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PARASITOLOGIA HUMANA – UNIDADE II Schistosoma sp. Gênero que compreende uma série de parasitas intravasculares de região intestinal (Schistosoma guineensis, S. intercalatum, S. mansoni, S. japonicum e S. mekongi) e urogenital (S. Haematobium). Schistosoma mansoni: Agente etiológico da Esquistossomose mansônica; Popularmente conhecida: “barriga d’água”, “xistose” ou “doença do caramujo”; Tem forte relação com condições econômicas e sanitárias. Segundo a OMS, afeta 240 milhões de pessoas no mundo e 700 milhões vivem sob risco de contrair. Entre a população afetada está a do estado da Bahia, especialmente na região da Chapada Diamantina, onde há a presença do hospedeiro intermediário, algumas espécies de caramujos e também a presença intensa de cursos d'água, fatores essenciais para a manutenção do ciclo evolutivo disse que parasita. Esquistossomose na Bahia Considerando os dados epidemiológicos da Esquistossomose na Bahia, verifica-se que dos 417 Fatores associados municípios: 167 (40%) são endêmicos e 122 (29,3%) são focais, ou seja 70% dos municípios são de regiões onde a presença da infecção é constante e a população está sob maior risco de contrair a infecção; e outros 128 (30.7%) municípios são classificados como indenes, ou seja, regiões onde a infecção não é importante, não está presente de forma constante, mas que a vigilância se mantém ativa devido a possibilidade de expansão da doença por outros territórios da Bahia. Em 2018 foram notificados 316 casos suspeitos em 98 municípios da Bahia e embora possa parecer um número baixo de infecções considerando o tamanho do território, é preciso avaliar que como é uma doença fortemente relacionado ao saneamento básico e condições de qualidade de vida, 316 casos é considerado um número alto. Fatores associados - Presença de cursos d'água - presença do hospedeiro intermediário Ambos os fatores contribuirão para a continuidade do ciclo nesse ambiente, para a transferência do parasita entre os hospedeiros intermediários e definitivos e para evolução do parasita no ambiente. Outros fatores relacionados a evolução e transmissão dessas formas parasitárias são: - Luminosidade - Temperatura - Pluviosidade Fatores que contribuirão com o descarte de material fecal contendo ovos dos parasitas no ambiente, próximo aos cursos d’água - Carência de saneamento básico e educação sanitária Taxonomia do Schistosoma sp. (Helmintos) Compreende espécies classificadas: Reino Animalia Sub-Reino Metazoa Filo Platyhelminthes - animais de corpo geralmente achatados Classe Trematoda – parasitas capazes de infectar hospedeiros vertebrados e invertebrados Sub-Classe Digenea – parasitas que apresentam ciclo heteroxeno, ou seja, parte de seu ciclo ocorre no hospedeiro intermediário e parte no hospedeiro definitivo. Ordem Strigeiformes Família Schistosomatidae Gênero Schistosoma sp. Schistosoma mansoni Espécie predominante no Brasil, causa uma doença conhecida popularmente por barriga d’água, embora por muito tempo tenha sido conhecida como “Moléstia de Pirajá da Silva”, fazendo referência a um dos estudiosos que ajudou a descrever tanto o parasita, quanto a enfermidade que ele causava, entretanto, a nomenclatura Schistosoma mansoni não atribuída a Pirajá da Silva e sim a Louis Sambon que descreveu o parasita de forma concomitante em Londres e devido às regras taxonômicas, que diz que quem primeiro descreve leva os créditos da descrição o parasita foi denominado Schistosoma mansoni e não Schistosoma americano como Pirajá da Silva o havia denominado. Este parasita está distribuído em várias regiões do mundo, especialmente na América do Sul, África e Antilhas e compreende um parasita que apresenta dimorfismo sexual, diferença morfológica entre machos e fêmeas e o seu nome faz referência a uma de suas características morfológicas, onde schisto = fenda e soma = corpo, uma referência presente nos corpos dos machos que se assemelha a uma fenda, onde a fêmea do parasita estaria inserida. Entretanto, verifica-se que a denominação de uma fenda não seria correta uma vez que o que esses parasitas apresentam não é bem uma fenda e sim uma projeção lateral do seu corpo que forma uma cavidade chamada de canal ginecóforo, onde as fêmeas estarão inseridas. Formas evolutivas Esse parasita apresenta diversas formas evolutivas - Adulto: macho e fêmea (visível diferença morfológica - Ovo: posto pelos adultos Formas larvárias - Miracídio: liberado dos ovos - Esporocisto: forma multiplicativa dentro do hospedeiro intermediário - Cercária: forma infectante para os hospedeiros vertebrados Formas adultas -Apresentam claro dimorfismo sexual -Quanto ao tamanho, os machos (1 cm/média) são menores que as fêmeas (1,5 cm/média) -Ambos os sexos apresentam 2 estruturas de ventosa importantes para alimentação e fixação do parasita nos tecidos de seus hospedeiros. A ventosa oral na extremidade anterior, associada a aquisição de alimentos; e a ventosa ventral ou acetábulo, mais associada a fixação do parasita no tecido de seu hospedeiro. -Os machos apresentam uma coloração esbranquiçada e fazendo referência ao nome no gênero, apresentam a estrutura anteriormente denominada de fenda, mas que na verdade é uma projeção lateral no corpo dos machos que forma o canal ginecóforo onde as fêmeas estarão inseridas. -Os machos não apresentam órgão copulador, então a inserção das fêmeas nesse canal facilita o processo de fecundação na qual os machos liberam nesse canal os espermatozoides, suas células reprodutivas e essas células se difundirão para a região genital, para a vulva das fêmeas onde a fecundação ocorrerá. -Outra estrutura morfológica presente nos machos, se localiza na região dorsal de seu tegumento formada por várias projeções chamadas de tubérculos, ao passo que as fêmeas apresentam tegumento liso sem a presença de tubérculos -As fêmeas apresentam coloração mais escura que os machos devido a presença de sangue semidigerido no seu interior e seus órgãos estão, majoritariamente, na região anterior de seu corpo, sendo a região posterior preenchida pelas células vitelogínecas ou vitelinas, células que promoverão a nutrição dos ovos dos embriões após a fecundação. Ovo -Características peculiares importantes inclusive, para o diagnóstico desta parasitose. -Apresentam aspecto ovoide com uma região mais afilada e outra mais alargada, possui dimensão média de 60 micrômetros de comprimento por 1,5 micrômetro de largura. -Na porção mais alargada, nota-se uma estrutura peculiar, uma espícula lateral que será importante na identificação dos ovos nas amostras biológicas. -Outra característica morfológica é que os ovos não possuem opérculo, uma abertura por onde as larvas eclode dos ovos. -A partir do momento em que são postos, ovos passarão por uma série de estágios de desenvolvimento e são considerados maduros por volta do 5º estágio em que se nota a presença de uma larva externa ou miracídio e a estrutura de uma casca, mais externa ao ovo, mais translúcida. Miracídio -Larvas que emergirão dos ovos maduros do S. mansoni liberados no ambiente -Forma infectante do schistosoma aos hospedeiros invertebrados intermediários, os moluscos. -Larva cilíndrica ciliada. Possui um conjunto de cílios no seu tegumento externo envolvido no processo de movimentação no ambiente aquático e apresentam dimensões que vão de 180 micrômetro de comprimento por 64 micrômetros de largura em média. -Na região apical apresentam uma estrutura denominada terebratorium que junto com as glândulas de penetração terá papel importante no processo de adesão dessas larvas no tecido do hospedeiro invertebrado para promover a infecção. -Apresentam um sistema nervoso composto por um grupamento de células na regiãocentral e um conjunto de 4 células denominadas solenócitos ou células flama (denominação anterior) que compõem o sistema excretor do miracídio. Cercária -Após um estágio de desenvolvimento dentro do hospedeiro intermediário, os moluscos, cada miracídio poderá dar origem a milhares de cercárias que são a forma infectante ao hospedeiro vertebrado. - Apresentam comprimento médio de 500 micrômetros e a sua estrutura dividida em 2 porções: o corpo principal e a cauda. -A cauda é bifurcada e envolvida no processo de natação em busca de seus hospedeiros a qual vão infectar e logo após a penetração na cercaria no tecido dos hospedeiros, a cauda é perdida permanecendo apenas a estrutura principal do corpo. -No corpo, nota-se a presença das 2 ventosas do Schistosoma, uma oral e uma ventral, que estão envolvidas no processo de fixação e penetração nos tecidos do hospedeiro, e também, a presença de um sistema excretor composto de células flama e de um intestino primitivo. Para a complementação do ciclo do S. mansoni, há a necessidade na presença no ambiente de seus hospedeiros invertebrados que compreendem moluscos do gênero Biomphalaria sp. Três espécies desse gênero são reconhecidas como competentes hospedeiros intermediários do S. mansoni: - Biomphalaria glabrata (principal responsável do S. mansoni no ambiente) - 4500 cercárias/dia - Biomphalaria straminea – 400 cercárias/dia - Biomphalaria tenogophila As 3 espécies estão presentes no Brasil e é muito difícil realizar a sua identificação considerando apenas a morfologia das conchas. Os estudiosos da área da malacologia, ciência que se dedica ao estudo dos moluscos, orientam que além das características morfológicas relacionadas as conchas, que características morfológicas relacionadas a estrutura corporal dos caramujos também sejam consideradas, uma