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INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO-Aula 1 a 10 _pagenumber

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Disciplina: Introdução ao Novo Testamento
Aula 1: Texto e Cânon do Novo Testamento 1
Página 1 de 183
Apresentação
O Novo Testamento não foi escrito de uma só vez. Ele é o resultado de um processo de formação de memórias coletivas,
que se tornaram tradições orais, tradições escritas, pequenas porções escritas, até que isso se irradiasse em seus livros.
Cada um desses livros do Novo Testamento foi sendo reconhecido como fundamental para a fé de comunidades cristãs nos
quatro primeiros séculos do Cristianismo. Reconhecer os contextos de desenvolvimento desse processo é fundamental para
a compreensão das mensagens e temas neotestamentários, sendo um aspecto preliminar do seu estudo.
Objetivos
Descrever o processo de formação do texto do Novo Testamento;
Examinar os contextos em que o Novo Testamento surgiu: contexto de de�nição, eclesiástico, teológico e político;
Relacionar tais contextos com o texto do Novo Testamento, que ecoa as questões do seu período formativo.
Página 2 de 183
A formação do texto e do cânon do Novo Testamento
A palavra Testamento, para os hebreus, signi�cava a “aliança” que Deus tinha �rmado com o seu povo, representado por Noé,
Abraão e Davi. O Profeta Jeremias, por volta de 600 a.C., profetizou acerca de uma Nova Aliança, diferente da primeira (Jr 31:31-
33), e Jesus, nas suas palavras na última Ceia, se referiu a seu sangue como Nova aliança/Testamento.
 Fonte: The Center for the Study of New
Testament Manuscripts
<//www.csntm.org/Manuscript/View/GA_P52>
Papiro 52, o papiro mais antigo de um evangelho canônico já encontrado até hoje. Datado de 125 d.C. Nele encontra-se o trecho
de João 18:31-33, 37-38.Fica exposto na Biblioteca John Rylands, Manchester, Reino Unido. Foi encontrado em 1920, por Bernard
Grenfell no deserto do Egito. C. H. Roberts foi o primeiro a estudá-lo e divulgá-lo, em 1934.
 Fonte: The Leon Levy Dead Sea Scrolls
<https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-
archive/image/B-371415>
Fragmentos de 1QIsa, O Grande pergaminho de Isaías, escrito pelos essênios. Datado de 100 a.C, foi um dos sete manuscritos
primeiramente descoberto por Beduínos o deserto de Qumran em 1948.
Página 3 de 183
https://www.csntm.org/Manuscript/View/GA_P52
https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-archive/image/B-371415
Porém, só no Século II, encontram-se evidências de cristãos chamando seus escritos de
Novo Testamento (BROWN, 2012).
Comentário
Durante os primeiros anos do Cristianismo, assim como no Judaísmo, consideravam-se como Escrituras Sagradas as “Leis e os
Profetas”, a Bíblia de Israel (KÖESTER,2005). Essas escrituras eram usadas na Liturgia e, a partir dessa base, o movimento cristão
primitivo foi moldando suas primeiras tradições, fórmulas, credos e hinos. Suas primeiras re�exões sobre a natureza do Cristo, da
salvação etc.
Paralelamente a esse uso das escrituras, havia a circulação de tradições orais atribuídas a Jesus de Nazaré, que logo passaram
a serem propagadas na forma escrita.
Nas décadas de 50 e 60 do primeiro século, Paulo, ex-fariseu que se converteu ao Cristianismo, empreendeu grandes viagens
missionárias, espalhando o novo movimento pelo Império Romano.
Com a plantação de igrejas, Paulo escreve cartas a essas comunidades para ensinar, orientar e dar soluções pontuais para
situações especí�cas. Essas cartas são consideradas a fonte mais antiga e direta para o estudo da História do Cristianismo
primitivo (KÖESTER,2005).
A partir de 60 d.C., como veremos adiante, começam a serem
redigidos os Evangelhos: um gênero literário que não tem a
intenção meramente biográ�ca, mas teológica e catequética
para as comunidades cristãs.
Na imagem ao lado, inscrição encontrada em Priene, na Ásia
menor. Datado de 9 d.C., faz parte de um calendário que se
refere ao dia do Nascimento de César Augusto com o termo
euangelion, o que despertou atenção, pois esse também é um
termo usado pelos cristãos.
Um trecho diz o seguinte: [...] O aniversário do deus Augusto foi
o começo do euangelion (boas novas) para o mundo”.
 Inscrição encontrada em Priene, na Ásia menor. Disponível em: JKDOYLE.COM
<//www.jkdoyle.com/the-birth-of-a-savior/>
Página 4 de 183
https://www.jkdoyle.com/the-birth-of-a-savior/
 (Fonte: Rick Schroeppel / Shutterstock).
Contexto eclesiástico
Logo após a morte de Jesus de Nazaré, seus discípulos passaram a a�rmar ter sido testemunhas de aparições deste
Ressuscitado. Nesse estágio é que se dão as primeiras re�exões sobre a Cristologia e, por conseguinte, o surgimento das
primeira fórmulas e tradições, credos e hinos e também os mais primitivos títulos atribuídos a Jesus.
Os seguidores de Jesus de Nazaré continuavam participando da comunidade religiosa de Israel, do culto no Templo em
Jerusalém e nas sinagogas nas demais cidades. Mas, agora, a morte de Jesus é interpretada como sendo um sacrifício de
expiação pelos pecados do povo, sendo uma aplicação do culto sacri�cal como da Teologia do Mártir já presente no judaísmo
pós-exílico (SCHNELLE, 2017).
Saiba mais
Com a conversão de judeus provenientes da diáspora ao Cristianismo, passou-se a ter uma corrente dentro da comunidade
primitiva mais radical em relação ao Templo e à Torá e, por isso, foram perseguidos.
Expulsos de Jerusalém, foram responsáveis por evangelizar nas cidades helenizadas da Galileia, Síria, Palestina e Samaria, sendo
os primeiros a re�etir sobre a inclusão de não judeus na Igreja (SCHNELLE,2017).
Nessa época, a Igreja de fala aramaica era liderada pelas “Colunas”, Pedro, Tiago e João (KÖESTER,2005). É provável de que estes
não tenham sido afetados pela perseguição que houve aos cristãos helenistas.
Uma das comunidades fundadas pelos helenistas foi a de Antioquia, considerada pelos estudiosos como o lugar de nascimento
do Cristianismo como religião sincretista (SCHNELLE,2017). Segundo muitos estudiosos, como Köester (2005), foi lá que se
designou a mensagem de Jesus como euangelion e as comunidades de ekklesia, argumentando-se que são termos correntes no
mundo greco-romano, não podendo ter origem no meio de fala aramaica.
A partir de 50 d.C., Paulo empreendeu suas viagens missionárias e fundou comunidades cristãs em diversos pontos do Império
Romano. De fato, o Cristianismo alcançou os povos não judeus.
Página 5 de 183
Com a morte dos apóstolos e da primeira geração de cristãos, foi iniciada a redação dos
Evangelhos, usando como fonte tradições orais e escritas sobre o Cristo e modeladas
segundo a necessidade e a visão teológica da comunidade.
Expansão do Cristianismo
A expansão do Cristianismo pelo mundo greco-romano fez com que as estruturas sociais se re�etissem nos escritos do século I.
As comunidades tinham como membros desde escravos até membros da classe alta. Os primeiros séculos também foram
marcados por períodos de intensa perseguição do Império contra os cristãos. Isso começou quando judeus e cristãos se
diferenciaram ainda mais, tornando-se dois grupos religiosos distintos.
Os cristãos, diferentemente do Judaísmo,
pregavam um conceito universal de salvação,
independentemente da origem étnica, ao mesmo
tempo que oferecia monoteísmo judaico e o ethos
exclusivo (SCHNELLE, 2017). 
O judaísmo, por sua vez, viu no Cristianismo um
grupo herege e um possível fator de con�ito com o
Império, já que se adorava como Deus um
Cruci�cado.
Atenção
O Imperador Nero, no ano 64 d.C, de�agrou a primeira grande onda de perseguição contra os cristãos (BROWN, 2012). Domiciano,
em 81-96 d.C., segundo Suetônio, mandou ser chamado de “Nosso Senhor e Deus” (SCHNELLE, 2017), renovando a perseguição
e o clima de ódio contra os cristãos. Há alusões a essas perseguições em todo Novo Testamento, principalmente na Primeira
Carta de Pedro e Apocalipse de João.
Contexto teológico
O mundo religioso judaico após o exílio passou por grandes alterações. Após ter sofrido in�uências do ambiente persa e um breve
período como uma Teocracia, a Palestina foi conquistada pelos gregos.
O Helenismo exerce enorme in�uência doOriente, e os judeus não foram exceção. Houve resistência a esse processo, sendo
re�etida na Revolta Macabaica (198-164 a.C.).
Essa revolução teve matriz religiosa e política, como reação à Helenização forçada e desrespeito às tradições religiosas judaicas
por parte dos governantes selêucidas.
Página 6 de 183
Os macabeus e asmoneus tomam o Poder na Judeia e a fazem independente. Mesmo que
por um breve período, já que o território foi conquistado pelos romanos em 63 a.C.
 
É nesse período que surgem as correntes religiosas e políticas que irão caracterizar o
judaísmo até a destruição de Jerusalém em 70 d.C.
Os hasidim (essênios e
fariseus)
Os hasidim eram um grupo de judeus conservadores que,
apesar de terem apoiado a Revolta dos Macabeus, não
aceitaram a nomeação de asmoneus para o sumo sacerdócio,
cargo que teria que ser ocupado por alguém da família
sadoquita.
Então, esse grupo autoexilou-se no deserto de Qumran, dando
origem aos essênios, que �cou muito conhecido após a
descoberta de manuscritos preservados em cavernas em
1948.
Os essênios formavam uma seita, autoidenti�cada com o
verdadeiro Israel e aquela que prepara os caminhos do Senhor.
Eram guiados por um “Mestre da Justiça”. Eram rígidos quanto
à observância da Torá e dos rituais de puri�cação (HORLSEY;
HANSON, 1995).
 
