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ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 1 INSPEÇÃO DE ARMADURAS EXPOSTAS COM LEITURAS DE POTENCIAL DE CORROSÃO Inspection of Exposed Steel with Potential Corrosion Readings Alexandre Silveira Negredo(1); Ana Caroline Azevedo(2); Matheus Leoni Martins Nascimento(3); Dyaloisio Araujo Fonteles(4); Nielsen Alves(5); Jorge Cunha(6); (1) Graduando, Universidade Católica de Brasília - UCB (2) Graduanda, Universidade Católica de Brasília - UCB (3) Mestrando, Universidade de Brasília – UNB (4) Mestrando, Universidade de Brasília – UNB (5) Professor, Mestre, Universidade Católica de Brasília – UCB (6) Professor, Doutor, Universidade Católica de Brasília - UCB alexandrenegredo@gmail.com Resumo Apesar das conquistas alcançadas na construção civil com a descoberta e o desenvolvimento do concreto armado, estudos indicam que a deterioração da barra de aço presente nas estruturas são a causa principal da diminuição da vida útil de uma estrutura de concreto armado. Porém, devido ao alto custo dos equipamentos presentes no mercado, o monitoramento das estruturas é preterido pelas construtoras ou condomínios de edificações mais antigas. Diante desse pressuposto, este trabalho tem como objetivo viabilizar o processo de monitoramento de corrosão nas obras e edificações antigas para que seja possível preveni-lo e intervir antes que a estrutura perca a durabilidade especificada em projeto ou vá à ruína. Portanto, o intuito dessa pesquisa foi utilizar um equipamento barato e acessível às construtoras e consultores. Para isso, utilizou-se a norma ASTM 876:1999 para a confecção de um potencial de eletrodo capaz de fazer leituras de potencial através da teoria eletroquímica. Hoje em dia, vários estudos e inspeções de corrosão são feitos através desse método, principalmente nos Estados Unidos e Europa, mas, no Brasil, em razão dos altos custos de importação desses equipamentos, o país ainda está muito aquém de conhecer o estado real de suas estruturas. Palavra-Chave: Potencial de Corrosão. Ensaio não Destrutível. Corrosão de Armaduras. Abstract Despite the achievements in construction with the discovery and development of reinforced concrete, studies indicate that the deterioration of the steel bar in the present structures are the main cause of reduced life of a reinforced concrete structure. However, due to the high cost of equipment present on the market, monitoring of structures is ignored by construction or oldest buildings condos. Given this assumption, this research aims to facilitate the process of monitoring corrosion in the works and old buildings so that can prevent it and intervene before the structure miss the durability specified in project or go to ruin. Therefore, the aim of this research was to use a cheap and affordable equipment to contractors and consultants. For this, it was used the ASTM 876: 1999 for making an electrode potential able to make potential readings by electrochemical theory. Today, various studies and corrosion inspections are made by this method, especially in the United States and Europe, but in Brazil, due to the high import costs of such equipment, the country is still far from knowing the real state of their structures. Keywords: Corrosion Potential. Non Destructive Testing. Reinforcement Corrosionl. ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 2 1 Introdução 1.1 Justificativa e Importância do Tema A deterioração das estruturas é um problema congênito e é decorrente de vários fatores, como o meio em que está inserida, materiais, mão-de-obra empregada, dentre outros. De modo geral, a percepção visual das manifestações patológicas ocorre após as mudanças na estrutura interna dos materiais (no caso, o concreto), sinalizando a ocorrência de alguma anomalia na estrutura (ROCHA, 2012). Quando essas estruturas contêm metais embutidos, tais como eletrodutos, tubulações e armaduras (armado e protendido), a deterioração é atribuída, geralmente, ao efeito combinado de mais do que uma única causa; entretanto, a corrosão do metal embutido, invariavelmente, é uma das principais (METHA & MONTEIRO, 2008). Acabou-se por encontrar na barra de aço que está inserida na estrutura de concreto armado, a principal