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[Texto] Introdução a Macroeconomia

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA
NÚCLEO DE ESTUDO E PESQUISA (ECONOMIA)
TEXTO DIDÁTICO No 1 
CURSO DE MACROECONOMIA
Adelar Fochezatto
Endereço: Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 50, Porto Alegre – RS
Telefone: (0xx51) 33203547
E-mail: adelar@pucrs.br
Porto Alegre
Março
2000
SUMÁRIO
	
	pág.
	Introdução....................................................................................................................................................................
capítulo I - Conceitos, medidas e relações econômicas: contabilidade nacional.............
1 - Introdução.......................................................................................................................................................................
2 - Relações econômicas......................................................................................................................................................
3 - Definições e medidas......................................................................................................................................................
4 - Valores reais e nominais.................................................................................................................................................
5 - Desemprego ...................................................................................................................................................................
6 - Demografia e economia..................................................................................................................................................
7 - Evolução e sincronia das principais variáveis macroeconômicas...................................................................................
capítulo II - comportamentos e funcionalidade macroeconômica............................................
1 - Introdução.......................................................................................................................................................................
2 - Famílias...........................................................................................................................................................................
3 - Governo..........................................................................................................................................................................
4 - Empresas.........................................................................................................................................................................
5 - Resto do mundo..............................................................................................................................................................
6 - Financiamento da economia...........................................................................................................................................
capítulo III - Políticas ECOnômicas em uma pequena economia aberta.....................................
1 - Introdução.......................................................................................................................................................................
2 - Equilíbrio global em uma economia monetária..............................................................................................................
capítulo IV - Políticas econômicas e desempenho da economia brasileira nos anos 90..
1 - Introdução.......................................................................................................................................................................
2 - O Plano Real...................................................................................................................................................................
3 - Análise de cenários alternativos de estabilização...........................................................................................................
capítulo V - QUESTÃO CONTEMPORÂNEA: O PROBLEMA DO desemprego............................................
1 - Introdução.......................................................................................................................................................................
2 - A adaptação da população ativa......................................................................................................................................
3 - Políticas ligadas à flexibilidade no mercado de trabalho................................................................................................
4 - As políticas macroeconômicas........................................................................................................................................
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................................................
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Introdução
A macroeconomia estuda o comportamento agregado da economia e, por isso, seu foco recai sobre a análise das conseqüências globais de ações individuais dos agentes econômicos em sua interação com o mercado. Embora se fundamente na microeconomia e que, por isso, deva mostrar consistência entre o desempenho macro e o comportamento micro, nem sempre a macroeconomia é uma mera soma dos resultados individuais. A forma como é feita esta agregação é um dos pontos mais controvertidos dentro da macroeconomia.
Nas análises macroeconômicas, os economistas procuram compreender e projetar as tendências gerais da economia. Para isso é fundamental dispor de dados agregados precisos e estabelecer corretamente as relações entre as variáveis macro. Assim, a compreensão adequada das contas nacionais representa o ponto de partida da moderna análise macroeconômica. Boa parte dos modelos macroeconômicos são construídos a partir destes dados e através de uma correta definição das relações funcionais e do comportamento dos agentes�.
Atualmente, compreender as interações existentes entre as variáveis e as políticas econômicas supõe que se integrem três aspectos fundamentais do mundo contemporâneo. Primeiro, a determinação das variáveis econômicas é cada vez mais feita pelo mercado, tendo, o Estado, um papel cada vez mais reduzido. Neste quadro, duas grandes correntes de pensamento constituem uma referência para a análise econômica: a liberal e a keynesiana (vem surgindo outra, chamada de “a terceira via”). As principais controvérsias destas correntes referem-se à natureza do equilíbrio econômico, o papel da moeda na economia e do tipo de intervenção do Estado. 
Segundo, a economia é cada vez mais financeira e as mudanças ocorridas nestes mercados se transmitem sobre os demais mercados. Terceiro, com a desregulamentação do mercado de capitais e com o avanço das novas tecnologias da informação, o mercado financeiro tornou-se um fenômeno mundial e está criando fortes interdependências entre os países. Isto coloca em evidência os sistemas econômicos vulneráveis, forçando-os à uma adaptação.
Neste contexto, algumas questões essenciais devem ser analisadas: a) quais são as fontes de crescimento das economias modernas? b) qual é a influência da esfera financeira nas economias contemporâneas? c) qual a explicação para o crescimento e a persistência de altas taxas de desemprego na maioria dos países?
Este curso não pretende dar respostas definitivas a estas questões mas suscitar o interesse, provocar o debate e proporcionar aos alunos uma capacidade de análise das questões macroeconômica atuais. Para isso, estudaremos os mecanismos econômicos para saber: observar de forma crítica a realidade; fazer hipóteses quanto aos comportamentos dos agentes; seguir e explicar os encadeamentosde efeitos devido a uma mudança na economia; e interpretar o significado destes efeitos para as principais variáveis econômicas.
Capítulo I - Conceitos, medidas e relações econômicas: contabilidade nacional
1 - Introdução
Para bem observar e analisar os fenômenos econômicos deve-se: a) saber o significado dos termos e das variáveis utilizadas; b) definir com precisão seus valores; e c) estabelecer relações funcionais e causais coerentes entre elas. A contabilidade social preenche os dois primeiros requisitos. O terceiro decorre da teoria, da experiência, dos modelos e da capacidade de quem analisa. 
A contabilidade nacional retrata todas as operações efetuadas pelos agentes econômicos em um determinado período de tempo (um ano). Diante da complexidade do mundo real, ela se propõe a fazer agrupamentos de agentes e de operações permitindo o estabelecimento de uma visão sintética e coerente. As contas nacionais, elaboradas pelo IBGE, são publicadas anualmente e estão disponíveis na Internet.
Para estudar apenas o essencial, definiremos, primeiramente, os diferentes tipos de relações econômicas, o que nos permitirá, a seguir, precisar o modo como são registradas as operações e, por fim, apreciar alguns elementos da situação atual da economia brasileira.
2 - Relações econômicas
2.1 - Os agentes econômicos
Em uma economia aberta, normalmente são distinguidos quatro categorias de agentes: a) as empresas, as quais produzem, investem e contratam fatores de produção; b) as famílias, que são proprietárias dos fatores de produção e consomem bens e serviços; e c) o governo, que adquire bens e serviços, faz transferências, arrecada impostos e gerencia a política econômica; e d) o resto do mundo ou exterior, que compra e vende bens e serviços para o Brasil, efetua e recebe transferências, etc.
2.2 - O fluxo circular da renda na economia
A representação da realidade econômica dada pela contabilidade nacional é a de um círculo. A igualdade contábil entre recursos e usos na economia é vista como um fluxo circular. Este fluxo circular pode ser esquematizado da seguinte forma: 
Estágio 1: as empresas fabricam a produção (Q) e distribuem a renda aos fatores de produção (Y).
Estágio 2: o setor público cobra impostos sobre a renda (td) e efetua transferências às famílias (tr). A diferença entre a renda total, subtraída pelos impostos e acrescida pelas transferências, é renda disponível (Yd=Y-td+tr) das famílias.
Estágio 3: as famílias vão destinar parte de sua Yd para consumo (C) e a restante é poupada (S), ou seja, depositada em instituições financeiras, as quais vão financiar parte do investimento (I). Neste estágio o dispêndio global é C+I.
Estágio 4: o setor público utiliza as receitas fiscais para efetuar os seus gastos (G). Neste estágio o dispêndio global é C+I+G.
Estágio 5: uma parte da despesa concerne a produtos importados e, com isso, uma parte da renda sai do país para pagar as importações (-M). Por outro lado, uma certa quantia de renda entra no país devido à venda de produtos domésticos para compradores externos (+E).
Figura 1: Representação esquemática do fluxo circular da renda na economia. 
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Instituições
Financeiras
	 I
	C+I
	 C+I+G
	 M
 E
	Resto do
Mundo
	
	
	
	 C
	 G
	
	
	
	
	
	 S
	
	
	
	C+I+G+E-M
	
	
	
	Famílias
	
	Governo
	
	Produtores
Q=Y
	
	
	
	
	
	 Yd
	 T
	 Y
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
2.3 - Os diferentes tipos de operação
Nestas relações entre os agentes econômicos são realizadas três tipos de operação: de produção, de repartição e financeiras. O fluxo circular da renda pode ser dividido em três sub-círculos.
a) O círculo de operações de produção: nestas operações participam quatro tipos de agentes: as empresas (que produzem), as famílias (que consomem), o governo (que fornece serviços públicos) e o “resto do mundo” (que oferta e demanda bens e serviços). As operações de produção nos mostram a origem dos produtos existentes no mercado, podendo ser tanto de origem nacional ou interna (Q), tanto de origem estrangeira ou externa (M). Estes produtos são destinados ao consumo privado das famílias (C), ao investimento privado das empresas (I), ao consumo e investimento do governo (G) e às exportações (E). O equilíbrio neste circulo de operações é dado por:
Q+M=C+I+G+E
Figura 2: Fluxo monetário das operações de produção, 1997 (R$ bilhões) 
	
	
	
	
	
	
	
	
	Famílias
	
	
	
	Empresas
	
	
	
	C=548
	
	Q=866 
	
	
	
	
	
	
	 I=184
	
	
	
	
	
	Mercado de
Produtos
	
	
	
	
	
	
	
	 M=88
	
	
	
	
	G=157
	
	E=66
	
	
	
	Governo
	
	
	
	Resto do mundo
	
	
	
	
	
