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URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES CHOQUE – UPTODATE INTRODUÇÃO O choque é uma condição de insuficiência circulatória com risco de vida, causando fornecimento inadequado de oxigênio para atender às necessidades metabólicas celulares e às necessidades de consumo de oxigênio, produzindo hipóxia celular e tecidual. Os efeitos do choque são inicialmente reversíveis, mas rapidamente se tornam irreversíveis, resultando em falência de múltiplos órgãos (MOF) e morte. Quando um paciente apresenta choque indiferenciado, é importante que o clínico inicie imediatamente a terapia, identificando rapidamente a etiologia, para que a terapia definitiva possa ser administrada para reverter o choque e prevenir MOF e morte. DEFINIÇÃO O choque é definido como um estado de hipóxia celular e tecidual devido à redução do fornecimento de oxigênio, aumento do consumo de oxigênio, utilização inadequada de oxigênio ou uma combinação desses processos. Isso ocorre mais comumente quando há insuficiência circulatória manifestada como hipotensão (isto é, perfusão tecidual reduzida); entretanto, é fundamental reconhecer que um paciente em choque pode apresentar-se hipertenso, normotenso ou hipotenso. O choque é inicialmente reversível, mas deve ser reconhecido e tratado imediatamente para evitar a progressão para disfunção orgânica irreversível. "Choque indiferenciado" refere-se à situação em que o choque é reconhecido, mas a causa não é clara. EPIDEMIOLOGIA O choque séptico, uma forma de choque distributivo, é a forma mais comum de choque entre os pacientes internados na unidade de terapia intensiva, seguido do choque cardiogênico e hipovolêmico; choque obstrutivo é raro. Como exemplo, em um estudo de 1600 pacientes com choque indiferenciado, choque séptico ocorreu em 62%, choque cardiogênico em 16%, choque hipovolêmico em 16%, outros tipos de choque distributivo em 4% (por exemplo, choque neurogênico, anafilaxia), e choque obstrutivo em 2 por cento. No pronto-socorro (PS), a porcentagem de cada tipo de choque atendido depende da população atendida pelo pronto-socorro. Por exemplo, centros de trauma de nível I, urbanos e movimentados terão uma porcentagem maior de choque hemorrágico. Em um estudo de 103 pacientes com choque indiferenciado apresentando-se a um departamento de emergência urbano movimentado, 36 por cento dos pacientes tiveram choque hipovolêmico, 33 por cento tiveram choque séptico, 29 por cento tiveram choque cardiogênico e 2 por cento tiveram outras formas de choque. CLASSIFICAÇÃO E ETIOLOGIA Quatro tipos de choque são reconhecidos: distributivo, cardiogênico, hipovolêmico e obstrutivo. No entanto, estes não são exclusivos, e muitos pacientes com insuficiência circulatória apresentam uma combinação de mais de uma forma de choque (choque multifatorial) (tabela 1). CHOQUE DISTRIBUTIVO O choque distributivo é caracterizado por vasodilatação periférica grave (choque vasodilatador). As moléculas que medeiam a vasodilatação variam entre as etiologias discutidas nas seções abaixo. CHOQUE SÉPTICO ◊ A sepse, definida como uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção, resultando em disfunção orgânica com risco de vida, é a causa mais comum de choque distributivo. ◊ O choque séptico é um subconjunto de sepse associado à mortalidade na faixa de 40 a 50 por cento que pode ser identificado pelo uso de terapia vasopressora e pela presença de níveis elevados de lactato (> 2 mmol/L) apesar da ressuscitação volêmica adequada. https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PULM%2F99574&topicKey=PULM%2F1594&search=choque&rank=1%7E150&source=see_link URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES ◊ O tipo de patógeno causador da sepse varia com a população estudada. Nos Estados Unidos, bactérias gram-positivas (por exemplo, Pneumococcus, Enterococcus) são os patógenos mais comuns responsáveis por sepse grave e choque séptico. No entanto, organismos resistentes a antibióticos (por exemplo, estafilococos resistentes à meticilina), organismos gram-negativos, (por exemplo, Pseudomonas , Klebsiella , Enteroba cter) e fungos (por exemplo, Candida ) são mais comumente encontrados naqueles com choque de sepse, quando comparados com pacientes que têm sepse sem as características de choque. SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SIRS) ◊ SIRS é uma síndrome clínica caracterizada por uma resposta inflamatória robusta, geralmente induzida por um grande insulto corporal que pode ser infeccioso (veja acima) ou não infeccioso (lista abaixo). ◊ A maioria dos pacientes que se apresentam ao pronto-socorro ou internados no hospital com SIRS não está em choque e não desenvolverá choque durante a internação; a presença de SIRS, no entanto, deve aumentar a vigilância do médico quanto à progressão da gravidade da doença. ◊ Exemplos de condições não infecciosas que podem ser complicadas por SIRS incluem o seguinte: ▪ Pancreatite ▪ Queimaduras ▪ Hipoperfusão causada por trauma ▪ Trauma contuso significativo e lesão por esmagamento ▪ Embolia do líquido amniótico ▪ Embolia aérea ▪ Embolia gordurosa ▪ Síndrome de vazamento capilar sistêmico idiopático ▪ Síndrome pós-parada cardíaca após retorno da circulação espontânea após parada cardíaca, infarto do miocárdio ou circulação extracorpórea CHOQUE NEUROGÊNICO ◊ Hipotensão e, em alguns casos, choque evidente são comuns em pacientes com traumatismo cranioencefálico grave e lesão medular. Acredita-se que a interrupção das vias autonômicas, causando diminuição da resistência vascular e alteração do tônus vagal, seja responsável pelo choque distributivo em pacientes com lesão medular. No entanto, a hipovolemia por perda sanguínea e a depressão miocárdica também podem contribuir para o choque nessa população. CHOQUE ANAFILÁTICO ◊ O choque de anafilaxia é mais comumente encontrado em pacientes com reações alérgicas graves mediadas por imunoglobulina E (Ig-E) a picadas de insetos, alimentos e medicamentos. O termo anafilaxia também se aplica a reações sistêmicas agudas causadas pela liberação direta de mediadores de mastócitos e basófilos produzidos por vários gatilhos (por exemplo, exercício, meios de contraste, látex de borracha natural, idiopático). CHOQUE INDUZIDO POR DROGAS E TOXINAS ◊ As reações a drogas ou toxinas que podem estar associadas ao choque ou síndromes semelhantes a SIRS incluem aquelas associadas a overdoses de drogas (por exemplo, narcóticos de ação prolongada); mordidas de cobra; picadas de insetos, incluindo envenenamento por escorpião e várias picadas de aranha; reações transfusionais; envenenamento por metais pesados, incluindo arsênico, ferro e tálio; e infecções associadas à síndrome do choque tóxico (por exemplo, Streptococcus e Escherichia spp). ◊ O cianeto e o monóxido de carbono causam choque por disfunção mitocondrial. CHOQUE ENDÓCRINO ◊ A crise addisoniana (insuficiência adrenal por deficiência mineralocorticóide) e o mixedema podem estar associados a hipotensão e estados de choque. Em estados de deficiência de mineralocorticóides, a vasodilatação pode ocorrer devido ao tônus vascular alterado e hipovolemia mediada por deficiência de aldosterona. Embora o hormônio tireoidiano desempenhe um papel na homeostase da pressão arterial, o mecanismo exato da vasodilatação em pacientes com mixedema não é claro; depressão miocárdica URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES concomitante ou derrames pericárdicos provavelmente contribuem para hipotensão e choque nessa população. ◊ Pacientes com tireotoxicose podem desenvolver insuficiência cardíaca de alto débito e não desenvolver choque per se. Entretanto, com a progressão, esses pacientes podem desenvolver disfunção sistólica ventricular esquerda e/ou taquiarritmia, levando à hipotensão CHOQUE CARDIOGÊNICO O choque cardiogênicoé devido a causas intracardíacas de falha da bomba cardíaca que resultam em redução do débito cardíaco (DC). As causas de insuficiência da bomba cardíaca são diversas, mas podem ser divididas nas três categorias a seguir listadas nas seções abaixo (tabela 1). CARDIOMIOPÁTICA ◊ As causas cardiomiopáticas de choque incluem infarto do miocárdio envolvendo mais de 40% do miocárdio ventricular esquerdo, infarto do miocárdio de qualquer tamanho se acompanhado de isquemia extensa grave devido a doença arterial coronariana multiarterial, infarto do ventrículo direito grave, exacerbação aguda de insuficiência cardíaca em pacientes com cardiomiopatia dilatada grave subjacente, miocárdio atordoado após parada cardíaca, isquemia prolongada ou circulação extracorpórea, depressão miocárdica devido a choque séptico ou neurogênico avançado e miocardite. ◊ Pacientes com cardiomiopatia hipertrófica ou insuficiência cardíaca diastólica grave raramente apresentam choque cardiogênico, mas