vez que as características das conchas são muito sutis o que dificulta a identificação da espécie. Ciclo biológico É considerado um ciclo complexo em que o parasita passará por uma série de estágios de desenvolvimento para completá-lo. É um ciclo heteroxeno ou digenético já que há a necessidade de um hospedeiro definitivo vertebrado, os humanos, onde o parasita se apresentará na forma adulta e realizará a reprodução sexuada; e de um hospedeiro intermediário invertebrado, os moluscos, onde o parasita se multiplicará de forma assexuada. A infecção do hospedeiro vertebrado se dá a partir de seu contato, no ambiente, com a cercária que é a forma infectante para esse tipo de hospedeiro. A cercária atingirá os tecidos do hospedeiro, iniciando o processo de penetração. Após a penetração, a cercária perderá a região da cauda e se transforma em esquistossômulos. Os esquistossômulos iniciarão o processo de migração através do tecido subcutâneo até alcançarem um vaso, por onde serão carregados de forma passiva até a região dos pulmões. Dos pulmões os esquistossômulos migrarão para o sistema porta e alcançarão, por fim, a região dos vasos mesentéricos que é o sítio final de disposição desses parasitas. A migração dos esquistossômulos até o sítio final pode acontecer por 2 formas: A via principal, majoritariamente reconhecida que é a via hematogênica, na qual os parasitas alcançam os capilares pulmonares, depois por via circulatória alcançarão o sistema porta e os vasos mesentéricos. A via intratecidual ou tissular, onde dos pulmões, os esquistossômulos conseguiriam penetrar o parênquima pulmonar, atravessar a região do diafragma e peritônio, alcançando a região abdominal e se instalando nos vasos mesentéricos. A fixação final dos parasitas nos vasos mesentéricos é um processo que demanda tempo. Entre a migração dos esquistossômulos e a fixação dos parasitas nos vasos mesentéricos inferiores, decorre um tempo médio de 25 dias. Uma vez que os parasitas adultos estejam instalados nos vasos mesentéricos inferiores, iniciam o processo de fecundação e reprodução e em seguida a postura dos ovos será iniciada. Processo que dura em média 35 dias. Os ovos serão postos na região da parede do intestino e migrarão para a região da luz intestinal num período de aproximadamente 6 dias quando os ovos já se apresentarão maduros e poderão ser liberados juntos com as fezes no ambiente. Os ovos liberados com as fezes uma vez que alcançam regiões alagadas, eclodem e liberam as larvas miracídios. Os miracídios serão atraídos por substâncias liberadas pelos hospedeiros intermediários, os moluscos. Vão ativamente em busca dos moluscos e em seu tecido iniciarão o processo de penetração. Após a penetração no tecido dos hospedeiros intermediários, o miracídio se transformará em esporocisto, forma em que será possível visualizar uma série de multiplicações celulares que darão origem a diversas cercárias liberadas no ambiente. Os esporocistos poderão ser encontrados nos estágios I, II e III a depender do estágio de desenvolvimento do esporocisto. O inicial é classificado como esporocisto I, dele surgirão novas células que darão origem a várias cercárias, classificadas como esporocisto II e o esporocisto III dará continuidade a liberação constante das cercárias, sendo que um único molusco infectado pode liberar várias cercárias durante vários meses. Entre o processo de infecção dos miracídios no molusco, a multiplicação dos esporocistos até o momento de liberação das cercarias, decorre um tempo longo de 30 dias em média para as primeiras cercarias serem liberadas no ambiente. Estas cercarias, então estarão prontas para infectar um novo hospedeiro definitivo, no caso humano, e dar continuidade ao ciclo evolutivo do S. mansoni. A manutenção do S. mansoni no ambiente depende da capacidade dos hospedeiros vertebrados, definitivos, humanos de liberarem os ovos desse parasita por meio de suas fezes. Um casal de S. mansoni vive em média 5 anos podendo chegar até 30 anos de parasitismo, durante o qual porão cerca de 400 ovos por dia. Estes ovos postos se instalarão nas paredes Intestinais de onde migrarão para a luz intestinal para serem carregados pelo bolo fecal. Esse processo de migração dos ovos da região do sigmoide do intestino grosso até a luz intestinal depende de alguns fatores: - Reação inflamatória que a presença dos ovos causa na parede intestinal e já foi demonstrada essencial para este processo, pois em alguns hospedeiros em que a inflamação não está presente devido há algum outro fator, há um cúmulo de ovos na parede intestinal; - Pressão dos ovos (bombeamento), devido a quantidade de ovos postos por dia na mesma região, já que um ovo acaba empurrando o outro em direção a luz intestinal; - Enzimas proteolíticas liberadas pelo miracídio Interno ao ovo. E essas enzimas acabam lesando o tecido intestinal, favorecendo o processo de imigração; - Redução da espessura da parede do vaso da região mesentérica, especialmente vasos da região sigmoide devido à presença dos parasitas na luz dos vasos já que os parasitas vivem na luz do vaso se alimentando de hemácias; - Perfuração da parede venular pelos ovos, pelos parasitas, pelo processo inflamatório tecidual e a partir daí, os ovos conseguem então, associando todos esses fatores, migrar para a luz intestinal. Patologia Os aspectos patológicos relacionados a esquistossomose estão fortemente ligados a fatores como: Carga parasitária e resposta imunológica. A Carga parasitária se refere ao fato de que quanto maior o número de parasitas, maior será a quantidade de ovos postos, que contribuirá para uma apresentação mais grave da infecção. A resposta imunológica é um fator importante, já que indivíduos de áreas endêmicas tendem a uma resposta mais eficiente e por consequência apresentam uma forma mais brandainfecção, enquanto que indivíduos de regiões não endêmicas tendem a uma resposta imunológica mais pobre que apresentam por consequência infecções mais graves. Entre as principais apresentações da esquistossomose, tem-se: - Dermatite cercariana, Inflamação no local de penetração das cercarias. muito comum em indivíduos de regiões endêmicas que já apresentam uma resposta imunológica e são capazes, portanto, de gerarem essa inflamação no local de penetração das cercarias; - Forma hepatoesplênica, forma mais grave desta infecção, onde uma série de distúrbios hemodinâmicos são associado à presença de ovos e parasitas nos órgãos abdominais, a exemplo de uma hipertensão portal que pode ser por consequência da presença de ovos desse parasita no fígado que culminará com o acúmulo de líquido conhecido como ascite; esplenomegalia devido uma hiperplasia do sistema monocítico fagocitário em reposta a infecção; a possibilidade do desenvolvimento de varizes esofagianas. Todos esses processos contribuem para a apresentação mais clássica da esquistossomose, a barriga d’água. - Forma pulmonar, onde a presença de algumas formas parasitárias especialmente os esquistossômulos no pulmão leva à uma série de sintomas parecidas com os sintomas da tuberculose, com a possibilidade da formação de granulomas que pode dificultar o diagnóstico da diferenciação entre as 2 infecções. - De forma mais rara, pode ocorrer reação inflamatória pela presença de imunocomplexos formados de anticorpos capazes de reconhecer antígenos solúveis do S. mansoni. E esses imunocomplexos tendem a se depositar nos tecidos onde são responsáveis pelo desencadeamento de uma resposta inflamatória no local dessa deposição no tecido. Os rins são bastante afetados por esta resposta imunológica. A formação de granulomas ao redor dos ovos de S. mansoni especialmente, liberará alguns antígenos como os antígenos solúveis do ovo que vão contribuir para a migração de células imunológicas no local em que os ovos estão no tecido contribuindo para a formação dos granulomas que podem evoluir e formar uma estrutura fibrosa responsável por uma maior lesão nos tecidos, muitas vezes pela regressão do tecido hepático, apresentação de lóbulos externo característico da fibrose de Symmers, endoflebite aguda e fibrose periportal. Diagnóstico -Envolve aspectos clínicos e anamnese detalhada do paciente -Exame parasitológico qualitativo e quantitativo (Kato-Katz). Método mais aconselhável na qual se pode evidenciar a presença dos ovos e quantificá-los, saber quando ovos estão sendo eliminados por grama de fezes que dá ideia de carga parasitária importante para o curso da infecção. -Exames imunológicos, pouco utilizados, especialmente em regiões endêmicas uma vez que muitos indivíduos apresentarão positividade para este exame. -Exames de imagem para detectar alterações nos órgãos, especialmente órgãos da cavidade abdominal, fígado, baço. Profilaxia -Educação sanitária -Acesso a saneamento básico -Combate ao hospedeiro através de substâncias que o elimine -Inquéritos em busca de casos ativos para detecção e tratamento de indivíduos infectados e consequente interrupção da cadeia de transmissão -Tratamento profilático Tratamento -Praziquantel: eficaz contra todas as espécies de Schistosoma e outros cestódeos e trematódeos. -Oxamniquina: utilizado no tratamento profilático de larga escala atualmente em desuso. Fasciola hepatica É uma espécie de parasita de corpo achatado, popularmente conhecido como “barata no fígado”; Encontrado habitando região de vesícula e canais biliares de animais de criação especialmente quem são seus hospedeiros naturais, como ovinos, caprinos, bovinos, suínos e outros animais silvestres; o homem não é parasitado habitual