 Ruínas de Qumran. (Fonte:
Sopotnicki / Shutterstock)  Fragmentos do 1QGen, 1QEnGia e
1Q29, textos encontrados em Qumran, no
Mar Morto em 1948. Foram escritos pelos
essênios, que foram destruídos na Guerra
Judaica e que esconderam os manuscritos
nas cavernas do Mar Morto, o que os
preservou. Disponível em: The Leon Levy
Dead Sea Scrolls
<https://www.deadseascrolls.org.il/explore-
the-archive/manuscript/1Q1-1?
locale=en_US> 
 
 
Todas as normas estavam escritas no Manual de Disciplina (1QS), dirigido aos membros da comunidade celibatários que ali
viviam. Já o Documento de Damasco, era para membros casados que não residiam na comunidade e faziam uma interpretação
escatológica das escrituras (KÖESTER,2005).
Os essênios esperavam a vinda de três �guras escatológicas:
O Profeta. O Messias real. O Messias sacerdotal.
O texto de 1QS 9,10-11 deixa isso claro:

(...) mas eles serão governados pelas primeiras regras, pelas quais os homens da
comunidade começaram a ser instruídos, até a vinda de um profeta e dos Messias de
Aarão e de Israel.
(FITZMYER, J. Aquele que há de vir. São Paulo: Edições Loyola, 2015, p.105)
Página 7 de 183
https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-archive/manuscript/1Q1-1?locale=en_US
Comentário
Há um texto chamado Hino da Autoglori�cação (4Q491 11 i) que leva a supor que havia uma �gura na comunidade que se
considerava Messias e era assim considerado pela comunidade, devido a trechos como “Quem é como eu entre os anjos? Sou
bem-amado do rei, um companheiro dos santos”.
Recentemente, os estudiosos Israel Knohl e Michael Wise popularizaram a tese de que esse Messias ao qual o cântico se referia
era o mestre da Justiça e que in�uenciou no movimento messiânico de Jesus de Nazaré. Atualmente, essa opinião é minoritária
no mundo acadêmico (FITZMYER, 2015).
Dos hasidim também surgiram os fariseus, corrente político-religiosa que, ao invés de se retirar para o deserto como os essênios,
queria a aplicação da Lei em todos os seus detalhes na sociedade judaica (HORSLEY, HANSON, 1995).
Flávio Josefo a�rmou que os fariseus já existiam como partido político durante os reinados de João Hircano, Alexandre Janeu e
Alexandra (KÖESTER, 2005).
Também a�rmou que:

(...) os fariseus transmitiam ao povo certas regras de gerações mais antigas que não
estavam escritas na Lei de Moisés.
(Antiguidades 13.297 apud HORSLEY, R. HANSON, J. Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos Populares no tempo de Jesus. São Paulo:
Paulus,1995, p. 41)
Leitura
Na época do Novo Testamento, exerciam muita in�uência sobre o povo e não foram raros seus con�itos com Jesus de Nazaré e
seus discípulos.
Durante os períodos Herodiano e Romano, foram os saduceus que apoiavam a família dominante e seus representantes exerciam
o sumo-sacerdócio. Leia mais sobre Saduceus e Zelotes. <galeria/aula1/anexo/a01_14_01.pdf>
Culturas helenistas
Como já foi dito, o Helenismo penetrou na Palestina com a conquista de Alexandre Magno, quer tolerante em relação aos outros
cultos, mas como um fenômeno frequente, essa nova cultura in�uenciou o Judaísmo.
Foi estabelecido o Gymnasium, centro de formação física e intelectual do jovem helenista, na Síria e Palestina. O Primeiro Livro de
Macabeus narra que foi construindo um Gymnasium em Jerusalém por volta de 175 a.C. (HENGEL, 1974).
No contato entre as culturas helenistas, era inevitável que ocorresse a identi�cação do Deus dos hebreus com as novas
divindades gregas.
Celso, do Século II, escreveu que:
Página 8 de 183
https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0021/galeria/aula1/anexo/a01_14_01.pdf

(...) Não há diferença se nós chamamos Zeus de Altíssimo, ou Zen, ou Adonai, ou
Sabaoth, o Amom, como os egípcios (...).
(HENGEL, M. Judaism and Hellenism: Studies in their encounter in Palestine during the early Hellenistic period. Oregon: Fortress Press, 1974)
Fílon de Alexandria
O expoente maior de uma corrente helenizada do judaísmo foi
Fílon de Alexandria, que viveu entre 20 a.C. e 50 d.C. Teve
ótima educação aos moldes gregos e, por ser de família
judaica, também conhecia as escrituras, mesmo que
provavelmente só a tradução grega (a Septuaginta).
Fílon escreveu sobre Filoso�a, Cosmologia e Teologia.
Interpretou alegoricamente o livro de Gênesis, e foi bastante
in�uenciado pelo Aristotelismo e pelo Platonismo (BROWN,
2012).
Ele uniu a re�exão sobre o Lógos presente no mundo grego
com o conceito judaico da Palavra de Iahweh. A�rma que o
Lógos é um demiurgo e a Sabedoria como a Mãe da Criação,
ao lado de Deus (BORGEN, 2014).
 Fílon o Alexandrinós – Fílon de Alexandria. Disponível em: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADlon_de_Alexandria#/media/File:PhiloThevet.jpg>
O pensamento de Fílon sobre o Lógos está evidente no seguinte trecho de sua obra De Confusione Linguarim:

[...] O primogênito de Deus, Lógos, o mais antigo dos anjos, o Arcanjo. Ele tem vários
nomes [...]. O Princípio, e o Nome de Deus, e Lógos, e o Homem segundo Sua Imagem, e
‘aquele que vê’, Israel.
(FÍLON. Conf.146 apud BORGEN, P. The Gospel of John: More Light from Philo, Paul and archaeology. Boston: Brill, 2014)
A in�uência de Fílon sobre os escritos do Novo Testamento e a Teologia do Cristianismo Primitivo é muito discutida. Há
evidências de que o autor do prólogo do Evangelho de João tinha conhecido das re�exões de Fílon sobre o Lógos (BROWN, 2012).
Página 9 de 183
https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADlon_de_Alexandria#/media/File:PhiloThevet.jpg
Relação sincrética com outros cultos
No mundo greco-romano, a religião romana tinha uma relação sincrética com outros cultos.
Página 10 de 183
 Cibele com os seus tradicionais atributos:
cornucópia, leão e coroa no formato de muralhas
de uma cidade (mármore romano, c. 50 d.C.
(Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cibele#/media/File:Cybele_Getty_Villa_57.AA.19.jpg>
) 
 
 
Em 204 a.C., foi aceito o primeiro culto oriental à deusa Cibele.
 Estátua de ísis, no Templo de Ísis – Egito.
(Fonte: Catmando / Shutterstock)
Imigrantes egípcios levaram o culto à Ísis para Roma, e de lá se popularizou por todo território.
 Mitra sacrifica o touro sagrado - Baixo-relevo
dos séculos II-III. (Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitra_(mitologia)#/media/File:Mithras_tauroctony_Louvre_Ma3441b.jpg>
)
Outro culto oriental que se tornou popular nos primeiros séculos da nossa era foi o de Mitra, divindade proveniente da Pérsia.
Página 11 de 183
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cibele#/media/File:Cybele_Getty_Villa_57.AA.19.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitra_(mitologia)#/media/File:Mithras_tauroctony_Louvre_Ma3441b.jpg
Santuários foram descobertos em vários pontos do império, desdea Germânia até a Mesopotâmia (KÖESTER, 2005).
As religiões de mistério eram caracterizadas por rituais secretos, que só os iniciados teriam acesso e a partir deles participavam
da natureza imortal dos deuses (BROWN, 2012).
Era comum a crença de deuses tomando a forma de seres humanos. Homero a�rma que:

(...) os deuses perpassam as cidades em muitas formas diferentes, parecidos a forasteiros
vindos de longe.
(HOMERO. Od 17, 485 apud SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Ed. Academia Cristã, 2017, p. 223)
O culto a Hércules, que derrotou o mal e foi presenteado com a imortalidade por Zeus, estava bem estabelecido no século I.
Dio Crisóstomo comenta que:

[...] depois de sua morte [Hércules], eles o veneram mais do que qualquer outro,
consideram-no deus e dizem que está morando junto a Hebe. Todos rezam a ele, para
que suas vidas sejam menos sofridas.
(DIO CRISÓSTOMO. Or 8,28 apud SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Ed. Academia Cristã, 2017, p. 223)
O culto ao imperador romano era algo que também
caracterizava o cenário religioso dos primeiros séculos.
Segundo Köester (2005), o culto ao imperador vivo iniciou-se
com Augusto, onde foram erguidos altares em adoração ao
imperador.
 Imperador romano Augusto. (Fonte: Bildagentur Zoonar GmbH / Shutterstock)
Página 12 de 183

Calígula, por sua vez, fortaleceu o culto ainda mais ao exigir ser tratado como Deus. No
ano 69 d.C, Vespasiano é aclamado Imperador após uma crise sobre a sucessão iniciada
com o suicídio de Nero. Tácito e Suetônio testemunham que a ascensão de Vespasiano
foi vista como cumprimento de antigas profecias sobre um governante vindo do Oriente
que restauraria a ordem.
(TÁCITO. Hist. V 13, 1.2. SUETÔNIO. Vesp 4,5 apud SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Ed. Academia Cristã, 2017, p.
477)

