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RADIOLOGIA SAMANTHA LEÃO F. LIMA 1 Doença Hepática Difusa HEPATOMEGALIA. O aumento do tamanho do fígado normalmente é determinado de maneira subjetiva em exames de imagem. A prova de hepatomegalia é dada pela observação do arredondamento da borda inferior e extensão do lobo hepático direito abaixo do polo inferior do rim direito. O fígado de comprimento maior que 15,5 cm, medidos na linha clavicular média, é considerado aumentado. O lobo de Reidel é uma variante normal da forma hepática, encontrado mais frequentemente em pacientes do sexo feminino. Refere-se a uma ponta inferior alongada no lobo hepático direito. Quando há um lobo de Reidel, o lobo hepático esquerdo tem tamanho correspondente menor. O lobo hepático esquerdo pode, como variante normal, ser alongado e circundar uma parte do baço. FÍGADO GORDUROSO. Também conhecido como esteatose hepática, é a anormalidade mais comum demonstrada nos exames de imagem do fígado. A prevalência é de 15% na população em geral, de 50% em pacientes com hiperlipidemia ou elevado consumo de álcool, e de até 75% dos pacientes com obesidade grave. As causas são muitas, porém duas das mais comuns são doença hepática alcoólica e doença hepática gordurosa não alcoólica, relacionada com a “síndrome metabólica” de resistência à insulina, obesidade, diabetes, hiperlipidemia e hipertensão. Outras causas incluem hepatite viral, uso de fármacos (especialmente os esteroides e agentes quimioterápicos), alterações nutricionais, lesão por radiação, fibrose cística e doenças de armazenamento. Todas as condições lesionam os hepatócitos, alterando o metabolismo lipídico hepatocelular e fazendo com que o defeito no metabolismo de ácidos graxos livres resulte em acúmulo de triglicerídios no interior dos hepatócitos. No início da manifestação, a esteatose hepática é reversível, mas pode evoluir para esteato-hepatite (lesão celular, inflamação e fibrose) com progressão para cirrose. OBS: Em exames de US, o parênquima do fígado normal é igual ou ligeiramente mais ecogênico do que o córtex renal e o parênquima esplênico. Vasos sanguíneos intra-hepáticos e pequenas tríades portais na periferia do fígado são bem definidos. Achados confiáveis por US em casos de esteatose hepática incluem ecogenicidade do fígado distintamente maior do que a do córtex renal, perda da visualização das tríades portais normalmente ecogênicas na periferia do fígado, e fraca penetração de som, com perda de definição do diafragma. à A doença hepática difusa é subdividida em 3 classes: DOENÇAS DE DEPÓSITO 1. Esteatose hepática difusa. Envolve todo o fígado e é o padrão mais comum. A maioria dos casos mostra a deposição homogênea de gordura, embora seja comum uma leve heterogeneidade, o que contribui para a RADIOLOGIA SAMANTHA LEÃO F. LIMA 2 confiabilidade do diagnóstico. Principais causas: - Doença hepática alcoólica; -Doença hepática não alcoólica (contexto da síndrome metabólica); - Induzida por fármacos (corticóide, metotrexate...). COMO AVALIAR UMA ESTEATOSE HEPÁTICA NA US? AUMENTO da ecogenicidade hepática em relação ao baço. Córtex renal relativamente hipoecoico em comparação ao parênquima hepático. COMO AVALIAR UMA ESTEATOSE HEPÁTICA NA TC? REDUÇÃO da densidade hepática RELATIVA: atenuação do fígado menor que 10 HU em comparação com o baço; ABSOLUTA: atenuação do fígado menor que 40 HU. COMO AVALIAR UMA ESTEATOSE HEPÁTICA NA RM? REDUÇÃO DO SINAL na sequência fora de fase MODERADA ACENTUADA LEVE RADIOLOGIA SAMANTHA LEÃO F. LIMA 3 quando a fração de gordura é > 10-15% ATENÇÃO: - Perda máxima de sinal quando há 50% de infiltração gordurosa no fígado A deposição de ferro pode mascarar a esteatose. IN-PHASE X OUT-PHASE Basicamente é um recurso da RMN em que realizamos a supressão do sinal da gordura. A água e a gordura são os principais componentes do nosso organismo contribuindo para a formação das imagens. Na aquisição dentro de fase o sinal da água e da gordura se somam, enquanto na fora de fase se anulam, gerando perda de sinal (escurecimento) se aquele tecido estiver mais impregnado de gordura ÁREAS DE PRESERVAÇÃO FOCAL DA ESTEATOSE Preservação focal. Em um fígado com infiltração difusa de gordura, provavelmente representa o padrão mais confuso, porque as áreas preservadas de parênquima podem simular de modo convincente um tumor do fígado. Áreas poupadas pela infiltração de gordura são encontradas mais comumente no segmento IV. A área preservada é hipoecoica em relação ao restante do fígado em imagens na US e apresenta maior densidade do que o restante do fígado na TC (sinal de flip-flop). A área remanescente do fígado mostra características de infiltração lipídica difusa. Esteatose hepática focal. Envolve uma porção com formato geográfico ou de leque do fígado, com as mesmas características