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PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 1 0 Complexo teníase-cisticercose Complexo Teníase-cisticercose É constituído por duas doenças distintas causadas pela mesma espécie de cestódeo, em diferentes fases do seu ciclo biológico. O ciclo das tênias implica dois hospedeiros, um definitivo e um intermediário, e uma fase de vida livre. O único hospedeiro definitivo de ambas as tênias é o ser humano. Taenia solium: encontrada em carne de porco Taenia saginata: encontrada em carne de boi Teníase ◗ Agente etiológico Taenia solium, Taenia saginata; ◗ Fase da vida: Adulta ◗ Hospedeiro definitivo: Ser humano ◗ Hospedeiro intermediário: Bovino/suíno ◗ Local: Intestino Delgado Cisticercose ◗ Agente etiológico: Taenia solium; ◗ Fase da vida: Cisticerco (larva) ◗ Hospedeiro definitivo: Ser humano ◗ Local: Tecidos; Os seres humanos desenvolvem teníase ao ingerir carne mal passada contaminada com cisticercos. Na cisticercose a infecção ocorre ao ingerir os ovos de T. solium. TENÍASE Conhecida popularmente como “solitária”, a teníase é uma infecção intestinal causada pela forma adulta da Taenia solium ou T. saginata, no intestino delgado, proveniente da ingestão de carne mal passada contaminada com cisticercos. Ciclo Biológico 1. Indivíduo infectado com uma tênia adulta produz e elimina proglotes pelas fezes; 2. Esses proglotes contaminam o ambiente (água e alimento dos animais) podendo sobreviver por dias ou meses, dependendo das condições do meio. 3. Ingestão de alimento contaminado pelo hospedeiro intermediário e eclosão dos ovos no estômago liberando a oncosfera (embrião); 4. Oncosfera invade a parede intestinal, atingindo a circulação sanguínea e desloca-se para diversos tecidos; 5. Desenvolve-se para cisticercos no tecido, preferencialmente nos músculos. 6. Ingestão de carne de boi ou porco contaminada com cisticerco. 7. Em contato com o suco gástrico o cisticerco se desenvolve, transformando-se em uma tênia adulta, que se fixa no intestino delgado através da excólise. A Taenia solium pode viver por até 3 anos no intestino delgado humano, já a T. saginata pode viver até 10 anos. PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 2 0 . Sintomas ◗ Diarréia; ◗ Anemia; ◗ Náuseas; ◗ Vômito; ◗ Sinais nervosos ◗ Prisão de ventre; ◗ Perda de peso ◗ Desconforto abdominal; ◗ Alterações no apetite; ◗ Indisposição, cansaço; ◗ Insônia, irritabilidade; ◗ Cólicas intestinais; ◗ Alterações no humor; Epidemiologia Os fatores que contribuem para disseminação de teníase e cisticercose compreendem: a disponibilidade de sanitários com ausência das fossas adequadas, práticas anti-higiênicas de evacuação a céu aberto, a indisponibilidade de sanitários, entre outros. Os baixos padrões de saneamento básico contribuem para a alta ocorrência da cisticercose e teníase nessas regiões. Estão mais sujeitas à teníase as pessoas que preparam alimentos e provam a carne antes de cozinhar e indivíduos que fazem as refeições fora de casa. Fatores econômicos, culturais (hábitos alimentares) e religiosos tendem a expor certos grupos de indivíduos em maior ou menor grau. A maior prevalência ocorre em adultos jovens nas zonas rurais da América Latina, África e Ásia, onde na culinária tradicional há pratos que utilizam carne crua. PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 3 0 CISTICERCOSE É a infecção causada pela ingestão de ovos, exclusivamente, de Taenia solium, excretados pelas fezes humanas. TRANSMISSÃO ◗ Heteroinfecção: Um indivíduo já infectado pela Taenia solium,eliminará no ambiente externo, proglotes e ovos juntamente com as suas fezes, contaminando água e alimentos que serão ingeridos por outro ser humano não infectado; ◗ Auto Infecção, ingerindo os próprios proglotes - por falta de higiene ou casos de coprofagia - ou por refluxos e vômitos devido ao peristaltismo reverso, proglotes grávidas alcançam o estômago liberando os embriões, que podem migrar para outros tecidos. Ciclo Biológico 1. Ingestão de ovos por água contaminada ou manuseio de alimentos com as mãos não devidamente higienizadas após uma evacuação; 2. Após a ingestão, os ovos eclodem no intestino quando em contato com o ácido gástrico, liberando as oncosferas, as quais penetram na