Flávio Josefo alegou ter dito a Vespasiano que dele seria o Governo do Mundo e chamou
suas conquistas de euangelia, boas notícias.
(JOSEFO, F. Bell 4,618 apud SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Ed. Academia Cristã, 2017, p.478)
O imperador era designado como Kyrios, Senhor, título também utilizado para as divindades nas religiões orientais e nas religiões
de mistérios (CULLMANN, 2008). Domiciano, por volta de 80 d.C. exigiu ser chamado de “Nosso Senhor e Deus”.
Provavelmente, foi devido à recusa de adorarem ao imperador que os cristãos foram perseguidos violentamente nos primeiros
séculos da Era Cristã. É ao Império Romano e à pretensão de divindade do imperador que Apocalipse 13 se refere quando fala da
Besta que sobe o Abismo (KÖESTER, 2005).
Leitura
Leia sobre o Contexto Político. <galeria/aula1/anexo/a01_22_01.pdf>
Atividade
1. O que foi determinante para a expansão do Cristianismo para os povos não judeus?
a) A imigração dos Doze Apóstolos para Antioquia.
b) A perseguição aos cristãos helenistas e a expulsão destes de Jerusalém, além das viagens missionárias de Paulo.
c) A morte e a ressurreição de Jesus.
d) A morte de Paulo e das colunas da Igreja de Jerusalém, Pedro, Tiago e João.
Página 13 de 183
https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0021/galeria/aula1/anexo/a01_22_01.pdf
Gabarito comentado
2. Correlacione as colunas:
Fariseus Saduceus Essênios Zelotas 1 2 3 4
a) Seita judaica que se retirou para o deserto.
b) Grupo revolucionário que se originou da união de bandos de salteadores da zona rural da Judeia.
c) Grupo composto pela casta sacerdotal.
d) Seita judaica que valorizava as tradições orais.
1 2 3 4
1 2 3 4
1 2 3 4
1 2 3 4
3. Complete as lacunas:
digite a resposta foi um pensador, nascido na Alexandria, que mesmo judeu teve excelente educação 
digite a resposta , e foi in�uenciado por correntes de pensamento helênicas, como o digite a resposta e o 
digite a resposta . Suas Re�exões abarcaram temas como o Lógos, para o qual era um digite a resposta .
Página 14 de 183
4. Marque V para Verdadeiro ou F para falso:
Os zelotas reivindicavam que os sumo-sacerdotes tinham que ser nomeados pelo imperador romano.
b) Os essênios esperavam a vinda de três �guras escatológicas: O Profeta, o Messias Real e o Messias Sacerdotal.
c) A Religião Romana era bastante intolerante com outras religiões, incentivando perseguições a todos os outros cultos estrangeiros.
d) A Revolta Macabaica foi uma insurgência contra a dominação romana.
5. Discorra sobre o cenário religioso do Império Romano durante o Século I.
Referências
BORGEN, P. The Gospel of John: More Light from Philo, Paul and archaeology. Boston: Brill, 2014.
BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
COLLI, G. Panorama Teológico do Novo Testamento. Curitiba: InterSaberes, 2017.
CULLMANN, O. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
FITZMYER, J. Aquele que há de vir. São Paulo: Edições Loyola, 2015.
FRANCISCO, Papa. O Evangelho da Vida Nova. Petrópolis: Vozes, 2015.
FRIESEN, A. Teologia bíblica pastoral na pós-modernidade. Curitiba: InterSaberes, 2016.
HENGEL, M. Judaism and Hellenism: Studies in their encounter in Palestine during the early Hellenistic period. Oregon: Fortress
Press, 1974.
HORSLEY, R.; HANSON, J. Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos Populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.
KÖESTER, H. Introdução ao Novo Testamento 1: História, cultura e religião do período Helenístico. São Paulo: Paulus, 2005.
_____. Introdução ao Novo Testamento 2: História e Literatura do Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulus, 2005.
MARGUERAT, D. Novo Testamento, História, Escritura e Teologia. São Paulo: Loyola, 2009.
MONASTERIO, R. A; CARMONA, A. R. Evangelhos sinóticos e Atos dos apóstolos. São Paulo: Ave-Maria, 2000.
RENNER, R. História da Teologia. Curitiba: InterSaberes, 2017.
VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2004.
Página 15 de 183
Próxima aula
A autoria do Novo Testamento;
O contexto do Novo Testamento;
A recepção de textos neotestamentários;
A transmissão dos textos do Novo Testamento até a sua formação.
Explore mais
O Center for the Study of New Testament Manuscripts (Centro de Estudos dos Manuscritos do Novo Testamento) funciona no
Center for the Research of Early Christian Documents (Centro de Pesquisa de Documentos Cristãos Antigos), tendo o propósito de
fazer fotogra�as digitais de manuscritos gregos do Novo Testamento para que essas imagens possam ser preservadas,
duplicadas sem deterioração e acessadas por estudiosos que fazem pesquisas textuais: //www.csntm.org/ <//www.csntm.org/>
Página 16 de 183
https://www.csntm.org/
Disciplina: Introdução ao Novo Testamento
Aula 2: Texto e Cânon do Novo Testamento 2
Página 17 de 183
Apresentação
A formação do texto do Novo Testamento, visto a partir do conceito de relevância, envolve as questões
relacionadas à autoria, contexto, recepção e transmissão dos textos neotestamentários.
Em relação à autoria e ao contexto de redação, vamos analisar a compreensão do Novo Testamento a
partir da relação entre o(s) autor(es)/redator(es) e as comunidade para os quais os escritos foram
dirigidos.
Quanto à recepção e à transmissão dos textos, ambas dizem respeito à ampliação do público que recebe
os escritos, fator fundamental no processo de canonização dos textos.
Objetivos
Reconhecer a relevância e a autoria dos textos neotestamentários;
Examinar o contexto e a recepção dos livros do Novo Testamento pelas comunidades destinatárias;
Descrever o processo de transmissão dos livros do Novo Testamento após a sua produção e
recepção.
Página 18 de 183
O texto do Novo Testamento
O Cânon do Novo Testamento, usado nas Igrejas Católica Romana, Ortodoxa e Protestante é composto de 27
livros.
O primeiro deles é o Evangelho de Mateus, considerado Evangelho eclesiástico.
Contém o Sermão da Montanha, a oração do Pai Nosso e outros textos fundamentais para o Cristianismo. A
tradição atribuiu sua autoria ao Apóstolo Mateus, ex-cobrador de impostos, também identi�cadocomo Levi.
O Evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, é costumeiramente dividido em duas partes: 
A primeira, do capítulo 1 ao Capítulo 8, onde Jesus era mal compreendido e rejeitado;
A segunda, a partir do Capítulo 8, onde passa a falar sobre o sofrimento, a morte e a ressurreição de
Jesus.
Os pais da Igreja atribuíram sua autoria ao assistente e tradutor de Pedro em Roma, Marcos.
O Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos compõem uma única obra em dois volumes, sendo Lucas o mais longo
dos Evangelhos, e onde a História mais confunde com a Teologia (BROWN, 2012).
Em Atos dos Apóstolos, as duas principais figuras são Pedro e Paulo, mas narra a História da Igreja desde a Ascenção
de Jesus até a prisão de Paulo em Roma.
Segundo os pais da Igreja, Lucas teria sido médico e seria o mesmo que acompanhou Paulo em suas viagens
missionárias.
O Evangelho de João, com estilo e Teologia mais destoantes dos Sinóticos, recorre às técnicas retóricas do
mal-entendido, do duplo signi�cado e da ironia para narrar a mensagem de Jesus.
A tradição atribuiu a autoria do Evangelho ao Apóstolo João, que seria o Discípulo Amado, assim identi�cado
no texto, mas a identidade desse discípulo ainda é objeto de muito debate.
Evangelho de Mateus
Evangelho de Marcos
Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos
Evangelho de João
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 (Fonte: jodaarba / Shutterstock).
As cartas de Paulo
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A carta de Paulo aos Romanos é a mais longa do Novo Testamento e a mais estudada das cartas
paulinas.
Seus tópicos teológicos mais importantes, como Justi�cação e Justiça de Deus, foram objeto de
discussão em todos os períodos da história da Igreja.
Carta de Paulo aos Romanos 
As cartas de Paulo aos Coríntios retratam a maneira como o Apóstolo lidava com os problemas da
comunidade de Corinto.
Cartas de Paulo aos Coríntios 
A epístola aos Gálatas é considerada por muitos a mais paulina, pois nela, levado pela raiva, Paulo disse
o que realmente pensava (BROWN,2012). Foi, ao lado de Romanos, a mais usada pelos reformadores do
século XVI.
Epístola aos Gálatas 
A carta aos Efésios teve sua autoria muito questionada. A tradição atribuiu a Paulo a escrita dessa carta,
mas, desde o século XVI, isso é objeto de muita discussão, sendo que atualmente a maioria dos
estudiosos acreditam tratar-se de uma carta não paulina.
Destaca-se pela avançada Eclesiologia. Já apresentando características de um catolicismo primitivo.
Carta aos Efésios 
A carta aos Filipenses é o escrito em que Paulo mais demonstra seu amor pela comunidade e que
contém um dos mais primitivos hinos da igreja cristã, compreendido em Filipenses 2:6-11. Essa carta
também demonstra ser um testemunho da fase tardia da Teologia do Apóstolo Paulo, por ter sido escrita
no �nal de sua carreira missionária e ter aspectos avançados nos conteúdos teológicos.
Carta aos Filipenses 
A epístola aos Colossenses foi a primeira escrita após a morte do Apóstolo, e a que, dentre as cartas
deuteropaulinas, se aproxima da Teologia de Paulo. Foi uma resposta para uma comunidade que estava
tentando relacionar sincreticamente elementos de sua antiga crença com a Fé cristã.
Epístola aos Colossenses 
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A primeira e a segunda carta aos Tessalonicenses são os escritos mais antigos conservados do Novo
Testamento, por isso nelas está retratada a Teologia do início do ministério de Paulo.
Primeira e Segunda carta aos Tessalonicenses 
A primeira e a segunda carta a Timóteo foram escritas por algum discípulo de Paulo com o objetivo de
combater falsas doutrinas e orientar as comunidades em suas estruturas eclesiásticas e relações
internas e externas.
Primeira e Segunda carta a Timóteo 
A carta a Tito, assim como as outras pastorais (1 e 2 Timóteo), retratam a situação das igrejas pós-
apostólica, tratando de questões como a liderança dessas comunidades.
Carta a Tito 
A Carta a Filemon, aceita como sendo uma carta paulina genuína, é a mais breve das cartas do
Apóstolo. Escrita a um líder de igreja doméstica, Paulo intercede em favor de um escravo, Onésimo, que
fugiu de Filemon. O Apóstolo tenta persuadi-lo a não somente perdoar Onésimo, mas aceitá-lo como
Irmão.
Carta a Filemon 
A carta aos Hebreus, cujo autor é desconhecido, é o testemunho mais importante de uma Teologia que
busca contrastar o culto judaico e a Fé cristã, a nova e a antiga Aliança etc.
Carta aos Hebreus 
Carta de Tiago
Chamada de Epístola de Palha por Lutero, a Carta de Tiago, ao lado do
Evangelho de Mateus, é um escrito que expõe uma visão cristã-judaica.
Destinada às doze tribos de Israel que estavam dispersas, defende uma
unidade entre fé e obras.
Cartas de Pedro e de Judas
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Na Primeira e segunda carta de Pedro, assim como na Carta de Judas,
o autor tenta fortalecer os cristãos da Ásia Menor que estão sendo
perseguidos, recorrendo à Imagem do Servo sofredor, personi�cado em
Jesus Cristo.
Cartas de João
As cartas joaninas (1,2 e 3 João) são semelhantes em linguagem ao
Evangelho de João, e incontestavelmente foram produzidas
dentro/para o mesmo círculo.
Apocalipse de João
O último livro do Novo Testamento, e o mais tardio, é o Apocalipse de
João. Escrito durante a perseguição do Imperador Domiciano aos
cristãos, o autor utiliza de imagens derivadas do Antigo Testamento e
do ambiente cultual das igrejas para fortalecer as comunidades
a�igidas como todas essas di�culdades.
Apócrifos
Nos primeiros séculos do Cristianismo, a produção de escritos não �cou restrita aos 27 livros que estão no
cânon do Novo Testamento. Apareceram diversos escritos denominados pela Igreja de “apócrifos”.
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O mais conhecido desses talvez seja o Evangelho de Tomé, descoberto em 1945 em Nag Hammadi, no
Egito, junto a diversos outros papiros coptas.
O manuscrito é datado de 400 d.C. Mas os estudiosos colocam sua composição como sendo no século
II. Köester (2005) e outros defendem que o Evangelho tenha começado a ser composto nos anos 50 d.C.
na Síria Oriental.
Trata-se de uma coleção de ditos atribuídos à Jesus ressuscitado e, devido aos paralelos com os
sinóticos, é postulado que o Evangelho de Tomé pode ter antecedido os Evangelho canônicos. Porém, no
meio acadêmico é predominante a tese de que esse apócrifo teve como fonte o documento Q, o mesmo
que foi usado pelos Sinóticos, e que sofreu in�uência gnóstica, sendo esse Evangelho um testemunho do
Cristianismo gnóstico.
Manuscrito contendo trecho do Evangelho de Tomé, descoberto em 1945, junto com a Biblioteca de Nag
Hammadi, conjunto de manuscritos em copta de escritos gnósticos datando dos primeiros séculos do
Cristianismo.
Evangelho de Tomé 
 (Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelho_de_To
m%C3%A9#/media/File:P._Oxy._655.jpg> ).
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelho_de_Tom%C3%A9#/media/File:P._Oxy._655.jpg
O Evangelho de Pedro foi descoberto no �nal do século XIX, sendo esses manuscritos datados do
Século VIII. Antes da descoberta, só se sabia da existência desse Evangelho apócrifo por causa das
referências feitas por Orígenes e Eusébio a ele.
O fragmento encontrado começa com uma cena no �nal do julgamento de Jesus, narra a cruci�cação e
a ressurreição, com tom mitológico, e termina com os discípulos indo para a Galileia.
J. D. Crossan defende que uma forma anterior de Evangelho de Pedro foi o primeiro Evangelho a ser
redigido e que os Evangelhos sinóticos o usaram como fonte. Mas a maioria dos especialistas
neotestamentários concorda que o Evangelho de Pedro é posterior aos Sinóticos e não o contrário
(BROWN, 2012).
Evangelho de Pedro 
Um Evangelho dos Nazarenos é citado por Epifânio e Jerônimo e também por manuscritos medievais.
Seu surgimento provavelmente se deu no século II no círculo judaico-cristão da Síria.
O Evangelho dos Ebionitas é citado por Epifânio e seria atribuído a um grupoherético que utilizava uma
versão reduzida do Evangelho de Mateus. Teria surgido no século II, possivelmente na Transjordânia.
Evangelho de Nazarenos e Ebionitas 
Clemente e Orígenes citam um Evangelho dos Hebreus. Eusébio o diferencia de outro Evangelho cristão-
judaico escrito em sírio. Teria surgido no Egito, simultaneamente ao Evangelho dos Egípcios, cujos
trechos só temos acesso por causa de citações em Clemente. Esse Evangelho era provavelmente usado
nos círculos Cristão-gnósticos no Egito.
Evangelho de Hebreus e Egípcios 
Clemente de Alexandria, em uma carta descoberta no século XX, cita um Evangelho Secreto de Marcos
que seria usado por alguns cristãos da Alexandria. O trecho citado pro Clemente, único preservado desse
escrito, narra um encontro entre um jovem vestido apenas com um pano �no com Jesus com o objetivo
de ser iniciado nos mistérios do Reino.
Alguns estudiosos, entre eles Köester (2005), levantaram a hipótese de que esse Evangelho seria anterior
ao Evangelho canônico de Marcos. Porém, devido à frágil argumentação, essa teoria tem pouco apoio
entre os estudiosos do Novo Testamento (BROWN,2012).
Evangelho Secreto de Marcos 
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Popularizaram-se também, nos primeiros séculos da Igreja, os Evangelhos da Infância.
O Protoevangelho de Tiago, composto no século II, possivelmente no Egito, tem Maria como
personagem central, narrando desde seu nascimento até a comprovação da sua virgindade pós-parto de
Jesus e conclui com o assassinato de Zacarias e o infanticídio praticado por Herodes.
Evangelhos da Infância 
Também foi encontrado em Nag Hammadi o que se denominou de Evangelho da Verdade,
provavelmente escrito no século II, que pode ter sido escrito por Valeriano, pensador gnóstico.
Evangelho da Verdade 
Os Atos de Pedro, datados de 180 d.C., narram que, depois da viagem de Paulo à Espanha, o mago
Simão se instala em Roma, onde consegue desviar da fé quase toda a comunidade cristã naquela
