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Climatério e Menopausa O climatério é a passagem do período reprodutivo ao não reprodutível, caracterizado pelo declínio acentuado e progressivo da função ovariana. Acompanhado dessa passagem, podem surgir sinais e sintomas relacionados à queda da função ovariana, caracterizando a síndrome do climatério. A menopausa, por sua vez, é caracterizada como a última menstruação espontânea da mulher associada a 12 meses consecutivos de amenorreia. Em geral, ocorre por volta dos 51,5 anos, sendo caracterizada como precoce caso ocorra antes dos 40 anos. Alterações Fisiológicas Conforme há redução/envelhecimento dos folículos ovarianos, há redução da produção de inibina, com consequente aumento progressivo do FSH. Dessa forma, as células da granulosa aumentam a produção de estrogênio em um primeiro momento. Porém, conforme o número de folículos cai, há menos estrogênio e inibina sendo produzidos, causando um hipoestrogenismo associado ao aumento do FSH. Esse processo persiste até o momento em que não resta nenhum folículo, reduzindo drasticamente a secreção de estrogênio e aumentando drasticamente a secreção das gonadotrofinas, chegando a aumentar em 10 a 15 vezes os valores de FSH e de 3 a 5 vezes os de LH. Desse modo, na menopausa, a suprarrenal é quem faz praticamente todo a produção de hormônios sexuais femininos. Outro hormônio associado a esse período é o anti- mulleriano, o qual marca a reserva ovariana, de modo que, quanto menos folículos, menor sua produção. Ou seja, seus níveis caem progressivamente com o passar do tempo e chegada da menopausa. O SHBG começa a reduzir seus valores por conta de baixa produção hepática, de modo que há aumento da fração livre de estrogênio e testosterona. Com a redução dos folículos, também há redução da produção de androgênios pela teca. Além disso, os níveis de sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) e de desidroepiandrosterona (DHEA) apresentam queda progressiva. O principal estrogênio que passa a circular na menopausa é a estrona, a qual é produzida a partir da aromatização periférica nas células gordurosas. Desse modo, mulheres com IMC mais elevado tendem a ter mais estrona e, consequentemente, possuem maior risco de câncer de endométrio, mas menor risco de osteoporose. O endométrio, inicialmente, é normal, refletindo os últimos ciclos ovulatórios da paciente. Em seguida, começa a refletir o padrão anovulatório, surgindo alterações proliferativas, como as hiperplasias endometriais. Por fim, com a menopausa, o endométrio se torna atrófico (< 5 mm). Alterações Patológicas As alterações cardiovasculares aumentam sua incidência, uma vez que há redução do estrogênio que protegia os vasos sanguíneos da formação de placas ateroscleróticas, melhorava o perfil lipídico e apresentava efeito vasodilatador. Aliada a isso, o aumento da obesidade centrípeta e a síndrome metabólica contribuem para o quadro. O preditor mais forte para doença coronariana em mulheres é a ocorrência de HDL baixo (< 50 mg/dl). A osteoporose e osteopenia começam a ser uma preocupação mais frequente, uma vez que a privação estrogênica provoca favorecimento da reabsorção óssea em detrimento da formação. Como consequência, na menopausa, há aumento do cálcio circulante e da sua excreção urinária, além do aumento da hidroxiprolina e fósforo, os quais refletem o aumento do turnover da massa óssea. Dessa forma, há perda óssea progressiva, gerando principalmente fraturas de corpos vertebrais, radio distal e colo femoral. Também pode ocorrer alterações no sistema nervoso central e psicogênicas causadas pela queda dos níveis de estrogênio. No SNC, isso gera dificuldade de concentração, diminuição da cognição e perda de memória recente, aumentando o risco de doença de Alzheimer. Já nas alterações psicogênicas, a paciente pode apresentar diminuição da autoestima, irritabilidade, labilidade afetiva, depressão, dificuldades sexuais, insônia, entre outros. Quadro Clínico e Diagnóstico No início da transição, os ciclos podem ser regulares, mas passam a ser irregulares, inicialmente com ciclos mais curtos (devido à maturação folicular acelerada em virtude dos maiores níveis de FSH circulantes), seguidos de atrasos menstruais que podem durar 60 dias ou mais (devido à anovulação) e estarem associados ao aumento do fluxo menstrual (produção irregular de estrogênio e ausência de progesterona). Os sintomas começam a surgir e o quadro clínico pode se dividir em sintomas agudos, como os eventos vasomotores ou crônicos, como a atrofia cutânea e urogenital, doença de Alzheimer, osteoporose, entre outros. Outros sintomas comuns são a ocorrência de palpitações, cefaleias, parestesia, entre outros. Os sintomas vasomotores ocorrem pela queda abrupta dos níveis de estrogênio. Um