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Introdução O conteúdo que segue tem por objetivo esclarecer o significado de Teologia Pastoral, uma vez que é imprescindível ao Curso de Teologia. Teologia Pastoral ou Poimênica, em sua profundidade, mormente ao aperfeiçoamento do estudante de teologia, tem a pretensão de alcançar e formar uma consciência estável naqueles que são chamados e enviados para realizar a obra de Deus na terra. Teologia Pastoral é todo o empreendimento que tem sua base na revelação bíblica, que compreende em si toda a metodologia para formar a natureza do ministério pastoral. Esse ministério é a própria liderança que tem a missão de reger a vida eclesial. Toda a realidade da existência eclesial não pode prescindir da natureza do ministério pastoral, uma vez que a sua constituição tem sua origem no chamado divino. Toda realidade divina é realidade que se configura com expressão que se desdobra na existência de modo útil e saudável para o cumprimento de uma obra que tem de ser executada, pois é fruto do próprio Deus que estabeleceu uma ordem para salvar o mundo da desordem. O modo pelo qual se realiza esse empreendimento, com suas características próprias, que divergem da maneira dos homens dirigem suas propriedades particulares, é o que a Teologia Pastoral trata. 1. O termo Igreja e o conceito de Pastoral • O que é a Igreja? A Igreja é o Povo de Deus através da experiência de gratuidade. É o povo eleito que vive a comunhão com o próprio Deus, com a humanidade e com o cosmo. Compreende-se melhor a Igreja quando se pode examinar a origem do termo igreja, bem como a sua própria natureza. Origem do termo igreja A Bíblia, em tempo algum, faz uso da palavra igreja relacionada a um prédio, denominação, ou ainda somente à influência cristã na sociedade. O termo grego para igreja no Novo Testamento é ekklesia, é usado para designar o novo povo de Deus. No grego secular a palavra ekklesia não tem sentido religioso. Na LXX é considerado um termo técnico para significar no hebraico o QAHAL YHAWE, a “Congregação do Senhor”. Este termo, tirado da realidade do mundo, é muito significativo, pois indica um chamamento dos cidadãos, em Cristo, de dentro do mundo, para se reunirem diante do Senhor. As expressões EKKLESIA THEOU (Igreja de Deus) ou EKKLESIA CHRISTOU (Igreja de Cristo), revelam o significado da verdadeira Igreja. EKKLESIA é constituída da raiz do verbo KALÉO (chamar). Logo, a Igreja é mais do que uma agregação de pessoas, porém uma congregação. É mais do que uma organização, uma denominação, é o povo de Deus. É um povo em constante movimento, que se expressa na existência de maneira autêntica, seu testemunho a respeito das grandezas de Deus. Há outra palavra no Novo Testamento, derivada da LXX que é SYNAGOGE, que se deriva de SYN + AGO, que significa “chegarem juntos” ou “estar reunidos juntos”. Esta palavra é exclusiva para denotar as reuniões dos judeus no aspecto religioso (sinagoga). O povo de Deus é aquele que está junto, e que caminha junto, numa mesma direção. A natureza da Igreja Quem fundou a Igreja? Esta é uma pergunta feita pela exegese moderna. É considerada uma problemática. Em que sentido se fala em fundação da Igreja? Em que sentido Jesus Cristo fundou a Igreja? Através da origem se manifesta a essência da Igreja. Pode-se considerar que a Igreja foi pensada a partir de uma caminhada histórica. É o mais importante projeto de comunidade desenvolvido pelos seguidores de Jesus Cristo. Jesus se encontrava com as pessoas e estabelecia uma relação com elas. Depois, com a morte do Senhor há uma ruptura nessa relação, mas é restabelecida na ressurreição. Os discípulos dão testemunho a respeito do Senhor ressurreto (Atos 2.24,32). A Igreja é o verdadeiro modelo da ordem de Deus neste mundo. A comunidade petrina entendeu o verdadeiro sentido da Igreja: Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia (1 Pedro 2.9-10). Vejamos os significados de alguns termos importantes para compreensão da eclesiologia petrina, retirados do texto neotestamentário: “Geração Eleita” - significa que Deus elegeu um povo para proclamar a Sua graça. Essa eleição foi a decisão divina numa perspectiva eterna. Foi a experiência da gratuidade divina. Deus salva por graça e não por méritos de alguém. Os méritos são os de Cristo Jesus, o Filho Unigênito de Deus. “Sacerdócio Real” - A Igreja é sacerdotal, porque Cristo é o Sumo Sacerdote. É a tarefa do antigo Israel no Sinai, de ser uma nação sacerdotal aos gentios (Êxodo 19.6). A Igreja é o sacerdócio instituído pelo próprio Deus, a fim de que a humanidade tenha acesso ao Seu Reino e possa oferecer-lhe dádivas aceitáveis. A Igreja é sacerdotal quando aponta à humanidade o propósito de Deus em Cristo Jesus, que é o melhor projeto de vida já elaborado. “Nação Santa” - Santa, quer dizer “separada”. A Igreja é de Deus. Santa, não quer dizer isolada do mundo, mas que deve viver a articulação: Igreja, Reino de Deus e Mundo. Santa, porque é de Deus e não de homens (possessão). A Igreja foi tirada do mundo para proclamar a Palavra de Deus aos homens e as mulheres. A Igreja é a Comunidade dos santos; daqueles que crêem e que são santificados em Cristo, e que estão unidos com Ele, numa dimensão relacional com o Ressurreto que se desdobra na fraternidade ensinada pela Sagrada Escritura, principalmente o Novo Testamento, a partir das próprias palavras de Jesus em João 17. Na perspectiva de Lucas a Igreja é definida como a comunidade que crê e cujo coração é um (Atos 4.32). Em Efésios, consta “um só corpo, um só espírito, assim como foram chamados em uma só esperança” (Efésios 4.4). A Igreja na Patrística apresentava duas faces: mistérica e institucional. A partir destas duas faces a Igreja vivia: Na face mistérica a Igreja se expressava como a comunidade de salvação. Ela celebrava a fé, começando pela Palavra, que não foi vivida de forma individualista, mas em sentido comunitário, dentro da congregação dos fiéis. A mesma fé caracterizava a vida da Igreja. Na Eucaristia, a fé determina a Igreja em sua trajetória. EKKLESIA (1 Coríntios 11.18). Na fé tem-se a semente da Igreja. A fé é o primeiro momento da Igreja. A Igreja transforma a Palavra em ação. Quem acolhe a Palavra tem de transmiti-la. A essência é viver cada momento. O apóstolo Paulo utiliza muito essa palavra (Efésios 5.21-32). A Igreja é o Corpo de Cristo: aliança amorosa. Paulo chega a fazer esta profunda declaração: “Grande é esse mistério.” Na face institucional, a Igreja era minoritária; era uma Igreja nova. Era bem diferente do judaísmo e dos cultos pagãos. Características: alegria, expansão missionária e muito dinamismo. Era ela um “pequeno rebanho” que vivia o amor, a compaixão, a solidariedade e a misericórdia. Tudo isso, em contraste com o mundo de poder e autoridade não condizentes com a vontade de Deus. Uma Igreja missionária A missão da verdadeira Igreja de Cristo Jesus é mais do que proceder de forma paternalista. É participar da reconstrução do mundo, como Jesus procedeu. É reintegrar de modo pleno a pessoa no Reino de Deus. Não utilizar somente a Palavra como teoria, mas na prática mostrar a operosidade que procede de Deus. A Igreja precisa estar atenta às carências das pessoas, e oferecer-lhes o conforto de que tanto precisam. Permanecendo na cidade até quando? Em Lucas 24.49 está registrada uma ordem de Jesus dada aos seus discípulospara que permanecessem na cidade de Jerusalém. Mas, essa permanência seria por pouco tempo e não definitivamente. Eles não deveriam ficar acomodados, observando os acontecimentos sem uma ação dinâmica. Até quando deveriam permanecer em Jerusalém? “Até que sejais revestidos de poder (dínamis) do alto”. É lamentável que pessoas não entendam as palavras do Senhor, e permaneçam dentro de si mesmas, ou de suas paredes, ainda, das quatro paredes de um templo, a fim de não cumprirem a vontade de Jesus Cristo, como se de fato fosse assim mesmo: adoração sem compromisso com a missão de fazer discípulos de todas as nações. O Espírito Santo foi enviado para capacitar a Igreja; dar-lhe poder para realizar a missão confiada de ir por toda parte e proclamar as boas novas de salvação a todas as pessoas. Esse poder contrasta com qualquer poder extático, energético, sobrenatural. Jesus prometeu enviar o Espírito: “da minha parte, eu vou enviar-vos o que meu Pai prometeu.” Esse envio do Santo Espírito foi justamente para capacitar a Igreja a fim de realizar a sua missão no mundo. E, a missão da Igreja é a missão de Jesus. A Igreja quando entende a sua missão acomodada na história, não se caracteriza e se realiza como povo de Deus. A Igreja que desejamos é aquela que descortina novos horizontes e encarna na existência humana o projeto de Jesus Cristo. A sua missão constitui a opção pelos pobres e marginalizados e por todas as pessoas a quem Deus enviar para receber a salvação, que é a reintegração total do ser humano. Aos ricos, à conversão, no sentido de haver partilha. Aos pobres, lutar por seus direitos em todos os sentidos. Tudo isso não condiz com o “permanecer na cidade”. O ato de “permanecer na cidade” constante no Evangelho de Lucas, não pode ser entendido sem o