cidade.
Então, Pedro, sob ordem divina, se dirige para a capital do Império, onde opera diversos milagres. O
clímax do livro é o confronto entre Simão e Pedro, e o Apóstolo acaba vencendo. Termina com o martírio
de Pedro, condenado à cruci�cação, e relata o pedido do Apóstolo de ser cruci�cado de cabeça para
baixo.
Atos de Pedro 
Os Atos de Paulo, mais tardios do que os de Pedro, narram diversos acontecimentos da vida de Paulo,
incluindo um batismo de um leão por ele, a conversão de Tecla e seu milagroso livramento na luta com
feras.
Atos de Paulo 
Atos de João contam a história do Apóstolo que a tradição identi�cou com o Discípulo Amado e como o
autor do quarto Evangelho.
Começa com a ida de João à Éfeso, depois para a Laodiceia e seu regresso à Éfeso. Lá, ele realiza
diversos milagres, como a derrubada do Templo de Ártemis e ressurreições de mortos. O livro é
concluído com a morte do Apóstolo.
Atos de João 
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O Apocalipse de Pedro, citado por Clemente de Alexandria, teve sua existência con�rmada com a
descoberta do manuscrito Akhmim, no Egito em 1892, e de outro manuscrito etíope em 1910.
O texto de ambos tem grandes diferenças. Provavelmente surgiu no século II. O texto etíope começa
com a pergunta dos discípulos à Jesus sobre o �m do mundo e o discurso apocalíptico de Jesus termina
com um cenário semelhante à trans�guração descrita em Marcos 9.
No fragmento de Akhmim, Jesus mostra o futuro pós-morte para os discípulos. O paraíso, destinado
àqueles �éis a Cristo e o inferno, lugar de punição para os descrentes.
O cânon de Muratori, descoberto por Ludovico Antonio Muratori e publicado em 1740 é a lista mais
antiga de livros do Novo Testamento.
Inclui quatro evangelhos, as cartas de Paulo, o Apocalipse de Pedro e o Pastor de Hermas.
Apocalipse de Pedro 
 (Fonte: Bible Research. <//www.bible-
researcher.com/muratorian.jpg> ).
Outro famoso escrito deuterocanônico é o Pastor de Hermas, que, por muitos círculos do Cristianismo
Primitivo, foi considerado inspirado.
O códice Sinaítico o inclui, junto com a Epístola de Barnabé. O livro conta a história de Hermas, um ex-
escravo cristão, que também era profeta. Através de visões, ele recebe mandamentos, parábolas e
profecias apocalípticas da parte de Deus.
Seu objetivo é a chamada ao arrependimento antes do �m da Era, que se aproxima, e com ela, o
julgamento da Igreja. O cânon de Muratori traz que Hermas seria o irmão de Pio, bispo de Roma.
Possivelmente, foi escrito no Século II nessa cidade.
Pastor de Hermas 
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https://www.bible-researcher.com/muratorian.jpg
 (Fonte: Quick Shot / Shutterstock).
Manuscritos
Atualmente estão catalogados cerca de 3 mil manuscritos do Novo Testamento em grego, além de cópias
em Siríaco, Copta e Armênio. Os manuscritos mais antigos foram escritos em papiros, uma espécie de papel
feitas a partir das folhas de um tipo de junco do pântano (BROWN, 2012).
Entre eles, estão os Papiros Chester Beatty, datados do Século II e III, e os Papiros Bodmer, datados do
Século III.
Recentemente, foi publicado que dois manuscritos , fragmentos de papiro contendo trechos dos
Evangelhos de Marcos e Lucas, foram datados do século II e III, respectivamente.
1
Saiba mais
Após a institucionalização do Cristianismo como religião o�cial do Império Romano, por Constantino em 314
d.C., passou-se utilizar pergaminhos como material para transmissão dos escritos bíblicos. Feitos a partir de
couros de animais, são mais resistentes.
A partir daí temos os códices Sinaítico, Alexandrino, Vaticano, de Beza etc. Datados do século VI ao IX.
Existem também os manuscritos em letras cursivas, chamados Minúsculos, e começaram a serem
produzidos a partir do século IX, ou seja, no período medieval. Os mais famosos são os 13,33, 81, 157,565,
700,1424, 1739 e 2053 (KÖESTER, 2005).
Para ajudar no estudo dessas testemunhas do processo de formação do Novo Testamento, os críticos
textuais B. F. Westcott e F. H. Hort classi�caram os manuscritos em quatro famílias, associando-os aos locais
geográ�cos onde provavelmente se deu a produção dessas cópias (KÖESTER,2005).
Textos
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https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0021/aula2.html
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O Texto Alexandrino, advém da Alexandria, lugar que, por volta do século II, se tornou um grande centro
de estudos cristãos, onde os escribas tinham amplo conhecimento �lológico (BROWN,2012).
São classi�cados como parte dessa família as citações dos pais da Igreja alexandrinos, como Clemente
e Orígenes, alguns manuscritos unciais, minúsculos, os papiros Bodmer e Chester Beatty, os Códices
Vaticano e Sinaítico e traduções coptas (KÖESTER,2005).
Esse texto é considerado o melhor tipo de texto, já que contém cerca de 5% de variantes (PAROSCHI,
1993).
Texto Alexandrino 
O Texto Ocidental se desenvolveu na região de língua latina, com em Roma, Gália e Norte da África.
Nessa família, estão as citações de Marciano, Justino, Tertuliano, Hipólito Irineu e Cipriano, como
também alguns papiros do �nal do século III e os códices D (KÖESTER, 2005). Caracterizado pelas
paráfrases frequentes, é geralmente mais longo que o texto Alexandrino (PAROSCHI,1993).
Texto Ocidental 
Westcott e Hort classi�caram os códices א e B como Texto Neutro, que seria o texto livre de corrupções.
Atualmente, os estudiosos classi�cam esses dois códices como sendo alexandrino (KÖESTER,2005).
Texto Neutro 
O Texto Bizantino é visto como um texto tardio e secundário. Parece ter se originado da revisão do Novo
Testamento feita por Luciano de Antioquia, por volta de 324 d.C. (KÖESTER,2005).
Utilizado na Liturgia da Igreja Bizantina, tornou-se normativo a partir do século VI (BROWN, 2012).
Abrange o Códice Alexandrino e todos os unciais e manuscritos posteriores.
Posterior a Westcott e Hort, é a classi�cação da Família Cesareense, que teria origem na cidade de
Cesareia, importante centro cristão nos séculos III e IV. Representa um estágio de transição entreo Texto
Alexandrino e Texto Bizantino.
Abrange uma parte do Texto de Orígenes Eusébio de Cesareia, Cirilo de Jerusalém, alguns manuscritos e
as traduções armênia e Geórgica (PAROSCHI,1993).
Texto Bizantino 
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Crítica textual e reconstituição do texto grego
Os autógrafos, ou seja, os manuscritos originais do Novo Testamento não existem mais, somente cópia das
cópias, e nenhuma é exatamente igual a outra, sempre tendo uma variação.
A Crítica textual é a ciência que busca se aproximar o máximo possível do texto original (PAROSCHI, 1993).
Para isso, utiliza-se alguns princípios textuais.
Primeiro Passo:
O primeiro passo é reunir as evidências externas, ou seja, as testemunhas do texto, manuscritos e
citações em pais da Igreja. Deve-se utilizar os seguintes critérios para a avaliação das testemunhas
(PAROSCHI, 1993):
A antiguidade;
A qualidade em detrimento da quantidade;
A genealogia dos manuscritos;
As citações indiretas do texto;
As in�uências externas.
Segundo Passo:
O segundo passo é avaliar a evidência interna, ou seja, a relação das variantes com o contexto.
Nesse ponto, deve-se seguir alguns princípios:
Dar preferência à variante mais difícil, pois é mais provável que o escriba tentasse esclarecer e
não di�cultar um texto;
Escolher a variante mais curta, já que a tendência era ampliar um texto curto e não o contrário;
Escolher o texto que melhor se encaixe no contexto do livro;
Escolher a variante que melhor explica a origem das outras leituras.
Atenção
Somente um ou dois desses critérios não são su�cientes para determinar qual a variante mais próxima do
original, mas deve-se usar toda a metodologia para chegar a um resultado adequado.
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Reconstrução do texto
grego do Novo
Testamento
As primeiras tentativas de reconstituir o texto grego
do Novo Testamento, considerando a crítica textual,
datam do século XVI. Ao longo desse tempo, um dos
trabalhos mais notáveis nessa área foi o de B. F.
Westcott e F. J. Hort, que, em 1881, lançaram sua
edição do Novo Testamento Grego.
Eles avaliaram a árvore genealógica dos
manuscritos, sendo os primeiros a os classi�car em
famílias.
No �nal do século XIX, Eberhard Nestle lançou a sua
edição, que acabou sendo a mais utilizada no meio
acadêmico. Foi revista várias vezes, chegou a ter 25
edições, cada vez mais atualizada com novos
manuscritos que iam sendo catalogados.
 Eberhard Nestle (1851-1913), professor da Universidade de Tübingen, na
Alemanha. Responsável por uma edição crítica do Novo Testamento que já
conta com 28 edições, e é atualmente chamada de Nestle-Aland. Disponível
em: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Eberhard_Nestle#/media/File:Eberhard_Nestle.jpg>
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Eberhard_Nestle#/media/File:Eberhard_Nestle.jpg
 O Institut für Neutestamentliche Textforschung, ligado à Universidade de
Münster. É um centro de pesquisa especializado do Texto do Novo
Testamento, fundado em 1959 por Kurt Aland. Hoje é responsável pela
edição da Nestle-Aland e da Editio Critica Maior. Disponível em: Institut für
neutestamentliche Textforschung INTF <https://www.uni-
muenster.de/NTTextforschung/Begruessungsschirm.html>
Já no século XX, Kurt Aland e sua esposa,
professores da Universidade de Münster, na
Alemanha, fundam o Institut für Neutestamentliche
Textforschung e fazem uma nova edição do Texto de
Nestle, agora chamado Nestle-Aland e que,
atualmente está na sua 28ª edição.
É no Institut für Neutestamentliche Textforschung
que está sendo feita a Editio Critica Maior, uma nova
edição construída a partir da avaliação de todo os
testemunhos do texto grego do primeiro milênio,
utilizando o recém-desenvolvido Método
Genealógico baseado na coerência, que trata-se de
gerar “estatísticas elaboradas por um programa de
computador para formular um �uxograma dos
‘testemunhos ancestrais’ e dos ‘testemunhos
descendentes’, de modo a compor uma árvore
genealógica dos manuscritos” (SILVA, 2014, p.304).
Os primeiros fascículos da Editio Critica Maior foram
lançados em 1997, e hoje contam com as edições
das Cartas Católicas, Atos dos Apóstolos e os
Paralelos Sinóticos. A previsão é que se conclua
esse trabalho até 2030 (SILVA, 2014).
Atividade
1. Para ajudar na crítica textual dos manuscritos do Novo Testamento, os textos formam classi�cados em
famílias, devido à sua origem geográ�ca. A família considerada o melhor tipo de texto é:
a) Texto Bizantino, por seu desenvolvimento ser dado no meio ortodoxo do Cristianismo.
b) Texto Alexandrino, por ter poucas variantes e corrupções.
c) Texto Ocidental, por ter poucas variantes e corrupções.
d)Texto Cesareense, por se encontrar no meio termo entre o Alexandrino e o Bizantino.
2. Correlacione:
Marcos B. F. Westcott e F. J. Hort Tessalonicenses Pastor de Hermas 1 2 3 4
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https://www.uni-muenster.de/NTTextforschung/Begruessungsschirm.html
Gabarito
a) Escrito mais antigo do Novo Testamento.
b) Apócrifo que quase foi incluído no Cânon do Novo Testamento, inclusive aparece no Códice Sinaítico.
c) Tradutor de Pedro, a quem a tradição atribuiu a autoria do primeiro Evangelho a ser escrito.
d) Especialistas no Novo Testamento que classi�caram os manuscritos em famílias.
1 2 3 4
1 2 3 4
1 2 3 4
1 2 3 4
3. Complete as lacunas com as opções:
O Evangelho de digite a resposta utiliza de técnicas literárias como a digite a resposta e a
retórica do digite a resposta para narrar a mensagem do Cristo.
4. Marque V para Verdadeiro ou F para falso:
a) A autoria paulina de Efésios não é contestada até os dias atuais.
b) Os manuscritos mais antigos foram escritos em papiros, uma espécie de papel feitas a partir das folhas de um tipo de junco do pântano.
c) Devido aos paralelos com a tradição sinótica, alguns estudiosos defendem a tese de que o Evangelho de Tomé foi escrito antes dos
Evangelhos canônicos.
d) Na crítica textual, o critério decisivo para a con�abilidade de uma variante é sua antiguidade.
5. Descreva a importância da crítica textual para o estudo do Novo Testamento e sua metodologia para a
análise das variantes encontradas nos manuscritos.
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Notas
Manuscritos 1
OBBINK, D., COLOMO, D.; PARSONS, P. J.; GONIS, N., eds. The Oxyrhynchus Papyri vol. LXXXII. Egypt
Exploration Society,2018, p. 4-7.
Referências
BORGEN, P. The Gospel of John: More Light from Philo, Paul and archaeology. Boston: Brill, 2014.
BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
COLLI, G. Panorama Teológico do Novo Testamento. Curitiba: InterSaberes, 2017.
CULLMANN, O. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
FITZMYER, J. Aquele que há de vir. São Paulo: Edições Loyola, 2015.
FRANCISCO, Papa. O Evangelho da Vida Nova. Petrópolis: Vozes, 2015.
FRIESEN, A. Teologia bíblica pastoral na pós-modernidade. Curitiba: InterSaberes, 2016.
HENGEL, M. Judaism and Hellenism: Studies in their encounter in Palestine during the early Hellenistic
period. Oregon: Fortress Press, 1974.
HORSLEY, R.; HANSON, J. Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos Populares no tempo de Jesus. São
Paulo: Paulus, 1995.
KÖESTER, H. Introdução ao Novo Testamento 1: História, cultura e religião do período Helenístico. São Paulo:
Paulus, 2005.
_____. Introdução ao Novo Testamento 2: História e Literatura do Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulus,
2005.
MARGUERAT, D. Novo Testamento, História, Escritura e Teologia. São Paulo: Loyola, 2009.
MONASTERIO, R. A; CARMONA, A. R. Evangelhos sinóticos e Atos dos apóstolos. São Paulo: Ave-Maria,
2000.
OBBINK, D., COLOMO, D.; PARSONS, P. J.; GONIS, N., eds. The Oxyrhynchus Papyri vol. LXXXII. Egypt
Exploration Society,2018, p. 4-7.
PAROSCHI, W. Crítica textual do Novo Testamento. Vida Nova, 1993.
RENNER, R. História da Teologia. Curitiba: InterSaberes, 2017.
VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2004.
Página 34 de 183
Próxima aula
Processo de seleçãode textos do Novo Testamento;
Tipos textuais que auxiliaram na canonização dos textos do Novo Testamento.
Explore mais
A Biblioteca Digital Dead Sea Scrolls <https://www.deadseascrolls.org.il/home> Leon Levy dispõe de todos
os manuscritos encontrados no deserto de Qumran digitalizados. É uma ótima ferramenta para
pesquisadores e estudantes do Novo Testamento. A descoberta desses papiros, em 1948, mudou a
compreensão que se tinha sobre o Judaísmo do Segundo Templo e até mesmo sobre alguns escritos do
Novo Testamento. No site, você poderá acessar os manuscritos de Qumran e todas as informações
necessárias acerca de cada um.
Página 35 de 183
https://www.deadseascrolls.org.il/home
Disciplina: Introdução ao Novo Testamento
Aula 3: A seleção de textos do Novo Testamento
Página 36 de 183
Apresentação
Como temos visto, o Novo Testamento não foi escrito de uma só vez: ele é o resultado de um processo de
formação de memórias coletivas, que se tornaram tradições orais, tradições escritas, pequenas porções
escritas, até que tais porções se irradiassem em cada um dos seus livros.
Após a formação de cada livro do Novo Testamento, tais livros foram sendo reconhecidos como fundamentais
para a fé de comunidades cristãs nos quatro primeiros séculos do cristianismo. O resultado �nal desse
processo — o primeiro, a formação; e o segundo, a canonização — é o que chamamos de Novo Testamento: 27
livros cuja ordem nas Bíblias modernas e sua divisão serão apresentadas nesta aula.
Objetivos
Descrever o processo de seleção de textos do Novo Testamento;
Examinar os tipos textuais que auxiliaram na canonização dos textos do Novo Testamento.
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 (Fonte: Fat Jackey / Shutterstock).
Língua dos escritos do Novo Testamento
É unanimidade entre os estudiosos que os livros que compõem o Novo Testamento foram escritos originalmente
em grego. Mas qual tipo de grego?