essas condições subjacentes podem contribuir para hipotensão e choque por outras causas (por exemplo, sepse, hipovolemia) ARRÍTMICOS ◊ Tanto as taquiarritmias atriais como as ventriculares e as bradiarritmias podem induzir hipotensão, muitas vezes contribuindo para estados de choque. No entanto, quando o DC está gravemente comprometido por distúrbios significativos do ritmo (por exemplo, taquicardia ventricular sustentada, bloqueio cardíaco completo), os pacientes podem apresentar choque cardiogênico. Se o DC estiver ausente devido ao ritmo subjacente (por exemplo, taquicardia ventricular sem pulso, fibrilação ventricular), os pacientes apresentam parada cardíaca. MECÂNICO ◊ As causas mecânicas de choque cardiogênico incluem insuficiência grave da válvula aórtica ou mitral e defeitos valvares agudos devido à ruptura de um músculo papilar ou corda tendínea (defeito da válvula mitral) ou dissecção retrógrada da aorta ascendente no anel da válvula aórtica ou abscesso da aorta anel (insuficiência aórtica). Causas adicionais incluem defeitos graves do septo ventricular ou ruptura aguda do septo intraventricular, mixomas atriais e um aneurisma de parede livre ventricular rompido. Enquanto um aneurisma ventricular roto pode causar choque cardiogênico devido à redução do débito do ventrículo esquerdo, ele também pode apresentar características de choque obstrutivo, quando o sangramento é contido pelo saco pericárdico, ou choque hemorrágico catastrófico, quando o saco pericárdico é rompido e hemorragia continua. ◊ A estenose aórtica crítica ou a estenose mitral raramente se apresentam com choque cardiogênico, mas frequentemente contribuem para hipotensão e choque por outras causas (por exemplo, sepse, hipovolemia). CHOQUE HIPOVOLÊMICO O choque hipovolêmico é devido ao volume intravascular reduzido (ou seja, pré-carga reduzida), que, por sua vez, reduz o DC. O choque hipovolêmico pode ser dividido em duas categorias: hemorrágico e não hemorrágico (tabela 1). HEMORRÁGICO ◊ A redução do volume intravascular devido à perda de sangue pode resultar em choque. Existem múltiplas causas de choque hemorrágico, das quais o trauma contuso ou penetrante (incluindo fraturas múltiplas sem lesão do vaso) é o mais comum, seguido por superior (por exemplo, hemorragia de varizes, https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PULM%2F99574&topicKey=PULM%2F1594&search=choque&rank=1%7E150&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PULM%2F99574&topicKey=PULM%2F1594&search=choque&rank=1%7E150&source=see_link URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES úlcera péptica) ou inferior (por exemplo, diverticular, malformação arteriovenosa) gastrointestinal sangramento. ◊ Causas menos comuns incluem sangramento intra-operatório e pós-operatório, ruptura de aneurisma da aorta abdominal ou do ventrículo esquerdo, fístula aórtico-entérica, pancreatite hemorrágica, iatrogênica (p. hemorragia uterina ou vaginal por outras causas (por exemplo, infecção, tumores, lacerações), hemorragia peritoneal espontânea por diátese hemorrágica e hematoma rompido. NÃO HEMORRÁGICO ◊ A redução do volume intravascular devido à perda de líquidos além do sangue pode causar choque. A depleção de volume por perda de sódio e água pode ocorrer em vários locais anatômicos ▪ Perdas gastrointestinais (por exemplo, diarreia, vômito, drenagem externa) ▪ Perdas de pele (por exemplo, insolação, queimaduras, condições dermatológicas graves, incluindo síndrome de Stevens- Johnson) ▪ Perdas renais (por exemplo, diurese osmótica ou induzida por drogas excessiva, nefropatias perdedoras de sal, hipoaldosteronismo) ▪ Perdas do terceiro espaço para o espaço extravascular ou cavidades corporais (por exemplo, pós-operatório e trauma, obstrução intestinal, lesão por esmagamento, pancreatite, cirrose) CHOQUE OBSTRUTIVO O choque obstrutivo é principalmente devido a causas extracardíacas de insuficiência da bomba cardíaca e muitas vezes associado a um débito ventricular direito deficiente. As causas do choque obstrutivo podem ser divididas nas duas categorias a seguir, listadas nas seções abaixo (vascular pulmonar e mecânica) (tabela 1). VASCULAR PULMONAR ◊ A maioria dos casos de choque obstrutivo é devido à insuficiência ventricular direita por embolia pulmonar (EP) hemodinamicamente significativa ou hipertensão pulmonar (HP) grave. Nesses casos, o ventrículo direito falha porque não consegue gerar pressão suficiente para superar a alta resistência vascular pulmonar associada à EP ou HP. Enquanto o colapso hemodinâmico no quadro de EP é tradicionalmente atribuído à obstrução mecânica, a vasoconstrição pulmonar mediada por mediadores vasoativos, como serotonina e tromboxano, também contribui para a fisiopatologia observada. Pacientes com estenose grave ou com obstrução aguda da valva pulmonar ou tricúspide também podem se enquadrar nessa categoria. ◊ A síndrome aguda do coração direito pode, dada a interdependência ventricular, mimetizar a disfunção ventricular esquerda resultando em choque cardiogênico. A síndrome aguda do coração direito está associada a infarto do miocárdio localizado no ventrículo direito, sobrecarga de volume maciça, vasoconstrição hipoxêmica resultando em hipertensão pulmonar aguda e embolia pulmonar. Em pacientes com hipertensão pulmonar pré-existente e disfunção ventricular direita, isquemia, sobrecarga de volume ou hipoxemia devem ser evitadas, pois esses insultos podem resultar em disfunção ventricular direita aguda ou crônica, resultando em colapso cardiovascular. MECÂNICA ◊ Os pacientes nesta categoria apresentam-se clinicamente como choque hipovolêmico porque seu distúrbio fisiológico primário é pré-carga diminuída, em vez de falha da bomba (por exemplo, retorno venoso reduzido para o átrio direito ou enchimento inadequado do ventrículo direito). Causas mecânicas de choque obstrutivo incluem o seguinte: ▪ Pneumotórax hipertensivo ▪ Tamponamento pericárdico ▪ Pericardite constritiva ▪ Cardiomiopatia restritiva ◊ A síndrome compartimental abdominal (SCA), definida como hipertensão intra-abdominal sustentada associada à disfunção orgânica, pode exacerbar o choque. A SCA primária se desenvolve em pacientes com lesão intra- abdominal, enquanto a SCA secundária é frequentemente o resultado de ressuscitação com volume maciço. A SCA prejudica a função cardiovascular tanto por reduzir o retorno https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PULM%2F99574&topicKey=PULM%2F1594&search=choque&rank=1%7E150&source=see_link URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES venoso quanto por prejudicar a contratilidade miocárdica. CHOQUE COMBINADO Os pacientes geralmente apresentam formas combinadas de choque. Exemplos incluem: ✓ Pacientes com choque de sepse ou pancreatite apresentam choque principalmente distributivo (devido aos efeitos dascascatas inflamatórias e anti- inflamatórias na permeabilidade vascular e vasodilatação periférica); no entanto, eles também costumam ter um componente hipovolêmico (devido à diminuição da ingestão oral, perdas insensíveis, vômitos, diarreia) e um componente cardiogênico (devido à depressão miocárdica relacionada à inflamação). ✓ Pacientes com cardiomiopatia subjacente podem apresentar choque hipovolêmico (por superdiurese) e choque cardiogênico (por taquicardia compensatória inadequada e/ou volume sistólico). ✓ Pacientes com lesão traumática grave podem ter choque hemorrágico por perda de sangue, bem como choque distributivo por SIRS ou, menos comumente, embolia gordurosa. ✓ Pacientes com trauma na medula espinhal podem apresentar choque distributivo por disfunção autonômica relacionada à lesão e choque cardiogênico por depressão miocárdica. ✓ Pacientes com ruptura de aneurisma de parede livre do ventrículo esquerdo podem apresentar choque cardiogênico por falha primária da bomba, choque obstrutivo por tamponamento cardíaco quando a perda de sangue é contida pelo saco pericárdico e choque hemorrágico quando a perda de sangue não é contida pelo saco pericárdico. ✓ Pacientes com choque séptico podem fazer a transição de um estado de choque distributivo (baixa resistência vascular sistêmica [RVS]) para estado de choque multifatorial após ressuscitação com volume maciço que resulta em síndrome compartimental abdominal e/ou síndrome aguda do coração direito. PATOGÊNESE E FISIOPATOLOGIA MECANISMOS DE CHOQUE ◊ A hipóxia celular ocorre como resultado da redução da perfusão tecidual/fornecimento de oxigênio e/ou aumento do consumo de oxigênio ou da utilização inadequada de oxigênio. A hipóxia celular, por sua vez, causa disfunção da bomba iônica da membrana celular, edema intracelular, extravasamento do conteúdo intracelular para o espaço extracelular e regulação inadequada do pH intracelular. Esses processos bioquímicos, quando não controlados, evoluem para o nível