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Pé Diabético Definição - O “pé diabético" é uma infecção, ulceração e/ou destruição tecidual que ocorre no pé do paciente diabético - Normalmente está associado a neuropatia e/ou angiopatia Epidemiologia - Existem 240 milhões de diabéticos no mundo (OMS) - Segundo uma projeção, em 2025 6,3% da população adulta no mundo terá DM (aumento de 72% em relação a 2003) - Qual a importância do pé diabético? • 10 a 15% dos diabéticos sofrem uma amputação durante a vida • 40% sofrem uma segunda amputação nos próximos 5 anos após a primeira amputação • 60 a 95% das amputações dos MMII nos diabético são precedidas de uma úlcera • 50% das amputações não traumáticas ocorrem em diabéticos Fisiopatologia - Tríade do pé Diabético = Neuropatia + Angiopatia + Infecção - Normalmente o pé diabético ocorre em pacientes com DM não controlada Pé Diabético Neuropático - Ocorre uma pan-neuropatia —> acometimento dos nervos sensitivos + nervos motores + sistema autônomo - Existem 2 teorias que, em conjunto, explicam a patogênese: • Teoria Vascular: • Microangiopatia do vasa-vasorum —> isquemia da parede do nervo —> isquemia total do nervo • Teoria Metabólica/Bioquímica: • Ausência de insulina —> aumento de substâncias tóxicas (sorbitol e frutose) + diminuição do mioinositol —> alteração das células de Schwann - Normalmente a neuropatia inicia em MMII de forma ascendente (acomete primeiramente os pododáctilos e depois pé e perna) - A perda de sensibilidade dolorosa causa perda de sensação de proteção, favorecendo o desenvolvimento de feridas e posterior úlceras - O acometimento motor gera atrofia da musculatura do pé, causando um desequilíbrio entre musculatura extensora e flexora —> deformidades osteoarticulares - Com os traumatismos de repetição ocorre uma hiperceratose, que evoluir para o Mal perfurante plantar (úlcera neuropática) • Características das úlceras do mal perfurante plantar: • Úlceras profundas de bordos colosos e arredondados • Exposição de tendões e/ou ossos • Pode ou não apresentar secreções • Totalmente indolores! - A lesão do sistema nervoso simpático gera autosimpatectomia: • Perda do tônus vascular —> vasodilatação —> aumento das comunicações arteriovenosas —> • Redução da nutrição dos tecidos • Alteração de crescimento da matriz ungueal • Anidrose • Fissuras (porta de entrada para infecções) • Aumento da reabsorção óssea - Com a evolução da neuropatia pode ocorrer o chamado “Pé de Charcot”: • Desabamento do arcabouço osteoarticular —> instabilidade articular —> degeneração, luxação, subluxação e fraturas articular —> “desmoronamento do pé” • Pode ser agudo ou crônico: • Agudo: sinais de inflamação, ausência de infecção e dor pode estar presente ou ausente • Crônico: deformidades mais aparentes e ulcerações plantares Diagnóstico do Pé diabético Neuropático - Alterações sensoriais: • Dor que piora noite (queimação, pontadas, agulhadas) — com a evolução da doença a dor desaparece • Parestesias, hipoestesias e anestesia • Normalmente começa pela extremidade - Alterações motoras: • Atrofia da musculatura intrínseca do pé • Deformidades osteoarticulares (dedo em martelo, dedo em garra, hálux valgus, calosidade em locais de pressão) • Úlceras - Alterações autonômicas: • Diminuição da sudorese, ressecamento da pele e fissuras • Vasodilatação (pele rosa = “pele de lagosta”) - Exames auxiliares: • Teste de monofilamento/estesiômetro: pesquisa dos nervos sensitivos em 10 pontos • Teste do martelo (avalia os reflexos) • Teste do diapasão (avalia sensação vibratória) • Teste da dor • Teste da temperatura • Eletroneuromiografia (avalia a velocidade de condução dos nervos) Tratamento do Pé diabético Neuropático - Tratamento da dor: • Controle rigoroso dos níveis glicêmicos • Fármacos (antidepressivos tricíclicos, ISRS, anticonvulsivantes, opioides) - Tratamento da úlcera: • Repouso • Curativos • ATBterapia (se