da fasciola hepatica, entretanto havendo contato com as formas infectantes desse parasita a infecção pode ocorrer ocasionalmente; Agente etiológico da doença conhecida como fasciolíase ou distomatose hepática; os casos em humanos ocorrem majoritariamente na América Latina e Europa, sendo detectados casos no Brasil, Chile, Bolívia e outros países; uma outra espécie do gênero fasciola, a F. gigantica também é muito importante tanto para a infecção de animais quanto também para alguns casos de humanos relatados especialmente na África, Ásia e Havaí. Fasciolíase no Brasil A fasciolíase tem sido motivo de preocupação no Brasil nas últimas décadas, uma vez que a fasciolíase animal está em expansão, o que a torna uma doença muito importante para atividade pecuária; O aumento no número de casos da fasciolíase animal reflete, também, no número de casos da doença detectado em humanos, uma vez que há uma sobreposição das regiões afetadas pela doença animal e os casos que são detectados em humanos; Entre os estados pode-se citar Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Bahia; Na Bahia foram registrados alguns casos da doença, porém não foram autóctones, ou seja, não são casos em que a infecção ocorreu no território, são casos importados de outras regiões; A infecção em humanos está diretamente relacionada ao consumo de hortaliças contaminadas a exemplo do agrião. Hortaliças que são cultivadas em áreas alagadas que exercem papel importante para o ciclo desse parasita. Taxonomia A fasciola hepática é um platelminto da classe trematoda e diferente do Schistosoma é classificada como uma espécie hepática, uma vez que preferencialmente será encontrado na região da vesícula e dos canalículos biliares. Filo Platyhelminthes Classe Trematoda Sub-classe Digenea Espécies intestinais: - Fasciola buski - Heterophyes heterophyes - Metagonimus yokogawai Espécies hepáticas: - Fasciola hepatica - Clonorchis sinensis Espécies pulmonares - Paragonimus westermani Espécies sanguíneas - Schistosoma mansoni - Schistosoma japonicum - Schistosoma haematobium Morfologia Adulto Morfologicamente o verme adulto de fasciola hepática apresenta corpo com aspecto foliáceo atribuído a um achatamento desses vermes dorso-ventralmente e um afilamento das extremidades; Na extremidade anterior, assim como o Schistosoma, apresentam 2 ventosas, uma oral e uma ventral (acetábulo) envolvidos no processo de fixação no tecido do hospedeiro e aquisição de nutrientes; Apresenta na sua face anterior a presença de espinhos, importantes ao dano tecidual que o parasita causará ao hospedeiro; Possui tamanho médio de aproximadamente 3 cm de comprimento por 1,5 cm de largura e uma coloração pardo acinzentada. É um parasita hermafrodita, ou seja, os 2 sexos estão presentes no mesmo indivíduo, mas com prevalência de fecundação cruzada ponte; Na região do útero e ovários apresentam ramificações laterais que representam as glândulas vitelinas, responsáveis para a nutrição dos ovos; O órgão reprodutor masculino apresenta testículo duplo, sendo um anterior e outro posterior; Os machos apresentam órgão copulador conhecido como cirro, utilizado para a fecundação cruzada e fica protegido numa estrutura chamada bolsa do cirro; Apresenta sistema digestório com ramificações abundantes e recobre toda a extensão do corpo do parasita. Ovo Os ovos de fasciola hepática apresentam características morfológicas importantes: Presença de um opérculo, uma abertura por onde a larva vai deixar os ovos em direção ao ambiente, diferente ao visto na Schistosoma não há uma espícula nos ovos que apresentam coloração amarelada e forma elíptica; As dimensões dos ovos vão de 130 a 150 micrômetros de comprimento por 60 a 100 micrômetros de largura; Após fertilizados apresentam uma massa celular interna que darão origem a larva miracídio ao encontrarem condições ideais de temperatura, umidadee ausência de contaminação; Miracídio apresentam características morfológicas semelhantes às do S. mansoni, características externas como: A presença de cílios que serão importantes para o processo de natação do miracídio em busca de seu hospedeiro intermediário; Apresenta algumas estruturas na região anterior como glândulas apicais, glândulas de penetração e glândulas de secreção que serão importantes para o processo de penetração do miracídio no hospedeiro intermediário o que é o caramujo; As dimensões do miracídio são similares às dos ovos, uma vez que os ovos apresentam miracídio internamente que só são liberados em contato com condições favoráveis do ambiente externo como a presença de água, ausência de contaminação e outras condições como temperatura, luminosidade; Apresenta um formato triangular com a região anterior mais alargada e a posterior mais afilada, além de cílios na região epidérmica. Cercaria A porção principal do corpo apresenta aspecto de disco e cauda não bifurcada, longa; Apresenta as 2 ventosas, a oral e a ventral, além de sistema digestório composto por faringe, esôfago e intestino; Na lateral do corpo se encontra células ou glândulas cistogênicas importantes para o processo de encistamento da cercária no ambiente no qual perderá a sua cauda; Apresenta tamanho médio corporal que varia de 250 a 350 micrômetros de comprimento. Metacercária Uma vez em contato com o ambiente as cercarias passaram por um processo de encistamento em que ocorrerá a perda da cauda e a formação de uma membrana externa protetora chamada membrana circundante quando essa forma passará a se chamar metacercária; essa forma será a responsável pela manutenção da fasciola sobre a vegetação e a consequente Transmissão para seus hospedeiros vertebrados; apresenta coloração amarelada e pode se manter infectante no ambiente por meses e a depender da temperatura (mais baixas) e condições ambientais a manutenção da infecção da metacercária pode durar até um ano; Lymnaea sp. De forma semelhante ao observado para a esquistossomose, A manutenção da fasciolíase no ambiente depende da presença de um hospedeiro intermediário invertebrado que é igualmente um molusco, neste caso do gênero Lymnaea, as espécies principais que mantêm a doença ativa no Brasil são as espécies: - Lymnaea columela e L. viatrix Lymnaea é um molusco pulmonado de água doce, limpa que preferencialmente serão os capazes de manter o ciclo ativo da fasciolíase. Ciclo biológico classificado como heteroxênico, em que há a necessidade de um hospedeiro intermediário, representado pelo caramujo dos gêneros Galba, Lymnaea, Pseudosuccinea e de um hospedeiro definitivo que são os animais herbívoros; A infecção dos animais herbívoros se dá a partir do momento em que eles consomem um vegetal contaminado com a forma metacercária, a forma cística da fasciola e essa forma uma vez que alcança a região do intestino delgado passa por um processo de desencistamento e consegue perfurar a parede intestinal, cai na cavidade peritoneal e perfura a cápsula hepática a partir da qual migra ativamente até alcançar a região da vesícula e dos canalículos biliares. Essa migração da fasciola pelo parênquima hepático é responsável pela apresentação aguda da doença e a partir do momento o que o parasita alcança a região da vesícula e dos canalículos biliares dará início a fase crônica da doença; Uma vez que esses parasitas estejam no seu sítio final de localização, podem iniciar o processo de reprodução sexuada que dará origem aos ovos o que será um posto; A fasciola é muito eficiente na postura de ovos já que uma fêmea pode ser responsável por até 50 mil ovos postos por dia. Esses ovos são depositados no ambiente através das fezes. Alcançam a região intestinal carregados pelo fluxo biliar e são eliminados no ambiente pelas fezes dos indivíduos e quando postos ainda não apresentam no seu interior o miracídio. O miracídio começa a se desenvolver a partir do momento que os ovos entrarem em contato com o ambiente ia depender da disponibilidade de água, da intensidade de luz e da temperatura ambiental, os miracídio eclodem dos ovos e serão a forma infectante para os moluscos das regiões alagadas; Uma vez que o miracídio consegue infectar seu hospedeiro intermediário, passa por uma série de modificações até dar origem a forma cercariana. Primeiramente o miracídio se transforma numa estrutura de esporocisto, responsável por intensa multiplicação e com a formação de várias outras células Serão capazes de liberar estruturas chamadas de rédeas que são estágio anterior a formação das cercarias; No processo de infecção e diferenciação dos esporocistos até a forma cercariana, um único miracídio pode originar de 6 a 8 cercarias diárias e ao final de todo o processo que pode durar até 3 meses, um único miracídio pode ser capaz de produzir até 225 cercarias, Quantidade que manterá a presença da fasciola no ambiente; Uma vez que a cercária é liberada, em poucas horas ela inicia o processo de encistamento com a perda da cauda e formação da cápsula externa. Essa forma encistada, uma vez que encontre a superfície de vegetais, se manterá viável durante muito tempo para dar início ao ciclo infeccioso. Transmissão A ingestão de formas metacercarianas é a responsável pela infecção dos hospedeiros vertebrados herbívoros; As metacercarias podem ser ingeridas através de água ou alimentos contaminados; Em animais existe a forma de Transmissão congênita em que as fêmeas grávidas contaminadas pela fasciola podem transmitir para a sua prole o parasita; Entre os vegetais mais associados com a contaminação da fasciolíase está o agrião consumido pelos animais e humanos e são produzidos em