sistêmico, resultando em acidose e disfunção endotelial, além de estimulação adicional das cascatas inflamatórias e anti- inflamatórias. Para agravar esse processo, há uma redução adicional na perfusão tecidual de processos humorais e microcirculatórios complexos que prejudicam o fluxo sanguíneo regional. ◊ Os níveis séricos de lactato, quando elevados, têm sido tradicionalmente usados como substitutos para hipoperfusão e hipóxia tecidual. É certo que o fluxo de lactato é mais complexo do que a hipótese de hipóxia tecidual sugere, pois a glicólise aeróbica mediada por epinefrina no músculo esquelético também contribui para a hiperlactatemia. No entanto, elevações no nível de lactato sérico são ferramentas úteis de estratificação de risco no choque indiferenciado. FISIOLOGIA ◊ Os principais determinantes fisiológicos da perfusão tecidual (e da pressão arterial sistêmica [PA]) são o débito cardíaco (DC) e a resistência vascular sistêmica (RVS): ▪ BP = CO X SVR ◊ CO é o produto da frequência cardíaca (FC) e volume sistólico (VS): ▪ CO = FC X SV ◊ O volume sistólico é determinado por: ▪ Pré-carregar ▪ Contratilidade miocárdica ▪ Pós-carga ◊ O SVR é regido por: ▪ Comprimento da embarcação URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES ▪ Viscosidade do sangue ▪ Diâmetro do vaso (ou seja, tônus do vaso) ▪ Assim, processos biológicos que alteram qualquer um desses parâmetros fisiológicos pode resultar em hipotensão e choque. ◊ Os perfis hemodinâmicos, que podem ser medidos em cateterismo de artéria pulmonar ou dispositivos de CO não invasivos, que distinguem cada classe de choque. Comum à maioria das formas de choque é a diminuição do CO e/ou RVS. Ocasionalmente, a RVS é baixa em relação a um alto DC (por exemplo, tireotoxicose), o que pode resultar em má perfusão tecidual. Em geral, hipovolemia grave, choque cardiogênico e choque obstrutivo tardio são caracterizados por um baixo DC e aumento compensatório da RVS na tentativa de manter a perfusão aos órgãos vitais, enquanto o choque distributivo é classicamente associado à redução da RVS e compensatório (mas insuficiente) aumento do CO para manter o fornecimento adequado de oxigênio. No entanto, o DC pode ser normal nas fases iniciais do choque hipovolêmico e obstrutivo. Da mesma forma, em alguns casos de choque distributivo grave (por exemplo, sepse e choque neurogênico) ou choque combinado, tanto o CO quanto a RVS podem ser reduzidos. ◊ Algumas formas de choque têm CO e RVS normais. Como exemplo, pacientes com disfunção mitocondrial profunda. ESTÁGIOS DO CHOQUE ◊ O choque é um continuum fisiológico. Inicia-se com um evento desencadeante, como um foco de infecção (p. Os estágios iniciais do choque (pré-choque, choque) são mais passíveis de terapia e têm maior probabilidade de serem reversíveis, em comparação com o estágio final do choque, que está associado a danos irreversíveis de órgãos-alvo e morte. ▪ Pré-choque: O pré-choque também é conhecido como choque compensado ou choque enigmático. Caracteriza-se por respostas compensatórias à diminuição da perfusão tecidual. Como exemplo, no pré- choque hipovolêmico precoce, uma taquicardia compensatória e vasoconstrição periférica podem permitir que um adulto saudável seja assintomático e preserve uma pressão arterial normal ou levemente elevada, apesar de uma redução de 10% no volume sanguíneo arterial efetivo total. Assim, taquicardia, uma alteração modesta na pressão arterial sistêmica (aumento ou diminuição), ou hiperlactatemia leve a moderada, podem ser os únicos sinais clínicos de choque precoce. Potencialmente, com manejo oportuno e apropriado, a deterioração pode ser prevenida e os sinais de deterioração iminente podem ser revertidos (por exemplo, normalização da frequência cardíaca e dos níveis séricos de lactato). ▪ Choque: Durante o choque, os mecanismos compensatórios ficam sobrecarregados e aparecem sinais e sintomas de disfunção orgânica, incluindo taquicardia sintomática, dispneia, inquietação, sudorese, acidose metabólica, hipotensão, oligúria e pele fria e úmida. Os sinais e sintomas de disfunção orgânica normalmente correspondem a uma perturbação fisiopatológica significativa. Como exemplos, no choque hipovolêmico, os sinais e sintomas clínicos estão associados a uma redução de 20 a 25% no volume sanguíneo arterial e, no choque cardiogênico, é necessária uma queda do índice cardíaco para menos de 2,5 L/min/m 2 antes aparecem sinais e sintomas. ▪ Disfunção de órgãos-alvo: O choque progressivo leva a danos irreversíveis de órgãos, falência de múltiplos órgãos (MOF) e morte. Durante esta fase, desenvolve-se anúria e insuficiência renal aguda, acidemia deprime ainda mais o DC, hipotensão torna-se grave e recalcitrante à terapia, muitas vezes relacionada à vasoplegia, hiperlactatemia muitas vezes piora e agitação evolui para obnubilação e coma. A morte é comum nesta fase de choque. QUANDO SUSPEITAR DE CHOQUE Os achados clínicos associados ao choque indiferenciado (isto é, causa URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES desconhecida) variam de acordo com a etiologia e o estágio de apresentação (pré-choque, choque, disfunção de órgãos-alvo). As características que são altamente suspeitas de choque incluem: ✓ Hipotensão ✓ Taquicardia ✓ Oligúria ✓ Estado mental anormal ✓ Taquipneia ✓ Pele fria, úmida e cianótica ✓ Acidose metabólica ✓ Hiperlactatemia A maioria das características clínicas não é sensível nem específica para o diagnóstico de choque. No entanto, muitas das manifestações clínicas fornecem pistas sobre a etiologia subjacente e são usadas principalmente para estreitar o diagnóstico diferencial para que as terapias empíricas possam ser administradas em tempo hábil. HIPOTENSÃO ◊ A hipotensão ocorre na maioria dos pacientes com choque. A hipotensão pode ser absoluta (p. queda da pressãodiastólica em pé) ou profunda (por exemplo, vasopressor- dependente). ◊ É importante ressaltar que os pacientes nos estágios iniciais do choque podem ser normotensos ou hipertensos, de modo que a hipotensão não precisa estar presente para o diagnóstico. Por outro lado, nem todo paciente com hipotensão apresenta choque (por exemplo, hipotensão crônica, hipotensão induzida por drogas, disfunção autonômica, síncope vasovagal, doença vascular periférica). TAQUICARDIA ◊ A taquicardia é um mecanismo compensatório precoce em pacientes com choque. Pode ser isolado ou ocorrer em associação com hipotensão. É importante ressaltar que, em comparação com pacientes mais velhos, os pacientes mais jovens desenvolvem taquicardia grave e persistente antes de se tornarem hipotensores tardiamente no curso do choque, uma característica compensatória que frequentemente desvia a atenção da possibilidade da presença de choque nessa população. Dada a frequência do uso de betabloqueadores, é importante incorporar o conhecimento de medicamentos concomitantes na avaliação clínica da suspeita de choque. TAQUIPNEIA ◊ A taquipneia é um mecanismo compensatório precoce em pacientes com choque e acidose metabólica especificamente. Embora as elevações na frequência respiratória sejam comuns entre pacientes hospitalizados, é uma ferramenta útil para identificar pacientes em risco de deterioração clínica, como evidenciado por sua incorporação no escore de avaliação de falha de órgão sequencial (relacionado à sepse) rápido (qSOFA). OLIGÚRIA ◊ A oligúria em choque pode ser devido ao desvio do fluxo sanguíneo renal para outros órgãos vitais, lesão direta ao rim (por exemplo, toxicidade de aminoglicosídeos) ou devido à depleção do volume intravascular (por exemplo, por vômito, diarreia ou hemorragia). ALTERAÇÕES DO ESTADO MENTAL ◊ A alteração do sensório no choque geralmente se deve a má perfusão ou encefalopatia metabólica. É um continuum que começa com agitação, progride para confusão ou delírio e termina em obnubilação ou coma. PELE FRIA ◊ A pele fria e úmida é devido à vasoconstrição periférica compensatória que redireciona o sangue centralmente, para manter a perfusão de órgãos vitais (ou seja, fluxo coronário, cerebral e esplâncnico). ◊ Uma aparência cianótica e mosqueada é uma característica tardia e preocupante do choque. No entanto, a aparência de pele fria, úmida ou cianótica também pode ser devida ou exacerbada por isquemia de doença vascular arterial periférica subjacente. É importante ressaltar que a pele quente e hiperêmica não garante a ausência de choque porque tal aparência pode estar presente em pacientes com choque distributivo precoce (antes do início da vasoconstrição compensatória) ou choque terminal (devido à falha da vasoconstrição compensatória). ACIDOSE METABÓLICA ◊ Em geral, a demonstração de acidose metabólica com hiato aniônico elevado deve sempre levantar a suspeita clínica da presença de choque. É importante ressaltar que a URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES presença de acidose metabólica em estados de choque não é específica e também pode ser decorrente de lesão renal aguda ou ingestão de toxina. HIPERLACTATEMIA ◊ Em conjunto com acidose metabólica ou não, a presença de um nível sérico elevado de lactato tem sido associada a desfechos adversos, incluindo o desenvolvimento de choque. A relação entre hiperlactatemia e mortalidade foi reproduzida em várias condições clínicas, incluindo trauma, sepse e pós-parada cardíaca. CARACTERÍSTICAS DEVIDO À CAUSA SUBJACENTE ◊ Devido à ampla gama de etiologias do choque, as características apresentadas podem ser variáveis e frequentemente se sobrepõem. No entanto, eles facilitam a identificação precoce da etiologia do choque, bem como da falência de órgãos devido ao choque, cujos detalhes são fornecidos nas seções abaixo. ABORDAGEM INICIAL A abordagem inicial de pacientes com hipotensão/choque indiferenciado é mostrada nos algoritimo. Quando viável, é preferível uma abordagem multidisciplinar baseada em equipe, pois permite a avaliação e administração simultâneas de terapia a pacientes com hipotensão e choque. Em resumo: A via aérea deve ser estabilizada e o acesso intravenoso adequado assegurado para que os pacientes possam ser imediatamente tratados com fluidos intravenosos para restaurar a perfusão tecidual adequada. É importante ressaltar que os esforços de ressuscitação, particularmente fluidos intravenosos, não devem ser adiados para uma avaliação clínica detalhada, nem os médicos devem ser conservadores em termos de ressuscitação com fluidos para pacientes com insuficiência cardíaca ou lesão renal como regra. Relacionado a este último ponto, a ressuscitação volêmica liberal parecia salvar vidas em pacientes sépticos com níveis intermediários de lactato sérico, um benefício derivado desses subgrupos de sepse tradicionalmente subreanimados. Os pacientes devem ser avaliados quanto à necessidade de uma intervenção imediata ou precoce para que as terapias que salvam vidas possam ser administradas prontamente. Pacientes criticamente enfermos que foram estabilizados e pacientes com hipotensão leve ou choque precoce devem ser submetidos a uma abordagem diagnóstica mais formal enquanto as terapias iniciais de ressuscitação estão em andamento. É importante ressaltar que os pacientes podem se tornar hemodinamicamente instáveis durante o período de avaliação e tratamento precoce, o que pode exigir um rápido redirecionamento da abordagem para a administração de terapias que salvam vidas. AVALIAR VIAS AÉREAS, RESPIRAÇÃO, CIRCULAÇÃO ◊ As primeiras prioridades são estabilizar as vias aéreas e a respiração com oxigênio e/ou ventilação mecânica, quando necessário. O acesso intravenoso deve ser garantido para que os pacientes possam ser imediatamente tratados com fluidos intravenosos para restaurar a perfusão tecidual adequada. ◊ Pacientes com desconforto respiratório e/ou instabilidade hemodinâmica acentuada são tipicamente intubados. A exceção são aqueles com suspeita de pneumotórax hipertensivo, onde a drenagem imediata do ar do espaço pleural pode reverter rapidamente o choque e evitar a intubação (a ventilação mecânica pode piorar a tensão e precipitar a parada cardíaca). ◊ A intubação com sequência rápida é a abordagem preferida; agentes que pioram a hipotensão devem ser evitados. ◊ O acesso venoso periférico (cateteres de calibre 14 a 18) ou intraósseo é suficiente para a avaliação inicial e manejo de muitos pacientes com choque indiferenciado e hipotensão. Entretanto, o acesso venoso central deve ser obtido naqueles em que o acesso periférico não pode ser obtido, naqueles que necessitam de infusões de grandes volumes de líquidos e/ou hemoderivados, ou naqueles que necessitam de infusões prolongadas de vasopressores. O acesso venoso central também pode ser útil em pacientes que necessitam de coletas de sangue frequentes para exames laboratoriais e para monitoramento hemodinâmico (por exemplo, pressão venosa central, saturação de oxiemoglobina venosa central). É importante ressaltar que a administração de fluidos e URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES medicamentos de ressuscitação não deve ser adiada porque o acesso venoso central não está disponível. Relacionadas, as evidências sugerem que o uso de medicamentos vasoativos intravenosos periféricos pode ser usado com segurança por horas a dias, evitando a necessidade de cateterismo venoso central em vários pacientes. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO ◊ Quando os pacientes apresentam hipotensão indiferenciada ou choque, o clínico deve estratificar o paciente de acordo com a gravidade do choque e a necessidade de intervenção imediata ou precoce para que as terapias empíricas que salvam vidas possam ser administradas prontamente ◊ Os médicos devem obter uma breve história e exame, juntamentecom monitoramento de telemetria à beira do leito e/ou eletrocardiograma [ECG], para avaliar se uma terapia imediata ou precoce é necessária. Embora seja preferível um diagnóstico definitivo, muitas dessas terapias são administradas com base em um diagnóstico presumido com ou sem resultados de testes preliminares. ◊ Pacientes com formas mais leves de choque/hipotensão ou pacientes criticamente enfermos que foram estabilizados devem ser submetidos a uma avaliação diagnóstica completa enquanto a ressuscitação continua. Em geral, há tempo suficiente disponível nesses pacientes para obter estudos laboratoriais e imagens definitivas para que um diagnóstico possa ser feito e a terapia apropriada seja administrada. No entanto, a avaliação permanece sensível ao tempo, pois os pacientes desta categoria correm o risco de se tornarem hemodinamicamente instáveis, de modo que um rápido redirecionamento da estratégia diagnóstica e terapêutica pode ser necessário. CONDIÇÕES COMUNS QUE REQUEREM INTERVENÇÕES QUE SALVAM VIDAS ◊ A abordagem inicial discutida abaixo geralmente depende de um breve histórico obtido de prestadores de serviços pré- hospitalares, funcionários do hospital, familiares e paciente. ◊ Choque anafilático: ▪ Pacientes com forte suspeita de choque anafilático (por exemplo, hipotensão, estridor inspiratório, edema oral e facial, urticária, história de exposição recente a alérgenos comuns [por exemplo, picadas de abelha]) devem receber epinefrina intramuscular. Pacient es em ventilação mecânica também podem ter uma elevação súbita nos picos de pressão inspiratória. A dose típica para adultos é de 0,3 mg de epinefrina 1:1.000 injetada no meio externo da coxa e repetida a cada 5 a 15 minutos, conforme necessário. Outros agentes farmacológicos frequentementeadministrados após a epi nefrina incluem anti - histamínicos ( O sangue para triptase total ou histamina deve ser coletado antes ou logo após o tratamento) ◊ Pneumotórax hipertensivo: ▪ Deve-se suspeitar de pneumotórax hipertensivo naqueles com taquipneia, dor torácica pleurítica unilateral e sons respiratórios diminuídos, veias cervicais distendidas, desvio traqueal para longe do lado afetado e fatores de risco para pneumotórax hipertensivo (p. Doença pulmonar). Pacientes em ventilação mecânica também podem ter uma elevação súbita nas pressões de platô. Pacientes com forte suspeita de pneumotórax hipertensivo não precisam de radiografia de tórax e devem ser submetidos a uma toracostomia por tubo emergente (24 ou 28 Fr, 36 Fr para trauma; quinto espaço intercostal, linha axilar média) ou descompressão com agulha usando um cateter intravenoso de calibre 14 a 16 (segundo ou terceiro espaço intercostal, linha hemiclavicular) seguido de toracostomia tubular imediata; a toracostomia com tubo é indicada se a descompressão falhar. ▪ A orientação por ultra-som é preferível para o diagnóstico e a colocação do tubo. Além disso, preferimos que a drenagem de um pneumotórax hipertensivo seja realizada antes da intubação endotraqueal, a menos que o paciente já esteja intubado ou em parada cardíaca. Para aqueles em ventilação URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES mecânica, a ventilação com pressão positiva deve ser reduzida. A confirmação radiográfica da reexpansão deve ser realizada após a drenagem (por exemplo, ultrassonografia, radiografia de tórax). ◊ Tamponamento pericárdico: ▪ Deve-se suspeitar de tamponamento pericárdico em pacientes com dispneia, taquicardia, hipotensão, pressão venosa jugular elevada, sons cardíacos distantes, pulso paradoxal e fatores de risco conhecidos (por exemplo, trauma, diátese hemorrágica, derrame pericárdico conhecido, procedimento torácico ou pericárdico recente ). A demonstração de uma faixa anecóica e fisiologia do tamponamento na ultrassonografia point- of-care (POC) ou ecocardiografia à beira do leito é preferível antes da pericardiocentese. A ultrassonografia também orienta a colocação da agulha ou do cateter e examina a