associada a mortalidade substancial a curto e longo prazo em um nível de infarto do miocárdio perioperatório. A vigilância pós-operatória da cTn é recomendada para indivíduos de alto risco. A fim de interpretar adequadamente a etiologia de valores pós- operatórios elevados, é necessário um valor pré- operatório de linha de base para determinar se o aumento é agudo ou mais crônico. Ainda requer, além de um aumento dos valores de cTn, alterações do segmento ST na telemetria/ECG, episódios repetidos de hipóxia, hipotensão, taquicardia ou evidência de IM por imagem. Dependendo do ensaio usado, valores de cTn detectáveis a claramente elevados indicativos de lesão miocárdica podem ser observados em pacientes com insuficiência cardíaca (IC), tanto com fração de ejeção (FE) reduzida quanto com FE preservada. Usando ensaios de hs-cTn, concentrações mensuráveis de hs-cTn podem estar presentes em quase todos os pacientes com IC, com uma porcentagem significativa excedendo o percentil 99 do URL, particularmente naqueles pacientes com síndromes de IC mais graves, como na IC agudamente descompensada. Além do IAM tipo 1, vários mecanismos têm sido propostos para explicar as concentrações de cTn mensuráveis patologicamente elevadas em pacientes com IC. Por exemplo, o IAM tipo 2 pode resultar de pressão transmural aumentada, obstrução coronária de pequenos vasos, disfunção endotelial, anemia ou hipotensão. Além do IM tipo 1 ou IM tipo 2, a apoptose de cardiomiócitos e a autofagia por estiramento da parede foram demonstradas experimentalmente. A toxicidade celular direta relacionada à inflamação, neuro-hormônios circulantes e processos infiltrativos pode se apresentar com IC e medições anormais de cTn indicando lesão miocárdica. Finalmente, a exocitose do pool de troponina citosólica liberável precoce na corrente sanguínea de cardiomiócitos estressados também foi sugerida como causa de valores elevados de cTn. No contexto de uma apresentação de IC agudamente descompensada, a cTn deve sempre ser prontamente medida e o ECG registrada, com o objetivo de identificar ou excluir a isquemia miocárdica como precipitante. Nesse cenário, valores elevados de cTn devem ser interpretados com um alto nível de suspeita de IAM tipo 1 se for observada uma elevação e/ou queda significativa do marcador, especialmente se for acompanhada de desconforto torácico ou outros sintomas sugestivos de isquemia miocárdica, e/ou se forem encontradas novas alterações isquêmicas no ECG ou perda da função miocárdica em testes não invasivos. A falta de ar, sintoma cardinal da IC agudamente descompensada, pode ser um equivalente isquêmico, mas na ausência de evidências corroborantes de um mecanismo coronariano, recomenda-se cautela na sua interpretação. A anatomia da artéria coronária pode ser conhecida e esse conhecimento pode ser usado para interpretar resultados anormais de cTn. No entanto, informações adicionais - como função renal, estudos de perfusão miocárdica, angiografia coronária ou CMR—é frequentemente necessário para entender melhor a causa dos valores de cTn desviantes. A síndrome de Takotsubo (STT) pode mimetizar o IAM e é encontrada em 1 a 2% dos pacientes com suspeita de IAMCSST. O início da STT é frequentemente desencadeado por intenso estresse emocional ou físico, como luto. Mais de 90% dos LESÃO OU INFARTO DO MIOCÁRDIO ASSOCIADO À INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SINDROME DE TAKOTSUBO Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús pacientes são mulheres na pós-menopausa. Complicações cardiovasculares ocorrem em 50% dos pacientes com STT, e a mortalidade dos pacientes internados é semelhante ao IAMCSST (4 – 5%) devido a choque cardiogênico, ruptura ventricular ou arritmias malignas. A STT geralmente se apresenta semelhante à SCA. A elevação do segmento ST é frequente (44%), mas a extensão da elevação do segmento ST é geralmente generalizada nas derivações laterais e