	
	
	
b) O círculo de operações de repartição: descreve a apropriação da renda oriunda da produção. Esta renda é apropriada por três agentes (famílias, empresas e governo) na forma de remuneração do trabalho (w = salários e contribuições sociais), excedente operacional bruto (( = lucros, os quais podem ser distribuídos na forma de dividendos ou retidos para autofinanciamento, e outros rendimentos do capital) e impostos (t = impostos líquidos de subsídios sobre a produção e importação). Existem outras operações secundárias de distribuição da renda, as quais não são diretamente ligadas ao processo produtivo: rendimentos de juros e aluguéis; impostos diretos; transferências do governo e outras. O equilíbrio é dado por:
Q=Y=w+(+t
Figura 3: Operações de repartição da renda, 1997 (R$ bilhões)
	
	
	
	
	
	
	Famílias
	w=331, (=411
	Empresas
	
	
	
	
	
	
	
	
	 td=119
	
	 
	
	
	
	
	
	
	 tr=94
	Governo
	 t=125
	
	
	 
	
	
	
Obs.: w = salários + contribuições sociais; ( = excedente operacional bruto, inclusive rendimento dos autônomos; t = impostos líquidos de subsídios sobre a produção e importação; td = impostos diretos; e tr = transferências do governo.
c) Circulo de operações financeiras: no mercado de capitais, intermediado pelas instituições financeiras, os agentes com capacidade de financiamento podem depositar seus excedentes de recursos, os quais são demandados pelos agentes com necessidade de financiamento. Agrupando as operações de produção e repartição, observamos que: a) as famílias apresentam um excedente de recursos, pois receberam w+(+tr = 836 bilhões de reais e gastaram C+td = 667 bilhões de reais. Com isso, elas formaram uma poupança ou capacidade de financiamento (CF) de 169 bilhões de reais, a qual pode ser colocada no mercado de capitais; b) o governo apresentou um déficit (ou excedente de emprego de recursos), pois arrecadou td+t = 244 bilhões de reais e gastou G+tr = 251 bilhões de reais. O governo, portanto, apresentou uma necessidade de financiamento (NF) de 7 bilhões de reais, a qual foi obtida no mercado de capitais; c) as empresas tiveram necessidade de financiamento de 185 bilhões de reais, pois receberam 866 bilhões de reais com a venda da produção e gastaram I+w+(+t = 1.051 bilhões de reais. Elas obtiveram estes recursos no mercado de capitais; e d) o “resto do mundo” obteve um excedente de recursos de 22 bilhões de reais, devido à diferença entre as importações e as exportações de M-E = 22 bilhões de reais.
Figura 4: Fluxo das operações financeiras, 1997 (R$ bilhões) 
	
	
	
	
	
	
	
	
	Famílias
	
	
	
	Empresas
	
	
	
	CF=169
	
	 NF=185
	
	
	
	
	
	
	 
	
	
	
	
	
	Mercado de
Capitais
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	 NF=7
	
	 CF=22
	
	
	
	Governo
	
	
	
	Resto do mundo
	
	
	
	
	
	
	
	
Tendo retratado as diferentes operações efetuadas pelos agentes econômicos, nós podemos agora agrupá-las em uma matriz de contabilidade social (MCS).
Figura 5: Matriz de contabilidade social, 1997 (R$ bilhões) 
	Recursos
Usos
	Produção
(Q)
	Fatores
(K, L)
	Famílias
(C)
	Governo
(G)
	Empresas
(I)
	R. do mundo
(E)
	Total
	Produtos
	CI=692
	
	C=548
	G=157
	I=184
	E=66
	955
	Fatores (K, L)
	w+(=742
	
	
	
	
	
	742
	Famílias (R)
	
	w+(=742
	
	tr=94
	
	
	836
	Impostos (T)
	t=125
	
	td=119
	
	
	
	244
	Merc. Cap. (S)
	
	
	CF(Sp)=169
	NF(Sg)=-7CF(Se)=22
	184
	R. do mundo (M)
	M=88
	
	
	
	
	
	88
	Total
	955
	742
	836
	244
	184
	88
	
3 - Definições e medidas 
a) Produto Interno Bruto (PIB): é o valor de mercado de todos os bens finais produzidos durante um determinado período de tempo (um ano). O termo “bruto” demonstra que o valor da produção não foi corrigido pela depreciação; o termo “interno” aparece para informar que a produção foi efetuada dentro das fronteiras do país, independentemente se por empresas nacionais ou estrangeiras; e o termo “valor de mercado” informa que o produto foi avaliado aos preços correntes, ou seja, sem a correção da inflação. Por exemplo, um psicólogo produz R$ 40.000,00 de terapia por ano. Ele pode ser calculado de três formas: pela renda (Y), pelo dispêndio (Z) e pela produção (Q):
PIB(Y)=w+(+t = 866
PIB(Z)=C+G+I+E-M = 866 
PIB(Q)=VBP-CI = 866
VBP=CI+ w+(+t = 1559 (valor bruto da produção)
CI = 692 (consumo intermediário)
b) Produto Nacional Bruto (PNB): mede a produção nacional bruta e não a produção territorial. A diferença entre o PIB e o PNB é a renda líquida enviada ao exterior (RLE) pelos fatores de produção (renda enviada menos renda recebida). Ex: remessas de lucros das empresas multinacionais, remessas de rendimentos do trabalho, etc.
PNB=PIB-RLE=866-17=849
c) Valor adicionado (VA): a produção é medida em termos líquidos ou pelo valor adicionado. Isto porque os produtos que entram como consumo intermediário (CI) das empresas já foram contabilizados. Assim, o valor bruto da produção (VBP) não é uma boa medida para medir o produto da economia porque ele faz dupla contagem de produtos. No cálculo do PIB pela óptica da produção e da renda deve-se acrescentar os impostos (t), porque estes já estão embutidos no cálculo do PIB pela óptica da despesa (na compra de produtos pelos agentes).
VA=VBP-CI=866
Figura 6: Exemplo de cálculo do valor adicionado para um produto selecionado
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Trigo
(R$0,25)
	
	Farinha
(R$0,50)
	
	Massa
(R$1,00)
	
	
	
	
	VA=R$0,25
	
	VA=R$0,25
	
	VA=R$0,50
	
	
	
	
	Tempero
(R$0,75)
	
	
	
	
	
	Massa com molho
(R$7,95)
	
	
	VA=R$2,25
	
	
	VA=R$0,75
	
	
	VA=R$3,95
	
	
	Outros
(R$1,50)
	