O grego é uma língua que se originou com a chegada dos indo-europeus à Grécia, onde
já habitavam os povos pré-helênicos. Inicialmente, haviam vários dialetos gregos, entre
eles o jônio, falado na Jônia, região litorânea da Ásia Menor; ático, falado
exclusivamente na Ática, que abrangia Atenas; lésbico, falado na Ilha de Lesbos; tessálio,
utilizado na Tessália, norte da Península Balcânica; beócio, falado na Beócia e o dórico,
característico de Mégara, Corinto, Agólida, Acaia, Creta, litoral africano e sul da Sicília;
Além de remanescentes da linguagem aqueia, como os dialetos arcádico, cipriota e
panfílio.
(HORTA, 1970)

Pode-se dizer que cada dialeto teve seu gênero literário próprio. Por volta do século V
a.C., com o surgimento do Império Macedônio de Alexandre Magno, houve uma
tentativa de unificar culturalmente os povos helênicos. O grego ático foi imposto como
língua oficial da administração e, portanto, se tornou posteriormente a língua comum.
(KÖESTER, 2005)
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O grego koiné
O Ático, em contato com outras formas características
presentes em diversas regiões do Império, originou o
que conhecemos como grego koiné, que signi�ca
“comum”.
Escritores não gregos, mas helenizados, de diferentes
locais de origem, passaram a escrever utilizando o
grego koiné, a partir do século III a. C., sendo também a
língua popular no período romano.
A Judeia, que foi conquistada por Alexandre Magno e
posteriormente pelo Império Romano, não �cou imune
a esse processo.
Richard Horsley, por exemplo, em seu livro Arqueologia,
História e Sociedade na Galileia (2000), ao analisar
evidências epigrá�cas, conclui que o grego koiné era
utilizado ao lado do hebraico e aramaico em obras
literárias da Judeia e Galileia desde o século II a.C.
 Theos (Deus) escrito no início do Evangelho de João. Grego koiné, Novo
Testamento. (Fonte: Swellphotography / Shutterstock)
A maior parte dos manuscritos do Novo testamento que chegaram a nós, foram escritos em
grego Koiné, incluindo os Papiros mais antigos como o 52, que é datado de
aproximadamente 125 d.C. e é o testemunho mais primitivo do Evangelho de João.
Papias, citado por Eusébio de Cesareia no século II, a�rma que o Evangelho de Mateus foi composto pelo apóstolo
originalmente em hebraico, o que foi o pensamento predominante por muito tempo na Igreja e no mundo
acadêmico, só sendo negado por Schleiermacher no século XIX, com base no fato de que Mateus não parece ser
uma tradução a partir de uma língua semítica, mas, sim, depende do Evangelho de Marcos, que foi escrito em
grego.
Concordam com essa posição a maioria dos estudiosos do Novo Testamento, como Kümmel (1982), Köester
(2005), Brown (2012), Vielhauer (2015) e até muitos conservadores, como Carson, Moo e Morris (1997).
Então, conclui-se que os Evangelhos canônicos foram escritos em grego, assim como as cartas paulinas, já que
eram endereçadas para comunidades do mundo helênico, como a Igreja em Corinto, em Filipos, Tessalônica, Roma
etc.
As epístolas Universais, assim chamadas as de Pedro, Tiago, Judas e João, também foram escritas nesse idioma,
não havendo evidências para uma redação em outro dialeto. Da mesma forma temos o Apocalipse de João.
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 (Fonte: Fat Jackey / Shutterstock).
Tradução para diferentes línguas
Porém, logo nos primeiros séculos do Cristianismo, os livros canônicos foram traduzidos para diferentes línguas.
Entre elas, o copta, siríaco e armênio.
O copta, na época do Novo Testamento, estava dividido em vários dialetos, dos quais os mais importantes são o
sahídico, do Alto Egito, e o bohaírico, do Baixo Egito.
No século III, já haviam traduções de livros do Novo Testamento para o sahídico, enquanto que em bohaírico só
existem evidências a partir do século XI.
Um manuscrito em siríaco datado do quarto século e descoberto no Mosteiro do Monte
Sinai, em 1892 é uma das evidências mais antigas de uma tradução do Novo Testamento
para essa língua.
A versão siríaca mais famosa é a Peshitta, que provavelmente foi escrita no início do século IV, e com mais de 350
manuscritos preservados até hoje, a maioria dos séculos V e VI.
Outra tradução do siríaco famosa é a �loxênia, executada Pelo Bispo Filoxeno de Mabbug, na Síria.
Através de um lecionário dos quatro evangelhos e dois manuscritos datados dos séculos XI e XII, conhece-se uma
versão feita em siríaco palestinense, provavelmente feita no século V.
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
Sobre a origem da versão armênia, há duas tradições que circularam na história da
Igreja. A primeira sustenta que São Mesrop, soldado que se tornou missionário cristão,
morto por volta de 439, criou um novo alfabeto e traduziu o texto grego do Novo
Testamento. A segunda diz que o católico Sahac fez a tradução a partir do siríaco.
(BITTENCOURT, 1984)
Estudiosos a�rmam que há evidências que favorecem esta última tradição.
Seleção dos textos �dedignos