regiões alagadas onde o ciclo biológico do parasita ocorre de forma muito intensa. Patologia Os aspectos patológicos relacionados a fasciolíase são especialmente atribuídos ao processo inflamatório, há uma inflamação crônica o que ocorre na região do fígado e dos ductos biliares que são os locais de migração e Instalação do parasita; Do fígado a migração das formas imaturas vai contribuir para a liquefação dos tecidos pela ação de enzimas proteolíticas que abrem passagem para os parasitas e também servem de alimento, já que o parasita se alimenta de restos celulares; Esse processo contribuirá para traumas no fígado, hepatite traumática e hemorragias ponte, No fígado pode ser encontrada fibrose, nos ductos biliares, devido à presença de vermes adultos, ulcerações; a presença de espinhos no corpo do parasita vai contribuir para irritação do endotélio esses processos vamos culminar numa hiperplasia epitelial, pode haver enrijecimento e calcificação dos canalículos biliares infra-hepáticos e extra-hepáticos que contribuíram para uma série de Apresentações clínicas e patológicas relacionadas a esta doença. Sintomatologia O período de incubação da fasciolíase é de 6 a 9 semanas A depender da carga parasitária. Quanto maior carga parasitária, menor período de incubação; Em hospedeiros humanos em que geralmente A Carga parasitária é menor de quem outros animais o período de incubação tende a ser um pouco maior e os sintomas dependem da fase em que a doença se apresenta, se aguda ou crônica; Fase aguda: sintomas pouco relevantes, sintomas associados a migração das formas pelo fígado, geralmente caracterizado por uma inflamação aguda; Fase crônica: sintomas associados a colecistite que é a inflamação da vesícula, angiocolite que é inflamação os canalículos biliares e alguns quadros associados a problemas digestivos crônicos, que podem estar relacionados à fibrose, a lesão já ocorrida no fígado e nos canalículos biliares e que podem se estender, em algumas situações, ao início do intestino por onde os ovos serão depostos. Diagnóstico pesquisa de ovosnas fezes ou na bile por técnica de sondagem ou tubagem. Muito associada a resultados falso negativos em humanos pela baixa produção de ovos já que não são os hospedeiros habituais desse parasita; Atenção especial ao consumo de fígado de animal infectado, uma vez que os hospedeiros habituais desses parasitas são animais de criação associados à alimentação humana e caso o fígado contaminado de um desses animais seja ingerido e lá estejam presentes os ovos, estes irão atravessar o sistema digestório dos humanos sem iCloud isso eram liberados nas fezes o que contribui para resultados falso positivos; Sorológicos: apresenta maior segurança na busca pela presença da fasciola em humanos, entretanto há que se tomar cuidado devido à baixa sensibilidade e a possibilidade de reação cruzada especialmente em casos de infecção por esquistossomose e hidatidose; As técnicas sorológicas mais utilizadas são ensaios de intradermorreação, imunofluorescência, reação de fixação do complemento e ELISA. Profilaxia Controle da doença em animais domésticos: - Identificação e tratamento dos animais infectados; - Controle do hospedeiro intermediário Através de substâncias moluscocidas; - Isolamento de pastos úmidos. Para o homem: - -Não consumir água de alagadiças; - Evitar consumo de vegetais diárias com possível contaminação de fezes de ruminantes e outros hospedeiros. Tratamento - Bithionol – na dosagem de 30-50 mg/Kg/dia durante 10 dias (dias alternados) - Deidroemetina – uso oral (drágeas com 10 mg) e injetável parenteral (30 e 60 mg), na dose diária de 1 mg/Kg durante 10 dias - Albendazol – dose de 10 mg/Kg COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE Informações gerais -O complexo teníase-cisticercose engloba duas enfermidades distintas que apresentam sintomatologia e epidemiologia completamente diferentes; -Ambas enfermidades são causadas pelo mesmo agente etiológico, parasitas do gênero Taenia; -Provocam impacto a saúde pública em várias partes do mundo, como China, sudeste asiático, Índia, África subsaariana e América Latina. As espécies de maior importância são: Taenia solium e Taenia saginata. são parasitas de ciclo heteroxênico , ou seja, para passar por todas suas formas evolutivas, o parasita precisa de pelo menos 2 hospedeiros; O porco e o boi são hospedeiros intermediários da Taenia solium e Taenia saginata respectivamente; O humano é considerado hospedeiro definitivo para as 2 espécies, pois é nele que se encontra a forma evolutiva do parasita capaz de realizar reprodução do tipo sexuada; Formas evolutivas Verme adulto Nesse estágio tem-se um verme em formato de fita achatado com o corpo todo segmentado pertencente à classe Cestoda; O verme adulto habita o intestino delgado humano, são longos, normalmente possuem de 3 a 5 m de comprimento, mas pode atingir mais de 10 m. São delgados e muito maleáveis. Apresentam na cabeça 4 ventosas que são estruturas de fixação. Ao longo de todo o corpo desse verme aparecem segmentações conhecidas pelo nome de proglotes ou proglótides, sendo que cada um desses adultos pode ter de 1 a 2 mil proglotes. São hermafroditas, ou seja, possuem tanto aparelho reprodutor masculino como aparelho reprodutor feminino; Proglote Maduro e grávido Na imagem, à esquerda, o desenho esquemático de uma proglótide, mostrando os aparelhos reprodutores masculinos e femininos do verme. Todas as ramificações (bolinhas azuis) são os testículos da Taenia. O tubo mais central é o útero, nota-se, também, o canal deferente, vagina e ovários, confirmando assim o seu hermafroditismo. À direita, ao longo do corpo deste verme se encontram 3 grupos de proglotes: as proglotes da região mais anterior do verme são chamadas de jovens; na região intermediário estão as chamadas proglotes maduras, aqui já é possível visualizar os aparelhos reprodutores do verme e na região da posterior estão as chamadas proglotes grávidas do verme. Uma particularidade das proglotes grávidas é que nela se encontram as chamadas ramificações uterinas, estruturas onde aparecem os ovos produzidos pelo verme. Outro detalhe é que essas proglotes terminais, proglotes grávidas se destacam com mais facilidade do corpo da Taenia. O termo colo faz referências a região mais anterior do verme e o estróbilo diz respeito ao corpo em geral da Taenia. Proglotes grávidas É possível se diferenciar as proglotes grávidas de Taenia solium em relação a da Taenia saginata ao se analisar a morfologia das ramificações uterinas. Enquanto que as ramificações da Taenia solium são do tipo dendrítica, fazendo referência aos dendritos, setor de recepção do impulso nervoso nos neurônios; as ramificações da Taenia saginata são do tipo dicotômicas com aspecto mais regular bipartido. Outra característica é que a proglote grávida da Taenia saginata apresenta mais ramificações uterinas. Isso significa que ao se colocar as 2 peças para serem visualizadas em um microscópio chegariam mais luzes aos olhos do observador se ele estivesse visualizando a proglote grávida de Taenia solium porque as ramificações uterinas são menos numerosas. Em relação às dimensões as proglotes posteriores tem como medidas 1 cm por 0,7 cm aproximadamente. Ausência do aparelho digestivo Não existe um aparelho digestivo nas Taenias adultas. Elas se alimentam por osmose fazendo uso das microvilosidades presentes no seu tegumento. Esses vermes adultos exercem grande ação do tipo espoliativa no seu hospedeiro, ou seja, retira do seu hospedeiro muitos nutrientes através do processo de osmose fazendo uso das micro vilosidades presentes no seu tegumento, sua superfície. Cabeça (escolex) do verme adulto Escólex é um outro nome para cabeça. Através dessa estrutura é possível diferenciar as 2 espécies de Taenia. O escólex da taenia saginata é do tipo quadrangular apresentando 4 ventosas posicionadas no seu alto. Ausência de rostro que é um calo e de acúleos que são os espinhos. Na. taenia solium se observa um escólex globoso com 4 ventosas lateralizadas, com a região mais superior, o rostro apresentando os acúleos que são os espinhos. Os acúleos tem como função uma maior fixação e ancoragem do verme, assim com as ventosas que também são estruturas de fixação. O tamanho do escólex, para ambas espécies, mede de 1 a 2 mm. Ovos de Taenia Em relação aos ovos postos pelos adultos hermafroditas são microscópicos medindo de 30 a 40 micrômetros de diâmetro, apresentam uma camada dupla estriada ou radiada chamada de embrióforo (refere-se à casca do ovo). No interior deste ovo encontra-se o embrião hexacanto, esse nome surgiu porque esse embrião apresenta 6 acúleos que podem ser visualizados fazendo uso do micrômetro do microscópio. O embrião hexacanto pode também ser chamado de oncosfera. O ovo é uma forma evolutiva de grande importância para o diagnóstico da teníase, mas não é possível se distinguir as 2 espécies de Taenia fazendo uma observação morfológica dos ovos. Cisticercos Parece uma vesícula inicialmente transparente e à medida que vai envelhecendo, se torna mais opaca, mais esbranquiçada. é visível a olho nu e mede de 5 a 10 micrômetros, podendo ser maior. No corte esquemático do cisticerco à direita, nota-se o proto-ecólex, a cabeça primitiva do verme; à esquerda a fase de transição, a passagem da fase larvar, o cisticerco, para a fase adulta do verme. Essa transição é gradual até a vesícula ser completamente absorvida e restar o verme adulto. A forma larvária da Taenia solium é denominada Cysticercus cellulosae; e da Taenia saginata