resposta à drenagem do líquido do saco pericárdico. Em casos raros, uma toracotomia de emergência pode ser realizada naqueles que não respondem à drenagem por cateter ou naqueles que desenvolvem uma parada cardíaca durante a ressuscitação. ▪ É importante ressaltar que a pericardiocentese não deve ser tentada em pacientes com derrame pericárdico devido à dissecção da aorta ou ruptura do miocárdio, pois o alívio do tamponamento cardíaco pode piorar o sangramento. Esses pacientes requerem intervenção cirúrgica de emergência. Nos casos em que o tamponamento permanece no diagnóstico diferencial, mas são necessários dados adicionais, as medidas hemodinâmicas via cateterismo da artéria pulmonar são frequentemente necessárias. ◊ Hemorragia hemodinamicamente significativa: ▪ Pacientes com suspeita de choque hemorrágico devem ser identificados como tendo choque traumático ou não traumático: ▪ Traumático: Pacientes com histórico de trauma fechado ou penetrante se beneficiam da ultrassonografia rápida de múltiplos órgãos à beira do leito para identificar sangue no abdome (também conhecida como avaliação focada com ultrassonografia para trauma [FAST]). Um estudo positivo indica a necessidade de exploração cirúrgica para identificar e controlar a fonte de hemorragia. ▪ Não traumático: Pacientes com suspeita de ruptura da aorta (por exemplo, hipotensão, dor abdominal, torácica ou nas costas, história conhecida de aneurisma ou dissecção) podem ser muito instáveis para obter com segurança uma tomografia computadorizada (TC) com contraste. Outras opções para diagnóstico prévio ao manejo incluem ecocardiograma transesofágico (aorta torácica) e ultrassonografia abdominal (aorta abdominal), para identificar hematoma perioaórtico ou doença aneurismática. ▪ Para pacientes com manifestações de hemorragia digestiva alta ou baixa (por exemplo, hematêmese, hematoquezia, anemia, diátese hemorrágica), pode ser indicada intervenção endoscópica, embolização ou cirurgia. ▪ Essa população normalmente requer grandes volumes de hemoderivados e os vasopressores são evitados. Acesso periférico adequado (duas IVs de calibre 14 a 18) e/ou um cordis central de grande calibre e lúmen único são essenciais. Um tipo e prova cruzada, um hemograma completo e estudos de coagulação devem ser obtidos em todos os pacientes com suspeita de hemorragia. ◊ Arritmias com risco de vida: ▪ Pacientes com distúrbios do ritmo resultando em choque podem ser cardiovertidos (taquiarritmias), receber atropina ou infusões de agentes vasoativos, ou submeter-se à colocação de marcapasso temporário ou permanente (bradiarritmias) como parte do protocolo de suporte avançado de vida cardíaca (ACLS). As arritmias podem ser a causa primária ou contribuir para o choque, de modo que o tratamento imediato é importante e potencialmente salva vidas. Além disso, as arritmias podem ser secundárias aos distúrbios metabólicos URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES associados ao choque (por exemplo, hipocalemia, acidose) ou à causa subjacente do choque (por exemplo, sepse, embolia pulmonar, infarto do miocárdio). Assim, sua presença deve levar a investigações adicionais. ◊ Choque séptico: ▪ Pacientes com suspeita de infecção (por exemplo, febre, hipotensão e suspeita de fonte séptica) se beneficiam da administração precoce de antibióticos intravenosos, cuja escolha é determinada pela fonte suspeita, e ressuscitação volêmica intravenosa. Se a fonte for desconhecida e Pseudomonas for improvável, favorecemos a combinação de vancomicina com uma cefalosporina de terceira ou quarta geração (por exemplo, ceftriaxona ou cefotaxima , cefe pime) ou um inibidor de betalactâmicos/betalactamases (por exemplo, piperacilina- tazobactam , ticarcilina - clavulanato [fornecimento limitado]) ou um carbapenem (por exemplo, imipenem ou meropenem). Se houver probabilidadede Pseudomonas , a vancomicina deve ser combinada com dois agentes antipseudomonas (por exemplo, fluoroquinolona, aminoglicosídeo, piperacilina-tazobactam, cefepima, ceftazidima ). Uma leucocitose e, em particular, uma bandemia, bem como achados laboratoriais e de imagem sugestivos de uma fonte, todos suportam a presença de sepse como causa de choque. Culturas de sangue e outros fluidos corporais apropriados devem ser obtidas, de preferência antes da administração de antibióticos, além de exames de imagem quando necessário para facilitar o controle oportuno da fonte. Sinais vitais seriados e medidas de lactato sérico podem ser usados para estratificar o risco do paciente séptico. ◊ Choque cardiogênico por infarto do miocárdio: ▪ Pacientes que apresentam hipotensão associada a dor torácica anterior esmagadora, desconforto respiratório e alterações no ECG consistentes com infarto do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMCST) se beneficiam de intervenção precoce. Níveis elevados de troponina ou creatina fosfoquinase e edema pulmonar na radiografia de tórax corroboram o diagnóstico. As intervenções incluem a administração de agentes farmacológicos (por exemplo, agentes antiplaquetários, heparina), procedimentos de revascularização coronária (por exemplo, angioplastia com balão) e/ou um balão intra-aórtico. Aqueles com não STEMI podem se beneficiar adicionalmente da administração de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa. ◊ Choque cardiogênico por insuficiência valvar mitral ou aórtica aguda: ▪ Pacientes com dor torácica, hipotensão e novo sopro diastólico precoce de baixa frequência consistente com insuficiência aórtica devem ser submetidos a ultrassonografia POC ou ecocardiograma antes da intervenção cirúrgica. Estudos laboratoriais ou de imagem adicionais destinados a descobrir a etiologia da ruptura (por exemplo, TC de tórax para dissecção da aorta, hemoculturas e ecocardiografia transesofágica para abscesso da raiz da aorta) podem ser necessários nessa população. Pacientes com desconforto respiratório agudo e novo sopro sistólico após infarto agudo do miocárdio (IM) devem, preferencialmente, realizar ecocardiograma de urgência para procurar insuficiência valvar mitral ou defeito do septo ventricular, que também normalmente necessita de intervenção cirúrgica urgente. [ ◊ Dissecção da aorta ascendente: ▪ Pacientes com dissecção de aorta torácica descendente geralmente apresentam hipertensão e dor torácica ou nas costas. No entanto, pacientes com dissecção de aorta ascendente são mais propensos a apresentar hipotensão e choque associados à insuficiência aórtica aguda, tamponamento pericárdico ou infarto do miocárdio. Pacientes hemodinamicamente instáveis com suspeita de dissecção aórtica ecocardiograma transesofágico, se URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES disponível ou TC com contraste para avaliação da aorta ascendente e valva aórtica. A dissecção da aorta ascendente é uma emergência cirúrgica cardíaca e deve- se obter consulta imediata com um cirurgião cardíaco. ◊ Embolia pulmonar hemodinamicamente significativa: ▪ Pacientes com hipotensão, dispneia aguda e hipoxemia com forte suspeita de embolia pulmonar (EP) podem se beneficiar da administração de terapia trombolítica sistêmica. A radiografia de tórax normal e níveis elevados de dímero D, troponina e peptídeo natriurético são de suporte diagnóstico. A angiotomografia pulmonar é a modalidade diagnóstica preferida nesta população. No entanto, para aqueles em que a TC não é segura, um diagnóstico presuntivo pode ser obtido por ultrassonografia cardíaca POC ou ecocardiografia (por exemplo, aumento do ventrículo direito, trombo) para justificar a administração de um agente trombolítico, desde que não haja contraindicações. As indicações para trombólise, dosagem e escolha do agente, bem como terapias alternativas em pacientes com EP hemodinamicamente instável, são discutidas separadamente. ◊ Crise adrenal: ▪ Os pacientes com suspeita de crise adrenal (por exemplo, hipotensão, depleção de volume, história de deficiência ou abstinência de glicocorticóides) devem receber reposição volêmica criteriosa e dexametasona 4 mg por via intravenosa. A seleção da dexametasona é baseada na capacidade de interpretar as medidas de cortisol sérico como parte da avaliação. O sangue para cortisol sérico, corticotropina (ACTH), aldosterona, renina e bioquímica sérica deve ser coletado para confirmar o diagnóstico. ◊ Mordidas de insetos ou animais: ▪ Algumas mordidas de insetos e animais requerem soro antiofídico para reverter o choque, cujos detalhes são discutidos separadamente. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA INICIAL Avaliação clínica à beira do leito: Uma alta suspeita clínica para a presença de choque é fundamental para o diagnóstico. Uma história inicial eficiente e direcionada de prestadores de serviços pré-hospitalares ou hospitalares, o paciente, seus familiares e/ou o prontuário médico deve fornecer ampla informação sobre o risco de choque do paciente, bem como sobre a etiologia potencial. O exame físico, incluindo eletrocardiograma, deve ser direcionado para descobrir o tipo, gravidade e causa do choque. Com dados de diagnóstico, a causa do choque geralmente pode ser determinada ou reduzida a algumas possibilidades, e a terapia subsequente pode ser adaptada adequadamente. Normalmente, realizamos o seguinte: ✓ Avaliação geral: A avaliação deve incluir uma história completa e avaliação do sensório, membranas mucosas, lábios e língua, veias do pescoço, pulmões, coração e abdômen, bem como pele e articulações. Hipotensão, oligúria, alterações do estado mental e pele fria e úmida são achados clínicos sentinela que devem levantar a suspeita de choque e tratamento imediato imediato com fluidos intravenosos e avaliação adicional com estudos laboratoriais e exames de imagem relevantes. ✓ Eletrocardiograma: Telemetria à beira do leito e/ou eletrocardiograma (ECG) devem ser realizados em pacientes com hipotensão indiferenciada e choque. O ECG pode revelar uma arritmia ou alterações do segmento ST consistentes com isquemia ou pericardite. Um ECG de baixa voltagem pode ser sugestivo de derrame pericárdico. Os sinais clássicos de embolia pulmonar (S1, Q3, T3) ou tensão ventricular direita também podem ser evidentes. ✓ Avaliação da etiologia: Uma avaliação abrangente da etiologia subjacente do choque deve ser realizada após a estabilização. Uma discussão mais detalhada da apresentação clínica e avaliação diagnóstica de URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES tipos específicos de choque é fornecida abaixo. ✓ Avaliação laboratorial: Os exames laboratoriais devem ser realizados precocemente na avaliação de pacientes com hipotensão/choque indiferenciados para identificar a causa do choque e/ou falência orgânica precoce.Um lactato sérico elevado (>2 mmol/L, dependendo do laboratório institucional normal) é um indicador precoce de choque e é particularmente útil naqueles que são normotensos ou hipertensos (ou seja, aqueles em que há menor probabilidade de suspeita de choque). LABORATÓRIO ◊ Nível de lactato sérico ▪ Níveis elevados de lactato em estados de choque são reflexo de má perfusão tecidual (acidose láctica tipo A) e são devidos ao aumento da produção do metabolismo anaeróbico, metabolismo aeróbico e diminuição da depuração pelo fígado, rins e músculo esquelético. No entanto, embora o lactato elevado seja uma ferramenta sensível para o diagnóstico de choque, ele não é específico e também pode ser encontrado em condições como toxicidade por metformina, cetoacidose diabética e alcoolismo (acidose lática tipo B). ▪ O lactato foi melhor estudado em pacientes com choque séptico em que níveis elevados > 2 mmol/L, e em particular aqueles > 4 mmol/L, estão associados a aumento da mortalidade independente de disfunção orgânica ou hipotensão.No entanto, estudos realizados em outras populações também sugerem que o lactato elevado está similarmente associado ao aumento da mortalidade. Detalhes sobre o papel do lactato na sepse são discutidos separadamente. ▪ Além disso, os níveis de lactato podem ser medidos em série para acompanhar a resposta às terapias. ◊ Testes de função renal e hepática ▪ Elevação de nitrogênio ureico no sangue (BUN), creatina e transaminases geralmente são devidos a danos em órgãos-alvo induzidos por choque (por exemplo, lesão renal aguda, choque hepático), mas também podem explicar a etiologia do choque (por exemplo, abscesso renal, hepatite aguda, cirrose crônica). Eletrólitos séricos e urinários, incluindo hipo ou hipernatremia, hipo ou hipercalemia, baixa concentração urinária de sódio ou excreção fracionada de sódio <1 por cento, podem indicar hipovolemia. ◊ Enzimas cardíacas e peptídeos natriuréticos: ▪ Níveis elevados de troponina-I ou -T, creatina fosfoquinase, peptídeo natriurético cerebral ou peptídeo natriurético cerebral N-terminal podem indicar choque cardiogênico por isquemia, mas também podem ser decorrentes de isquemia de demanda ou embolia pulmonar. ◊ Hemograma completo e diferencial: ▪ Um hematócrito alto pode sugerir hemoconcentração por hipovolemia. Anemia no contexto de sangramento suporta choque hemorrágico, e trombocitopenia concomitante pode sugerir uma etiologia para hemorragia. Uma contagem elevada de eosinófilos pode sugerir uma alergia para apoiar a anafilaxia. ▪ Embora uma leucocitose possa sugerir choque séptico, ela não é específica para o diagnóstico e pode indicar simplesmente uma resposta ao estresse. Uma contagem baixa de glóbulos brancos e especialmente uma bandemia são mais preocupantes para sepse no cenário de choque indiferenciado. Como exemplo, em um estudo observacional de 145 pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva com choque indiferenciado, a infecção foi significativamente mais comum entre aqueles com contagem de bandas superior a 10% do que entre aqueles com contagem de bandas mais baixa. ◊ Estudos de coagulação e nível de dímero D: ▪ Elevações no tempo de protrombina ou na razão normalizada internacional, bem como no tempo de tromboplastina parcial ativada, podem sugerir uma causa para choque hemorrágico subjacente, mas também são frequentemente elevados em URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES pacientes com sepse, síndrome da resposta inflamatória sistêmica devido à ativação inespecífica da cascata de coagulação e doença hepática. Evidência de coagulação intravascular disseminada (produtos de divisão de fibrina elevados e nível de dímero D com baixo nível de fibrinogênio) também pode ser encontrada em pacientes com choque grave. Níveis elevados de dímero D não são específicos para o diagnóstico de EP, mas, quando normais, podem reduzir significativamente a probabilidade de EP. ◊ Gasometria venosa (VBG) e gasometria arterial (GBA): ▪ Uma gasometria arterial deve ser realizada na maioria dos pacientes com choque indiferenciado se forem necessárias estimativas precisas de trocas gasosas e distúrbios ácido-base para ajudar no diagnóstico e tratamento (por exemplo, oximetria de pulso pode não ser confiável devido à má perfusão tecidual). Alternativamente, um VBG pode ser obtido em qualquer paciente que apresente pressão arterial instável e preocupação com choque. A vantagem de um VBG é que ele pode ser obtido quando os laboratórios iniciais são desenhados e fornecerá rapidamente dados extensos sobre o pH, CO 2 , bicarbonato, déficit de base e lactato sérico do paciente, particularmente quando a obtenção de um ABG é tardia. ▪ A hipoxemia pode ser devido a choque obstrutivo por embolia pulmonar, choque cardiogênico por infarto do miocárdio, choque séptico por pneumonia ou síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) resultante de choque. A hipocapnia compensatória pode ser observada naqueles com acidose metabólica. A hipercapnia pode ocorrer em pacientes com encefalopatia, lesão cerebral ou aumento da ventilação do espaço morto em pacientes com SDRA grave. A acidose metabólica pode ser decorrente de hiperlactatemia, lesão renal aguda ou ingestão de toxina. Além disso, pode ocorrer acidose respiratória naqueles obnubilados por choque terminal. ▪ Exames laboratoriais adicionais incluem aqueles direcionados a etiologias específicas ou sequelas de choque. Como exemplos, uma triagem toxicológica pode ser útil naqueles com suspeita de choque por intoxicação medicamentosa, um tipo e prova cruzada devem ser obtidos naqueles com hemorragia, e uma amilase e lipase devem ser obtidos naqueles com suspeita de pancreatite. Urinálise e coloração de Gram de material de locais de possível infecção (por exemplo, sangue, escarro, urina, feridas) ou organismos conhecidos de culturas anteriores (por exemplo, Pseudomonasna urina, clostridium difficile nas fezes) pode fornecer uma pista de suporte para uma possível fonte de sepse. Os níveis de triptase e histamina são úteis naqueles com suspeita de anafilaxia. Eletrólitos urinários (sódio e creatina) devem ser obtidos naqueles com hipovolemia. Um esfregaço periférico pode ser útil naqueles com suspeita de malária, e os níveis de fibrinogênio e produtos de degradação da fibrina podem ser úteis naqueles com suspeita de coagulação intravascular disseminada. Um nível de cortisol ou teste de estimulação com corticotrofina pode ser útil em pacientes com suspeita de crise adrenal, e testes de função tireoidiana podem identificar aqueles com suspeita de coma mixedema. IMAGEM ◊ Realizamos o seguinte em pacientes com choque indiferenciado e hipotensão ◊ Radiografia de tórax: ▪ Uma radiografia de tórax portátil é normalmente realizada na maioria dos pacientes com suspeita de choque para detectar causas comuns (por exemplo, pneumonia) ou complicações do choque (por exemplo, SDRA). Uma radiografia de tórax pode ser clara em choque hipovolêmico