A palavra cânon, de origem hebraica, significa cana ou o metro que era usado pelo
carpinteiro ou a régua pelo escriba. Também significava regra, norma.
(VIELHAUER, 2015)
A palavra só foi aplicada à coleção dos textos cristãos a partir do século IV. Porém, antes disso, o que conhecemos
como Novo Testamento já apresentava o presente corpo.
Segundo Köester (2005) e outros, o catalisador para a seleção de um número de escritos cristãos para serem
usados o�cialmente pelas Igrejas foi Marcião, que viveu no século II.
Marcião, in�uenciado pela Teologia Paulina, rejeitou a sacralidade do Antigo Testamento, pois estava em
contradição com os ensinos de Jesus, um Deus totalmente diferente do que é revelado nas escrituras judaicas.
Em substituição à “Lei e os profetas”, ele estabeleceu como escrituras sagradas, que deviam ser utilizadas pelas
Igrejas, o Evangelho de Lucas e as cartas de Paulo. Marcião acabou excomungado em 140 d.C. e fundou sua
própria Igreja, tendo relatos de ter existido até o Período Medieval.
Saiba mais
Como reação ao Marcionismo, Justino Mártir escreve suas obras apologéticas, mas ainda não tem intenção de
formar um cânon. Irineu, Bispo de Lyon, foi o primeiroa fazer isso. Ele inclui as cartas paulinas, as cartas
católicas e quatro evangelhos nas Sagradas Escrituras, chamando-os de Novo testamento, ao lado das
Escrituras judaicas, que agora é chamado de Antigo Testamento.
Essa coleção o�cial se popularizou por Igrejas da África até a Ásia Menor. Apesar disso, alguns estudiosos
consideram o Cânon de Muratori como sendo a lista canônica mais antiga, podendo ser datado do século II, mas
essa opinião é controversa, como mostra Köester (2005), já que pode também ter sido compilado no século IV.
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Por volta de 300 d.C., Eusébio de Cesareia faz uma classi�cação dos escritos que circulavam nas comunidades
cristãs:
Os livros reconhecidos. Os livros questionados.
Os livros introduzidos pelos
hereges e rejeitados pelos
ortodoxos.

Eusébio considera como reconhecidos os quatro evangelhos, Atos, 14 epístolas paulinas,
1 Pedro, 1 João e Apocalipse. Colocou como questionáveis os que não eram
unanimidade, como Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Atos de Paulo, Pastor de Hermas etc. E
classificou com heréticos os Evangelhos de Pedro, de Tomé e outros apócrifos.
(CARSON; MOO; MORRIS, 1997)

A primeira lista em que somente os 27 livros considerados canônicos aparecem é em
uma carta de Atanásio à Igreja Alexandrina, datada do ano 367. O concílio de Cartago,
em 397, reconheceu oficialmente esses 27 livros como inspirados divinamente e como
cânon que devia ser usado pelas Igrejas cristãs.
(CARSON; MOO; MORRIS, 1997)
Critérios para a canonicidade
No processo de formação do cânon são notáveis alguns critérios que foram utilizados pelas Igrejas para avaliarem
a validade de um escrito.

Um desses critérios era a apostolicidade, ou seja, o livro em consideração deve ter sido
escrito por um dos doze apóstolos ou por alguém que teve contato direto com algum
deles. Isso porque os Apóstolos seriam os herdeiros diretos dos ensinos de Jesus e, por
isso, guardiões da sã doutrina.
(BITTENCOURT, 1984)
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
Eles exerciam sua influência através da pregação, visitação às igrejas e escritos
direcionados às comunidades.
(KÖSTENBERGER; KRUGER, 2010)

Como não era fácil demonstrar a autenticidade apostólica de um escrito, recorria-se ao
uso e circulação do livro. Antes mesmo da discussão sobre o cânon, havia livros que
eram praticamente aceitos pelas comunidades e eram de ampla circulação no meio
cristão, inclusive no século I. Jerônimo, por exemplo, afirma que mesmo o autor de
Hebreus sendo desconhecido, o livro devia ser aceito pois era lido em quase todas as
igrejas.
(CARSON; MOO; MORRIS, 1997)
Outro critério importante era o da Ortodoxia, ou seja, a conformidade com a reta doutrina. Muitos escritos foram
rejeitados por terem a in�uência do gnosticismo e de outras seitas heréticas.
O último critério a ser mencionado é o da leitura em público. Já por volta de 50 d.C., Paulo pediu que sua carta aos
Tessalonicenses fosse lida para toda comunidade (1 Ts 5,27). O autor da Carta aos Colossenses recomenda que
mandem a Carta para a Igreja de Laodiceia, para que eles também a leiam (Cl 4,16).