é denominada Cysticercus bovis. Cisticerco no músculo Visível a olho nu e viável de 2 a 8 meses. Após esse tempomorre e se calcifica. Ciclo biológico Considerando-se homem sem enfermidade que venha a fazer consumo de carne de porco ou de boi sangrenta ou mal cozida contendo cisticercos viáveis. Ao ingerir juntamente com a carne as larvas, os cisticercos, estes sofrerão ação de sucos digestivos que conduzirão uma lise da vesícula permitindo a desenvaginação do cisticerco. Com extravasamento do proto-escólex ocorrerá sua adesão à mucosa do intestino delgado. A partir daí acontecerá um amadurecimento gradual do verme até se tornar adulto. Aproximadamente 60 dias depois da infecção, o hospedeiro humano poderá liberar, através das fezes, ovos da taenia. Esses ovos sairão muitas vezes associados à pedaços das proglotes grávidas do verme adulto. Normalmente o ciclo se fechará com a infecção do porco ou boi ao ingerir acidentalmente os ovos da tênia que saem junto com as fezes do hospedeiro humano portador do verme adulto. Esses hospedeiros intermediários irão desenvolver a partir dos ovos apenas os cisticercos, ou seja, porco e boi não desenvolvem o verme adulto. A infecção do boi ou porco a partir dos ovos estará diretamente atrelada à espécie de taenia. Curiosidade O estudo científico e o conhecimento da relação entre Cysticercus cellulosae do suíno e a Taenia solium adulta no homem se deve a 2 pesquisadores alemães, Kuchenmeister e Leuckart, que em 1895 e 1896 demonstraram de forma experimental o desenvolvimento da Taenia solium no homem. O método usado por esses pesquisadores foi bem radical já que fizeram reclusos condenados à morte ingerirem cisticercos vivos e tempos mais tarde, após a execução do preso, analisaram o conteúdo intestinal dos executados e acharam a presença de taenias mais ou menos desenvolvidas no intestino desses condenados. Aqui uma ideia de como nasceram algumas pesquisas no passado. A solitária A teníase é uma enfermidade exclusiva do homem, que geralmente é portador de uma só taenia, por isso que comumente tem se denominado de “solitária” (Borchert, 1981). Os motivos estão associados a princípios de competitividade. A taenias são altamente competitivas, e sendo seres monoicos com estruturas fisiológicas para autofecundação, não necessitam de parceiros para a cópula e postura de ovos. A teníase é uma infecção intestinal humana provocada pelas formas adultas de T. solium ou T. saginata. Sintomas Frequentemente assintomática, mas pode haver (hospedeiros mais sensíveis): - Dor, fraqueza, náusea - Perda de peso - Alterações na motricidade e secreção digestiva Ocasionalmente: - Obstrução intestinal pela massa do estróbilo Diagnóstico Laboratorial EPF – exame parasitológico de fezes Uma vez presentes ovos de taenia nas fezes humanas, o diagnóstico para teníase é confirmado. Como pelos ovos não é possível a distinção das espécies, geralmente se procura no bolo fecal a presença de proglotes grávidas. As peças passarão por uma clarificação com ácido acético e uma vez visualizadas as ramificações uterinas é possível saber se o paciente é portador de T. solium ou T. saginata. O hábito alimentar do hospedeiro poderia, por si só, tornar-se um indicador da provável espécie de taenia, mas se o hospedeiro ingerir os 2 tipos de carne, boi e porco, fica mais difícil precisar. Em relação aos métodos de imunodiagnósticos a hemoaglutinação e a imunofluorescência direta poderiam servir, mas tem valor limitado. Em 40% dos casos, esses exames não conseguem detectar. Alguns estudos mostram baixa especificidade, além de mais caros quando comparados ao EPF. Tratamento Existem anti-helmínticos que controlam facilmente o verme intestinal: Niclosamida (Cestocid, Devermin) Albendazol Modo de ação: induz o desprendimento do escólex do verme e a lise do tegumento do helminto, desintegrando o parasita antes de ser eliminado nas fezes do hospedeiro. Profilaxia - Educação sanitária - Saneamento básico - Evitar o consumo de carne de boi e porco crua ou mal cozida - Inspeção sanitária em açougues - Impedir o acesso de suínos e bovinos às fezes humanas - Tratamento em massa dos casos humanos positivos CISTICERCOSE Infecção bem mais grave que a teníase. Ciclo biológico A via direta que pode conduzir ao estabelecimento da cisticercose humana é a ingestão acidental dos ovos de taenia. A teníase se estabelece quando o hospedeiro faz o consumo de carne de porco ou boi contendo cisticercos. Na cisticercose o ovo é a forma evolutiva infectante e os caminhos de infecção são variáveis, a exemplo de mão sujas contendo resíduos de fezes com ovos de taenia, consumo de hortaliças contaminadas, ingestão de água com dejeto fecal, dentre outros. Quando um homem ingere acidentalmente o ovo da taenia, essa forma evolutiva poderá sofrer ação de enzimas estomacais e intestinais que irão quebrar o seu embrióforo, a casca desse ovo, liberando o embrião hexacanto ou oncosfera, que uma vez liberada no intestino, poderá atravessar a sua parede, cair na circulação e se fixar aos mais diversos órgãos como cérebro, olhos, músculos. Ao chegar nesses locais, a oncosfera se fixará e se transformará no cisticerco. A partir daí e todas ocorrerá respostas inflamatórias e todas as suas consequências. A depender de onde esteja localizada a larva os danos serão maiores ou menores. Praticamente 100% da cisticercose humana está associada a ingestão de ovos da T. solium devido a maior facilidade da lise do embrióforo desta espécie e também a uma maior agressividade da oncosfera da T. solium no corpo humano. Neste caso, o homem se comportaria de modo parecido com o que ocorre com bovinos e suínos, hospedeiros intermediários que só desenvolvem cisticercose, nunca teníase. cisticercose humana: infecção determinada pela presença de formas larvares, cisticerco, da T. solium em diversos tecidos. Vias de infecção para cisticercose humana Heteroinfecção ou infecção direta O homem, através do alimento ou mãos contaminadas do solo, do ambiente se contamina. Faz a ingestão dos ovos de taenia solium e a partir daí desenvolverá a cisticercose. Autoinfecção externa oral (mais comum) Para que se estabeleça a autoinfecção gerando uma cisticercose, é preciso que o indivíduo já tenha uma teníase prévia por T. solium, seja portador desse verme adulto no intestino. Ocorre por um descuido da higiene como não lavar as mãos após defecar e em seguida levá-la a boca ou contaminar alimentos, ingerindo acidentalmente os ovos oriundos de resíduos de fezes e de modo secundário dar início a uma autoinfecção que o conduzirá ao desenvolvimento da cisticercose. Autoinfecção interna (caso raro) O indivíduo também é portador de teníase por T. solium e poder desenvolver a cisticercose a partir de um processo chamado retro-peristaltismo na qual mesmo sem levar as mãos contaminadas até a boca, o hospedeiro se infecta com os ovos da taenia. As proglotes grávidas do verme adulto podem retroceder para setores mais altos do intestino e lá sob a ação de enzimas provocar a quebra do embrióforo com a liberação da oncosfera. O embrião então, atravessará a parede intestinal e se estabelecerá nos mais diversos órgãos. Sintomas Doença grave e crônica; Dependem da localização dos cisticercos de T. solium nos tecidos humanos; No cérebo: - Convulsões - Distúrbios do comportamento - Cefaleia e náuseas (hipertensão intracraniana) No fundo do olho - Distúrbios visuais - Perfuração de retina - Perda da visão Neurocisticercose (forma mais grave) Segundo a OMS 50 mil óbitos por ano em países em desenvolvimento, principalmente da Ásia, África e América Latina. A América Latina tem sido apontada como área de prevalência elevada de neurocisticercose. Relatada em 18 países latino-americanos, com uma estimativa de 350 mil pacientes.Cisticercos na língua Caso em que o humano pode assumir acidentalmente uma posição comparada a exercida pelos hospedeiros intermediários Diagnóstico Nos quadros de heteroinfecção não existe a possibilidade de detecção do verme nas fezes do indivíduo Exames de imagens Eficazes caso a larva esteja calcificada Raio X – necessidade de calcificação para melhor visualização Tomografia Laboratorial Imunodiagnósticos funcionam bem. Tem o objetivo de detectar anticorpos anti-cisticercos no soro humano, líquido cefalorraquidiano. Os mais comuns são ELISA e Imunoblotting (Western Blotting). Nos casos de autoinfecção em que o indivíduo precisa, obrigatoriamente, ser portador do verme adulto no intestino, o EPF pode ser um método auxiliador, sobretudo se o indivíduo for portador de teníase por T. solium. Ao se fazer um diagnóstico de teníase em um paciente e se descobre que ele é portador de teníase por T. solium, há a preocupação deste quadro gerar de forma secundária uma cisticercose. Tratamento São utilizados anti-helmintícos : Niclosamida (Cestocid, Devermin) Praziquantel (atua no cisticerco) O tratamento dos casos de cisticercose é mais complicado, devendo-se muitas vezes associar ao tratamento o uso de corticoides, sobretudo na cisticercose oftálmica e neurocisticercose. Em alguns casos específicos é indicada intervenção cirúrgica. RESUMO Vias de infecção da cisticercose x teníase A teníase e a cisticercose são importantes problemas de saúde pública em regiões onde as condições sanitárias são precárias. Echinococcus granulosus- Hidatidose humana Os parasitas do gênero Echinococcus são pertencentes a classe Cestoda (mesma das Taenias) Causa em humanos a enfermidade conhecida como Hidatidose Trata-se de uma zoonose de distribuição mundial, presente em todos os continentes