ou choque obstrutivo de EP. Alternativamente, pode demonstrar pneumonia, pneumotórax, edema pulmonar ou mediastino alargado para apoiar uma etiologia para choque séptico, choque obstrutivo, choque cardiogênico ou dissecção aórtica, respectivamente. A URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES radiografia de tórax também pode revelar ar livre sob o diafragma para sugerir perfuração de víscera, o que deve levar à consulta cirúrgica de emergência e exames adicionais, geralmente tomografia computadorizada (TC) do abdome e da pelve se o paciente estiver estável, ou laparotomia imediata se o paciente estiver instável . ◊ Outros exames de imagem direcionados à etiologia do choque: ▪ Outros exames de imagem devem ser direcionados à etiologia do choque. Estes incluem radiografia abdominal (obstrução intestinal, perfuração), TC da cabeça (traumatismo cranioencefálico, acidente vascular cerebral), coluna (lesão medular), tórax (pneumonia, pneumotórax, ruptura de aneurisma, dissecção), abdome e pelve (obstrução intestinal, perfuração, abscesso) e artéria pulmonar (embolia pulmonar), bem como exames de sangramento nuclear (hemorragia gastrointestinal). ◊ Ultrassonografia point-of-care (POC): As indicações e o valor da ultrassonografia POC são discutidos na seção abaixo ◊ Ultrassonografia no local de atendimento: algoritmos de ultrassonografia POC, incluindo ultrassom rápido em choque (RUSH), ultrassom cardíaco focado (FOCUS) ou avaliação abdominal e cardíaca com ultrassonografia em choque (ACES), são mais frequentemente usados como ferramentas portáteis de diagnóstico à beira do leito em pacientes com choque indiferenciado e hipotensão. Quando disponível, a ultrassonografia POC é normalmente usada em pacientes nos quais um diagnóstico empírico não foi alcançado com avaliação clínica e laboratorial ou naqueles para os quais a imagem definitiva não é segura, e como uma ferramentacomplementar para examinar a capacidade de resposta a fluidos. Embora a ultrassonografia POC não seja definitivamente diagnóstica, acreditamos que, quando realizada por pessoal treinado como uma ferramenta de diagnóstico sensível ao tempo em pacientes críticos com choque indiferenciado ou hipotensão, informações valiosas podem ser obtidas que podem salvar vidas. ▪ A ultrassonografia multiorgânica (RUSH, ACES) examina primeiro o coração, seguida pela ultrassonografia do tórax e abdome e dos principais vasos sanguíneos; O ultrassom cardíaco focalizado (FOCUS) examina apenas o coração. As vistas técnicas empregadas para ultrassonografia POC em pacientes com choque indiferenciado são semelhantes àquelas usadas em pacientes com trauma (avaliação focada com ultrassonografia para trauma [FAST]), cujos detalhes são discutidos separadamente. ▪ Se a ultrassonografia POC não for diagnóstica ou estiver indisponível, modalidades de imagem definitivas devem ser usadas quando possível, das quais a ecocardiografia abrangente é a mais útil. Da mesma forma, no caso de ressuscitação bem-sucedida do choque, testes de acompanhamento com imagem padrão também são prudentes para confirmar o diagnóstico obtido por ultrassonografia rápida à beira do leito. ◊ Cateterismo da artéria pulmonar: ▪ O cateterismo arterial pulmonar (PAC) nunca demonstrou melhorar os resultados importantes para o paciente, de modo que a inserção rotineira de cateteres Swan- Ganz caiu em desuso. No entanto, quando o diagnóstico ou o tipo de choque permanece indeterminado ou misto, as medidas hemodinâmicas obtidas pelo CAP podem ser úteis. Pacientes adicionais que podem se beneficiar de PAC são aqueles com volume desconhecido apesar da ressuscitação volêmica adequada, aqueles com choque cardiogênico grave. ▪ Os principais índices hemodinâmicos medidos no CAP são débito cardíaco (isto é, índice cardíaco), resistência vascular sistêmica, pressão de oclusão da artéria pulmonar (isto é, pressão capilar pulmonar), pressão atrial direita e saturação venosa mista da oxihemoglobina (SvO 2 ). Essas medidas são mais úteis no diagnóstico, mas também podem ser usadas para orientar a ressuscitação volêmica, titular vasopressores e avaliar os URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES efeitos hemodinâmicos das mudanças nas configurações do ventilador mecânico. Valores hemodinâmicos normais e valores consistentes com as várias classes de choque estão listados nas tabelas. A técnica de inserção, indicações e complicações do CAP, bem como a interpretação dos traçados do CAP, são discutidas separadamente. SUPORTE HEMODINÂMICO ◊ Como o choque pode estar presente quando os pacientes estão hipotensos, hipertensos ou normotensos, o limiar preciso que justifica o suporte hemodinâmico é desconhecido. Em geral, aqueles com suspeita de choque hipotensos e/ou com evidência clínica ou laboratorial de hipoperfusão (p. por vasopressores, caso as FIVs não consigam restaurar a perfusão tecidual adequada; a exceção é o choque hipovolêmico, onde mais fluidos são preferidos. Embora a pressão ideal de perfusão de órgãos-alvo não seja clara, em geral, sugerimos manter a pressão arterial média acima de 65 a 70 mmHg, uma vez que alvos mais altos (por exemplo, >40 ]. ◊ Fluidos intravenosos (FIVs): ▪ São agentes de primeira linha no tratamento de pacientes com hipotensão indiferenciada e choque. Preferimos administrar FIVs em bolus bem definidos (por exemplo, 500 a 1.000 mL) que podem ser repetidos até que a pressão arterial e a perfusão tecidual sejam aceitáveis, ocorra edema pulmonar ou hipertensão intra- abdominal ou o fluido não aumente a perfusão. ▪ O volume total infundido é determinado pela etiologia do choque. Como exemplo, pacientes com choque obstrutivo por embolia pulmonar ou choque cardiogênico por infarto do miocárdio de VE geralmente necessitam de pequenos volumes de FIV (500 a 1.000 mL), enquanto aqueles com infarto do VD ou sepse geralmente precisam de 2 a 5 L, e aqueles com choque hemorrágico frequentemente requerem volumes >3 a 5 L (muitas vezes incluindo hemoderivados). A administração de terapia diurética deve ser evitada em pacientes hipotensos com edema pulmonar até que a necessidade de suporte hemodinâmico tenha sido eliminada. ▪ A escolha ideal de fluido é desconhecida. Entretanto, extrapolando de pacientes com choque séptico, a maioria dos pacientes é tratada com cristaloides ( p . Recomendamos evitar a administração de pentasamido ou hidroxietilamido porque estudos randomizados de pacientes com choque identificaram danos potenciais de seu uso, cujos detalhes são discutidos separadamente. ◊ Vasopressores: ▪ Os vasopressores são frequentemente necessários no tratamento de pacientes com choque suspeito/indiferenciado para restaurar a perfusão tecidual adequada. É importante ressaltar que o uso de vasopressores em pacientes com choque hemorrágico ou hipovolêmico pode ser prejudicial, de modo que os vasopressores só devem ser usados como forma adicional de suporte hemodinâmico quando a ressuscitação agressiva não conseguiu restaurar a perfusão tecidual adequada ou como último recurso para pacientes em extremo. ▪ O vasopressor inicial ideal é desconhecido, assim como a pressão arterial média alvo ideal. No entanto, entre os agentes disponíveis, preferimos o seguinte: ▪ Agonistas adrenérgicos – Norepinefrina (Levofed; dosagem inicial de 8 a 12 mcg/minuto por via intravenosa) é o agente mais comumente usado nessa população. A fenilefrina (neo-sinefrina; dosagem inicial de 100 a 200 mcg/minuto por via intravenosa) é usada quando as taquiarritmias impedem o uso de agentes com atividade beta-adrenérgica excessiva (por exemplo, norepinefrina, dopamina ). ▪ Agentes inotrópicos – A dobutamina (dose inicial de 0,5 a 1 mcg/kg/minuto, mas frequentemente 2,5 mcg/kg/minuto quando a descompensação cardíaca é grave) é o agente inotrópico mais utilizado em pacientes com choque cardiogênico. A dobutamina é frequentemente https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-and-initial-approach-to-the-adult-patient-with-undifferentiated-hypotension-and-shock/abstract/40 https://www.uptodate.com/contents/sodium-chloride-preparations-saline-and-oral-salt-tablets-drug-information?search=TRATAMENTO+CHOQUE&topicRef=98976&source=see_link URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES administrada em conjunto com a norepinefrina para compensar a queda na resistência vascular periférica que ocorre quando baixas doses de dobutamina são usadas. ▪ O suporte vasopressor deve ser titulado de acordo com a resposta (ou seja, índices de perfusão tecidual, incluindo pressão arterial, débito urinário, estado mental e cor da pele) e efeitos colaterais limitantes (por exemplo, taquicardia). Em geral, as metas de pressão arterial média são direcionadas para 65 ou mais, reconhecendo a importância de individualizar o cuidado. Embora o direcionamento de pressões arteriais médias mais altas tenha resultado em aumento da arritmia em pacientes com hipertensão crônica, essa complicação foi compensada pela redução da necessidade de terapia de substituição renal. Detalhes adicionais sobre o uso e dosagem de vasopressores são discutidos separadamente. DIAGNÓSTICO Um diagnóstico de choque é baseado em uma constelação de características clínicas, bioquímicas e hemodinâmicas. A maioria dos pacientes apresenta hipotensão e/ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual (por exemplo, pele fria, úmida e mosqueada; oligúria [<0,5 mL/kg/hora]; estado mental alterado) e hiperlactatemia (>1,5 mmol/L). Imagens não invasivas e/ou índices hemodinâmicos de baixo débito cardíaco, resistência vascular sistêmica e/ou saturação de oxiemoglobina venosa mista não são diagnósticos, mas ajudam a classificar o choque em uma ou mais das quatro classes principais (distributivo, cardiogênico, hipovolêmico, obstrutivo).