desdobramento da frase “Até que do alto sejais revestidos de poder”. Recebendo o dínamis do Espírito Santo Em Atos 2.1-13, ao cumprir-se o Dia de Pentecostes, Deus enviou o Seu Espírito para dinamizar a Sua Igreja. A promessa feita foi cumprida, porque o Deus que promete é o Deus que cumpre. Deus é fiel ao cumprimento de Sua Palavra. Ela não pode falhar. No Antigo Testamento a palavra “ruah” é traduzida por vento, sopro, força de vida (Êxodo 15.8-10; Isaias 11.4; 40.7; Gênesis 2.7). Força misteriosa é a força de Yhawe. O Espírito de Deus é força de vida e criação (Gênesis 2.6; 6.2,17; 7.15,22). O Espírito como força psíquica operante (Juízes 13.25; 14.6; 14.19; 15.14, 3.10; 6.34; 11.29; 1 Samuel 11.6). Nestes textos constam que, homens realizaram obras extraordinárias, alcançaram vitórias inesperadas, sob o impacto do Espírito de Deus. O Espírito de Deus se comunica constantemente ao povo através dos profetas (Zacarias 7.12; Isaías 48.16). O Espírito de Deus inspira transformação. No Novo Testamento, o Espírito Santo é força, dínamis. É mais pessoal; é “alguém”. Nos evangelhos sinóticos, a exceção de Mateus 28.19, nenhuma dessas escrituras apresenta o Espírito Santo como pessoa, mas como força. Am Atos, o Espírito de Deus é concebido como força. A Igreja nasce por ocasião do Pentecostes. O Espírito de Deus dá coragem, força aos pregadores do Evangelho. Não poderia ter havido um dia tão especial como foi o Dia de Pentecostes, para que a Igreja pudesse provar do dínamis de Deus, e apresentar os primeiros frutos: três mil batizados, após ouvirem o discurso de Pedro (Atos 2.14-41). Quem recebe o dínamis de Deus, não o recebe para conforto de si mesmo, mas para realizar a vontade de Deus. Viver no Espírito é viver uma maneira nova. É uma nova criação que responde com um “sim responsável”. A Igreja que desejamos é a Igreja que vive a liberdade do Espírito de Deus, sempre preparada para obedecer a todos os imperativos de Jesus em favor dos oprimidos e marginalizados pelo pecado, que, a cada dia, execra a vida humana. Assim, torna-se o que recebe a graça de Deus, obediente dentro do Corpo de Cristo. Obediência aos imperativos de Jesus Cristo O próprio Jesus é a grande mensagem da Igreja. Ele é a salvação que se fez Pão; o Pão da Vida. Jesus não autorizou a nenhum de seus discípulos praticar a omissão. Em Romanos 1.16, Paulo diz: “Pois não me envergonho do Evangelho: ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, do judeu primeiro, e depois do grego.” O Evangelho é o DÍNAMIS TOU THEOU (poder de Deus). Fundamentado no Amor (agápe), o Senhor ordenou a Sua Igreja, pelo menos três pontos fundamentais: Primeiro - Pregar as Boas Novas; evangelizar. A Igreja tem a missão de ser a voz de Deus no meio do povo. Neste mundo há corrupção, injustiça, pobreza, miséria, discriminação e muitos infortúnios. No entanto, a Igreja, Povo de Deus, marca a sua presença na sociedade, sendo o “Sal da terra” e a “Luz do mundo” (Mateus 5.13,14). Ela tem de denunciar a injustiça, o analfabetismo, a doença, a falta de consciência política, o desamor e todos os pontos negativos que obstruem a vida. Os textos são bem claros sobre esses pontos (Mateus 28.18-20; Marcos 16.15-20; Lucas 10.1-11; Atos 1.8). Destarte, evangelizar não é uma opção. Segundo - “Batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”. O Batismo é desde o início da Igreja (1 Coríntios 12.13; 1.10-17; Romanos 6.3ss). Antes de o Cristianismo surgir havia o batismo de prosélitos. Rito de iniciação, junto com a circuncisão para o ingresso no judaísmo, por causa das pessoas serem impuras. A pessoa tornava-se uma nova pessoa e se submetia a Torá (Lei). João Batista, através de sua experiência apela à conversão, numa tentativa de retomada à purificação. Convém lembrar que, João Batista batizou Jesus, com o sentido de entrar neste movimento do povo (Lucas 3.2ss). Os discípulos de Jesus também administravam o batismo (João 3.22; 4.2). A Igreja primitiva começou a batizar utilizando o referencial existente. Os batizados eram admitidos na Igreja como prova da nova vida em Cristo, onde não havia mais desigualdades nessa nova vida (Gálatas 3.28). Todos formavam uma unidade. É assim que a Igreja deve fazer na sua missão nos dias hodiernos. Terceiro - A celebração da Eucaristia. Testemunhos da celebração eucarística: (1 Coríntios 11.23-25; Lucas 22.15-20; Marcos 14.22-25; Mateus 26.26-29; 54-56). Realidade e sentido da Ceia: Jesus, o anfitrião da Mesa. Ele é aquele que acolhe. As palavras do Senhor ressurreto foram entendidas pelos discípulos. Diante da Mesa do Senhor, os homens participam da realidade salvífica e da morte redentora de Jesus. A Santa Ceia possui um caráter profundamente teológico: 1. Tem perspectiva de passado: É memória da morte de Jesus; 2. Tem perspectiva de presença: refeição da aliança e comunhão entre os cristãos; 3. Tem perspectiva de futuro: a plena comunhão do Senhor com todos. A Igreja que desejamos é esta: sempre obediente a Jesus Cristo, o Senhor, em todos os aspectos. As três qualificações da Autoridade de Jesus: 1. A autoridade pregadora de Jesus. É enfatizada pelo evangelista Mateus. Jesus pregava como quem tinha autoridade. Mateus com muita ênfase destaca a pregação de Jesus. O Sermão do Monte: Mt 5, 6 e 7. Mt 24: “O Pequeno Apocalipse”; o Sermão Profético. Essa autoridade pregadora, Jesus transferiu para os seus discípulos (Mateus 28.18-20). A autoridade fora passada aos discípulos, a fim de que, com autoridade, fizessem outros discípulos, de todas as nações. 2. A autoridade curadora de Jesus. É enfatizada pelo evangelista Marcos. Jesus curou muitos doentes (Mc 1.32-33; 40-45; 2.1-12). Todos quantos pediram ajuda, Jesus com grande misericórdia os atendia. Essa autoridade curadora. Jesus transferiu aos seus discípulos (Mc 16.15-18). 3. A autoridade perdoadora de Jesus. É enfatizadapelo evangelista Lucas. Jesus perdoou e também ensinou aos seus discípulos a praticarem o perdão. Lucas 6.37: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.” Jesus transferiu a autoridade perdoadora aos seus discípulos. Eles deveriam exercitar o perdão, que é divino e faz bem à comunidade. O que há em comum nas qualificações de autoridade de Jesus é a TRANSFERÊNCIA. Jesus transferiu aos seus discípulos: a pregação; a cura; e, o perdão. No desempenho de sua missão como “enviada” a Igreja propagará os ideais do Reino de Deus no mundo, utilizando seus dons (carismas) (espirituais). • O conceito de Teologia Pastoral Teologia Pastoral é a ciência que trata da Obra Pastoral. É o ensino que trata cuidadosa e sistematicamente, de acordo com a Palavra de Deus, as múltiplas funções do ministro do Evangelho, abrangendo a administração da Igreja. Objetivos Preparar homens e mulheres de Deus para exercerem uma liderança pastoral nos campos missionários e assumirem funções pastorais nas responsabilidades do ensino institucional. Visa tanto pastores experientes como jovens em preparação ou no início do ministério, no sentido de alcançar uma performance no desempenho cristão. A amplitude dessa ciência, Teologia pastoral, lida com a natureza bíblica do que deve ser o pastor ou o obreiro como pessoa e com a maneira pela qual ele deve ministrar na Igreja. Segundo John MACARTHUR, JR, os três objetivos do Ministério Pastoral são: 1. Validar os absolutos bíblicos do ministério pastoral, exigidos por Deus, isto é, responder à pergunta: “Qual é a autoridade que temos para estabelecer uma filosofia de ministério?” 2. Elucidar as qualificações bíblicas para pastores de igreja, isto é, responder à pergunta: “Quem são os subpastores autorizados por Deus para cuidar do rebanho de Cristo?” 3. Delinear as prioridades do ministério pastoral, isto é, responder à pergunta: “Quais são os fatores envolvidos em um ministério pastoral fundamentado nas Escrituras?” Há uma preocupação hoje com uma tendência crescente de se produzir líderes fortes que sabem como administrar um negócio ou empreendimento, mas que não compreendem a igreja a partir da perspectiva de Cristo. Adotam um estilo de liderança que nada tem a ver com o ensinamento bíblico. Alguns líderes contemporâneos da igreja imaginam que são empresários, profissionais da mídia, artistas, psicólogos, filósofos ou advogados. Essas noções contrastam com o teor do simbolismo que as Escrituras empregam para descrever os líderes espirituais. Embora as Escrituras empreguem várias metáforas para descrever os rigores da liderança, conforme 2 Tm 2, todas essas figuras evocam idéias de sacrifício, labuta, serviço e dificuldades. Demonstram com grande eloquência a complexidade e as várias responsabilidades da liderança espiritual. As exigências de uma liderança espiritual são: ➢ Caráter irrepreensível ➢ Maturidade espiritual ➢ Disposição para servir com humildade A liderança da Igreja é um ministério, não uma gerência. O chamado daqueles a quem Deus designa como líderes não é para a posição de reis, mas de humildes escravos; não de celebridades refinadas, mas de servos trabalhadores. Os que forem liderar o povo de Deus devem, acima de tudo, ser um exemplo de: ➢ Sacrifício ➢ Devoção ➢ Submissão ➢ Humildade Jesus mesmo deu o exemplo quando se abaixou para lavar os pés de seus discípulos, uma tarefa que costumava ser cumprida pelo menor dos escravos (Jo 13). Se o Senhor do universo fez isso, nenhum líder de igreja tem o direito de se considerar elite pastoral. 