Formas evolutivas Verme adulto Em relação ao verme adulto, assim como as tênias, apresenta o corpo achatado no formato de fita e segmentado. Difere das taenias quase que unicamente pelo tamanho. Enquanto as taenias podem medir mais de 10 m de comprimento, os adultos aqui apresentam entre 2 e 6 mm de comprimento. O hermafroditismo também é uma característica. O número de proglotes numa taenia adulta varia de 1000 a 2000. Em relação ao Echinococcus aparecem apenas de 3 a 6 proglotes, por isso é chamada de taenia anã. O escólex desse verme é muito similar ao da T. solium, é globoso com 4 ventosas lateralizadas e a presença de um rostro com acúleos. Ovo São muito parecidos com os da taenia, apresentam a camada dupla radiada com o embrião hexacanto no seu interior que aparece com 6 acúleos quando se faz uso do micrômetro. Essa camada dupla pode ser chamada de embrióforo, a casca do ovo e o embrião hexacanto pode ser chamado de oncosfera. Larva Trata-se de uma das formas evolutivas mais volumosas que se têm conhecimento contrastando com o verme adulto que está entre os menores cestodas. Apresenta-se como uma estrutura vesicular cística contendo no seu interior um líquido claro. Desse fato surge o termo cisto hidático (do grego significa vesícula aquosa). Aparece nesse cisto ainda, inúmeras cápsulas prolígeras onde se formam vários de proto-escólex, tal qual no cisticerco, a diferença aqui é que dentro de um único cisto pode conter vários proto-escólex, a cabeça primitiva desse verme. Uma curiosidade vem do nome Echinococcus, oriundo das características morfológicas das larvas. Do grego “echinos” significa ouriço e “kokkos” equivalente a grão, lembrando um ouriço-do-mar. Hospedeiros do Echinococcus Parasita de ciclo heteroxênico. Espécie Hospedeiro Definitivo Hospedeiro Intermediário Echinococcus granulosus Canídeos domésticos (cão) Ovinos/bovinos/homem Echinococcus multilocularis Canídeos silvestres (raposa, lobo) Roedores silvestres/homem Echinococcus vogeli Canídeos silvestres Roedores silvestres (pacas, cutia) /homem Echinococcus granulosus Espécie mais importante para casos em humanos, envolvida nos casos de hidatidose humana. O verme adulto vive no intestino delgado do cão. Dentro desse hospedeiro o verme hermafrodita realiza a reprodução sexuada. Em relação aos hospedeiros intermediários, desenvolver-se-á a larva, chamada cisto hidático que se desenvolverá principalmente no fígado e pulmão do hospedeiro intermediário, podendo acometer outras estruturas. Ciclo biológico Do mesmo modo como acontece nos quadros de cisticercose humana, aqui a forma evolutiva infectante para o humano será os ovos do verme, então através de uma ingestão acidental dos ovos do parasita oriundo de fezes canina através das mãos sujas, alimentos contaminados com ovos etc. Esses ovos sofrerão, no interior do homem, ação da bile e de enzimas como a pancreatina, ocorrendo, então, a quebra do seu embrióforo com liberação posterior da oncosfera. A partir daí a oncosfera poderá atravessar a parede da mucosa intestinal pegar a circulação e parar, por exemplo no fígado ou no pulmão dos hospedeiros e uma vez fixada, a oncosfera nesses órgãos irá se transformar aos poucos no cisto hidático. Como ciclo biológico se fecharia nesse caso? Normalmente o ciclo dificilmente se fecha no cão a partir do homem, pois o cão se infecta comendo as vísceras do hospedeiro intermediário contendo o cisto hidático e certamente é muito mais fácil de um canídeo comer vísceras de ovinos e bovino do que se alimentar das vísceras de humanos. Além do fígado e pulmão o cisto hidático pode aparecer um cérebro, músculos, baço. Cisto hidático (larva) Quando a oncosfera, o embrião hexacanto, chega ao fígado e pulmão do hospedeiro, vacuoliza. A membrana mais interna é chamada de membrana prolígera ou germinatva (letra c). Ela surge após a vacuolização da oncosfera e será a responsável pela proliferação do parasita através de reprodução assexuada chamada de brotamento, formando vesículas prolígeras contendo no seu interior os proto- escólex, a cabeça primitiva do verme Depois o parasita desenvolve uma membrana para se proteger do ataque do hospedeiro. Essa membrana é chamada de membrana anista ou hialina (letra b), a faixa mais clara. Ela é proveniente da membrana prolígera. Por fim, através de uma resposta contra a cão do parasita o hospedeiro desenvolve uma membrana ainda mais externa chamada de membrana adventícia (letra a). É formada através de uma reação tecidual no próprio órgão parasitado. É uma cápsula fibrosa muito espessa. Quando o cão se alimenta do cisto hidático e joga pro seu interior através das vísceras do hospedeiro intermediário, cada proto-escolex dará origem a um verme adulto, ou seja, ao final o cão comportará inúmeros vermes adultos no seu intestino. Hidatidose cística e hidatidose policística A diferença de maior importância entre uma e outra está no crescimento mais acelerado e agressivo dos cistos, além da formação de múltiplos cistos no caso da hidatidose policística. Geralmente a hidatidose cística está atrelada ao Echinococcus granulosos, mantida no ciclo doméstico: cão doméstico, animais de fazenda (ovino, caprino, bovino) e eventualmente o homem A transmissão da hidatidose policística está mais correlacionada ao ciclo silvestre: canídeos selvagens, roedores e eventualmete o homem e as espécies de Echinococcus são outras (E. vogeli, E. multiloculares). Os quadros mais comuns de hidatidose humana são do tipo cística, mas pode ocorrer a policística Echinococcose e hidatidose po E. granulosus (uso dos termos) O termo Echinococcose costuma ser empregado quando os hospedeiros definitivos (canídeos) estãoparasitados com a fase adulta do verme. O termo hidatidose ou echinococcose cística para parasitismo que acomete os hospedeiros intermediários (herbívoros) e acidentais (seres humanos), com a fase larval do verme. Aspectos biológicos A fase larvar (no hospedeiro intermediário) atinge maturidade entre 6 meses e 1 ano; Após 45-60 dias, pós-infecção dos canídeos com os cistos hidáticos, aparecem os primeiros ovos do verme e suas fezes; O verme adulto geralmente vive apenas 3-5 meses. E o cão abriga vários vermes em seu intestino. Patogenia O cisto hidático é a forma patogênica do E. granulosus nos humanos. O ovo é a forma infectante. Hospedeiro definitivo: portam vermes adultos, mas são geralmente assintomáticos Hospedeiros intermediários: portam as larvas, o cisto hidático, e os sintomas são correlacionados ao local e ao tamanho da hidátide. Danos aos órgãos parasitados -Os danos ocasionados pela hidatidose geralmente são decorrentes das compressões que os cistos exercem nos órgãos onde estão localizados comprometendo seu funcionamento -Reações inflamatórias no local que geram danos que muitas vezes conduzem à formação de fibrose que são resultantes do desenvolvimento de tecido conjuntivo em órgão ou tecido como parte do processo de cicatrização, porém essa resposta reparativa compromete o funcionamento do órgão. Hidatidose A hidatidose hepática é a forma mais comum de infecção humana e em segundo lugar a hidatidose pulmonar. O cisto é coberto por um tecido conectivo do hospedeiro e cresce muito lentamente, de modo que a manifestação da doença pode levar muitos anos a depender do local do parasitismo, quase sempre associada ao órgão em que está localizado. Sintomas Hidatidose hepática - Aumento do volume abdominal - Desconforto epigástrico - Náusea - Obstrução do ducto biliar Hidatidose pulmonar - Tosse com ou sem expectoração - Dificuldade respiratória Hidatidose cerebral - Dores de cabeça - Comprometimento de atividades motoras Ruptura de cistos -Podem ocorrem por trauma ou evento cirúrgico -Frequentemente desencadeia reações alérgicas, que podem variar de urticária a choque anafilático -A liberação do líquido hidático e seus componentes pode ocasionar hidatidose secundária, ou seja, o desenvolvimento de cistos em outros órgãos. Diagnóstico Necessita da combinação de fatores epidemiológicos, dados clínicos e exames complementares Os imunodiagnósticos são úteis, pois permitem observar a reação dos anticorpos IgG presente no soro frente a proteínas antigênicas do líquido hidático. O mais comum é o ELISA. 