infecção) • Desbridamentos (químico e/ou mecânico) • Cirurgia para melhorar a área de apoio (ex: tenotomia dos flexores, osteotomia e ressecção parcial ou total da cabeça de metatarsianos envolvidos) • OBS: A úlcera diabética é de difícil cicatrização e com alta taxa de recidiva Pé Diabético Angiopático - A angiopatia da doença diabética é dividida em: 1. Microangiopatia: • Comprometimento dos capilares da pele, retina e rins • Relacionada ao espessamento da membrana basal vascular —> diminuição da luz dos capilares —> oclusão arterial • Em casos graves pode evoluir para necrose e desvitalização dos tecidos envolvidos 2. Macroangiopatia: • Comprometimento de vasos maiores • Há o estabelecimento de placas de ateromas • Semelhante a doença aterosclerótica dos pacientes não diabéticos (porém o quadro é mais precoce e com evolução acelerada) - Características da aterosclerose em pacientes diabéticos: • É mais frequente • Afeta indivíduos mais jovens • Não há diferença quanto ao sexo • Progride mais rapidamente • É multisegmentar • Tende a afetar vasos menores abaixo dos joelhos (em detrimento dos seguimentos aorto-ilíacos) Diagnóstico do Pé diabético Angiopático - Sinais e sintomas de doença arterial: • Alterações de cor (palidez, cianose e rubor) e temperatura • Claudicação intermitente • Alteração de pulsos periféricos • Dor ao repouso (em fases mais avançadas de isquemia crítica) • Ulceração • Gangrena • Alteração dos pulsos periféricos - Exames auxiliares : • Ecocolordoppler • Doppler com índice tornozelo/braquial • Angiotomografia e angiorresonância • Arteriografia • OBS: os exames auxiliares não servem para diagnóstico, mas sim para acompanhar a evolução da doença Tratamento do Pé diabético Angiopático - Dividido em clínico e cirúrgico - Tratamento clínico: • Deve ser realizado em todos os pacientes (independente do tratamento cirúrgico) • Fármacos: • Vasodilatadores (cilostazol) • Anticoagulantes + Antiagregantes plaquetários (Xarelto + AAS) • ATBterapia (se necessário) - Tratamento cirúrgico: • Endovascular (angioplastia e stent) • Revascularização (pontes - preferencialmente com veia safena) • Desbridamento amplo e precoce • Amputação (limitada ou alta) Pé Diabético Infeccioso - Na grande maioria das vezes o pé diabético infeccioso está associado a neuropatia e angiopatia - Além disso, os diabéticos apresentam uma disfunção imunológica que os tornam mais suscetíveis aos quadros infecciosos - Portas de entrada a infecção: • Traumas • Úlceras • Lesões interdigitais • Lesões periungueais - Microbiologia (Flora polimicrobiana): • Em lesões superficiais —> bactérias Gram-positivas (S. Aureus e S. Epidermidis) • Em lesões profundas —> bactérias Gram-negativas (proteus, e. Coli, pseudomonas) e germes anaeróbios Diagnóstico do Pé Diabético Infeccioso - Depende da gravidade e da profundada do quadro infeccioso - É muito comum o paciente referir uma descompensação do quadro diabético - Clinicamente: • Sinais inflamatórios • Drenagem de secreções purulentas por lesões ulceradas • Febre e leucocitose podem ou não estar presentes - Exames auxiliares: • Cultura e antibiograma • Hemocultura • Raio x do pé • Ressonância magnética Cintilografia óssea Tratamento do Pé Diabético Infeccioso - Repouso - ATBterapia de largo espectro (muitas vezes associado a antifúngicos) - Drenagem, desbridamento e amputações quando necessário - Tratamento das complicações (ex: anemia, DM descompensada, etc) - Tratamento das doenças associadas (ex: HAS, cardiopatia, etc) Prevenção do Pé diabético - Higiene adequada - Evitar água quente - Olhar os calçados antes de colocar para retirar corpos estranhos - Enxugar sempre os espaços interdigitais - Hidratar o pé (exceto os espaços interdigitais) - Cortar as unhas retas - Examinar os pés diariamente - Usar meias de algodão sem costura e sem elástico - Usar sapatos confortáveis
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