2. Os Cinco Ministérios eclesiais segundo Efésios Os diferentes carismas elucidados na Escritura dão estrutura à Igreja para que cumpra sua apostolicidade. Os textos são os seguintes: 1 Coríntios 12.1-4; 27-31; Romanos 12.3-8 e Efésios 4.7-13. CRITÉRIOS PARA SE SABER QUE É DOM DO ESPÍRITO SANTO: 1. Confessar a Jesus como Senhor (1 Coríntios 12.3) 2. Exercitar o Serviço (1 Coríntios 12.7; Efésios 4.12) 3. Viver a Unidade (1 Coríntios 12.4-13) 4. Praticar a Caridade (1 Coríntios 13, o carisma do maior Dom, o amor) O carisma não é privilégio somente dos ministros. É necessário ler as epístolas a Timóteo (1ª e 2ª), para se entender biblicamente este assunto que é tão importante para a vida da Igreja. Para verificação da diversidade de carismas, deve-se observar as listas de dons, segundo no Novo Testamento: TRÊS ESPÉCIES DE DONS 1. CARISMAS DA PREGAÇÃO 2. CARISMA DE MINISTÉRIO AUXILIAR APÓSTOLOS PROFETAS PASTORES MESTRES EVANGELESTAS EXORTADORES DIÁCONOS: OS QUE CUIDAM DOS DOENTES E DAS VIÚVAS Os carismas não são de pessoas especiais da Igreja, detentoras de dons, mas de toda a comunidade. O carisma sempre depende da graça divina (karis). Os carismas devem ser articulados nas seguintes perspectivas: • CARISMA VOCAÇÃO SERVIÇO Como apostólica, a Igreja se desenvolve no sentido de existir para fora; é ela enviada por Deus para ser uma bênção no mundo. Como nunca, necessitamos viver o cristianismo de modo concreto, sincero e objetivo; sem medo de encarnar na história os ideais do Reino de Deus, pois Ele sendo o Senhor da Igreja, pelo Seu Espírito dinamizador, impulsionará a Sua comunidade a viver intensamente esses ideais. Não podemos contemplar uma Igreja estagnada, sem projeto, sem ousadia e sem visão real de sua missão neste mundo, descomprometida com a prática de vida profundamente missionária. Não podemos viver somente pela e para a instituição, mas como organismo vivo que é o povo de Deus, caminhando no sentido de que se experimente a articulação: Reino de Deus, Igreja e mundo. Faz-se necessário essa articulação, e logo os frutos surgirão como produto desse engajamento natural, não como ideal platônico. Desejamos uma igreja e não um projeto de igreja que muitas vezes não sai do papel, que não se mexe, que não se incomoda com as pessoas que estão andando sem direção. Não desejamos uma igreja 3. CARISMAS DE GOVERNO PRESIDENTES EPÍSCOPOS PASTORES eclesiocentrista, mas aberta a todas às questões que envolvem o ser humano como pessoa, indistintamente. Uma Igreja alegre por se identificar como Igreja de verdade, na perspectiva da comunhão sincera, onde todos comunguem o verdadeiro amor, aquele amor de 1 Coríntios 13: o Amor que não é mercantilista, antes abnegado. Uma Igreja que detenha em seu bojo o verdadeiro conceito de missão: saindo de si mesma, para alcançar os pobres e marginalizados, e chamar todos à conversão. Uma Igreja que viva sob o poder do Espírito Santo, sem medo de realizar o bem. É essa a Igreja que todos que obedecem aos imperativos de Jesus, exercitando a fé, a esperança e o amor, que se constituem o fundamento da própria missão eclesial, formam o exército de Deus imbatível para ser uma bênção no mundo. Uma Igreja de verdade, que encarne o dinamismo, e não viva como se não fosse igreja, mas comprometida com as suas dimensões e propriedades na história dos mortais, apontando os sinais de unidade em Cristo, de santidade como povo de propriedade peculiar de Deus, como católica, abrindo-se a todos e apostólica pelo exercício dos carismas espirituais para o seu próprio crescimento. É essa a Igreja que desejamos. E, com toda a certeza, a partir de uma consciência revestida de seriedade, alcançaremos essa realização pela luta de cristãos sinceros que entendem o projeto do Reino de Deus através do ensino de Jesus Cristo. 3. A Igreja como Corpo de Cristo A doutrina da Igreja temcomo parâmetro uma teologia genuinamente bíblica em seu escopo. Ela, antes de tudo tem seu fundamento na Santíssima Trindade, porque a própria Trindade é comunidade que implica para a vida plena. Somente se pode pensar em Igreja a partir do instante em que se analisa o que é ser igreja à luz do que ensina a Palavra de Deus. Quando se pensa em Igreja se pensa em fé cristã em Deus. A Igreja é uma comunidade concreta; comunidade empírica no mundo de outras comunidades e organizações terrenas. A Igreja não é uma ilusão, mas uma realidade, porque é o Deus Trino o seu autor. A relação da Igreja com Deus é uma relação corporificada. Isso dá a chance de incluir profundas dimensões: social, psicológica, econômica, política, física. Desta forma, deve-se pensar na Igreja como um organismo vivo. É a Igreja o povo de Deus que é o Corpo de Cristo no mundo. Assim, a teologia contempla a Igreja em profundo relacionamento com Deus. A Igreja somente pode partir da Palavra de Deus, daí é que se evidencia o seu fundamento. A Palavra apresenta o Deus Trino agindo de modo dinâmico. Sendo a Igreja o projeto histórico de Deus, ela não pode agir de outra forma, senão segundo o agir da Santíssima Trindade. A Igreja tem a consistência de ser o genuíno povo de Deus, composto de crentes congregados pelo Espírito Santo, através dos meios de graça. Povo esse que vive a dinâmica da fé, não centralizada em si mesma, mas se movendo na dimensão da construção de um mundo novo. “A Igreja é a comunidade que está explicitamente centrada na articulação e revelação dos propósitos de Deus em Jesus Cristo”. Da mesma forma que os propósitos de Deus foram explícitos em Jesus Cristo, que agiu sob o poder do Santo Espírito, assim também é a Igreja na história. Assim se pode entender que a Igreja nunca pode desaparecer, se é constituída pelo testemunho do que e de quem Deus é. O fundamento da Igreja como Corpo de Cristo “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.10). A Igreja congrega em si a experiência de ter sido regenerada e justificada pelo Deus vivo e verdadeiro, que em Cristo Jesus garantiu a plenitude da salvação. A experiência da Igreja no seu aspecto marcante na história da salvação, apresenta-se sob um fundamento sólido para se manter como corpo. Isto quer dizer uma apresentação de sua verdadeira natureza e constituição. A Igreja é necessária ao mundo, e os seus aspectos básicos de existência são elucidados para que se possa ter uma compreensão do fato de ser eleita por Deus e poder cumprir a sua missão. É nela que a fé é gerada, cresce e avança para o alvo. É através dela que o mundo pode ouvir a Palavra de Deus. E, para que a pregação da Boa Nova ganhe cada vez mais dimensão e repercussão, Deus estabeleceu na Igreja pastores e mestres (Ef 4.11), concedendo-lhes autoridade para cumprir a sua vocação na história. Desta maneira, a Comunidade de Deus não pode se desenvolver com seus membros desajustados, separados, mas ligados aos seus pontos fundamentais. Fundamentando-se nos textos de Mateus 10.6 e Marcos 10.9, e tomando-se “o que Deus ajuntou não o separe o homem”, argumenta-se que Deus é Pai, e mãe, a Igreja, unidos num só propósito. Deus é Deus de compromisso, e em virtude desta realidade, escolheu o seu povo para desenvolver um compromisso recíproco, pelo qual serve não a si mesmo, mas ao seu Criador, no serviço ao próximo. Sendo assim, o que a Igreja crê, expressa de modo visível. A experiência de comunhão da Igreja como Corpo de Cristo A comunhão dos santos é também entendida como comunidade dos eleitos. E, isso exprime em alto nível a natureza da Igreja. A comunidade eleita é composta de todos os santos, ou de todos os membros que dela fazem parte, que foram chamados a uma só fé e esperança, onde já se conferem todas as bênçãos decorrentes da ligação a Cristo. As bênçãos são, sem dúvida, compartilhadas mutuamente. Tudo gira em torno do comum acordo, da disposição ordinária que se desenvolve pelo fortalecimento de todas as juntas da estrutura comunitária. “Da multidão dos que creram, um era o coração e uma a alma”; e, “um só corpo, um só espírito, assim como foram chamados em uma só esperança”. “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação” (Ef 4.4) Os dons espirituais são distribuídos de modo variado, mas sempre com a finalidade de equilibrar todas as partes da Igreja. Fala-se de uma ordem política, que não é subvertida na expressão diaconal da Igreja, e todos os membros, embora tenham bens, devem servir à promoção da paz entre os homens. Todos podem possuir bens, mas devem considerar sempre o sentido verdadeiro de comunhão. Comunhão com Deus e com todos os homens. O texto dos Atos dos Apóstolos 4.32, é a forma como uma comunidade se estatui, com base no exemplo da Igreja Primitiva: “Da multidão dos que creram, um era o coração e uma a alma”; e, “um só corpo, um só espírito, assim como foram chamados em uma só esperança”. “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação ” (Ef 4.4). A Igreja de Cristo não pode existir de forma fragmentada e desintegrada de sua própria constituição. Ela é entendida sempre na