	
	Molho
(R$3,00)
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Obs.: A soma do valor adicionado em cada etapa é igual a R$7,95, o mesmo valor do bem final.
d) Renda disponível do setor privado (Yd):é a renda efetivamente disponível para o setor privado fazer suas compras e poupança. Para encontrá-la, deve-se diminuir da renda nacional os impostos diretos sobre a renda (td) e as contribuições sociais (neste caso elas estão embutidas no imposto direto) e somar as transferências do governo às famílias (tr).
Yd=Y+tr-td
Yd=C+Sp
e) Oferta agregada e demanda agregada: a oferta agregada é a soma da produção interna (Q) com as importações (M) e a demanda agregada é a soma dos dispêndios com consumo (C), investimento (I), aquisições do governo (G) e exportações, feitas pelos estrangeiros (E). O equilíbrio no mercado é dado por:
Q+M=C+I+G+E
866+88=548+184+157+66
f) Absorção (A): é o dispêndio agregado com C, I e G. Se a renda nacional (Y) for inferior à absorção, isto significa que a economia é deficitária, ou seja, importou mais do que exportou e precisa se financiar no exterior.
Y= w+(+t = 866
A=C+I+G = 889
NF(Se) = M-E = 22
g) Balanço orçamentário do setor público: quando o governo gasta mais do que arrecada, ele entra em déficit e, caso contrário, em superávit. O déficit público, normalmente, é classificado em dois tipos: o déficit primário (Dp) e o déficit operacional (Do). O déficit primário é a diferença entre despesas e receitas correntes e o operacional, além destas, leva em conta também o pagamento de juros da dívida pública (r).
Dp=(G+tr)-(td+t) = 7
Do=(G+tr+r)-(td+t) = 37
h) Balanço de pagamentos: o BP é o registro, realizado pelo Banco Central, do valor de todas as transações econômicas ocorridas entre o país e o resto do mundo durante um determinado período de tempo (um ano). Ele é dividido em duas grandes contas: as contas corrente e de capital. A conta corrente, por sua vez, pode ser subdividida em balança comercial e o saldo da conta corrente. A balança comercial (BC) reflete o saldo entre exportações e importações de mercadorias (produtos industriais, agrícolas, etc.) e o saldo de transações correntes (SCC) incorpora a transação de serviços ou bens invisíveis, como as vezes são chamados (serviços não-fatores (snf): fretes, seguros, turismo e serviços diplomáticos; serviços de fatores (sf): salários, aluguéis, juros, lucros; transferências unilaterais (tu): doações, remessas de migrantes e outras). O saldo da conta de capital (SCK) é subdividida em investimento direto líquido (id), empréstimos e financiamentos (ef), amortizações de empréstimos (-am) e outros capitais (ok), como as aplicações financeiras de estrangeiros no país. 
BP=SCC+SCK
SCC=E-M-RLE
SCK=id+ef-am+ok
BC=E-M
RLE=snf+sf+tu
i) Reservas internacionais (RI): como o BP contabiliza todas as transações com o exterior, ele é, também, o registro de todas as entradas e saídas de divisas do país. Assim, se o saldo do BP é positivo, o país tem um aumento no seu estoque de reservas internacionais ((RI>0) e vice-versa. Exercem oferta de divisas os exportadores, as empresas que recebem investimentos, os tomadores de empréstimos ou de financiamentos, os vendedores de serviços no exterior, etc. Os detentores destes recursos externos recebem moeda doméstica do Banco Central, via instituições financeiras autorizadas a operar na área cambial, permanecendo as divisas em poder do Banco Central. Os demandantes de divisas, importadores, as empresas que investem no exterior, etc., entregam moeda doméstica às instituições que operam com câmbio em troca de divisas , as quais são remetidas ao exterior para a efetivação dos pagamentos. Se a demanda de divisas é maior que a oferta, ocorrem dois efeitos: diminui o estoque de divisas, já que o BACEN teve que completar a oferta, e diminui a base monetária doméstica porque a quantidade de moeda recolhida pelo BACEN é maior que a ofertada na troca de divisas. O contrário acontece quando a oferta de divisas é maior do que a demanda. Este aspecto será importante no momento que analisarmos as políticas macroeconômicas. 
Se RI(demanda)>RI(oferta)= RI(diminui) e M(diminui)
Se RI(demanda)<RI(oferta)= RI(aumenta) e M(aumenta)
j) Necessidades setoriais de financiamento: com as definições acima, é possível chegar a uma identidade macroeconômica fundamental, a qual mostra as necessidades setoriais de financiamento.
Y=C+I+G+E-M
Y+tr-td=Yd=C+Sp
C+Sp=(Y+tr-td)
 (I-Sp)=(M-E)+ (td-G-tr)
 (I-Sp)+(E-M)+ (G+tr-td)=0
I=Sp+Sg+Se
onde Sg= td-tr-G representa o superávit público ou a poupança do governo, Se=M-E representa o déficit externo ou a poupança externa, (I-Sp) representa a necessidade de financiamento do setor privado, (G+tr-td) representa a necessidade de financiamento do setor público e (E-M) representa a necessidade de financiamento do setor externo.
4 - Valores reais e nominais
Para medir a inflação e converter valores nominais em valores reais, deve-se ter um índice de preços. Um índice de preços é um esquema para medir mudanças no nível de preços de uma determinada cesta de produtos em relação a um ano base. 
4.1 - Construção de um índice de preços
Para construir um índice de preços:
a) Selecionar um ano base, no qual o índice é igual a 100
b) Selecionar uma cesta de produtos, cujos preços serão monitorados no tempo
c) Calcular o custo dos produtos da cesta no ano base
d) Calcular o custo dos produtos da cesta no ano que será comparado com o ano base (ano i)
e) Aplicar a seguinte fórmula: 
IPi=100*(Custo da cesta no ano i)/( Custo da cesta no ano base)
onde IPi é o índice de preços no ano i.
4.2 - Usando o índice de preços para medir a inflação
A taxa de inflação (INF) é a mudança percentual no índice de preços de um ano para outro. Ela é calculada da seguinte forma:
INFt=100*(IPt-IPt-1)/IPt-1
Esta fórmula calcula a taxa de inflação no ano t através docálculo da mudança percentual do IP no ano t (ano corrente) e t-1 (ano anterior).
4.3 - Deflacionando valores nominais em valores reais
Os valores nominais, ou correntes, não são corrigidos do efeito da inflação. Os valores reais, por sua vez, são corrigidos. Deflacionar um valor nominal significa encontrar o valor real de algum valor nominal, dividindo por um IP apropriado. Para isso, aplica-se a seguinte fórmula: Valor real=100*Valor nominal/IP
4.4 - Exemplo
a) Ano base: 1997 e, por isso, IP(1997)=100
b) Cesta: 1 camisa, 1 par de sapatos e 1 par de meias
	Anos
	1 camisa
	1 par de sapatos
	1 par de meias
	1997
	R$ 25,00
	R$ 50,00
	R$ 5,00
	1998
	R$ 28,00
	R$ 50,00
	R$ 7,00
	1999
	R$ 36,00
	R$ 60,00
	R$ 7,00
c) Custo da cesta no ano base: R$ 80,00
d) Custo da cesta no ano de 1998: R$ 85,00, e em 1999: R$ 103,00
e) IP(1998)=100*85/80=106,25 e IP(1999)=100*103/80=128,75
f) INF(1998)=100*(106,25-100)/100=6,25% e INF(1999)=100*(128,75-106,25)/106,25=21,18%
g) Uma camisa custou R$ 28,00 em 1998, R$ 25,00 em 1997 e R$ 36,00 em 1999. Em termos reais, em qual ano a camisa custou mais barato?
Valor real(1997)=100*25/100=25,00
Valor real(1998)=100*28/106,25=26,35
Valor real(1997)=100*36/128,75=27,96
5 - Desemprego 
a) Medida do desemprego
A taxa de desemprego é calculada através de um critério usado em todo o mundo. Para ser um desempregado, a pessoa deve estar com idade para trabalhar (PEA), disponível e procurando emprego. A taxa de desemprego normalmente é calculada a partir de pesquisas amostrais e é considerada desempregada a pessoa que declarar: 
- Estar sem trabalho (nem parcial). 
- Estar disponível para ocupar um emprego (exclui as pessoas doentes). 
- Estar procurando ativamente um emprego (aceitando trabalhar pelo salário vigente).
A taxa de desemprego é calculada da seguinte forma:
TD=(FT-L)/FT
onde TD é a taxa de desemprego, FT é a força de trabalho e L é o total de pessoas empregadas. 
Figura 7: Fluxograma mostrando a dinâmica do emprego e desemprego.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	(PE)
	
	
	
	
	Empregado
	
	
	
	Desempregado
	
	
	
	
	(OE)
	
	
	
	
	
	(J)
	
	(J)
	
	
	
	
	
	Inativo
	
	
	
	
	
	(A)
	
