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Princípios fundamentais

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O papel dos princípios e o neoconstitucionalismo
1. Com o neoconstitucionalismo houve a migração da lei e do princípio da legalidade para a periferia do sistema jurídico e o trânsito da Constituição e do princípio da constitucionalidade para o centro de todo o sistema, em face do reconhecimento da Constituição como verdadeira norma jurídica dotada de força vinculante, de plena obrigatoriedade, de supremacia material e de intensa carga valorativa. 
2. Nessa senda, os princípios abandonam sua função meramente subsidiária na aplicação do Direito – quando serviam tão somente de meio de integração da ordem jurídica (na hipótese de eventual lacuna) e vetor interpretativo – e passam a ser dotados de elevada e reconhecida normatividade.
3. O marco histórico do novo direito constitucional foi o constititucionalismo do pós-guerra, na Europa, e a redemocratização com a Constituição de 1988, no Brasil.
4. O marco filosófico é o pós-positivismo, superando os modelos tradicionais do jusnaturalismo e do positivismo. O jusnaturalismo, desenvolvido a partir do século XVI, aproximou a lei da razão, fundando-se na existência de princípios de justiça universal. Noutro giro, o positivismo buscou a objetividade científica, equiparando o Direito à lei. O pós-positivismo, que se apresenta como uma terceira via, vai além da legalidade estrita, sem desprezo ao direito posto. Eleva os valores na interpretação jurídica; reconhece a normatividade dos princípios, diferenciando-os qualitativamente das regras; produz uma nova hermenêutica constitucional; e desenvolve uma teoria dos direitos fundamentais edificada na dignidade da pessoa humana.
5. Cuidado: existem princípios constitucionais positivados e não positivados. Os positivados estão expressamente previstos no texto da Constituição, ao passo que os não positivados dela podem ser deduzidos. Dentre os princípios constitucionais não positivados, os mais cobrados nos concursos públicos são o da proporcionalidade e o da razoabilidade. Acresça-se que os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade não estão positivados na Constituição Federal, mas estão prenunciados no art. 2º, caput, da Lei 9.784/1999.
O princípio federativo
1. O princípio federativo, também chamado de pacto federativo, que define a forma de Estado adotada pelo Brasil, significa que a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios possuem autonomia. É a expressão do caput do art. 1º combinado com o caput do art. 18. Além disso, a forma federativa de Estado é uma cláusula pétrea.
2. E o que seria autonomia? Não se confunde com soberania (fundamento da República Federativa do Brasil). Autonomia é a capacidade de auto-organização, de autogoverno, de autolegislação e de autoadministração atribuída aos entes federados.
· Auto-organização: capacidade de se autoestruturarem por meio das Constituições e Leis Orgânicas. 
· Autogoverno: capacidade de estruturação e exercício dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 
· Autolegislação: capacidade de criar normas jurídicas gerais e abstratas. 
· Autoadministração: capacidade de gestão da coisa pública.
Princípio republicano
1. O princípio republicano define a forma de governo adotada pelo Brasil. Encontra-se capitulado no caput do art. 1º. É uma forma de governo fundada na igualdade formal entre as pessoas, em que os detentores do poder político exercem o comando do Estado em caráter eletivo, representativo, temporário e com responsabilidade.
Princípio do Estado Democrático de Direito (art. 1°)
1. O Estado de direito é aquele que se submete ao império da lei. Por sua vez, o Estado democrático caracteriza-se pelo respeito ao princípio fundamental da soberania popular. 
Princípio da soberania popular
1. Art. 1°, Parágrafo único. “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. A norma adota como regime de governo a democracia semidireta (democracia representativa combinada com democracia direta). A participação direta pode ser percebida no art. 14: “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular”.
Princípio da separação dos poderes
1. A Constituição da República de 1988 consagra a tripartição de Poderes no seu art. 2º, protegendo-a como cláusula pétrea no art. 60, § 4º, III.
Sistema de freios e contrapesos
1. Montesquieu contribuiu com o desenvolvimento do denominado sistema de freios e contrapesos, que se caracteriza como um método de controle recíproco entre os Poderes a ser exercido nos limites previstos na Constituição. A Constituição Brasileira adotou o sistema de freios e contrapesos, como pode ser percebido pelos exemplos abaixo:
a) a possibilidade do Presidente da República vetar projetos de leis elaborados pelo Poder Legislativo (art. 84, V); 
b) a competência do Presidente da República para nomear certos magistrados (art. 84, XVI); 
c) a possibilidade do Poder Judiciário declarar uma lei inconstitucional (arts. 97 e 102, I, a); 
d) o controle externo exercido pelo Congresso Nacional em face de atos praticados pelo Presidente da República (art. 49, I, II, III, IV, XIV);
e) o Poder Legislativo aprovando ou não os magistrados indicados pelo Presidente da República (art. 52, III, a); 
f) o Poder Legislativo fiscalizando a atividade normativa do Presidente da República (art. 49, V); 
g) a possibilidade do Poder Legislativo rejeitar o veto do Presidente da República (art. 66, § 4º).
Fundamentos do Estado Brasileiro
1. No que tange aos fundamentos (art. 1º), objetivos (art. 3º) e princípios regentes na ordem internacional (art. 4º), a dica é: “não confundir alhos com bugalhos”. As bancas examinadoras tentam levar o candidato ao erro, misturando fundamentos, objetivos e princípios regentes nas relações internacionais.
2. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania: a soberania pode ser observada por dois prismas distintos – o interno e o externo. A soberania sob a ótica interna é poder de impor a ordem jurídica de forma incontestável e incontrastável. Sob a ótica externa, significa a igualdade entre os Estados, valorizando a independência nacional; 
II – a cidadania: assume dois sentidos – amplo ou restrito. Cidadania em sentido amplo significa que a pessoa é detentora de todos os direitos e garantias fundamentais. Já no sentido estrito, é a plenitude de fruição dos direitos políticos; 
III – a dignidade da pessoa humana: dever do Estado de garantir a todos uma existência digna; 
IV – os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa: denota a adoção do modelo econômico capitalista; 
V – o pluralismo político: significa um pluralismo de ideias, englobando, e com ele não se confundindo, o pluripartidarismo. 
3. Processo mnemônico: SO CI DI VAL PLU
Objetivos fundamentais do Estado Brasileiro
1. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II – garantir o desenvolvimento nacional; 
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
2. Processo mnemônico: CO GA ER PRO
Princípios regentes das relações internacionais
1. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: 
I – independência nacional; 
II – prevalência dos direitos humanos; 
III – autodeterminação dos povos; 
IV – não intervenção; 
V – igualdade entre os Estados; 
VI – defesa da paz; 
VII – solução pacífica dos conflitos; 
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X – concessão de asilo político.2. Processo mnemônico: PANIICO SO CO RE DE e parágrafo único.
Referências:
DUTRA, Luciano. Direito constitucional essencial. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

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