divina Palavra, como um povo em plena comunhão. Decorre daí que, de sua estrutura, percebe-se Deus o Pai e Cristo a cabeça de todos os santos, configurando-se a experiência de fraternidade em amor, e a união que produz uma qualidade incomparável de vida na terra. Na Igreja deve se observar a reciprocidade e a partilha. Quais são os frutos que advêm dessa comunhão? Considera-se a certeza de que se faz parte do corpo e também a segurança que nele há, ainda que o mundo se abale. O que garante o seu sustento? A eleição de Deus, que não pode falhar. É o decreto firme de Deus em favor do Seu povo. Mesmo que tudo se estanque, a Igreja caminhará segura e seus membros não serão jamais arrancados ou despedaçados. Alguns textos veterotestamentários se constituem a base da argumentação em questão: “salvação haverá em seus dias” (Jl 2.32; Ob 17); “Deus habitará eternamente no meio de Jerusalém, para que nunca seja abalada” (Sl 46.5). É confortante para todos, no sentido de que há consolo na comunhão dos santos, ou seja, dos eleitos. No termo comunhão há muito de consolação. Em Cristo todos estão seguros. Todas as bênçãos foram conferidas em todas as esferas, verificando-se que há firmeza pela esperança. Essa certeza é justamente em função do que já foi exposto anteriormente, que trata da experiência da fé, dom que torna estável a vida em comunhão. A Igreja, portanto, está edificada na fé. ➢ A Igreja não pode ser despedaçada; ➢ A Igreja tem a esperança como arma que a defende na luta contra toda a esterilidade; ➢ A Igreja está edificada na fé, por isso está segura. Essa experiência da Igreja é distinguida pela ação do Espírito Santo, que produz a bênção da participação em Cristo e a separação para a posse divina, fruto da graça abundante de Deus Pai. Isto se denomina grande graça. Pensar no afastamento dessa comunhão da Igreja será visto como uma ação funesta, pois é ela a verdadeira escola e mãe, que nutre as pessoas. Logo, fora de seu grêmio não há de se esperar nenhuma remissão de pecados, nem qualquer salvação. Na Igreja todos somos alunos pelo curso de toda a existência. Se a Igreja é a mãe dos fiéis, é em razão de existir nela o depósito da fé. Ser Igreja e viver a comunhão dos santos significa a mesma idéia. Todos participam da mesma herança de vida eterna, em um só Deus, em Cristo. Seus membros são unidos num mesmo corpo,a um tempo, em uma só fé, esperança e amor, no mesmo Espírito. Esta é uma pista que produz clareza acerca do que caracteriza a Igreja como a comunidade de comunhão, e também a sua diaconia é exercitada sob a instrução de seu guia e mestre, o Espírito Santo. Isto é parte ordinária da vida eclesial. Essa comunhão é percebida na Igreja visível, que milita neste mundo, ainda que existam imperfeições, entretanto, nela opera o Santo Espírito que a conduz a bom termo. Se a Igreja vive a comunhão, é porque está firmada em Cristo. Ninguém que faça parte dela pode cair no esquecimento. Pode-se afirmar que comunhão é vida plena fazendo-se diferença num mundo tão fragmentado pelas diversas ideologias. É percebida a comunhão da Igreja, quando ela se reúne, convocada por Deus para oferecer-lhe o verdadeiro culto que é espiritual. É justamente nessa reunião, convocada pelo Deus vivo, que o povo santo se expressa em adoração e louvor ao Criador, reconhecendo o seu favor imerecido, através dos cânticos, orações e a escuta da Palavra, que fala no mais íntimo dos corações, considerando a iluminação do Santo Espírito. A Igreja como Corpo de Cristo e sua Pedagogia Cúltica É fundamentalmente importante perceber o modo pelo qual se relaciona a comunhão da Igreja à sua pedagogia. Essa pedagogia está voltada para a formação do ser humano, atingindo-o integralmente. A Igreja foi constituída por Deus para formar o ser humano, considerando- o como absoluto do amor divino, e assim foram comissionados por Deus apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (ensinadores), para a edificação do Corpo de Cristo (Ef 4.10-13). Deus aparelhou Seus santos através dos dons mencionados, objetivando o exercício e cumprimento da missão eclesial, conforme a vocação imputada por Deus. O propósito da Igreja é tão perceptível, que não se tem dúvida de que visa à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus à perfeita humanidade, à medida da plenitude de Cristo Jesus. Entende-se que a educação da Igreja visa o aperfeiçoamento dos santos, à formação que gera maturidade. Como se processa a educação da Igreja, no sentido de se obter a maturidade tão desejada por aqueles que fazem parte do seu grêmio? Argumenta-se sobre a proclamação da doutrina pelos pastores e o ensino dos mestres a todos sem exceção. Todos que comunicam e recebem a doutrina têm de ser encontrados com espírito brando e dócil. Desta forma, acredita-se que o ensino, uma vez aplicado, jamais se aparta da boca de quem está aprendendo. Alude-se o profeta Isaías, que diz: “o meu Espírito, que está em ti, e as palavras que pus em tua boca, jamais se apartarão da tua boca, nem da boca de tua semente e de seus descendentes” (Is 59.21). Os que têm interesse tornam-se dignos, e jamais perecem de fome ao alimentarem-se divinamente pelas mãos da Igreja. Isto significa o profundo valor que a igreja tem em todos os tempos da história. Percebe-se também a necessidade que se tem da Igreja na existência humana. Essa capacidade é dinamizada pela fé. Se a Igreja ensina e proclama o Evangelho é porque acredita no poder libertador de Deus, como era entendido pelo apóstolo Paulo, e que o mesmo pôde afirmar em sua epístola aos Romanos 1.16: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”. Essa pedagogia da Igreja é função, mercê de seu ministério, liturgia e santuário. O próprio Deus quis que seu povo se reunisse no santuário, formando a assembléia santa, com o propósito de proferir pela boca dos sacerdotes a doutrina que alimenta o povo, no comum sentir da fé. Assim, se observa que a fé não é algo ligado somente ao particular, mas experimenta-se na assembléia esse dom maravilhoso de Deus. E Deus, no meio do Seu povo, se apresenta como o Senhor. Portanto, é necessário o reconhecimento da Igreja, dessa presença divina que dissipa todas as incertezas e produz uma verdadeira adoração comunitária. Os textos bíblicos não deixam dúvidas sobre a presença de Deus no santuário (Sl 132.14; Is 57.15; Sl 80.1). É por essa causa que o Senhor em sua Palavra não aceita que seu povo adore e promova devoção a augúrios, a adivinhações, a artes mágicas, a necromancia e a outras superstições (Lv 19.31; Dt 18.10.11). Para que isso não pudesse acontecer, o povo foi suprido de profetas (Dt 18.15). Para que não sejamos remissos deixando de abraçar a boa doutrina de Deus, da Sua salvação proposta por Sua vontade, Deus deu-nos o ensino por meios humanos e os que se recusam a aceitá-lo, tornam-se fatais nesse intento; o considerar supérfluos os cultos, bem como a pregação, denominando-se de ímpio divórcio. Quando a Igreja se reúne em assembléia santa, exercita a piedade na simplicidade da fé, perfil necessário ao progresso da comunidade. Assim se observam na divina Palavra exortações, repetidas vezes, aos fiéis para buscar a face de Deus no santuário (1 Cr 16.11; 2 Cr 7.14; Sl 27.8; 100.2; 105.4). No Novo Testamento, mais particularmente nos escritos paulinos, a exortação é feita conforme o que foi estabelecido por meio de Cristo e em Cristo: “Porquanto Deus, que disse: do meio das trevas brilhe a luz! Foi Ele mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo.” (2 Co 4.6). No culto acontece a exposição da doutrina que sustenta e edifica a vida da Igreja, a fim de haver crescimento. Esse vínculo é tão somente entre os santos, que são dirigidos para o supremo alvo da plenitude de homem perfeito (Ef 4.12). Por isso, os fiéis confluem para o santuário, pois lá está o nome de Deus (Êx 20.24), onde há o ensino aberto que conduz à piedade. Para quem julgue, não ser necessário e perda de tempo, a reunião da assembléia santa, sobre quem assim pense, tem uma mente pueril, porque o carecer do átrio do templo muito pouco de perda viria a ser, também não muito prazer se perderia. Aos fiéis, certamente, é mais importante do que outros deleites. É no culto público, nessa reunião que Deus ensina o povo, através de quem constituiu pedagogicamente, para penetrar no coração. Desta forma, se percebe o valor do culto, e recusá- lo é agir com uma mente infantil. Diante de tudo isso, é importante lembrar da própria Escritura, que diz: “Deus não habita em templos feitos por mãos” (Is 66.1; At 7.48-49). Mas, de uma maneira sábia e legítima é fazer uso de templos para Deus, onde a sua Palavra seja proclamada. Sendo assim, o Senhor para si santifica os tais. Uma pedagogia na mira da edificação dos fiéis. Para a edificação e não para a destruição, conforme 2 Coríntios 10.8: “e ainda que eu me gloriasse um pouco mais do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa destruição, eu me envergonharia por isso.” Consta a mesma palavra ainda na nessa epístola, no capítulo 13.10. O que a Igreja, reunida no exercício da fé, tem em mira é a edificação dos fiéis para a plena maturidade. Os ministros são ministros de