	(D)
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Obs.: (PE) perda de emprego, (OE) obtenção de emprego, (J) jovens, (D) desencorajamento para procurar trabalho ou não disposição para trabalhar e (A) aposentadoria.
b) Fontes de desemprego
As principais fontes de desemprego são:
Desemprego friccional: surge dos custos de transação incorridos entre um emprego e outro: burocracia, falta de informação, mobilidade, dificuldade de adequação entre os desejos do empregador e do empregado, etc.
Desemprego sazonal: varia sistematicamente em função de determinados eventos que ocorrem durante o ano. Exemplos: véspera de Natal, épocas de entre-safra de produtos agroindustriais importantes, atividades ligadas às estações do ano, etc.
Desemprego conjuntural: está relacionado à situação econômica (recessão ou expansão) do país ou região.
Desemprego estrutural: ocorre devido ao progresso técnico poupador de mão-de-obra e, também, devido às mudanças de qualificação de mão-de-obra requerida pelos empregadores.
6 - Demografia e economia
a) Conseqüências de variações na pirâmide etária da população
À medida que os países se desenvolvem, verifica-se uma tendência a: redução da taxa de natalidade (redução do número de filhos por família e casamentos com idade mais avançada dos cônjuges), redução da taxa de mortalidade e aumento da expectativa de vida. Isto aumenta a participação relativa de pessoas idosas na sociedade, trazendo conseqüências econômicas importantes: 
Dimensão financeira: ocorre um aumento relativo dos encargos com a seguridade social. Fazendo um corte transversal na pirâmide social, fica difícil manter um equilíbrio previdenciário entre os inativos que têm direito aos recursos e os contribuintes ativos. Estes últimos, além da queda de sua participação devido ao aumento relativo de idosos na pirâmide social, apresentam tendência a diminuir ainda mais devido ao desemprego estrutural. 
Dimensão comportamental: redução da poupança e do investimento e aumento relativo do consumo de bens essenciais, como a alimentação e o vestuário, e serviços, como o lazer e o turismo. A nível agregado, a tendência é que haja uma redução relativa da demanda agregada.
7 - Evolução e sincronia das principais variáveis macroeconômicas
Os principais indicadores da “saúde” econômica de um país são: o crescimento econômico; o desemprego; a inflação; a balança comercial; o balanço do setor público; e a distribuição da renda. Em função disso, as políticas macroeconômicas são avaliadas por dois critérios fundamentais: a) pela sua eficiência na melhoria da performance econômica, ou seja, pelos seus efeitos no sentido de aumentar as taxas de crescimento do produto agregado, reduzir as taxas de inflação e reduzir as taxas de desemprego; e b) pela sua capacidade em promover o bem-estar social, melhorando a distribuição da renda e reduzindo a pobreza.
As variáveis macroeconômicas acima referidas tendem ter características padronizadas de evolução e sincronia. Estes aspectos serão analisados brevemente a seguir.
7.1 - Crescimento econômico
O produto interno bruto real per capita dos países tende a crescer continuamente ao longo do tempo. As fontes mais importantes deste crescimento são o aumento na disponibilidade de fatores de produção (capital e trabalho) e avanço tecnológico
a) Demanda de produtos: PIB=f(K, L); K=f(I, d); I=f(r, S, P, K/L, D, TIR); Kt=Kt-1(1-d)+It-1. Aumentos na demanda de produtos criam a necessidade das empresas aumentarem a produção. Para isso, precisam aumentar sua capacidade de produção (estoque de capital), o que é feito através de investimentos. Assim, a produção depende do estoque de capital e do trabalho e a acumulação de estoque de capital depende do desgaste físico (depreciação) e dos investimentos de reposição e de expansão. Para viabilizar os investimentos, os empresários precisam de crédito, cuja fonte é a poupança agregada.
O investimento agregado depende, também, da taxa de juros, da taxa interna de retorno (fluxo de receitas e despesas), da proporção estoque de capital/trabalhador, da demanda agregada, dos preços dos bens de capital e das expectativas dos empresários quanto ao futuro da economia.
b) Poupança: S=f(r, Yd, PMC). A poupança é determinada basicamente pela taxa de juros, pela renda disponível e pela propensão média a consumir. A diversificação da produção, as inovações financeiras (multiplicação de caixas automáticas e cartões de crédito) e o aumento das facilidades e o conforto nas compras (criação dos supermercados, shopping centers, sistemas de compras via Internet, etc.) aumentaram a propensão a consumir das famílias.
c) Crescimento demográfico: o crescimento demográfico tem efeito negativo sobre a proporção estoque de capital/trabalhador, efeito positivo sobre a demanda agregada e positivo sobre a disponibilidade de força de trabalho. O aumento da expectativa de vida das pessoas também afeta positivamente a demanda.
d) Aumento da urbanização: a urbanização tende a provocar um aumento do consumo global na economia, aumentando a demanda agregada. Este aspecto favorece o investimento e tende, também, a aumentar os gastos públicos (serviços, infra-estrutura, etc.).
d) Variabilidade de produtos e serviços: além do aumento da diversidade os produtos tendem a ter um período de vida mais curto (obsolescência, produtos descartáveis, etc.). Isto provoca um aumento do consumo e da propensão a consumir com efeitos favoráveis sobre a demanda e desfavoráveis sobre a poupança. 
e) Progresso tecnológico e educação: tem efeito positivo sobre a produtividade dos fatores, reduzindo custos e preços e aumentando a demanda.
f) Políticas econômicas: para aumentar o estoque de capital, os formuladores de políticas econômicas devem estimular principalmente a poupança e o progresso técnico. Isto pode ser alcançado através de aumentos da poupança pública (redução do déficit público) e privada(estímulo à formação de planos individuais de aposentadoria, isenções de tributos sobre cadernetas de poupança, etc.) e estímulos à pesquisa, regulamentação adequada de patentes, etc.
g) Convergência: estudos mostram que as taxas de crescimento econômico tendem a ser maiores nos países ou regiões em desenvolvimento do que nos países ou regiões mais avançadas. Por exemplo, entre 1900 e 1994, o produto per capita no Brasil cresceu em média 2,9% ao ano, enquanto que nos EUA, no mesmo período, cresceu 1,8% ao ano. Os fatores determinantes desta convergência seriam, basicamente, o custo relativo dos fatores de produção (mais baratos nos países subdesenvolvidos), as novas tecnologias de produção (possibilitam uma maior mobilidade do capital) e as inovações nos sistemas de transporte e comunicação.
h) Modelo: alguns modelos macroeconômicos mostram que aumentos de poupança hoje levam a aumentos de consumo no futuro (modelo simples para simulações em Excel).
7.2 – Ciclos econômicos
O crescimento econômico ao longo do tempo se dá na forma de ciclos (econômicos ou de negócios).É da natureza econômica a presença alternada de momentos de prosperidade e de recessão. Estas flutuações na economia são provocadas por alterações na oferta e na demanda agregadas. Analisaremos alguns dos fatores que causam alterações nestas variáveis econômicas.
a) Choques na demanda agregada: C=f(Yd, P); G; I=f(r, S, P, D, K/L, TIR); BC=f(TC, P, PW, D, DW). Assim, fatores como a formação de expectativas favoráveis por parte dos empresários investidores, o aumento das aquisições do governo, a redução das taxas de juros, etc. proporcionam um aumento da demanda agregada. Este aumento na demanda ocasiona um aumento na produção e, com isso, as empresas contratam mais trabalhadores e utilizam mais intensamente os fatores de produção. Com o passar do tempo, os níveis mais elevados da demanda e do emprego vão pressionar os preços e os salários e, à medida que eles aumentam, o produto volta ao seu nível natural (provavelmente mais elevado do que no nível inicial).
b) Choques na oferta agregada: Q=f(RT, CT). Os choques do lado da oferta normalmente decorrem de variações nos custos de produção. Pode-se citar, por exemplo, o aumento no preço de insumos importantes (petróleo), aumento do salário (definido pelo governo ou por pressão dos sindicatos), quebras de safras agrícolas (aumentam o preço das matérias-primas), mudanças legais e regulamentações (legislação ambiental), estratégias empresariais (formação de cartéis, fusões, etc.), inovações tecnológicas e gerenciais, etc. 
c) Choques externos: são cada vez mais importantes, dado as interdependências crescentes entre as economias, tanto no mercado real quanto no financeiro. Exemplos de choques externos: políticas cambiais e comerciais, crises financeiras, mudanças na demanda mundial, etc.
d) Rigidez de preços e quantidades: decorrente de fatores como problemas de infra-estrutura, restrições institucionais, informação assimétrica, regulamentações públicas, legislação, custos de ajustamento
e) Mudanças tecnológicas (Schumpeter): alteram a estrutura produtiva, aumentam a produtividade dos fatores, reduzem custos de produção, criam novas demandas
f) Políticas econômicas e reformas estruturais: as políticas de estabilização, como a fiscal, a monetária, a comercial e a cambial, afetam mais diretamente a demanda agregada, enquanto que as reformas estruturais, como as privatizações, as regulamentações públicas e as leis de patentes, atingem mais a oferta agregada.
g) Teoria dos ciclos econômicos reais: esta teoria afirma que as variáveis nominais (preços e moeda) não exercem efeito algum sobre as variáveis reais da economia (produção e emprego) e que as flutuações econômicas devem-se, basicamente, a alterações nas políticas fiscais e tecnológicas (resíduo de Solow).
h) Expectativas dos agentes econômicos: especialmente dos empresários investidores (expectativas “auto-realizáveis”).
i) Aspectos sociais dos ciclos econômicos: crimes, epidemias, divórcios, stress, alcoolismo, etc.
7.3 – Desemprego
As taxas de desemprego tendem a diminuir com o crescimento econômico. Alguns fatores atuam no sentido de reduzir as taxas de desemprego e outros no sentido inverso. 
a) Aumento do nível de atividade: para produzir mais é necessário contratar mais trabalhadores. No entanto, com o aumento da produtividade do trabalho, o crescimento do PIB tende a ter efeitos menos significativos sobre o nível de emprego. A lei de Okun diz que a redução de 1% na taxa de desemprego está associada a um aumento do PIB e a uma queda de 3% no hiato de produção (PIB potencial ou de pleno emprego de fatores menos PIB observado).
b) Crescimento relativo do setor terciário: além do aumento da produção, ocorre, também, uma significativa alteração do tipo de emprego e, consequentemente, do tipo de empregado demandado. Com o crescimento da economia, a tendência é que haja um aumento da participação do setor terciário no PIB e este setor é intensivo no uso do fator trabalho. 
c) Salário mínimo legal, contribuições sociais sobre os salários e pressões dos sindicatos: um salário mínimo acima do salário de equilíbrio provoca um aumento do desemprego de “espera”. A tendência, no Brasil, é de que haja uma maior flexibilização do mercado de trabalho e o fim da indexação salarial.