dos sintomas principais é a ocorrência de fogachos, que é a sensação súbita de calor que se inicia na região da cintura e se espalha pelo tórax, pescoço e face, sendo geralmente mais intensa à noite, podendo estar acompanhada de sudorese e vermelhidão na face. Seu mecanismo fisiopatológico parece estar relacionado com uma disfunção térmica no hipotálamo, sendo que alguns autores referem que cada fogacho corresponde a um pulso de LH, enquanto outros referem que o evento ocorre por conta de vasoespasmos. A duração média desses sintomas é de 5,5 anos para mulheres sem uso de terapia hormonal (TH) e de 5,2 anos para as usuárias de TH. O diagnóstico da menopausa é retrospectivo, uma vez que há necessidade de haver 12 meses de amenorreia. Não há necessidade de dosar LH, FSH ou estrogênios para o diagnóstico caso haja idade e anamnese compatíveis com o fenômeno. Tratamento Apesar de não ser uma doença, o tratamento visa reduzir os principais sintomas referidos. Terapia de Reposição Hormonal A terapia hormonal é utilizada para o tratamento dos sintomas vasomotores moderados a intensos, onde é a indicação primária e o mais efetivo. Seu uso é indicado em mulheres com menos de 60 anos e com menos de 10 anos de menopausa, em virtude do trabalho do WHI que demonstrou aumento do risco de câncer de mama e eventos cardiovasculares em pacientes mais velhas. Em caso de sintomas urogenitais, a TH é efetiva, mas se for apenas o único sintoma, deve- se optar pelo estrogênio vaginal. A administração pode ser cíclica ou contínua. No esquema cíclico, a paciente continua menstruando, sendo preferido o uso na pré-menopausa quando há irregularidade menstrual. Já o esquema contínuo é mais indicado na pós-menopausa, não havendo menstruação, ou em mulheres que tenham miomas, endometriose ou que não desejam menstruar. A via de administração da TH pode ser oral, transdérmica, intramuscular, intrauterina, intranasal e vaginal. Cada um apresenta uma indicação específica, como a vaginal que é indicada quando há apenas atrofia urogenital e a transdérmica é indicada nas pacientes portadoras de síndrome metabólica. Quanto ao hormônio, dá-se preferência aos estrogênios naturais, com menor risco de eventos tromboembólicos e menor efeito sobre o perfil lipídico, como os estrogênios equinos conjugados, 17-betaestradiol, valerato de estradiol, entre outros. O uso de progesterona não reduz nenhum sintoma, de modo que pacientes histerectomizadas não necessitam desse hormônio, com exceção das pacientes com histórico de endometriose, onde a doença pode recidivar. Porém, seu uso é importante para contrapor o efeito do estrogênio, reduzindo a chance de câncer de endométrio e outras complicações. São contraindicações absolutas ao uso de TH: • Câncer de Mama. • Câncer de Endométrio. • Doença Hepática Grave. • Sangramento Genital Não Esclarecido. • Histórico de Tromboembolismo. • Porfiria. • Lesão Precursora de Câncer de Mama (FEBRASGO contraindica, MS não).São contraindicações relativas ao uso de TH segundo o Ministério da Saúde: • HAS não controlada. • DM2 não controlada. • Endometriose. • Miomatose uterina. São contraindicações relativas ao uso de TH segundo a FEBRASGO: • Doença Coronariana e Cerebrovascular. • Lúpus Eritematoso Sistêmico. • Meningioma (apenas o progestogênio). Moduladores Seletivos dos Receptores Estrogênicos e a Tibolona Representados pelo raloxifeno e o tamoxifeno, os moduladores seletivos dos receptores estrogênios (SERMs) possuem ação estrogênica ou antiestrogênica, a depender do tecido. Seu uso não tem ação sobre os sintomas vasomotores. O tamoxifeno nas doses de 10 a 20 mg/d tem ação estrogênica sobre os ossos, metabolismo lipídico e endométrio, enquanto tem ação antiandrogênica sobre as mamas e o sistema nervoso central. É a medicação de escolha nas pacientes com câncer de mama, porém, requer vigilância ativa do endométrio. O raloxifeno na dose de 60 mg/d tem ação ainda maior sobre o metabolismo ósseo e não estimula o endométrio. Por outro lado, a tibolona é um derivado da 19- nortestosterona, possuindo ação estrogênica, progestogênica e androgênica. Sua dose varia de 1,25 a 2,5 mg/d e propicia alívio dos sintomas climatéricos, atuando sobre a massa óssea e age favoravelmente sobre a libido. Dessa forma, é o fármaco de escolha para as pacientes com desejo sexual hipoativo. Contudo, a tibolona aumenta discretamente o LDL e o colesterol total, enquanto diminui discretamente o HDL e os triglicerídeos. Fitoestrogênios Os fitoestrogênios são derivados das plantas e possuem ação estrogênica inferior aos estrogênios, de modo que requerem doses altas para o controle dos sintomas da síndrome do climatério, tornando seu uso muito difícil quando os sintomas são muito intensos. Porém, há estudos que não demonstram melhora sintomatológica