de imagem da deposição de gordura difusa. A vasculatura segue seu curso normal através da área afetada. A gordura focal pode simular um tumor do fígado. No entanto, a área de envolvimento tem densidade característica de gordura. A deposição localizada de gordura é mais comum adjacente ao ligamento falciforme, fossa da vesícula biliar e veia porta hepática. Estas são áreas sujeitas à alteração do fluxo sanguíneo hepático com influxo sistêmico, e a deposição de gordura focal pode estar relacionada com maiores concentrações de insulina nessas áreas. DOENÇAS QUE AUMENTAM A DENSIDADE DO FÍGADO NA TOMOGRAFIA HEMOCROMATOSE Acúmulo de ferro em alguns órgãos. - Primária (mutação genética-aumento da absorção intestinal) - Secundária (hemossiderose-hemólise, transfusões...) No fígado predispõe ao aparecimento do CHC. USG: Aumento da ecogenicidade hepática (pouco específico). Utilizado para rastreio de CHC TC: Atenuação hepática maior que 70-75 UH sugere hemocromatose Coexistência de esteatose reduz sensibilidade da TC. RM: Principal exame (mais sensível e específico) Hipossinal hepático (comparar com o sinal do músculo) Permite quantificar o acúmulo de ferro. RADIOLOGIA SAMANTHA LEÃO F. LIMA 4 2. COLAGENOSES 3. DOENÇA DE WILSON A doença de Wilson é uma desordem hereditária autossômica recessiva rara causada pela sobrecarga de cobre no fígado e outros órgãos. Formas de doença hepática associadas à doença de Wilson são altamente variáveis e incluem fígado gorduroso, hepatite aguda, hepatite crônica ativa e cirrose. A US, a TC e a RM mostram achados inespecíficos e refletem gama completa de lesões hepáticas, incluindo infiltração gordurosa, hepatite aguda, hepatite crônica ativa e cirrose. 4. USO CRÔNICO DE AMIODARONA CIRROSE Principais causas: alcoolismo, hepatites virais, esteato-hepatite não-alcoólica... Três características básicas da cirrose: - Fibrose - Regeneração nodular - Distorção da arquitetura hepática É caracterizada histopatologicamente por destruição difusa do parênquima, fibrose com alteração da arquitetura hepática e inúmeros nódulos regenerativos que substituem o parênquima hepático normal. As causas da cirrose incluem toxinas hepáticas (etanol, drogas ilícitas e aflatoxina proveniente de um fungo de grãos), infecções (hepatite viral, especialmente os tipos B e C), obstrução biliar e hereditariedade (doença de Wilson). Em exames de imagem podem ser observadas diversas alterações morfológicas, que incluem: ■ Hepatomegalia (precoce) ■ Atrofia ou hipertrofia dos segmentos hepáticos ■ Textura grosseira do parênquima hepático ■ Nodularidade no parênquima, com frequência mais evidente na superfície do fígado ■ Hipertrofia do lobo caudado, com redução volumétrica do lobo direito ■ Nódulos de regeneração (Figura 27.8) ■ Aumento do espaço periporta hilar (> 10 mm), que reflete a atrofia do parênquima. Sinais extra-hepáticos de cirrose incluem colaterais portossistêmicascomo evidência de hipertensão porta, esplenomegalia e ascite. As alterações histopatológicas provocadas pela cirrose são irreversíveis, mas a progressão da doença pode ser limitada ou interrompida pela eliminação do agente etiológico (álcool etílico). O shunt portossistêmico intra-hepático transjugular (TIPS, transjugular intrahepatic portosystemic) é um tratamento eficaz para a hipertensão porta e controle a longo prazo do sangramento das varizes esofágicas. Atualmente, o transplante de fígado já está estabelecido como opção efetiva para doença hepática em estágio final. COMO IDENTIFICAR CIRROSE NO US? RADIOLOGIA SAMANTHA LEÃO F. LIMA 5 Atrofia do lobo direito e do segmento medial do lobo esquerdo, com hipertrofia compensatória do lobo caudado e do segmento lateral do lobo esquerdo (devido a alterações segmentares no fluxo sanguíneo portal para o fígado); Alargamento do espaço periportal; Irregularidade da superfície hepática. Parênquima hepático heterogêneo (nodularidade fina ou grosseira, fibrose). COMO IDENTIFICAR CIRROSE NA TC? Irregularidade da superfície hepática. Parênquima hepático heterogêneo (nodularidade fina ou grosseira, fibrose). Alargamento do espaço periportal. Assim sendo... A US mostra parênquima heterogêneo, com ecotextura grosseira e redução na visualização de pequenas estruturas da tríade porta. A US de alta frequência detalhada da superfície do fígado revela nódulos finos. A ecogenicidade do parênquima do fígado não é significativamente aumentada, a menos que também haja deposição de gordura; TC pode ser normal nos primeiros estágios da doença ou pode revelar heterogeneidade parenquimatosa, com áreas irregulares de alta e baixa atenuações.18 É característica a nodularidade fina ou grosseira na superfície do fígado; A RM mostra sinal heterogêneo do parênquima em T1WI e T2WI. A causa predominante do aspecto heterogêneo é a fibrose de alto sinal em T2WI.