parede intestinal e caem na corrente sanguÍnea; 3. Na circulação, as oncosferas deslocam-se para os músculos, olhos, coração e cérebro, por exemplo, onde se desenvolvem em cisticercos, ocasionando a cisticercose. PERÍODO DE INCUBAÇÃO Da cisticercose humana, varia de 15 dias a anos após a infecção. Para a teníase, em torno de 3 meses após a ingestão da larva, o parasita adulto já é encontrado no intestino delgado humano. PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 4 0 Manifestações Clínicas da Cisticercose As manifestações clínicas da Cisticercose irão depender da localização das larvas, da quantidade, tamanho, fases do desenvolvimento dos cisticercos e da resposta imunológica do hospedeiro. Na maioria dos órgãos, os cisticercos viáveis provocam reação mínima ou nenhuma no tecido alojado. Dessa forma, com frequência os sintomas não aparecem durante anos depois da infecção ou podem até não se manifestar. MUSCULATURA ◗ Inchaço; ◗ Inflamação; ◗ Dificuldade nos movimentos; OCULAR ◗ Cegueira NEUROCISTICERCOSE ◗ Cefaléia; ◗ Convulsões (70 - 90% dos casos); ◗ Epilepsia; ◗ Deficiência visual; ◗ Hipertensão intracraniana NEUROCISTICERCOSE Quando ingeridos, os cisticercos podem se alojar no cérebro podendo causar sintomas graves, por efeito de reações inflamatórias com calcificação pela degeneração dos cisticercos e liberação dos antígenos devido a morte do cisticerco. O cisticerco no SN atinge pequenos vasos sangüíneos entre as substâncias branca e cinzenta do cérebro, onde se desenvolve num cisto (Cysticercus cellulosae). Os cistos podem se alojar em diversas regiões do SN: parênquima cerebral, espaço subaracnóideo, meninges, medula e sistema ventricular, onde assume uma forma com vesículas que se desdobram, formando um cacho (Cysticercus racemosus), que compromete com maior freqüência a fossa posterior. Devido a essas particularidades, a NC apresenta quadro clínico polimorfo. A ação patogênica do parasito no SN se manifesta por: Efeito mecânico: causado pelo volume e localização da vesícula, levando a bloqueio do sistema ventricular e suas consequências: hipertensão intracraniana (HIC) e hidrocefalias; Efeito tóxico: devido à reação inflamatória, fibrose residual (gliose), granuloma e calcificação. O cisto se retrai, sua cápsula se espessa e o escólex se calcifica. O SN reage com formação de fenômenos degenerativos nos neurônios, desmielinização da substância branca, infiltrações e proliferação glial. Devido às múltiplas localizações corticais, podem ocorrer sintomas epilépticos focais ou generalizados, distúrbios motores, sensoriais e sensitivos. As localizações ventriculares das vesículas cisticerco óticas por contato direto ou fator tóxico ocasionam irritação dos plexos coróideos e hipertensão liquórica. Por outro lado, obstruindo as vias de drenagem do líquor intraventricular, acarretam hidrocefalias. A sintomatologia se inicia habitualmente com crises convulsivas, sendo o principal sintoma. Porém, antes dessa manifestação, pode ocorrer cefaleia refratária ao uso de analgésicos e, eventualmente, déficit cognitivo. Esse quadro clínico tende a se agravar, causando sintomas graves, como a hidrocefalia e hipertensão intracraniana - PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 5 0 decorrente do efeito de massa e inflamação, induzidos pela degeneração dos cisticercos e liberação de antígenos. Dependendo das estruturas acometidas, pode evoluir para meningoencefalite, meningite, deficiência visual e loucura. A epilepsia é a síndrome mais frequente da NC parenquimatosa e a principal causa de seu início na idade adulta nas regiões em desenvolvimento, sendo responsáveis por mais de 50% dos casos. O principal fator epileptogênico é a gliose perilesional à mortedo parasito ou ao parasito morto (calcificação). Os transtornos psíquicos são variados, mas de modo geral são alterações comportamentais, transtorno cognitivo leve, culminando em quadro demencial. CISTICERCOSE OCULAR: Pode instalar-se no espaço sub-retiniano - causando deslocamento ou perfuração da retina - no humor vítreo - gerando reações inflamatórias, que podem levar à catarata com perda parcial ou total da visão - e na conjuntiva, sendo esses os locais mais frequentes de infecção. CISTICERCOSE MUSCULAR: Em geral é