precordiais, além da distribuição de uma única artéria coronária. A depressão do segmento ST ocorre em <10% dos pacientes e após 12 – 24 h, a inversão profunda e simétrica da onda T e o prolongamento do QTc são tipicamente observados. Geralmente há elevações transitórias nos níveis de cTn (>95% dos casos), mas os valores de pico de cTn observados são modestos e contrastam com o grande território dealterações no ECG ou disfunção ventricular esquerda (VE). O aumento e a queda nos níveis de cTn suportam uma lesão miocárdica aguda, secundária aos altos picos de catecolaminas que são conhecidos por desencadear a liberação de cTn dos cardiomiócitos. O vasoespasmo coronariano, a hipercontratilidade de alta tensão miocárdica ou a pós-carga ventricular alta também podem contribuir para a isquemia miocárdica. O diagnóstico de STT deve ser suspeitado quando as manifestações clínicas e as anormalidades do ECG são desproporcionais ao grau de elevação dos valores de cTn e quando a distribuição das anormalidades da contratilidade da parede do VE não correlacionar com uma distribuição de artéria coronária única. No entanto, a angiografia coronária e a ventriculografia são muitas vezes necessárias para garantir o diagnóstico Na maioria dos casos, as artérias coronárias são angiograficamente normais, e onde a DAC está presente (15% dos casos) não é suficiente para explicar o padrão observado de anormalidades da motilidade regional da parede. A ventriculografia esquerda durante o cateterismo e/ou ecocardiograma pode mostrar uma variedade de anormalidades da movimentação da parede regional do VE, incluindo acinesia apical (82% dos pacientes), médio ventricular (14,6%), basal (2,2%) ou focal (1,5%) ou hipocinesia em padrão circunferencial envolvendo mais de um território coronariano. A evidência de edema miocárdico é frequentemente observada na RMC durante a fase aguda, mas a RTG geralmente está ausente. O tempo de recuperação da função do VE varia de horas a várias semanas. A função cardíaca pode não retornar ao normal, com anormalidades persistentes da função diastólica, reserva miocárdica durante o exercício ou distúrbios do ritmo no acompanhamento de longo prazo em 10 a 15% dos pacientes. Na ausência de recuperação de anormalidades regionais da motilidade da parede, a RMC-LGE é recomendada para excluir IM com recanalização espontânea Existem casos raros descritos em que IM e STT coexistem, por exemplo, TTS induzida por IM ou TTS com ruptura de placa secundária, mas isso ocorre quando as anormalidades agudas da motilidade da parede regional são mais extensas do que o território da artéria coronária culpada e preenchem o padrão e a definição de STT. É cada vez mais reconhecido que existe um grupo de pacientes com IAM sem DAC obstrutiva angiográfica (estenose >_ 50% do diâmetro em um vaso epicárdico principal), e o termo infarto do miocárdio com artérias coronárias não obstrutivas (MINOCA) foi cunhado para essa entidade. O diagnóstico de MINOCA, como o diagnóstico de IM, indica que existe um mecanismo isquêmico responsável pela lesão do miócito (ou seja, causas não isquêmicas como miocardite foram excluídas). Além disso, o diagnóstico de MINOCA exige que a DAC obstrutiva não tenha sido negligenciada inadvertidamente (por exemplo, dissecção espontânea da artéria coronária). A prevalência de MINOCA é estimada em 6 a 8% entre os pacientes diagnosticados com IAM e mais comum em mulheres do que em homens, bem como em pacientes com IAMSSST em comparação com aqueles com IAMCSST. A ruptura da placa aterosclerótica e a trombose coronariana podem ser uma causa de MINOCA, ou seja, tipo 1 MI. No entanto, espasmo coronário e dissecção coronária espontânea também podem estar envolvidos, ou seja, IAM tipo 2, juntamente com outras causas possíveis. Métodos adicionais de imagem coronariana e testes funcionais podem ser úteis para elucidar os mecanismos de isquemia em MINOCA. Muitos pacientes com doença renal