d) Salários de eficiência: a teoria dos salários de eficiência diz que salários maiores levam a aumentos da produtividade do trabalho. Os mecanismos seriam os seguintes: uma melhora na nutrição do trabalhador provoca um aumento da sua produtividade; um maior salário faz com que a rotatividade da mão-de-obra seja menor; um maior salário mantém e atrai os melhores empregados na empresa (seleção adversa); e um maior salário provoca um aumento do esforço dos trabalhadores, aumentando o risco de fazer “corpo mole” (risco moral). A manutenção de salários de eficiência (elevados) tem três efeitos sobre o emprego: diminui a demanda de trabalho; aumenta a procura por trabalho (efeito substituição de lazer por trabalho); as pessoas trabalham menos para ganhar a mesma coisa (efeito renda).
e) Entrada das mulheres no mercado de trabalho: a entrada das mulheres no mercado de trabalho provocou um aumento da força de trabalho e, consequentemente, do desemprego. Mas, por outro lado, aumentou as possibilidades de emprego porque este fato provocou um aumento da demanda de determinados produtos (alimentos congelados, etc.) e o aparecimento de estabelecimentos de refeições rápidas (fast foods, etc.). 
f) Inovações tecnológicas: normalmente, as inovações tecnológicas são poupadoras de trabalho. No entanto, sendo assim, vai ocorrer um aumento da relação K/L na economia o que significa maiores volumes de investimento por unidade de produto. Comparativamente, portanto, tem-se como resultado uma menor participação do trabalho por unidade de produto e um aumento global da produção e do investimento. Por exemplo:
PIB0=f(K0; L0)=500; K0/L0=0,40; L0=0,60*500=300
PIB1=f(K1; L1)=600: K1/L1=0,45; L1=0,55*600=330
onde PIB0, K0 e L0 são, respectivamente, o PIB, o capital e o trabalho antes da inovação tecnológica e PIB1, K1 e L1 são, respectivamente, o PIB, o capital e o trabalho depois da inovação tecnológica poupadora de trabalho.
g) Crescimento demográfico e migrações: estes fatores apresentam, também, duplo efeito. Por um lado, aumentam a demanda e, consequentemente, a produção e o emprego, e, por outro, aumentam o contingente de força de trabalho e, consequentemente, as taxas de desemprego.
h) Efeito de histerese: a taxa de desemprego será maior após um período de recessão do que a verificada no ponto de partida (antes da recessão). As explicações para isso são duas: as pressões dos sindicatos ocorre sobre os empregados e a tendência é que haja uma reserva de mercado e um aumento salarial, dificultando a empregabilidade dos desempregados; e durante a recessão ocorre defasagem na qualidade da força de trabalho, dificultando o ajuste entre o emprego e o postulante.
i) Aumentodas importações e redução das exportações: as importações aumentam devido à dependência de insumos e bens de capital do exterior e, também, devido ao aumento dos preços domésticos. Este, por sua vez, provoca uma redução das exportações. Estes acontecimentos têm efeito de reduzir a demanda por trabalho. 
7.4 - Inflação
As taxas de inflação tendem a crescer com o crescimento econômico. 
a) Aumento da demanda: com o crescimento econômico ocorre um aumento da demanda agregada. Como a oferta normalmente responde de forma defasada aos estímulos da demanda, ocorre um excesso de demanda de produtos no mercado e, consequentemente, aumento dos preços.
b) Existência de pontos de estrangulamento na economia: com o crescimento aumenta a demanda e, se há setores ineficientes problemas de infra-estrutura, a oferta não conseguirá acompanhar a demanda, criando focos de pressão de preços (inflação estruturalista).
c) Aumenta o custo dos insumos domésticos: com o crescimento, aumenta a produção e a demanda de insumos intermediários. Como os preços tendem a aumentar, os custos das empresas aumentam e serão repassados aos preços. 
d) Aumento dos salários: com o aumento dos preços, a tendência é de que os trabalhadores reinvindiquem maiores salários, aumentando os custos de produção e os preços. 
e) Insumos intermediários e bens de capital importados: se a economia depende de insumos e bens de capital importados, e, se há restrições às importações (tarifas, câmbio, etc.), os custos de produção, e consequentemente os preços finais, tendem a aumentar.
f) Redução da concorrência: o crescimento da economia normalmente é acompanhado de crescimento de empresas que vão absorvendo ou se associando com outras, aumentando a participação e o poder de mercado.
g) Expectativas: com o aumento generalizado de preços e com indexação de preços e salários, a tendência é de que os agentes antecipem a inflação e remarquem os preços.
h) Aumento das importações e redução das exportações: as importações aumentam devido à dependência de insumos e bens de capital do exterior e, também, devido ao aumento dos preços domésticos. Este, por sua vez, provoca uma redução das exportações. Estes acontecimentos têm efeito de reduzir ou de inibir o aumento dos preços por causa do aumento da concorrência dos importados, pela redução da demanda externa por produtos domésticos e, finalmente, porque ocorre uma redução da base monetária na economia (aumento da demanda e redução da oferta de divisas). 
 i) Políticas econômicas: supondo que a economia não esteja passando por problemas de déficit fiscal e externo, as melhores opções para combater a inflação, em uma situação de crescimento econômico, são as políticas cambiais e comerciais.
7.5 – Déficit público
Os déficits orçamentários tendem a diminuir com o crescimento econômico. Os principais fatores que contribuem para que isso ocorra são:
a) Aumento da arrecadação: com o crescimento da produção e do emprego, ocorre um aumento da base tributável.
b) Melhoria na distribuição da renda: supondo que com o aumento do emprego haja melhorias no salário e na distribuição da renda, a pressão para aposentadorias e gastos sociais diminui.
7.6 – Déficit externo
Os déficits na balança comercial tendem a aumentar com o crescimento econômico. Isto ocorre, principalmente devido aos seguintes fatores:
a) Aumento das importações: com o crescimento da economia, ocorre um aumento das importações de produtos complementares (bens intermediários e de capital) e, também, um aumento das importações de produtos concorrentes devido ao aumento dos preços domésticos.
b) Redução das exportações: por causa da perda de competitividade dos produtos domésticos com o aumento dos preços internos. 
c) Modelo de substituição de importações: o Brasil saiu recentemente de um modelo que protegia a produção nacional e com forte intervenção do Estado. O modelo de desenvolvimento por substituição de importações possibilitou o aparecimento de setores ineficientes e impediu que a economia acompanhasse os padrões de produção e tecnológicos internacionais. Com a abertura da economia (no Brasil isto passou a ocorrer a partir do início da década de 90), um país anteriormente protegido, estaria mais propenso a ter déficits comerciais.
7.7 – Distribuição da renda
Não há uma correlação nítida entre crescimento econômico e distribuição da renda. A sensação imediata é de que um maior crescimento econômico traz melhorias na distribuição da renda. Isto, no entanto, não é tão claro, havendo algumas forças que atuam nesta direção e outras em sentido contrário.
a) Aumento do emprego e do salário: possibilita melhorias na distribuição da renda porque mais pessoas participam do processo produtivo e o “bolo” a ser distribuído é maior.
b) Aumento da arrecadação de tributos: abre maiores possibilidades para que o governo faça gastos sociais.
c) Aumento da inflação: atinge mais fortemente as pessoas que não podem proteger seus recursos no sistema financeiro e que gastam boa parte da renda em consumo. É sabido que em um processo inflacionário, primeiro sobem os preços e depois os salários, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores.
d) Aumento das importações e redução das exportações: ambos provocam uma redução do emprego dentro do país. No caso brasileiro, a redução das exportações tem um alto impacto sobre o emprego porque o país exporta, principalmente, produtos intensivos em trabalho.
 e) Aumento da participação do lucro na renda: muitos estudos comprovam que a participação dos lucros na renda aumenta com o crescimento econômico. Este aspecto afeta direta e indiretamente a distribuição da renda. O efeito direto é uma piora na distribuição, já que o lucro é a fonte de renda das pessoas que tem mais dinheiro. O efeito indireto é favorável pois o lucro tende a estimular novos investimentos.
Capítulo II - comportamentos e funcionalidade macroeconômica 
1 - Introdução
O objetivo deste capítulo é construir um instrumental analítico para posteriormente se fazer análises de políticas macroeconômicas. Com este instrumental poderemos ter uma idéia mais clara das relações entre os agentes econômicos, suas motivações, ou seja, os fatores que afetam seus comportamentos e a interação entre seus comportamentos individuais e as restrições macroeco-nômicas. 
Veremos, por exemplo, que as famílias se comportam ativamente, respondendo às mudanças de uma série de variáveis. Primeiro, elas definem o montante de sua renda líquida que é destinado ao consumo e o montante que é destinado à poupança. Segundo, elas agem como que se maximizassem uma função utilidade, restritos à renda disponível. Daí resulta a demanda por produtos, os quais podem ser oriundos de produção interna ou importados. 
O governo, por seu lado, não apresenta um comportamento endógeno ativo na economia. A sua receita é definida pelos diferentes tributos, cujas alíquotas são exógenas. Os componentes da despesa são, via de regra, considerados constantes em termos reais ou obedientes a uma determinada taxa exogenamente definida de crescimento ou redução. 
As empresas são, presumidamente, minimizadoras de custos de produção e, dessa forma, comportam-se ativamente na escolha ótima do emprego de fatores e uso de insumos intermediários. Esta escolha é feita com base nos preços e restringidos a uma determinada tecnologia de produção. Além disso, com base nos preços relativos e na produção, elas decidem a proporção ótima entre vendas da produção no mercado doméstico ou externo de forma a maximizar sua receita. Da resolução dos problemas de minimização de custos das empresas e de maximização de receita obtém-se a demanda de fatores, a oferta para o mercado doméstico e a oferta para exportações. As decisões quanto ao investimento dependem, fundamentalmente, da demanda e, consequentemente, da sua produção. 
O resto do mundo, conforme a suposição de país pequeno, age no sentido de adquirir toda a produção ofertada para exportação pelo país em estudo, ao preço internacional. Da mesma forma, ele atendea todas as necessidades de importações deste país, cobrando o preço internacional para cada produto. Alternativamente, pode-se considerar o resto do mundo como um monopólio que define os preços das importações e um monopsônio que estabelece o preço das exportações do país em estudo.
Para uma melhor compreensão das inter-relações existentes entre os agentes e os mercados da economia, observe o fluxograma da Figura 8, o qual mostra a estrutura básica da economia brasileira, conforme o instrumental analítico utilizado neste trabalho.
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Figura 8: Estrutura de relações entre os diferentes agentes da economia.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Oferta 
de 
trabalho
	Exógena
	Demanda 
de 
trabalho
	