Cristo, e do povo ao mesmo tempo. Daí, pode-se concluir este pensamento sobre a natureza da Igreja em sua experiência: é a comunidade de serviço; servindo às pessoas exibe o poder que Deus lhe conferiu. Propõe-se a maneira de edificar-se a Igreja, em que os ministros reconhecem ser Cristo sua autoridade e mestre único dela. Todo o fundamento está na divina Palavra (Mt 17.5; Mc 9.7; Lc 9.35). Está escrito: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o!” O seu ensino evita que haja flutuação, e as pessoas não sejam arrastadas para lá e para cá, segundo ideologias humanas sem compromisso com a verdade. Caso assim suceda, haverá queda e distância de Cristo. A autoridade eclesiástica reside no ofício de governar, não nos que o exercem, quer sejam apóstolo, ou profeta; toda autoridadedidático-doutrinária se polariza na divina Palavra. Em todo o tempo a Igreja deve estar aberta à revelação divina, múltipla e variada, conformando-se com ela a todo o momento. Manifestando aos homens a verdadeira sabedoria através de um só modo, passando de geração a geração o que é recebido como a revelação divina, é depositada por Deus no mais profundo do coração da Igreja. Essa função pedagógica da Igreja ao expressar-se no culto, convida todas as pessoas a uma compreensão de Deus, pois a fé nele vem pelo ouvir, e a Igreja ensina ao mundo como servir a Deus, reconhecendo-o como o criador do céu e da terra. Sendo assim, observa-se que essa questão é resgatadora de valores, e hoje, quando também a Igreja é desafiada pelo mundo, impõe-se-lhe a concretização dessa pedagogia, que mira o homem perfeito, segundo a plenitude de Cristo Jesus. 4. Espiritualidade pastoral e edificação da Igreja Na epístola de Paulo a Tito, Cap. 1, encontramos uma boa oportunidade para discutir os traços do caráter necessário àquele que foi chamado para o Ministério Pastoral, para a edificação da Igreja de Jesus Cristo: 1. Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade, 2. na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos 3. e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador, 4. a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador. 5. Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: 6. alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. 7. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; 8. antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si, 9. apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem. 10. Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. 11. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. 12. Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. 13. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé 14. e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade. 15. Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. 16. No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra. O caráter do pastor É preciso atentar urgentemente para as orientações bíblicas em relação à pessoa que Deus chama para ser pastor de suas ovelhas. Em Tt 1.9 fala do que Deus deseja que o pastor faça. • “... apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.” ... mas, antes disso, e mais importante, os versículos 6-8 tratam de como ele deve ser: • “... alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados”. • Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; • antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,...” Este é o padrão de Deus para o caráter de pessoas que são chamadas para o sagrado ministério da Palavra; para o exercício do Ministério Pastoral; para a edificação da Igreja. Vejamos o significado de “irrepreensível”, traduzida do grego , (anengklêtos) – Descreve-se por duas vezes o efeito de uma vida piedosa. Isso que dizer que o pastor não será reprovado ou, em outras palavras, ele será inculpável ou estará livre de ressalvas. Estas devem ser as características constantes de sua vida, uma vez que assume a mordomia do ministério de Deus. Esse termo também se aplica aos diáconos em 1 Tm 3.10, formando assim uma estreita associação com anepilêmptos, palavra usada para bispos em 1 Tm 3.2. Não se refere a uma perfeição impecável, pois, nesse caso, nenhum ser humano estaria qualificado para o ofício, mas a um padrão elevado e maduro que implica em um exemplo coerente. É exigência de Deus que seu despenseiro viva de maneira santa, de tal forma que sua pregação nunca seja contraditória ao seu estilo de vida, que suas faltas nunca tragam vergonha ao ministério e sua conduta não mine a confiança do rebanho no ministério de Deus. A partir da qualidade em questão, surgem alguns componentes, desenvolvendo o seu significado. Os componentes se dividem em três grupos: moralidade sexual, liderança familiar aprovada e nobreza de atitude e conduta. Moralidade sexual A moralidade sexual é exigência na vida da pessoa cristã, principalmente na vida do pastor, pois é ele o vocacionado por Deus para alimentar as ovelhas. Caso alguém falhe no campo da moralidade sexual, torna-se desqualificado para o ministério pastoral. Uma pergunta: será que o cristianismo está perdendo a batalha pela pureza moral? Infelizmente, hoje, temos pessoas com teologia certa, mas vivendo de modo impuro. Mas, é preciso refletir que, se todas as batalhas pela integridade das Escrituras fossem, afinal, vãs, se os pregadores da igreja fossem corruptos, e as ovelhas já não seguissem seus pastores como modelos de santidade, não haveria a necessidade de uma teologia pastoral. A primeira qualidade de caráter em Tito que detalha o que significa um pastor ser irrepreensível é que ele seja “marido de uma só mulher” (Tt 1.6). O pastor deve ter a reputação de ser sexualmente puro. O pecado sexual desqualifica qualquer homem para o pastorado. Liderança familiar aprovada Se alguém quer saber se um homem vive uma vida exemplar, se ele é coerente, se pode ensinar e exemplificar a verdade, conduzir as pessoas à salvação, à santidade e ao serviço de Deus, então deve observar os relacionamentos mais íntimos de sua vida e ver se ele consegue cumprir essas coisas. Observar a sua família e verificar como as pessoas ao seu redor as vêem. Nobreza de atitude e conduta Os aspectos de atitude e conduta do pastor devem estar acima dos padrões do mundo. O pastor não é melhor que as outras pessoas, mas está em um nível acima, sendo digno de ser imitado. A Bíblia lista aspectos negativos e positivos, com a finalidade de ensinar melhor sobre a nobreza e a conduta do ministro de Deus. Vejamos. Os aspectos negativos Não soberbo – Significa não possuir uma arrogância cheia de amor próprio, de ser consumido por si mesmo, de buscar o próprio caminho, a satisfação e a gratificação a ponto de desconsiderar os outros. Assim, ninguém que seja dominado pelo ego está apto para o ministério pastoral. Não iracundo – A palavra traduzida por “iracundo” (orgilon) vem de orge, que se refere à ira ou raiva. Quando as coisas não acontecem como o pastor deseja, ele deve manter a compostura tanto interna como externamente.Não dado ao vinho – Qualquer pessoa, em qualquer liderança cristã, deve estar alerta e sóbria. A exigência pastoral é repetida em 1 Tm 3.3. O álcool não deve fazer parte da vida do pastor nem influenciar seu pensamento. O princípio é que qualquer pessoa em posição de tomar decisões importantes que afetam a muitos não deve atuar sem pleno entendimento. Não espancador – O ministro do Evangelho deve procurar promover a paz, não a dissensão; deve resolver os conflitos pacificamente. Conferir o ensino de 2 Tm 2.24,25. O pastor não utiliza a força física para resolver os problemas, nem também as discussões inúteis. Não cobiçoso de torpe ganância – A palavra grega é composta das palavras aischros (vergonhoso) e kerdos (que se refere ao lucro pessoal). Descreve alguém que não se importa com a maneira pela qual junta dinheiro. Os aspectos positivos Hospitaleiro – “Dado à hospitalidade”; significa literalmente “amante dos estrangeiros”. Trata-se de um atributo do caráter cristão (Rm 12.13; 1 Tm 5.10; Hb 13.2; 1 Pe 4.9). O princípio básico é colocar a si mesmo e seus recursos à disposição de desconhecidos. A hospitalidade, no sentido bíblico, não é convidar os amigos para jantar. É agradável fazer isso, mas é preciso observar o que Jesus disse em Lc 14.12-14: • Disse também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos. Amigo do bem – O pastor também deve amar pessoas e coisas boas. Pode-se dizer muito de uma pessoa, observando seus amigos e as coisas de que se cerca. Com quem se associa? Que faz nas horas de lazer? O que lhe é precioso? Algumas das respostas devem ser encontradas em Fp 4.8: “Tudo o que é verdadeiro, honesto, justo, puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, se há alguma virtude e se algum louvor, nisso pensai”. O coração do pastor atende ao que é excelente. Moderado – A moderação denota em uma pessoa o resgate da mente de dentro do abismo das extrapolações, elevando-a acima do trivial e do passageiro. Faz que se apresente não como palhaço ou comediante, mas com sabedoria firme e confiável. Uma pessoa moderada é imparcial, cuidadosa nos julgamentos, ponderada, sábia e profunda. Tal é o fruto de uma mente