assintomática, mas quando em grandes números podem provocar dor, fadiga e câimbras. Após a morte do parasita tem-se degeneração e calcificação do cisticerco causando uma pseudo-hipertrofia e nódulos de cálcio gerando um processo inflamatório). CISTICERCOSE CARDÍACA: Podemos observar palpitações e ruídos anormais associadas a dispneia. PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 6 0 Diagnóstico 1. TESTES SOROLÓGICOS ◗ ELISA, imunofluorescência indireta (IFI) e imunoeletroforese 2. PARASITOLÓGICO DE FEZES: identificar presença de ovos e proglotes. ◗ Sedimentação - Hoffman ◗ Flutuação - Willis ◗ Tamisação Para infecção intestinal por vermes adultos T. solium geralmente pode ser diagnosticada por exame microscópico das amostras de fezes e identificação dos ovos e/ou proglotes. Mas os ovos são indistinguíveis daqueles de T. saginata e T. asiatica. 3. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ◗ Presença de calcificações intracranianas reveladas pela radiografia do crânio (RXC), pela tomografia computadorizada do encéfalo (TCE), permitindo a visualização do tamanho, localização das vesículas com os cisticercos e calcificação. Pode revelar a presença ou não de hidrocefalia e edema cerebral. Figura 1 - Tomografia Computadorizada evidenciando cistos diversos tamanhos, nódulos captantes de contraste, calcificações e escólex central. ◗ Lesões hipodensas (cistos), reveladas pela TCE ou pela ressonância magnética do encéfalo (RME)permite a demonstração dos cisticercos mesmo quando completamente envoltos pelo líquido cefalorraquidiano, além da identificação das diferentes fases de desenvolvimento da larva – demonstrando conteúdo heterogêneo no interior da vesícula e impregnação periférica evidenciando a reação inflamatória provocada. Figura 2 - Tomografia computadorizada evidenciando cisto frontal direito, NC vesicular, coloidal, com reforço anular, edema e efeito de massa. Figura 3 - Cisto gigante com membrana esbranquiçada e escólex amarelo ressecado da região frontal direita. Figura 4 - Vesículas dispostas em cacho (Cysticercus racemosus) retiradas da fossa posterior (IV ventrículo). PARASITOLOGIA HUMANA | Eduarda Oliveira | FARMÁCIA 5º PERÍODO F 7 0 Figura 5 - Corte histológico mostrando cavidade com membrana espessa contendo no interior subs. necrótica, externamente histiócitos e células gliais em processo de gliose. Figura 6 - Cisticercos racemosos da fossa posterior em achado de necropsia. Profilaxia ◗ Educação sanitária para a população ◗ Inspeção de abatedouros ◗ Evitar ingerir carne mal passada, frutas e verduras não higienizadas ◗ Usar somente água de fontes limpas ou água fervida, filtrada ou tratada para o consumo ou limpeza de alimentos e utensílios ◗ Lavar as mãos antes das refeições, antes de preparar e comer os alimentos e sempre depois de ir ao banheiro; CRITÉRIOS - INSPEÇÃO SANITÁRIA Bovinos ◗ De 1 a 5 cisticercos encontrados na carne pode ser feita a charque - salgada por 21 dias, congelamento a -5°C/35 horas ou -15°C/15 horas ◗ 6 - 20 ⟶ Conservas (salsicha) - 120°C /1 hora ◗ + 20 ⟶ Condenação total Suínos ◗ 1 Cisticerco calcificado ⟶ Salsicharia ◗ Poucos cisticercos vivos ⟶ Salga ou graxaria ◗ Grande quantidade vivos ⟶ Condenação total Tratamento Antiparasitário ◗ Albendazol - 15 mg/kg/dia - Não deve ser utilizado em casos de cisticercos oculares e na coluna vertebral. Sua associação com corticoide faz com que o nível do metabólito ativo no LCR seja potencializado. ◗ Praziquantel - 50 mg/kg/dia Não deve ser utilizado em casos de cisticercos oculares e na coluna vertebral. Sua associação com corticoide faz com que o nível do metabólito ativo no LCR seja diminuído Anti-inflamatório ◗ Dexametasona, associado ao praziquantel: 0,6 mg/kg/dia fracionado IV, Anticonvulsionantes ◗ Diazepam, para a crise em atividade. Na persistência por mais de 10 minutos, Fenitoína. A cirurgia pode ser necessária para tratar hidrocefalia obstrutiva (decorrente de cisticercose intraventricular, incluindo aqueles do 4º ventrículo) ou cisticercose espinhal ou ocular. Os cisticercos intraventriculares são removidos por via endoscópica, quando possível. Derivações ventriculares podem ser necessárias para reduzir o aumento da pressão intracraniana.
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