É importante ressaltar que o diagnóstico depende da suspeita clínica de choque. Deve-se sempre suspeitar de choque naqueles com hipotensão e hiperlactatemia, particularmente naqueles com fatores de risco para formas específicas de choque. Além disso, deve-se suspeitar naqueles que apresentam pressão arterial normal que apresentam sinais de taquicardia compensatória e/ou vasoconstrição periférica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Cada classe de choque (distributivo, cardiogênico, hipovolêmico, obstrutivo) é diferenciada da outra por uma coleção de características clínicas apoiadas por achados laboratoriais, de imagem e hemodinâmicos, que são discutidos nas seções abaixo. CHOQUE DISTRIBUTIVO ◊ Manifestações clínicas gerais: ▪ Os pacientes que apresentam choque distributivo geralmente apresentam hipotensão sem os sinais clínicos e hemodinâmicos de pré-carga reduzida (por exemplo, turgor cutâneo normal, membranas mucosas úmidas, veia cava inferior [VCI] normal na imagem) ou sobrecarga de fluidos (por exemplo, ausência de edema ou veias do pescoço distendidas, pressão venosa central normal [PVC] [8 a 12 mmHg] e saturação venosa mista de oxihemoglobina [SvO 2 ] >70 por cento medida no cateterismo venoso central]). Um ventrículo esquerdo preservado ou hiperdinâmico é tipicamente observado na ecocardiografia. ◊ Manifestações etiológicas: ▪ As características clínicas que distinguem uma causa de choque distributivo da outra dependem da etiologia. Como exemplo, os pacientes podem apresentar hipotensão associada às manifestações clínicas de pneumonia (choque séptico), traumatismo craniano ou espinhal (choque neurogênico), anafilaxia (choque anafilático), história de exposição a toxina (choque tóxico), abstinência de esteroides. crise adrenal) ou hipotireoidismo (coma mixedema). ◊ Achados do cateterismo da artéria : ▪ Fisiologicamente, no cateterismo da artéria pulmonar (PAC), o choque distributivo é primariamente diferenciado de outras formas de choque com base na baixa resistência vascular sistêmica (RVS) (<900 dines por segundo/cm 5 ) e normal ou alta débito cardíaco (DC) (índice cardíaco [IC] >4,2 L/min/m 2 ). A pressão URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES capilar pulmonar (pcwp) é tipicamente normal ou baixa (<15 mmHg). SvO 2 é tipicamente > 65 por cento e elevações na saturação venosa central mista (hiperóxia ≥ 90 por cento) está associada a piores resultados. CHOQUE CARDIOGÊNICO ◊ Manifestações clínicas gerais: ▪ Pacientes com choque cardiogênico geralmente apresentam hipotensão em associação com manifestações clínicas e radiológicas de edema pulmonar (por exemplo, crepitações pulmonares difusas, veias cervicais distendidas), PVC elevado (>12 mmHg) e SvO 2 baixa (<70 por cento) na monitorização hemodinâmica de um cateter de triplo lúmen, grande(s) ventrículo(s) dilatado(s) e má função do ventrículo esquerdo, ou anormalidades valvulares ou septais no ecocardiograma. ◊ Manifestações etiológicas: ▪ A distinção das etiologias do choque cardiogênico depende da causa. Pacientes com choque cardiogênico por infarto do miocárdio (IM) podem ter dor torácica subesternal esmagadora, dispnéia aguda com isoenzimas cardíacas elevadas e achados eletrocardiográficos (ECG) de IM. O choque cardiogênico por arritmias pode ter início súbito com palpitações ou síncope e pode ser evidente na telemetria ou no ECG. Uma válvula rompida ou um defeito septal podem apresentar manifestações de edema agudo de pulmão e um novo sopro no cenário de um IAM recente. Pacientes com miocardite podem apresentar dor torácica pleurítica e atrito pericárdico. ◊ Achados do cateterismo da artéria pulmonar: ▪ No PAC, tipicamente, uma pcwp alta (>15 mmHg) distingue o choque cardiogênico de outras formas de choque, particularmente no cenário de DC baixo (IC <2,8 L/min/m 2 ) e uma alta SVR (>1400 dines por segundo/cm 5 ). Os traçados de PAC também podem ser úteis no diagnóstico de certos defeitos valvares (por exemplo, ondas V grandes de insuficiência grave da valva tricúspide). SvO 2 é tipicamente <65 por cento. CHOQUE HIPOVOLÊMICO ◊ Manifestações clínicas gerais: ▪ O choque hipovolêmico pode ser diferenciado de outros tipos de choque pela presença característica de pré-carga reduzida no contexto de uma causa suspeita ou conhecida. Assim, pacientes com hipovolemia podem apresentar sinais de turgor cutâneo reduzido, mucosas ressecadas, VCI colapsável na imagem e PVC baixa (<8 mmHg) na monitorização hemodinâmica através de um cateter de triplo lúmen. ◊ Manifestações etiológicas: ▪ Pacientes com choque hipovolêmico podem apresentar-se de forma variável, dependendo da etiologia da perda hídrica. Como exemplos, os pacientes podem apresentar história de exposição ao calor, vômitos, diarreia, hematêmese, hematoquezia, hemorragia traumática ou dor nas costas por um aneurisma de aorta abdominal rompido. ◊ Achados de cateterismo de artéria pulmonar: os achados de PAC são variáveis dependendo do grau de hipovolemia. Inicialmente, o DC é normal (IC 2,8 a 4,2 L/min/m 2 ), a RVS é alta (>1400 dines por segundo/cm 5 ) e a pcwp está preservada (6 a 15 mmHg). No entanto, com o aumento da gravidade, tanto o CO quanto o pcwp podem ser reduzidos. CHOQUE OBSTRUTIVO ◊ Manifestações clínicas gerais: ▪ Pacientes com choque obstrutivo geralmente apresentam hipotensão associada a veias cervicais distendidas, mas geralmente sem sinais clínicos de sobrecarga hídrica ou pré-carga reduzida. As exceções são os pacientes com tamponamento cardíaco subagudo que frequentemente apresentam evidências de sobrecarga hídrica ao exame. Na ultrassonografia ou ecocardiografia à beira do leito, pode-se observar derrame com pequenos ventrículos direito e esquerdo e VCI dilatada em pacientes com tamponamento pericárdico; um ventrículo direito dilatado e ventrículo esquerdo pequeno podem ser vistos em pacientes com EP ou pneumotórax. URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES ◊ Manifestações etiológicas: ▪ Dependendo da causa do choque obstrutivo, os pacientes podem apresentar dor torácica pleurítica e dispneia aguda (por embolia pulmonar [EP]), dispneia crônica e componente pulmonar alto da segunda bulha (hipertensão pulmonar), dor torácica, desvio traqueal, murmúrios vesiculares reduzidos unilaterais e pressões de platô elevadas na ventilação mecânica (pneumotórax hipertensivo) ou bulhas cardíacas silenciosas, pulso paradoxal e veias cervicais distendidas (tamponamento cardíaco). ◊ Achados do cateterismo da artéria pulmonar: No PAC, o DC é inicialmente normal (IC 2,8 a 4,2 L/min/m 2 ) e diminui à medida que a gravidade progride, a RVS é aumentada (> 1400 dines por segundo/cm 5 ) e pcwp é normal (6 para 15 mmHg) ou reduzido. Tamponamento cardíaco, doença pericárdica constritiva e cardiomiopatia restritiva apresentam-se de forma semelhante ao choque cardiogênico, mas se distinguem deste último pela equalização das pressões atrial direita, diastólica final do ventrículo direito e em cunha da artéria pulmonar. COMBINADO ◊ É importante ressaltar que muitas formas de choque coexistem. Como exemplo, a hipovolemia pode induzir ou coexistir com choque cardiogênico e pode resultar em características clínicas, bioquímicas, de imagem e hemodinâmicas discordantes (por exemplo, baixa fração de ejeção com membranas mucosas secas e VCI colapsável). Nesses casos, seguir a resposta a terapias empíricas direcionadas às causas suspeitas de choque pode permitir que o clínico determine qual forma de choque é predominante. ◊ A combinação de bradicardia, insuficiência renal, bloqueio nodal AV, choque e hipercalemia pode sugerir síndrome BRASH URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES TABELA 1URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES VASOPRESSORES URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES URGÊNCIA E EMEGÊNCIA – LARISSA MENEZES
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