disciplinada. Esse é o tipo de pessoa que pode ser pastor. Justo – A pessoa justa que é aprovada por Deus, vive segundo os padrões divinos. Essa atitude pode descrever e preencher o pastor, a fim de que possa se inclinar ao veredicto de uma existência positiva. Santo – Significa separado de Deus e para Deus para realizar a obra mais importante da história da salvação. E, para isso, é fundamental ter uma vida irrepreensível, sem o comando do pecado, mas sob o senhorio de Jesus Cristo. Ninguém está livre do pecado, mas este pode ser confessado e tratado, evitando escândalos à Igreja. Todos os cristãos podem viver desse modo pela graça e misericórdia de Deus, no poder do Espírito Santo. O pastor deve ser um exemplo vivo dessa grande possibilidade. Temperante – O pastor deve ter o controle de sua vida. Pessoas bem- intencionadas que ouvem de algum pastor que tenha caído em pecado dizem frequentemente: “O pobre coitado não devia ter ninguém a quem prestar contas. Se pudesse recorrer a alguém, isso não aconteceria”. Há lugar para cobranças espirituais. Todos precisamos de amigos, parceiros e colaboradores no ministério que nos ajudem a andar como devemos diante do Senhor. Entretanto, se a pessoa não consegue controlar a sua vida, não está apta para o pastorado. Se for do tipo que precisa de um grupo para manter-se na linha, acabará criando aflições para a igreja. O caráter do pastor vem de dentro. O chamado para o Ministério Pastoral Há uma relação profunda entre mestres e profetas, entre pastores e apóstolos e a responsabilidade dos verdadeiros pastores. Isto se processa à semelhança dos antigos profetas com os mestres, e dos apóstolos com os pastores. Em referência à primeira associação, diz-se que é semelhante, pois tem a mesma finalidade. Quanto à segunda, referindo-se aos Doze, que foram escolhidos pelo Senhor para a proclamação do Evangelho por todo o mundo, tem relação profunda com os pastores que regem igrejas. Assim, percebe-se com profunda relevância o encargo de pastor, a ponto de se argumentar que as funções que se atribuem aos pastores são as mesmas atribuídas aos apóstolos, e devem ser desempenhadas com zelo idêntico. À luz da divina Palavra, pode-se traçar um paralelo entre apóstolos e pastores, que tem o seguinte perfil: a. Aos apóstolos, Jesus deu-lhes autoridade para pregar o evangelho e batizar os convertidos (Mt 28.19); b. Comissionou-lhes também para administrar os sagrados símbolos de sua mesa, representando o corpo e o sangue (Lc 22.19). Pergunta-se, conforme o Reformador de Genebra: “Não é assim também o que realizam os pastores?” Estes sucederam aos apóstolos, pois pregam o evangelho, batizam os novos na fé e ministram a Eucaristia. Em 1 Coríntios 4.1 está escrito que são “ministros de Cristo”. Em Tito 1.7,9 também consta: “importa que o bispo seja pertinaz nessa palavra fiel que é segundo a doutrina, para que seja poderoso para exortar mediante a sã doutrina e para refutar os contraventores.” Assim, a função principal dos pastores tem estas duas partes fundamentais: anunciar o evangelho e ministrar os sacramentos. O modo de ensinar dos pastores não se particulariza a discursos públicos, pois diz respeito também a admoestações. Sem dúvida, o anúncio de casa em casa e de forma pública caracterizava as funções apostólicas, que por sua vez são também dos pastores (At 20.20-21), com a finalidade de levar pessoas ao arrependimento e à fé. Observa-se, portanto, em Calvino uma excelente visão do ministério pastoral, ainda que com lágrimas seja realizado, pois os que se chamam pastores não devem ter indignidade ociosa, antes com precisão ensinem a doutrina de Cristo, instruindo o povo à verdadeira piedade, administrando bem a Igreja segundo os mistérios sagrados, conservando em retidão a vida comunitária. Não se pode estranhar, mas Calvino faz uma colocação que implica intensa responsabilidade para os pastores. Eles são de fato atalaias na Igreja, para que nenhuma pessoa pereça na ignorância, sem razão de alguma negligência, porque se desta forma não acontecer, Deus haverá de requerer o sangue (Ez 3.17-18). Por este motivo, o apóstolo Paulo passou a ter uma consciência solidificada nesta verdade: “Anunciar o evangelho não é título de glória para mim, é, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1 Co 9.16-17). Diante deste exemplo, está constituído o magnífico múnus pastoral em sua legítima natureza: o que os apóstolos fizeram ao mundo inteiro, cada pastor deve também fazer ao seu rebanho, para o qual foi designado. A função pedagógica da Igreja vai encontrar sua razão de ser e desenvolver sua missão através do ministério do pastor, em cada igreja onde foi colocado, não devendo este ficar mudando de igreja para igreja, mas caso seja conveniente e tenha pública aprovação. Calvino diz que é necessária esta política: nenhum pastor esteja correndo de um lado para o outro, incerto, desordenado, deixando vagas as igrejas e buscando o conforto de si mesmo. O pastorado não é invenção humana, mas instituição do próprio Deus, como também é a Igreja. Paulo e Barnabé instalaram líderes nas igrejas( At 14.21-23; Tt 1.5; Fp 1.1; Cl 4.17; At 20.17- 35), para assumirem o governo e o cuidado das comunidades. O ministro da Palavra, segundo a visão bíblica de Calvino, tem vários títulos. A todos quantos desempenharem esse ministério, é-lhes atribuído o título de bispo (Tt 1.5,7; Fp 1.1); respectivamente, também o título de presbítero (At 20.17,28). Desta forma, percebe-se um ponto: Calvino não menciona as mulheres na liderança ministerial, pois ele só argumenta fazendo referência a varões. Todos esses títulos não devem se configurar motivo de vaidade no âmbito que envolve o serviço ministerial do pastor, mas tendo sempre em mente que a glória de Deus está sempre no centro de todo o serviço, sem excluir a dignidade humana. A vocação como a base dos ofícios Calvino afirma que se a Igreja colocasse pessoas inquietas e turbulentas, por exemplo, para ensinar ou governar, haveria muitas dificuldades. Por isso, tomou precauções em relação ao ofício público para que nenhuma pessoa assumisse algum cargo sem a devida chamada ou vocação. Por exemplo: para que alguém seja ministro da Igreja, importa ser chamado por Deus (Hb 5.4). Se não foi chamado, concomitantemente, causará transtornos, e isso constituirá grande imprudência, qualquer que ouse contrariar a natureza da vocação. Sobre a doutrina da vocação ministerial, Calvino trata de um duplo chamado: vocação interior e vocação exterior. A primeira é a vocação secreta que cada um tem dentro de si, cônscio diante de Deus. A segunda é a que diz respeito à ordem pública, o reconhecimento da Igreja. Calvino argumenta também que, sendo efetivado de acordo com a Escritura, tudo não redundará nem por ambição, nem por avareza, nem por qualquer outra cobiça. Os ministros vocacionados, além de serem reconhecidos publicamente, são investidos e instalados segundo o rito considerado. É, sem dúvida, uma grande responsabilidade o ministério pastoral. Mesmo pessoas que são chamadas para o ministério de pessoas leigas devem ser aptas e idôneas para exercer algum dom, segundo o que o apóstolo Paulo escreveu em 1 Coríntios 12.7-11. Sobre as qualidades de uma pessoa para exercer o ministério na Igreja, Calvino toma os textos neotestamentários para tornar evidente a responsabilidade (1 Tm 3.1-7; Tt 1.7-9), e o que convém, no sentido de que sejam de sã doutrina e vida santa, nem notórios por vícios, que lhes façam perder a autoridade, e tragam ao ministério alguma dificuldade. Aos diáconos também é inteiramente relacionado o mesmo tipo de qualificação (1 Tm 3.8-13). Pensando desta forma, pode-se também relacionar que Cristo capacitou seus enviados com armas e instrumentos para desempenharem bem a missão (Mc 16.15-18; Lc 21.15; 24.49; At 1.8). Exorta o apóstolo Paulo que ninguém que venha ocupar o ministério seja um recém-convertido (1 Tm 3.6). Esse processo deve ser precedido de jejuns e orações, conforme narra Lucas (At 14.23). A vocação do ministério da Igreja é feita através do Espírito Santo, que outorga toda a autoridade para a realização da vontade de Deus no mundo onde estamos inseridos. Paulo assim declara ser constituído (Gl 1.1) não por homens, mas pelo próprio Senhor, mesmo que algumas pessoas não reconhecessem o seu apostolado. Contudo, a própria Igreja com a aprovação de Deus designa pessoas para o exercício ministerial (At 1.23-26), segundo a orientação da própria Escritura. É ela o parâmetro orientador de como identificar uma vocação, fluindo no mais profundo do ser que, ao receber o chamado, se sente compelido a executar a vontade divina na história. Calvino argumenta que o ministro deve ser eleito por toda a Igreja, pelo povo, e não como indagavam os que pensavam naquele seu tempo, pelos colegas e presbíteros, ou por um só. O povo tem de estar presente para que seja comprovado o testemunho vocacional de quem foi chamado por Deus. No Antigo Testamento os sacerdotes levíticos eram levados à presença do povo antes da consagração (Lv 8.4-6; Nm 20.26- 27). Nos Atos dos Apóstolos o mesmo fizeram com Matias, que foi admitido no colégio apostólico (At 1.15, 21-26); por