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Princípios fundamentais do direito contratual

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Princípio da autonomia da vontade.
1. Se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades. 
2. Da autonomia da vontade deriva o contrato atípico que é aquele que resulta de um acordo de vontades e não regulado no ordenamento jurídico, mas gerado pelas necessidades e interesses das partes. 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
Princípio da supremacia da ordem pública
1. O princípio da autonomia da vontade não é absoluto é limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública. O parágrafo único do art. 2.035: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
2. A doutrina considera de ordem pública, dentre outras, as normas que instituem a organização da família (casamento, filiação, adoção, alimentos); as que estabelecem a ordem de vocação hereditária e a sucessão testamentária; as que pautam a organização política e administrativa do Estado, bem como as bases mínimas da organização econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho; enfim, “as regras que o legislador erige em cânones basilares da estrutura social, política e econômica da Nação. Não admitindo derrogação, compõem leis que proíbem ou ordenam cerceando nos seus limites a liberdade de todos”. Os direitos também devem ser exercidos no limite ordenado pelos bons costumes, conceito que decorre da observância das normas de convivência, segundo um padrão de conduta social estabelecido pelos sentimentos morais da época.
Princípio da consensualismo
1. Decorre ele da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa.
2. Os contratos são, pois, em regra, consensuais. Alguns poucos, no entanto, são reais (do latim res: coisa), porque somente se aperfeiçoam com a entrega do objeto. O contrato de depósito, por exemplo, só se aperfeiçoa depois do consenso e da entrega do bem ao depositário. Enquadram-se nessa classificação, também, dentre outros, os contratos de comodato e mútuo.
Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
1. Funda-se na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em relação às partes, não afetando terceiros nem seu patrimônio. 
2. Essa visão, no entanto, foi abalada pelo Código Civil de 2002, que reconhece a função social do contrato. Terceiros, que não são propriamente partes no contrato portanto, podem nele influir, em razão de por ele ser direta ou indiretamente atingido. Isso representa, se não uma ruptura, um abrandamento dos efeitos do princípio da relatividade dos efeitos do contrato. 
Princípio da obrigatoriedade dos contratos
1. Também denominado de princípio da intangibilidade dos contratos, representa a força vinculante das convenções. 
2. Pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos).
3. A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil.
Princípio da revisão dos contratos (ou da onerosidade excessiva)
1. Fatores externos podem gerar, quando da execução da avença, uma situação muito diversa da que existia no momento da celebração, onerando excessivamente o devedor. A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Vamos imaginar uma situação hipotética em que eu alugo uma casa, antes da pandemia, próximo à Unileão. Mas que em função da pandemia e com o início do ensino remoto, eu não estou mais na casa que aluguei (volto pra casa dos meus país, em outra cidade). Eu poderia exigir do locador redução no preço do aluguel com base no princípio da onerosidade excessiva. 
2. Entre nós, a teoria em tela foi adaptada e difundida por Arnoldo Medeiros da Fonseca, com o nome de teoria da imprevisão. Os tribunais não aceitam a inflação e alterações na economia como causa para a revisão dos contratos. Tais fenômenos são considerados previsíveis entre nós. 
3. A teoria da imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa – o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus, inicialmente referida.
4. O art. 478 permite apenas a resolução do contrato e não sua revisão. A revisão está disposta no art. 317 CC. 
5. Assim, em resumo, as modificações supervenientes que atingem o contrato podem ensejar pedido judicial de revisão do negócio jurídico, se ainda possível manter o vínculo com modificações nas prestações (arts. 317 e 479 do CC), ou de resolução, nos termos dos arts. 317 e 478, a ser apreciado tendo em conta as cláusulas gerais sobre o enriquecimento injusto (art. 884), a boa-fé (art. 422) e o fim social do contrato (art. 421), se houver modificação da base do negócio que signifique quebra insuportável da equivalência ou a frustração definitiva da finalidade contratual objetiva.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Princípio da boa-fé e da probidade
1. O princípio da boa-fé (e/ou da probidade) preceitua que ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza. 
2. Recomenda ao juiz que presuma a boa-fé, devendo a má-fé ser provada por quem a alega.
3. Se pode hoje dizer, sinteticamente, que as cláusulas gerais que o juiz deve rigorosamente aplicar no julgamento das relações obrigacionais são: a boa-fé objetiva, o fim social do contrato e a ordem pública.
Boa fé objetiva e subjetiva
1. Boa-fé subjetiva: diz respeito ao conhecimento ou ignorância da pessoa. Serve à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser outra a realidade. 
2. Boa-fé objetiva: está fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do outro contraente, especialmente no sentido de não lhe sonegar informações relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio. 
Venire contra factum proprium, suppressio, surrectio, tu quoque
1. O princípio da boa-fé possui uma função limitadora: pune o abuso da posição jurídica. E é no âmbito dessa função limitadora que são estudadas as situações de venire contra factum proprium, suppressio, surrectio, tu quoque.
· Venire contra factum proprium. Protege uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente. No mesmo sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “Havendo real contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da confiança gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível dar eficácia à conduta posterior”. Assim, por exemplo, o credor que concordou, durante a execução do contrato de prestações periódicas, com o pagamento em lugar ou tempo diverso do convencionado não pode surpreender o devedor com a exigência literal do contrato. Igualmente, aquele que vende um estabelecimento comercial e auxilia, por alguns dias, o comprador, inclusivepreenchendo pedidos e novas encomendas com seu próprio número de inscrição fiscal, não pode, posteriormente, cancelar tais pedidos, sob a alegação de uso indevido de sua inscrição.
· Suppressio. Um direito não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por contrariar a boa-fé.
· Surrectio. É a outra face da suppressio. Acarreta o nascimento de um direito em razão da continuada prática de certos atos.
· Tu quoque. Proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria contra si mesmo. Aquele que descumpriu norma legal ou contratual, atingindo com isso determinada posição jurídica, não pode exigir do outro o cumprimento do preceito que ele próprio já descumprira. 
Mitigação do prejuízo
1. Enunciado n. 169 da III Jornada de Direito Civil (STJ-CJF), nestes termos: “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”. Não pode haver agravamento do prejuízo em razão de inércia do credor. A mencionada máxima tem sido aplicada especialmente aos contratos bancários, em casos de inadimplência dos devedores, em que a instituição financeira, ao invés de tomar as providências para a rescisão do contrato, permanece inerte, na expectativa de que a dívida atinja valores elevados, em razão da alta de juros convencionada no contrato.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Referências: 
GONÇALVES. Carlos Roberto. Coleção Direito civil brasileiro volume 3. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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