em relação aos placebos, de modo que seu uso não apresenta justificativa. Outros Tratamentos Para as mulheres que não querem tratamentos hormonais ou com contraindicação a TH, pode-se usar outras classes de medicamentos para tal, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, norepinefrina e gabapentina. Vale ressaltar que o uso de paroxetina e fluoxetina é contraindicada em pacientes que fazem uso de tamoxifeno, uma vez que interferem negativamente no seu efeito para o tratamento de câncer de mama. Além disso, a presença de sintomas depressivos não é indicação de TH, para os quais deve-se utilizar os antidepressivos. Tratamento da Osteoporose Os pacientes com risco de osteoporose devem iniciar medidas de intervenção para a prevenção da sua ocorrência, como dieta adequada, exercício físico, suspensão de álcool e tabagismo, exposição solar de face, tronco e braços antes das 10 da manhã e depois das 16 horas da tarde por 15 minutos ou mais, de duas a quatro vezes por semana, entre outros. Já pacientes com osteopenia, além das medidas anteriores, devem iniciar reposição com cálcio de 1000 a 1500 mg/d por via oral, além de vitamina D com 400 a 800 UI/d para adultos com 50 anos ou mais. Na osteoporose, a primeira linha de tratamento são os bifosfonados orais, como o alendronato de sódio (70 mg/semana) ou resedronato (5 mg/d ou 150 mg em dose única mensal). Vale ressaltar que, para diminuir o risco de ulceração de esôfago, os pacientes devem permanecer sentado ou em pé por 30 minutos após a ingestão dos medicamentos. Como segunda linha, há a reposição hormonal, que deve ser feita na vigência de sintomas vasomotores concomitantes, raloxifeno, calcitonina, a qual deve ser utilizada em pacientes com contraindicação aos tratamentos anteriores, e o paratormônio. Outras possíveis opções são: ácido zoledrônico, ranelato de estrôncio, ibandronato e denosumabe. Rastreamento de Doenças A osteoporose tem como principal exame de rastreio a densitometria óssea de coluna vertebral e fêmur. O resultado é comparado com a população normal de mesma idade e de jovens adultos expressos em score T, visualizando o desvio-padrão em relação aos jovens adultos: • T-score > -1: Normal. • T-score entre -1 e -2,5: Osteopenia. • T-score < -2,5: Osteoporose. Devem realizar esse exame, segundo o Ministério da Saúde (MS), mulheres ≥ 65 anos, homens ≥ 70 anos ou mulheres após a menopausa se apresentam fatores de risco (IMC < 21, fratura óssea prévia, anormalidades vertebrais radiológicas, artrite reumatoide, uso de corticoide por 3 meses ou mais). A radiografia simples da coluna dorsal e lombar pode detectar a doença na fase tardia, quando há perda de 30 a 40% da massa óssea. O rastreio para câncer de mama deve ser realizado por meio da mamografia periódica, solicitada a cada 2 anos entre 50 e 69 anos, segundo o MS. Em situações específicas e para complementar a mamografia, a ultrassonografia também pode ser solicitada. É válido salientar que o MS desencoraja o ensino do autoexame de mama no rastreamento. Já o rastreio de câncer de colo de útero é feito pelo exame citopatológico do colo do útero (Papanicolau), realizados em mulheres de 25 a 64 anos. O exame é feito anualmente, porém, na vigência de 2 exames realizados em sequência e sem presença de anormalidades, o exame pode passar a ser feito a cada 3 anos. Para a alta do exame aos 64 anos, a paciente não pode ter história prévia de doença neoplásica pré-invasiva associado a dois ou mais exames negativos consecutivos nos últimos 5 anos. O rastreio de câncer de corpo uterino pode ser realizado por ultrassonografia transvaginal (USGTV), onde visualiza-se a espessura do endométrio. A medida de referência é de 5 mm ou de 8 mm em caso de usuária de TH. Em caso de alteração, deve-se partir para histeroscopia. Entretanto, seu uso não demonstrou redução da mortalidade, de modo que a recomendação é sua utilização apenas em caso de sangramento uterino anormal. O rastreio de câncer de ovários também não apresenta recomendação pelo MS. Alguns autores sugerem que os anexos devem ser avaliados periodicamente com USGTV (o volume médio dos ovários reduz de 8 a 9 cm³ no menacme a 2 a 3 cm² na menopausa), enquanto outros sugerem o pedido concomitante de marcadores tumorais, como o CA- 125, alfafetoproteína e o antígeno carcinoembrionário. Porém, tais métodos apresentam baixo impacto na prevenção secundária. O câncer de cólon apresenta alta prevalência na menopausa, de modo que há indicação de rastreamento a partir dos 50 anos por meio do sangue oculto nas fezes (PSO). Em casos positivos, deve-se encaminhar o paciente para colonoscopia. Alguns autores também sugerem associar o PSO anual à colonoscopia a cada 5 anos por apresentar maior sensibilidade.
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