	
Capital
	
	
t+1
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Insumos interme-
Diários
	
	Valor adicionado
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Produção
Doméstica
	
	
Mercosul
	
	Resto
do
mundo
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Exportações
	
	Vendas Domésticas
	
	
Importações
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Resto
Do
Mundo
	
	
Mercosul
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Consumo intermediário
	Consumo
das
famílias
	Consumo
do
governo
	
Investimento
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Fonte: Fochezatto (1999).
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2 – Famílias
A noção de função consumo macroeconômica foi, primeiramente, desenvolvida por Keynes (1936). Em sua teoria, o consumo (C) é função da renda presente das famílias. Kuznets (1942) critica a fórmula keynesiana dizendo que ela ignora a existência de defasagens de ajustamento do consumo à renda. Este autor verificou, através da análise de séries temporais de 50 anos, que a trajetória do consumo é mais estável que a da renda dos consumidores. As variações da renda afetam mais a poupança que o consumo. Das tentativas feitas para resolver esta contradição, surgiram as teorias intertemporais: a teoria da renda permanente de Friedman (1957), a qual afirma que o consumo é determinado pela renda permanente dos agentes e não apenas pela sua renda presente; e a teoria do ciclo de vida de Modigliani e Brumberg (1954) e Ando e Modigliani (1963), a qual, além da renda permanente, leva em conta também o patrimônio dos agentes. Outros autores, como Duesenberry (1949) e Brown (1952) permaneceram dentro do esquema keynesiano, incorporando outros elementos explicativos do consumo. 
Embora Keynes não se interessasse pelas decisões individuais de consumo e poupança, mas apenas pelo resultado global do conjunto das decisões, as abordagens contemporâneas geralmente consideram o comportamento dos consumidores com base nos fundamentos microeconômicos. A não ser que seja um consumidor esquizofrênico, as decisões de compra de bens e serviços, de moradia, de aplicações financeiras, de procura de emprego dependem umas das outras. Segundo os ensinamentos da microeconomia, estas decisões resultam de um comportamento de otimização sob as restrições sócio-econômicas dadas pelo ambiente.
Na análise do comportamento das famílias, as questões mais importantes a estudar são os determinantes do consumo, da repartição da renda entre consumo e poupança e das decisões financeiras. Nesta análise, os principais indicadores de comportamento são: 
Os coeficientes orçamentários, os quais mostram o destino dos gastos das famílias nos diferentes produtos. Estes coeficientes são um indicador da qualidade de vida, pois permitem que se analise a evolução no tempo da participação da alimentação, saúde, educação, lazer, cultura, etc. no orçamento das famílias.
A propensão média e marginal a consumir. A propensão média a consumir (PMC) mostra a proporção da renda disponível das famílias que foi gasta com consumo em um determinado período de tempo (PMC=C/Yd). Uma medida interessante é a da PMC para diferentes níveis de renda das famílias. A tendência é de que ela caia à medida que a renda se eleva. Outro indicador é variação da PMC em diferentes épocas. A propensão marginal a consumir (PMgC) mostra a variação dos gastos com consumo por parte das famílias quando a sua renda aumenta em uma unidade (PMgC=dC/dYd).
A propensão média a poupar (PMS), que mostra a proporção da renda disponível das famílias que não é gasta com consumo ou que é mantida como poupança (PMS=Sp/Yd).
Evolução dos gastos com consumo em proporção ao PIB (C/PIB). Um aumento relativo do consumo no PIB tende a ter efeitos depressivos sobre o crescimento da economia no longo prazo pois afeta a capacidade da economia financiar o investimento agregado. O país fica na dependência de poupança externa.
PMC=C/Yd=548/717=0,764 ou 76,4%
PMgC=(Cn-Cn-1)/(Ydn-Ydn-1)=(548-484)/(717-646)=0,900 ou 90,0%
PMS=Sp/Yd=169/717=0,236 ou 23,6%
Tabela 1: Evolução dos principais indicadores referentes ao 
comportamento das famílias no Brasil (%).
	Anos
	1994
	1995
	1996
	1997
	PMC (%)
	71,8
	72,2
	74,9
	76,4
	PMgC (%)
	-
	72,7
	88,0
	90,0
	PMS (%)
	28,2
	27,8
	25,1
	23,6
	C/PIB
	59,6
	59,9
	62,1
	63,2
 2.1 - Fatores determinantes do consumo
2.1.1 – A renda das famílias
A renda é o principal determinante do consumo. Keynes, em sua lei psicológica fundamental, diz: “os homens tendem a aumentar seu consumo à medida que sua renda aumenta, mas não de uma quantidade tão grande quanto o aumento da renda”. Esta afirmação sugere que a propensão média a consumir diminui com o aumento da renda. A partir desta definição de Keynes, várias críticas e tentativas de definir melhor a função consumo foram aparecendo. Analisemos brevemente as principais.
a) Distinção entre curto e longo prazo (Kuznets, 1946)
A crítica de Kuznets foi no sentido de que a lei psicológica fundamental de Keynes se aplicaria apenas para o curto prazo. Para o longo prazo ele encontrou uma propensão média a consumir estável, embora com inclinação mais acentuada (um valor de b maior).
C=a+b*Y (função consumo de Keynes)
C=c*Y (função consumo de Kuznets); sendo que c>b
b) A hipótese da renda relativa (Brady e Friedman, 1945)
De acordo com esta hipótese, os indivíduos consomem bens e serviços em função de seus gostos e da renda mas, também, em função do comportamento das outras pessoas. A renda é relativa em função da posição do indivíduo na sociedade, de sua localização espacial, faixa etária, raça, tipo de vida, etc. A idéia é que há interdependências nas decisões de consumo por parte das pessoas e que, por isso, fatores como moda e propaganda têm influências importantes nas decisões de consumo.
A hipótese da relatividade da renda pode ser vista também sob o ponto de vista temporal. Segundo Brown (1952), deve-se incorporar um componente de defasagem ou de memória na função consumo para capturar o efeito do consumo no período anterior.
Ct=a+b*Yt+c*Ct-1
sendo que c mede a memória do indivíduo e tende a zero no longo prazo.
Outra variante desta abordagem é a hipótese da irreversibilidade das decisões de consumo ou “efeito de cliquet”. Duesenberry (1952) diz que as pessoas não aceitam reduzir seu padrão de consumo e, em uma situação de queda de sua renda, elas tendem a reduzir sua poupança e não o consumo. Assim, em caso de redução de renda, o consumo é função da renda presente e da renda máxima obtida no passado.
Ct=a+b*Yt+c*(Y0-Yt); quando Y0>Yt
Ct=a+b*Yt; quando Y0<Yt 
Ct=b*Yt; para o longo prazo
sendo que c é a memória da renda passada e tende a zero no longo prazo.
c) A teoria da renda permanente (Friedman, 1957)
Segundo Friedman, a teoria keynesiana do consumo, ao afirmar que ocorre uma diminuição da propensão a consumir com o aumento da renda, justifica a intervenção do Estado na economia. Por exemplo, em uma economia fechada, o equilíbrio oferta (Y) e demanda (D) é dado por Y=C+I+G. Para conservar o equilíbrio no tempo, é necessário que (Y=(D e, como o C cresce menos rapidamente que a renda (lei psicológica fundamental), é preciso que o I ou o G aumentem proporcionalmente mais que sua participação na demanda agregada. Se isso não acontecer, a deficiência de demanda vai provocar uma queda da produção e do emprego que, por sua vez, provocará uma queda na renda e noconsumo e a economia poderá entrar em uma recessão profunda. 
Em uma economia aberta, outra alternativa para reequilibrar a oferta e a demanda seria gerar excedentes exportáveis. Friedman criticou esta teoria e afirmou que o consumo no tempo t não depende apenas da renda presente mas também da renda futura que o consumidor espera obter (renda permanente). Ele define a renda permanente como a soma atualizada (valor presente) das rendas presente e futura. O problema desta definição é saber-se qual a renda e a taxa de juros no futuro. Para resolver este problema, ele propôs um cálculo de renda permanente através de um processo de previsão adaptativa usando um coeficiente de correção de erro.
We=Y0+Y1/(1+i)+...+Yn/(1+i)n 
We=Yp/(1+i)+...+Yp/(1+i)n=Yp*((1/(1+i)n 
sendo que We é a riqueza do consumidor, i é a taxa de juros, Y0, ...Yn é a renda no período zero, ...período n e Yp é a renda permanente. 
d) A hipótese do ciclo de vida (Ando e Modigliani, 1963)
Esta hipótese é desenvolvida sobre a relação patrimônio-consumo e sua originalidade é destacar a influência dos ativos patrimoniais no comportamento de consumo. A idéia é de que os indivíduos tomam suas decisões de consumo em função de suas perspectivas de ganhos presentes e futuros, levando em consideração seu ciclo de vida. De acordo com esta hipótese, os indivíduos maximizam sua utilidade, não em função da renda corrente, mas a longo prazo, sobre a duração de sua vida. Se ele não se preocupa em deixar herança, toda sua renda será consumida ao longo de sua vida. A função consumo é do tipo:
Ct=a*Yt+b*At-1
onde Yt é a renda da atividade; At-1 é o patrimônio acumulado até o período anterior; a é a propensão marginal a consumir; b é porcentagem do patrimônio consumido.
Esquematicamente, pode-se dividir a vida de uma pessoa em três períodos, conforme o gráfico abaixo: a) juventude, em que a renda é pequena e o indivíduo se endivida (área J); b) adulta, onde o indivíduo ganha mais do que gasta, reembolsando os empréstimos de quando era jovem e acumulando poupança para quando se aposentar (área Ad); e c) aposentado, quando o indivíduo se utiliza da poupança acumulada durante sua vida ativa (área Ap). 
Gráfico 1: Ciclo de vida das pessoas.
	 Consumo
 Renda Consumo
 Ap 
 Ad Renda
 J
 0 A B C t
Obs.: J representa a fase jovem, fora do mercado de trabalho; Ad representa a fase adulta, no mercado de trabalho; e Ap representa a fase de aposentadoria, fora do mercado de trabalho.
Em um corte transversal num dado momento do tempo há indivíduos nos três estágios. Haverá equilíbrio entre os excedentes de recursos do período dois com a escassez de recursos dos períodos um e três? Depende da pirâmide de idade da população. Por exemplo, se se tratar de uma sociedade envelhecida, haverá menos empréstimos, menos poupança e menos investimentos das famílias em moradia.
2.1.2 – Outros determinantes do consumo
Os outros determinantes do consumo são, principalmente, a tributação, a distribuição da renda, os preços, a inflação, a taxa de juros e o patrimônio.
a) Tributação
Os impostos diretos e indiretos podem influenciar o consumo de duas formas: segundo a óptica das pessoas taxadas e segundo o caráter das políticas adotadas pelo poder público. Além disso, deve-se observar a forma como incidem estes impostos: se de forma progressiva, neutra ou regressiva.
