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Tatiane Lira - Med UFPE ASA IX Tétano ● Definição: - O tétano (vem do grego, significando “contrair e esticar") é uma doença infecciosa, sistêmica, não contagiosa - Causa uma contração generalizada de toda a musculatura + espasmo → causada pela liberação da toxina tetanospasmina - Também causa alterações sanguíneas (principalmente da coagulação) → pela liberação da toxina tetanolisina ● Agente etiológico: - Clostridium tetani - É uma bactéria gram (+) anaeróbica - Tem forma esporulada (livre) e não esporulada (no corpo), que gosta de escuridão e falta de O2 (ex.: numa ferida necrosada, transforma-se) - Causa dano por produção de toxinas - Resiste a condições adversas de dessecamento e temperaturas extremas (> 120º) ● É uma doença de notificação compulsória e imunoprevinível ● Epidemiologia: - É uma doença de distribuição mundial, especialmente nos países de menor desenvolvimento socioeconômico - Cerca de 1.000.00 de casos/ano → a maior parte em países subdesenvolvidos (cobertura vacinal ruim) - + frequente durante primavera e verão → quando a população se expõe + - A maior parte em indivíduos > 60a → porque não fazem a dose de reforço - Tem grande letalidade em crianças e idosos - As principais razões do tétano neonatal são ausência de imunização e práticas inadequadas no corte do cordão umbilical ● Etiopatogenia: - Ocorre pela introdução dos esporos da bactéria em ferimentos externos, geralmente perfurantes, contaminados c/ terra ou fezes de animais ou humanos - Ferimentos c/ objetos contaminados normalmente representam um risco grande de desenvolvimento da doença, se a pessoa não tiver sido vacinada - Popularmente, é associada com objetos de metal enferrujado, mas o esporo do bacilo tetânico está em todo lugar e pode ser encontrado em solos, fezes de animais, plantas, vidro, madeira, carpetes e outros objetos, entrando no organismo por perfuração ou corte ● Fisiopatologia: - O C. tetani penetra na musculatura e tecidos moles perilesionais - Em condições de anaerobiose, produz toxinas - Essas toxinas vão p/ junção neuromuscular e penetram no axônio dos neurônios motores - Por meio do sistema axonal de transporte retrógrado, chegando no corno anterior da medula espinal - Nela, penetra em axônios de neurônios inibidores mediadores glicina ou GABA - Agindo nesses neurônios, perde o mecanismo inibitório → causando o espasmo relacionado ao tétano - Ocorre um aumento da frequência de disparos no neurônio e o corpo entra num estado de contração crônica → hipertonia Tatiane Lira - Med UFPE ASA IX - E qualquer estímulo sensorial causam contrações de musculatura agonista e antagonista → espasmos musculares - A fixação da toxina nesse terminal é irreversível e demora 3 sem p/ se desfazer - Já a fisiopatogenia da disautonomia é desconhecida → ex.: pcte não consegue modular nível pressórico ● Classificação: - Tétano acidental: ○ Tétano generalizado descendentes, localizado, generalizado ascendente, cefálico ○ É decorrente de acidentes ○ Geralmente, é adquirido através da contaminação de ferimentos (mesmo pequenos) c/ esporos do Clostridium tetani, que são encontrados no ambiente (solo, poeira, esterco, superfície de objetos → principalmente quando metálicos e enferrujados) ○ O Clostridium tetani, quando contamina ferimentos, sob condições favoráveis (presença de tecidos mortos, corpos estranhos e sujeira), torna-se capaz de multiplicar-se e produzir tetanospasmina, que atua em terminais nervosos, induzindo contraturas musculares intensas ○ Principais portas de entrada p/ infecção: trauma, queimaduras, trauma c/ material enferrujado, pé diabético, gangrena gasosa, úlceras, infecções de ouvido médio, aborto séptico, infecções dentárias - Tétano neonatal: ○ Também chamado de tétano umbilical, "mal dos 7 dias” ○ As gestantes que nunca foram vacinadas, além de estarem desprotegidas, não passam Ac protetores p/ o filho → risco de tétano neonatal p/ RN (até 28d) ○ É adquirido quando ocorre contaminação do cordão umbilical c/ esporos do Clostridium tetani ○ A contaminação pode ocorrer durante a secção do cordão c/ instrumentos não esterilizados ou pela