semelhante modo foi instituída a junta diaconal para o serviço aos pobres (At 6.2-7). Além das referências bíblicas, Calvino também toma por base o ensino de Cipriano: “A ordenação de um sacerdote impõe fazer somente sob o reconhecimento do povo e assisti-la, para que seja uma ordenação justa e legítima, que haja sido consignada pelo testemunho de todos.” O treinamento para o Ministério Pastoral No centro da vida cristã fica a ordem dada por Jesus Cristo de fazer discípulos. Em todos os lugares a tarefa sagrada de todos dos crentes é fazer discípulos. Mas, é preciso lembrar sempre, que o treinamento pastoral não pode ser norteado pelo mercado, porém pela Bíblia. O treinamento pastoral não pode capitular diante dos caprichos de uma certa postura autoritária, nem se curvar diante de certas metodologias que intentam se impor sob certa ordem de crescimento, que tão somente visa números e coisas. Uma formação pastoral verdadeira é aquela que reflete as ordens bíblicas para a igreja, e sua liderança deve dominar o treinamento pastoral. Esse princípio é crucial, pois a idéia que a pessoa faz do ministério influenciará suas atitudes e, por fim, acabará ditando sua filosofia de treinamento para o serviço. A ordem dada aos líderes de seminários e igrejas é, ensinar primeiro o conteúdo e o propósito da liderança na igreja, antes de ensinar o como. Os que estão sendo treinados para o pastorado defrontam-se como o desafio de determinar o papel bíblico de um presbítero e a melhor maneira de preparar uma pessoa para o presbiterato, por exemplo. A preparação para o ministério pastoral é uma jornada multifacetada, um processo extenso que consiste em diversas etapas. É uma peregrinação que nunca termina, exigindo um compromisso de busca contínua. O significado de “seminário”, por exemplo, inclui a idéia de “sementeira”. É isso que o treinamento para o ministério deve implicar, seja ele formal, seja informal, seja dentro da estrutura de um seminário, seja incorporado à vida diária de um pastor ou de uma igreja local. Especificamente, o treinamento para o ministério exige o cumprimento de pelo menos três fases de treinamento destacadas na exortação de Paulo a Timóteo (1 Tm 4.12-16): 1. Caráter piedoso • É aquilo que a pessoa deve ser, pois o ponto focal de qualquer ministério é a piedade. O ministério é, e sempre deve ser, o fluir de uma vida piedosa. Ver o exemplo de Paulo (1 Co 9.27; 1 Tm 4.8; 6;3; 2 Tm 2.3-5). • A abundância de conhecimento bíblico ou a destreza nas habilidades ministeriais não são a primeira prova da veracidade de um anelo pelo ministério pastoral. Ao contrário, as Escrituras têm como primeira prova o caráter piedoso (1 Tm 3; Tt 1). • A liderança espiritual é uma questão de poder espiritual superior, e isso, jamais nasce por si. Não existe algo que possa ser chamado de líder espiritual autodidata. Ele só é capaz de influenciar espiritualmente os outros porque o Espírito é capaz de trabalhar nele e por meio dele, de modo mais abrangente do que naqueles a quem ele lidera. • O verdadeiro líder espiritual preocupa-se infinitamente mais com o serviço que pode prestar a Deus e aos irmãos do que como os benefícios e prazeres que possa extrair da vida. • Áreas do caráter piedoso: vida moral, vida familiar, maturidade e reputação. 2. Conhecimento bíblico-histórico-teológico • É o que a pessoa deve saber. O conhecimento bíblico é indispensável ao processo de treinamento. Sem ele, a pessoa não pode crescer espiritualmente e formar um caráter piedoso, nem pode ministrar de modo eficaz e significativo. • O conhecimento bíblico não significa decorar capítulose versos da Bíblia, nem conhecer profundamente a dimensão teológica, mas conhecer e colocar em prática os princípios da Sagrada Escritura. Conhecer a Deus é o fundamento de uma vida ministerial abençoada. • É imprescindível também que as áreas do conhecimento bíblico- histórico-teológico e da linguística são importantes. As veredas do treinamento passam pelo aprendizado e o conhecimento das línguas originais da Bíblia: hebraico, aramaico e grego. • Desta forma, se evitará a alternativa de interpretação da Bíblia de modo subjetivista, de acordo com os sentimentos e com uma concepção relativista. 3. Habilidades ministeriais • É o que a pessoa deve ser capaz. • A idéia de que os resultados intelectuais e o sucesso acadêmico nas salas da faculdade são equivalentes ao preparo completo para o ministério pastoral, é, obviamente, uma ingenuidade. • A preparação efetiva vai além da sala de aula, incluindo treinamento no campo, sem o qual muitos estudantes não saberão se conseguirão nadar ou se afundarão quando entrarem no ministério. Áreas de habilidades ministeriais A ordenação para o Ministério Pastoral Sobre o rito de ordenação do vocacionado ao ministério da Igreja, segue-se a imposição de mãos, rito herdado dos hebreus, no Antigo Testamento, que apresentavam a Deus aquilo que seria abençoado e consagrado pelo próprio Deus (Gn 48.41; Lv 1.4; Nm 8.12). Ministério Pastoral Liderar com convicção Ensinar com autoridade Pastorear com cuidado Pregar com paixão A ordenação é o processo pelo qual os líderes piedosos da igreja confirmam o chamado, a capacitação e a maturidade dos novos líderes, para que sirvam aos propósitos de Deus. A ordenação torna válida ou autêntica a vontade de Deus de que um homem plenamente qualificado possa servir a Ele e ao seu povo. No Novo Testamento também se evidencia esse rito (Mt 19.13-15). Os apóstolos também o exerciam naqueles que iniciavam o ministério (At 19.6). Mas, há uma advertência no sentido de que esse rito não deve se revestir de nenhuma superstição; será inútil a cerimônia se assim for processada. Somente os ministros poderão impor as mãos, não o povo, a multidão (2 Tm 1.6; 1 Tm 4.14). Ainda sobre o ministério da Igreja, faz-se uma afirmação que deve encontrar lugar na própria comunidade em todo o curso da história: a autoridade eclesiástica reside no múnus ou ofício como tal, não naqueles que o exercerem... Essa autoridade promana do Espírito de Deus. O poder não reside na pessoa e sim no ministério confiado e confirmado pela vocação divina. Tudo quanto os ministros falarem, assim o farão em nome da Palavra e não de si mesmos (Êx 14.31; Dt 17.9-13; Ml 2.4-6, 7; Jr 23.28). É sabido através da divina Palavra que os profetas falavam as palavras do Senhor. Antes de profetizar diziam: “assim diz o Senhor.” Da mesma forma, quanto aos apóstolos, a autoridade didático-doutrinária estava polarizada na Palavra de Deus. Jesus lhes diz que seriam “a luz do mundo” e “o sal da terra” (Mt 5.13-14). Eles eram a boca do próprio Cristo aos ouvidos das pessoas (Lc 10.16). Deveriam ensinar a todas as pessoas a doutrina do Reino de Deus (Mt 28.19-20). Nessa mesma perspectiva, a Igreja também tem a incumbência de proclamar a mensagem da Palavra de Deus, a tempo e fora de tempo, a fim de que todas as pessoas da terra conheçam a vontade de Deus. Assim, pode-se afirmar que a Igreja é comunidade proclamadora da mensagem de salvação. Fases para a ordenação ao Ministério Pastoral: Fase de Apresentação Conversão Chamado Reconhecimento Caráter Conduta Capacidades Fase de Preparo Conhecimento da Bíblia Serviços Eclesiais Teologia Bíblica Teologia Sistemática Teologia Pastoral Áreas do Conhecimento Fase de Ordenação Apresentação Exames Licenciatura Ordenação Acompanhamento Serviço Qualidades espirituais do Ministro do Evangelho “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.” “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gálatas 5. 19-25). 5. Sermão e Pastoral Como a língua grega, a retórica grega tornou-se pronto instrumento para a proclamação do Evangelho ao mundo gentílico. Já na última parte do Séc. IV de nossa era, ela havia alcançado o seu maior desenvolvimento entre os gregos, na oratória de Demóstenes e no famoso tratado de Aristóteles sobre retórica. Posteriores contribuições vieram de oradores romanos, notadamente de Cícero e de Quintiliano. No mundo greco- romano, onde surgiu oi cristianismo, a retórica era a coroa da educação. A Gramática facultava ao estudante o conhecimento do passado e desenvolvia as suas aptidões literárias; a Dialética exercitava as forças do seu raciocínio; e a Retórica ensinava o estudante a tirar proveito do seu equipamento, especialmente na tribuna e no senado, instruindo-o na arte de se expressar com facilidade, com frases apropriadas e irresistíveis. A prédica cristã teve início na Palestina. Seus primeiros pregadores e auditórios, sua formação e afinidades espirituais eram judaicos. Era, pois, muito natural e necessário que a maneira de se pregar seguisse o padrão dos profetas do Antigo Testamento e do ensino rabínico. A prédica cristã alcançou um progresso, disseminando a mensagem do Evangelho por toda parte. A prédica ganhou auditório maior mais favorável. Os elementos primordiais do discurso foram as maneiras provadas de convencer e persuadir os mortais, e nas mãos de homens piedosos como Basílio, Gregório, Crisóstomo, Ambrósio e Agostinho. Assim surgiu a ciência da Homilética, que nada mais é do que a adaptação da retórica às finalidades especiais e aos reclamos da prédica cristã. O objetivo do pregador é convencer o ânimo, despertar a imaginação, mover o sentimento e impelir poderosamente a vontade na direção daquilo que a verdade exige. Há certos fatos a respeito de processos e funções da mente humana que dão existência a princípios de tratamento. Importa bem mais que o pregador aprenda esses princípios ao invés de servilmente decorar e obedecer a umas tantas regras. Haverá ocasião, no que respeita a regra sem se quebrar este ou aqueles princípios. Circunstâncias diversas, a individualidade do pregador, a ocasião, bem como a espécie de auditório, tudo isso faz com que as regras fiquem no seu lugar de servos, e não de senhores, para que as formas sempre sejam flexíveis e variáveis. A melhor qualidade de um sermão não é o fato dele ser bastante homilético, mas o de mover e comover as vidas para aceitarem o Reino de Deus e sua justiça. Entretanto, a Homilética é profundamente necessária, porque dará condições ao pregador da Palavra de Deus poder apresentar melhor a mensagem que transforma vidas e a realidade que cerca o ser humano. É preciso entender e apreender bem as partes que compõem a matéria em questão. Sendo bem apreendidas, darão segurança, porque se configuram como instrumentos para a realização maior do serviço da Igreja de Jesus Cristo. 