20% dos pacientes com cistos hepáticos e 40% dos pacientes com cistos pulmonares não produzem anticorpos séricos específicos o que pode levar a resultados falsos negativos. No caso de cães parasitados, recomenda-se o EPF (exame parasitológico de fezes) já que o hospedeiro definitivo alberga os vermes no seu intestino. Tratamento Hidatidose humana: -Recomendada cirurgia para retirada integral desde que o cisto apresente tamanho superior a 10 cm e seja de fácil acesso -Albendazol para cistos menores que 10 cm Equinococcose: Prazinquantel para cães parasitados, pois acelera a eliminação dos vermes Distribuição geográfica Profilaxia -Proibir alimentação dos cães com vísceras cruas de ovinos ou bovinos -Evitar contato muito próximo com cães não vermifugados -Tratamento em massa de cães em áreas endêmicas -Inspeção sanitária nas criações de ovinos, bovinos, suínos - incineração de vísceras de animais contaminados -Lavagem das mãos e dos alimentos Filo Nematoda Do grego nema, nematos = filamento, fio. Características corporais em geral cilíndricos, alongados, fusiforme (afunilamento na região anterior e posterior) e tamanho variável; Diversos estilos de vida e hábitat, organismos de vida livre em ambientes aquáticos, terrestres e hábito de vida parasitário capazes de parasitar vegetais e animais vertebrados e invertebrados; Espécies divididas em duas grandes classes: Chromadorea e Enoplea; Dioicos, apresentam sexos separados; com dimorfismo sexual, características que permitem diferenciá-los; Simetria bilateral e sem segmentação verdadeira ou probóscide; São representantes desse grupo: Ascaris lumbricóides, Enterobius vermiculares, Trichuris trichiura e Strongyloides stercorali. Importantes do ponto vista humano já que podem causar infecções e tê-los como hospedeiro. Entre as estruturas morfológicas: Sistema nervoso, composto por um anel nervoso ao redor do esôfago por onde passam diversos nervos que se ligam a outras estruturas sensitivas relacionadas a recepção de estímulos mecânicos, mecanorrecepção, como as papilas e as cerdas; e as relacionadas a recepção de estímulos químicos, quimiorrecepção, como os anfídeos encontrados na região anterior e os fasmídeos encontrados na região posterior de algumas espécies. Apresentam externamente ao corpo uma estrutura denominada cutícula que pode ser lisa ou estriada e acelular (não possui conteúdo celular) com formações variadas que podem estar tanto na região anterior, quanto na posterior que apresentam funções distintas a depender da espécie e de sua localização. A cutícula é composta por substâncias secretadas da hipoderme que ficam logo abaixo da estrutura cuticular; apresenta dentre outras, a função de proteção contra dessecação, perda de eletrólitos, de exoesqueleto por servir de sustentação para estruturas internas dos nematódeos, a movimentação por ser muito elástica no sentido longitudinal e pouco no sentido lateral, contribuindo para a movimentação desses organismos no seu meio. A cutícula pode ser trocada em eventos conhecidos como ecdise, presente em alguns nematódeos e pode ocorrer durante o seu desenvolvimento. Diferente de outras espécies que apresentam a ecdise em algum estágio de seu desenvolvimento, os nematódeos não dependem dela para o seu crescimento e mudança de forma. Continuam crescendo antes e após essas trocas de cutícula. Outra característica dos nematódeos é diversidade do aparelho bucal que pode ser grande, bem desenvolvida em algumas espécies; reduzida em outras, além de estruturas acessórias a fixação e acesso desses organismos aos seus hospedeiros, entre as quais a presença de lábios, dentes, lâmias cortantes, estruturas que ajudam na laceração do tecido de seus hospedeiros. Após a cavidade bucal, inicia-se o esôfago dos nematódeos que apresenta morfologia claviforme, de componente muscular e com a presença de bulbos que auxiliam na passagem do material deglutido em direção ao restante do intestino que neste grupo é relativamente simples. Além das estruturas associadas a fixação, esses organismos em seus hospedeiros apresentam papilas sensórias na sua extremidade anterior que são associadas tanto a percepção do meio, quanto a garantia da fixação desses organismos em seus hospedeiros. Muitos representantes desse grupo apresentam estruturas diferenciadas na sua região posterior, modificações que muitas vezes estão associadas a cópula, a fixação dos organismos machos nas fêmeas para garantia da fecundação. Sistema reprodutor masculino Testículos, canal deferente, vesícula seminal (armazenamento de espermatozoides), canal ejaculatório, glândula prostática (secreção de substâncias que auxiliam no processo de adesão do macho sobre a fêmea) e cloaca de onde se projetam 1 ou 2 espículos, importantes para o processo de fecundação. Podem ocorrer órgãos acessórios: gubernáculo, bolsa copulatória e télamom. Sistema reprodutor feminino Ovário, oviduto, útero, vagina e vulva. Podem variar de disposição, forma e número a depender da espécie. A fecundação é interna, ou seja, os machos introduzem nas fêmeas os espermatozoides através da cavidade genital. As fêmeas uma vez fecundadas podem por milharesde ovos por dia, quantidade que varia entre as espécies. Liberam ovos já embrionados ou larvados e as larvas passam por 4 mudas até a forma adulta e as mudas podem ocorrem dentro ou fora do ovo a depender da espécie. Enterobius vermicularis Nematódeo popularmente conhecido como “Oxiúro ou caseira”; Dentre as mais de 20 espécies do gênero Enterobius é a única espécie parasita de humanos; Habita o intestino grosso dos hospedeiros, podendo migrar para a região perianal onde será responsável pela infecção clínica prurido ou coceira. Entero + bio = do grego, intestino e vida Infecção denominada enterobiose (enterobíase) ou oxiurose (oxiuríase); Conhecida desde a antiguidade, mencionada em trabalhos de Hipócrates (460-370 a. C.), Aristóteles (384-322 a. C.), Galeno (129-200 d. C), entre outros. Epidemiologia Grande prevalência, especialmente em regiões de clima temperado; As crianças de 10 anos são mais afetadas pela infecção; Estudos revelam uma proporção de 2:1 de infecção entre homens e mulheres, exceto na faixa etária mais acometida, entre 5 e 14 anos; No Brasil, há uma presença importante da infecção por E. vermicularis, especialmente na região litorânea onde há alta prevalência; nos estados da região Norte e Centro-Oeste média prevalência e a região Sul baixa prevalência, entretanto os dados epidemiológicos são desatualizados o que torna a doença negligenciada quanto a seus aspectos epidemiológicos; Taxonomia Reino Animalia Filo Nematoda Classe Cromadorea (Secernentea) Sub-classe Chromadoria Ordem Rhabditidia Família Oxyuridae Gênero Enterobius Morfologia Apresentam características gerais independentes do sexo; Os adultos são caracterizados: Por serem pequenos, de coloração branca, corpo fusiforme com extremidade afilada e cutícula estriada transversalmente; Apresentam na região anterior expansões vesiculares da cutícula, laterais à boca – asas cefálicas Possui boca pequena com 3 lábios retráteis e esôfago claviforme e relativamente musculoso, terminado em um bulbo esofagiano (cardíaco) Características que permite distinção entre machos e fêmeas Dimorfismo sexual nítido Machos – 3 a 5 mm; fêmea - 1 cm; Intestino terminado em reto e orifício anal nas fêmeas e cloaca nos machos; Sistema reprodutor: Fêmea: uma vagina e ovário, oviduto e útero duplos; Machos: 1 testículo, canal deferente e ejaculador terminando na cloaca de onde sai um espículo longo e retrátil projetado no momento da fecundação; Estrutura corporal: Fêmeas: corpo retilíneo, terminando numa região mais afunilada chamada de cauda; Machos: região posterior encurvada ventralmente protegendo a região da cloaca. Ovo Dimensões de 60 – 50 micrômetros x 20 micrômetros; Como no ovo há a presença de larva em desenvolvimento, a sua dobradura no interior dá ao ovo aspecto de letra D, ligeiramente achatado de um lado o que facilita sua identificação nas amostras; Possui externamente uma casca composta por uma dupla camada, lisa e translúcida; Os ovos são liberados da fêmea ainda em desenvolvimento e já larvados; Na superfície é encontrado uma substância viscosa de natureza albuminosa relacionada a sua aderência ao substrato, especialmente da mucosa anal e periana. Hábitat Adultos Encontrados no ceco humano, incluindo o apêndice cecal, podendo ocasionar apendicite; Livres ou aderidos à mucosa; A depender dos níveis de infestação e dos estágios de desenvolvimento outras regiões também podem ser acometidas: Adultos jovens – encontradas também no íleo; Imaturas – em todo o intestino delgado; Fêmeas repletas de ovos - ânus e região perianal; Em mulheres infectadas - regiões ectópicas como vagina e uretra devido à proximidade da região perianal. Ciclo biológico Relativamente simples, monoxênico, depende apenas de um hospedeiro. Inicia-se a partir do momento que o hospedeiro infectado libera no ambiente ovos larvados, contaminando-o podendo alcançar a cavidade oral de outros indivíduos suscetíveis e do próprio hospedeiro responsável pela liberação dos ovos. Uma vez alcançada a cavidade bucal, os ovos serão ingeridos liberando no intestino delgado suas larvas. As larvas que, até aqui, passaram por duas mudanças, migrarão ativamente do intestino delgado em direção a porção cecal do intestino grosso e durante este percurso, as larvas passam por mais duas mudas até que atinjam o estágio adulto. As formas adultas após ali se fixarem realizarão atividades de aquisição de nutrientes e fecundação das fêmeas, uma vez que os machos inocularão nas fêmeas os espermatozoides e após fecundadas e cheias de ovos se desprendem da região cecal e migram passivamente em direção a região anal e perianal onde podem se fixar ou liberar os ovos. Transmissão Ocorre pela ingestão de ovos contaminados, mas a ingestão até a região oral dos indivíduos pode acontecer por diversas formas: Heteroinfecção ou primo-infecção: ocorre em indivíduos ainda não contaminados e se dá através de ovos presentes em alimentos, poeira, fômites; Autoinfecção indireta: quando os indivíduos infectados são reinfectados por ovos liberados por eles mesmos causando infecções cíclicas; Autoinfecção externa ou direta: mediada, principalmente, pela presença dos sintomas anais e perianais em que na presença de prurido, de coceira intensa, os indivíduos, especialmente as crianças, tendem a levar a mão a esta região para coçar e a mão contaminada, muitas vezes, será o veículo de transmissão e autoinfecção; Autoinfecção interna: quando ovos presentes na região anal do indivíduo eclodem e as larvas migram novamente para a região cecal; Retroinfecção: ocorre quando os ovos eclodem na região perianal e as larvas reentram na região retal e alcançam novamente a região cecal. Patologia Uma vez ocorrida a infecção, a patologia será caracterizada como leve ou