Se os impostos sobre a renda incidem de forma progressiva e se as políticas públicas possibilitarem uma melhoria na distribuição da renda, a tendência é de que haja um crescimento do consumo porque as pessoas de baixa renda, em geral, apresentam uma maior propensão a consumir. Além disso, admitindo que as pessoas tributadas não reduzam seu consumo (efeito de “cliquet”), o efeito será ainda mais significativo. O contra-argumento dos liberais a essa questão é de que os impostos têm efeitos nefastos sobre a poupança, principal fonte de financiamento do investimento. 
Quanto aos impostos indiretos, deve-se olhar as alíquotas e os produtos gravados. Para uma análise mais precisa, lembrar que a elasticidade-preço do consumo diminui com o aumento da renda das pessoas e com a essencialidade dos produtos.
b) Desigualdades na distribuição da renda
Dado que o valor da propensão dos pobres a consumir é maior do que a dos ricos, deduz-se que a propensão a consumir é crescente com o aumento da participação dos salários na renda nacional (N. Kaldor, J. Robinson, e L. Pasinetti). Em outros termos, uma melhoria na distribuição da renda tende a aumentar a propensão a consumir da economia e, consequentemente, reduzir a propensão a poupar. 
Por exemplo, suponha que a renda do trabalho seja igual a w e do capital igual a ( tal que a renda da economia seja igual a Y=w+(. Suponha, também, que a propensão a consumir dos trabalhadores seja PMCw e dos capitalistas seja PMC( tal que 0< PMC(<PMCw<1. Com isso, pode-se encontrar a propensão média a consumir da economia da seguinte forma: 
C= (PMC(*()+(PMCw*w)
PMC=C/Y
PMC=(PMC(*(/Y)+(PMCw*w/Y)
PMC=PMCw+(PMC( -PMCw) *(/Y; w/Y=[1-((/Y)]
Atribuindo diferentes valores para o termo (/Y verifica-se que, quanto menor for esta relação, maior será a propensão a consumir da economia.
Tabela 2: Brasil: Evolução do salário anual médio por trabalhador e da propensão a consumir da economia.
	Anos
	1994
	1995
	1996
	1997
	W (U$/ano)
	3.206
	3.889
	4.254
	4.349
	C/PIB (%)
	59,6
	59,9
	62,1
	63,2
c) Os preços e a inflação
A inflação reduz o consumo das famílias devido ao efeito renda negativo. Isto ocorre mesmo quando os salários estão indexados porque o reajuste deste se dá de forma defasada em relação ao aumento dos preços (os preços sobem pelo elevador e os salários pela escada). Isto faz com que as pessoas antecipem o consumo, gastando o mais rápido possível seus recursos na aquisição dos bens de que necessitam.
As expectativas quanto ao comportamento dos preços também tem um papel importante nas decisões de consumo. Se a expectativa é de aumento da inflação, as pessoas podem antecipar seu consumo presente e vice-versa.
Um ambiente inflacionário tende a prejudicar os credores e a ajudar os devedores por causa da redução do poder de compra do dinheiro. Uma pessoa que tenha tomado um empréstimo no início do ano para devolvê-lo no final do ano apenas com a correção monetária e que, neste ínterim, tenha usado os recursos para comprar algum bem, no momento da devolução terá tido um ganho real superior ao credor. Com isso, se as pessoas que tomam empréstimos apresentam uma propensão a consumir maior do que os credores, a tendência é que haja um aumento do consumo.
d) A taxa de juros
Os efeitos da taxa de juros sobre o consumo pode ser notado tanto no nível microeconômico quanto no macroeconômico. No primeiro caso, um aumento na taxa de juros remunerando a poupança pode ter uma dupla influência: diminuir o consumo presente pelo efeito substituição de consumo presente por consumo futuro (o ganho de juros é transferido para compras futuras) e aumentar o consumo presente pelo efeito renda provocado pelo aumento da remuneração da poupança (o ganho de juros é transferido para compras presentes). A priori, é difícil saber qual será o saldo líquido.
Por exemplo, imaginemos um agente consumindo R$800,00 e poupando R$200,00 de sua renda de R$1000,00. Suponha que a taxa de juros real inicial seja de 5% ao ano, o que lhe daria um ganho de R$10,00 na poupança. Agora, suponha que a taxa de juros aumente para 10% ao ano, o que o consumidor vai fazer? Pelo efeito substituição, ele pode aumentar a poupança para, por exemplo, R$250,00ganhando R$25,00 de juros ou, pelo efeito renda, ele pode diminuir a poupança para obter a mesma receita em juros (x*0,10=R$10,00; x=R$100,00). Analisando globalmente este exemplo, pode-se concluir que: a) no caso de efeito substituição, o C passou de R$ 800,00 para R$750,00 e a S passou de R$200,00 para R$250,00; b) no caso de efeito renda, o C passou de R$ 800,00 para R$900,00 e a S passou de R$200,00 para R$100,00; e c) na média dos dois efeitos, o C passou de R$800,00 para R$825,00 e a S passou de R$200 para R$175,00. 
O aumento da taxa de juros diminui o consumo porque encarece o crédito e, assim, reduz as possibilidades de antecipação do consumo. Com a falta de recursos próprios e supondo uma renda constante, o consumidor ou deixa de fazer as compras a prazo, reduzindo o consumo presente, ou as faz e se endivida, reduzindo o consumo futuro. Num país com uma grande massa assalariada de baixa renda, os efeitos sobre o consumo são significativos. 
No nível macroeconômico, o aumento da taxa de juros encarece os empréstimos, afetando negativamente o investimento, o que, por sua vez, vai afetar o emprego a renda e, finalmente, o consumo.
Com tantos efeitos contraditórios, é melhor ficar com a idéia de que não há uma determinação clara quanto aos efeitos líquidos de um aumento da taxa de juros sobre o consumo das famílias.
e) O patrimônio das famílias
O patrimônio das famílias pode influir no consumo de duas formas. Primeiro, se as famílias poupam com o objetivo de constituir um patrimônio, seremos tentados a dizer que o aumento do patrimônio freia a poupança e estimula o consumo. A idéia é que a motivação para a poupança é cada vez mais fraca com o aumento do patrimônio. 
Segundo, considerando que a poupança é o complemento do consumo na renda, pode-se deduzir que a propensão a poupar varia no mesmo sentido que o crescimento da economia. Isto explica o fato dos países com maiores taxas de crescimento apresentarem maior propensão a poupar (por exemplo, o Japão). 
Disto se conclui que o crescimento econômico tem um papel determinante na explicação da evolução do consumo e da poupança dos países. Esta conclusão, no entanto, nos remete ao principal determinante do consumo, dado que o aumento do crescimento nada mais é do que o aumento da renda. 
2.2 – Determinantes da poupança
Considerando um mundo onde não há incerteza e nem herança, é claro que, a nível microeconômico, a poupança de cada agente é nula durante a duração de sua vida. Durante o ciclo de vida, o indivíduo poupa um montante exatamente suficiente para cobrir suas necessidades de consumo ao longo de sua vida ativa e inativa. Sendo assim, porque a poupança macroeconômica não é nula? 
a) Porque a população é composta de gerações de agentes e, portanto, em cada momento, se o crescimento demográfico é positivo, há jovens em fase de poupança e idosos na fase de despoupança. Uma taxa de poupança macroeconômica positiva aparece, portanto, devido à coexistência de gerações diferentes e, mantendo todo o resto constante, ela é tanto maior quanto maior o crescimento demográfico. 
b) Porque a renda per capita é crescente ao longo do tempo, refletindo o crescimento da produtividade. Os jovens são mais ricos que os velhos que eles substituem e, portanto, sua poupança tende a ultrapassar a despoupança das pessoas idosas.
c) Poupar para a aposentadoria não é único motivo. As pessoas podem poupar para deixar uma herança para seus filhos, superior a que elas receberam. Se isto ocorrer, há um saldo positivo de poupança macroeconômica.
d) Se o futuro é incerto, a incerteza quanto aos rendimentos futuros faz com que as pessoas, para se precaverem, poupem mais.
3 – Governo
3.1 – Indicadores de comportamento do setor público no Brasil
Além dos referentes ao déficit primário e operacional, outro indicador importante é a influência da carga tributária bruta (T) sobre a economia. 
T=(td+t)/PIB=(119+125)/866=0,282 ou 28,2%
Tabela 3: Evolução dos principais indicadores relacionados ao setor público (% do PIB)
	Anos
	1981
	1986
	1991
	1994
	1995
	1996
	1997
	1998
	T (%)
	25,2
	26,1
	24,4
	27,9
	28,0
	28,2
	28,2
	29,0
	Dp (%)
	-
	-1,6
	-2,7
	-5,2
	-0,3
	0,1
	1,0
	0,0
	Do (%)
	6,3
	3,6
	0,2
	-1,1
	5,0
	3,8
	4,3
	7,8
	Juros (%)
	6,3
	5,2
	2,9
	4,1
	5,3
	3,9
	3,3
	7,8
3.2 – Receitas e despesas do governo
A receita do governo (RG) vem de: coleta de impostos diretos provenientes da tributação da renda dos trabalhadores e das empresas (td); impostos indiretos incidentes sobre as transações com bens e serviços na economia pagos pelos produtores e consumidores (t); tarifas de importação sobre os produtos oriundos do resto do mundo (tar); impostos de exportação sobre os produtos enviados ao resto do mundo (te); e contribuições sociais (tc). Os gastos do governo decorrem da aquisição de bens e serviços (G) e transferências líquidas ao setor privado interno e ao exterior (tr). 
RG=t+td+tar+te+tc
DG=G+tr
A poupança do governo é definida pela diferença entre a receita e a despesa. Se a despesa for maior que a receita, o governo estará em déficit e, portanto, com necessidade de financiamento. Neste caso, o governo pode obter recursos mediante empréstimos junto ao setor privado interno ou empréstimos de instituições externas, incorrendo, respectivamente, em dívida pública interna ou externa.
Sg=(t+td+tar+te+tc)-(G+tr)
3.3 – Princípio do multiplicador 
Os efeitos de um dispêndio autônomo sobre o produto interno ou a renda de uma economia é a questão central da teoria keynesiana. Segundo Keynes, uma variação autônoma de dispêndio por parte dos componentes da demanda final provoca um efeito sobre a renda de magnitude maior do que montante de dispêndio inicialmente alocado. Daí o surgimento do princípio do multiplicador, o qual representa o número (k) pelo qual é preciso multiplicar a despesa adicional ((A=(C+(I+(G) para calcular o suplemento de renda gerado ((Y). Podemos, portanto, representar o multiplicador da seguinte forma:
(Y=k*(A, com k>1
k=(Y/(A
O novo dispêndio ((A) provoca um primeiro efeito sob a forma de uma injeção de renda suplementar no circuito econômico. Em um segundo momento, o agente que recebe esta renda irá gastar uma parte dela em consumo, cuja magnitude dependerá de sua propensão marginal a consumir (c(A). Em um terceiro momento, quem receber esta parcela também vai gastar parte dela [c(c(A)] e assim sucessivamente. Como a propensão marginal a consumir é menor que um, a renda adicional será cada vez menor. Em uma economia aberta, o efeito multiplicador é menor porque parte da renda gerada sai do fluxo interno devido às importações. Em outras palavras, parte do efeito multiplicador vai ocorrer nos países com os quais o país transaciona. O gráfico abaixo ilustra o efeito multiplicador de um aumento do gasto autônomo do governo.
Gráfico 2: Efeito multiplicador de um aumento do gasto autônomo do governo.
	 C, G, I
 Y=C+G+I
 C+(G+(G)+I
 