Justino Mártir, no século II afirma que “no dia chamado domingo, todos os que moram
nas cidades ou no país se reúnem juntos em um lugar, e as memórias dos apóstolos ou
os escritos dos profetas são lidos, contanto que o tempo permita”.
(KÖSTENBERGER, KRUGER, 2010, p. 134)
Saiba mais
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Apesar de muitos escritos considerados heréticos também serem lidos nas Igrejas, esse ainda é um critério
importante para a canonicidade do livro, pois os que compõem o cânon são os que mais eram conhecidos e lidos
nas comunidades.
Baseado na existência de várias obras literárias que surgiram dentro do Cristianismo e analisando o processo de
formação do cânon, Walter Bauer, teólogo e lexicógrafo do grego, em seu livro Ortodoxy and Heresy in Earliest
Cristianity, lançou sua famosa teoria de que a Heresia teria precedido a Ortodoxia, e não o contrário, como se
a�rmava até então.
Para Bauer, o Cristianismo foi diverso desde o início, como mostra os Evangelhos apócrifos originários de grupos
gnósticos, ebionitas etc. A ortodoxia seria uma construção sociopolítica posterior, que objetivava dar coesão ao
Cristianismo nascente.
A Tese de Bauer exerceu in�uência sobre vários teólogos posteriores, como Rudolf Bultmann e Helmut Köester,
que, ao invés de falar sobre Ortodoxia e Heterodoxia, fala sobre trajetórias do Cristianismo.
1
James Dunn (2009) a�rma que apesar do Cristianismo ser diversi�cado desde o primeiro século, se evidencia
pelos escritos neotestamentários que havia também um centro fundamental, algo comum a todas as
correntes de pensamento e que as caracterizava como cristãs e que seria a Crença em Jesus de Nazaré
como O Messias, sua morte e sua Ressurreição.
2
Atualmente, Bart Ehrmann têm renovado o interesse pela tese de Bauer, a atualizando em seu livro The Lost
Cristianities, onde defende que, no processo de formação do Cânon, determinados grupos triunfaram sobre
outras linhas de Cristianismo, impondo sua visão teológica, escolhendo os livros que seriam inspirados
divinamente. Para Ehrmann, a Ortodoxia, nada mais é do que a visão dos vencedores nesse processo e as
Heresias a visão dos perdedores.
3
Contudo, Andreas Köstenberger, do Southeastern Baptist Theological Seminary, e Michael Kruger, do Reformed
Theological Seminary, no livro The Heresy of Ortodoxy: How Contemporary Culture's Fascination with Diversity
Has Reshaped Our Understanding of Early Christianity (2010), criticam a Teoria Bauer-Ehrmann, demonstrando
que desde cedo a Igreja adotava critérios, como os da Apostolicidade, para discernir os livros que seriam
inspirados, e desde que a Igreja preservava os ensinos e tradições provenientes de Jesus, já havia uma
preocupação com a Ortodoxia, rea�rmando então sua prioridade diante dos heresias, ao contrário da tese
Bauer-Ehrmann.
Aceitação dos livros no cânon
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O Evangelho de Mateus foi aceito quase que unanimemente pela Igreja. Marcião o rejeitou, assim como fez
com Marcos e João, só aceitando Lucas.
No �nal do século II, os quatro evangelhos já aparecem no Diatessaron de Taciano. Desde então, nenhum teve
a canonicidade questionada. Assim também Atos dos Apóstolos e Romanos.
Evangelho de Mateus 
Coríntios, por sua vez, é citada por Clemente de Roma no �nal do século I e por Inácio de Antioquia no século
II, não existindo objeção quanto à sua canonicidade. Só sendo citada a partir do século II, mas isso não
constitui di�culdade para autenticidade da carta, só mostra menor circulação desta do que de a primeira
epístola.
Coríntios 
A Carta de Gálatas aparece na lista de obras paulinas de Marcião e há supostas citações de trechos da carta
em Barnabé, Clemente, Policarpo, Justino Mártir, entre outros. Isso aponta para o fato de que Gálatas já era
reconhecida desde cedo como autêntica.
Carta de Gálatas 
A Carta aos Efésios aparece no cânon de Marcião e no cânon Muratoriano, ambos datados do século II. Não
houve problemas quanto à sua canonicidade, sendo somente discutido seus destinatários.
Carta aos Efésios 
Clemente e Inácio provavelmente fazem referência à Carta aos Filipenses e Policarpo fala claramente sobre
esse escrito de Paulo.
Carta aos Filipenses 
Colossenses é citada por Justino Mártir e aparece no cânon Muratoriano, não restando dúvidas quanto à sua
aceitação pela Igreja.
Colossenses 
A primeira e a segunda Cartas aos Tessalonicenses são encontradas em Marcião, no cânon Muratoriano e
são citadas por Irineu.
Cartas aos Tessalonicenses 
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Timóteo é mencionada por Policarpo e outros. Embora rejeitada por Taciano e Marcião, e que a autoria paulina
tenha sido bastante questionada na atualidade, não há dúvidas de que foi amplamente aceita pela Igreja.
Timóteo também não aparece em Marcião, mas foi mencionada por Irineu e Clemente de Alexandria.
Timóteo 
Mesmo sendo uma carta breve a um destinatárioespecí�co, a Carta a Filemon se mostrou importante desde
cedo, já que aparece no cânon Muratoriano e Marcião, e conta com defensores como Jerônimo e Crisóstomo.
Carta a Filemon 
De autoria desconhecida até hoje, a Carta aos Hebreus não foi reconhecida como canônica inicialmente.
Apesar de ser citada por muitos pais da Igreja, eles não a declaram como inspirada a ponto de fazer parte do
Cânon. Ela foi a mais aceita, quando foi incluída na obra Paulina, provavelmente em Alexandria, no século II.
Devido à in�uência de Jerônimo e Agostinho é que a Carta foi considerada canônica pela Igreja.
Carta aos Hebreus 
O primeiro a citar a Carta a Tiago como Escritura foi Orígenes, e provavelmente o autor de Pastor de Hermas a
conhecia. Eusébio a�rma que sua canonicidade ainda era discutida em sua época, mas é incluída na Peshitta e
citada por Crisóstomo e Teodoreto como canônica. Não aparece no cânon de Muratori, sendo sua aceitação
pela Igreja ocidental datada a partir do século IV, quando Jerônimo a declara como canônica.
No século XVI, a carta foi severamente criticada pelo reformador Martinho Lutero. Ele acreditava que ela
contradizia o ensino de Paulo sobre a justi�cação pela fé, chamando-a de “epístola de palha”. Mas, até hoje, o
Cristianismo, inclusive o ramo protestante, a aceita como canônica.
Carta a Tiago 
A Primeira Carta de Pedro é citada pela segunda (2 Pe 3.1) e por Irineu e Eusébio foi considerava autêntica.
Mas a Segunda Carta de Pedro teve di�culdades para ser incluída no Cânon. Eusébio não a reconhecia como
canônica, incluindo-a na lista de livros contestados, mas usados pela maior parte das Igrejas. Jerônimo citou a
disputa em torno de sua aceitação e só foi amplamente reconhecida com Atanásio, em 367.
Cartas de Pedro 
As três Cartas joaninas são citadas por Orígenes e Eusébio, que coloca a primeira como comprovadamente
autêntica e as outras duas como contestadas. Todas as três aparecem na Lista de Atanásio.
Cartas joaninas 
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Judas é citado por Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes, o que evidencia que ela teve aceitação cedo,
mesmo com Eusébio, a incluindo entre os livros contestados.
Judas 
Já o Apocalipse de João foi considerado canônico por Papias, Justino e Irineu e incluído no Cânon
Muratoriano. Provavelmente, Inácio de Antioquia o citou e também serviu como referência para o autor de
Pastor de Hermas.
Apocalipse de João 
Cânon Muratoriano, lista mais antiga dos livros do Novo Testamento, foi
publicado em 1740 por Ludovico Muratori. É datado do século II.
Fragmento do Diatessaron de Taciano, que combinou os quatro evangelhos
canônicos em uma única narrativa. Sua compilação se deu no século II.
Trecho da Peshitta, Versão em siríaco do Novo Testamento. Essa tradução
provavelmente realizada no Século IV.
Apócrifos
Apócrifos são aqueles livros que não foram incluídos no cânon do Novo Testamento.
Entre as Epístolas apócrifas estão a Epístola de Ptolomeu à Flora e a de Barnabé e, entre o Evangelhos, temos os de
Tomé, Maria, Judas etc.
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Datada frequentemente como sendo da metade do século II e a�rma que o Deus do Antigo Testamento não é
o Deus verdadeiro, mas sim um demiurgo. Foi rejeitada pelos Pais da Igreja, como Justino Mártir, Irineu,
Clemente de Alexandria, Orígenes e outros.
Epístola de Ptolomeu à Flora 
Foi escrita no Século II e era muito popular, sendo usada por Clemente de Alexandria, Orígenes e outros,
enquanto que Irineu e Tertuliano, que comentaram extensivamente os livros canônicos, não dedicaram
nenhuma atenção a esta epístola.
Epístola de Barnabé 
Descoberto em Nag-Hammadi em 1945, é composto de 114 ditos de Jesus, que demonstram uma in�uência
gnóstica. Por isso, é frequentemente datado do século II.
Evangelho de Tomé 
Também em Nag-Hammadi foi descoberto o Evangelho de Filipe, que apresenta uma visão gnóstica do
mundo. É datado como tendo sido escrito por volta do século III.
Evangelho de Filipe 
Composto de duas partes: a primeira trata-se de um diálogo entre Jesus Ressuscitado e o Discípulos e a
segunda apresentam Maria contando acerca de visões que recebeu de Jesus aos discípulos. Também foi
in�uenciado pelo gnosticismo.
Evangelho de Maria 
Provavelmente foi composto a partir de outros dois livros: “Atos de Pilatos”, que narra o encontro entre Pilatos e
Jesus, e “A descida ao Inferno” que mostra o que Jesus fez no Inferno, quando lá esteve entre sua morte e a
Ressurreição.
Evangelho de Nicodemos 
 
 
Conclusão
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Gabarito
Com o crescimento do Cristianismo e o aparecimento de diferentes grupos com suas
perspectivas teológicas, houve a necessidade da formação de uma coleção o�cial de
livros, devidamente autorizados para servirem como base para a religião recém-nascida.
Sendo resultado de disputas políticas ou teológicas, re�exo do pensamento de grupos
vencedores sobre derrotados ou não, o fato é que até hoje as Igrejas Cristãs utilizam o
Cânon do Novo Testamento para o ensino e pregação.
 