causa de diminuição da vida útil das estruturas. A degradação da barra de aço é ainda um problema sem solução definitiva, mas tem motivado muitos estudos do comportamento de todos os meios que interagem com o sistema. (SILVA, 2006). Como consequência desses estudos, tornou-se indiscutível a importância de se utilizar métodos eficazes de detecção de corrosão ativa nessas estruturas, para que seja possível reduzir os custos de uma provável restauração e intervir a tempo de evitar um possível sinistro. Estatísticas já comprovaram que a maior causa de edifícios que vão à ruína são oriundos de corrosões em suas armaduras (METHA & MONTEIRO, 2008). Por esse motivo, prevenir a deterioração das estruturas de concreto armado se tornou um dos objetos de estudo mais pesquisados na comunidade acadêmica voltada para a construção civil. Para tal, a utilização de métodos não destrutivos e confiáveis são de grande valia para o desenvolvimento desse setor. Em países com maior volume de pesquisa em degradação de metais, muitos são os avanços em termos de prevenção, monitoramento, intervenção e reparo de estruturas. No Brasil, o aprimoramento de técnicas no setor vem se desenvolvendo à medida que os problemas do campo chegam ao meio técnico e científico. Em vista disso, uma técnica estrangeira acessível e eficaz capaz de detectar faixas de corrosões motivou a criação desse trabalho. O alto custo de equipamentos sofisticados e a dificuldade de acesso aos mesmos no mercado brasileiro corroboram com a cultura de negligência frente ao estado de integridade das armaduras contidas nas estruturas. Com o escopo de alterar essa fase inicial de um processo oneroso às construtoras, esse trabalho trouxe uma ideia simples e econômica para a detecção e a rápida intervenção nas estruturas com armaduras danificadas. ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 3 1.2 Hipótese de Pesquisa Em linhas gerais, tem-se a correlação do potencial de corrosão nas armaduras com a probabilidade do surgimento e da ocorrência da corrosão nas mesmas. O ensaio não destrutivo envolve aparelhagem de simples manuseio (multímetro de alta impedância acoplado a um eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre), mas exige experiência do operador quanto à interpretação dos resultados. A norma ASTM C-876 (2009) estabelece faixas de variação do potencial determinadas de maneira semi direta nas estruturas (ROCHA, 2012). O registro do potencial de corrosão das armaduras de concreto é apontado por (MONTEIRO, 2012) como uma técnica limitada, pois só dá informações termodinâmicas do processo de corrosão. Mas ele cita, ainda, que quando se alia as leituras com o pH do meio, tem-se uma ideia qualitativa da corrosão através do diagrama de Pourbaix, indicando riscos graves no estado ativo e garantias de durabilidade suficientes no estado passivo, ou das condições de umidade. (ROCHA, 2012) observou-se também que as leituras se comportam de forma semelhante sob determinadas condições, impostas principalmente pelas variações de temperatura, diferentes espessuras de cobrimento do concreto, contaminação por cloretos, relação água/cimento e teor de umidade do concreto. Diante desses pressupostos, o presente trabalho se baseia nos seguintes objetivos. 1.3 Objetivo da Pesquisa 1.3.1 Objetivo Geral Promover o entendimento e contribuir para a difusão de inspeções de corrosão em armaduras com o uso de um equipamento barato e acessível no mercado brasileiro. 1.3.2 Objetivos Específicos Utilizar a norma americana ASTM C876 (2009) para produzir um aparelhocapaz de fazer leituras de potencial de corrosão. Fazer leituras de potenciais de corrosão nas armaduras estudadas. Fazer mapeamento de equipotenciais diante das leituras de potencial de corrosão. Determinar o pH do meio em que as leituras são feitas. A partir do pH, elaborar o Diagrama de Pourbaix para dar um maior suporte às análises de corrosão. Especificar se há ou não a necessidade de intervir na estrutura com algum reparo ou se a estrutura precisa apenas de monitoramento periódico. ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 4 2 Material e Métodos 2.1 Local da Pesquisa O início dos ensaios se deu na antiga Rodoferroviária de Brasília (Figura 1). Planejada pelo arquiteto Lúcio Costa em 1956, ela só começou a ser construída nos anos 70, portanto é um local que apresenta estruturas com idades elevadas. O local foi escolhido pela grande quantidade de armaduras expostas e já em estado de corrosão, devido principalmente à falta de manutenção, o que possibilitou realizar o ensaio em uma série de locais com e sem corrosões e, em seguida, gerar um relatório comparativo do desempenho do aparelho em todos os ensaios. Figura 1 – Antiga Rodoferroviária de Brasília, localizada na EPIA. Além do local em que foi realizado o ensaio e o macroclima da região, outros fatores, não menos importantes, podem interferir nas leituras de potencial. O microclima do local e algumas condições impostas nos dias dos ensaios são relevantes e suas características são apresentadas em cada relatório (umidade relativa no dia do ensaio, solução de contato elétrico, temperatura ambiente, tipo de concreto, cobrimento e relação água/cimento, entre outros). ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 5 2.2 Instrumentos Utilizados Para realizar as leituras de potencial de corrosão é comum usar um eletrodo de referência cobre/sulfato de cobre, contido em um tubo de plástico, de vidro ou em qualquer outro recipiente de material inerte, em que seu interior é formado por uma haste de cobre imersa em uma solução aquosa saturada de sulfato de cobre. Para garantir a saturação da solução aquosa é interessante usar sempre uma quantidade de sulfato de cobre suficiente para causar o acúmulo deste composto no fundo da solução. A extremidade de contato do eletrodo é formada por uma ponta porosa para proporcionar a continuidade elétrica do eletrodo de referência com o eletrodo de trabalho (sistema aço/concreto). Na pesquisa, o material poroso utilizado foi a madeira. A Figura 2 mostra um esquema de um eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre. Figura 2 – Modelo Esquemático do Eletrodo de Referência utilizado (GENTIL, 2003). O método consiste em medir a diferença de potencial elétrico entre o aço da peça de concreto armado em análise e um eletrodo de referência, capaz de manter seu potencial elétrico estável (ROCHA, 2012). A Figura 3 mostra a configuração da aparelhagem necessária ilustrando o eletrodo de referência sendo apoiado imediatamente sobre a superfície de concreto que cobre a armadura, o voltímetro de alta impedância e a conexão elétrica com a barra de aço, imprescindível para a realização das leituras. Cascudo (1991) afirma que ao conectar o eletrodo de referência e o eletrodo de trabalho (barra de aço do concreto) surge um fluxo de elétrons da armadura em direção ao eletrodo de referência, mais nobre e com potencial mais positivo, passando pelo voltímetro de alta impedância e ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 6 indicando a intensidade da diferença de potencial de eletrodo entre as semi pilhas (eletrodo de referência e eletrodo de trabalho). Para o fechamento do circuito é necessário uma interface condutiva entre o eletrodo de referência e o eletrodo de trabalho e isso é feito usando uma esponja saturada colocada no contato elétrico entre o eletrodo de referência e a superfície do concreto. Todo esse processo é baseado em teorias eletroquímicas, que em geral são as principais no estudo da corrosão. Figura 3 – Aparelhagem do eletrodo de referência conectado com a estrutura (ASTM, 1999). Segundo Medeiros, Balbinot e Helene (2010), o potencial de corrosão identifica os locais da peça em estudo onde as condições termodinâmicas são favoráveis ao início do processo de corrosão, ainda que a armadura não apresente sinais na superfície de concreto que o envolve. Pode-se tomar tal conclusão, então, como uma boa definição do Potencial de Corrosão. 