 
 C+G+I
 
 0 Y (Y+(Y) Y
 
É por causa deste efeito expansivo sobre a economia que Keynes foi levado a defender a intervenção ativa do estado na economia, especialmente em momentos de deficiência de demanda. Uma das limitações desta análise é a suposição de que a oferta seja suficientemente elástica para atender cada aumento da demanda e de que os preços permaneçamestáveis. 
3.4 – Intervenções do Estado
A intervenção do Estado não é abordada do ponto de vista de suas incidências sobre as estruturas industriais ou na sua dimensão financeira. Somente as despesas e receitas relevantes para a política fiscal são analisadas. Vimos que a demanda global satisfeita pelo produto agregado é composta de consumo das famílias (C ), do investimento (I ), das aquisições públicas (G) e as aquisições do resto do mundo em relação ao nosso produto (E).
Y = C+I+G+E
Quanto à oferta global, ela corresponde à renda nacional que é repartida entre o Estado, sob a forma de tributos (T), e as famílias que podem gastá-la em consumo de produtos domésticos (C), produtos importados (M) ou poupá-la (Sp).
Q = C+S+T+M, com Q =Y
O equilíbrio contábil entre dispêndio e renda se escreve, portanto:
I+G+E = S+T+M
Um dos resultados da análise do multiplicador é que um aumento das despesas (G) acompanhado de um aumento de receitas de um mesmo montante (T) não se neutralizam quanto a seus impactos sobre a renda nacional. Isto porque o multiplicador do gasto faz crescer a economia e, com isto, a arrecadação do governo. É como se o governo pudesse gastar num primeiro momento para, num segundo momento, obter os recursos oriundos do crescimento engendrado pelo gasto inicial. Observando a identidade acima, o desequilíbrio provocado pelo aumento autônomo de gastos do govero (G) será contrabalançado pelo aumento da poupança (S), aumento da arrecadação de tributos (T) e/ou pelo aumento das importações (M).
4 - Empresas
4.1 - Introdução
As empresas utilizam insumos intermediários, fatores de produção (capital e trabalho) e pagam tributos ao governo. Com isso, o valor da produção doméstica corresponde à soma dos gastos com cada um destes componentes. A hipótese microeconômica é que, dado um sistema de preços de bens e de fatores, cada empresa maximiza suas vendas (receitas), descontadas do custo dos insumos, dos fatores de produção e dos tributos. Assim, conhecendo a função de produção, pode-se deduzir a oferta do produto produzido pela firma, sua demanda de insumos intermediários e a demanda de capital e trabalho. 
A demanda de trabalho é derivada do problema de maximização de lucro da empresa, sob a sua restrição tecnológica. Resolvendo este problema, verifica-se que a demanda de trabalho é uma função da produção, do preço do produto e do salário.
4.2 – Indicadores de comportamento das empresas
Podemos destacar três indicadores: taxa de margem, taxa de investimento e taxa de autofinanciamento. 
Taxa de margem (TM): mede a parte que cabe às empresas na repartição do valor adicionado. Trata-se, portanto, de seu excedente operacional bruto. Pensando a nível de uma empresa em particular, a taxa de margem reflete a sua política de preços, ou seja, a margem de lucro aplicada sobre os custos de produção.
TM=(/VA=411/742=0,554 ou 55,4%
Taxa de investimento (TI): mostra o esforço de investimento das empresas e é calculado dividindo-se a FBCF (investimento menos variação de estoques) pelo valor adicionado.
TI=FBCF/VA=0,229 ou 22,9%
Taxa de autofinanciamento (TA): mede a parte de recursos oriundos de poupança interna no financiamento do investimento. Ela é medida dividindo-se a poupança interna pelo investimento.
TA=(Sp+Sg)/I=146/184=0,795 ou 79,5%
Tabela 4: Evolução dos principais indicadores relacionados ao 
comportamento das empresas (%)
	Anos
	1994
	1995
	1996
	1997
	TM (%)
	52,4
	54,7
	54,6
	55,4
	TI (%)
	24,5
	24,4
	22,6
	22,9
	TA (%)
	95,7
	86,3
	82,2
	79,5
4.3 – As técnicas de produção
A operação de produção das empresas consiste, de maneira geral, em transformar, pelo trabalho, bens e serviços existentes em outros bens e serviços e em tirar desta transformação um lucro. Os bens e serviços que entram nestas operações de transformação são os insumos e os fatores de produção, os quais podem ser fatores primários (terra, capital) ou de consumo intermediário (matérias-primas). Estes fatores são combinados para obter os bens e serviços resultantes da operação de transformação, que são os produtos. As matrizes de insumo-produto mostram quantitativamente estas relações para todos os setores da economia.
A função de produção descreve, para cada bem produzido por uma empresa, a relação que existe entre as quantidades utilizadas de diferentes fatores de produção e a quantidade máxima do bem ou serviço que pode ser produzido. Pode-se falar, também, em função de produção agregada ou macroeconômica, representando o conjunto dos setores da economia. As funções de produção agregadas são fortemente inspiradas na microeconomia, apesar das controvérsias que isto apresenta.
4.3.1 – As funções de produção agregadas mais simples
De uma forma geral, as funções de produção presumem a existência de apenas dois fatores de produção: o trabalho e o capital (agregando todos os bens de capital, equipamentos, construção, terra, etc.). Assim, a função de produção agregada da economia pode ser escrita da seguinte forma:
Q=f(K, L)
a) Função de produção a fatores complementares
Representa o caso em que os fatores de produção são combinados em proporções fixas para obter uma determinada produção. Para produzir uma unidade de produto é necessário a unidades de capital e b unidades de trabalho. A função de produção é escrita da seguinte forma:
Q=mín.(K/a, L/b)
sendo que os coeficientes a e b são fixos, a*Q representa a quantidade de capital utilizada, b*Q representa a quantidade de trabalho utilizada, a=K/Q representa o coeficiente ótimo de capital, b=L/Q representa o coeficiente ótimo de trabalho, 1/a representa a produtividade do capital e 1/b representa a produtividade do trabalho.
b) Função de produção a fatores substituíveis
Se é possível substituir uma certa quantidade de um dos fatores por uma quantidade adicional de outro fator e manter a quantidade de produção, então a função de produção é dita a fatores substituíveis. Estas funções normalmente estão sujeitas a lei dos rendimentos marginais decrescentes, a qual diz que “se adicionarmos continuamente quantidades de um fator, mantendo o outro fator constante, a sua produtividade marginal tende a diminuir a partir de um certo ponto”.
Quando estamos diante deste tipo de função, as variáveis relevantes a serem observadas para tomar decisões quanto à substituição de fatores são: a taxa marginal de substituição, a qual mostra o quanto de capital deve ser adicionado para substituir uma unidade de trabalho e manter a produção constante, e vice-versa; a produtividade marginal do capital (dQ/dK) e do trabalho (dQ/dL); e o preço de uma unidade de capital (r) e de trabalho (w). Uma situação de equilíbrio ocorre quando:
(dQ/dK)/(dQ/dL)=r/w ou
(dL/dK)=r/w
Por exemplo, suponha que a produtividade marginal do capital e do trabalho seja, respectivamente, igual a 5 e a 10 unidades e que o preço unitário seja, respectivamente, igual a R$ 20,00 e R$ 30,00. Neste caso, está a empresa empregando a quantidade ótima de fatores? Em caso negativo, qual o fator que a empresa deveria aumentar a utilização ou qual deveria diminuir? 
5/10(20/30
Como os preços dos fatores são exógenos, para estabelecer a igualdade a empresa deveria aumentar o lado esquerdo da equação, o que significaria substituir capital por trabalho. Ao diminuir a quantidade de capital, como os rendimentos marginais são decrescentes, a produtividade do capital aumenta. O contrário acontece com o trabalho, dado que haverá um aumento de sua participação na produção. Esta substituição possibilitará encontrar o equilíbrio.
As principais funções a fatores substituíveis são a Cobb-Douglass, a CES (Constant Elasticity of Substitution) e a Translog (transcendental logarítmica). 
4.3.2 – O progresso técnico
Tradicionalmente, o progresso técnico é introduzido de forma a, dadas as quantidades de fatores e insumos, haver um crescimento da produção. Ele decorre de descobertas científicas, incorporação de novas técnicas de produção, aprendizado dos empregados, aumento dos níveis de educação, etc. e pode

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