 
Atividade
1. Acerca da formação do Cânon do Novo testamento, marque a alternativa correta:
a) O Catalisador para a formação de um cânon foi Eusébio, que rejeitava o Antigo Testamento e fez uma lista que incluía o
Evangelho de Lucas, Atos dos Apóstolos e as cartas paulinas.
b) O Cânon de Muratori é a mais antiga lista a conter os 27 livros considerados canônicos atualmente.
c) Entre os critérios utilizados para definir a canonicidade de um livro estavam os da Apostolicidade, da Ortodoxia e da
leitura na liturgia das comunidades.
d) A Tese de Bauer afirma que nem sempre o Cristianismo foi diversificado, mas que o fenômeno das Heresias só surgiu a
partir do século II.
e) Marcião defendia a canonicidade do Evangelhos Sinóticos e de João.
2. Acerca do processo de formação do cânon, correlacione as colunas:
Apostolicidade Grego Koiné Canon de Muratori Diatessaron de Taciano 1 2 3 4
a) Dialeto Grego em que o Novo Testamento foi escrito.
b) Harmonização dos quatro Evangelhos canônicos.
c) Critério para avaliação da canonicidade de um escritos que leva em conta a relação do livro com os apóstolos.
d) Lista de livros canônicos datada do século II.
1 2 3 4
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1 2 3 4
1 2 3 4
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3. Acerca dos critérios utilizados pela Igreja para avaliar a canonicidade de um escrito, preencha as lacunas:
O principal critério era o da digite a resposta , ou seja, o livro em consideração deve ter sido escrito por
um dos Doze digite a resposta ou por alguém que teve contato direto com algum deles. Isso porque
seriam os herdeiros diretos dos ensinos de Jesus e por isso, guardiões da sã doutrina.
Como não era fácil demonstrar a autenticidade apostólica de um escrito, recorria-se ao digite a resposta
do livro, pois antes mesmo da discussão sobre o cânon já havia livros que eram praticamente aceitos pelas
comunidades e eram de ampla circulação no meio cristão, inclusive no século I.
Outro critério era o da digite a resposta , ou seja, a conformidade com a reta doutrina. Muitos escritos
foram rejeitados por terem a in�uência do gnosticismo e de outras seitas heréticas.
4. Ainda sobre a formação do cânon, marque Verdadeiro ou Falso:
a) Apesar das controvérsias, foram reconhecidas como canônicas as Cartas de Hebreus e a de Barnabé.
b) Marcião formou um cânon que incluía os quatro Evangelhos canônicos em uma só narrativa.
c) A Tese de Bauer sobre Heresia e Ortodoxia in�uenciou teólogos como Bultmann, Köester e Ehrmann.
d) Segundo Papias, o Evangelho de Mateus teria sido escrito originalmente em Hebraico.
5. Discorra sobre a in�uência de Marcião sobre o processo de formação do Cânon.
Referências
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BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
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COLLI, G.Panorama Teológico do Novo Testamento. Curitiba: InterSaberes, 2017.
FRANCISCO, Papa. O Evangelho da Vida Nova. Petrópolis: Vozes, 2015.
FRIESEN, A. Teologia bíblica pastoral na pós-modernidade. Curitiba: InterSaberes, 2016.
HORSLEY, R. Arqueologia, História e Sociedade na Galileia: O contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo:
Paulus, 2000.
HORSLEY, R. HANSON, J. Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos Populares no tempo de Jesus. São Paulo:
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HORTA, G. N. B. P. Os Gregos e seu idioma. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1970.
JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
KÖESTER, H. Introdução ao Novo Testamento 1: História, cultura e religião do período Helenístico. São Paulo:
Paulus, 2005.
_____. Introdução ao Novo Testamento 2: História e Literatura do Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulus, 2005.
KÖSTENBERGER, A. KRUGER, M. The Heresy of Ortodoxy: How Contemporary Culture's Fascination with Diversity
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KÜMMEL, W. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.
MARGUERAT, D. Novo Testamento, História, Escritura e Teologia. São Paulo: Loyola, 2009.
MONASTERIO, R. A; CARMONA, A. R. Evangelhos sinóticos e Atos dos apóstolos. São Paulo: Ave-Maria, 2000.
RENNER, R. História da Teologia. Curitiba: InterSaberes, 2017.
SCHNELLE, U. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2017.
VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2004.
Próxima aula
A autoria do Novo Testamento;
O contexto do Novo Testamento;
A recepção de textos neotestamentários;
A transmissão dos textos do Novo Testamento até a sua formação.
Explore mais
O Center for the Study of New Testament Manuscripts <//www.csntm.org/> (Centro de Estudos dos Manuscritos
Página 51 de 183
https://www.csntm.org/
do Novo Testamento) funciona no Center for the Research of Early Christian Documents (Centro de Pesquisa de
Documentos Cristãos Antigos), tendo o propósito de fazer fotogra�as digitais de manuscritos gregos do Novo
Testamento para que essas imagens possam ser preservadas, duplicadas sem deterioração e acessadas por
estudiosos que fazem pesquisas textuais.
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Disciplina: Introdução ao Novo Testamento
Aula 4: Evangelhos sinóticos
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Apresentação
Nesta aula, analisaremos o gênero literário Evangelho e quais as características que o torna distinto dos demais gêneros.
Veremos também como se deu a transmissão das tradições provenientes de Jesus e como as comunidades cristãs
preservaram essas memórias.
Reconheceremos que esses escritos são de fundamental importância, pois comunicam acerca da vida e dos ensinamentos
de Jesus de Nazaré. Veremos também que os demais livros do Novo Testamento demonstram um interesse no Cristo
Cruci�cado e Ressuscitado e focam muito pouco no Ministério Terreno de Jesus. Por isso, os Evangelhos são as fontes
principais para a pesquisa do Jesus Histórico. Além disso, estudaremos as hipóteses sobre a formação dos Evangelho
Sinóticos, que guardam alto grau de parentesco entre si.
Objetivos
Classi�car os evangelhos neotestamentários;
Examinar o conteúdo teológico e as temáticas de cada evangelho sinótico;
Analisar a relação entre os evangelhos sinóticos, a chamada “questão sinótica”.
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O signi�cado de evangelho
Há quatro evangelhos no cânon usados pelas Igrejas cristãs até hoje. Três deles contêm muitos paralelos entre si. Por isso, é
quase unanimidade entre os estudiosos que Mateus, Marcos e Lucas usaram as mesmas fontes e convencionou-se chamá-los
de evangelhos sinóticos.
A palavra grega euangelion era usada no mundo helenístico para denotar “boas-novas” e já
era aplicada no contexto religioso do culto ao Imperador.
No Calendário de Priene, datado de 9 a.C., está escrito sobre a data de aniversário de Augusto:

O nascimento do deus foi para o mundo o começo de boas-novas (euangelion) que a
partir de então se sucederam deste mesmo mundo.
(KÜMMEL, 1982)
O historiador Flávio Josefo <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo> descreveu as vitórias militares e políticas do
Imperador Vespasiano (70 d.C.) como euangelia.
No contexto do Cristianismo, Paulo parece ter sido o primeiro
a utilizar a palavra “evangelho” para designar a mensagem de
Jesus Cristo. Muitos estudiosos a�rmam que Paulo fez a
escolha por essa palavra devido ao uso religioso que ela já
tinha no mundo helenístico, como uma forma de contrastar
com o evangelho de César.
 Busto do Imperador Vespasiano. Assumiu o poder em 69 d.C., após a crise sucessória
que se instalou com a morte de Nero. Responsável pela destruição de Jerusalém, foi
aclamado Imperador pelos seus próprios soldados, em Alexandria. Disponível em:
Wikipedia. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Vespasiano>
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vespasiano
Saiba mais
Uma opinião divergente, mas com boa argumentação é a de Jame Dunn, professor da Universidade de Durham, na Inglaterra.
Para ele, o uso dessa palavra por parte de Paulo se deve mais à in�uência de Isaías. O profeta utiliza no capítulo 52, versículo 7, o
verbo bsr, que a Septuaginta, os Salmos de Salomão e escritos de Qumran traduzem para o grego como euangelizómenou (DUNN,
2017).
Marcos, considerado quase que unanimemente o primeiro evangelho a ser escrito, começa aplicando o termo euangeliou à
mensagem de Jesus (Mc 1,1). A partir daí, dá-se origem ao gênero literário evangelho. Mas, só no século II, os escritos acerca da
vida de Jesus passam a ser chamados de evangelhos, como em Didaquê, Clemente e Justino (MARGUERAT, 2009).
O problema sinótico e a fonte Q
Na história da pesquisa do Novo Testamento, foi muito discutida quais foram as fontes dos evangelhos sinóticos. Em quase 300
anos de debate, foram apresentadas muitas teses. Observe algumas:
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Clique nos botões para ver as informações.
No século XVIII, G. E. Lessing apresentou a teoria de que os três evangelhos sinóticos se basearam em um evangelho
primitivo, talvez o dos Nazarenos ou o dos Hebreus, citados pelos pais da Igreja.
G. E. Lessing 
Já no século XIX, F. D. Schleiermacher teorizou que os evangelhos utilizaram fragmentos de tradições orais, e que cada
evangelista compilou esses blocos como desejou, para montar sua narrativa.
F. D. Schleiermacher 
J. J. Griesbach defendeu que Mateus foi o primeiro evangelho a ser escrito, concordando com a tradição, e que Lucas e
Marcos o usaram como fonte, sendo este último a tentativa de resumir os evangelhos.
J. J. Griesbach 
Porém, a que foi mais amplamente aceita foi a Teoria das Duas Fontes, formulada e defendida inicialmente por H. J.
Holtmann, C. Weizsäcker e B. Weiss no século XIX. (VIELHAUER, 2015).
Essa teoria a�rma que Marcos é o evangelho mais antigo e, portanto, foi usado por Mateus e Lucas como fonte, que
também utilizaram uma coleção de ditos de Jesus, hipoteticamente denominada de Q (Quelle, fonte em alemão).
H. J. Holtmann, C. Weizsäcker e B. Weiss 
Muito tem se teorizado sobre Q e sua natureza. Joachim Jeremias, famoso teólogo alemão, que viveu de 1900 a 1978,
questionou a existência de Q, e defendeu que os paralelos entre Mateus e Marcos são advindos de tradições orais utilizadas
por ambos, atribuídas a Jesus, e que nunca passaram para um estágio escrito (JEREMIAS, 2008).
Joachim Jeremias 
Philipp Vielhauer, da Universidade de Bonn, rebateu a tese de Jeremias, defendendo que Q se originou das tradições orais
das comunidades e que posteriormente passou para o estágio escrito, argumentando, por exemplo, que as variantes entre
os paralelos sinóticos seriam fruto do uso de diferentes traduções de Q (VIELHAUER, 2015).
Philipp Vielhauer 
Já Helmut Köester, professor da Harvard Divinity School, já classi�cava Q como um evangelho — o evangelho de Ditos
Sinóticos —, que foi composto por volta de 50

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