crônica (DRC) apresentam elevação dos valores de cTn. A maioria dos pacientes com doença renal em estágio terminal terá elevação dos valores de hs-cTn acima do percentil 99 URL. Isso é particularmente o caso de hs-cTnT, que é mais frequentemente elevado em comparação com hs-cTnI. Foi demonstrado usando ensaios de hs-cTn que a disfunção renal é INFARTO DO MIOCÁRDIO COM ARTÉRIAS CORONÁRIAS NÃO OBSTRUTIVAS LESÃO MIOCÁRDICA E/OU INFARTO ASSOCIADO À DOENÇA RENAL Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús comumente associada a anormalidades cardiovasculares. Um efeito menor na depuração renal de cTn foi demonstrado quando os níveis são baixos, mas não em resposta a episódios agudos de lesão miocárdica. Os mecanismos incluem aumento da pressão ventricular, obstrução coronária, anemia, hipotensão e possivelmente efeitos tóxicos diretos no miocárdio associados ao estado urêmico. Apoptose de cardiomiócitos e autofagia devido ao estiramento agudo da parede têm sido tratados experimentalmente. O diagnóstico de IAM em pacientes com DRC e níveis elevados de cTn pode ser difícil se os sintomas ou alterações no ECG indicando isquemia miocárdica estiverem ausentes. No entanto, estudos sugerem que alterações seriadas nos níveis de cTn são igualmente eficazes no diagnóstico de IAM em pacientes com DRC e naqueles com função renal normal. Se o nível de valores elevados de cTn não muda e o momento do evento aumenta /ou padrão de queda improvável, o nível elevado, mesmo que substancial, é provavelmente um reflexo de lesão miocárdica crônica. Isso não significa que esses pacientes estejam livres de DAC, uma vez que disfunção renal e DAC estão correlacionadas. No entanto, se um padrão ascendente e/ou descendente estiver presente, a etiologia dos valores anormais de cTn pode ser sobrecarga de volume aguda, IC congestiva ou IM. Se um padrão ascendente e descendente for observado e for acompanhado por sintomas isquêmicos, novas alterações isquêmicas no ECG ou perda de miocárdio viável na imagem, o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio é provável. Deve-se notar que, se os pacientes com DRC se apresentarem tardiamente após o início da dor torácica, pode ser difícil observar um aumento e/ou queda dos valores de cTn em curto prazo, principalmente quando o valor basal é elevado. Tal situação não deve evitar o diagnóstico de IAM quando a evidência clínica é forte. Elevações dos valores de cTn são comuns em pacientes na unidade de terapia intensiva e estão associadas a prognóstico adverso, independentemente do estado da doença subjacente. Alguma elevação dos valores de cTn pode refletir IAM tipo 2 devido à DAC subjacente e aumento da demanda de oxigênio do miocárdio, enquanto que em outros pacientes, o IAM tipo 1 pode ocorrer devido à ruptura da placa levando à trombose em uma artéria coronária. No entanto, outros pacientes podem ter valores elevados de cTn e reduções acentuadas na FE devido à sepse causada por endotoxina, com a função miocárdica se recuperando completamente com FE normal uma vez que a sepse é tratada. Muitas vezes, é um desafio para o clínico que cuida de um paciente crítico com uma condição patológica grave de órgão único ou de múltiplos órgãos decidir sobre um plano de ação quando o paciente apresenta valores elevados de cTn. Se e quando o paciente se recuperar da doença crítica, o julgamento clínico deve ser empregado para decidir se, e em que medida, uma avaliação adicional para DAC ou doença cardíaca estrutural é indicada. O ECG é parte integrante da investigação diagnóstica de pacientes com suspeita de infarto do miocárdio e deve ser adquirido e interpretado prontamente (ou seja, em 10 minutos) após o primeiro contato médico. Os ECGs pré-hospitalares reduzem o tempo de diagnóstico e tratamento e podem facilitar a triagem de pacientes com STEMI para hospitais com capacidade de PCI se estiver dentro do intervalo de tempo recomendado (120 min a partir