3 Resultados e Discussão Para um melhor entendimento dos resultados e comercialização desses ensaios, foi feito uma síntese de cada resultado em forma de um relatório contendo os valores dos potenciais medidos nos ensaios, um gráfico com essas leituras indicando o valor médio de potencial, mediana e desvio padrão. Além disso, características do local ensaiado ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 7 como tipo de concreto, cobrimento, relação água/cimento, temperatura ambiente, umidade e a área a ser ensaiada constituem o relatório. Com a análise do primeiro ensaio, já foi possível constatar a boa precisão do equipamento e reconhecer alguns cuidados que precisam ser tomados, que serão discutidos mais a frente. Ao interpretar o relatório, então, conclui-se que, diante das 30 leituras, o potencial médio obtido foi -0,420V (quatrocentos e vinte milivolts negativos), com 89% das leituras na faixa de corrosão ativa de acordo com a ASTM C876. Na segunda página do relatório, o mapeamento mostrou na área estudada (100cm x 150cm) que a faixa que apresentou maior grau de corrosão foi o lado direito da estrutura, justamente onde podemos verificar as armaduras expostas que já desplacaram parte do pilar referente ao cobrimento da armadura Figura 4 e Figura 5. Figura 4 – Área Ensaiada (100cm x 150cm) Figura 5 – Execução das Leituras de Potencial ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 8 Figura 6 – Modelo do Relatório de Ensaio Página 1 ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 9 Figura 7 – Modelo do Relatório de Ensaio Página 2 ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 10 O relatório é concluído com um breve resumo das faixas de risco de corrosão estabelecidos por norma e a anuência de um responsável técnico para a validação do ensaio. Outros ensaios comparativos em regiões não afetadas pela corrosão foram realizados, e estão apresentados a seguir: Figura 8 – Modelo do Relatório de Ensaio Página 1 ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 11 Figura 9 – Modelo do Relatório de Ensaio Página 2 ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 12 4 Conclusões e Recomendações A inspeção predial com leituras de potencial de corrosão se mostrou eficiente para detecção da corrosão em estruturas de concreto armado, mas requer uma certa experiência com a utilização do aparelho e a interpretação dos dados devido aos fatores que interferem nas leituras. Com base no estudado, pode-se fazer um estudo do grau de influência dos fatores externos nas medidas de potencial. Fatores, como por exemplo, temperatura ambiente, umidade, relação água/cimento, cobrimento da armadura e as diferentes classes de agressividade do concreto, bem como outras variações presentes na NBR 6118:2013. O estudo do monitoramento contínuo das estruturas também pode revelar informações importantes, uma vez que o emprego do método não destrutível pode ocorrer ao longo da vida útil da estrutura. ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 13 5 Referências Bibliográficas ASTM C876-91(1999), “Standard Test Method for Half-Cell Potentials of UncoatedReinforcing Steel in Concrete”, (Método de Ensaio para Potenciais de Meia-Célula de Armaduras Expostas em Concreto), ASTM International. United States, 1999. CASCUDO, O. M. Contribuição ao estudo e emprego de técnicas eletroquímicas no controle da corrosão de armaduras de concreto armado. Dissertação de mestrado em Engenharia Civil. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), 1991. GENTIL, V. Corrosão. Rio de Janeiro, Editora LTC, 2003. MEDEIROS, M.H.F.; BALBINOT, G. B.; HELENE, P. Inspeção em prédios no Rio de Janeiro: corrosão em pilares. Concreto & Construções. n. 57, p. 58-66, 2010. METHA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. L. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais. São Paulo: IBRACON, 2008. MONTEIRO, E. C. B. Avaliação do Método de Extração Eletroquímica de Cloretos para Reabilitação de Estruturas de Concreto com Problemas de Corrosão de Armaduras, Tese (Doutorado), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. ROCHA, F. C. Leituras de potencial de corrosão em estruturas de concreto armado: influência da relação água/cimento, da temperatura, da contaminação por cloretos, da espessura de cobrimento e do teor de umidade do concreto. UFPR, Curitiba, 2012. SILVA, Djalma Ribeiro. “Estudo de inibidores de corrosão em concreto armado, visando a melhoria na sua durabilidade”. Tese (Doutorado em Ciências e Engenharia de Materiais), UFRN, Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais. 2006. Portal Estações Rodoviárias do Brasil. Disponível em: <www.estacoesferroviarias.com.br/efgoiaz/brasilia> Acesso em 24 de maio de 2015.
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