1. Definição de pregação A pregação é arte de proclamar a Palavra de Deus. É a tarefa primordial da Igreja e de mais nenhumasociedade humana, porque ela foi eleita e designada para tal serviço. A palavra “pregação” é derivada do latim praedicatio, que por seu turno traduz o grego kerygma, palavra esta que, em seu sentido mais geral, significa a proclamação de um fato ou de um acontecimento. É situada regularmente no Novo Testamento para descrever a mensagem e a atividade dos evangelistas cristãos, os quais tinham “boas novas” supremas para contar, boas novas de que, em Cristo, Deus visitou e redimiu o seu povo e que a salvação estava sendo oferecida gratuitamente a todos quantos se arrependessem e pusessem sua confiança nele. Os pregadores eram os arautos do Reino de Deus. 2. Definições de termos e tipos de sermões Há dois critérios para a classificação dos sermões: pela extensão do texto escolhido e pelo assunto de que trata esse texto. Pela extensão do texto, os sermões se dividem em tópicos (texto breve), e expositivos (texto longo). 1. O sermão tópico pode ser de duas espécies: a) Tópico propriamente dito (deriva do texto só o assunto). Ex: Gl 6.14. Assunto: A glória do cristão. As divisões são sugeridas pela análise do assunto; b) Textual (derivam do texto o assunto e as divisões). Ex: Jo 14.6 Assunto: O único mediador entre Deus e os homens. Divisões: 1ª - Caminho, 2ª - Verdade, 3ª - Vida. 2. O sermão expositivo pode ser: a) Doutrinal. Ex: 1ª Co 13 (sobre o amor); b) Histórico (fato, biografia, milagre, parábola). Ex: A conversão de Zaqueu. Lc 19.1-10. Pelo assunto de que trata, o sermão pode ser: 1º. Doutrinário (didático, apologético e polêmico); 2º. Prático (deveres); 3º. Histórico. De acordo com essa classificação dos sermões, deve-se notar o uso convencional dos termos. A rigor, todo sermão é tópico, porque tem assunto, e é textual, porque se baseia em um texto. Há também um sentido em que todo sermão é doutrinário, porque não há sermão que não esteja relacionado com alguma doutrina. Não é correto pregar somente sermões textuais. Porque nem todos os textos contêm divisões; e também porque é preciso pregar toda a Palavra de Deus. O sermão expositivo está sujeito aos mesmos preceitos aplicados aos outros tipos de sermões, isto é, apresenta a mesma estrutura, com assunto e divisões. Um sermão será doutrinário ou prático, de acordo com a natureza de verdade exposta. Pode considerar-se textual a não expositivo, o sermão sobre uma parábola contida em um só versículo, ou em um texto breve. Ex: A parábola do tesouro escondido. Mt 13.44. Recomenda-se que, de preferência, o pregador inclua no mesmo sermão doutrinário os três elementos: didático, apologético e polêmico. No sermão histórico, tem-se a doutrina concretizada em um fato ou pessoa. Parábolas são fatos imaginários, mas possíveis. Milagres são fatos reais, mas, em relação ao ensino, podem ser considerados “parábolas em movimento”. Estudos bíblicos, palestras religiosas, exposições ou comentários de alguns versículos da Bíblia – tudo isso pode ser bom e útil, mas tecnicamente não é sermão. 3. Tipos especiais de sermões É inteiramente conveniente apresentar algumas sugestões sobre sermões para ocasiões especiais, ou dirigidos a classes e grupos distintos. São sermões que não estão classificados segundo o Calendário Cristão. Em geral o Calendário Cristão começa com o período do Advento, período que inclui quatro domingos antes do Natal. Depois do Advento os períodos sucessivos se relacionam com as várias fases da carreira terrena de Nosso Senhor. Do começo do Advento até a Páscoa, durante quase seis meses, o Calendário Cristão aponta constantemente para Cristo, e depois para a operação do Espírito Santo e para o Reino Vindouro, bem como para o serviço da Igreja. Em seqüência, constam sugestões para sermões em ocasiões especiais: • Sermões para funerais Em todos os lugares há uma exigência de serviços religiosos, e, particularmente, o ofício fúnebre. O povo prefere quase sempre um ofício religioso simples, talvez com uma fala breve, em memória do falecido, ou várias falas em caso de interesse especial. Entristecidas e abandonadas, as pessoas sentem necessidade de consolo, não importando quem quer que seja, diante do choro pela perda do ente querido. E, o pregador pode aproveitar a oportunidade para chamar a atenção de todos para a mensagem do Evangelho da graça de Deus e incutir a necessidade das pessoas viverem uma vida piedosa diante de Deus. É importante observar que cada país segue seu método especial, com falas ou cânticos, ou de lamentos, para satisfazer a tal desejo. Nem a tristeza pessoal do pregador e nem a atenção demasiada para com os sentimentos de outros devem levá-lo a elogios exagerados. • Sermões acadêmicos e de aniversário Os sermões pregados em instituições de ensino ou por ocasião de reuniões literárias não poucas vezes são apresentados de modo bem errado. O pregador acha que não deve apresentar um sermão regular sobre o evangelho e que se deve cingir a matérias de elevada erudição, ou metafísicas. É muito de se desejar que em tais ocasiões se pregue sobre tópicos eminentemente evangélicos, sobre o próprio cerne do Evangelho. A ciência e a erudição já são uma prática na vida diária desses professores e alunos. Naquele instante eles precisam mesmo é de uma Palavra de Deus. O sermão universitário deve ter objetivo claro, força e suavidade; e as associações de idéias do momento podem sugerir algumas vezes ligeiras modificações ou peculiaridades de alusão, de ilustração e de estilo. Quando se prega a jovens universitários, de rostos inteligentes, o coração do pregador se derrete de simpatia e amor por eles, ao pensar na força que poderão ser no mundo, a favor do bem ou do mal. Quanto a aniversário é importante ressaltar o valor da existência, e principalmente da gratidão a Deus pela vida. • Sermões de despertamento O objetivo principal é despertar os que são cristãos ao trabalho de santificação, de evangelização, de ajuda ao próximo e ao mundo. Quando o pastor percebe que seu rebanho está se acomodando às quatro paredes, sob a unção do alto, utilizando-se da Palavra de Deus, pode transmitir a mensagem de despertamento do povo de Deus para continuar o serviço que o Senhor lhe confiou. Como devem ser esses sermões? Devem ser curtos; devem variar bastante quanto ao seu caráter e conteúdo. Precisam em geral obedecer a uma sequência lógica, ou a uma lei em sua sequência. Essa ordem dependerá de uma série de circunstâncias que se tornará impossível estabelecer uma regra geral que abranja todos os casos. Devem ser constituídos primariamente de uma pregação sadia, completa e global do Evangelho de Cristo. • Sermões para crianças, adolescentes e jovens Os trabalhos em favor de crianças, adolescentes e jovens, constituem-se movimentos característicos de nossa época. Urge, pois, que se dê atenção especial ao assunto da prédica para crianças. As sugestões sobre este assunto devem incluir as falas menos formais a crianças nas escolas dominicais, em aniversários e ocasiões de festas e outras semelhantes. Quase todos percebem que poucas pessoas alcançam real sucesso no falar a crianças. Mas, sempre há o testemunho de alguém. Certa vez, em Filadélfia, nos Estados Unidos, um homem humilde, membro de uma igreja evangélica por nome de Walt, procurou o superintendente de sua Escola Dominical para ensinar numa classe. O superintendente lhe disse para sair pelas ruas do bairro e arranjar alunos se quisesse ter uma classe. Então, saiu pelas ruas e começou a convidar alguns garotos do bairro. Conseguiu formar uma classe com treze garotos. Nove deles eram filhos de casais separados. Hoje, adultos cristãos, estão engajados no serviço do Reino de Deus de tempo integral. Dentre eles estava Howard Hendrichks, que por mais de trinta anos tem preparado
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