do diagnóstico de STEMI). o ECG na apresentação inicial não é diagnóstico. A gravação de vários ECGs padrão com posições de eletrodos fixas em intervalos de 15 a 30minutos nas primeiras 1 a 2 horas, ou o uso de gravação contínua de ECG de 12 derivações assistida por computador (se disponível) para detectar alterações dinâmicas de ECG, é razoável para pacientes com sintomas persistentes ou recorrentes ou um ECG inicial não diagnóstico. Registros de ECG seriados ou contínuos podem ser úteis para determinar o estado de reperfusão ou reoclusão. A reperfusão geralmente está associada a uma grande e imediata redução do supradesnivelamento do segmento ST Desvios mais profundos do segmento ST ou inversões da onda T envolvendo múltiplas derivações/territórios estão associados a um maior grau de isquemia miocárdica e a um pior prognóstico. Por exemplo, depressão do segmento ST >_ 1 mm em seis derivações, que pode estar associada à elevação do segmento ST nas derivações aVR ou V1 e comprometimento hemodinâmico, é evidência sugestiva de doença multiarterial ou doença do tronco esquerdo. As ondas Q patológicas aumentam o risco prognóstico. Outros sinais de ECG associados à isquemia miocárdica aguda incluem arritmias cardíacas, bloqueios de ramo intraventricular, atrasos na condução atrioventricular e perda da amplitude da onda R precordial, um achado menos específico. O ECG por si só é muitas vezes insuficiente para diagnosticar isquemia ou infarto agudo do miocárdio, LESÃO MIOCÁRDICA E/OU INFARTO EM PACIENTES CRÍTICOS DETECÇÃO ELETROCÁRDIOGRÁFICA DE INFARTO DO MIOCÁRDIO Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús uma vez que o desvio ST pode ser observado em outras condições, como pericardite aguda, hipertrofia do VE (HVE), bloqueio de ramo esquerdo (BRE), síndrome de Brugada, STT, e padrões de repolarização precoces. Um ECG prévio muitas vezes é útil para distinguir um achado novo de um crônico, mas não deve atrasar a decisão pelo tratamento A nova elevação convexa do segmento ST prolongada, particularmente quando associada à depressão recíproca do segmento ST, geralmente reflete oclusão coronariana aguda e resulta em lesão miocárdica com necrose. Alterações recíprocas podem ajudar a diferenciar IAMCSST de pericardite ou alterações precoces de repolarização. Como na cardiomiopatia, as ondas Q também podem ocorrer devido à fibrose miocárdica na ausência DAC. Algumas das manifestações iniciais da isquemia miocárdica são as alterações típicas da onda T e do segmento ST. O aumento da amplitude da onda T hiperaguda, com ondas T simétricas proeminentes em pelo menos duas derivações contíguas, é um sinal precoce que pode preceder a elevação do segmento ST. Em geral, o desenvolvimento de novas ondas Q indica necrose miocárdica, que se inicia minutos/ horas após o insulto miocárdico. Ondas Q transitórias podem ser observadas durante um episódio de isquemia aguda ou (raramente) durante IAM com reperfusão bem-sucedida. A Tabela 2 lista os critérios do segmento ST-onda T (ST-T) sugestivos de isquemia miocárdica aguda que pode ou não levar a IAM. O ponto J (junção entre a terminação do QRS e o início do segmento ST) é usado para determinar a magnitude do deslocamento do segmento ST com o início do QRS servindo como ponto de referência. Em pacientes com linha de base estável, o segmento TP (intervalo isoelétrico) é um método mais preciso para avaliar a magnitude do desvio do segmento ST e para distinguir pericardite (depressão PTa) de isquemia miocárdica aguda. Taquicardia e desvio da linha de base são comuns no cenário agudo e podem dificultar essa determinação. Portanto, o início do QRS é recomendado como ponto de referência para a determinação do ponto J. Nova elevação do ponto J, ou presumida nova, >_ 1 mm (1 mm = 0,1 mV) é necessária em todas as derivações, exceto V2 e V3, como resposta isquêmica. Em homens saudáveis com menos de 40 anos, a elevação do ponto J pode chegar