utilização subsequente de substâncias contaminadas p/ realização de curativo no coto umbilical (esterco, fumo, pó de café, teia de aranha, etc) ● Período de incubação (desde o contágio até os 1ºs sintomas): - Pode variar de 3-21d, c/ média de 8d - Em RNs, é de 4-14d, sendo 7 o + comum - Na maioria dos casos, quanto + afastada do sistema nervoso estiver a ferida, + longo é o período de incubação → então, quanto menor for, + grave é a doença - O período de incubação e a probabilidade de morte são inversamente proporcionais ● Período de progressão (desde os 1ºs sintomas até os 1ºs espasmos): - Depois que penetram no organismo, as bactérias e seus esporos elaboram 2 potentes toxinas→ entram na corrente sanguínea e vão agir nos grandes centros nervosos e também produzir espasmos tónico-clónicos (que evoluem até convulsão) ● Diagnóstico: - É essencialmente clínico e epidemiológico→ análise do histórico e sintomas durante a consulta - Pode ser confirmado através do laboratório→ coleta material do ferimento e pesquisa neurotoxina ou faz cultura anaeróbica (não são muito usados e têm baixa sensibilidade) - Um achado laboratorial que contribui c/ a suspeita é o aumento da CPK (mas é um achado inespecífico) ● Sinais e sintomas: - Manutenção do nível de consciência - Hipertonia muscular - Espasmos musculares*: ○ Podem ser provocados pelos + pequenos impulsos nervosos (como barulhos, luzes e encostar no pcte) ou podem surgir espontaneamente ○ Duram de 2 a 5d ○ Riso sardônico: riso causado pelo espasmo nos músculos em volta da boca Tatiane Lira - Med UFPE ASA IX ○ Opistótono: espasmo tetânico em que se recurvam p/ trás e a cabeça e os calcanhares, arqueando-se p/ distante o resto do corpo - Insuficiência respiratória aguda: ○ Por paralisia da musculatura respiratória - Disautonomia: ○ Alteração dos sistemas simpático e parassimpático ○ Podendo causar dificuldade na deglutição - Outros sinais e sintomas: ○ Trismo: ■ Rigidez da musculatura que dificulta a abertura da boca ■ É geralmente o 1º sinal clínico do tétano ○ Rigidez* de pescoço, costas, musculatura do abdômen ○ Contração dos músculos de braços e pernas *Estendem-se de cima p/ baixo no corpo - O pcte permanece lúcido e s/ febre se estiver fora do período toxêmico - Sinais típicos do período toxêmico: ○ Elevação da temperatura corporal de entre 2 a 4°C ○ Sudorese ○ Aumento da PA ○ Taquicardia ○ Espasmos que podem durar semanas e a recuperação completa pode levar meses ● Complicações: - Espasmos da laringe, músculos secundários da respiração e diafragma - Paralisia diafragmática, + à direita (23,8% dos casos) - Paralisia bilateral do abdutor de cordas vocais - Fraturas de ossos longos por conta de espasmos violentos - Traumatismo de língua - Hiperatividade do sistema nervoso autônomo - Decorrentes da internação em UTI - Alteração do desenvolvimento neuropsicomotor nos casos de tétano neonatal ● Classificação: ● DD: - Afecções dentais e periodônticas: ○ Podem gerar trismo, mas não têm outros sintomas do tétano associados - Distonia medicamentosa: ○ Metoclopramida, antipsicóticos ○ Esses pctes têm bastante sintomas oculares e seu nível de consciência alterados - Convulsões - Meningite: ○ A rigidez de nuca lembra o tétano cefálico - Sd da pessoa rígida: ○ Associada a doenças autoimunes, tireoidites, diabetes, causas paraneoplásicas - Hipocalcemia - Intoxicações exógenas (como por estriquinina) - Histeria ● Tto: - A internação deve ser imediata em UTI de alta complexidade c/ isolamento, baixa estimulação sonora, luminosa e tátil enquanto durarem os riscos de espasmos Cuidado do ferimento - Limpeza exaustiva c/ SG, solução degermante - Desbridamento precoce do foco em tecidos desvitalizados Uso de antibióticos e outros medicamentos Tatiane Lira - Med UFPE ASA IX - Antibioticoterapia por 7 a 10d: ○ Penicilina cristalina ou benzatina (2 a 4.000.000 UI 4-6x/dia; pode piorar os sintomas por serem antagonistas GABAérgicos)○ OU Metronidazol (500 mg 3-4x/dia) ○ P/ erradicar o C. tetani do foco de inoculação ○ Mas não têm efeito no agente tóxico que elas produzem ○ Outros antibióticos: Eritromicina, Tetraciclina, Doxiciclina, Ceftazidima, Vancomicina, Clindamicina, Cloranfenicol → c/ alternativas justificadas Uso de imunoglobulina e revisão vacinal - Imunização passiva: ○ O + breve possível após o diagnóstico ○ O soro é uma preparação c/ Ac já prontos p/ o uso na defesa do organismo ○ Imunoglobulina anti-tetânica (IGATH): ■ + segura e c/ menos EC imediatos ou tardios que o soro ■ Dose: 500-5.000 UI via IM ○ Soro de base equina (SAT): ■ Dose: 20.000 ou 30.000 via IM ○ Não aplica imunoglobulina anti-tetânica perilesional → s/ estudos suficientes que comprovem a eficácia - Imunização ativa: ○ A vacina deve ser realizada simultaneamente à imunização passiva Controle dos sintomas motores e das apresentações disautonômicas - Benzodiazepínicos (BZD): ○ Diazepam ou Midazolam ○ Em bolus ou contínuo ○ Reduzem a ansiedade e a resposta espásmica aos estímulos (têm efeito relaxante muscular) - Bloqueadores neuromusculares (BNM): ○ Antecedidos por adequada sedação e analgesia ○ P/ promover relaxamento muscular e controle dos espasmos em pctes c/ tétano grave submetidos à ventilação mecânica refratários ao uso de outros relaxantes musculares ○ Prefere-se Rocurônio por ter perfil + estável de ação - Sulfato de magnésio (MgSO4): ○ Contínuo em pctes c/ tétano grave ○ Causa certa acalmia na liberação excessiva de catecolaminas da suprarrenal → melhorando a “hiperatividade” (taquicardia, taquipneia, hipertermia, hipertensão) ○ Em associação c/ BZD e BNM → p/ controlar os espasmos musculares - Baclofeno: ○ Intratecal ○ Tem efetividade no controle das manifestações motoras - Analgossedação c/ opióides: ○ Em associação c/ agonistas alfa-centrais e/ou Propofol, embora não haja evidência de superioridade entre as diversas estratégias relatadas ○ Morfina ou Fentanil em infusão contínua como 1ª opção no controle da disautonomia - Nitroglicerina (NTG) e Nitroprussiato de Sódio (NPS) - Beta-bloqueadores também podem ser usados: ○ Esmolol → preferir usar medicamentos em bomba (que consegue-se titular as doses) Seguimento - Traqueostomia: ○ O + rápido possível dentro das 24h após a intubação orotraqueal Tatiane Lira - Med UFPE ASA IX ○ Em pctes c/ tétano moderado e grave → c/ necessidade de proteção de vias aéreas ou ventilação mecânica em condições ideais - Ventilação assistido-controlado a volume ou a pressão: ○ Visto não haver evidência de superioridade de uma em relação à outra - Monitorização de níveis de creatinofosfoquinase (CPK): ○ Diariamente → c/ o intuito de controlar a resposta ao tto miorrelaxante ○ Não dosar CPK c/ objetivo de detectar precocemente rabdomiólise como estratégia de prevenção de lesão renal aguda - Controle dos níveis pressóricos: ○ Embora não sendo possível definir a melhor opção terapêutica - Fisioterapia motora-respiratória: quando em ventilação mecânica ● Prognóstico: - Depende da instituição onde o pcte encontra-se internado - Pior prognóstico: ○ Pctes nos quais não se acha o foco p/ o tétano (15-25% dos casos) ○ Menor período de incubação e período de progressão ○ Alta frequência de espasmos e grande grau de hipertonia ○ Grande grau de disfagia ○ Ocorrência e crises apneicas ● Prevenção: - Os ferimentos sujos, fraturas expostas, mordidas de animais e queimaduras devem ser bem limpos c/ substâncias oxidante ou antissépticas (como álcool) → evitará proliferação de bactérias no organismo (não só a de tétano) - Vacinação: ○ A vacina tetravalente em 99% de eficácia e também ajuda a prevenir difteria, gripe tipo B, coqueluche e tétano ○ Vacina-se crianças e animais e reforça-se a cada 10a ○ Aplicada em 3 doses (2, 4 e 6m) e 2 reforços (15m e entre 4-6a) ○ Especialmente importante p/ < 5a e > 60a→ principais vítimas fatais da doença ○ É recomendado que as gestantes (antes dos 7 meses) tomem uma vacina de reforço, caso não tenham tomado nos últimos 10a - Uso de soro anti-tetânico antes das intervenções cirúrgicas ou depois de ferimentos que possam facilitar a infecção - Evitando o contato das feridas profundas c/ terra ou qualquer sujeira - Cuidando da assepsia dos instrumentos cirúrgicos e da antissepsia das feridas - Eliminando os objetos pontiagudos que possam causar ferimentos acidentais
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