moderada, principalmente associada a aspectos irritativos decorrentes do prurido intenso devido a atividade parasitária na região anal e perianal, especialmente quando a diminuição da temperatura nessa região leva a uma maior atividade dos parasitas principalmente as fêmeas. Outras características relacionadas a patologia dependem de: Alterações intestinais causadas pelos vermes, irritação local a depender da quantidade dos vermes fixados a parede intestinal; Lesões anais e perianais pela presença das fêmeas e dos ovos. A sensibilidade antigênica na região; Lesões causadas pelo parasitismo ectópico na região da vulva, uretra, uma vez que o parasita pode ascender pela cavidade genital causando infecções vaginais e uterinas e associados a alguns tipos de infecção do trato urinário; Eventos secundários como a presença de bactérias na região intestinal irritada pela presença dos parasitas ocasionando a formação de estruturas granulomatosas em decorrência da atividade imunológica na região e uma pequena possibilidade da migração para regiões extraintestinais dos vermes adultos ocasionada por rupturas e lesões na região intestinal que pode promover a migração das larvas para regiões extraintestinais como o peritônio e em alguns casos, migração hematogênica dos parasitas. Diagnóstico Diagnóstico domiciliar na qual os coabitantes de um indivíduo infectado percebem a presença da infecção, principalmente em crianças pela visualização das fêmeas adultas na região afetada; O diagnóstico laboratorial nem sempre poderá ser realizado por técnicas coprológicas comuns, uma vez que essas técnicas revelam apenas de 5 a 10% dos casos, já que os ovos por conta da substância albuminosa secretada, relacionada a adesão dos ovos nas superfícies, faz com que os ovos permaneçam aderidos na região anal e perianal, sendo pouco a quantidade liberada nas fezes e que podem serdetectados nos exames de fezes comum. A técnica empregada no diagnóstico dessa infecção é comumente conhecida como técnica da fita adesiva ou técnica de Graham. Consiste na utilização de uma fita adesiva sobreposta a um tubo ou a um dedo protegido com uma luva e a fita é pressionada contra a região anal e perianal e se espera que havendo a presença de ovos, estes ficarão grudados na superfície da fita. A fita é retirada e utilizada como uma lamínula sobre uma lâmina que após montada pode ser levada diretamente ao microscópio para serem visualizados os aspectos morfológicos característicos dos ovos, que permite uma boa sensibilidade no diagnóstico da parasitose. Profilaxia Manejo e cuidado com as roupas, especialmente as íntimas; Corte frequente das unhas de crianças; Lavagem rotineira das mãos; Limpeza domiciliar com aspiração da poeira, já que esta pode ser um veículo de transmissão dos ovos; Avaliação doméstica de crianças com apresentação de prurido anal através de busca ativa na região; Tratamento das pessoas parasitadas da família e seus coabitantes. Tratamento Tratamento recomendado a todos coabitantes de indivíduos infectados: Albendazol – aproximadamente 100% de cura; Pamoato de pirantel – 80 a 100% de cura; Ivermectina – 85 a 100% de cura Mebendazol – cura superior a 90%; Piperazina – 80 a 90% de cura Pamoato de pirvínio - 90 a 95% de cura. Trichuris trichiura Nematódeo popularmente conhecido como “verme chicote” Homem x T. trichiura = principal hospedeiro e responsável pela manutenção da helmintose no ambiente; Inserido na família com representantes parasitas de diversas espécies de mamíferos, aproximadamente 70 espécies, entre as quais: - T. ovis (ovinos) - T. suis (suínos) - T. vulpis (cães) - T. muris (murinos) Parasita de ceco e cólon dos hospedeiros Agente etiológico da tricuríase, tricurose ou tricocefalose Parasita cosmopolita – alta prevalência em regiões tropicais e subtropicais Epidemiologia Dados epidemiológicos de 2015 mostram que a prevalência da tricuríase no Brasil é elevada já 10% que neste período 10% da população se encontrava infectada. As regiões mais importantes são: O Norte e faixa litorânea do Nordeste. Na Bahia, inquéritos indicam aproximadamente 5,7% de prevalência na população está infectada; Afeta principalmente crianças com idade inferior a 15 anos; A tricuríase é considerada uma geomitose, uma vez que esse helminto realiza parte de seu desenvolvimento em contato com o solo e por isso é muito comum ocorrência de coinfecção com Ascaris lumbricoides. Essa coinfecção está relacionada ao modo de transmissão e a parte do desenvolvimento desses vermes que são comuns. Taxonomia Helminto Reino Animalia Filo Nematoda Classe Enopla (Adenophorea) Sub-classe Dorylaimia Ordem Trichocephalida Família Trichuridae Gênero Trichuris Espécie T. trichiura Morfologia Apresenta forma de chicote; Verme adulto com extremidade anterior filiforme e posterior fusiforme; A cabeça se encontra na região mais afilada do verme, enquanto que a cauda está na região mais alargada posterior; 3 cm a 5 cm de comprimento; Dioico, com dimorfismo sexual e macho menor que a fêmea; Presença de curvatura na região posterior no macho; A abertura bucal na extremidade anterior Esôfago sem elementos musculares e margeado por células glandulares, os esticócitos que em conjunto formam uma estrutura chamada esticossomo. Apresenta porção posterior mais alargada pela presença de intestino e órgãos sexuais Os órgãos reprodutores são simples e de conjunto único; No macho, projeta-se da cloaca, um longo espículo envolvido por uma bainha cuticular recoberta de espinhos; Fêmeas possuem um único ovário, seguido de oviduto, útero e vagina; Ovo Apresenta dimensão de 50-55 micrômetros x 25 micrômetros; Formato de bola de futebol americanos por possuírem 2 opérculos e tampões mucoides; Embrião no interior do ovo é não segmentado, unicelular e sem divisão; Externamente tem uma casca lisa, de cor amarelo-dourada devido seu contato com a bile e composta por 3 camadas: lipídica externa, quitinosa intermediária e vitelínica interna; essa casca, com suas camadas, é importante para a resistência dos ovos quando em contato com o solo; São postos de 3 mil a 5 mil por dia e embrionam apenas no momento de contato com o meio externo, com o solo. Por isso o T. trichiura é classificado como um geohelminto, pois é necessário o contato dos ovos com o solo para que prossigam a diferenciação. Habitat Normalmente parasitam o ceco e cólon ascendente de seus hospedeiros; Mas em infecções graves podem ser encontrados em outras porções do intestino como cólon distal, reto, íleo e apêndice; Considerado um parasita tissular, uma vez que a face esofagiana fica inserida no epitélio intestinal do hospedeiro de onde vai extrair suas substâncias nutritivas como muco e células, especialmente restos de enterócitos e possivelmente também se alimenta de sangue; Apenas a região posterior do parasita fica lançada na região do lúmen intestinal, na cavidade intestinal. Toda a região esofagiana da porção mais afilada do parasita estará inserida na parede intestinas dos indivíduos parasitados; Ciclo biológico Ciclo simples, monoxênico, necessidade de apenas um hospedeiro. O hospedeiro uma vez infectado liberará por meio de suas fezes ovos não embrionados. Os ovos nas fezes ao entrar em contato com o solo, iniciarão o processo de embrionamento, impulsionados por características ambientais, por exemplo temperatura, até o ponto em que se observa uma larva interna ao ovo. Os ovos larvados poderão ser ingeridos por um novo hospedeiro suscetível e uma vez deglutidos, irão eclodir liberando as larvas, que por sua vez migrarão e penetrarão pelas criptas intestinais, onde permanecem realizando suas mudas, seus 4 estágios até que se apresentem na forma adulta aptos a realizarem a reprodução sexuada e darem início a um novo ciclo de liberação de ovos e infestação do ambiente. Transmissão Depende da ingestão de ovos que são liberados nas fezes caracterizando uma transmissão basicamente fecal – oral, na qual partículas de fezes podem estar sobre materiais, alimentos e água podendo, eventualmente, serem ingeridos por hospedeiros suscetíveis iniciando a infecção; Há possibilidade de os ovos serem carreados por vetores mecânicos como moscas e outros insetos que podem carregar na sua estrutura corporal os ovos de uma região para outra durante suas atividades de voo e alimentação; Podem, também, ativamente contaminar alimentos e mãos que não forem constantemente e corretamente higienizadas; Em alguns locais través da geofagia, hábito de comer terra; Patologia A infecção por T. trichiura geralmente começa de forma assintomática; A presença de sintomas pode ocorrer, mas depende da carga parasitária; A OMS classifica essa infecção em: Leves: < 1000 ovos/g de fezes Moderadas: 1000 – 9999 ovos/g de fezes Graves: > 9999 ovos/ g de fezes Os sintomas vão desde intestinais discretos (pequeno aumento dos movimentos peristálticos e algum desconforto intestinal) em casos leves; dores de cabeça, dor epigástrica e no baixo abdômen, diarreia, náusea e vômitos em casos moderados; e síndrome disentérica crônica (evacuações constantes, líquidas e prolapsos retais especialmente em crianças) em casos graves. Diagnóstico Pesquisa de ovos nas fezes por diversos métodos preferencialmente que permitam avaliação qualitativa e quantitativa; Para avaliação de carga parasitária: técnicas como a de Stoll ou a de Kato-Katz (preferência); Outras como McMaster e Flotac baseadas na flutuação dos ovos em solução mais densa que a água, têm sido eficazes; Identificação de vermes adultos por colonoscopia
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