a 2,5 mm nas derivações V2 ou V3, mas diminui com o aumento da idade. Ausência de supradesnivelamento do segmento ST nas derivações precordiais, ondas T altas, proeminentes e simétricas nas derivações precordiais, infradesnivelamento do segmento ST > 1 mm no ponto J nas derivações precordiais e, na maioria dos casos, supradesnivelamento do segmento ST (> 1 mm) na derivação aVR ou as inversões simétricas, muitas vezes profundas (> 2 mm), da onda T nas derivações precordiais anteriores estão associadas à oclusão significativa da artéria descendente anterior esquerda (LAD). Elevação ST na derivação aVR > 1 mm pode acompanhar STEMI anterior ou inferior e está associado a aumento da mortalidade em 30 dias em pacientes com IAM agudo. Embolia pulmonar, processos intracranianos, anormalidades eletrolíticas, hipotermia ou perimiocardite também podem resultar em anormalidades SST e devem ser considerados o diagnóstico diferencial. O diagnóstico ECG de infarto atrial deve ser suspeitado no contexto de infarto ventricular (particularmente quando o ventrículo direito está envolvido) se pequenas elevações transitórias e depressões recíprocas do segmento PR (PTa) forem observadas associadas a alterações na configuração do P. aceno. APLICAÇÃO DE ELETRODOS COMPLEMENTARES Habilidades Médicas V – TBL 2 e 3 | Giovanna Caires da Crús Derivações suplementares, bem como registros de ECG em série, devem ser implantados com um limiar muito baixo em pacientes que apresentam dor torácica isquêmica e um ECG inicial não diagnóstico. A evidência de ECG de isquemia miocárdica na distribuição de uma artéria circunflexa esquerda é muitas vezes esquecido. Depressão isolada do segmento ST >_ 0,5 mm nas derivações V1–V3 pode indicar oclusão circunflexa esquerda e pode ser melhor capturada usando derivações posteriores no quinto espaço intercostal (V7 na linha axilar posterior esquerda, V8 na linha média escapular esquerda e V9 na borda paraespinhal esquerda). O registro dessas derivações é fortemente recomendado em pacientes com alta suspeita clínica de oclusão circunflexa aguda (por exemplo, ECG inicial não diagnóstico ou depressão do segmento ST nas derivações V1–V3). Um ponto de corte de 0,5 mm de elevação ST é recomendado nas derivações V7–V9; a especificidade é aumentada em um ponto de corte >_ 1 mm de supradesnivelamento do segmento ST e esse ponto de corte deve ser usado em homens < 40 anos. A depressão do segmento ST nas derivações V1–V3 pode ser sugestiva de isquemia miocárdica inferobasal (anteriormente denominada infarto posterior), especialmente quando a onda T terminal é positiva (equivalente à elevação ST); no entanto, isso não é específico. Em pacientes com infarto do ventrículo direito inferior e suspeito, as derivações aVR ou V1 podem apresentar supradesnivelamento do segmento ST >_ 1 mm. O registro precoce das derivações precordiais direitas V3R e V4R deve ser realizado, pois a elevação do segmento ST >_ 0,5 mm (>_ 1 mm em homens < 30 anos) fornece critérios de suporte para o diagnóstico. Alterações nas derivações precordiais direitas podem ser transitório, e a ausência de alterações no ECG nas derivações V3R e V4R não exclui infarto do ventrículo direito. A imagem do miocárdio pode ser útil neste cenário clínico. Os critérios da onda Q associados ao infarto do miocárdio e um risco relativo aumentado de morte são ilustrados na Tabela 3 e estão contidos nos algoritmos de codificação da onda Q, como o Código de Minnesota e o código de monitoramento de tendências e determinantes na doença cardiovascular (MONICA) da OMS. A especificidade do diagnóstico de ECG para IM é maior quando as ondas Q ocorrem em várias derivações ou grupos de derivações, ou são > 0,04 s. Quando as ondas Q estão associadas a desvios de ST ou alterações da onda T nas mesmas derivações, a probabilidade de IM aumenta; por exemplo, ondas Q menores >_ 0,02 s e < 0,03
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